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Dissertação
Dissertação
Júri
Setembro 2008
RESUMO
i
ii
ABSTRACT
iii
iv
AGRADECIMENTOS
À minha família, mãe, pai, irmão e avós, pela amizade, preocupação e incentivo que
sempre me transmitiram.
Ao meu primo pela grande amizade, apoio, ânimo, diversão e espírito crítico desde
sempre.
v
vi
ÍNDICE DE TEXTO
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1
1.1 Enquadramento ............................................................................................................1
1.1 Objectivos .....................................................................................................................2
1.2 Organização do trabalho ..............................................................................................2
2. SÍNTESE DE CONHECIMENTOS .......................................................................................5
2.1 Introdução.....................................................................................................................5
2.2 Golpe de aríete e deformação estrutural ......................................................................5
2.3 Dispositivos de protecção contra o golpe de aríete .................................................... 13
2.4 Dimensionamento de sistemas de condutas .............................................................. 19
2.5 Mecanismos de deterioração...................................................................................... 21
2.5.1 Introdução ........................................................................................................... 21
2.5.2 Tipo de corrosão ................................................................................................. 24
2.5.3 Sistemas de distribuição de água ....................................................................... 34
2.6 Reabilitação de sistemas hidráulicos .......................................................................... 37
2.6.1 Introdução ........................................................................................................... 37
2.6.2 Técnicas de reabilitação de condutas................................................................. 40
2.6.3 Técnicas usadas para proteger os materiais da corrosão .................................. 45
2.7 Sismos ........................................................................................................................ 48
2.7.1 Introdução ........................................................................................................... 48
2.7.2 Identificação dos parâmetros que afectam as tubagens enterradas na sequência
de um sismo ....................................................................................................................... 50
2.7.3 Danos ocorridos em infra-estruturas de redes .................................................... 52
2.7.3.1 Identificação de danos .............................................................................. 52
2.7.3.2 Sismo de São Francisco (1906) ................................................................ 52
2.7.3.3 Sismo de São Fernando – Califórnia (1971) ............................................. 54
2.7.3.4 Sismo de Northridge – Califórnia (1994) ................................................... 58
2.7.3.5 Sismo de Kobe – Japão (1995) ................................................................. 60
2.7.3.6 Sismo de Izmit – Turquia (1999) ............................................................... 62
2.7.3.7 Sismo de Chi-Chi – Tailândia (1999) ......................................................... 65
3. MODELOS COMPUTACIONAIS ....................................................................................... 71
3.1 Componente hidráulica ............................................................................................... 71
3.2 Componente estrutural ............................................................................................... 74
4. APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO ........................................................................... 77
4.1 Introdução................................................................................................................... 77
4.2 Descrição do sistema ................................................................................................. 77
4.3 Acidente ocorrido no sistema ..................................................................................... 79
vii
4.4 Análise de diagnóstico ................................................................................................ 81
4.5 Análise da zona afectada ........................................................................................... 82
4.6 Modelação de acção de um sismo no sistema ........................................................... 86
4.6.1 Fundamentos ...................................................................................................... 86
4.6.2 Análise do caso de estudo .................................................................................. 88
4.7 Modelação da acção do diferencial de pressão na válvula V59 ............................... 100
5. ORIENTAÇÕES PARA PROJECTO ............................................................................... 105
5.1 Noções básicas de interacção fluido-estrutura ......................................................... 105
5.2 Identificação dos tipos de carga ............................................................................... 106
5.2.1 Nota introdutória ............................................................................................... 106
5.2.2 Cargas para condutas enterradas .................................................................... 106
5.2.3 Cargas para condutas superficiais.................................................................... 107
5.2.4 Forças nos elementos da conduta devido ao golpe de aríete .......................... 108
5.3 Dimensionamento e critérios de segurança.............................................................. 109
5.4 Estado Limite ............................................................................................................ 110
5.4.1 Fundamentos .................................................................................................... 110
5.4.2 Estado Limite Último incluindo Estado Limite de Fadiga .................................. 112
5.4.3 Estado Limite Acidental .................................................................................... 112
5.4.4 Estado Limite de Utilização .............................................................................. 113
5.5 Combinação de cargas e procedimentos de verificação .......................................... 113
5.6 Análise e verificação para as condutas de aço dúctil ............................................... 116
5.6.1 Efeito de cargas externas na pressão de rebentamento .................................. 116
5.6.2 Métodos de análise........................................................................................... 117
5.6.3 Verificação aos estados limite .......................................................................... 119
5.6.4 Pressões transitórias no dimensionamento de condutas .................................. 120
5.6.5 Dimensionamento e métodos de análise para condutas superficiais ............... 120
5.7 Condutas de diferentes materiais ............................................................................. 121
5.8 Metodologia de decisão sobre a interacção fluido-estrutura .................................... 122
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................................... 129
6.1 Conclusões ............................................................................................................... 129
6.2 Recomendações....................................................................................................... 130
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 131
viii
ÍNDICE DE TABELAS
ix
x
ÍNDICE DE FÍGURAS
xi
Figura 2.32 – Imagem de corrosão-erosão ocorrida numa conduta. .......................................... 33
Figura 2.33 – Esquema da evolução da corrosão-cavitação...................................................... 34
Figura 2.34 – Imagem de corrosão-cavitação ocorrida numa conduta....................................... 34
Figura 2.35 – Diferentes níveis e fases de actuação do plano de intervenção .......................... 39
Figura 2.36 – Comparação entre a conduta a reabilitar (a) e a conduta reabilitada com
revestimento com argamassa de cimento (b) ............................................................................ 41
Figura 2.37 – Espigão de aplicação da resina epoxy ................................................................. 42
Figura 2.38 – Ilustração da técnica de re-entubamento simples. ............................................... 42
Figura 2.39 – Técnica de re-entubamento por destruição da tubagem existente: pormenor do
processo de distruição da conduta existente ............................................................................. 43
Figura 2.40 – Técnica de re-entubamento com tubo de parede dobrada: pormenor do tubo
dobrado e detalhe do tubo expandido no interior da conduta ................................................... 44
Figura 2.41 – Diminuição do potencial eléctrico de um metal através da protecção catódica .... 45
Figura 2.42 – Esquema de uma protecção catódica por ânodo de sacrifício de uma tubagem . 46
Figura 2.43 – Esquema de uma protecção catódica por corrente imposta de uma tubagem
enterrada .................................................................................................................................... 46
Figura 2.44 – Protecção anódica ............................................................................................... 47
Figura 2.45 – Ondas esféricas ................................................................................................... 51
Figura 2.46 – Ondas superficiais ................................................................................................ 51
Figura 2.47 – Localização do epicentro do sismo de São Francisco 1906 ................................. 53
Figura 2.48 – Danos registados nas redes de água da cidade de São Francisco durante o
sismo de 1906: (a) distruição de condutas de água perto do Reservatório Crystal Springs em
San Mateo County; (b) rotura de condutas em Valencia Street entre as ruas 18th e 19th ......... 54
Figura 2.49 – Localização do epicentro do sismo de São Fernando 1971 ................................. 55
Figura 2.50 – Localização das reparações e substituições efectuadas nas tubagens ............... 55
Figura 2.51 – São Fernando, 1971: (a) as redes de água, gás, esgotos, electricidade foram
interrompidas nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno; (b) rotura
das redes de água e esgotos que atravessavam a falha ........................................................... 56
Figura 2.52 – Localização dos fenómenos relacionados com os movimentos permanentes do
solo e dos danos ao nível de tubagens ...................................................................................... 56
Figura 2.53 – Danos observados nas tubagens da rede de transmissão dos segmentos de
Mission Wells e Sylmar .............................................................................................................. 57
Figura 2.54 – Epicentro do sismo de Northridge ........................................................................ 58
Figura 2.55 – Roturas Superficiais em pavimentos .................................................................... 58
Figura 2.56 – Mapa do Balboa Boulevard com as zonas de rede de água e gás danificadas
devido a fenómenos de compactação dos solos ........................................................................ 59
Figura 2.57 – Localização do epicentro do sismo de Kobe ........................................................ 60
Figura 2.58 – Danos ocorroridos na região Kobe-Osaka, em Port Island e em Rokko Island.... 61
Figura 2.59 – Danos observados em tubagens devido a deformações permanentes do solo ... 62
Figura 2.60 – Mapa da localização do epicentro do sismo de Izmit e as regiões afectadas ...... 63
xii
Figura 2.61 – Colapso de uma ponte em Arifiye, devido ao sismo de Izmit ............................... 63
Figura 2.62 – Localizaçao da falha de Chelungpu. .................................................................... 65
Figura 2.63 – Localização em planta das estações de tratamento danificadas pelo sismo. ...... 67
Figura 2.64 –Localização das áreas de estudos sobre a fragilidade e condutas ....................... 68
Figura 2.65 – Diferença de vulnerabilidade entre edifícios: Sismo do Faial de 9 de Julho de
1998 ........................................................................................................................................... 70
Figura 3.1 – Método das características. Malha de cálculo e linhas características .................. 73
Figura 4.1 – Esquema da estação de bombagem ...................................................................... 78
Figura 4.2 – Pormenores da estação elevatória de Telheiras. Sistema de abastecimento da
EPAL .......................................................................................................................................... 79
Figura 4.3 – Esquema dos deslocamentos observados aquando da ocorrência acidental na EE
................................................................................................................................................... 80
Figura 4.4 – Fotografias dos diferentes deslocamentos na EE. ................................................. 80
Figura 4.5 – Rotura nos blocos de apoio das condutas ............................................................. 80
Figura 4.6 – Válvula VBP apresentando elevado nível de corrosão. ......................................... 81
Figura 4.7 – Procedimento para a identificação das causas do acidente. .................................. 81
Figura 4.8 – Sistema hidráulico simplificado: a) condições normais de funcionamento, b) antes
do acidente ................................................................................................................................. 83
Figura 4.9 – Desequilíbrio de pressões e força resultante na válvula V59. ................................ 84
Figura 4.10 – Trecho da válvula V59 e VBP: a) em condições normais de funcionamento, b)
antes do acidente ....................................................................................................................... 84
Figura 4.11 – Modelo estrutural e deslocamentos nas condutas ............................................... 85
Figura 4.12 – Exemplo do registo do movimento de uma conduta em laboratório através de um
sismógrafo: (a) acção longitudinal (segundo o eixo da conduta); (b) acção transversal (direcção
perpendicular ao eixo da conduta, mas no mesmo plano); (c) acção vertical; (d) Exemplo de um
registo num sistema real ............................................................................................................ 86
Figura 4.13 – Espectro de resposta utilizado. ............................................................................ 88
Figura 4.14 – Teste 1: sistema de condutas simplificado. .......................................................... 89
Figura 4.15 – Esquematização do carregamento no sistema. ................................................... 90
Figura 4.16 – Teste 1: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 91
Figura 4.17 – Teste 2: sistema de condutas simplificado. .......................................................... 91
Figura 4.18 – Teste 2: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 92
Figura 4.19 – Esquematização do carregamento no sistema. ................................................... 93
Figura 4.20 – Teste 3: sistema de condutas prolongado............................................................ 94
Figura 4.21 – Teste 3: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 95
Figura 4.22 – Momentos perpendiculares ao eixo da conduta devido à acção sísmica. ............ 96
Figura 4.23 – Momentos segundo o eixo Z devido à acção sísmica. ......................................... 96
Figura 4.24 – Momentos torsores devido à acção sísmica. ....................................................... 97
Figura 4.25 – Teste 4: sistema de condutas prolongado............................................................ 97
Figura 4.26 – Teste 4: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 98
xiii
Figura 4.27 – Teste 5: sistema de condutas prolongado............................................................ 99
Figura 4.28 – Teste 5: deformada resultante da acção sísmica. .............................................. 100
Figura 4.29 – Esquematização do carregamento devido à diferença de pressao na V59. ....... 101
Figura 4.30 – Teste 6: Deformada devido à combinação de cargas peso próprio+peso
água+diferença de pressão, do sistema prolongado. ............................................................... 102
Figura 4.31 Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão, segundo o eixo perpendicular à conduta. ............................... 102
Figura 4.32 – Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão, segundo o eixo Z. ................................................................... 103
Figura 4.33 – Momentos torsores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão. ................................................................................................ 103
Figura 5.1 – (a) Exemplos de zonas de actuação das forças dinâmicas, nas condutas e nos
seus elementos; (b) Exemplo de secções ou nós onde podem surgir importantes forças devido
ao golpe de aríete .................................................................................................................... 109
Figura 5.2 – Diagrama momento-curvatura (análise qualitativa) para uma conduta sem pressão
interna (a) e para uma conduta com uma pressão interna elevada (b). As linhas contínuas
representam um comportamento elástico, enquanto as linhas a tracejado traduzem um
comportamento plástico. A cruz indica o instante de ruptura ................................................... 111
Figura 5.3 – Procedimento de cálculo para verificação ao estado limite .................................. 115
Figura 5.4 – (a) Conduta encurvada durante a dobragem; (b) rotura da conduta após o teste de
rebentamento (fora do laboratório) ........................................................................................... 116
Figura 5.5 – Esmatização da conduta em meio elástico. ......................................................... 118
Figura 5.6 – Definição de r0 ...................................................................................................... 119
Figura 5.7 – Tipo de sistema .................................................................................................... 123
Figura 5.8 – Condutas enterradas ............................................................................................ 124
Figura 5.9 – Conduta numa Estação Elevatória ....................................................................... 125
Figura 5.10 – Conduta em ponte ............................................................................................. 126
xiv
ACRÓNIMOS
A – Cargas acidentais
Ag – Prata
Al – Alumínio
As – Arsénio
Bi – Bismuto
C – Carbono
Cd – Cádmio
CI – Ferro fundido
CO2 – Dióxido de carbono
Cr – Crómio
Cu – Cobre
DI – Ferro fundido dúctil
E – Cargas ambientais
EE – Estação Elevatória
ELU – Estado Limite Último
ELUtilização – Estado Limite de Utilização
EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres
Fe – Ferro
G – Cargas permanentes
GRP – Plástico reforçado com fibras de vidro
H2O – Água
H2S – Ácido sulfídrico
H2SO4 – Ácido sulfúrico
L – Ondas Lowe
M – Magnitude (escala de Richter)
MC – Método das características
Ni – Níquel
O – Oxigénio
P – Ondas de compressão
Pb – Chumbo
PE – Polietileno
PEAD – Polietileno de alta densidade
PGA – Picos de aceleração do solo
PGV – Picos de velocidade no solo
PP – Polipropileno
PVC – Policloreto de vinilo
Q – Cargas operacionais (sobrecargas)
R – Ondas Rayleigh
xv
RSA – Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes
S – Enxofre; Ondas de corte/cisalhamento
SAP2000 – Structural Analysis and Design Project, modelo computacional
Sb – Antimónio
SO4 – Óxido de enxofre
Zn – Zinco
xvi
SIMBOLOGIA
xvii
xviii
1. INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento
1
acessórios originam um regime transitório no líquido, ou amplificam as variações se estiverem
a ocorrer em simultâneo manobras em máquinas hidráulicas ou em válvulas.
O efeito de Poisson é traduzido por uma onda de pressão no líquido que induz a
deformação da secção transversal da conduta, a qual provoca a deformação axial da tubagem.
O efeito de interface hidráulica está presente quando o escoamento de um líquido se
encontra submetido ao efeito de forças tangenciais exercidas sobre a parede por acção da
viscosidade. Tal como foi dito na explicação do efeito de junção, também para o efeito de
interface hidráulica a ocorrência de sismos tem um significado importante, visto que quando a
parede da conduta se desloca pode transmitir ao líquido tensões tangenciais de arrastamento.
1.1 Objectivos
2
dispositivos de protecção contra o golpe de aríete; (iii) dimensionamento de sistemas de
condutas; (iv) mecanismos de deterioração; (v) reabilitação de sistemas hidráulicos; (vi) acção
de sismos.
3
4
2. SÍNTESE DE CONHECIMENTOS
2.1 Introdução
5
As manobras inevitáveis de válvulas, o arranque e a paragem de grupos elevatórios
(bombas) e de grupos turbogeradores (turbinas), que induzem variações de pressão podendo
atingir valores extremos inadmissíveis, quando associados a uma inadequada concepção e
dimensionamento do projecto, a deficiências na construção e na operação do sistema, ou no
desenvolvimento de corrosão nas condutas, podem dar origem a elevados níveis de fugas ou
até mesmo à ocorrência de roturas, com os impactos inevitáveis no funcionamento hidráulico,
assim como gerar problemas sociais e ambientais decorrentes de interrupções no serviço de
abastecimento (Ramos, 2004).
A análise dos efeitos dos regimes transitórios em pressão é particularmente importante
nos seguintes sistemas hidráulicos: (i) condutas elevatórias e gravíticas de águas para
abastecimento ou residuais, nos sistemas de saneamento básico; (ii) circuitos hidráulicos de
aproveitamentos hidroeléctricos com ou sem bombagem; (iii) sistemas de rega; (iv) circuitos de
refrigeração de centrais termoeléctricas ou nucleares; (v) condutas de transporte de fluidos,
nomeadamente oleodutos de produtos combustíveis e químicos (Ramos, 2004).
Desde o início do século que os fenómenos transitórios são conhecidos, mas foi
apenas com o progresso dos computadores que estes fenómenos puderam ser estudados com
maior detalhe, sem a necessidade de recorrer a simplificações grosseiras. A análise de
regimes transitórios, com vista à estimativa dos valores extremos de pressão, que condicionam
o dimensionamento dos sistemas hidráulicos, é bem conhecida, embora nem sempre
adoptada. Hoje em dia, a análise dos fenómenos transitórios constitui uma exigência
fundamental no dimensionamento dos sistemas hidráulicos. Deste modo, a modelação do
fenómeno golpe de aríete requer o conhecimento detalhado das condições iniciais, em regime
permanente, como das condições de fronteira da instalação, que são as secções do circuito
hidráulico onde ocorrem descontinuidades das grandezas físicas, associadas à pressão e à
velocidade do escoamento.
A teoria clássica do golpe de aríete serve de base, com boa aproximação, para a
determinação de pressões extremas que ocorrem num sistema rigidamente ligado. Contudo,
devido a possíveis movimentos induzidos na conduta podem ocorrer fenómenos que não
conseguem ser traduzidos pela teoria clássica. Na realidade, os sistemas de tubagens ou
condutas sofrem deslocamentos (i.e., não são rigidamente ligados) e qualquer variação no
escoamento origina ondas de pressão, às quais correspondem deformações na conduta e
ondas de tensão, alterando-se, assim, o sistema de forças resultante que actua na instalação e
o respectivo deslocamento associado (Vasconcelos, 1999). Como este existem determinados
fenómenos do tipo não convencional, que normalmente não conseguem ser reproduzidos pelos
modelos clássicos do golpe de aríete, que são baseados na hipótese do comportamento
elástico-linear da parede das condutas e no regime uniforme tangente – i.e., utiliza o factor de
resistência em regime quasi-permanente e não considera outros efeitos dinâmicos não
convencionais (e.g., efeitos da percentagem de ar dissolvido ou concentrado no interior do
escoamento, efeito do atrito ou factor de resistência em regime variável, comportamento
6
reológico do material da conduta do tipo não linear – viscoelasticidade1 evidente em materiais
plásticos, ocorrência de cavitação, modelação da sobrevelocidade de turbogeradores em
centrais hidroeléctricas, ocorrência de fugas, e comportamento dinâmico de ventosas) e que
alteram o comportamento dinâmico dos sistemas podendo omitir outros importantes fenómenos
intervenientes que exigem uma caracterização e análise mais detalhada (Ramos, 2004).
Segundo Quintela (2005) e Ramos (2003), para uma melhor compreensão do
fenómeno, veja-se o caso teórico do escoamento de um líquido por uma conduta uniforme e
horizontal, alimentada através de um reservatório de grandes dimensões, portanto de nível
constante, a montante e munida na extremidade de jusante de uma válvula capaz de obturar
instantaneamente o escoamento (Figura 2.1). De notar que nesta análise se desprezam as
perdas de carga.
Suponha-se que a partir do regime permanente se procede ao fechamento total e
instantâneo da válvula de jusante, anulando-se instantaneamente o caudal que atravessa este
dispositivo, promovendo a condição de fronteira de caudal nulo, na secção imediatamente a
montante do obturador. Se o líquido fosse incompressível e as paredes da conduta rígidas,
toda a coluna líquida, a montante da válvula, ficaria instantaneamente imobilizada. Contudo, o
líquido é compressível e, como tal, no instante após a manobra de fechamento do obturador,
verifica-se que as partículas líquidas em contacto com a parede do obturador se imobilizam,
mas as que vêm atrás continuam o movimento, comprimindo-as até que elas próprias se
imobilizam também, originando uma sobrepressão. Esta imobilização ocorre à custa da
compressão do líquido e da dilatação da conduta. Verifica-se a existência de uma perturbação
que se propaga como uma onda na direcção do reservatório de montante (Figura 2.1 - Fase 1),
deixando atrás de si a coluna de líquido imóvel e sujeita à sobrepressão. A onda de choque
correspondente à paragem do escoamento propaga-se a várias centenas de metros por
segundo, sendo a sua velocidade de propagação, c, que corresponde à celeridade das ondas
elásticas. Se a conduta tiver um comprimento L, o tempo que a onda demora a percorrê-la e
atingir o reservatório será igual a t = L/c.
Quando a onda elástica de compressão atinge o reservatório, todo o sistema está em
repouso, mas existe um desequilíbrio de pressões. Este desequilíbrio provoca o escoamento
da conduta para o reservatório, com caudal igual ao inicial mas em sentido contrário, de modo
que a camada de líquido dentro da conduta e vizinha do reservatório perde a sobrepressão a
que estava submetida, isto é, descomprime-se. Por conseguinte, a frente de onda, separando
as duas zonas de pressão vai-se deslocando no sentido da válvula (Figura 2.1 - Fase 2).
No instante t = 2L/c a frente de onda atinge a válvula. A coluna líquida na conduta
continua em movimento no sentido do reservatório, fazendo-se esse movimento à custa da
descompressão do líquido no trecho junto ao obturador e da contracção da conduta neste
mesmo trecho.
1
O comportamento viscoelástico é caracterizado por uma instantânea deformação elástica seguida de
uma gradual e retardada deformação quando sujeita a uma carga. Este efeito retardado provoca uma
acentuada atenuação da variação da pressão e aumenta a dispersão da onda de pressão (Covas, 2003;
Ramos, 2004).
7
Novas camadas vão ser sucessivamente descomprimidas, aparecendo, assim, uma
frente de onda que se propaga para o reservatório. Quando essa onda atinge o reservatório, o
líquido em toda a conduta está em depressão e imóvel. Nesse instante (t = 3L/c) ocorre novo
desequilíbrio de pressões que provoca o escoamento no sentido do obturador. Por fim, no
instante t = 4L/c (Figura 2.1 – Fase 4) o escoamento em toda a conduta apresenta
exactamente as condições iniciais, pelo que o fenómeno se repete com um período T dado por
T = 4L/c.
Como as ondas criadas pelo início de uma manobra de fecho demoram um tempo total
t = 2L/c a percorrer toda a extensão da conduta até ao reservatório e de regresso ao obturador,
todas as manobras com uma duração igual ou inferior a esse valor terão tempo para acumular
no obturador os seus efeitos totais. Essas manobras, designadas por manobras rápidas,
produzem todas as mesmas variações máximas de pressão junto do obturador que as
manobras instantâneas. Por outro lado, as manobras de duração superior a t = 2L/c, ditas
8
manobras lentas, terão os efeitos da parte final da manobra atenuados pelas ondas reflectidas
da parte inicial, dando assim origem a variações menores de pressão no obturador, e tanto
menores quanto maior for a duração da manobra (Ramos, 2003).
De acordo com Tijsseling (1993), o golpe de aríete surge como o maior responsável
pelos comportamentos transitórios extremos nos sistemas de condutas. O movimento da
conduta proveniente da ocorrência deste fenómeno, depende das propriedades mecânicas,
das suas condições de apoio e das forças dinâmicas que actuam no líquido e na parede da
conduta e respectivos apoios.
As forças dinâmicas que podem actuar entre o líquido e a conduta podem classificar-se
em forças localizadas e forças distribuídas (Figura 2.2). As forças dinâmicas localizadas
aparecem em singularidades onde se verifique uma variação de caudal, de secção ou de
direcção do escoamento e são transmitidas às extremidades dos troços rectilíneos através dos
elementos conduta rectilínea e singularidade, podendo originar o deslocamento da conduta, o
qual pode produzir novas ondas de pressão no líquido (efeito de junção) e assim
sucessivamente, podendo no limite dar origem a fenómenos de ressonância. As forças
tangenciais de arrastamento ou de resistência hidráulica e a pressão interna são chamadas
forças distribuídas. A pressão interna origina a deformação radial que induz uma deformação
axial, resultando ondas de tensão axial na parede da conduta (efeito de Poisson). As ondas de
tensão axial geram por sua vez ondas de pressão no fluido. A força tangencial de
arrastamento, que dá origem ao efeito de interface hidráulica, manifesta-se no amortecimento
das ondas elásticas (Vasconcelos, 1999).
Figura 2.2 – Classificação das forças dinâmicas que interactuam entre o líquido e a conduta (adaptado de
Vasconcelos 1999).
9
Quando as forças dinâmicas provocam o deslocamento das tubagens e acessórios,
surge uma importante interacção fluido-estrutura, o que implica, numa análise teórica, a
consideração da fase líquida e da fase sólida como um conjunto (Figura 2.3).
Figura 2.3 – Causas de escoamento transitório e deslocamento de tubagens (adaptado de Wiggert, 1986).
10
as melhores soluções em termos de segurança e operacionalidade de cada sistema. Assim
quer ao nível do projecto, funcionamento, manutenção e exploração dos circuitos hidráulicos
deve ser adoptada uma estratégia que inclua a análise dos regimes transitórios decorrentes de
possíveis cenários associados a diferentes condições operacionais (Ramos, 2004).
As pressões extremas, mesmo que apresentem curta duração, podem atingir valores
incompatíveis com as condições de segurança e operacionalidade desejadas: os valores muito
elevados podem causar roturas nas condutas ou nos seus acessórios, enquanto que os valores
muito baixos podem levar ao colapso da parede da conduta devido à pressão exterior ou
entrada de ar ou poluentes e à vaporização do líquido do que resulta a formação de bolsas de
vapor (Ramos, 2004; Ramos, 2003).
Algumas soluções de prevenção passam pela especificação de tubagens com classes
de pressão capazes de suportar tanto as sobrepressões como as depressões previstas.
Contudo, estas variações de pressão submetem o material das condutas a variações de tensão
que podem levá-lo à fadiga2, o que não é recomendável em termos de segurança e
conservação. Uma boa solução para minimizar estas variações de pressão passa pela
colocação de algum tipo de protecção, cuja finalidade é amortecer as variações de carga,
prejudiciais à vida útil da instalação.
O golpe de aríete pode ser suprimido ou controlado através de dispositivos adequados
a cada tipo de instalação como por exemplo: válvulas de retenção, volantes de inércia,
ventosas, condutas flexíveis, reservatórios hidropneumáticos, chaminés de equilíbrio, condutas
de aspiração paralela e reservatórios unidireccionais. A selecção de um ou vários dispositivos
de protecção deverá resultar da análise de um número conveniente de alternativas que
possibilitem eleger a melhor solução a adoptar, considerada do ponto de vista da eficiência, da
economia, da manutenção e operação. De referir que o golpe de aríete não só está associado
a pressões elevadas mas também a pressões baixas, sendo que as pressões baixas podem
conduzir ao colapso das tubagens por esmagamento. Preocupação maior coloca-se quando as
condutas são enterradas, porque a ruptura pode não ser detectada e pode dar origem à
intrusão do solo envolvente.
Se a pressão descer até um determinado valor, nomeadamente até à pressão de
vaporização do líquido, ocorre um fenómeno designado por cavitação. Como consequência
deste fenómeno, formam-se, no seio do líquido em movimento, bolhas ou cavidades
preenchidas, em grande parte, por vapor do líquido e, também, por gases previamente
dissolvidos. De referir que, a cavitação pode originar fenómenos ou condições indesejáveis,
tais como, vibrações, ruídos, erosões, alteração das características das turbomáquinas e a
diminuição do caudal em escoamentos sob pressão, porque a secção pode ficar obstruída ou
reduzida com bolsas de vapor retidas em pontos altos.
A cavitação de líquidos está associada à pré-existência de núcleos microscópicos
contendo gases ou vapor do líquido. O vapor ou os gases estão presentes no próprio líquido ou
2
Fadiga é um fenómeno que corresponde à diminuição da resistência de um material, como resultado da
aplicação de variações repetidas de tensões. Materiais submetidos a cargas repetidas/cíclicas podem
atingir a rotura com uma carga inferior ao seu limite.
11
em pequenas fissuras das fronteiras sólidas. Ao atravessar sítios onde as pressões são
suficientemente baixas, os núcleos crescem dando origem a bolhas cujas dimensões
dependem da acção conjunta das forças correspondentes à tensão superficial, às pressões dos
gases e do vapor do líquido no seu interior e à pressão do líquido no exterior da bolha. Se a
pressão exterior atinge um determinado valor crítico, nomeadamente, inferior à pressão de
vaporização, a bolha pode crescer rapidamente (Quintela, 2005).
Quando as cavidades de vapor aparecem sob a forma de minúsculas bolhas dispersas
no líquido, ao longo de todo o comprimento das tubagens, o fenómeno denomina-se de
cavitação distribuída (escoamento bolhoso) (Figura 2.4 - (b), Almeida, 1981). Se essas bolhas
atingirem regiões da conduta onde a pressão é superior à pressão de vaporização ocorre a
implosão das mesmas. Caso a região de colapso das bolhas seja próxima de uma superfície
sólida, isto é, a uma distância das fronteiras sólidas inferior ao respectivo diâmetro, o material
das mesmas fica sujeito a tensões localizadas extremamente elevadas que podem provocar
pequenas fissuras microscópicas no material, que, com o tempo, irão aumentar de tamanho e
provocar a delaminação do material da superfície, originando uma cavidade de erosão
localizada. Por outro lado, quando as minúsculas bolhas se juntam e criam uma única bolha
ocupando uma grande parte da secção transversal da conduta, e provocando uma nítida
descontinuidade na coluna líquida, este tipo de cavitação designa-se, na literatura, por rotura
da veia líquida ou separação da coluna (Figura 2.4 - (a)). Geralmente a separação da coluna
sucede em pontos altos da conduta ou secções imediatamente a jusante do órgão obturador e
está usualmente associada a aumentos instantâneos de pressão. Estes podem ser evitados
por posicionamento de válvulas de entrada de ar ou ventosas em pontos críticos do sistema de
condutas. Em geral, a política adoptada pelos projectistas e entidades gestoras consiste em
evitar a cavitação (Tijsseling, 1993; Tijsseling, 1996).
Figura 2.4 – Tipos de cavitação: (a) rotura da veia líquida, (b) escoamento bolhoso (adaptado de Almeida,
1981).
12
Os materiais dúcteis, quando sujeitos à acção de cavitação, sofrem deformações
plásticas, sem perderem peso numa fase inicial, enquanto os materiais frágeis perdem peso,
logo de início (Quintela, 2005).
Volantes de inércia
3
Corresponde ao valor do abaixamento de pressão instantânea em relação à pressão do regime
permanente anterior, devido ao regime transitório.
4
Diz respeito ao valor do aumento de pressão instantânea, devido ao regime variável, relativamente à
pressão do regime permanente.
13
Reservatórios hidropneumáticos
14
Na Figura 2.7 a) tem-se o regime normal de funcionamento, o volume de ar U 0, medido
3
em m , e a pressão absoluta Z0, expressa em m.c.a., na b) tem-se o final da depressão, em
que o ar ocupa um volume máximo Umáx, e a pressão absoluta é mínima, Zmín e na c) tem-se o
final da sobrepressão, o ar ocupa um volume mínimo Umín, menor que o do regime normal,
sendo a sua pressão absoluta máxima, Zmáx.
Chaminés de equilíbrio
Reservatórios unidireccionais
15
diminuição de caudal fornecido pelas bombas após a sua paragem. Deste modo, poder-se-á
evitar a rotura da veia líquida em secções da conduta situadas em pontos altos ou junto aos
grupos elevatórios.
O reservatório unidireccional só entra em funcionamento, alimentando a conduta,
quando a cota piezométrica, na secção de ligação à conduta, for inferior à cota do plano de
água no interior do reservatório, evitando-se desta forma depressões no sistema. Após a
entrada em funcionamento do reservatório unidireccional, o valor da cota piezométrica na
secção de inserção tende a manter-se próximo da cota no interior do reservatório.
As sobrepressões só indirectamente (consequência da diminuição da depressão
máxima) são atenuadas, uma vez que este tipo de dispositivo não é reversível.
A interligação do reservatório unidireccional à conduta, deverá conter uma válvula de
retenção, permitindo a passagem de água quando a conduta se encontra em depressão, mas
evita o retorno do escoamento para o reservatório (Figura 2.9). De referir que, o nível de água
no reservatório poderá ser restabelecido através de uma conduta “by-pass” (condutas de
pequeno diâmetro) constituída por uma válvula especial munida de flutuador (ou bóia), que
quando o plano de água no reservatório atinge o nível pré-estabelecido esta fecha (Almeida,
1982).
16
do caudal, e por conseguinte, a diminuição do valor da cota piezométrica mínima na secção de
jusante do by-pass (Almeida, 1982).
Como é notório este dispositivo apresenta um funcionamento semelhante ao do
reservatório unidireccional, com a diferença apenas de que a referência será a cota da
superfície livre do reservatório de alimentação da bomba, ou seja, apenas actuará quando a
cota piezométrica da conduta (secção de jusante do grupo electrobomba) atingir valores
inferiores ao do reservatório de montante.
Válvula de alívio
Os gráficos da Figura 2.12 mostram os resultados obtidos por Camargo (1989), durante
uma simulação de uma mesma conduta, sem e com válvula de alívio. É evidente que os picos
de sobrepressão são reduzidos com a instalação da válvula de alívio.
17
Figura 2.12 – Comparação qualitativa de valores de sobrepressão: a) sem válvula de alívio, b) com
válvula de alívio (Camargo, 1989).
Ventosas
18
2.4 Dimensionamento de sistemas de condutas
A. Estudo Prévio
1. Identificação de áreas de serviço e áreas de necessidades de água;
2. Avaliação de sistemas de abastecimento de água;
3. Necessidades de tratamento de água;
4. Identificação dos principais traçados de condutas e de características geológicas
especiais;
5. Determinação do número, localização e tamanho de instalações de tratamento de
água;
6. Estimativa das necessidades de bombagem e o número de estruturas de controlo
(caudal);
7. Antevisão de problemas, tais como, escoamentos transitórios, cavitação e
congelação, caso estes apresentem um peso importante no custo do projecto.
19
B. Problemas legais
1. Cumprimento dos Decretos de Lei associados ao projecto;
2. Definição de regras de segurança;
3. Análise da fiabilidade das soluções adoptadas.
C. Problemas sociais
1. Reacções públicas ao projecto;
2. Impacto na economia local, a longo e a curto prazo;
3. Impacto na qualidade de vida, especialmente se os trabalhos a realizar interferem
em grande escala no quotidiano;
4. Barulhos e vibrações causadas pelas estações de bombagem ou estruturas de
controlo;
5. Localização e aspecto geral de quaisquer estruturas, tais como, reservatórios,
instalações de sistema de bombagem e de controlo de estruturas;
6. Problemas relacionados com a segurança;
7. Impacto nas necessidades de água, a nível local.
D. Aspectos ambientais
1. Danos físicos no terreno, incluindo danos visuais, possível ocorrência de erosão e
prejuízos na vegetação, não obstante o traçado das condutas, os acessos, as
áreas de armazenamento, os reservatórios, entre outros aspectos;
2. Impacto na vida selvagem;
3. Poluição ou contaminação de água ou poluição atmosférica.
E. Análise económica
A decisão final sobre o facto de ser viável ou não implantar certos sistemas adutores,
ou a selecção de um tipo de solução de entre a panóplia de alternativas existentes para o
mesmo projecto é geralmente baseada na comparação dos custos e benefícios esperados para
a vida útil do projecto, por meio de critérios de análise económica. Esta análise deve ser feita
nas primeiras etapas/fases do projecto (juntamente com o estudo de viabilidade) dado que
nada assegura que um projecto adequado de um ponto de vista técnico possa também ser
vantajoso de um ponto de vista económico.
Convém assinalar que a selecção entre soluções alternativas que apresentam
benefícios idênticos é simplesmente efectuada por uma identificação da solução cujo custo
global (custo directo; custo indirecto; custo externo) é mais baixo ou que apresenta menores
impactes associados. Só a comparação de projectos alternativos ou soluções com diferentes
custos e benefícios associados requer a aplicação de uma análise económica, a fim de
identificar a alternativa mais desejável.
20
A eficácia da análise económica, como uma ferramenta de decisão, depende da
precisão do custo do projecto e das estimativas dos benefícios. Estas estimativas não são
fáceis de alcançar, especialmente em fases iniciais do projecto onde algumas das
características do sistema são, muitas vezes, apenas preliminares (Ramos et al., 2000).
2.5.1 Introdução
Figura 2.14 – Roturas verificadas nos sistemas de abastecimento de água nas cidade de Winnipeg e
Manitoba (adaptado de Rajani et al.,1996).
21
Figura 2.15 – Variação da taxa de rotura com o diâmetro da conduta (adaptado de Rajani et al.,1996).
Figura 2.16 – Variação mensal das roturas nos sistemas de abastecimento de água (adaptado de Rajani
et al.,1996).
22
elevadas. As roturas circunferenciais são causadas pela tensão longitudinal e as falhas
longitudinais surgem em resultado da tensão circunferencial (Almeida e Ramos, 2007; Rajani e
Kleiner, 2001; Rajani et al., 1996).
As roturas circunferenciais surgem como o resultado das seguintes situações:
contracção térmica (devido às baixas temperatura da água na conduta) actuando numa
conduta encastrada; aparecimento de tensão de rotura por flexão da conduta devido ao
movimento diferencial do solo (especialmente solos argilosos) ou aos vazios dos solos de
fundação perto das condutas como resultado da ocorrência de fugas; más concepções de
valas para suporte de condutas, e devido a interferência de terceiros (por exemplo, acidentes,
tráfego). A contribuição da pressão interna da conduta, embora pequena, na tensão
longitudinal pode aumentar o risco de quebra circunferencial quando surgem simultaneamente
com uma ou mais das outras fontes de tensão mencionadas anteriormente.
Relativamente às falhas longitudinais, estas são tipicamente o resultado de um ou mais
dos seguintes factores: tensão circunferencial devido à pressão na tubagem; tensão de anel
proveniente do carregamento do solo que cobre a conduta; tensões de anel devido às
sobrecargas causadas pelo tráfego, e roturas resultantes do aumento das cargas de anel
quando a penetração da gelo causa a expansão da mistura congelada dentro do solo (Rajani e
Kleiner, 2001; Almeida e Ramos, 2007).
De referir que destes mecanismos de deterioração apenas será abordado, com maior
detalhe, o fenómeno da corrosão.
23
2.5.2 Tipo de corrosão
O metal que liberta os electrões (o ânodo) sofre corrosão, dando-se a oxidação dos
seus átomos que passam para o electrólito na forma de iões metálicos (reacção anódica), os
quais serão consumidos nas reacções catódicas que se dão no outro metal (o cátodo), o qual
não se corrói e cuja presença é essencial para a ocorrência de corrosão (Figura 2.19).
24
Figura 2.19 – Formação de pequenas áreas adjacentes, numa superfície metálica, que actuam como
ânodo e como cátodo (Lamas et al., 2001).
Figura 2.20 – Formação de hidróxido ferroso por reacção do ferro com os iões hidróxilo (Lamas et al.,
2001).
De referir que a diferença de potencial também pode verificar-se entre diferentes zonas
do mesmo metal, resultante da existência de heterogeneidades na sua micro-estrutura
inerentes ao seu processo de fabrico (e.g., composição e laminagem), ou devido à sua
exposição a diferentes condições ambientais, tais como, pH diferente, desigual humidade ou
temperatura, ou de concentrações diferentes de agentes activos, como o oxigénio (Fontinha,
2007) (Figura 2.21).
A facilidade com que se desenvolve um processo de corrosão varia de metal para
metal.
25
Figura 2.21 – Factores que influenciam a corrosão (Fontinha, 2007).
Figura 2.22 – Bolbos esponjosos associados ao processo de corrosão no interior de um tubo (fonte:
http://www.aquaambiente.com).
26
Corrosão por picadas
(a) (b)
Figura 2.23 – Corrosão por picada; (a) esquema de progressão da corrosão (Salvador, 2002), (b)
tubagem de titânio corroída (Salvador, 2002).
Corrosão bimetálica
Esta corrosão ocorre com a formação de ânodos e cátodos entre metais diferentes que
estejam em contacto, o metal menos nobre irá sofrer corrosão acelerada na zona de contacto,
enquanto que o outro metal permanecerá intacto (Fontinha e Salta, 2007). De referir que um
exemplo deste tipo de fenómeno é a corrosão galvânica.
27
Quando materiais metálicos de potenciais eléctricos diversos estão em contacto, a
corrosão do material metálico que funciona como ânodo é muito mais acentuada que a
corrosão isolada desse material sob a acção do mesmo meio corrosivo (Mendes, 2005).
28
espécies de algas, lapas, mexilhões, entre outros, e fixam-se à superfície do metal, causando
corrosão intersticial e incrustações (Salvador, 2002) (Figura 2.24).
Corrosão intersticial
29
(a) (b)
Figura 2.26 – Evolução da corrosão intersticial: (a) fase de iniciação (Salvador, 2002), (b) fase de
progressão (Salvador, 2002).
Corrosão intergranular
Neste caso, a corrosão desenvolve-se nos limites dos grãos cristalinos, com uma
progressão semelhante à formação de fissuras, tendo como consequência a desagregação da
liga e a perda de propriedades mecânicas (Fontinha e Salta, 2007).
A corrosão intergranular ocorre, principalmente, nos aços inoxidáveis sendo
consequência da sensibilização, que se caracteriza pela precipitação de carbonetos de crómio
nos limites do grão. Consequentemente, surgem nas áreas adjacentes à fronteira do grão
zonas empobrecidas de crómio, que é o elemento que confere a resistência à corrosão nos
aços inoxidáveis, tornando-o assim susceptível à corrosão intergranular. A exposição térmica
necessária para sensibilizar um aço pode ser relativamente breve, como num processo de
soldadura, ou muito longa, como em operações de equipamentos a temperaturas elevadas
(Lima et al, 2002).
Quando a soldadura é realizada, as diferentes zonas da estrutura são aquecidas a
temperaturas diferentes, em função da distância ao cordão de soldadura. Nas zonas
submetidas a temperaturas entre 450°C e 800°C é possível que parte do crómio situado nas
proximidades dos limites de grão se combine com o carbono, formando Cr23C6, o que resulta
que as zonas em redor dos limites de grão fiquem empobrecidas em crómio (Salvador, 2002)
(Figura 2.27).
30
Figura 2.27 – Esquema do processo de corrosão intergranular de um aço inoxidável devido a um
processo de soldadura (Salvador, 2002).
Deszincificação
(a) (b)
Figura 2.28 – Tipos de corrosão no latão: (a) corrosão selectiva localizada, (b) corrosão uniforme
(Salvador, 2002).
A corrosão na forma uniforme é o tipo mais comum em latões com alto teor em zinco
(>35%) ou em meios ácidos. A forma localizada predomina em latões com baixo teor em zinco
ou em meios neutros ou básicos. De referir que, neste tipo de corrosão a zona não afectada
fica com a coloração amarela do latão e a zona empobrecida de zinco aparece mais escura
(Salvador, 2002).
31
Corrosão sob tensão
A variável tempo também é muito importante, uma vez que os maiores danos ocorrem
na fase final do processo:
à medida que a corrosão sob tensão penetra o material (Figura 2.30), dá-se uma
redução da área da secção transversal; para uma mesma força aplicada, a tensão
aumenta e a fractura pode dar-se apenas devido à acção mecânica (Salvador, 2002).
32
Figura 2.30 – Corrosão sob tensão numa conduta (Salta, 2007).
Corrosão-erosão
Corrosão-cavitação
33
bolhas de vapor. Estas bolhas vão chocar com as paredes, a alta velocidade, colapsando e
produzindo ondas de choque com pressões da ordem dos 1,5 GPa. O número de bolhas que
implodem numa pequena área pode atingir os milhões por segundo, pelo que os danos
causados podem igualmente ser grandes (Salvador, 2002).
Para além do efeito mecânico da cavitação, ela pode levar à destruição de filmes
protectores, levando à ocorrência de corrosão. O processo de corrosão-cavitação divide-se em
três passos:
34
de calor nos equipamentos, as perturbações na circulação de água e a perfuração das
canalizações (fonte: http://www.aquaambiente.com).
Os metais mais usados nas redes de distribuição de água em edifícios são o aço
galvanizado, o aço inoxidável, o cobre e o latão (este último em acessórios).
Dos tipos de corrosão mencionados ao longo do subcapítulo 2.5.2, os que afectam
principalmente as condutas e os seus respectivos acessórios encontram-se expressos na
Tabela 1, assim como, as suas consequências nos sistemas hidráulicos.
Tabela 1 – Principais tipos de corrosão nos sistemas de distribuição de água e suas consequências
(adaptado de Fontinha e Salta, 2007).
De referir que existe outro tipo de corrosão que se econtra fortemente aliada à
degradação de tubagens e de acessórios, sendo esta denominada de corrosão microbiológica.
Este tipo de corrosão provém do facto da água que circula nas tubagens estar contaminada
com determinadas bactérias, que não são nocivas à saúde humana e, como tal não são
identificadas em análises microbiológicas de rotina em águas de consumo humano. O
desenvolvimento destas bactérias está relacionado com as condições de temperatura
relativamente amena, e a estagnação que ocorrem quando a água permanece nas condutas. A
fixação das bactérias pode ser favorecida por vários aspectos, tais como, a presença de
sólidos suspensos na água que se depositam nas tubagens e as reentrâncias resultantes de
sobreespessuras e faltas de penetração dos cordões de soldadura (Pimenta e Pépe, 2003).
Os factores que estão directamente relacionados com o aparecimento de corrosão em
redes de distribuição de água são a inadequada selecção dos materiais, a má concepção ou o
deficiente dimensionamento das condutas e as falhas na montagem e preparação para entrada
em serviço dos sistemas.
Relativamente à má selecção do material, evidencia-se a utilização de tubagens cujas
características da liga, derivadas da sua composição química ou do processo de fabrico, não
são adequadas para o contacto com a água ou para a execução de certas operações de
montagem, como por exemplo, a soldadura. Devem ser usados tubos certificados com base
em normas específicas para esta utilização, tais como as indicadas na Tabela 2. O mesmo
procedimento se aplica aos acessórios das tubagens, em que os acessórios em latão com um
teor de zinco superior a 15% são susceptíveis de sofrer deszincificação, podendo este risco ser
minimizado com a adição de estanho à liga. Devido à composição química da água (por
35
exemplo as águas com elevado teor em cloretos) pode ser necessário optar por um material
mais resistente à corrosão do que o normalmente usado (Fontinha e Salta, 2007).
Tabela 2 – Requisitos para tubos de transporte de água potável (Fontinha e Salta, 2007).
36
execução de ensaios de estanquidade, de águas não tratadas que podem conter elevados
teores de sólidos (terras) e de agentes agressivos (cloretos, sulfatos e micro-organismos) e à
limpeza incompleta ou inexistente do interior das tubagens após as operações de montagem
para a remoção de eventuais resíduos destas operações, tais como, restos de fluxos de
soldadura, de óleos, de materiais de construção, partículas de metal, entre outros, e que vão
contaminar a água usada nestes ensaios (Fontinha e Salta, 2007).
A permanência prolongada da água no interior das condutas em condições de
estagnação, contendo agentes agressivos diversos, permite o desenvolvimento de corrosão
intersticial e por picadas. Como tal, depois de findadas todas as operações de montagem, deve
introduzir-se água limpa no interior das tubagens com o intuito destas ficarem completamente
limpas de resíduos provenientes das operações de montagem. Nos ensaios de estanquidade
deve ser usada água limpa, filtrada, de preferência água potável. Caso contrário, depois da
realização do ensaio, deve-se fazer circular bastante água limpa nas tubagens.
Para minimizar o risco de corrosão durante o período de espera até à entrada em
serviço das condutas, estas devem manter-se completamente cheias de água, a qual deverá
ser renovada regularmente (para se efectuar a remoção de sólidos depositados), deve evitar-se
a manutenção de condições de estagnação e promover a formação de camadas de produtos
protectores. Em alternativa, as condutas devem ser completamente secas com ar comprimido,
selando-as para assim se impedir a entrada de água ou de matérias estranhas (Fontinha e
Salta, 2007).
Concluindo, os componentes metálicos estão sujeitos a diversos problemas de
corrosão que afectam a sua funcionalidade, o que para se conseguir um desempenho
apropriado é necessário seleccionar o tipo de material adequado para a função ou meio
específico, definir a protecção anticorrosiva correcta, apresentar configuração adequada (e.g.,
minimizando interstícios, zonas de acumulação de depósitos, água), evitar erros de montagem
e de utilização e efectuarem-se manutenções periódicas (e.g., limpeza e reparação de
revestimentos) (Fontinha, 2007).
2.6.1 Introdução
De referir que, o conceito de durabilidade está conotado à aptidão que uma estrutura
apresenta para desempenhar as funções para as quais foi projectada, durante o período
previsto, sem necessitar de manutenção nem reparação imprevistas.
Em países desenvolvidos, grande parte dos sistemas de abastecimento de água foram
projectados e implementados há dezenas de anos e, actualmente, as entidades gestoras
37
enfrentam problemáticas de uma manutenção operacional, eficiente e de confiança por forma a
garantir o abastecimento de água em quantidade e qualidade suficientes às populações (Grilo
e Covas, 2008). A degradação das infra-estruturas de abastecimento de água e dos
respectivos equipamentos (desde a captação na origem até à distribuição no consumidor) é um
processo natural e inevitável e, à medida que os diferentes componentes do sistema se
aproximam do fim da sua vida útil, o volume de perdas (físicas) de água tende a aumentar, a
ocorrência de roturas e de interrupções de abastecimento torna-se mais frequente, e os custos
de manutenção curativa dos sistemas aumentam (Borda d’Água et al., 2008). Como
consequência, as entidades gestoras são confrontadas com a necessidade de acções de
reabilitação.
Pode-se definir reabilitação como qualquer intervenção física que prolongue a vida útil
de um sistema existente, melhorando o seu desempenho hidráulico, estrutural e de qualidade
da água. Dentro da área de reabilitação existem vários tipos de intervenção, tais como, a
renovação, a substituição e o reforço.
A renovação é qualquer intervenção física que prolongue a vida do sistema, no seu
todo ou em parte, que melhore o seu desempenho, mantendo a capacidade e a função para o
qual foi projectado. A intervenção de substituição corresponde a uma renovação de uma
instalação existente por uma nova, quando a que existe já não é utilizada de acordo com o seu
objectivo inicial. Por sua vez, o reforço é uma intervenção que tem por base a construção de
uma instalação adicional que complemente a capacidade de outra já existente ou que lhe sirva
de alternativa (Grilo, 2007).
Um dos grandes problemas da reabilitação é o facto dos engenheiros e gestores terem
de tomar uma série de decisões baseados em informação vaga, incompleta e desactualizada
dos seus sistemas constituídos por infra-estruturas, predominantemente, enterradas. Este facto
torna a sua condição física difícil de avaliar, e, no caso da redes de distribuição de água, ser
inviável proceder a inspecções directas completas e sistemáticas. São infra-estruturas
integradas que se comportam como um todo, e não como um somatório de componentes.
Factores como o aumento da construção, o aparecimento de novas infra-estruturas enterradas,
como por exemplo redes de gás e de telecomunicações, o crescimento da população nos
centros urbanos, a não existência de uma prática de manutenção nos dispositivos de controlo e
protecção das condutas, têm contribuído para aumentar o mau desempenho das redes de
distribuição de água, e criar problemas que não se resolvem com a simples substituição das
condutas individuais (Borda d’Água et al., 2008).
As entidades gestoras face à acção de reabilitação podem apresentar uma postura
reactiva ou preventiva. Na atitude reactiva, as condutas reabilitadas são seleccionadas de
acordo com critérios de emergência, de entre os quais se incluem a reabilitação de condutas
que falhem ou tenham sido reparadas muitas vezes, e de critérios de previsão de intervenções
na via, sendo estes estabelecidos de acordo com a necessidade de intervenção noutras infra-
estruturas. Com uma postura preventiva, as entidades gestoras planeiam os investimentos a
curto, médio e longo prazo depois de analisarem as condições estruturais das condutas e
38
prever a sua degradação. Esta atitude requer um bom conhecimento das características das
condutas da rede (Borda d’Água et al., 2008).
Segundo Borda d’Água et al. (2008) uma metodologia proposta para o plano de
reabilitação de Sistemas de Abastecimento de Água baseia-se em quatro níveis de decisão
distintos: (i) aplicável à globalidade do sistema de abastecimento, corresponde assim a uma
análise à macro-escala do sistema e tem como finalidade dar a conhecer a direcção de
intervenção; (ii) associado a uma análise à micro-escala do sub-sistema/sector, com o intuito
de especificar a localização de intervenção; (iii) relacionado com a implementação do sistema,
existindo a este nível a particularização da componente a reabilitar; (iv) avaliação dos
resultados da aplicação do plano. A especificidade de cada nível permite definir a direcção,
depois a localização do sector de rede ou da componente a reabilitar, a hierarquização de
prioridades, a forma de implementação da intervenção a respectiva calendarização e,
finalmente, proceder à avaliação da eficácia do plano de reabilitação, através da sua
monitorização.
Os níveis de intervenção mencionados no parágrafo anterior estão estruturados em diferentes
etapas/fases do plano (Figura 2.35). Ao nível (i) corresponde a Fase I e a Fase II, no nível (ii)
encontram-se as Fases III e IV, a Fase V engloba-se no nível (iii) e a Fase VI está associada
ao nível (iv). Na Figura 2.35 será evidenciado os diferentes níveis de actuação, assim como,
será efectuada a especificação de cada uma das fases descritas.
Figura 2.35 – Diferentes níveis e fases de actuação do plano de intervenção (adaptado de Borda d’Água
et al., 2008).
39
2.6.2 Técnicas de reabilitação de condutas
40
protectora resultante desta junção baseia-se em dois agentes: no agente activo que provém da
conversão química da camada de cimento com o óxido de ferro, na zona de fronteira entre a
argamassa de cimento e a parede de ferro da conduta, devido à interacção da água, que se
difunde para o interior da argamassa, e no agente passivo, que é efectuado através do
isolamento mecânico da parede metálica da conduta (Grilo e Covas, 2008).
(a) (b)
Figura 2.36 – Comparação entre a conduta a reabilitar (a) e a conduta reabilitada com revestimento com
argamassa de cimento (b) (Grilo, 2007).
Esta técnica pode ser usada para reabilitar condutas de abastecimento de água, de
combate a incêndios, de abastecimento industrial, assim como, quando existem problemas
relacionados com a qualidade de água devido à corrosão interna da conduta. O revestimento à
base de resinas epoxy (Figura 2.37) consiste em revestir interiormente a conduta deteriorada
com resinas líquidas aplicadas através de um spray que, posteriormente solidifica. O tipo de
resinas a utilizar deve garantir a formação de uma camada durável e resistente à corrosão
(Grilo e Covas, 2008).
41
Figura 2.37 – Espigão de aplicação da resina epoxy (Grilo e Covas, 2008).
As vantagens da técnica de revestimento com spray de resinas epoxy são: (i) mais
rápida do que a técnica de revestimento com argamassa de cimento; (ii) as resinas têm uma
maior durabilidade e a superfície adquirida com este método é substancialmente mais lisa; (iii)
consegue-se um maior controlo da espessura da camada de resina do que pelo método de
argamassa de cimento; (iv) não obriga a interrupções de ramais prediais e (v) é a técnica ideal
para resolver problemas de corrosão e, consequentemente, problemas de qualidade de água.
Quanto às desvantagens desta técnica destacam-se as seguintes: (i) não é aconselhável a sua
utilização para trechos muito longos (mais de 1000 m), nem para condutas com diâmetros
superiores a 1000 mm; (ii) este método não resolve problemas de fugas, nem problemas
estruturais na conduta existente e tal como o revestimento por argamassa de cimento, esta
técnica (iii) não permite um aumento significativo da capacidade hidráulica da conduta (Grilo,
2007).
Re-entubamento simples
42
diâmetros (de 20 a 1600 mm); rápida instalação e a conduta a reabilitar serve de protecção ao
novo tubo resolvendo os problemas de pequenas fugas existentes (Grilo, 2007).
É uma técnica utilizada tipicamente para a reabilitação de trechos de conduta em redes
de distribuição, uma vez que se perde sempre alguma capacidade de transporte do
escoamento. Como os materiais utilizados neste processo são o PVC ou o PEAD o seu uso
não é aconselhado sempre que se verifiquem grandes sobrecargas diametrais (e.g., solo
envolvente) na conduta ou em sistemas submetidos a grandes pressões. Sempre que exista
uma fuga, o local onde a água aparece à superfície pode não corresponder ao local onde a
fuga realmente ocorreu, e pode incorrer-se o erro de reabilitar um trecho de conduta em boas
condições, daí a importância da inspecção com câmara de vídeo (Grilo, 2007).
Figura 2.39 – Técnica de re-entubamento por destruição da tubagem existente: pormenor do processo de
distruição da conduta existente (Grilo e Covas, 2008).
43
de uma conduta existente. Este processo foi concebido para solucionar problemas de condutas
com patologias estruturais e/ou não estruturais, mas especificamente para tubos com
diâmetros entre 100 e 500 mm. Pode ainda ser desenvolvido para curvas até aos 11º 25` e
funcionar como uma conduta comum sujeita a uma pressão comum ou para tubos de
pequenas reparações (Grilo e Covas, 2008).
As vantagens desta técnica são as seguintes: rápida execução; pode aplicar-se a
extensões de conduta superiores a 1500 m por cada inserção, voltando apenas ao diâmetro
original quando os técnicos assim o desejarem, possibilitando deste modo uma instalação mais
eficiente; permite uma versatilidade de procedimentos de inserção que toleram a realização de
outros trabalhos entre diferentes trechos; pode ser utilizado em condutas de abastecimento e
distribuição de água, em condutas de distribuição de gás, em estações elevatórias de esgotos
e em pipelines industriais. Este método apesar de ser aplicado correntemente apresenta como
desvantagem o elevado custo, não sendo por isso recomendado para condutas que não
necessitem de reabilitação estrutural (Grilo, 2007).
Figura 2.40 – Técnica de re-entubamento com tubo de parede dobrada: pormenor do tubo dobrado e
detalhe do tubo expandido no interior da conduta (Grilo, 2007).
44
O diagnóstico, a avaliação do desempenho e a reabilitação dos sistemas hidráulicos
constituem, actualmente, questões de grande relevo para as entidades gestoras. Com efeito, a
utilização racional dos investimentos necessários para a melhoria dos sistemas implica o
conhecimento detalhado das suas características assim como o seu comportamento e o
estabelecimento correcto de prioridades de actuação. Esta actuação deve enquadrar-se numa
óptica de desenvolvimento sustentável, ou seja, racionalizando e optimizando os recursos
disponíveis através da implementação de soluções integradas a que correspondam os
melhores custos-benefício, e a satisfação de níveis de desempenho adequados, a médio e
longo prazo (fonte: https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/141012/1/10%20Capitulo%209.pdf).
45
De referir que na protecção por ânodo de sacrifício, o ânodo é formado por um metal
que corroa mais facilmente que o metal a proteger (Figura 2.42). Quanto mais afastados
estiverem os dois metais na série galvânica, maior a diferença de potencial e
consequentemente melhor será o funcionamento do sistema de protecção (Appleton e Costa,
2007).
Figura 2.42 – Esquema de uma protecção catódica por ânodo de sacrifício de uma tubagem
(Salvador, 2002).
Figura 2.43 – Esquema de uma protecção catódica por corrente imposta de uma tubagem enterrada
(Salvador, 2002).
46
favorece a passivação do material dando-lhe resistência à corrosão. A protecção anódica não
só propicia a formação da película protectora mas principalmente mantém a estabilidade desta
película (fonte: http://www.iope.com.br).
47
a concentração em inibidor for ou se tornar insuficiente, o seu efeito torna-se adverso, como tal,
existe um valor crítico de concentração de inibidor, abaixo do qual se torna perigoso. Os
inibidores catódicos interferem nas reacções catódicas e trata-se de catiões que migram para
superfícies catódicas, onde reagem, depositando-se e polarizando as reacções que se
realizam. Relativamente aos inibidores mistos estes actuam por adsorção 5 em toda a superfície
do metal e interferem tanto nas reacções anódicas como catódicas (Salvador, 2002).
Nas últimas décadas, com o intuito de evitar ou minimizar os inconvenientes causados
pelos processos corrosivos, têm sido desenvolvidos e estudados novos materiais mais
resistentes e duradouros, como ligas metálicas, polímeros e cerâmicas (Merçon et al., 2004).
2.7 Sismos
2.7.1 Introdução
5
Define-se como sendo a fixação de moléculas de gases ou de líquidos à superfície de outra substância
(normalmente um sólido).
48
Os danos directos podem ser definidos qualitativamente segundo duas perspectivas,
danos físicos (estruturais) ou danos funcionais (operacionais). Os danos físicos englobam os
danos estruturais, que se manifestam através da rotura de condutas, abertura de juntas de
ligação, rotura de válvulas, colapso de reservatórios, apoios e maciços de amarração,
desmoronamento de estações elevatórias ou centrais hidroeléctricas e de tratamento. Os
danos funcionais, essenciais para caracterizar os efeitos dos sismos em termos de
operacionalidade da rede, estão interelacionados com os danos estruturais e podem
manifestar-se na forma de redução de pressão e/ou caudal induzidos por fugas através de
fissuras ou rupturas (Silva, 2002).
De acordo com pesquisas efectuadas por Estêvão (1998), deve-se proceder a um
zonamento sísmico do território, com o intuito de apresentar a distribuição da casualidade
sísmica numa grande região. É possível classificar o zonamento sísmico em três grupos
distintos, consoante os objectivos e os indicadores utilizados:
49
Tabela 4 – Comparação entre zonamento e microzonamento (adaptado de Estêvão, 1998).
50
Figura 2.45 – Ondas esféricas (fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html).
As ondas Rayleigh (ondas R) e Lowe (ondas L) são dos tipos principais de ondas
superficiais geradas pela ocorrência de sismos. Nas ondas L as partículas deslocam-se
segundo um plano horizontal e imprimem ao solo movimentos de vibração lateral.
Relativamente, às ondas R produzem nas partículas afectadas movimentos elípticos sobre
planos verticais e em sentido oposto à direcção de propagação da onda, como é demonstrado
na Figura 2.46.
51
por movimentos permanentes do solo, dependendo das condições do solo e da presença de
falhas geológicas: um primeiro tipo corresponde à localização abrupta de deslocamentos
relativos, que poderá ser causada por uma falha ou deslocamento imposto nas margens de um
escorregamento de solo. Os danos observados nas tubagens ocorrem principalmente na zona
de rotura do solo. O segundo tipo equivale à distribuição espacial de movimentos permanentes
do solo e poderá ser provocada, por fenómenos de liquefacção ou por assentamentos do solo.
Neste caso os danos nas tubagens podem ocorrer em qualquer lugar, dentro da área onde se
verificou o movimento permanente do solo (Bento, 2000).
De referir que, a liquefacção é um fenómeno comportamental do solo, para o qual os
solos saturados perdem uma quantidade substancial de resistência devido, principalmente, ao
excesso de pressão ao nível da água dos poros, gerada e acumulada durante a ocorrência de
um dado cenário sísmico de magnitude elevada (Silva, 2002).
A protecção sísmica das redes deve ser uma preocupação relevante das entidades
governativas e, em particular, das encarregues dos planos de emergência após a ocorrência de
um sismo. Embora existam regiões que, pelas suas características, se tornam mais vulneráveis
à ocorrência destes fenómenos naturais, a elaboração de estudos sobre as referidas redes
bem como a definição de planos de emergência devem ser práticas correntes, por forma a
reduzir ou até eliminar os riscos decorrentes de um abalo sísmico (Silva, 2002).
Os sistemas de infra-estruturas civis, tais como, as redes de água e de electricidade, o
gás natural e os sistemas de transporte, são essenciais ao bom funcionamento das sociedades
modernas. Devido à natureza interligada dos sistemas, referidos anteriormente, quando um
deles é danificado/destruído por um sismo ou outro risco natural, os outros sistemas de infra-
estruturas também poderão vir a funcionar precariamente (Adachi e Ellingwood, 2006).
Os sistemas de condutas, enterradas ou elevadas, contínuas ou segmentadas por
trechos, constituem uma componente importante dos sistemas vitais de abastecimento
(“lifelines”). O seu dimensionamento e implantação raramente obedece a condicionantes de
desempenho sísmico. Em consequência desta omissão têm sido muito elevados os prejuízos
verificados em sistemas vitais de abastecimento durante a ocorrência de sismos, entre os quais
se destacam os sismos de São Francisco (Califórnia, 1906), de São Fernando (Califórnia,
1971), de Nortthridge (Los Angeles, 1994), de Kobe (Japão, 1995), de Izmit (Turquia, 1999) e o
sismo de Chi-Chi (Tailândia, 1999) (Proença, 2000).
Os sismos surgem como o fenómeno natural mais perigoso que afecta a Califórnia do
Norte. Um sismo de magnitude elevada (escala de Richter, M > 8), e vários terramotos de
52
grande magnitude (escala de Richter, M> 6) afectaram aquela parte dos Estados Unidos
durante os últimos 200 anos. Estes choques e réplicas causaram extensos danos materiais e
infligiram várias centenas de acidentes/feridos. Com efeito, dada a expansão da população
através da construção de edifícios, pontes e infra-estruturas de abastecimento, um crescente
número de locais poderão ser afectados pela ocorrência de um sismo com consequências
significativas. Este crescimento da população é, hoje em dia, enorme quando comparado com
a densidade populacional do passado, e em especial com a de 1906, data do último grande
choque destrutivo. No sismo de 1906, os incêndios deflagrados foram responsáveis por 85%
dos danos causados em São Francisco (Richie, 2003). Pelas 5:12 da manhã (hora local) do dia
18 de Abril de 1906, a cidade de São Francisco na Califórnia foi abalada por um sismo seguido
de um fogo sem precedentes na sua história. Em estudos recentes estimou-se que o sismo
registou uma magnitude de 8,25 na escala de Richter. Este sismo teve o epicentro perto da
cidade de São Francisco (Figura 2.47) e foi gerado pela rotura na zona mais a norte da falha de
Santo André, que é a principal falha de um conjunto de falhas com movimento lateral direito
que acomodam a maior parte dos movimentos relativos entre as Placas Norte Americana e
Pacífica (Silva, 2002).
Figura 2.47 – Localização do epicentro do sismo de São Francisco 1906 (Silva, 2002).
De referir que a liquefacção dos solos tem efeitos significativos nas estruturas e um
exemplo disso surge aquando do abalo sísmico de 1906, onde a liquefacção da Valencia Street
provocou um movimento lateral de 1,80 m nas condutas e nas estruturas existentes (Richie,
2003).
Richie (2003) afirma que segundo o relatório de Lawson, datado de 1908, uma
característica importante de um abalo sísmico é a clara correlação existente entre a
intensidade deste e as condições geológicas subjacentes.
Em Valencia Street, o sismo causou um assentamento aproximadamente de 2,4 m, ao
longo da rua, numa distância de 46 a 61 m, e simultaneamente moveu-a, juntamente com as
terras adjacentes, para leste aproximadamente entre 2,70 e 3 m (Figura 2.48). Esta diferença
de alinhamento e de declive originou a destruição total das redes de água, de esgotos, de gás,
53
de electricidade, de telefone, entre outras infra-estruturas. A destruição das linhas de água
levou ao corte total deste bem numa grande parcela da cidade, que logo foi rodeada por
chamas (Richie, 2003).
(a) (b)
Figura 2.48 – Danos registados nas redes de água da cidade de São Francisco durante o sismo de 1906:
(a) distruição de condutas de água perto do Reservatório Crystal Springs em San Mateo County; (b)
rotura de condutas em Valencia Street entre as ruas 18th e 19th (fonte:
http://www.sfmuseum.net/1906/photos.html).
O sismo de 1906 mostrou que os estragos observados nas condutas enterradas foram
mais gravosos em solo de fracas características mecânicas do que em solos com boas
características. Verificou-se que o fogo propagado na cidade de São Francisco na sequência
do sismo e que durou três dias, começou na zona em que o solo apresentava fracas
características mecânicas, tendo-se posteriormente propagado a alguns edifícios fundados em
solo firme, adjacentes a essas áreas (Silva, 2002). De acordo com este autor, o sismo revelou
alguns dos efeitos desastrosos que a existência de deformações permanentes do solo, como a
presença de falhas geológicas ou liquefacção dos solos, tem sobre as tubagens enterradas.
Assim, durante o referido sismo, cerca de metade das condutas (aproximadamente 52%) que
sofreram danos estavam colocadas em zonas onde se verificaram fenómenos de liquefacção,
enquanto que a restante se ficou a dever ao efeito da propagação das ondas sísmicas.
Contudo, apesar da percentagem das tubagens que sofreram danos devido a deformações
permanentes do solo e devido à propagação das ondas sísmicas ter sido praticamente a
mesma, os níveis de estragos observados nas tubagens incluídas na primeira situação foram
cerca de 20 vezes superiores aos níveis de danos registados na outra situação referida.
O sismo de São Fernando na Califórnia, também designado por Sylmar, ocorreu pelas
6:01 da manhã do dia 9 de Fevereiro de 1971. O epicentro localizou-se perto da cidade de São
Fernando a cerca de 20 km a noroeste da cidade de Los Angeles, tendo afectado uma área de
cerca de 220 000 km2 incluindo o sul da Califórnia, o oeste do Arizona e o sudoeste do Nevada
54
(Figura 2.49). Pelo facto do sismo ter acontecido numa zona fortemente urbanizada, as
repercussões ao nível das habitações e das várias redes foram desastrosas, registando-se
cerca de 58 mortos e de 2000 feridos (Silva, 2002). De referir que este sismo gerou zonas de
superfície de falha, tal como é visível na Figura 2.50.
Figura 2.49 – Localização do epicentro do sismo de São Fernando 1971 (Silva, 2002).
Figura 2.50 – Localização das reparações e substituições efectuadas nas tubagens (Silva, 2002).
O fenómeno de liquefacção originado pelo Sylmar, foi responsável tanto pela abertura
de fendas como por deslocamentos no solo. Apesar de ter registado apenas uma magnitude de
6,4 na escala de Richter foi considerado, até essa altura, como o sismo mais forte alguma vez
registado na Califórnia em termos de movimento. De notar que, a escala de Richter só mede a
energia total libertada durante um abalo sísmico e não outros factores, tais como,
movimentos/deslocamentos (Richie, 2003).
Durante a ocorrência da liquefacção dos solos surgiram compactações diferenciais que
danificaram fortemente as tubagens. As redes de água, de gás, de esgotos e de electricidade
foram interrompidas nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno e as
tubagens que atravessavam a zona da falha foram destruídas (Figura 2.51).
55
(a) (b)
Figura 2.51 – São Fernando, 1971: (a) as redes de água, gás, esgotos, electricidade foram interrompidas
nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno (Richie, 2003); (b) rotura das redes
de água e esgotos que atravessavam a falha (fonte:
http://nisee.berkeley.edu/bertero/html/damage_due_to_surface_faulting.html).
Figura 2.52 – Localização dos fenómenos relacionados com os movimentos permanentes do solo e dos
danos ao nível de tubagens (Silva, 2002).
A localização dos movimentos diferenciais mais severos pode ter variado durante o
sismo na sequência do desenvolvimento da zona de escorregamento lateral. É importante
referir que é bastante provável que as primeiras roturas nas tubagens de transmissão de gás,
tenham ocorrido nas zonas de localização de crateras de explosão (Figura 2.53). Estas roturas
encontram-se preferencialmente a sudeste da zona em que ocorreu o escorregamento lateral,
onde as tubagens estavam sujeitas a tensões elevadas resultante do movimento permanente
56
do solo. O máximo deslocamento verificado na zona de escorregamento lateral foi cerca de 2
m e grande parte deste deslocamento desenvolveu-se por uma extensão de 70 m ao nível das
margens sudeste da zona em que se verificou este tipo de movimento permanente do solo. De
notar que as crateras de explosão que surgiram na sequência do sismo, apresentavam cerca
de 3 a 5 m de diâmetro, tendo sido originadas pela libertação súbita de gás a elevada pressão
(Silva, 2002).
Figura 2.53 – Danos observados nas tubagens da rede de transmissão dos segmentos de Mission Wells e
Sylmar (Silva, 2002).
57
2.7.3.4 Sismo de Northridge – Califórnia (1994)
O sismo de Northridge ocorreu pelas 4:31 horas da manhã (hora local) do dia 17 de
Janeiro de 1994, com epicentro localizado nas imediações da cidade de Northridge, situada a
aproximadamente 30 km a Noroeste de Los Angeles (Figura 2.54) (Silva, 2002). Este sismo
apresentou uma magnitude na escala de Richter estimada em 6,4 e a duração das vibrações
mais intensas foi de 15 a 20 segundos, dependendo da distância epicentral e das condições
geológicas locais. Devido a este sismo verificaram-se cerca de 57 mortos, 8000 feridos e
20000 desalojados (Sousa Oliveira et al., 1995).
O abalo sísmico proveio de uma rotura numa falha inversa sub-horizontal na zona de
transição de alinhamento da célebre falha de Santo André, sendo possível identificar um
mecanismo de compressão. De referir que o movimento no plano da falha é de cavalgamento
(Sousa Oliveira et al., 1995).
De acordo com Sousa Oliveira et al. (1995), devido à ocorrência deste sismo
observaram-se pequenas roturas superficiais em diversas zonas, tanto nas falhas dos montes
de Santa Mónica, como em todo o vale de São Fernando. Neste segundo local, as roturas
superficiais são visíveis nos pavimentos, passeios, aterros, entre outros, correspondendo a
assentamentos diferenciais, laterais e/ou compactação (Figura 2.55).
58
Ainda de acordo com estes autores, os assentamentos diferenciais, relacionados com
fenómenos vibratórios do solo, correspondem a fenómenos de compressão ou de extensão. Os
casos mais relevantes localizaram-se junto do Balboa Boulevard entre as ruas Rinaldi e
Lorillard (Figura 2.56). Os movimentos de compressão, que atingiram 35 cm estão na origem
das roturas em condutas de água e de gás (com diâmetros de 1,73 m e de 0,5 m,
respectivamente), e os que atingiram 30 cm são responsáveis pelo cavalgamento das pedras
dos passeios. Relativamente a extensões, observaram-se deslocamentos diferenciais de 25 cm
que romperam em tracção das condutas de menor diâmetro. Num caso ou noutro observou-se
movimentação lateral esquerda de 15 cm.
Figura 2.56 – Mapa do Balboa Boulevard com as zonas de rede de água e gás danificadas devido a
fenómenos de compactação dos solos (Sousa Oliveira et al., 1995).
59
estradas, os sistemas evidenciaram elevado grau de redundância e resiliência 6. Assim,
enquanto a rede de auto-estradas teve graves problemas por um período longo de tempo, as
restantes redes reiniciaram o seu funcionamento horas ou dias após o abalo sísmico (Sousa
Oliveira et al., 1995).
Em relação às redes de água surgiram diversas roturas no sistema de abastecimento
que afectaram o fornecimento de dezenas de milhares de consumidores. O tipo mais frequente
de danos consistiu na rotura das tubagens de menor diâmetro, possivelmente devido ao
assentamento diferencial e lateral dos solos envolventes. Os danos provocados nas
instalações de tratamento de águas, correspondem a roturas em tubagens provenientes de
movimento de solos. Uma explicação para as grandes deformações de compressão e tracção
observadas reside no deslizamento para sul, com ligeira descida de um grande bloco de solo
com cerca de 400 m de comprimento, comprimindo a zona de contacto a sul, e traccionando a
norte, sendo de 50 cm o movimento total deste bloco (Sousa Oliveira et al., 1995).
Sousa Oliveira et al., 1995 conclui que embora a maior parte dos danos tenham
ocorrido em estruturas mais antigas, edificadas quando as regras construtivas não eram tão
exigentes como as que hoje em dia se praticam, houve alguns casos de estruturas
recentemente construídas com colapso generalizado. No entanto, tal como já se verificou
noutras ocorrências recentes, a observância das regras de construção sismo-resistente, quer
no que diz respeito ao projecto, quer à construção, correspondeu, de um modo geral, a bons
comportamentos estruturais.
O sismo de Hyogo-ken Nambu, com epicentro na Baía de Osaka, ocorreu pelas 5:47
horas da manhã do dia 17 Janeiro de 1995. Atingiu algumas das cidades em torno da referida
Baía e, em especial, a cidade de Kobe (Figura 2.57). A agência Meteorológica Japonesa
estimou a magnitude deste sismo em 7,2 na escala de Richter (Silva, 2002).
6
Resiliência, em mecânica, é a capacidade de resistência de um material ao choque.
60
As perdas provenientes do sismo de Kobe, também conhecido pelo grande sismo de
Hanshin, foram imensas. Ao todo registaram-se mais de 6400 mortes e 15000 feridos, os
incêndios consumiram cerca de 82 hectares de terrenos urbanos, e mais de 400000 edifícios
foram danificados, sendo que 100000 colapsaram totalmente. Duzentas mil unidades
habitacionais foram parcial ou totalmente destruídas, e 85% das escolas da região, muitos
hospitais, e outras importantes instalações públicas sofreram severos danos (1995 Kobe
Earthquake, 2005).
A liquefacção dos solos foi particularmente destrutiva nas zonas portuárias, Port Island
e Rokko Island, que correspondem a zonas de aterro (Silva, 2002) (Figura 2.58).
Figura 2.58 – Danos ocorroridos na região Kobe-Osaka, em Port Island e em Rokko Island (Laity, 2005).
61
Figura 2.59 – Danos observados em tubagens devido a deformações permanentes do solo (Silva, 2001).
O sismo de 1995 foi o evento sismológico mais significativo no Japão desde 1923, data
da ocorrência do sismo Kanto. Por conseguinte, o evento incitou a novos programas de
pesquisa em todos os aspectos de engenharia sísmica, sismologia, e gestão de desastre, tanto
no Japão como em todo o mundo. Este abalo sísmico realçou a importância da mitigação 7 do
risco para ambientes urbanos complexos dependentes de sofisticados sistemas de transporte,
comunicação e de sistemas de infra-estruturas de abastecimento. Serviu também para ilustrar
a forma como o grau de dano difere, dependendo de uma combinação de perigo, exposição, e
de vulnerabilidade e da necessidade de estudos probabilísticos para a avaliação dos riscos
(1995 Kobe Earthquake, 2005).
Este sismo foi considerado o primeiro teste real ao código Japonês de edifícios pós
1981. As estruturas construídas com este novo código, em geral, tiveram um bom
desempenho. As modificações do código foram aprovadas no início de 1980 proibindo o uso de
betão armado não dúctil em estruturas, em prol do uso de betão armado dúctil. As novas
estruturas apresentavam maior flexibilidade, permitindo desta forma resistir a fortes vibrações
no solo experienciadas no sismo de Kobe.
7
Mitigação consiste em minimizar ou eliminar as perdas e danos, mediante o controlo do processo e/ou a
protecção dos elementos expostos, reduzindo a sua vulnerabilidade.
62
Figura 2.60 – Mapa da localização do epicentro do sismo de Izmit e as regiões afectadas (Gillies et al.,
2001).
Figura 2.61 – Colapso de uma ponte em Arifiye, devido ao sismo de Izmit (Gillies et al., 2001).
63
água para as regiões: o reservatório de Gokce perto de Yalova, que serve a população de 13
cidades desde Yalova até Golcuk, o reservatório de Kullar no Izmit Water Project que abastece
19 cidades desde Golcuk até Gebze e o Lago de Sapanca que serve a área de Adapazari
(Gillies et al., 2001).
De acordo com, Gillies et al. (2001), não houve relatos de danos significativos em
reservatórios, estações de bombagem, ou estações de tratamento, mas, num curto prazo,
todas estas infra-estruturas perderam a capacidade de bombagem e de tratamento, e o
sistema principal de alimentação teve roturas em várias condutas, em particular onde as
tubagens cruzavam falhas. Dentro das cidades, as redes de distribuição tiveram danos
extensos devido à rotura de terras e devido a fenómenos de liquefacção e de assentamentos.
Antes do abalo sísmico, a água para abastecer Adapazari provinha do Lago Sapanca,
através de uma estação de bombagem localizada em Esentepe, numas montanhas acima do
Lago. Clorídrico em forma de gás foi adicionado à água, na estação de bombagem de
Esentepe, e por gravidade era conduzida através de duas tubagens de aço, uma de 1200 mm
de diâmetro, para a estação de tratamento de água localizada em Maltepe, no Distrito de
Adapazari, e uma segunda tubagem de 700 mm de diâmetro passava a estação de tratamento
e ia directamente abastecer a rede urbana de alguns subúrbios, incluindo Serdivan (Gillies et
al., 2001).
Imediatamente após o sismo de Izmit, também designado por Kocaeli, as estações de
bombagem e de tratamento de água foram destruídas. Verificaram-se severos danos nas duas
condutas de alimentação e danos extensos na rede de distribuição dentro do Distrito
Adapazaru. Com o tempo, as infra-estruturas hidráulicas, referidas anteriormente, foram
restauradas e as principais roturas nas tubagens de alimentação foram reparadas (Gillies et al.,
2001).
Este mesmo sismo constituiu um bom exemplo de como a compressão longitudinal
afecta as tubagens. A compressão longitudinal tem evidenciado ser das maiores causas de
danos em tubagens devido à ocorrência de sismos. Segundo estudos efectuados por Richie
(2003) é importante evitar, se possível, a colocação de infra-estruturas críticas sobre linhas de
falha. De notar que infra-estruturas críticas são as instalações físicas e de tecnologia de
informação, redes, serviços e bens, as quais, se forem interrompidas ou destruídas, provocarão
um sério impacto na saúde, na protecção, na segurança e no bem-estar económico dos
cidadãos. As infra-estruturas críticas abarcam vários sectores da economia, incluindo o sector
bancário e financeiro, os transportes e a distribuição, a energia, os serviços públicos, a saúde,
o abastecimento alimentar e as comunicações, bem como certos serviços administrativos de
base (Comissão das Comunidades Europeias, 2004).
Ainda relativo às pesquisas de Richie (2003), este autor constatou que com a
aprendizagem dos erros, é possível o melhoramento dos códigos da prática de construção que
podem salvar vidas em futuros sismos. O sismo de Kocaeli mostrou que o encurtamento das
tubagens e a compressão destas, devido aos movimentos do solo, reflecte um sério problema
de projecto relacionado com o zonamento do território, com o plano arquitectónico e com os
64
processos construtivos a implantar no local da obra. Neste sismo, muitas das recentes
tubagens dúcteis resistiram aos movimentos do solo.
65
Tabela 5 – Resumo dos danos ocorridos em estações de tratamento devido ao sismo de Chi-Chi (Shih e
Chang, 2006).
66
Figura 2.63 – Localização em planta das estações de tratamento danificadas pelo sismo (Shih e Chang,
2006).
67
Segundo pesquisas bibliográficas efectuadas por Shih e Chang (2006), as principais
causas de rotura das condutas de água, provenientes do abalo sísmico de Chi-Chi, foram as
vibrações do solo (48%), os deslocamentos verticais do terreno (16%), os deslocamentos
horizontais do solo (9%), o colapso de terrenos (11%), as fendas ou buracos existentes no solo
(10%), a liquefacção (2%) e outros (4%). De referir que o fenómeno de liquefacção apresentou
uma percentagem diminuta, cerca de 2%, visto a maioria das zonas, que foram severamente
liquefeitas, estavam localizadas em margens de rios, campos de golfe, e zonas portuárias, em
vez de cidades populosas. Embora se tenha dito que a grande percentagem de danos
provocados em tubagens, ao longo da falha de Chelungpu, se devesse aos relevantes
movimentos permanentes do solo, derivados dos grandes valores de picos de aceleração do
solo (PGA) e de picos de velocidade no solo (PGV), registados nessa falha, Shih e Chang
(2006) acreditam que movimentos do solo, por si só, também poderiam causar elevados
estragos. Os autores Shih e Chang escolheram o estudo dos parâmetros PGA e PGV entre
muitos outros não só pelas razões acima expostas, mas também porque ambos são os
parâmetros mais frequentemente referidos nos estudos de engenharia sísmica e possuem um
importante significado na análise do dano em sistemas vitais enterrados. Devido ao enorme
potencial risco sísmico desta zona, a estimativa de perdas devido à ocorrência de um sismo é
especialmente importante para o governo desenvolver medidas de protecção.
As condutas de água são, em geral, constituídas por vários tipos de materiais, tais
como Policloreto de Vinilo (PVC), Ferro Fundido Dúctil (DI), Ferro Fundido (CI), Aço (S),
Polietileno (PE), entre outros. Shih e Chang seleccionaram algumas das cidades mais
afectadas pelo sismo de Chi-Chi (Figura 2.64), para realizarem uma análise sobre a fragilidade
das condutas de água, para tal fizeram levantamentos acerca do número de reparações, para
cada tipo de material de tubagem e comprimento das mesmas (Tabela 6).
Figura 2.64 –Localização das áreas de estudos sobre a fragilidade e condutas (Shih e Chang, 2006).
68
Tabela 6 – Comprimento e número de reparações para cada tipo de material de tubagem na área em
estudo (Shih e Chang, 2006).
Os dados obtidos evidenciaram que a maioria das tubagens, cerca de 86%, era
constituída por PVC. O diamentro nominal das condutas de água estava compreendido entre
69
25 a 500 mm, e aquelas com diâmetro inferior a 65 mm foram, maioritariamente, utilizadas nas
ligações entre as tubagens de distribuição de água e os ramais domiciliários.
Em conclusão deste capítulo, o movimento do solo em cada local onde os sismos são
sentidos, só por si, não causa vítimas. Estas devem-se, fundamentalmente, aos danos e
colapsos de construções com resistência sísmica insuficiente. Por isso, as consequências
humanas e económicas dos sismos dependem fortemente da resistência sísmica das
construções nas zonas afectadas. Conclui-se, assim, que, embora os sismos sejam fenómenos
naturais, as suas consequências são resultado da acção do homem, por serem inversamente
proporcionais às precauções tomadas para evitar os danos. A Figura 2.65 ilustra esta
afirmação porque duas construções próximas na Ilha do Faial, sujeitas ao mesmo sismo em
1998, apresentam danos muito diferentes devido à diferença de resistência sísmica entre
ambas (Lopes & Leite, 2005).
Figura 2.65 – Diferença de vulnerabilidade entre edifícios: Sismo do Faial de 9 de Julho de 1998 (Lopes e
Leite, 2005).
70
3. MODELOS COMPUTACIONAIS
71
derivação destas formulações, admite-se que a conduta tem características uniformes em todo
o seu desenvolvimento e que são desprezáveis as perdas de carga contínuas e localizadas e a
altura cinética do escoamento. Para manobras de fechamento total rápido (i.e., T*<2L/a0) para
um caudal em regime permanente de Q0, a sobrepressão máxima induzida junto ao obturador
pode ser estimada de forma aproximada pela fórmula de Frizel-Joukowsky (HJ), e para
manobras lentas (i.e., T*>2L/a0) do tipo linear, a variação máxima de pressão obedece à
fórmula de Michaud (HM):
𝑎 0 𝑄0 2𝐿
∆𝐻𝐽 = 𝑇∗ ≤ 𝑎 (1)
𝑔𝑆 0
2𝐿 𝑄0 2𝐿
∆𝐻𝑀 = 𝑇∗ ≥ 𝑎 (2)
𝑇 ∗ 𝑔𝑆 0
sendo:
T* = duração da manobra (s); L = comprimento da conduta (m); S = secção transversal
da conduta (m2); Q0 = caudal inicial (m); e a0 = celeridade da onda elástica (m/s).
Estas fórmulas podem ser utilizadas para obter um valor de referência dos valores das
variações de pressão máximas e mínimas induzidas. No entanto, devem ser usadas com
parcimónia, uma vez que as manobras não são usualmente lineares nem as perdas de carga
desprezáveis, induzindo variações de pressão mais elevadas no sistema do que as obtidas por
estas formulações (e.g., devido ao efeito de empacotamento ou tempos efectivos de
fechamento muito inferiores ao tempo de duração da manobra).
Na elaboração do modelo de cálculo para os elementos do tipo conduta em pressão,
admitem-se como válidas as seguintes hipóteses simplificativas: (i) o fluido transportado é
pouco compressível (líquido); (ii) as distribuições da velocidade e da pressão são uniformes em
cada secção transversal da conduta ( α = α´= 1); (iii) o comportamento reológico do líquido e
do material da conduta é elástico e linear (desprezam-se as forças de inércia da conduta); (iv) o
escoamento é homogéneo e monofásico; (v) a altura cinética do escoamento é desprezável
face à altura piezométrica; (vi) são válidas durante os regimes transitórios as expressões para
a determinação das perdas de carga contínuas deduzidas para o regime permanente e
uniforme (hipótese quasi-estacionária) (Ramos 1989, Ramos 2003).
As equações do movimento transitório são obtidas de duas equações diferenciais que
representam a equação da dinâmica (ou da conservação da quantidade de movimento) e a
equação da continuidade (ou da conservação da massa).
A equação da dinâmica é dada por:
𝜕𝑄 𝜕𝐻
+ 𝑔𝐴 𝜕𝑥 + 𝑅𝑄 𝑄 = 0 (3)
𝜕𝑡
72
𝜕𝐻 𝑐 2 𝜕𝑄
+ 𝑔𝐴 𝜕𝑥 = 0 (4)
𝜕𝑡
sendo:
𝑝
𝐻 = 𝑔𝜌 + 𝑧 a cota piezométrica acima do nível de referência;
𝑄 = 𝑉. 𝐴 o caudal;
𝐽 ∆𝑥
𝑅= o coeficiente de resistência ou perda de carga continua.
𝑄2
De referir que estas equações (3) e (4) não têm uma solução geral conhecida, mas
pelo método das características (MC) podem ser convertidas em equações com derivadas
totais, válidas ao longo das linhas características definidas pelo plano (x,t):
𝑐
𝑑𝐻 + 𝑔𝐴 𝑑𝑄 + 𝐽𝑑𝑥 = 0 (5)
para: 𝑑𝑥 = +𝑐𝑑𝑡
𝑐
𝑑𝐻 − 𝑔𝐴 𝑑𝑄 + 𝐽𝑑𝑥 = 0 (6)
para: 𝑑𝑥 = −𝑐𝑑𝑡
A integração das equações (5) e (6) é, regra geral, executada utilizando um esquema
de diferenças finitas, segundo um esquema explícito e com intervalo de tempo especificado ao
longo das linhas características (técnica dos intervalos de tempo especificados), (Figura 3.1):
Figura 3.1 – Método das características. Malha de cálculo e linhas características (adaptado de Ramos,
1989; Ramos, 2003).
73
integração das equações (5) e (6) e considerando a malha de cálculo da Figura 3.1, obtêm-se
as seguintes equações características:
onde:
𝐶1 +𝐶2 𝐶1 −𝐶2
𝐻𝑃 = e 𝑄𝑃 = (9)
2 𝐵
sendo:
𝐶1 = 𝐻𝐴 + 𝐵 − 𝑅|𝑄𝐴 | 𝑄𝐴 (10)
𝐶2 = 𝐻𝐵 + 𝐵 − 𝑅|𝑄𝐵 | 𝑄𝐵 (11)
𝑐
𝐵 = 𝑔𝐴 (12)
𝐽 ∆𝑥
O coeficiente de perda de carga contínua é definido por 𝑅= sendo J a perda de
𝑄2
𝐾
carga unitária e a celeridade das ondas elásticas dada por 𝑐 = 𝐾 .
𝜌 1+ Ψ
𝐸
De referir que as equações (9) permitem o cálculo dos valores das variáveis H e Q em
cada secção P da malha de cálculo, em função do valor calculado no instante anterior e nos
pontos A e B correspondentes a secções vizinhas sendo igualmente necessário a
caracterização das condições de fronteira (Ramos, 1989 e Ramos, 2003).
74
do problema. Esta discretização consiste na divisão do domínio em domínios elementares, os
elementos finitos. No interior de cada elemento, admite-se uma aproximação das variáveis do
problema por funções relativamente simples, por exemplo, funções polinomiais. Com base
nesta aproximação, o andamento das variáveis no interior de cada elemento pode ser definido
pelos valores que as variáveis (ou, por vezes, as suas derivadas) assumem em certos pontos
particulares, os pontos nodais do elemento. Deste modo, o problema teórico, envolvendo um
meio contínuo, é transformado através do método numérico num problema discreto, em que a
solução aproximada, para todo o domínio, e definida por um número finito de parâmetros, que
correspondem aos valores das variáveis nos pontos nodais. Estas variáveis nodais são as
incógnitas do problema discreto. A sua determinação requer um critério que permita definir qual
a melhor solução numérica de entre as várias soluções possíveis para uma dada discretização.
Um maior número de elementos de pequenas dimensões, isto é uma discretização mais fina,
conduz a uma solução numérica mais próxima da solução exacta (Lemos, 2005).
O programa SAP2000 é um programa de elementos finitos que permite determinar o
desempenho estático ou dinâmico de sistemas estruturais, assim como, proceder à elaboração
de análises lineares ou não-lineares desses mesmos sistemas.
Além de ser um sistema de análise e concepção/dimensionamento estrutural que
permite aos utilizadores criarem e testarem um modelo animado das suas estruturas, permite
também calcular pesos próprios, forças resultantes, momentos, deformações, entre outros.
O método de elementos finitos obtém a solução minimizando a energia funcional em
cada elemento. Esta solução é baseada no princípio do trabalho virtual, o qual estabelece que
se uma partícula se encontra em equilíbrio sob um sistema de forças, assim para qualquer
deslocamento, o trabalho virtual é zero, princípio básico da mecânica dos meios contínuos,
como utilizado no modelo hidráulico.
Cada elemento estrutural finito terá a sua própria e única energia funcional. Como
exemplo, em análise de esforços, as equações que regem os corpo rígidos contínuos podem
ser obtidas pela minimização do potencial energético total do sistema. O potencial total pode
1
ser expresso através de: Π = 2 Ω
σT εdV − Ω
dT bdV − Γ
dT qdV onde e são os vectores
75
De referir que este programa, SAP2000, pode ser utilizado em diversas estruturas,
como por exemplo, em pontes, em estádios, em torres, em estruturas industrias, em sistemas
de condutas, em edifícios, em barragens, em solos.
76
4. APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
4.1 Introdução
77
se localiza à cota de 126,62 m. De referir que a conduta CPC apresenta duas válvulas de
seccionamento designadas por válvulas de borboleta (identificada por V58 e V59) e uma
terceira válvula colocada na parte superior da conduta (V53) (Almeida e Ramos, 2007).
As válvulas V58 e V59 conseguem isolar três diferentes trechos de tubagens: (i) trecho
D ligado às três bombas da Zona Superior; (ii) trecho intermédio ligado à estação de
bombagem da Amadora; (iii) trecho E ligado à estação de bombagem de Sintra. Entre a válvula
V53 e o trecho final da conduta CPC, ou seja, trecho D, existem várias juntas. Esta tubagem
principal (CPC) encontra-se amarrada a maciços de betão através de apoios de aço embebidos
no betão. Como consequência a conduta CPC pode ter pequenos movimentos ao longo do
eixo, uma vez que está simplesmente apoiada (Almeida e Ramos, 2007).
Ainda referente ao mesmo sistema de bombagem, existem dez tubos de sucção
(d=0,40 m) que ligam a conduta CPC às bombas e uma conduta secundária (designada de “by-
pass”) (d=0,40 m) que une a tubagem de alta pressão de Sintra (d=1,00 m) à CPC. A conduta
“by-pass” tem uma válvula de seccionamento, válvula VBP (Almeida e Ramos, 2007).
Na Figura 4.2 é possível ver a estação elevatória, assim como, as plataformas dos
reservatórios, as tubagens de aspiração, o nível de água dentro dos reservatórios, a conduta
CPC, a conduta “by-pass” e a válvula V59.
78
Figura 4.2 – Pormenores da estação elevatória de Telheiras. Sistema de abastecimento da EPAL
(Almeida e Ramos, 2007).
79
Figura 4.3 – Esquema dos deslocamentos observados aquando da ocorrência acidental na EE (Almeida e
Ramos, 2007).
Figura 4.5 – Rotura nos blocos de apoio das condutas (Almeida e Ramos, 2007).
80
4.4 Análise de diagnóstico
Figura 4.6 – Válvula VBP apresentando elevado nível de corrosão (Almeida e Ramos, 2007).
Figura 4.7 – Procedimento para a identificação das causas do acidente (adaptado de Almeida e Ramos,
2007).
81
Como resultado da análise do caso em estudo, Almeida e Ramos (2007) chegaram às
seguintes explicações: (i) a válvula VBP permitia o escoamento devido a diferentes frentes de
pressão entre a conduta de Sintra e a conduta principal CPC; (ii) depois do fechamento da
válvula V59, a conduta CPC ficou com dois trechos isolados: um trecho entre a válvula V59 e a
válvula V57 que recebia o fluxo de escoamento proveniente da conduta “by-pass”, através da
válvula VBP, e outro trecho entre a válvula V59 e a tubagem que se encontrava na extremidade
D, ligado a um grande reservatório localizado à cota 139,00 m; o escoamento ocorrido através
da válvula VBP possibilitou a transferência de pressões aumentando, consequentemente, a
pressão interna entre as válvulas V59 e V53; a existência de um desequilíbrio de forças na
válvula V59, originou o deslocamento do sistema de condutas.
A corrosão na válvula VBP pode ter ocorrido devido a diferentes circunstâncias. De
facto, a água estava estagnada há algum tempo desenvolvendo-se camadas de limo perto da
válvula, o que induziu a criação de um ambiente anaeróbio e uma favorável actividade
microbiológica. Em condições anaeróbias, com presença de sulfatos e conteúdo orgânico na
maior parte de água, ocorre a redução dos sulfatos para sulfuretos por microorganismos, tais
como as Desulfovibrio Desulfuricans, com deposição de sulfureto de ferro que ataca a
superfície da válvula. Depois do desenvolvimento de pontos de corrosão e pequenos orifícios,
a diferença de pressão entre os dois lados do batente da válvula induziu o escoamento através
desses pequenos orifícios. Outra possibilidade seria a corrosão química local da válvula,
devido à qualidade da água, mais precisamente, devido a altas concentrações de oxigénio
dissolvido, uma significativa condutividade eléctrica do líquido e elevadas concentrações de
cloretos e/ou nitratos e/ou sulfatos. Todos estes factores podem ter contribuído para o início de
corrosão química, embora a concentração de oxigénio dissolvido (condições aeróbias) seja
vista como a mais importante. As condições hidrodinâmicas locais criadas após a existência de
um pequeno orifício no batente da válvula, podem ter acelerado o processo de corrosão.
82
Figura 4.8 – Sistema hidráulico simplificado: a) condições normais de funcionamento, b) antes do acidente
(Almeida e Ramos, 2007).
83
Figura 4.9 – Desequilíbrio de pressões e força resultante na válvula V59 (Almeida e Ramos, 2007).
(a) (b)
Figura 4.10 – Trecho da válvula V59 e VBP: a) em condições normais de funcionamento, b) antes do
acidente (Almeida e Ramos, 2007).
84
Baseado em análises simplificadas, o valor da contracção da conduta pelo efeito de
Poisson devido à pressão interna de 176 m no trecho de conduta pode ser estimado em 0,015
m.
𝜐𝐿𝑝𝐷
∆𝐿1 = = 0,015 𝑚 (13)
2𝐸𝑡
sendo:
𝜐 = 0,4 o coeficiente de Poisson do aço;
L = comprimento de conduta entre apoios;
p = pressão interna no trecho de conduta;
D = valor médio do diâmetro;
E = módulo de elasticidade do material da conduta;
t = espessura da tubagem.
𝐿𝐹
∆𝐿2 = = 0,065 𝑚 (14)
𝜋𝐷𝐸𝑡
Figura 4.11 – Modelo estrutural e deslocamentos nas condutas (Almeida e Ramos, 2007).
85
4.6 Modelação de acção de um sismo no sistema
4.6.1 Fundamentos
Este tópico em análise remete, numa primeira fase de testes, para a modelação da
ocorrência de um sismo num sistema simplificado onde apenas se representa a conduta
principal CPC correspondente ao Trecho Inferior e parte das condutas CRE e CRD. Numa
segunda etapa, o estudo recairá sobre o sistema de condutas prolongado, em que para além
dos trechos mencionados anteriormente, se modela também a conduta CPC relativa ao Trecho
Superior e a conduta com d=1,0 m, que faz a ligação entre a conduta CPC inferior e a CPC
superior, para melhor compreender a interacção com esses elementos e de que forma podem
influenciar a análise de resultados em termos de deslocamentos.
Em estudos anteriores nunca foram especificadas as condições de apoio das condutas,
apenas se mencionava que a conduta principal CPC poderia ter pequenos deslocamentos
axiais. Deste modo, as condições de apoio do sistema de condutas, na zona da Estação
Elevatória de Telheiras, serão também alvo de análise. O estudo focaliza-se no nó da válvula
V59, visto ter sido neste ponto do sistema onde se verificaram os maiores deslocamentos no
caso analisado anteriormente.
De referir que a acção sísmica é uma acção dinâmica sobre a estrutura, visto a sua
acção variar ao longo do tempo conforme se exemplifica na Figura 4.12 em que se visualiza a
variação da aceleração (em ordenadas) com o tempo (em abcissas).
(d)
Figura 4.12 – Exemplo do registo do movimento de uma conduta em laboratório através de um
sismógrafo: (a) acção longitudinal (segundo o eixo da conduta); (b) acção transversal (direcção
perpendicular ao eixo da conduta, mas no mesmo plano); (c) acção vertical; (d) Exemplo de um registo
num sistema real
86
Um dos métodos de análise dinâmica consiste em utilizar espectros de resposta para
quantificar a acção sísmica. Um espectro de resposta pretende representar o valor da
aceleração a que uma estrutura fica sujeita durante a acção sísmica. Este espectro é obtido a
partir de um acelerograma (i.e., valores de aceleração no solo em função do tempo), e baseia-
se no princípio de que a máxima resposta de um oscilador sujeito a acelerações impostas na
base só depende da frequência de vibração do oscilador e do valor do coeficiente de
amortecimento que o mesmo apresenta. Assim sendo, um espectro de resposta resulta como
um gráfico, em que se relaciona o valor da aceleração de pico em função do amortecimento e
do período (e frequência), referente a um determinado sismo (possuindo um acelerograma
específico). Apesar de ser possível simular a acção dinâmica de um sismo sobre uma estrutura
pelo procedimento anterior, é praticamente impossível construir espectros de resposta que
englobem todas as acções possíveis, uma vez que a grande variabilidade de frequências e
amplitudes que envolvem a acção sísmica, tornam-no impraticável. Como meio de solucionar
este problema, o Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes
(RSA) considera apenas dois tipos de acção sísmica, representativos dos fenómenos sísmicos
com maior probabilidade de ocorrência no território português:
Tipo 1 – Acção sísmica de magnitude moderada e pequena distância focal de alta frequência e
cm durações de aproximadamente 10 s;
Tipo 2 – Acção sísmica de magnitude elevada e maior distância focal, com baixas frequências
e com durações de cerca de 30s.
Para a maioria das estruturas que na sua vida útil poderão ser sujeitas a acções
sísmicas de grande intensidade, o seu dimensionamento assumindo um comportamento
reológico elástico-linear não é viável nem desejável por razões económicas e práticas. Deste
modo, a admissibilidade de tirar partido do comportamento não linear dos materiais para
dissipar a energia que os sismos transmitem às estruturas (com excepção de centrais
nucleares, barragens, estruturas offshore e outras estruturas especiais) tem tido uma aceitação
generalizada. Assim é possível dimensionar as estruturas para esforços substancialmente
inferiores aos que se obtêm através de análises elásticas (fonte:
http://www.civil.ist.utl.pt/~luisg/textos/Folhas2_24_5.pdf).
A possibilidade de tirar partido do comportamento não linear dos materiais e
consequentemente do sistema estrutural, deriva do facto de a acção sísmica corresponder a
deslocamentos impostos às estruturas e não a forças aplicadas. Neste caso, as forças de
restituição que se desenvolvem numa estrutura dependem das relações constitutivas dos
materiais.
Note-se, no entanto, que para tirar partido do comportamento não linear é necessário
que o oscilador possua uma significativa capacidade de se deformar para além da cedência,
sem perda significativa de capacidade resistente. Em estruturas metálicas, os danos sofridos
durante a ocorrência de um sismo estão relacionados com fenómenos tais como fractura,
instabilidade local e fadiga para um baixo número de ciclos.
87
O coeficiente de comportamento surge como o factor de proporcionalidade entre o
valor que uma dada grandeza (deslocamento, tensão, esforço) assume, se a estrutura
responder ao sismo em regime linear e o valor da mesma grandeza, se a resposta da estrutura
se der em regime não linear, ou seja, o coeficiente de comportamento é um coeficiente que
permite transformar os resultados obtidos numa análise linear, nos que se obteriam numa
análise não linear. De salientar que o RSA, assume que o coeficiente de comportamento em
deslocamento é unitário, ou seja, que o deslocamento máximo em regime não linear é
sensivelmente igual ao deslocamento que se verificaria se o comportamento fosse linear (fonte:
http://www.civil.ist.utl.pt/~luisg/textos/Folhas2_24_5.pdf).
De acordo com o Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e
Pontes (RSA), artigo 28º, para efeitos de quantificação da acção sísmica considera-se o país
dividido em quatro zonas que, por ordem decrescente de sismicidade, são designadas por A,
B, C e D. Ainda referente a este regulamento, no artigo 29º, a quantificação da acção sísmica
quanto à natureza do terreno pode ser do seguinte tipo:
Tipo I – rochas e solos coerentes rijos;
Tipo II – solos coerentes muito duros, duros e de consistência média; solos incoerentes
compactos;
Tipo III – solos coerentes moles e muito moles; solos incoerentes soltos.
Teste 1
De referir que a escolha de usar o sismo Tipo 1, em detrimento do sismo Tipo 2, não
teve nenhuma razão especial, porque como o objectivo do estudo era testar a vulnerabilidade
88
sísmica do sistema de condutas e sensibilizar o projectista para a consideração deste aspecto
no dimensionamento, apenas se optou por apresentar a análise com um dos sismos.
Tal como referido anteriormente, a análise sísmica da estrutura foi feita com base em
espectros de resposta, tendo-se definido a combinação das respostas modais pelo método da
Combinação Quadrática Completa (CQC) e a combinação direccional de espectros de resposta
efectuada pelo método SRSS, garantindo que o sismo ocorre com a magnitude máxima em
ambas as direcções.
Na análise desenvolvida para a modelação do sistema simplificado adoptaram-se
alguns valores base conforme especificados nas Figuras 4.1 e 4.3, resultando para o
comprimento total da conduta CPC 66,50 m, e das condutas CRD e CRE 15,46 m. Ainda
referentes aos elementos da conduta, estes foram modelados recorrendo a secções circulares
de aço com uma espessura da parede da conduta de 0,015 m, no caso da conduta CPC e de
0,0127 m para as condutas CRE e CRD. De referir que os valores adoptados para a espessura
das paredes resultaram da consulta de dados de fabricantes. O diâmetro externo da conduta
CPC é de d=1,6 m e os restantes (CRD e CRE) são de d=1,0 m.
Quanto às condições de apoio, neste teste analisado, optou-se por permitir apenas os
deslocamentos axiais em todas as tubagens, como se pode observar na Figura 4.14.
Eixos:
Como o programa SAP 2000 não permite simular o efeito do líquido, para se ter em
conta na análise sísmica o efeito da água contida dentro das condutas adicionou-se aos
elementos de conduta como cargas distribuídas por metro de conduta, apresentando-se na
Tabela 7 os seus valores e na Figura 4.15 uma esquematização dessas cargas no sistema. De
referir que as únicas cargas que se contabilizam para a análise deste sistema são o peso
próprio das condutas e o peso da água, não apresentando sobrecargas, uma vez que estas
condutas são superficiais.
Tabela 7 – Teste 1: tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água.
dext (m) eparede (m) dint (m) Aint (m2) (kN/m3) Págua (kN/m)
CPC 1,6 0,015 1,57 1,94 10 19,36
CRD 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CRE 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
89
Na Figura 4.15, direcção X simboliza o eixo da conduta, a direcção Y o eixo
perpendicular à conduta mas no plano do seu eixo e a direcção Z resulta no eixo vertical.
Efectuada a análise sísmica no programa SAP 2000 e limitando o estudo apenas aos
deslocamentos no nó da válvula, nó condicionante no caso do estudo real, obtiveram-se os
valores de deslocamentos absolutos que se mostram na Tabela 8.
90
Figura 4.16 – Teste 1: deformada resultante da acção sísmica.
Teste 2
Eixos:
91
Tabela 9 – Teste 2: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59.
Teste 3
Este caso de estudo remete para a segunda parte dos testes, onde se prolongou a
conduta em análise, acrescentando-se a conduta CPC Superior com d=1 m e a conduta que
faz a ligação entre as duas condutas CPC (Superior e Inferior) de d=1m. Neste exemplo, o
espectro de resposta em análise e os carregamentos continuam a ser os mesmos,
acrescentando apenas o peso da água aos novos trechos de conduta (Tabela 10). Na Figura
4.19 mostram-se esquematicamente os carregamentos de todas as condutas.
92
Tabela 10 – Tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água.
dext (m) eparede (m) dint (m) Aint (m2) (kN/m3) Págua (kN/m)
CPC Trecho Inferior 1,6 0,015 1,59 1,97 10 19,73
CRD 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CRE 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CPC Trecho Superior 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
d=1m 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
93
Neste teste as condições de apoio das condutas CPC Inferior, CRD e CRE continuam
a ser as mesmas (i.e., permissão de deslocamentos axiais com excepção dos nós de ligação
das condutas CRE e CRD à CPC Inferior, onde apenas está restringido o deslocamento
vertical), e a conduta CPC Superior está possibilitada de se mover na direcção do seu eixo,
excepto o nó de ligação da conduta d=1 m com a CPC Superior, que apenas permite rotação,
sendo este dado extraído da observação da Figura 4.1. De seguida, na Figura 4.20, mostra-se
um esquema do novo caso de estudo, assinalando-se o nó da válvula V59.
Eixos:
94
Máx. 0,1403 0 0
Mín. -0,1403 0 0
Máx. 0,1438 0 0
Mín. -0,1438 0 0
Para este caso de estudo, visto o sistema de condutas ser semelhante ao sistema real,
achou-se interessante o traçado dos diagramas de momentos resultantes da combinação
sísmica.
Na Figura 4.22 mostram-se os momentos perpendiculares ao eixo da conduta em
termos qualitativos. Pela análise desse diagrama (Figura 4.22) é possível notar que os
momentos flectores perpendiculares ao eixo da conduta apresentam um andamento
semelhante/típico ao do diagrama resultante apenas da actuação de cargas verticais, neste
caso peso da conduta e peso da água, uma vez que apresenta um traçado parabólico. A cor
vermelha representa os momentos flectores negativos, a cor preta os momentos flectores
positivos e a cor azul a envolvente dos esforços do sismo. De referir que a acção de um sismo
pode provocar dois efeitos: aliviar a estrutura ou carregá-la ainda mais. Este aspecto pode ser
observado neste diagrama, pelo facto dos esforços máximo e mínimos apresentarem sempre a
coloração azul para os maiores valores absolutos. Quando se refere que alivia a estrutura quer
dizer que ela apenas fica com esforços provenientes das cargas verticais. Apesar de não se
representar o diagrama de esforço transverso, convém salientar o facto de este apresentar um
comportamento linear.
95
Figura 4.22 – Momentos perpendiculares ao eixo da conduta devido à acção sísmica.
A Figura 4.23 mostra que os momentos flectores segundo o eixo Z evidenciam o efeito
da acção sísmica, pelo facto de apresentarem valores muito superiores aos da Figura 4.22,
devido ao seu andamento ser linear, ou seja, as cargas verticais praticamente não interferem
neste diagrama. Este aspecto pode ser também comprovado pela cor azul do gráfico, cor que
correspondente à envolvente do sismo.
Como o diagrama de momentos flectores, neste caso, é linear implica que o diagrama
de esforço transverso que causa este momento seja constante, isto porque o esforço
transverso é a derivada do momento.
O diagrama seguinte, Figura 4.24, refere-se ao andamento dos momentos torsores que
provêm da transferência de cargas/esforços entre condutas transversais. Este gráfico
96
denuncia, mais uma vez, pela sua cor a grande influência da acção sísmica para este
momento.
Teste 4
Este teste é em tudo semelhante ao anterior (Teste 3), sendo a única particularidade a
condição de apoio do nó de ligação da conduta CPC Superior com a conduta d=1m, em que o
apoio apenas permite deslocamento segundo o eixo da conduta, tal como se pode verificar na
Figura 4.25, onde se assinala com um círculo o local onde se mudou o tipo de apoio, assim
como a localização da válvula V59.
Eixos:
97
Teste 3, cerca de 8,6 cm, mas o deslocamento na nova conduta CPC Superior surge muito
elevado, aproximadamente 23 cm. Consequentemente, o caso de rotura passaria a ser nesta
nova conduta, tornando-a condicionante face ao nó da válvula V59.
A Figura 4.26 demonstra a evolução da deformada nos vários pontos do sistema para
este teste.
Teste 5
Este último teste pretende apenas simular o caso de um dos apoios deixar de ter as
suas funções normais, ou seja, colapse ou não exista mesmo. Como tal, o sistema ficará igual
98
ao do Teste 3, em termos de carregamentos, combinação sísmica e condições de apoio,
desaparecendo apenas o apoio de ligação entre a conduta CPC Superior e a conduta d=1m,
estando esta diferença assinalada na Figura 4.27.
Eixos:
99
Pela análise da Tabela 13 é notório, mais uma vez, que o trecho de conduta que foi
prolongado (CPC Superior) se evidencia como condicionante, apresentando um deslocamento
de 30 cm segundo a direcção axial, assim como o nó sem apoio que manifesta um
deslocamento segundo o eixo Y de cerca de 11 cm e na vertical de 28 cm. De referir apenas
que o nó correspondente à válvula V59 apresenta um deslocamento um pouco inferior ao Teste
3, aproximadamente de 9 cm.
A deformada correspondente a este teste encontra-se ilustrada na Figura 4.28.
Teste 6
Este teste pretende analisar o efeito do diferencial de pressão entre montante e jusante
da válvula V59 após o fechamento desta. Neste teste, utilizou-se o sistema prolongado de
100
condutas mencionado no Teste 3 (Figura 4.20), com os carregamentos referentes ao peso
próprio, ao peso da água e à diferença de pressão ocorrida nos trechos a jusante da válvula
V59. Este carregamento foi obtido dividindo a força de desequilíbrio de 765kN analisada em
4.5, obtida por um modelo hidráulico de golpe de aríete, pelo comprimento da tubagem (Tabela
14).
101
Pela observação da Tabela 15, onde o deslocamento sofrido no nó da válvula V59
corresponde a aproximadamente 10 cm, sendo pouco superior ao valor do deslocamento
observado no sistema.
Figura 4.30 – Teste 6: Deformada devido à combinação de cargas peso próprio+peso água+diferença de
pressão, do sistema prolongado.
Figura 4.31 Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão, segundo o eixo perpendicular à conduta.
102
para este momento flector, o diagrama apresenta um comportamento linear. O diagrama da
Figura 4.32 representa os momentos flectores segundo o eixo Z, onde se verifica um
andamento linear do traçado dos momentos. Por conseguinte, esse diagrama de momentos
traduz o efeito do carregamento, segundo o eixo de cada conduta, das diferenças de pressão.
O esforço transverso apresenta um diagrama uniforme, porque o momento é linear.
Figura 4.32 – Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão, segundo o eixo Z.
Figura 4.33 – Momentos torsores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão.
Após concluídos todos os testes especificados nos subcapítulos 4.6 e 4.7, há que
mencionar que a introdução das forças de pressão nos trechos a jusante da válvula V59 (Teste
103
6) demonstraram que a força de cerca de 765 kN, obtida pelo modelo hidráulico baseado no
Método das Características, e introduzida no modelo do programa de cálculo estrutural SAP
2000 corresponde a um deslocamento um pouco superior ao observado, cerca de 2 cm,
diferença que não se considera relevante, uma vez que o modelo estrutural entra com os
efeitos nas condições de apoio e que o modelo hidráulico não é capaz de o fazer. Deste modo,
denota-se, aqui, a importância da interacção fluido-estrutura e a boa correlação com as
medições efectuadas in situ aquando da ocorrência do acidente descrito no subcapítulo 4.3.
Outro factor importante, proveniente da interpretação dos resultados obtidos nos
subcapítulos 4.6 e 4.7, reside no facto da modelação do sistema baseado numa combinação
sísmica e do fechamento de uma válvula (acções diferentes) ter tido uma resposta idêntica
(efeitos semelhantes) tendo originado grandes deslocamentos no apoio deste acessório. Neste
caso, essa semelhança verificou-se em termos de deslocamentos tendo sido a única grandeza
mensurável após a ocorrência do acidente, tal como se pode observar na Tabela 16, onde os
valores correspondentes ao carregamento peso próprio + peso água + diferenças de pressões
surgem do Teste 6 e os restantes (combinação sísmica) provêm do Teste 3.
Tabela 16 – Comparação dos deslocamentos devido a uma acção sísmica e a um diferencial de pressão
aquando do fechamento de uma válvula.
104
5. ORIENTAÇÕES PARA PROJECTO
105
outro lado, gera forças elevadas nos apoios, assim como, tensões elevadas ao nível das
paredes da conduta perto dos apoios (Lemmens e Gresnigt, 2001).
106
Arranque e paragem dos grupos electrobombas (carga incidental);
Abertura/fechamento de válvulas, i.e., válvulas de controlo automático, ventosas,
válvulas de segurança, de seccionamento, de protecção (carga incidental);
Enchimento/esvaziamento de condutas (carga incidental);
Modificação do escoamento (carga incidental);
Saída de serviço repentina dos grupos electrobomba (carga acidental);
Fechamento não intencional de uma válvula (carga acidental);
Mau funcionamento dos dispositivos de segurança e protecção (carga acidental);
Rotura de condutas (carga acidental);
Qualquer outra carga incidental e acidental, por exemplo provocada por ocorrência de
incêndio ou explosão.
107
Abertura/fechamento de válvulas, i.e., válvulas de controlo automático, ventosas e
válvulas de segurança, de seccionamento, de protecção (carga incidental);
Enchimento/esvaziamento de condutas (carga incidental);
Modificação do escoamento (carga incidental);
Saída de serviço repentina dos grupos electrobomba (carga acidental);
Fechamento não intencional de uma válvula (carga acidental);
Mau funcionamento dos dispositivos de segurança e protecção (carga acidental);
Rotura de conduta (carga acidental);
Qualquer outra carga incidental e acidental, por exemplo provocada pela ocorrência de
incêndio ou explosão.
De acordo com Lemmens e Gresnigt (2001) podem existir diferentes tipos de sistemas
de condutas, assim como, diferentes tipos de condutas. Alguns exemplos serão mencionados
em seguida:
108
(a) (b)
Figura 5.1 – (a) Exemplos de zonas de actuação das forças dinâmicas, nas condutas e nos seus
elementos; (b) Exemplo de secções ou nós onde podem surgir importantes forças devido ao golpe de
aríete (Lemmens e Gresnigt, 2001).
Na maioria dos códigos, em vigor, está estabelecido que devem ser tomadas medidas
de modo a garantir que o aumento de pressão máxima incidental, proveniente do golpe de
aríete, possa ser da ordem de 15% a 20% superior à classe de pressão da tubagem.
Tal como referido anteriormente, a geometria e a rigidez dos sistemas de condutas e
respectivos apoios têm influência no resultado das pressões transitórias e das forças
dinâmicas. Para além deste aspecto, o amortecimento das ondas elásticas surge como um
fenómeno importante. Esse amortecimento depende do tipo de material da conduta (e.g., aço,
betão, plástico), da ovalização da tubagem, das propriedades dos apoios e das propriedades
do solo, para o caso de tubagens enterradas
109
manutenção; não ficarem danificadas por ocorrência de acontecimentos como
explosões, impactos ou consequências de erros humanos.
2. O potencial dano nas condutas deve ser evitado ou limitado pela escolha
apropriada dos seguintes critérios: evitar, limitar ou reduzir os riscos/perigos a que
a estrutura tem de resistir; seleccionar uma forma estrutural que apresente baixa
sensibilidade aos riscos considerados.
5.4.1 Fundamentos
110
(a)
Moment
(b)
Bending
Bending Moment Curvature
Curvature
Deformation capacity
Figura 5.2 – Diagrama momento-curvatura (análise qualitativa) para uma conduta sem pressão interna
(a) e para uma conduta com uma pressão interna elevada (b). As linhas contínuas representam um
comportamento elástico, enquanto as linhas a tracejado traduzem um comportamento plástico. A cruz
indica o instante de ruptura (Lemmens e Gresnigt, 2001).
111
características do meio envolvente onde a conduta se irá inserir (presença de habitações,
traçados de estradas, possibilidade de ruptura de diques, ocorrência de cheias), as
necessidades ambientais e as acessibilidades (e.g., em atravessamento de rios e em
emissários submarinos).
Segundo o RSA, entenda-se por estado limite um estado a partir do qual se considera
que a estrutura, neste caso a conduta, fica prejudicada total ou parcialmente na sua
capacidade para desempenhar as funções que lhe são atribuídas. As categorias existentes de
estados limite são Estado Limite de Utilização, Estado Limite Último, Estado Limite de Fadiga e
Estado Limite Acidental.
De referir que em muitos códigos, o Estado Limite de Fadiga e o Estado Limite
Acidental estão agrupados no Estado Limite Último.
O Estado Limite Acidental refere-se, como o próprio nome indica, às cargas acidentais.
De entre os Estados Limite Acidentais destacam-se os seguintes (Lemmens e Gresnigt, 2001):
112
Punçoamento: Estado limite onde, por exemplo, devido a actividades como
escavações com máquinas, no caso de condutas enterradas.
Grandes deslocamentos: Estado limite que, por exemplo, devido ao choque de
veículos a conduta experimenta grandes deslocamentos (e.g., em apoios no caso
de condutas superficiais).
Golpe de aríete: Estado Limite onde, devido ao golpe de aríete, ocorrem danos na
conduta como em juntas e outras acessórios.
𝐿𝑐𝑖 =∝ 𝛾𝐺 𝐺 + 𝛾𝑄 𝑄 + 𝛾𝐸 𝐸 + 𝛾𝐴 𝐴 (15)
onde:
= classe do factor de segurança
G, Q, E, A = factores de carga para G, Q, E e A
G = cargas permanentes
113
Q = cargas operacionais (sobrecargas)
E = cargas ambientais
A = cargas acidentais
Para cada combinação de carga são calculados os seus efeitos, como por exemplo, ao
nível de tensões, extensões e deformações. Por último, o valor resultante destes efeitos é
comparado com o valor limite, a fim de determinar se algum estado limite não é respeitado.
Conforme se representa na Figura 5.3.
A classe do factor de segurança depende dos riscos/perigos a que a tubagem fica
sujeita. Os factores que influenciam este parâmetro são a localização (população, potencial
risco económico) e o que transporte (gás natural, petróleo, produtos químicos, água). Na maior
parte dos códigos, a classe do factor de segurança para condutas de água é de 1,0, para
condutas de gás natural numa área densamente povoada, o Código Canadiense CSA-Z662
(1996) apresenta um factor de segurança de classe 2,0.
As cargas na equação (15) são denominadas de cargas nominais ou características.
Normalmente, essas cargas são definidas como 95% da carga nominal (ou seja, a
probabilidade da carga actual ser superior ao valor nominal é de 5%).
Tabela 17 – Factores de carga segundo o Código Canadiano (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
114
Figura 5.3 – Procedimento de cálculo para verificação ao estado limite
(adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
115
5.6 Análise e verificação para as condutas de aço dúctil
As encurvaduras locais, caso não sejam muito profundas, não afectam a pressão de
rebentamento. Lemmens e Gresnigt (2001) fizeram um teste no laboratório de Deft com uma
tubagem que apresentava as seguintes características: diâmetro 609,6 mm, espessura da
parede 6,4 mm; tensão de cedência 360 - 380 N/mm2 e tensão última 500 - 510 N/mm2. A
tubagem foi dobrada até atingir a encurvadura local e depois foi levada até ao rebentamento
(pressão de rebentamento foi de 110,1 bar) (Figura 5.4-(a)). O rebentamento ocorreu numa
zona distinta da zona encurvada. Uma segunda amostra feita da mesma espécie da tubagem
referida anteriormente, não foi dobrada e a pressão de rebentamento desta tubagem atingiu o
mesmo valor que o obtido na tubagem encurvada (Figura 5.4-(b)).
(a) (b)
Figura 5.4 – (a) Conduta encurvada durante a dobragem; (b) rotura da conduta após o teste de
rebentamento (fora do laboratório) (Lemmens e Gresnigt, 2001).
8
Tenacidade é uma medida da quantidade de energia que um material pode absorver antes de fracturar.
Se um material é tenaz pode absorver um alto grau de deformação sem romper. Uma maneira de se
avaliar a tenacidade consiste em considerar a área total sob a curva (-).
116
Isto significa que a margem de segurança contra o rebentamento devido à sobrecarga
de pressão não é afectada por cargas externas (se os requisitos mencionados anteriormente
forem cumpridos).
Para o estado limite último de tensão (rotura), no caso de condutas enterradas, apenas
basta analisar o seguinte caso de carga:
Caso de carga 1: Apenas pressão interna e as restantes nulas.
Para o estado limite de deformação a situação com cargas exteriores e pressão interna
tão baixa quanto possível é relevante:
Caso de carga 2: Cargas externas conjuntamente com pressão interna tão baixa
quanto possível.
Para o estado de limite de extensão, a situação com cargas externas e pressão interna
tão baixo enquanto possível (caso de carga 2) deve ser analisada e também a situação com
cargas externas e pressão interna (caso de carga 3).
Caso de carga 3: Cargas externas com pressão interna.
Para o estado limite de fadiga, cada situação com cargas não-estáticas deve ser
analisada. Isto pode resultar em vários casos de carga, como por exemplo:
Caso de carga 4: Cargas estáticas com variações internas de pressão
Caso de carga 5: Cargas estáticas com variações de temperatura
Para a análise de cada sistema de condutas podem ser utilizados diferentes modelos.
Os modelos podem ser baseados na teoria elástica ou na teoria plástica, dependendo do
comportamento estrutural da conduta e das ferramentas disponíveis pelo engenheiro
projectista/especialista.
De um modo geral, deve ser utilizado o seguinte procedimento de acordo com os
requisitos hidráulico-estruturais de segurança:
A. “Análise de viga”
117
diagrama do momento flector-curvatura e quando existe torção, o diagrama de momento-
rotação.
Legenda:
(a) mola vertical
(b) mola horizontal
(c) mola de fricção
B. “Análise de anel”
C. “Análise adicional”
118
5.6.3 Verificação aos estados limite
𝑟0 𝑡 𝑃 𝑟 2 |𝑃|
se: ≤ 60: 𝜀𝑐𝑟 = 0,25 𝑟 − 0,0025 + 3000 (16)
𝑡 0 𝐸𝑡 𝑃
𝑟0 𝑡 𝑃 𝑟 2 |𝑃|
se: > 60: 𝜀𝑐𝑟 = 0,10 𝑟 + 3000 (17)
𝑡 0 𝐸𝑡 𝑃
𝑟
𝑟0 = 3𝑎 (18)
1−
𝑟
119
Fuga (estado limite de fuga): fuga dos fluidos contidos na conduta, devido a outras
causas que não a ruptura da parede da tubagem (e.g., devido à insuficiente
estanquidade das ligações, ou devido à corrosão).
Colapso (estado limite de deformação excessiva, com possibilidade de se atingir o
estado limite de rotura): As elevadas pressões externas podem levar ao colapso
(achatamento da secção transversal). O modo de colapso é importante para
condutas offshore onde as combinações de elevadas pressões exteriores e flexão
podem ser um dos casos de carga, de acordo com as normas BS 8010 (1989-
1992), DNV (2000). Também para o golpe de aríete este modo de fracasso pode
ser relevante quando ocorrem pressões subatmosféricas.
Envelhecimento (estado limite de deformação excessiva, rotura ou fugas): alguns
materiais como PVC, PE e PP podem ser mais susceptíveis ao envelhecimento.
De referir que para além dos estados limite últimos, os estados limite de utilização
também têm de ser considerados.
120
A análise de condutas superficiais é semelhante à análise de condutas enterradas e
baseia-se numa análise de viga, seguida de uma análise de anel ou de uma análise da secção
transversal. As diferenças residem no facto da flexão ser predominantemente uma carga
controlada e não o deslocamento como numa conduta enterrada.
Nas condutas superficiais, o momento flector é predominante, enquanto nas condutas
enterradas a capacidade de deformação por flexão é que determina o nível de segurança.
Outra característica importante é a interacção com os apoios, visto estes acessórios
introduzirem cargas locais na conduta. De notar que é necessária uma concepção cuidadosa
de tais apoios, para evitar exceder os estados limite (e.g., de tensão, de extensão e de
ovalização).
Quanto à questão do fenómeno do golpe de aríete, a rigidez dos apoios é importante,
porque influi na interacção fluido-estrutura. Para além da análise à rigidez dos apoios, deve
também ser considerada a possível contribuição, para as deformações, da introdução de carga
na parede da conduta (Lemmens e Gresnigt, 2001).
Devido à situação de cargas controladas, a verificação do facto da secção transversal
conseguir suportar forças, como momentos flectores e cargas dos apoios, é mais importante do
que em tubagens enterradas. O factor de segurança para estados limite, tais como, tensão e
elevadas deformações, deve ser mais elevado do que no caso de condutas enterradas.
Nas combinações de carga a analisar, o vento e outras cargas típicas de tubagens
superficiais devem ser incluídas. Além disso, a verificação a estados limite típicos de condutas
superficiais, como vibrações e cargas acidentais devido ao tráfego, necessitam de adequados
casos de carga para estes estados limite recorrendo-se à interacção fluido-estrutura.
Para além dos mencionados aços dúcteis, as condutas podem ser construídas de
diferentes materiais tais como: fibrocimento, ferro fundido, betão, plástico reforçado com fibras
de vidro (GRP), policloreto de vinilo (PVC), polietileno (PE) e polipropileno (PP).
De salientar que as ligações entre tubagens são um aspecto muito importante. No aço,
normalmente são aplicadas soldaduras, enquanto que no ferro fundido e noutros materiais
existem outras possibilidades que podem ser aplicadas, como juntas de dilatação, juntas
coladas, flanges. Outras partes importantes do sistema são os acessórios, como as curvas e os
cotovelos, as bifurcações em T e em Y, válvulas, entre outros.
Note-se que para o transporte de produtos perigosos como o gás natural, o petróleo e
produtos químicos, o aço dúctil é o material padrão a ser aplicado, embora para condutas de
distribuição de gás natural os materiais como PP e PE são muitas vezes utilizados.
As combinações de carga a serem consideradas, são basicamente as mesmas que se
apresentaram aquando de condutas de aço. Contudo, o método de análise a usar para
condutas de outros materiais para além do aço dúctil podem ser completamente diferentes,
121
dependendo das propriedades do material e das ligações e acessórios. Se o material não é
dúctil, deve ser utilizada uma análise elástica.
Na verificação ao estado limite, alguns dos estados dependendo do material, devem
ser identificados e verificados, e.g., fluência no PVC, PE e PP. Outros estados limite referem-se
a materiais especiais, que o seu comportamento depende das ligações e acessórios, e.g., fuga
em juntas de dilatação e possibilidade de diferentes comportamentos para casos de carga
devido aos impactos provenientes do tráfego ou do golpe de aríete (Lemmens e Gresnigt,
2001).
122
Figura 5.7 – Tipo de sistema (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
Para as condutas enterradas aplica-se apenas o cenário da Figura 5.8. Enquanto que
para as tubagens superficiais existem três situações a considerar:
1. Cenário da Figura 5.9: condutas em Estações Elevatórias (EE);
2. Cenário da Figura 5.10: condutas em pontes (viadutos);
3. Cenário da Figura 5.10: parte principal da conduta numa ponte e/ou em apoios
123
Figura 5.8 – Condutas enterradas (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
124
Figura 5.9 – Conduta numa Estação Elevatória (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
125
Figura 5.10 – Conduta em ponte (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).
Pela análise da Figura 5.8 são reconhecidas duas fontes principais exteriores: sismos e
deslizamentos de terra. Nestes casos é sempre recomendado um processo de verificação
estrutural para determinar se o factor de carga acidental é menor que 1,0 (ver Tabela 17). De
referir que o valor 1,0 é um valor estimado, tendo por base a prática corrente no Canadá e em
alguns países europeus. Nas zonas sensíveis à ocorrência de sismos e deslizamentos de
terras, geralmente, é recomendada uma análise de interacção fluido-estrutura, uma vez que um
súbito deslocamento local da conduta desencadeia uma onda de pressão que se acresce ao
estado de operação normal de pressão. Este efeito tem de ser adicionado ao aumento de
tensão na parede da tubagem devido à diferença de cargas induzidas pelo movimento do solo.
126
Para um cenário correspondente à Figura 5.9 é sempre recomendada uma análise
estrutural do desempenho da conduta na estação elevatória (EE) pelas seguintes razões:
Um sistema dimensionado com valores de baixa pressão nominal (<6 bar) com
tubagens de grandes diâmetros (> 500 mm) e de material frágil corresponde a um sistema
crítico do ponto de vista da interacção fluido-estrutura.
127
128
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
6.1 Conclusões
Este estudo compreendeu o levantamento exaustivo das acções que podem pôr em
causa a integridade dos sistemas de transporte de fluido em pressão. Como é do
conhecimento e particularizando para o caso dos sistemas hidráulicos, estes encontram-se
sujeitos a carregamentos internos, tais como, cargas estáticas ou pressões dinâmicas do fluido,
e a cargas exteriores devido aos apoios, aos assentamentos do solo e ao tráfego. As cargas
acumuladas no sistema, as tensões, extensões e deformações provenientes de tais
carregamentos devem respeitar os limites aceitáveis impostos pelas diversas normas de
dimensionamento. De mencionar que as propriedades dos materiais podem sofrer alterações
significativas devido às solicitações e à degradação do próprio material, devendo ser
contabilizadas nas diversas análises de interacção fluido-estrutura (e.g., o envelhecimento dos
materiais e a corrosão).
Quando os sistemas de condutas não se encontram bem apoiados/amarrados podem
sofrer deslocamentos significativos devido a diferenciais de pressão. A variação de pressão no
fluido exerce forças nas paredes das condutas e nos seus apoios, podendo dar origem a
deslocamentos ou mesmo rupturas do sistema. Por sua vez, esses deslocamentos geram,
também, ondas de pressão, designando-se por interacção fluido-estrutura, que está sempre
associada a fenómenos dinâmicos que podem pôr em causa a segurança e a operacionalidade
das infra-estruturas.
Um aspecto importante, relativo ao efeito da interacção fluido-estrutura, é o tipo de
apoios do sistema. Caso os apoios sejam rígidos, em termos de movimentos não permitem
grandes deslocamentos, mas em contrapartida geram-se elevadas tensões nas paredes das
condutas. Em relação aos apoios flexíveis, quando ocorre fenómenos do tipo golpe de aríete
que se propagam ao longo do circuito hidráulico, desencadeiam-se movimentos no sistema e
sobrepressões daí induzidas.
Relativamente à aplicação a um caso de estudo real, numa primeira fase de testes é
analisado o efeito de uma acção sísmica na estrutura representativa do sistema de
abastecimento de água a Lisboa, na Estação Elevatória de Telheiras, na vizinhança da válvula
V59, verificando-se que o deslocamento obtido nessa válvula V59, nó condicionante, é da
ordem de grandeza do obtido num acidente ocorrido após o fechamento da válvula que
originou um posterior desequilíbrio de forças no sistema. De referir na análise da acção sísmica
toda a componente estrutural (i.e., conduta e apoios) fica envolvida de forma integrada,
associada à componente hidráulica. Na análise hidráulica isolada, apenas a compressibilidade
do escoamento no sistema e a deformação das paredes da conduta interagem, dando só por si
origem a significativas ondas de pressão que se propagam ao longo do sistema hidráulico e
que podem provocar, também, o movimento de condutas. Contudo a integração com a análise
129
estrutural mostra-se fundamental para melhor aferir a segurança e a operacionalidade de um
sistema deste tipo.
Neste estudo foi também desenvolvida um análise de sensibilidade às condições de
apoio de um dos nós, com o intuito de prever as consequências que podem daí advir, em
termos de possíveis deslocamentos. Concluiu-se que, em função das restrições nos apoios,
outros trechos da conduta podem ficar condicionantes a possível ocorrência de rupturas. Esta
análise evidencia a importância da execução de um correcto dimensionamento dos apoios e da
interacção fluido-estrutura, assim como, mostra o que pode originar se um apoio deixar de
cumprir as suas funções, implicando o aparecimento de novos trechos condicionantes no
sistema e certamente outras secções potenciais de colapso.
Das diferentes análises desenvolvidas procedeu-se ao diagnóstico do acidente ocorrido
através da modelação estrutural incluindo as forças de pressão provenientes da análise
hidráulica, nos trechos a jusante da válvula em causa. Deste caso resultaram deslocamentos
da ordem dos observados in situ, aquando da ocorrência do acidente na Estação Elevatória de
Telheiras, no sistema de abastecimento da EPAL, sublinhando, mais uma vez, a importância
da interacção fluido-estrutura e a boa correlação com as medições efectuadas com uma
análise integrada do sistema.
Estes efeitos, que muitas das vezes são desprezados no projecto, podem colocar em
risco infra-estruturas estratégicas de abastecimento e drenagem, deixando sem água zonas
urbanas de grande densidade populacional. As acções devidas à degradação dos materiais
constituintes dos sistemas de transporte de fluidos, da ocorrência de sismos ou da variação de
pressão podem ter efeitos semelhantes, induzindo elevados níveis de vulnerabilidade, que
devem ser considerados desde as primeiras fases de um projecto de Engenharia Civil deste
tipo.
6.2 Recomendações
130
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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