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REH- REVISTA EDUCAÇÃO E HUMANIDADES e-ISSN 2675-410X

Volume II, número 2, jul-dez, 2021, pág. 483-493.

FESTIVAIS AMAZÔNICOS E UNIVERSIDADE: EXPERIÊNCIAS EM UM


PROJETO DE EXTENSÃO

Evandro Jorge Souza Ribeiro Cabo Verde


Lionela da Silva Corrêa
Cássio Lucas Silva de Lima

Resumo: É notório que os festivais amazônicos fazem parte da cultura de um povo e os


traços disso são refletidos no ambiente educacional. Este estudo tem por objetivo relatar
a influência dos festivais amazônicos na construção do espetáculo artístico em um
programa de dança, atividades circenses e ginástica, o Prodagin. O Prodagin é um
programa de extensão institucionalizado da Universidade Federal do Amazonas –
UFAM e realiza anualmente uma mostra, a mostra Prodagin que reúne todas as turmas
que desenvolvem atividades de dança, artes circenses e ginástica. No ano de 2019 o
programa realizou a sua V Mostra tendo como título do segundo espetáculo Amazônia:
um canto de esperança. Embalada com canções dos festivais de Parintins, a mostra teve
a intenção de passar uma mensagem positiva acerca da preservação da natureza,
oportunizando que as pessoas refletissem sobre as atitudes do homem em relação ao
desmatamento.

Palavras-chave: Festivais; Universidade; Extensão.

AMAZONIAN FESTIVALS AND UNIVERSITY: EXPERIENCES IN


EXTENSION PROJECT
Abstract: It is well known that Amazonian festivals are part of the culture of a people
and the traces of this are reflected in the educational environment. This study aims to
report the influence of Amazonian festivals in the construction of the artistic spectacle
in a dance, circus and gymnastics program, Prodagin. Prodagin is an institutionalized
extension program at the Federal University of Amazonas - UFAM and annually holds
an exhibition, the Prodagin exhibition, which brings together all classes that develop
dance, circus arts and gymnastics activities. In 2019, the program held its V Mostra with
the title of the second show Amazônia: a song of hope. Packed with songs from the
Parintins festivals, the show was intended to send a positive message about the
preservation of nature, allowing people to reflect on man's attitudes towards
deforestation.

Keywords: Festivals; University; Extension.

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INTRODUÇÃO
Quando falamos em cultura logo somos levados a pensar em representações
históricas de determinado povo ou região, as quais podem ser representadas por meio da
música, da dança, do teatro, de coreografias, da arte, ou até mesmo da união de todas
essas esferas compondo então os festivais culturais que acontecem por todo o mundo. A
região norte do Brasil possui em sua essência grandes riquezas culturais de festas
amazônicas, entre elas um dos maiores festivais do mundo, o Festival Folclórico de
Parintins, e possuindo também festivais conhecidos em cidades do Amazonas como o
Festival de Cirandas de Manacapuru.
Sobre o festival de Parintins Nakanome (2020) discorre que uma das grandes
diferenças entre o Bumba-Meu-Boi do nordeste e o Boi-Bumbá amazônico é a presença
indígena desde os momentos de ensaio até as apresentações vistas na arena do
bumbódromo, tais alterações deu-se pelo fato da cultura do bumba-meu-boi que foi
trazida por migrantes, ter passado por um processo de “amazonização” (expressão
utilizada pelo autor), incorporando elementos da cultura local, deixando de ter um
formato, e passando por uma remodelação, incorporando fortemente a figura do índio e
do caboclo em sua essência.
Contudo, os festivais amazônicos estão longe de serem apenas elementos
culturais que entregam um rico entretenimento, eles buscam por meio de suas produções
instigar os brincantes e amantes da cultura a pensar, refletir e ensinar em tantas questões
que rodeiam nosso cotidiano. Tanto os bois bumbás, quanto os grêmios recreativos,
buscam em suas apresentações entregar um espetáculo ao público que possa lhes
instigar a fazer a diferença, a serem agentes transformadores de situações críticas que
ocorrem no país e no mundo, abordando temas amazônicos, críticos e políticos.
E em meio a essa imersão de cultura, conhecimento, da necessidade de se atrair
atenção e olhares a causas necessárias, de ensinar, advertir e conscientizar as pessoas
através dos espetáculos apresentados nos festivais já citados, vem de encontro também
os festivais universitários que em sua gênese segue a mesma linha de produção dos
grandes festivais e busca também ser viés de contribuição para cultura e ser um
mensageiro das urgências mundiais.

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Inserido nesse mundo de festivais a Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) busca em sua realidade acadêmica, despertar essa vontade em seus alunos de
estarem imersos nesses contextos em meio a essa riqueza, instigando-os sempre a
produzir, buscar e entregar o que a população precisa saber e conhecer. Mais
comumente visto no curso de educação física tais festivais tem em muitas das vezes o
intuito avaliativo o que inicialmente pode parecer trabalhoso e muitas vezes taxado
como difícil, acaba por se tornar um momento de diversão, troca de conhecimento,
produção de grandes espetáculos e exposição de achados valiosos.
Mas não somente no curso de educação física na modalidade de ensino, temos a
presença dos festivais também nos projetos de extensão que têm buscado envolver seus
alunos e voluntários nesse contexto, fazendo essa imersão cultural e entregando ao
público produções incríveis. Um dos exemplos mais comuns que temos dentro da
UFAM é o Programa de Dança, Atividades Circenses e Ginástica - Prodagin que em
seus anos de existência vem desenvolvendo festivais, projetos e produções onde a
cultura é muito valorizada e tida como sinônimo de orgulho e identidade enquanto povo
amazônico. Uma das produções mais conhecidas do projeto, é a Mostra Prodagin que
acontece todos os anos ao final do segundo semestre, e objetiva por meio de um tema
(evidenciado durante o ano), mostrar todo o desenvolvimento de seus alunos com o que
foi aprendido durante o ano letivo, os mesmos podem através das atividades como balé,
tecido acrobático, ginástica rítmica, dança, mostrar todo seu conhecimento e
desenvolvimento, realizando um espetáculo grandioso e aguardado pelo público.
Assim, o presente estudo objetiva relatar a influência dos festivais amazônicos
na construção do espetáculo artístico em um programa de dança, atividades circenses e
ginástica, o Prodagin, descrevendo como acontece a inserção das festas amazônicas na
universidade, com foco dentro do projeto de extensão, expondo como é tratado,
discutido, desenvolvido e recebido pelos alunos, sua importância dá-se pelo fato de
contribuir para o conhecimento dos profissionais acerca de como poder trabalhar o fator
cultural, de como disseminar essa paixão, esse apego a cultura e identidade amazônica
dentro das universidades e centros acadêmicos.

MÉTODOS
O Prodagin é um programa de extensão da Universidade Federal do Amazonas

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(UFAM) coordenado pela coordenado pela profa. Ma. Lionela Corrêa institucionalizado
em fevereiro de 2016 e tem como objetivo desenvolver as potencialidades motoras e
expressivas de crianças, adolescentes, adultos e pessoas com deficiência através das
suas modalidades ofertadas como a dança, atividades circenses e ginástica
possibilitando a compreensão da estrutura e do funcionamento corporal, a socialização,
o autoconhecimento, a autoestima, trabalhando também a construção e percepção da sua
imagem corporal.
O programa vem em busca da ampliação da oferta de modalidades,
contemplando a comunidade e seus alunos hoje com as turmas de: Dança criativa
(iniciação ao balé); Balé clássico (iniciação); Balé clássico (intermediário); Dança para
terceira idade; Dança para pessoas com deficiência; Dança em cadeira de rodas; Ritmos;
Dança de salão; Tecido acrobático; Ginástica rítmica; Ginástica para todos; e Grupo
experimental de dança da FEFF – GEDEF
Em seus quatro anos de atuação, o programa vem desenvolvendo festivais e
eventos que visam expor todo o conhecimento de seus alunos obtidos através das aulas
durante o período letivo, e vem de encontro a paixão pela cultura amazônica e
inspirados pelas produções riquíssimas tupiniquins.
Uma dessas realizações é a mostra Prodagin, tal evento ocorre ao final do ano
letivo, e tem o objetivo de promover um momento de riqueza cultural, sempre destaca
um ponto importante que precisa da atenção da população, tem caráter informativo, e de
alerta, buscando desenvolver todo conhecimento adquirido por seus alunos. No ano de
2019 o tema da V Mostra Prodagin foi “Amazônia: um canto de esperança” tema que
esteve e ainda está em evidência devido a intensas queimadas e explorações criminosas
dos recursos naturais, da flora e da fauna.
A idealização da V Mostra Prodagin ocorreu com a atenção da equipe ao
momento em que a Amazônia estava passando, muitas notícias expunham que fauna,
flora e recursos estavam (e ainda estão) sendo explorados de uma forma prejudicial, sem
uma devida atenção das forças responsáveis, e a partir desse ponto viu-se a necessidade
e responsabilidade de chamar atenção mais uma vez a esse fato, de evidenciá-lo e
mostrar toda sua importância em sua valorização, para que por meio da arte quem sabe
outras pessoas desenvolvam também um bem querer pelas nossas florestas, pelo nosso

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patrimônio.
Sobre a execução, ocorreu respeitando alguns pontos: inicialmente foi realizado
a definição do tema, para que fosse possível o planejamento de como seria possível
trabalhar o espetáculo. Posteriormente, ocorreu o desenvolvimento de um roteiro para
organização de todas as apresentações, a criação do roteiro ficou por conta dos
professores e voluntários do programa que se utilizaram de seus conhecimentos para
elaborá-lo. Ocorreram algumas reuniões visando correções, adequações, adaptações,
leituras, até que o roteiro chegasse em sua versão final. Quando pronto, foi feita a
seleção para os papéis que tivera, nesse ano fora as apresentações das turmas do
programa, tiveram os personagens de: Narrador, Josef (empresário), Valery (filha do
empresário), empresários coadjuvantes e a Mãe da Mata que desenvolviam a história
mesclando suas falas e atuações as apresentações. Definido os escolhidos, foram feitos
alguns encontros para ensaios e gravações de suas falas, para que no dia da apresentação
os atores fizessem apenas a dublagem.
Em paralelo a toda definição de ensaios, gravações, alinhamentos do roteiro,
eram realizadas oficinas com os professores e voluntários do programa para confecção
de todo o cenário da mostra, mesmo não sendo especialistas, nesse momento os mesmos
colocaram em prática seus conhecimentos acerca de criação e desenvolvimentos de
elementos cenográficos. Para todo material utilizado, buscou-se o menor gasto possível
pois algumas vezes o investimento ocorre do próprio bolso dos integrantes do programa,
então buscou-se trabalhar com a reciclagem de materiais (como papelão, plástico, folhas
naturais caídas), e o que não conseguimos através dessa fonte, fez-se a compra
(materiais como tnt, cola, fita, tecidos, outros).
Durantes os últimos meses do ano letivo ocorrem também os ensaios das turmas
do programa, que são responsáveis pela criação de suas coreografias, pela definição e
confecção de figurinos, penteados e materiais que possam utilizar nas suas
apresentações, e tudo isso precisa estar dentro do contexto do tema, nesse processo os
mesmos buscam sempre entregar o melhor para que o espetáculo seja bem apreciado.
Quando próximo do dia de apresentação, ocorrem os ensaios finais já no espaço onde
ocorre o evento (geralmente na quadra disponibilizada pela universidade) para que
sejam feitas as marcações de entrada, saída e para organizar o evento da melhor forma

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possível.
Para execução do evento, contou-se também com a ajuda de voluntários externos
ao programa, nesse caso foi solicitado aos alunos do curso de educação física da
disciplina de dança para darem o suporte de movimentação de materiais e mudanças de
cenários que ocorreram de acordo com a história do roteiro. No dia do evento, ocorre a
organização final do cenário, e de todas as particularidades das apresentações, como a
colocação dos tecidos acrobáticos e os aparatos aéreos da ornamentação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em nosso relato deixamos explícito que o festival folclórico de Parintins, a festa
do boi-bumbá, nos serviu de inspiração para construção do espetáculo apresentado na V
Mostra do Programa de Dança, Atividades Circenses e Ginástica - PRODAGIN. Mas é
importante destacarmos de onde surgiu a inspiração para o tema e título da mostra.
A Amazônia é a essência para os temas dos festivais folclóricos da região, como
por exemplo: Amazônia Tawapayêra em 2014 no Boi Caprichoso e Amazônia, coração
brasileiro em 2004 no Boi Garantido.
Muitos festivais ecoam em seus espetáculos o discurso da preservação, defesa e
sustentação da floresta. E no atual cenário político brasileiro, com a falta de políticas
públicas no combate ao desmatamento, esses cantos precisam ser ainda mais entoados
na busca da preservação da floresta. Dados do Instituto de Pesquisas Ambiental da
Amazônia (IPAM) revelam que em 2019 os números de focos de calor registrados na
Amazônia foi 60% mais alto do que o registrado nos três anos anteriores e tais focos
tem relação direta com o desmatamento (SILVÉRIO et al., 2019).
E no intuito de reforçar o couro de vozes que clamam a preservação, foi tomada
a decisão pelos membros do Prodagin que o tema ideal para ser trabalhado na mostra
seria a Amazônia. E inspirados no tema do Boi Caprichoso de 2019 que tinha como
título “Um canto de esperança para Mátria Brasilis”, surgiu o título do espetáculo
Amazônia: um canto de esperança.
A sinopse do espetáculo dizia: essa é a história de um rico empresário que tinha
interesse em construir um grande shopping center em uma área preservada da floresta
amazônica e ao levar a sua filha ao local da construção, ela teve a oportunidade de
conhecer os mistérios da Amazônia ao se encontrar com a Mãe da Mata que lhe

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apresentou todos os encantos e magias que rodeiam a floresta e ao apresentar esses
encantos ao seu pais, ele desiste de destruir a floresta. O espetáculo, além de promover
um momento de riqueza cultural, teve o intuito principal de alertar e conscientizar os
espectadores e participantes sobre o desmatamento ocorrido na floresta amazônica que
acontecem a mando dos empresários.
Figura 1 – Apoteose da V Mostra Prodagin.

Fonte: Acervo do Prodagin.


E para contar essa história de forma a se entrelaçar com o festival folclórico de
Parintins, um dos mais importantes festivais amazônicos, foram usadas toadas que
representavam as lendas e as figuras típicas da região. As toadas utilizadas foram:
Lamento de raça (1996), Cantos Tribais (1999), Índio do Brasil (2004), Aquarela da
Amazônia (2005), Bicho folharal (2007), Mãe da Mata (2011) e Curupira (2013) do Boi
Garantido. E Canto do Uirapuru (1992), Amazonas Ayakamaé (1997), O canto da Iara
(1998), Divino Canto (2001), Eu sou a lenda (2009), A festa do boto (2010), Boiúna
(2011) e Waiá-Toré (2019) do Boi Caprichoso. Além das toadas, utilizamos a cirandada
Miscigenação cultural da Ciranda Tradicional (2008).
Todas as canções (toada e cirandada) utilizadas no espetáculo do Prodagin
trazem uma mensagem que diz muito sobre a Amazônia. A toada é um dos instrumentos
mais potententes na difusão de pensamentos e ideologias que passam a dominar o
imaginário popular, reproduzido em festas regionais do norte amazônico
(NAKANOME; SILVA, 2018). Uma toada traz consigo a emoção do compositor ao
olhar a natureza, as coisas do dia a dia, ao ouvir uma história, ao observar o caboclo,

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enfim, uma toada é parte da vida (CARDOSO, 2013). A toada é o canto da floresta, dos
rios, das tribos dizimadas, dos costumes. “A toada é como a Amazônia, quem não a
conhece, não a entende, tenta modificá-la ou moldá-la de acordo com os interesses,
assim como fizeram os colonizadores, como fazem agora os capitalistas”. (PIMENTEL,
2002, p.47)
A toada é um dos principais elementos do festival de Parintins e entendemos que
o folclore parintinense, além de uma grande amplitude alcançada com a sua arte, tem
um grande potencial educativo (NAKANOME, 2019).
É importante destacar que não é somente o festival de Parintins que
permite a discussão desses temas. O festival de Cirandas de Manacapuru também traz
consigo temas pertinentes a discussão e reflexão nos espetáculos apresentados pelas
cirandas Flor Matizada, Guerreiros Mura e Tradicional. O festival que iniciou como
uma competição entre escolas públicas da cidade foi tomado pelo povo como um
elemento que lhes representasse, deixou de ser algo interescolar e passou a ser o festival
que temos hoje com a participação de grêmios recreativos entregando a cidade e aos
amantes dessa cultura belíssimos festivais (RIBEIRO et al., 2018). O festival emprega a
dança da ciranda que foi outra manifestação cultural advinda de outras regiões
brasileiras, mas que passou por modificações e adaptações culturais até possuir uma
identidade que represente a região.
Uma característica da ciranda de Manacapuru são as formas de encenar um
bailado com cores locais que deem conta do cotidiano da cidade. Em 2017 foi criado um
item feminino para homenagear a própria Manacapuru (conhecida como princesa dos
Solimões), na figura de uma bela menina denominada de Princesa Cirandeira. Assim a
ciranda de Manacapuru mantem os itens tradicionais das cirandas, mas complementa
com as características locais (SILVA; CASTRO 2018).
Outro festival amazônico que carrega consigo a ideia da conscientização e
preservação da Amazônia e que corrobora para discussões e reflexões para além da
arena de disputa é o Ecofestival de Novo Airão. O festival é marcado pela disputa de
duas agremiações, o Paixe-Boi Jaú e o Peixe-Boi Anavilhanas que na “Lagoa dos
Peixes”, local de realização do evento, traçam uma disputa e ressaltam a preservação de
um dos animais ameaçados de extinção na Amazônia, o peixe-boi (SILVA; OLIVEIRA

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JUNIOR, 2019). Todos esses festivais e outros não citados, tornam público em forma de
espetáculos temas pertinentes a preservação, conscientização e ensinamentos sobre a
Amazônia.
E é pensando nesse aspecto educativo que entendemos a importância de levar a
cultura amazônica por meio dos festivais para o ambiente universitário, para que a partir
da visualização da cultura as pessoas possam refletir, discutir e se conscientizar, pois os
festivais também servem para ensinar.
E a execução do espetáculo do Prodagin pôde proporcionar esses ensinamento e
reflexões, pois, acreditamos que em diversos momentos o público se encantou com as
apresentações e se emocionaram com as coreografias e encenações. Isso é uma
realidade muito presente nos festivais folclóricos. Aqueles que conseguem entender o
festival para além de uma festa popular e refletir sobre as mensagens passadas pelas
agremiações, apresentam as mesmas reações e emoções.
Além do tema Amazônia, outros temas pertinentes da sociedade podem ser
debatidos nos festivais, como a questão do racismo. Ericky Nakanome, presidente do
conselho de artes do Boi Caprichoso é um dos incentivadores a discussão de temas
sociais no festival folclórico e ao se tratar do racismo no festival de Parintins, destaca:
Em contexto local, a situação agrava-se quando se fala de Amazônia. É base
do senso comum pensar que nossa região foi formada apenas pelo “encontro”
entre indígenas e europeus. Consequentemente, pensa-se que negros e negras
não fizeram parte do tipo humano amazônico: isto, além de invisibilizá-los,
tornou o racismo agregado a um fator de “estranhamento” do tipo: “como
assim, negros na Amazônia?”. Obviamente, o Festival Folclórico de Parintins
não ficou isento desta construção sócio-histórica e foi por muito tempo visto
como “festa de índio” (NAKANOME, 2019).

Além do racismo o feminino é um tema que vem ganhando notoriedade e sendo


discutido em outros festivais, Parintins e Novo Airão. Um estudo realizado no
Ecofestival de Novo Airão abordando o feminino permitiu perceber a potência da festa
na desconstrução da “naturalização” de estereótipos de gênero, dando outros enfoques
para a mulher e para o próprio feminino (SILVA; OLIVEIRA JUNIOR, 2019).
Um estudo realizado por Nakanome e Silva (2018) que tinha por objetivo
compreender a construção do feminino no festival parintinense no apresentação do Boi
Caprichoso de 2018 permitiu compreender que o Festival de Parintins tem o potencial
de, por meio da arte, em suas apresentações, ensinar ao público ideais como o respeito à

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alteridade, ao feminino e, com destaque, valorizar os saberes nativos de nossos
indígenas: os donos da terra.
E é seguido o pensamento de Nakanome e Silva (2018) que entendemos que os
festivais amazônicos, assim como a V mostra Prodagin, tem potencial de ensinar por
meio da arte. Trazendo temas pertinentes e emergentes para que possam ser refletidos
no âmbito universitário.

CONCLUSÃO
Este estudo que teve como objetivo relatar a influência dos festivais amazônicos
na construção do espetáculo artístico em um programa de dança, atividades circenses e
ginástica, o Prodagin da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, nos possibilitou
perceber as influências em toadas, lendas, figuras típicas da região amazônica na
realização da mostra.
No ano de 2019 o programa realizou a sua V Mostra tendo como título do
segundo espetáculo Amazônia: um canto de esperança. Embalada com canções dos
festivais de Parintins, a mostra teve a intenção de passar uma mensagem positiva acerca
da preservação da natureza, oportunizando que as pessoas refletissem sobre as atitudes
do homem em relação ao desmatamento.
Entendemos e reforçamos o pensamento que assim como os festivais folclóricos
amazônicos, os festivais artísticos realizados nos ambientes educacionais têm grande
potencial para ensinar, refletir e conscientizar a partir das apresentações. Esperamos que
este estudo possa auxiliar outras pesquisas referente aos festivais e mostras realizadas
em ambiente educacionais.

REFERÊNCIAS
CARDOSO, Maria Celeste de Souza. Cancioneiro das toadas do boi-bumbá de
Parintins. 2013. 291 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Artes) – Escola Superior de
Arte e Turismo, Universidade do Estado do Amazonas, 2013.

NAKANOME, E. S. O Boi-bumbá de Parintins como agente de educação patrimonial


no estado do Amazonas. RECH-Revista Ensino de Ciências e Humanidades, v. 6, n. 1,
p. 151-176, 2020.
NAKANOME, E. S. “Três raças” e um boi-bumbá para duas: reflexões sobre a
necessidade do protagonismo da cultura afro-brasileira no festival folclórico de

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Parintins. RECH-Revista Ensino de Ciências e Humanidades, v. 4, n. 1, p. 367-381,
2019.
NAKANOME, E. S. Um olhar sobre o feminino: o que ensina a cunhã-poranga do Boi-
bumbá Caprichoso?. Revista Amazônica, v. 22, n. 2, p. 187-206, 2018.
PIMENTEL, Â. C. B. Parintins: turismo e cultura. Somanlu, v. 2, número especial, p.
35-48, 2002.

RIBEIRO, R. A. et al. Estudo Folkcomunicacional sobre Festas Populares: produção de


uma grande reportagem em áudio acerca da Ciranda de Manacapuru. In. XIX
Conferência Brasileira de Folkcomunicação. Universidade Federal do Amazonas -
UFAM, Manaus - AM, 2018. Disponível em:
https://doity.com.br/media/doity/submissoes/artigo-
d018357198996854708acd46f83743e5be6b1709-arquivo.pdf. Acesso em: 30 set. 2020.
SILVA, A. R. P.; CASTRO, E. H. B. A construção identitária dos cirandeiros do
festival de cirandas de Manacapuru. São Paulo: Dialogar, 2018.
SILVA. A. R. P.; OLIVEIRA JUNIOR, A. S. Gênero e festas populares: reflexões com
base no ecofestival de Novo Airão, Amazonas, Brasil. RECH-Revista Ensino de
Ciências e Humanidades, v. 5, n. 2, p. 271-288, 2019.
SILVÉRIO, D. et al. Amazônia em chamas: nota técnica do Instituto de Pesquisas
Ambiental da Amazônia – IPAM. IPAM Amazônia, 2019.

Recebido: 30/9/2020. Aceito: 11/12/2020.


Autores
Evandro Jorge Souza Ribeiro Cabo Verde – Universidade Federal do Amazonas, UFAM
E-mail: caboverde@ufam.edu.br

Lionela da Silva Corrêa - Professora da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia –


FEFF/UFAM -Mestre em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Amazonas
E-mail: lionela@ufam.edu.br

Cássio Lucas Silva de Lima - Graduando em Educação Física - Universidade Federal do


Amazonas
E-mail: cassiolucas.limaa@gmail.com

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