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Importância da interacção fluido-estrutura no projecto

de sistemas de transporte de fluidos em pressão

Ana Margarida Azougado Cesteiro

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Civil

Júri

Presidente: Prof.º Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro


Orientador: Prof.ª Doutora Helena Margarida Machado da Silva Ramos Ferreira
Vogais: Prof.ª Doutora Dídia Isabel Cameira Covas

Setembro 2008
RESUMO

O presente trabalho tem como objectivo a análise da interacção fluido-estrutura em


sistemas hidráulicos em pressão induzida pela degradação dos componentes do sistema (por
corrosão), pela actuação de sismos ou pela variação de pressão no sistema. A importância
deste tema prende-se com o facto de ter ocorrido um invulgar acidente no sistema de
abastecimento de água a Lisboa, na Estação Elevatória (EE) de Telheiras, que provocou o
deslocamento de condutas, assim como, roturas em alguns apoios. Este acontecimento foi
originado após a operação de fechamento de uma válvula que induziu um diferencial de
pressão significativo na zona da EE.
Com o intuito de se estudar a vulnerabilidade dos sistemas hidráulicos em pressão a
diferentes solicitações procedeu-se à simulação e análise do sistema de abastecimento tendo
por base a EE de Telheiras, onde ocorreu o acidente, e foram feitos vários testes de
diagnóstico recorrendo ao programa de golpe de aríete WANDA 3.53 e estrutural SAP2000. Os
testes permitiram observar as possíveis consequências, em termos de deslocamentos, para o
sistema quando sujeito a diferentes solicitações e tipos de apoio. O estudo compreende a
análise do efeito de uma acção sísmica na estrutura, tanto a nível do sistema simplificado de
condutas, onde apenas se modelam as partes da conduta que sofreram deslocamentos
aquando do acidente, como o sistema mais completo que se desenvolve dentro da EE, assim
como a análise ao diferencial de pressão induzido na válvula V59 aquando da ocorrência do
acidente. Procede-se à comparação dos resultados dos deslocamentos obtidos pela
modelação, com os verificados localmente pelos peritos.
É salientada a importância para uma análise integrada (com interacção fluido-
estrutura), o papel dos apoios num sistema de condutas de transporte de água e, ainda, a
resposta do sistema com efeitos idênticos, embora associada a causas completamente
diferentes (i.e., sismos e variações de pressão) no projecto de infra-estruturas.

Palavras-chave: Interacção fluido-estrutura, golpe de aríete, acção sísmica, segurança em


infra-estruturas, circuitos em pressão.

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ABSTRACT

The current research work aims at analyses of fluid-structure interaction in hydraulic


pipe systems induced by pipe degradation, by corrosion, seismic or differential pressure
actions. The extremely importance of this subject is the occurrence of an abnormal accident in a
main pipe water drinking system in the Pumping-Station of Telheiras, from Lisbon Water Supply
System that caused pipe displacement and breaks in some supports. This situation occurred
after a valve closing, which lead a significant differential pressure in the pipe system.
To seek the vulnerability of these hydraulic systems (to different typical loads), many
case studies were developed by a water hammer and structural model, WANDA 3.53 and
SAP2000 having always the base system of the Pumping-Station of Telheiras, where an
accident occurred. Several analyses were developed in order to show the possible
consequences in terms of displacements a when the system is submitted to different loads and
type of supports. The study comprises the analysis of the effect of seismic action in the pipe
structure as for a simplified system, where only parts of pipes which suffer displacements during
the accident, were modelled, as well as for an extended system similar as the real one inside
the Pumping-Station.
The same system was simulated for a pressure differential between the two sides of the
valve V59, occurred during the accident. The results of the displacements obtained by the
simulations were compared to the values measured by experts.
It is equally emphasized the importance of integrated analysis (fluid-structure
interaction), the purpose of supports in water pipe systems, as well as the identical system
behaviour for completely different type of actions (i.e. seismic and pressure variation) in the
infrastructures design.

Keywords: Fluid-structure interaction, water hammer, seismic action, safety infrastructure,


pipes systems.

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AGRADECIMENTOS

Muitos são aqueles a quem deveria expressar os meus agradecimentos, no entanto na


impossibilidade de a todos citar expresso a minha gratidão àqueles que mais directamente me
prestaram o apoio necessário:

À Professora Helena Ramos, Professora com Agregação do Instituto Superior Técnico,


orientadora científica deste trabalho, à inteira disponibilidade, ao apoio prestado no decorrer
desta dissertação, à cedência de material bibliográfico e à partilha de conhecimentos.
Agradeço também pelo reconhecido espírito crítico com que interveio ao longo da elaboração
deste trabalho, à preocupação e amizade sempre presentes e à confiança que depositou em
mim.

Às Marianas, ao Nuno e ao António pela grande amizade, carinho, disponibilidade e


companheirismo que tiveram por mim todos estes anos.

Ao Tiago e ao André pelo companheirismo e amizade.

À Mariana pelo apoio prestado na fase final da realização desta dissertação.

À minha família, mãe, pai, irmão e avós, pela amizade, preocupação e incentivo que
sempre me transmitiram.

Ao meu primo pela grande amizade, apoio, ânimo, diversão e espírito crítico desde
sempre.

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ÍNDICE DE TEXTO

1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1
1.1 Enquadramento ............................................................................................................1
1.1 Objectivos .....................................................................................................................2
1.2 Organização do trabalho ..............................................................................................2
2. SÍNTESE DE CONHECIMENTOS .......................................................................................5
2.1 Introdução.....................................................................................................................5
2.2 Golpe de aríete e deformação estrutural ......................................................................5
2.3 Dispositivos de protecção contra o golpe de aríete .................................................... 13
2.4 Dimensionamento de sistemas de condutas .............................................................. 19
2.5 Mecanismos de deterioração...................................................................................... 21
2.5.1 Introdução ........................................................................................................... 21
2.5.2 Tipo de corrosão ................................................................................................. 24
2.5.3 Sistemas de distribuição de água ....................................................................... 34
2.6 Reabilitação de sistemas hidráulicos .......................................................................... 37
2.6.1 Introdução ........................................................................................................... 37
2.6.2 Técnicas de reabilitação de condutas................................................................. 40
2.6.3 Técnicas usadas para proteger os materiais da corrosão .................................. 45
2.7 Sismos ........................................................................................................................ 48
2.7.1 Introdução ........................................................................................................... 48
2.7.2 Identificação dos parâmetros que afectam as tubagens enterradas na sequência
de um sismo ....................................................................................................................... 50
2.7.3 Danos ocorridos em infra-estruturas de redes .................................................... 52
2.7.3.1 Identificação de danos .............................................................................. 52
2.7.3.2 Sismo de São Francisco (1906) ................................................................ 52
2.7.3.3 Sismo de São Fernando – Califórnia (1971) ............................................. 54
2.7.3.4 Sismo de Northridge – Califórnia (1994) ................................................... 58
2.7.3.5 Sismo de Kobe – Japão (1995) ................................................................. 60
2.7.3.6 Sismo de Izmit – Turquia (1999) ............................................................... 62
2.7.3.7 Sismo de Chi-Chi – Tailândia (1999) ......................................................... 65
3. MODELOS COMPUTACIONAIS ....................................................................................... 71
3.1 Componente hidráulica ............................................................................................... 71
3.2 Componente estrutural ............................................................................................... 74
4. APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO ........................................................................... 77
4.1 Introdução................................................................................................................... 77
4.2 Descrição do sistema ................................................................................................. 77
4.3 Acidente ocorrido no sistema ..................................................................................... 79

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4.4 Análise de diagnóstico ................................................................................................ 81
4.5 Análise da zona afectada ........................................................................................... 82
4.6 Modelação de acção de um sismo no sistema ........................................................... 86
4.6.1 Fundamentos ...................................................................................................... 86
4.6.2 Análise do caso de estudo .................................................................................. 88
4.7 Modelação da acção do diferencial de pressão na válvula V59 ............................... 100
5. ORIENTAÇÕES PARA PROJECTO ............................................................................... 105
5.1 Noções básicas de interacção fluido-estrutura ......................................................... 105
5.2 Identificação dos tipos de carga ............................................................................... 106
5.2.1 Nota introdutória ............................................................................................... 106
5.2.2 Cargas para condutas enterradas .................................................................... 106
5.2.3 Cargas para condutas superficiais.................................................................... 107
5.2.4 Forças nos elementos da conduta devido ao golpe de aríete .......................... 108
5.3 Dimensionamento e critérios de segurança.............................................................. 109
5.4 Estado Limite ............................................................................................................ 110
5.4.1 Fundamentos .................................................................................................... 110
5.4.2 Estado Limite Último incluindo Estado Limite de Fadiga .................................. 112
5.4.3 Estado Limite Acidental .................................................................................... 112
5.4.4 Estado Limite de Utilização .............................................................................. 113
5.5 Combinação de cargas e procedimentos de verificação .......................................... 113
5.6 Análise e verificação para as condutas de aço dúctil ............................................... 116
5.6.1 Efeito de cargas externas na pressão de rebentamento .................................. 116
5.6.2 Métodos de análise........................................................................................... 117
5.6.3 Verificação aos estados limite .......................................................................... 119
5.6.4 Pressões transitórias no dimensionamento de condutas .................................. 120
5.6.5 Dimensionamento e métodos de análise para condutas superficiais ............... 120
5.7 Condutas de diferentes materiais ............................................................................. 121
5.8 Metodologia de decisão sobre a interacção fluido-estrutura .................................... 122
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................................... 129
6.1 Conclusões ............................................................................................................... 129
6.2 Recomendações....................................................................................................... 130
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 131

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Principais tipos de corrosão nos sistemas de distribuição de água e suas


consequências. .......................................................................................................................... 35
Tabela 2 – Requisitos para tubos de transporte de água potável. ............................................ 36
Tabela 3 – Técnicas de Reabilitação de condutas ..................................................................... 40
Tabela 4 – Comparação entre zonamento e microzonamento. .................................................. 50
Tabela 5 – Resumo dos danos ocorridos em estações de tratamento devido ao sismo de Chi-
Chi .............................................................................................................................................. 66
Tabela 6 – Comprimento e número de reparações para cada tipo de material de tubagem na
área em estudo. ......................................................................................................................... 69
Tabela 7 – Teste 1: tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água. .............. 89
Tabela 8 – Teste 1: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59. ........................................ 90
Tabela 9 – Teste 2: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59. ........................................ 92
Tabela 10 – Tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água. ......................... 93
Tabela 11 – Teste 3: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59 e no prolongamento do
sistema de condutas. ................................................................................................................. 94
Tabela 12 – Teste 4: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59 e na nova tubagem. ...... 98
Tabela 13 – Teste 5: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59, na nova tubagem e no nó
sem apoio. .................................................................................................................................. 99
Tabela 14 – Diferença de pressão nos vários trechos a jusante da válvula V59. .................... 101
Tabela 15 – Deslocamentos sofridos pelo nó da válvula V59. ................................................. 102
Tabela 16 – Comparação dos deslocamentos devido a uma acção sísmica e a um diferencial
de pressão aquando do fechamento de uma válvula. .............................................................. 104
Tabela 17 – Factores de carga segundo o Código Canadiano. ............................................... 114

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ÍNDICE DE FÍGURAS

Figura 2.1 – Análise do golpe de aríete........................................................................................8


Figura 2.2 – Classificação das forças dinâmicas que interactuam entre o líquido e a conduta ....9
Figura 2.3 – Causas de escoamento transitório e deslocamento de tubagens. ......................... 10
Figura 2.4 – Tipos de cavitação: (a) rotura da veia líquida, (b) escoamento bolhoso. ............... 12
Figura 2.5 – Volante de inércia .................................................................................................. 13
Figura 2.6 – Esquema de um reservatório hidropneumático. ..................................................... 14
Figura 2.7 – Variação do volume de ar no reservatório hidropneumático. ................................. 14
Figura 2.8 – Esquema tipo da instalação de uma chaminé de equilíbrio. .................................. 15
Figura 2.9 – Reservatório unidireccional .................................................................................... 16
Figura 2.10 – By-pass ................................................................................................................ 17
Figura 2.11 – Válvula de alívio ................................................................................................... 17
Figura 2.12 – Comparação qualitativa de valores de sobrepressão: a) sem válvula de alívio, b)
com válvula de alívio .................................................................................................................. 18
Figura 2.13 – Esquema típico de uma ventosa .......................................................................... 18
Figura 2.14 – Roturas verificadas nos sistemas de abastecimento de água nas cidade de
Winnipeg e Manitoba.................................................................................................................. 21
Figura 2.15 – Variação da taxa de rotura com o diâmetro da conduta ....................................... 22
Figura 2.16 – Variação mensal das roturas nos sistemas de abastecimento de água ............... 22
Figura 2.17 – Modos de falhas circulares e longitudinais em sistemas de abastecimento de
água ........................................................................................................................................... 23
Figura 2.18 – Ciclo dos metais. .................................................................................................. 24
Figura 2.19 – Formação de pequenas áreas adjacentes, numa superfície metálica, que actuam
como ânodo e como cátodo ....................................................................................................... 25
Figura 2.20 – Formação de hidróxido ferroso por reacção do ferro com os iões hidróxilo. ........ 25
Figura 2.21 – Factores que influenciam a corrosão ................................................................... 26
Figura 2.22 – Bolbos esponjosos associados ao processo de corrosão no interior de um tubo 26
Figura 2.23 – Corrosão por picada; (a) esquema de progressão da corrosão, (b) tubagem de
titânio corroída............................................................................................................................ 27
Figura 2.24 – Incrustação num tubo ........................................................................................... 29
Figura 2.25 – Aço com corrosão intersticial .............................................................................. 29
Figura 2.26 – Evolução da corrosão intersticial: (a) fase de iniciação, (b) fase de progressão .. 30
Figura 2.27 – Esquema do processo de corrosão intergranular de um aço inoxidável devido a
um processo de soldadura ......................................................................................................... 31
Figura 2.28 – Tipos de corrosão no latão: (a) corrosão selectiva localizada, (b) corrosão
uniforme. .................................................................................................................................... 31
Figura 2.29 – Esquema de aparecimento da corrosão sob tensão ............................................ 32
Figura 2.30 – Corrosão sob tensão numa conduta. ................................................................... 33
Figura 2.31 – Esquema da evolução da corrosão-erosão .......................................................... 33

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Figura 2.32 – Imagem de corrosão-erosão ocorrida numa conduta. .......................................... 33
Figura 2.33 – Esquema da evolução da corrosão-cavitação...................................................... 34
Figura 2.34 – Imagem de corrosão-cavitação ocorrida numa conduta....................................... 34
Figura 2.35 – Diferentes níveis e fases de actuação do plano de intervenção .......................... 39
Figura 2.36 – Comparação entre a conduta a reabilitar (a) e a conduta reabilitada com
revestimento com argamassa de cimento (b) ............................................................................ 41
Figura 2.37 – Espigão de aplicação da resina epoxy ................................................................. 42
Figura 2.38 – Ilustração da técnica de re-entubamento simples. ............................................... 42
Figura 2.39 – Técnica de re-entubamento por destruição da tubagem existente: pormenor do
processo de distruição da conduta existente ............................................................................. 43
Figura 2.40 – Técnica de re-entubamento com tubo de parede dobrada: pormenor do tubo
dobrado e detalhe do tubo expandido no interior da conduta ................................................... 44
Figura 2.41 – Diminuição do potencial eléctrico de um metal através da protecção catódica .... 45
Figura 2.42 – Esquema de uma protecção catódica por ânodo de sacrifício de uma tubagem . 46
Figura 2.43 – Esquema de uma protecção catódica por corrente imposta de uma tubagem
enterrada .................................................................................................................................... 46
Figura 2.44 – Protecção anódica ............................................................................................... 47
Figura 2.45 – Ondas esféricas ................................................................................................... 51
Figura 2.46 – Ondas superficiais ................................................................................................ 51
Figura 2.47 – Localização do epicentro do sismo de São Francisco 1906 ................................. 53
Figura 2.48 – Danos registados nas redes de água da cidade de São Francisco durante o
sismo de 1906: (a) distruição de condutas de água perto do Reservatório Crystal Springs em
San Mateo County; (b) rotura de condutas em Valencia Street entre as ruas 18th e 19th ......... 54
Figura 2.49 – Localização do epicentro do sismo de São Fernando 1971 ................................. 55
Figura 2.50 – Localização das reparações e substituições efectuadas nas tubagens ............... 55
Figura 2.51 – São Fernando, 1971: (a) as redes de água, gás, esgotos, electricidade foram
interrompidas nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno; (b) rotura
das redes de água e esgotos que atravessavam a falha ........................................................... 56
Figura 2.52 – Localização dos fenómenos relacionados com os movimentos permanentes do
solo e dos danos ao nível de tubagens ...................................................................................... 56
Figura 2.53 – Danos observados nas tubagens da rede de transmissão dos segmentos de
Mission Wells e Sylmar .............................................................................................................. 57
Figura 2.54 – Epicentro do sismo de Northridge ........................................................................ 58
Figura 2.55 – Roturas Superficiais em pavimentos .................................................................... 58
Figura 2.56 – Mapa do Balboa Boulevard com as zonas de rede de água e gás danificadas
devido a fenómenos de compactação dos solos ........................................................................ 59
Figura 2.57 – Localização do epicentro do sismo de Kobe ........................................................ 60
Figura 2.58 – Danos ocorroridos na região Kobe-Osaka, em Port Island e em Rokko Island.... 61
Figura 2.59 – Danos observados em tubagens devido a deformações permanentes do solo ... 62
Figura 2.60 – Mapa da localização do epicentro do sismo de Izmit e as regiões afectadas ...... 63

xii
Figura 2.61 – Colapso de uma ponte em Arifiye, devido ao sismo de Izmit ............................... 63
Figura 2.62 – Localizaçao da falha de Chelungpu. .................................................................... 65
Figura 2.63 – Localização em planta das estações de tratamento danificadas pelo sismo. ...... 67
Figura 2.64 –Localização das áreas de estudos sobre a fragilidade e condutas ....................... 68
Figura 2.65 – Diferença de vulnerabilidade entre edifícios: Sismo do Faial de 9 de Julho de
1998 ........................................................................................................................................... 70
Figura 3.1 – Método das características. Malha de cálculo e linhas características .................. 73
Figura 4.1 – Esquema da estação de bombagem ...................................................................... 78
Figura 4.2 – Pormenores da estação elevatória de Telheiras. Sistema de abastecimento da
EPAL .......................................................................................................................................... 79
Figura 4.3 – Esquema dos deslocamentos observados aquando da ocorrência acidental na EE
................................................................................................................................................... 80
Figura 4.4 – Fotografias dos diferentes deslocamentos na EE. ................................................. 80
Figura 4.5 – Rotura nos blocos de apoio das condutas ............................................................. 80
Figura 4.6 – Válvula VBP apresentando elevado nível de corrosão. ......................................... 81
Figura 4.7 – Procedimento para a identificação das causas do acidente. .................................. 81
Figura 4.8 – Sistema hidráulico simplificado: a) condições normais de funcionamento, b) antes
do acidente ................................................................................................................................. 83
Figura 4.9 – Desequilíbrio de pressões e força resultante na válvula V59. ................................ 84
Figura 4.10 – Trecho da válvula V59 e VBP: a) em condições normais de funcionamento, b)
antes do acidente ....................................................................................................................... 84
Figura 4.11 – Modelo estrutural e deslocamentos nas condutas ............................................... 85
Figura 4.12 – Exemplo do registo do movimento de uma conduta em laboratório através de um
sismógrafo: (a) acção longitudinal (segundo o eixo da conduta); (b) acção transversal (direcção
perpendicular ao eixo da conduta, mas no mesmo plano); (c) acção vertical; (d) Exemplo de um
registo num sistema real ............................................................................................................ 86
Figura 4.13 – Espectro de resposta utilizado. ............................................................................ 88
Figura 4.14 – Teste 1: sistema de condutas simplificado. .......................................................... 89
Figura 4.15 – Esquematização do carregamento no sistema. ................................................... 90
Figura 4.16 – Teste 1: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 91
Figura 4.17 – Teste 2: sistema de condutas simplificado. .......................................................... 91
Figura 4.18 – Teste 2: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 92
Figura 4.19 – Esquematização do carregamento no sistema. ................................................... 93
Figura 4.20 – Teste 3: sistema de condutas prolongado............................................................ 94
Figura 4.21 – Teste 3: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 95
Figura 4.22 – Momentos perpendiculares ao eixo da conduta devido à acção sísmica. ............ 96
Figura 4.23 – Momentos segundo o eixo Z devido à acção sísmica. ......................................... 96
Figura 4.24 – Momentos torsores devido à acção sísmica. ....................................................... 97
Figura 4.25 – Teste 4: sistema de condutas prolongado............................................................ 97
Figura 4.26 – Teste 4: deformada resultante da acção sísmica. ................................................ 98

xiii
Figura 4.27 – Teste 5: sistema de condutas prolongado............................................................ 99
Figura 4.28 – Teste 5: deformada resultante da acção sísmica. .............................................. 100
Figura 4.29 – Esquematização do carregamento devido à diferença de pressao na V59. ....... 101
Figura 4.30 – Teste 6: Deformada devido à combinação de cargas peso próprio+peso
água+diferença de pressão, do sistema prolongado. ............................................................... 102
Figura 4.31 Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão, segundo o eixo perpendicular à conduta. ............................... 102
Figura 4.32 – Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão, segundo o eixo Z. ................................................................... 103
Figura 4.33 – Momentos torsores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso
água + Diferenças de pressão. ................................................................................................ 103
Figura 5.1 – (a) Exemplos de zonas de actuação das forças dinâmicas, nas condutas e nos
seus elementos; (b) Exemplo de secções ou nós onde podem surgir importantes forças devido
ao golpe de aríete .................................................................................................................... 109
Figura 5.2 – Diagrama momento-curvatura (análise qualitativa) para uma conduta sem pressão
interna (a) e para uma conduta com uma pressão interna elevada (b). As linhas contínuas
representam um comportamento elástico, enquanto as linhas a tracejado traduzem um
comportamento plástico. A cruz indica o instante de ruptura ................................................... 111
Figura 5.3 – Procedimento de cálculo para verificação ao estado limite .................................. 115
Figura 5.4 – (a) Conduta encurvada durante a dobragem; (b) rotura da conduta após o teste de
rebentamento (fora do laboratório) ........................................................................................... 116
Figura 5.5 – Esmatização da conduta em meio elástico. ......................................................... 118
Figura 5.6 – Definição de r0 ...................................................................................................... 119
Figura 5.7 – Tipo de sistema .................................................................................................... 123
Figura 5.8 – Condutas enterradas ............................................................................................ 124
Figura 5.9 – Conduta numa Estação Elevatória ....................................................................... 125
Figura 5.10 – Conduta em ponte ............................................................................................. 126

xiv
ACRÓNIMOS

A – Cargas acidentais
Ag – Prata
Al – Alumínio
As – Arsénio
Bi – Bismuto
C – Carbono
Cd – Cádmio
CI – Ferro fundido
CO2 – Dióxido de carbono
Cr – Crómio
Cu – Cobre
DI – Ferro fundido dúctil
E – Cargas ambientais
EE – Estação Elevatória
ELU – Estado Limite Último
ELUtilização – Estado Limite de Utilização
EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres
Fe – Ferro
G – Cargas permanentes
GRP – Plástico reforçado com fibras de vidro
H2O – Água
H2S – Ácido sulfídrico
H2SO4 – Ácido sulfúrico
L – Ondas Lowe
M – Magnitude (escala de Richter)
MC – Método das características
Ni – Níquel
O – Oxigénio
P – Ondas de compressão
Pb – Chumbo
PE – Polietileno
PEAD – Polietileno de alta densidade
PGA – Picos de aceleração do solo
PGV – Picos de velocidade no solo
PP – Polipropileno
PVC – Policloreto de vinilo
Q – Cargas operacionais (sobrecargas)
R – Ondas Rayleigh

xv
RSA – Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes
S – Enxofre; Ondas de corte/cisalhamento
SAP2000 – Structural Analysis and Design Project, modelo computacional
Sb – Antimónio
SO4 – Óxido de enxofre
Zn – Zinco

xvi
SIMBOLOGIA

a – Metade da variação do diâmetro devido à pressão da terra (m)


c – Celeridade da onda elástica (m/s)
d – Diâmetro (m)
D – Valor médio do diâmetro (m)
E – Módulo de elasticidade do material (GPa)
H – Cota piezométrica acima do nível de referência (m)
J – Perda de carga unitária (m/m)
L – Comprimento da conduta (m)
p – Pressão interna (N/m2)
Q – Caudal (m3/s)
Q0 – Caudal em regime permanente (m3/s)
R – Coeficiente de resistência ou perda de carga contínua (-)
r0 – Raio local de curvatura (m)
S – Secção transversal da conduta (m2)
t – Espessura da conduta (m)
T – Período (s)
t – Tempo (s)
U0 – Volume de ar (m3)
Umax – Volume máximo (m3)
Umin – Volume mínimo (m3)
Ux, Uy; Uz – Deslocamentos (m)
Z0 – Pressão absoluta (m)
Zmax – Pressão absoluta máxima (m)
Zmin – Pressão absoluta mínima (m)
α – Classe do factor de segurança (-)
ΔHj – Sobrepressão máxima da cota piezométrica, para manobras rápidas (fórmula de Frizel-
Joukowsky) (m)
ΔHM – Variação máxima de pressão, para manobras lentas (fórmula de Michaud) (m)
ΔL – Deslocamento das tubagens (m)
εcr – Extensão negativa (m)
A, E, G, Q – Factores de carga para A, E, G, Q (-)
Fi – Coeficiente de segurança para acções (-)
Mi – Coeficiente de segurança para resistência (-)
 – Coeficiente de Poisson (-)

xvii
xviii
1. INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento

Os sistemas hidráulicos são sistemas que por transportarem um bem escasso e


estarem sujeitos a diferentes condições de funcionamento deve ser sempre garantida a sua
segurança e operacionalidade mesmo que para determinadas condições haja perda de
eficiência. Os circuitos hidráulicos ou de transporte de fluidos, em geral, estão sujeitos a
diferentes vulnerabilidades. Entenda-se por vulnerabilidade a susceptibilidade de um elemento
ou conjunto de elementos apresentarem falhas quando expostos a fenómenos que ostentam
algum perigo. Tais perigos podem estar associados a diversos factores causadores de
inúmeros problemas, em particular, quando são negligenciados nas diferentes fases de um
projecto: na concepção, no dimensionamento, na execução e na operação (Ramos, 2006;
Ramos, 2007).
Relativamente à vulnerabilidade dos sistemas hidráulicos em pressão são exemplos de
perigos naturais as erupções vulcânicas, alterações climáticas, secas, cheias, sismos, furacões
e deslizamentos de terras. Em contrapartida, os perigos de carácter não natural ou humano
podem ser desencadeados por uma acção intencional ou não, sendo as falhas das estruturas
do sistema, falhas de equipamentos ou corte de energia exemplos de perigos não intencionais
e o vandalismo e terrorismo exemplos de causas intencionais. Consequentemente, consoante
a frequência de ocorrência de eventos perigosos em sistemas vulneráveis, assim será a
extensão dos danos e das eventuais consequências.
Dos perigos mencionados, só alguns serão abordados neste estudo com algum
aprofundamento, em particular, os de origem não natural, que se apresentam como de carácter
não intencional, e de índole natural, nomeadamente os sismos. Na área de hidráulica, a
análise dos vários aspectos intervenientes defronta-se com um dos temas mais complexos e
que nas últimas décadas tem tido notáveis progressos devido ao advento dos computadores e
sua evolução, e que diz respeito à análise de fenómenos transitórios.
As variações transitórias de pressão que ocorrem num escoamento produzem esforços
e podem originar deformações e deslocamentos nas condutas que, por sua vez, vão interagir
com o próprio regime transitório hidráulico dando origem a vibrações ou fenómenos de
ressonância que podem causar a ruptura do sistema. Deste modo, a interacção existente entre
o líquido e a conduta manifesta-se através de três efeitos tipo, sendo eles, o efeito de junção, o
efeito de Poisson e o efeito de interface hidráulica.
As ondas elásticas no líquido sofrem reflexões e transmissões nas singularidades e
parte da respectiva energia é transferida para a estrutura e novamente cedida ao líquido
através de vibrações elásticas (efeito de junção) (Vasconcelos, 1999). Outra forma de se
manifestar esse efeito é na presença de um sismo, onde o deslocamento da conduta e

1
acessórios originam um regime transitório no líquido, ou amplificam as variações se estiverem
a ocorrer em simultâneo manobras em máquinas hidráulicas ou em válvulas.
O efeito de Poisson é traduzido por uma onda de pressão no líquido que induz a
deformação da secção transversal da conduta, a qual provoca a deformação axial da tubagem.
O efeito de interface hidráulica está presente quando o escoamento de um líquido se
encontra submetido ao efeito de forças tangenciais exercidas sobre a parede por acção da
viscosidade. Tal como foi dito na explicação do efeito de junção, também para o efeito de
interface hidráulica a ocorrência de sismos tem um significado importante, visto que quando a
parede da conduta se desloca pode transmitir ao líquido tensões tangenciais de arrastamento.

1.1 Objectivos

O presente trabalho tem como finalidade o levantamento dos factores causadores de


instabilidades conducentes à ruptura e o estudo da segurança a que um sistema hidráulico em
pressão fica sujeito, principalmente devido à actuação de um sismo, a operações de válvulas e
devido aos fenómenos internos de corrosão.
Um dos tópicos a abordar reporta a um caso prático de estudo, referente a um invulgar
acidente ocorrido num dos principais sistemas de distribuição de água à cidade de Lisboa, na
Estação Elevatória de Telheiras, que originou o deslocamento das condutas e a ruptura de
alguns apoios. Por conseguinte, a análise dos vários factores condicionantes surge como uma
base para o estudo e compreensão dos fenómenos ocorridos nesse sistema.
Salienta-se a importância da experiência adquirida com a ocorrência de acidentes
anteriores que constituem um contributo essencial, uma vez que fornecem informações
importantes relativas a situações anómalas, e que surgem como um meio para descobrir
lacunas no conhecimento e incentivar novas pesquisas em áreas desconhecidas.
A vulnerabilidade do sistema hidráulico à acção sísmica será também objecto de
análise com o intuito de, através de um programa de cálculo estrutural avançado (SAP 2000),
se simular quais as consequências que um determinado sismo causaria, a nível de
deslocamentos e esforços nas condutas e estruturas de apoio. Posteriormente procede-se à
comparação dos resultados obtidos, tanto para o diferencial de pressão na válvula V59, como
pela acção de um sismo, com valores verificados in situ para uma das condições referidas.

1.2 Organização do trabalho

A presente dissertação está estruturada em sete capítulos, cujos conteúdos são


descritos em seguida.

Ao presente capítulo introdutório (Capítulo 1), segue-se o Capítulo 2, onde se efectua


uma revisão bibliográfica relativa aos temas considerados fundamentais associados ao
objectivo que se propõe desenvolver: (i) golpe de aríete e deformação estrutural; (ii)

2
dispositivos de protecção contra o golpe de aríete; (iii) dimensionamento de sistemas de
condutas; (iv) mecanismos de deterioração; (v) reabilitação de sistemas hidráulicos; (vi) acção
de sismos.

No Capítulo 3 faz-se referência aos modelos computacionais utilizados para a


componente hidráulica do sistema, modelo WANDA Engineering 3.53, baseado no método das
características, e para a componente estrutural, o modelo SAP2000 que se baseia no método
dos elementos finitos.

No Capítulo 4 procede-se à aplicação da modulação computacional a um caso de


estudo, efectuando-se vários testes para diferentes tipos de solicitações e a obtenção das
respectivas consequências ao nível de deslocamentos.

No Capítulo 5 são mencionadas algumas orientações para projecto, evidenciando


alguns critérios de segurança e dimensionamento para estados limite de condutas, e
metodologias de decisão associadas à interacção fluido-estrutura.

No Capítulo 6 apresentam-se as conclusões gerais do estudo bem como


recomendações para a segurança dos sistemas de transporte de fluidos em pressão.

3
4
2. SÍNTESE DE CONHECIMENTOS

2.1 Introdução

Neste capítulo pretende-se apresentar uma revisão bibliográfica sobre o tema da


interacção fluido-estrutura quando associado à segurança e operacionalidade das infra-
estruturas de abastecimento através de obras de captação, retenção e distribuição, estudos e
actividades experimentais relacionados com fenómenos hidráulicos dinâmicos, associados ao
golpe de aríete, à corrosão e à ocorrência de sismos que podem influenciar a vulnerabilidade
dessas infra-estruturas, em particular os sistemas de abastecimento.

2.2 Golpe de aríete e deformação estrutural

Os sistemas hidráulicos constituídos por condutas com escoamento em pressão podem


sofrer alterações nas condições de funcionamento ocasionando regimes variáveis. Essas
alterações caracterizam-se pela modificação da velocidade média e da pressão, ao longo do
tempo, em qualquer secção da conduta.
Denomina-se por escoamento transitório, o regime variado que ocorre durante a
transição de um regime permanente para outro regime permanente. Assim, qualquer alteração
no movimento introduzido por eventual paragem/arranque de uma turbomáquina ou
fechamento/abertura de uma válvula, elementos fundamentais de um sistema hidráulico, dão
origem aos chamados fenómenos transitórios. No momento em que se modifica
instantaneamente a velocidade de um fluido numa conduta, pode dar origem a uma violenta
variação de pressão que se propaga ao longo de todo o circuito hidráulico e estrutura adjacente
causando vibrações e ruídos. A este fenómeno, transitório, dá-se o nome de golpe de aríete
(Castro e Santos, 2002; Ramos, 2004; Ramos, 2003).
Por golpe de aríete denominam-se as variações de pressão decorrentes de variações
de caudal, tendo este fenómeno a particularidade de ser um escoamento em que a velocidade
varia tão rapidamente com o tempo, que as forças de inércia desenvolvidas fazem intervir a
própria compressibilidade do fluido e a deformabilidade das paredes da conduta. Estas
variações, nas condições do escoamento, são provenientes de alguma perturbação voluntária
ou involuntária, que se imponha ao fluxo do líquido, tais como a operação de equipamento
hidromecânico instalado no sistema, falhas mecânicas de dispositivos de protecção e controlo,
assim como de acções sísmicas. De referir que uma manobra que provoque variação do
caudal, quer seja efectuada a montante ou a jusante na conduta, desenvolve forças de inércia
capazes de causar uma compressão ou expansão elástica do fluido e da conduta, com ondas
de choque a propagarem-se a grande velocidade através deles (Camargo, 1989; Ramos,
2003).

5
As manobras inevitáveis de válvulas, o arranque e a paragem de grupos elevatórios
(bombas) e de grupos turbogeradores (turbinas), que induzem variações de pressão podendo
atingir valores extremos inadmissíveis, quando associados a uma inadequada concepção e
dimensionamento do projecto, a deficiências na construção e na operação do sistema, ou no
desenvolvimento de corrosão nas condutas, podem dar origem a elevados níveis de fugas ou
até mesmo à ocorrência de roturas, com os impactos inevitáveis no funcionamento hidráulico,
assim como gerar problemas sociais e ambientais decorrentes de interrupções no serviço de
abastecimento (Ramos, 2004).
A análise dos efeitos dos regimes transitórios em pressão é particularmente importante
nos seguintes sistemas hidráulicos: (i) condutas elevatórias e gravíticas de águas para
abastecimento ou residuais, nos sistemas de saneamento básico; (ii) circuitos hidráulicos de
aproveitamentos hidroeléctricos com ou sem bombagem; (iii) sistemas de rega; (iv) circuitos de
refrigeração de centrais termoeléctricas ou nucleares; (v) condutas de transporte de fluidos,
nomeadamente oleodutos de produtos combustíveis e químicos (Ramos, 2004).
Desde o início do século que os fenómenos transitórios são conhecidos, mas foi
apenas com o progresso dos computadores que estes fenómenos puderam ser estudados com
maior detalhe, sem a necessidade de recorrer a simplificações grosseiras. A análise de
regimes transitórios, com vista à estimativa dos valores extremos de pressão, que condicionam
o dimensionamento dos sistemas hidráulicos, é bem conhecida, embora nem sempre
adoptada. Hoje em dia, a análise dos fenómenos transitórios constitui uma exigência
fundamental no dimensionamento dos sistemas hidráulicos. Deste modo, a modelação do
fenómeno golpe de aríete requer o conhecimento detalhado das condições iniciais, em regime
permanente, como das condições de fronteira da instalação, que são as secções do circuito
hidráulico onde ocorrem descontinuidades das grandezas físicas, associadas à pressão e à
velocidade do escoamento.
A teoria clássica do golpe de aríete serve de base, com boa aproximação, para a
determinação de pressões extremas que ocorrem num sistema rigidamente ligado. Contudo,
devido a possíveis movimentos induzidos na conduta podem ocorrer fenómenos que não
conseguem ser traduzidos pela teoria clássica. Na realidade, os sistemas de tubagens ou
condutas sofrem deslocamentos (i.e., não são rigidamente ligados) e qualquer variação no
escoamento origina ondas de pressão, às quais correspondem deformações na conduta e
ondas de tensão, alterando-se, assim, o sistema de forças resultante que actua na instalação e
o respectivo deslocamento associado (Vasconcelos, 1999). Como este existem determinados
fenómenos do tipo não convencional, que normalmente não conseguem ser reproduzidos pelos
modelos clássicos do golpe de aríete, que são baseados na hipótese do comportamento
elástico-linear da parede das condutas e no regime uniforme tangente – i.e., utiliza o factor de
resistência em regime quasi-permanente e não considera outros efeitos dinâmicos não
convencionais (e.g., efeitos da percentagem de ar dissolvido ou concentrado no interior do
escoamento, efeito do atrito ou factor de resistência em regime variável, comportamento

6
reológico do material da conduta do tipo não linear – viscoelasticidade1 evidente em materiais
plásticos, ocorrência de cavitação, modelação da sobrevelocidade de turbogeradores em
centrais hidroeléctricas, ocorrência de fugas, e comportamento dinâmico de ventosas) e que
alteram o comportamento dinâmico dos sistemas podendo omitir outros importantes fenómenos
intervenientes que exigem uma caracterização e análise mais detalhada (Ramos, 2004).
Segundo Quintela (2005) e Ramos (2003), para uma melhor compreensão do
fenómeno, veja-se o caso teórico do escoamento de um líquido por uma conduta uniforme e
horizontal, alimentada através de um reservatório de grandes dimensões, portanto de nível
constante, a montante e munida na extremidade de jusante de uma válvula capaz de obturar
instantaneamente o escoamento (Figura 2.1). De notar que nesta análise se desprezam as
perdas de carga.
Suponha-se que a partir do regime permanente se procede ao fechamento total e
instantâneo da válvula de jusante, anulando-se instantaneamente o caudal que atravessa este
dispositivo, promovendo a condição de fronteira de caudal nulo, na secção imediatamente a
montante do obturador. Se o líquido fosse incompressível e as paredes da conduta rígidas,
toda a coluna líquida, a montante da válvula, ficaria instantaneamente imobilizada. Contudo, o
líquido é compressível e, como tal, no instante após a manobra de fechamento do obturador,
verifica-se que as partículas líquidas em contacto com a parede do obturador se imobilizam,
mas as que vêm atrás continuam o movimento, comprimindo-as até que elas próprias se
imobilizam também, originando uma sobrepressão. Esta imobilização ocorre à custa da
compressão do líquido e da dilatação da conduta. Verifica-se a existência de uma perturbação
que se propaga como uma onda na direcção do reservatório de montante (Figura 2.1 - Fase 1),
deixando atrás de si a coluna de líquido imóvel e sujeita à sobrepressão. A onda de choque
correspondente à paragem do escoamento propaga-se a várias centenas de metros por
segundo, sendo a sua velocidade de propagação, c, que corresponde à celeridade das ondas
elásticas. Se a conduta tiver um comprimento L, o tempo que a onda demora a percorrê-la e
atingir o reservatório será igual a t = L/c.
Quando a onda elástica de compressão atinge o reservatório, todo o sistema está em
repouso, mas existe um desequilíbrio de pressões. Este desequilíbrio provoca o escoamento
da conduta para o reservatório, com caudal igual ao inicial mas em sentido contrário, de modo
que a camada de líquido dentro da conduta e vizinha do reservatório perde a sobrepressão a
que estava submetida, isto é, descomprime-se. Por conseguinte, a frente de onda, separando
as duas zonas de pressão vai-se deslocando no sentido da válvula (Figura 2.1 - Fase 2).
No instante t = 2L/c a frente de onda atinge a válvula. A coluna líquida na conduta
continua em movimento no sentido do reservatório, fazendo-se esse movimento à custa da
descompressão do líquido no trecho junto ao obturador e da contracção da conduta neste
mesmo trecho.

1
O comportamento viscoelástico é caracterizado por uma instantânea deformação elástica seguida de
uma gradual e retardada deformação quando sujeita a uma carga. Este efeito retardado provoca uma
acentuada atenuação da variação da pressão e aumenta a dispersão da onda de pressão (Covas, 2003;
Ramos, 2004).

7
Novas camadas vão ser sucessivamente descomprimidas, aparecendo, assim, uma
frente de onda que se propaga para o reservatório. Quando essa onda atinge o reservatório, o
líquido em toda a conduta está em depressão e imóvel. Nesse instante (t = 3L/c) ocorre novo
desequilíbrio de pressões que provoca o escoamento no sentido do obturador. Por fim, no
instante t = 4L/c (Figura 2.1 – Fase 4) o escoamento em toda a conduta apresenta
exactamente as condições iniciais, pelo que o fenómeno se repete com um período T dado por
T = 4L/c.

Figura 2.1 – Análise do golpe de aríete (adaptado de Ramos, 2003).

Como as ondas criadas pelo início de uma manobra de fecho demoram um tempo total
t = 2L/c a percorrer toda a extensão da conduta até ao reservatório e de regresso ao obturador,
todas as manobras com uma duração igual ou inferior a esse valor terão tempo para acumular
no obturador os seus efeitos totais. Essas manobras, designadas por manobras rápidas,
produzem todas as mesmas variações máximas de pressão junto do obturador que as
manobras instantâneas. Por outro lado, as manobras de duração superior a t = 2L/c, ditas

8
manobras lentas, terão os efeitos da parte final da manobra atenuados pelas ondas reflectidas
da parte inicial, dando assim origem a variações menores de pressão no obturador, e tanto
menores quanto maior for a duração da manobra (Ramos, 2003).
De acordo com Tijsseling (1993), o golpe de aríete surge como o maior responsável
pelos comportamentos transitórios extremos nos sistemas de condutas. O movimento da
conduta proveniente da ocorrência deste fenómeno, depende das propriedades mecânicas,
das suas condições de apoio e das forças dinâmicas que actuam no líquido e na parede da
conduta e respectivos apoios.
As forças dinâmicas que podem actuar entre o líquido e a conduta podem classificar-se
em forças localizadas e forças distribuídas (Figura 2.2). As forças dinâmicas localizadas
aparecem em singularidades onde se verifique uma variação de caudal, de secção ou de
direcção do escoamento e são transmitidas às extremidades dos troços rectilíneos através dos
elementos conduta rectilínea e singularidade, podendo originar o deslocamento da conduta, o
qual pode produzir novas ondas de pressão no líquido (efeito de junção) e assim
sucessivamente, podendo no limite dar origem a fenómenos de ressonância. As forças
tangenciais de arrastamento ou de resistência hidráulica e a pressão interna são chamadas
forças distribuídas. A pressão interna origina a deformação radial que induz uma deformação
axial, resultando ondas de tensão axial na parede da conduta (efeito de Poisson). As ondas de
tensão axial geram por sua vez ondas de pressão no fluido. A força tangencial de
arrastamento, que dá origem ao efeito de interface hidráulica, manifesta-se no amortecimento
das ondas elásticas (Vasconcelos, 1999).

Figura 2.2 – Classificação das forças dinâmicas que interactuam entre o líquido e a conduta (adaptado de
Vasconcelos 1999).

9
Quando as forças dinâmicas provocam o deslocamento das tubagens e acessórios,
surge uma importante interacção fluido-estrutura, o que implica, numa análise teórica, a
consideração da fase líquida e da fase sólida como um conjunto (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Causas de escoamento transitório e deslocamento de tubagens (adaptado de Wiggert, 1986).

De acordo com pesquisas de Tijsseling (1996), a interacção fluido-estrutura assume


enorme relevância quando o tempo de escala da conduta é menor que o tempo de escala do
líquido e maior do que o da própria excitação, ou seja, as velocidades de propagação das
ondas de pressão são bastante diferentes entre componentes do sistema, exigindo uma
análise integrada que inclua os diferentes comportamentos dos elementos constituintes do
sistema em análise.
A interacção fluido-estrutura em sistemas de condutas consiste na transferência de
momentos e forças entre as condutas e o fluido durante a ocorrência de um regime de
escoamento e/ou estrutural variável. A interacção manifesta-se em vibrações nas condutas e
perturbações na velocidade e pressão do líquido. De referir que as cargas de pressão
adicionais provocadas pelo comportamento transitório são transmitidas aos mecanismos de
suporte (apoios), podendo também causar danos nestes elementos.
Recentemente, este fenómeno de interacção tem despertado interesse devido a
motivos de segurança e fiabilidade dos sistemas hidráulicos e estruturais que transportam um
bem tão escasso e essencial à vida como a água. Faz-se particular referência às estações
elevatórias de sistemas de abastecimento e drenagem, aos aproveitamentos hidroeléctricos, às
questões ambientais dos sistemas de distribuição, no caso de ocorrência de roturas nos
sistemas de abastecimento de água e às questões relacionadas com o desempenho dos
sistemas industriais de transporte de fluidos (Tijsseling e Wiggert, 2001).
A análise dos regimes transitórios reveste-se da maior importância no projecto de
qualquer instalação hidráulica, para a selecção dos materiais das condutas, as classes de
pressão mais adequadas, a espessura das paredes das condutas, a especificação de
eventuais dispositivos de protecção e de regras de operação, assim como para o diagnóstico e
controlo de anomalias em sistemas já existentes (Ramos, 2003). O controlo de efeitos
dinâmicos, normalmente associados à ocorrência de transitórios hidráulicos, deve ser
considerado tanto na fase do projecto como na fase de exploração, para que sejam garantidas

10
as melhores soluções em termos de segurança e operacionalidade de cada sistema. Assim
quer ao nível do projecto, funcionamento, manutenção e exploração dos circuitos hidráulicos
deve ser adoptada uma estratégia que inclua a análise dos regimes transitórios decorrentes de
possíveis cenários associados a diferentes condições operacionais (Ramos, 2004).
As pressões extremas, mesmo que apresentem curta duração, podem atingir valores
incompatíveis com as condições de segurança e operacionalidade desejadas: os valores muito
elevados podem causar roturas nas condutas ou nos seus acessórios, enquanto que os valores
muito baixos podem levar ao colapso da parede da conduta devido à pressão exterior ou
entrada de ar ou poluentes e à vaporização do líquido do que resulta a formação de bolsas de
vapor (Ramos, 2004; Ramos, 2003).
Algumas soluções de prevenção passam pela especificação de tubagens com classes
de pressão capazes de suportar tanto as sobrepressões como as depressões previstas.
Contudo, estas variações de pressão submetem o material das condutas a variações de tensão
que podem levá-lo à fadiga2, o que não é recomendável em termos de segurança e
conservação. Uma boa solução para minimizar estas variações de pressão passa pela
colocação de algum tipo de protecção, cuja finalidade é amortecer as variações de carga,
prejudiciais à vida útil da instalação.
O golpe de aríete pode ser suprimido ou controlado através de dispositivos adequados
a cada tipo de instalação como por exemplo: válvulas de retenção, volantes de inércia,
ventosas, condutas flexíveis, reservatórios hidropneumáticos, chaminés de equilíbrio, condutas
de aspiração paralela e reservatórios unidireccionais. A selecção de um ou vários dispositivos
de protecção deverá resultar da análise de um número conveniente de alternativas que
possibilitem eleger a melhor solução a adoptar, considerada do ponto de vista da eficiência, da
economia, da manutenção e operação. De referir que o golpe de aríete não só está associado
a pressões elevadas mas também a pressões baixas, sendo que as pressões baixas podem
conduzir ao colapso das tubagens por esmagamento. Preocupação maior coloca-se quando as
condutas são enterradas, porque a ruptura pode não ser detectada e pode dar origem à
intrusão do solo envolvente.
Se a pressão descer até um determinado valor, nomeadamente até à pressão de
vaporização do líquido, ocorre um fenómeno designado por cavitação. Como consequência
deste fenómeno, formam-se, no seio do líquido em movimento, bolhas ou cavidades
preenchidas, em grande parte, por vapor do líquido e, também, por gases previamente
dissolvidos. De referir que, a cavitação pode originar fenómenos ou condições indesejáveis,
tais como, vibrações, ruídos, erosões, alteração das características das turbomáquinas e a
diminuição do caudal em escoamentos sob pressão, porque a secção pode ficar obstruída ou
reduzida com bolsas de vapor retidas em pontos altos.
A cavitação de líquidos está associada à pré-existência de núcleos microscópicos
contendo gases ou vapor do líquido. O vapor ou os gases estão presentes no próprio líquido ou

2
Fadiga é um fenómeno que corresponde à diminuição da resistência de um material, como resultado da
aplicação de variações repetidas de tensões. Materiais submetidos a cargas repetidas/cíclicas podem
atingir a rotura com uma carga inferior ao seu limite.

11
em pequenas fissuras das fronteiras sólidas. Ao atravessar sítios onde as pressões são
suficientemente baixas, os núcleos crescem dando origem a bolhas cujas dimensões
dependem da acção conjunta das forças correspondentes à tensão superficial, às pressões dos
gases e do vapor do líquido no seu interior e à pressão do líquido no exterior da bolha. Se a
pressão exterior atinge um determinado valor crítico, nomeadamente, inferior à pressão de
vaporização, a bolha pode crescer rapidamente (Quintela, 2005).
Quando as cavidades de vapor aparecem sob a forma de minúsculas bolhas dispersas
no líquido, ao longo de todo o comprimento das tubagens, o fenómeno denomina-se de
cavitação distribuída (escoamento bolhoso) (Figura 2.4 - (b), Almeida, 1981). Se essas bolhas
atingirem regiões da conduta onde a pressão é superior à pressão de vaporização ocorre a
implosão das mesmas. Caso a região de colapso das bolhas seja próxima de uma superfície
sólida, isto é, a uma distância das fronteiras sólidas inferior ao respectivo diâmetro, o material
das mesmas fica sujeito a tensões localizadas extremamente elevadas que podem provocar
pequenas fissuras microscópicas no material, que, com o tempo, irão aumentar de tamanho e
provocar a delaminação do material da superfície, originando uma cavidade de erosão
localizada. Por outro lado, quando as minúsculas bolhas se juntam e criam uma única bolha
ocupando uma grande parte da secção transversal da conduta, e provocando uma nítida
descontinuidade na coluna líquida, este tipo de cavitação designa-se, na literatura, por rotura
da veia líquida ou separação da coluna (Figura 2.4 - (a)). Geralmente a separação da coluna
sucede em pontos altos da conduta ou secções imediatamente a jusante do órgão obturador e
está usualmente associada a aumentos instantâneos de pressão. Estes podem ser evitados
por posicionamento de válvulas de entrada de ar ou ventosas em pontos críticos do sistema de
condutas. Em geral, a política adoptada pelos projectistas e entidades gestoras consiste em
evitar a cavitação (Tijsseling, 1993; Tijsseling, 1996).

Figura 2.4 – Tipos de cavitação: (a) rotura da veia líquida, (b) escoamento bolhoso (adaptado de Almeida,
1981).

De referir que, a velocidade do movimento das paredes da bolha no momento do


colapso atinge valores da ordem das centenas de metros por segundo, pelo que a grande
desaceleração posteriormente sofrida pelo líquido circundante provoca pressões muito
elevadas, do tipo de onda de choque abrupta ou golpe de aríete.

12
Os materiais dúcteis, quando sujeitos à acção de cavitação, sofrem deformações
plásticas, sem perderem peso numa fase inicial, enquanto os materiais frágeis perdem peso,
logo de início (Quintela, 2005).

2.3 Dispositivos de protecção contra o golpe de aríete

Um projecto de um sistema elevatório deverá ter em conta os efeitos do golpe de


aríete, em particular os motivados pela interrupção brusca no funcionamento dos grupos
electrobombas. A análise do golpe de aríete poderá indicar a necessidade de se preverem
dispositivos de protecção contra este fenómeno. Por vezes estes dispositivos poderão ser
dispensados mediante a alteração dos valores da velocidade de escoamento em regime
permanente, no traçado da conduta evitando, por exemplo, pontos altos e na colocação do
grupo com velocidade de rotação variável (Almeida, 1981).
Os dispositivos contra o golpe de aríete devem ter como finalidade limitar os valores
das depressões3 e sobrepressões4 causadas por este fenómeno. De seguida, serão
especificados alguns desses equipamentos.

 Volantes de inércia

Os volantes de inércia destinam-se a uma protecção contras as depressões que


ocorrem numa conduta. O princípio de funcionamento baseia-se no conceito físico de momento
de inércia, em que o volante, devido à inércia ou à energia acumulada durante o funcionamento
normal do sistema, tem a possibilidade de a transmitir ao grupo electrobomba quando se
verifica uma paragem ou saída de serviço repentinamente. Nesta conformidade, o tempo de
anulação do caudal, na secção imediatamente a jusante do grupo, tende a aumentar e a
pressão decresce de um modo mais suave até atingir o valor mínimo.

Figura 2.5 – Volante de inércia (Sousa e Monteiro, 2007)

3
Corresponde ao valor do abaixamento de pressão instantânea em relação à pressão do regime
permanente anterior, devido ao regime transitório.
4
Diz respeito ao valor do aumento de pressão instantânea, devido ao regime variável, relativamente à
pressão do regime permanente.

13
 Reservatórios hidropneumáticos

Os reservatórios hidropneumáticos de ar são dispositivos que funcionam tanto na


protecção de sobrepressões como de depressões.
Quando se verifica uma interrupção no funcionamento das bombas, estes dispositivos
baseiam-se no princípio de que a alimentação da veia líquida é efectuada através de uma
reserva de água acumulada. Em regime permanente, a massa de água armazenada está em
equilíbrio sob a acção da pressão do ar, existente na parte superior do reservatório, e da
pressão na conduta, na secção onde o reservatório de ar comprimido está instalado. No caso
de ocorrência de um regime transitório, a massa de água deixa de estar em equilíbrio devido à
variação de pressão. Assim, se a pressão diminuir a jusante do grupo electrobomba (facto
verificado imediatamente depois da paragem do grupo) o reservatório alimentará a conduta
com um caudal que aumenta progressivamente. Por outro lado, se a pressão aumentar (o que
se verifica, imediatamente a seguir à entrada do grupo electrobomba em serviço ou após a
inversão do sentido do escoamento durante o regime transitório) o reservatório
hidropneumático absorverá total ou parcialmente o caudal da conduta.
Com as variações de pressão na conduta ocorrerá, simultaneamente, variações de
pressão na parte superior do reservatório devido às variações de volume de ar. Quando ocorre
a fase de depressão e de alimentação do sistema, o volume de ar aumenta o que implica que a
pressão no reservatório diminui. Caso ocorra uma fase de sobrepressão e de acumulação de
água pelo reservatório, o volume de ar diminui e a respectiva pressão aumenta. (Almeida,
1982; Camargo, 1989; Ramos et al., 2000).

Figura 2.6 – Esquema de um reservatório hidropneumático.

De seguida, mostra-se um esquema de funcionamento de um reservatório com ar


comprimido.

Figura 2.7 – Variação do volume de ar no reservatório hidropneumático.

14
Na Figura 2.7 a) tem-se o regime normal de funcionamento, o volume de ar U 0, medido
3
em m , e a pressão absoluta Z0, expressa em m.c.a., na b) tem-se o final da depressão, em
que o ar ocupa um volume máximo Umáx, e a pressão absoluta é mínima, Zmín e na c) tem-se o
final da sobrepressão, o ar ocupa um volume mínimo Umín, menor que o do regime normal,
sendo a sua pressão absoluta máxima, Zmáx.

 Chaminés de equilíbrio

As chaminés de equilíbrio são reservatórios em ligação com a conduta e com a


superfície livre à pressão atmosférica permitindo atenuar as depressões e sobrepressões
provenientes do regime variável. Do ponto de vista volumétrico, as chaminés de equilíbrio ou
reservatórios permitem o fornecimento ou o armazenamento de determinados volumes de
água, nos instantes que se seguem a uma interrupção do caudal bombeado. Esta capacidade
de compensação diminui a mobilização de efeitos elásticos nos troços de conduta protegidos
pelos reservatórios.
Em regime permanente, a cota do plano de água contida no interior da chaminé de
equilíbrio coincide com a cota piezométrica da secção da conduta onde a chaminé está ligada,
de maneira a que a pressão exercida pela água armazenada possa equilibrar a pressão
correspondente ao escoamento na referida secção (Almeida, 1982).
Com a paragem do grupo electrobomba, e consequente redução da pressão na
tubagem, o nível de água da chaminé desce, reduzindo-se desta forma a variação de caudal e,
por conseguinte o valor da depressão. Posteriormente, com a inversão do fluxo na conduta e
fechamento da válvula de retenção, o nível da água sobe, transformando a energia cinética em
energia potencial e, assim, a redução da sobrepressão. Desta forma, com a oscilação da
massa de água na chaminé de equilíbrio, os efeitos do golpe de aríete entre o reservatório e a
chaminé de equilíbrio são minimizados (Camargo, 1989; Ramos et al., 2000).

Figura 2.8 – Esquema tipo da instalação de uma chaminé de equilíbrio.

 Reservatórios unidireccionais

Estes dispositivos de protecção podem ter também a designação de tanques de


compensação, uma vez que permitem compensar, durante um certo período de tempo, a

15
diminuição de caudal fornecido pelas bombas após a sua paragem. Deste modo, poder-se-á
evitar a rotura da veia líquida em secções da conduta situadas em pontos altos ou junto aos
grupos elevatórios.
O reservatório unidireccional só entra em funcionamento, alimentando a conduta,
quando a cota piezométrica, na secção de ligação à conduta, for inferior à cota do plano de
água no interior do reservatório, evitando-se desta forma depressões no sistema. Após a
entrada em funcionamento do reservatório unidireccional, o valor da cota piezométrica na
secção de inserção tende a manter-se próximo da cota no interior do reservatório.
As sobrepressões só indirectamente (consequência da diminuição da depressão
máxima) são atenuadas, uma vez que este tipo de dispositivo não é reversível.
A interligação do reservatório unidireccional à conduta, deverá conter uma válvula de
retenção, permitindo a passagem de água quando a conduta se encontra em depressão, mas
evita o retorno do escoamento para o reservatório (Figura 2.9). De referir que, o nível de água
no reservatório poderá ser restabelecido através de uma conduta “by-pass” (condutas de
pequeno diâmetro) constituída por uma válvula especial munida de flutuador (ou bóia), que
quando o plano de água no reservatório atinge o nível pré-estabelecido esta fecha (Almeida,
1982).

Figura 2.9 – Reservatório unidireccional (Camargo, 1989).

 By-pass/Conduta de aspiração paralela

O “by-pass” é também um dispositivo que actua na protecção de depressões geradas


no sistema devido ao fenómeno do golpe de aríete. Durante o regime transitório, a diminuição
rápida de caudal bombeado gera na secção da conduta imediatamente a jusante das válvulas
de retenção dos grupos electrobomba uma diminuição de pressão, e um aumento de pressão
na secção a montante dos grupos. Sendo assim, a instalação de um “by-pass” entre o
reservatório de montante e a conduta, a jusante dos grupos electrobomba, possibilita a
alimentação da conduta com caudal adicional, durante o tempo em que o valor da cota
piezométrica instantânea na secção de jusante desta conduta for inferior ao correspondente à
extremidade de montante. Como tal, este dispositivo permite o aumento do tempo de anulação

16
do caudal, e por conseguinte, a diminuição do valor da cota piezométrica mínima na secção de
jusante do by-pass (Almeida, 1982).
Como é notório este dispositivo apresenta um funcionamento semelhante ao do
reservatório unidireccional, com a diferença apenas de que a referência será a cota da
superfície livre do reservatório de alimentação da bomba, ou seja, apenas actuará quando a
cota piezométrica da conduta (secção de jusante do grupo electrobomba) atingir valores
inferiores ao do reservatório de montante.

Figura 2.10 – By-pass (Camargo, 1989).

 Válvula de alívio

As válvulas de alívio são válvulas automáticas que permitem a descarga de caudais


para o exterior da conduta, com o intuído de se atenuar as sobrepressões motivadas pelo
golpe de aríete. Quando a pressão interior da conduta ultrapassa um determinado valor limite,
este dispositivo abre e permite a evacuação rápida de uma quantidade de água para o exterior,
promovendo-se, desta forma, o abaixamento do valor da pressão até ao valor pretendido. De
seguida, dá-se o fechamento da válvula (Camargo, 1989).

Figura 2.11 – Válvula de alívio (Camargo, 1989).

Os gráficos da Figura 2.12 mostram os resultados obtidos por Camargo (1989), durante
uma simulação de uma mesma conduta, sem e com válvula de alívio. É evidente que os picos
de sobrepressão são reduzidos com a instalação da válvula de alívio.

17
Figura 2.12 – Comparação qualitativa de valores de sobrepressão: a) sem válvula de alívio, b) com
válvula de alívio (Camargo, 1989).

 Ventosas

As ventosas são dispositivos automáticos que possibilitam a entrada e a saída de ar


das condutas. A diminuição da pressão na conduta, por efeito do golpe de aríete, pode ser
contrariada através do movimento descendente de um flutuador (ou dispositivo equivalente)
existente no interior da ventosa, que desta forma permite a abertura de um orifício, a partir do
qual entra ar na conduta (Figura 2.13). Como tal evita-se, assim, a formação de vácuo e o
possível colapso da tubagem. Quando a pressão no interior da conduta aumentar novamente,
este dispositivo permite também a saída do ar, de maneira controlada a fim de se evitar
sobrepressões, até que o flutuador obture por completo o orifício de saída.

Figura 2.13 – Esquema típico de uma ventosa


(fonte:http://www.saneamento10.hpg.ig.com.br/Ventosas.htm).

Concluindo, a selecção do dispositivo mais adequado a cada instalação depende das


características hidráulicas e topográficas da instalação, da capacidade de simular e analisar os
diferentes sistemas de protecção possíveis e da execução de um estudo económico
comparativo (Ramos, 2003).

18
2.4 Dimensionamento de sistemas de condutas

Os sistemas de abastecimento constituem uma parte essencial dos sistemas lifelines


(vida) das cidades urbanas e cosmopolitas. Entenda-se por lifelines todas as infra-estruturas
públicas, semi-públicas e privadas que suportam as actividades humanas. Apresentam uma
importância tal, que a sua existência e bom funcionamento têm implicações a nível político,
económico e mesmo o de permitir a todos os cidadãos um quotidiano com qualidade de vida.
Como exemplo de lifelines mencionam-se: os sistemas de transporte de gás e outros
combustíveis, de adução de água, as redes de distribuição eléctrica, o transporte de
telecomunicações e as vias de comunicação rodoviária. Por conseguinte, estas infra-estruturas
necessitam de uma especial atenção em termos estruturais, uma vez que a sua destruição,
ruína ou dano estrutural pode ter consequências graves a nível humano, social e ambiental
(Pereira e Ferreira, 2003).
O dimensionamento de sistemas de transporte de água é um processo complexo que
envolve muito mais que uma simples determinação do diâmetro necessário da conduta. Há que
considerar também os problemas sociais, ambientais, políticos e legais que podem daí advir.
Outrora os projectos podiam ser construídos com uma diminuta ou mesmo inexistente
consideração do seu impacto no bem-estar social e no ambiente. A protecção da qualidade de
vida e do ambiente é e continuará a ser um factor principal na determinação de novos projectos
(Tullis, 1989).
O primeiro passo em qualquer projecto deve considerar estudos de viabilidade.
Geralmente isto consiste no desenvolvimento de um estudo preliminar para identificar no
projecto todas as principais características que poderão influenciar o custo e
consequentemente a sua viabilidade. O projecto proposto é, então, analisado relativamente aos
aspectos legais, políticos, sociais, ambientais e económicos, tais como especificados de
seguida.

A. Estudo Prévio
1. Identificação de áreas de serviço e áreas de necessidades de água;
2. Avaliação de sistemas de abastecimento de água;
3. Necessidades de tratamento de água;
4. Identificação dos principais traçados de condutas e de características geológicas
especiais;
5. Determinação do número, localização e tamanho de instalações de tratamento de
água;
6. Estimativa das necessidades de bombagem e o número de estruturas de controlo
(caudal);
7. Antevisão de problemas, tais como, escoamentos transitórios, cavitação e
congelação, caso estes apresentem um peso importante no custo do projecto.

19
B. Problemas legais
1. Cumprimento dos Decretos de Lei associados ao projecto;
2. Definição de regras de segurança;
3. Análise da fiabilidade das soluções adoptadas.

C. Problemas sociais
1. Reacções públicas ao projecto;
2. Impacto na economia local, a longo e a curto prazo;
3. Impacto na qualidade de vida, especialmente se os trabalhos a realizar interferem
em grande escala no quotidiano;
4. Barulhos e vibrações causadas pelas estações de bombagem ou estruturas de
controlo;
5. Localização e aspecto geral de quaisquer estruturas, tais como, reservatórios,
instalações de sistema de bombagem e de controlo de estruturas;
6. Problemas relacionados com a segurança;
7. Impacto nas necessidades de água, a nível local.

D. Aspectos ambientais
1. Danos físicos no terreno, incluindo danos visuais, possível ocorrência de erosão e
prejuízos na vegetação, não obstante o traçado das condutas, os acessos, as
áreas de armazenamento, os reservatórios, entre outros aspectos;
2. Impacto na vida selvagem;
3. Poluição ou contaminação de água ou poluição atmosférica.

E. Análise económica

A decisão final sobre o facto de ser viável ou não implantar certos sistemas adutores,
ou a selecção de um tipo de solução de entre a panóplia de alternativas existentes para o
mesmo projecto é geralmente baseada na comparação dos custos e benefícios esperados para
a vida útil do projecto, por meio de critérios de análise económica. Esta análise deve ser feita
nas primeiras etapas/fases do projecto (juntamente com o estudo de viabilidade) dado que
nada assegura que um projecto adequado de um ponto de vista técnico possa também ser
vantajoso de um ponto de vista económico.
Convém assinalar que a selecção entre soluções alternativas que apresentam
benefícios idênticos é simplesmente efectuada por uma identificação da solução cujo custo
global (custo directo; custo indirecto; custo externo) é mais baixo ou que apresenta menores
impactes associados. Só a comparação de projectos alternativos ou soluções com diferentes
custos e benefícios associados requer a aplicação de uma análise económica, a fim de
identificar a alternativa mais desejável.

20
A eficácia da análise económica, como uma ferramenta de decisão, depende da
precisão do custo do projecto e das estimativas dos benefícios. Estas estimativas não são
fáceis de alcançar, especialmente em fases iniciais do projecto onde algumas das
características do sistema são, muitas vezes, apenas preliminares (Ramos et al., 2000).

2.5 Mecanismos de deterioração

2.5.1 Introdução

Os sistemas de abastecimento de água revelam-se como uma parte essencial no


desenvolvimento moderno dos meios urbanos e rurais. No início do ano 1900 utilizava-se o
ferro fundido nos sistemas de distribuição de água, contudo a partir da década de 70 optou-se
pelo uso de tubagens de ferro fundido dúctil, e surgiram, na Europa e no América do Norte,
tubagens em PVC. Recentemente os polietilenos de densidades médias e elevadas tornaram-
se materiais alternativos para a renovação dos sistemas de água existentes. As condutas de
cimento amianto (mais conhecido por fibrocimento) apareceram em 1930 e já não são
utilizadas actualmente (Rajani et al., 1996).
Segundo pesquisas de Rajani et al. (1996) a avaliação do desempenho dos sistemas
adutores de abastecimento de água é expressa a partir da frequência de rotura por km por ano,
sendo considerada uma frequência demasiado excessiva e indesejável, quando se verificam
pelo menos 5 roturas por 100 km/ano. Na Figura 2.14, indica-se a frequência de roturas para
as cidades Winnipeg, Manitoba, que generalizam a situação da América do Norte.

Figura 2.14 – Roturas verificadas nos sistemas de abastecimento de água nas cidade de Winnipeg e
Manitoba (adaptado de Rajani et al.,1996).

As análises efectuadas sobre o desempenho dos sistemas de abastecimento de água


indicam que estes são susceptíveis às diferenças climáticas, ao diâmetro das condutas e ao
tipo de material utilizado. Um cenário típico de taxa anual de rotura em sistemas indicia que o
pico de frequência de rotura ocorre durante o período em que a temperatura do solo está
abaixo do normal (Figura 2.15).

21
Figura 2.15 – Variação da taxa de rotura com o diâmetro da conduta (adaptado de Rajani et al.,1996).

A colectânea dos estudos efectuados sobre as falhas/roturas dos sistemas de


abastecimento de água pode ser resumida da seguinte forma:

 Estudos efectuados sobre as falhas dos sistemas de abastecimento de água em


algumas cidades, indicam que a seguir a descidas de temperatura sazonais
geralmente existe um aumento do número de roturas. Morris (1967) e Ciottoni
(1983, 1985) defendem que durante o Inverno a frequência de roturas é pelo menos
duas vezes superior à do Verão.
 A frequência de rotura por quilómetro por ano (Figura 2.16) aumenta com redução
do diâmetro da tubagem. O maior número de roturas ocorrido em pequenos trechos
de conduta, é usualmente atribuído à fina espessura da parede, traduzindo-se numa
antecipação do inicio do fenómeno de corrosão.

Figura 2.16 – Variação mensal das roturas nos sistemas de abastecimento de água (adaptado de Rajani
et al.,1996).

Nos sistemas de abastecimento de água as roturas podem aparecer devido a variados


modos de falhas (Figura 2.17), tais como, falhas circular ou circunferencial, longitudinal ou em
juntas, buracos devidos à corrosão ou falhas no desempenho de válvulas. Estas falhas
ocorrem quando o sistema está bastante corroído e quando está sujeito a ondas de pressão

22
elevadas. As roturas circunferenciais são causadas pela tensão longitudinal e as falhas
longitudinais surgem em resultado da tensão circunferencial (Almeida e Ramos, 2007; Rajani e
Kleiner, 2001; Rajani et al., 1996).
As roturas circunferenciais surgem como o resultado das seguintes situações:
contracção térmica (devido às baixas temperatura da água na conduta) actuando numa
conduta encastrada; aparecimento de tensão de rotura por flexão da conduta devido ao
movimento diferencial do solo (especialmente solos argilosos) ou aos vazios dos solos de
fundação perto das condutas como resultado da ocorrência de fugas; más concepções de
valas para suporte de condutas, e devido a interferência de terceiros (por exemplo, acidentes,
tráfego). A contribuição da pressão interna da conduta, embora pequena, na tensão
longitudinal pode aumentar o risco de quebra circunferencial quando surgem simultaneamente
com uma ou mais das outras fontes de tensão mencionadas anteriormente.
Relativamente às falhas longitudinais, estas são tipicamente o resultado de um ou mais
dos seguintes factores: tensão circunferencial devido à pressão na tubagem; tensão de anel
proveniente do carregamento do solo que cobre a conduta; tensões de anel devido às
sobrecargas causadas pelo tráfego, e roturas resultantes do aumento das cargas de anel
quando a penetração da gelo causa a expansão da mistura congelada dentro do solo (Rajani e
Kleiner, 2001; Almeida e Ramos, 2007).

Figura 2.17 – Modos de falhas circulares e longitudinais em sistemas de abastecimento de água


(adaptado de Rajani e Kleiner, 2001).

De referir que destes mecanismos de deterioração apenas será abordado, com maior
detalhe, o fenómeno da corrosão.

23
2.5.2 Tipo de corrosão

Segundo Fontinha e Salta (2007) o desempenho dos componentes metálicos usados


na construção, como por exemplo na concepção de um sistema de abastecimento de água, é
condicionado sobretudo pela resistência à corrosão do metal que os constitui. Como tal, a
corrosão é encarada como uma das principais causas de degradação destes materiais,
conduzindo à ocorrência de falhas no serviço (e.g., rotura, colapso, entupimento, infiltrações),
por vezes, à deterioração da qualidade de água (i.e., contaminação da água de consumo,
diminuição das condições de habitabilidade), à degradação de outros componentes do sistema,
originando a perda de material e a alteração das propriedades mecânicas e alterações
estéticas.
De referir que existem factores que contribuem para acelerar ou provocar o
aparecimento de patologia por corrosão, tais como, a inadequada selecção do tipo de material,
ou a existência de deficiências de projecto ou de construção/montagem (Fontinha e Salta,
2007).
O mecanismo de corrosão é um processo electroquímico, isto é, envolve reacções
químicas e correntes eléctricas. De acordo com Fontinha e Salta (2007), no mecanismo
electroquímico mencionado anteriormente (corrosão), dois metais em contacto eléctrico, e
inseridos num condutor iónico (electrolítico), desenvolvem entre si uma diferença de potencial
eléctrico, que cria um fluxo de corrente eléctrica onde ocorre transferência de electrões de um
metal para o outro. Ou seja, durante este fenómeno um metal abandona a sua forma metálica,
de estado energético elevado, para se ligar a outros elementos (O2, S, H2S, CO2, entre outros)
e recuperar a sua forma de minério, energeticamente mais estável (Lamas et al., 2001).
Conclui-se, portanto, que nestes casos a corrosão corresponde ao inverso dos
processos metalúrgicos (Figura 2.18).

Figura 2.18 – Ciclo dos metais (Mendes, 2005).

O metal que liberta os electrões (o ânodo) sofre corrosão, dando-se a oxidação dos
seus átomos que passam para o electrólito na forma de iões metálicos (reacção anódica), os
quais serão consumidos nas reacções catódicas que se dão no outro metal (o cátodo), o qual
não se corrói e cuja presença é essencial para a ocorrência de corrosão (Figura 2.19).

24
Figura 2.19 – Formação de pequenas áreas adjacentes, numa superfície metálica, que actuam como
ânodo e como cátodo (Lamas et al., 2001).

Quando os iões metálicos se combinam com o produto da reacção catódica ocorre a


formação de um hidróxido ferroso que, por reacção com o oxigénio, origina a substância
designada por ferrugem (Figura 2.20).
A velocidade de dissolução do metal é determinada pela diferença de potencial da
célula e pela eficiência com que o electrólito, entre as duas áreas, consegue transferir a
corrente eléctrica gerada (Lamas et al., 2001).

Figura 2.20 – Formação de hidróxido ferroso por reacção do ferro com os iões hidróxilo (Lamas et al.,
2001).

De referir que a diferença de potencial também pode verificar-se entre diferentes zonas
do mesmo metal, resultante da existência de heterogeneidades na sua micro-estrutura
inerentes ao seu processo de fabrico (e.g., composição e laminagem), ou devido à sua
exposição a diferentes condições ambientais, tais como, pH diferente, desigual humidade ou
temperatura, ou de concentrações diferentes de agentes activos, como o oxigénio (Fontinha,
2007) (Figura 2.21).
A facilidade com que se desenvolve um processo de corrosão varia de metal para
metal.

25
Figura 2.21 – Factores que influenciam a corrosão (Fontinha, 2007).

A corrosão pode propagar-se de uma forma uniforme, denominando-se por corrosão


generalizada ou progredir-se apenas em determinados pontos, designando-se por corrosão
localizada. Este ataque localizado pode ser considerado muito mais perigoso, uma vez que
pode avançar rapidamente e em profundidade, sendo usualmente pouco perceptível, ocorrendo
em zonas onde a maior parte da superfície sofreu pouca ou nenhuma corrosão (Fontinha e
Salta, 2007).
Os processos corrosivos de natureza electroquímica apresentam mecanismos
idênticos, uma vez que serão sempre constituídos por áreas anódicas e catódicas, entre as
quais circula uma corrente de electrões e uma corrente de iões. No entanto, a perda de massa
e o modo de ataque sobre o material dá-se de formas diferentes. As formas segundo as quais
a corrosão pode manifestar-se são definidas, principalmente, pela aparência da superfície
corroída, sendo as principais:

 Corrosão uniforme ou generalizada

O metal corrói-se uniformemente em toda a superfície exposta, resultando na


diminuição gradual da espessura da secção (Fontinha e Salta, 2007). Neste caso, a velocidade
de corrosão é aproximadamente igual em toda a superfície. Este tipo de corrosão, ao provocar
a diminuição da espessura dos materiais, provoca a diminuição da sua capacidade resistente.
Como consequência directa, reduz a sua vida útil e pode suscitar possíveis falhas dos
sistemas, risco de acidentes e originar roturas. A formação de ferrugem surge como uma forma
deste tipo de corrosão (Figura 2.22).

Figura 2.22 – Bolbos esponjosos associados ao processo de corrosão no interior de um tubo (fonte:
http://www.aquaambiente.com).

26
 Corrosão por picadas

É uma forma de corrosão localizada em pequenos pontos da superfície do metal,


escavando-a, eventualmente até à perfuração completa, sendo que a restante parte da
superfície pode permanecer praticamente sem ataque (Fontinha e Salta, 2007). O cátodo e o
ânodo encontram-se manifestamente separados. O ânodo situa-se no interior da picada, onde
a reacção anódica progride a alta velocidade, enquanto a superfície circundante funciona como
cátodo (Nunes, 2003). Este tipo de corrosão está muito associado à presença de cloretos ou de
microrganismos no meio (Figura 2.23).

(a) (b)
Figura 2.23 – Corrosão por picada; (a) esquema de progressão da corrosão (Salvador, 2002), (b)
tubagem de titânio corroída (Salvador, 2002).

 Corrosão por arejamento diferencial

Conduz ao aparecimento de corrosão localizada e geralmente ocorre em fendas,


recantos, sob depósitos ou na linha de interface entre a superfície molhada e a seca. Neste tipo
de corrosão apenas está envolvido um metal e ocorre devido a diferentes concentrações de
oxigénio. Neste processo, a zona da superfície do metal com menor acesso ao oxigénio
adquire carácter anódico corroendo-se, enquanto na zona onde existe uma maior
acessibilidade do oxigénio (carácter catódico) ocorre a reacção de redução do oxigénio, ficando
o metal intacto (Fontinha e Salta, 2007).

 Corrosão bimetálica

Esta corrosão ocorre com a formação de ânodos e cátodos entre metais diferentes que
estejam em contacto, o metal menos nobre irá sofrer corrosão acelerada na zona de contacto,
enquanto que o outro metal permanecerá intacto (Fontinha e Salta, 2007). De referir que um
exemplo deste tipo de fenómeno é a corrosão galvânica.

27
Quando materiais metálicos de potenciais eléctricos diversos estão em contacto, a
corrosão do material metálico que funciona como ânodo é muito mais acentuada que a
corrosão isolada desse material sob a acção do mesmo meio corrosivo (Mendes, 2005).

 Corrosão e incrustação biológica

A corrosão microbiológica corresponde à deterioração de metais metálicos e/ou não


metálicos em consequência da actividade de uma variedade dos macro-organismos (como
algas e fungos) e micro-organismos vivos (como bactérias), decorrendo do seu crescimento e
metabolismo, dos metabolitos formados, originando um ambiente agressivo, ou participando
directamente em reacções electroquímicas na superfície do metal, e iniciando ou acelerando
desse modo reacções de eléctrodo (Pimenta e Pépe, 2003).
Os microorganismos podem ser classificados em aeróbios ou anaeróbios. Entre as
bactérias anaeróbias contam-se as bactérias redutoras de sulfatos (Desulfovibrio
Desulfuricans) que existem em solos compactos ou molhados e em efluentes contendo
compostos de enxofre e reduzem o sulfato a sulfureto:
SO42- + 4H2  S2- + 4H2O

O hidrogénio usado na reacção pode resultar da reacção catódica do processo de


corrosão ou pode provir da celulose, dos açúcares ou de outros produtos orgânicos. O sulfureto
formado acelera a reacção anódica, aumentando a velocidade de corrosão. O produto
resultante da corrosão é o sulfureto de ferro que se forma com os iões ferrosos resultantes do
processo de corrosão (Salvador, 2002).
Entre as bactérias aeróbias contam-se as bactérias oxidantes do enxofre (Thibacillus
Thioxidans) que podem viver em meios com pH muito baixo e actuam em solos contendo
enxofre (e.g., campos petrolíferos, efluentes orgânicos ricos em enxofre). Estas bactérias
oxidam o enxofre ou compostos de enxofre a ácido sulfúrico:
2S + 3O2 + 2H2O  2H2SO4

O ácido formado leva à criação de condições muito corrosivas. As bactérias redutoras


de sulfatos e as bactérias oxidantes do enxofre podem operar nos solos em ciclos alternados:
as redutoras crescem no tempo de chuva (i.e., solos molhados, sem ar) e as oxidantes
desenvolvem-se em tempo seco (i.e., solo mais permeável ao ar).
Existem outras bactérias que aceleram a corrosão, como as que utilizam
hidrocarbonetos ou as que assimilam Fe2+ (Salvador, 2002).
Relativamente ao macro-organismos, os fungos assimilam matéria orgânica o que leva
à produção de ácidos orgânicos, como por exemplo, cítrico, acético, láctico e oxálico. Por outro
lado, a sua presença pode criar condições favoráveis à corrosão intersticial e pode ainda
deteriorar o aspecto estético dos materiais. Quanto aos organismos aquáticos, estes abrangem

28
espécies de algas, lapas, mexilhões, entre outros, e fixam-se à superfície do metal, causando
corrosão intersticial e incrustações (Salvador, 2002) (Figura 2.24).

Figura 2.24 – Incrustação num tubo (fonte: http://www.aquaambiente.com).

 Corrosão intersticial

É um tipo de corrosão localizada (Figura 2.25) que se desenvolve em interstícios onde


se podem formar pequenos volumes de água estagnada (i.e., fendas, uniões de peças, sob
depósitos de partículas), no interior dos quais se dá corrosão por arejamento diferencial
(Fontinha e Salta, 2007). Este tipo de corrosão pode ocorrer em vários meios (cloretos,
sulfatos, nitratos, entre outros).

Figura 2.25 – Aço com corrosão intersticial (Salvador, 2002).

Na corrosão intersticial existe uma fase de iniciação e outra de propagação do


fenómeno. No início, as zonas anódicas e catódicas distribuem-se por toda a superfície. O
consumo de oxigénio dentro da fenda leva à paragem da reacção catódica nessa zona, sendo
que a reacção anódica continua a ocorrer, produzindo iões metálicos e criando um excesso de
cargas positivas na solução. Consequentemente, para se manter a electroneutralidade, os iões
negativos, por exemplo os cloretos, migram para a fenda, formando cloretos metálicos que
originam o abaixamento do pH (Figura 2.26 (a)). Na fase de propagação o abaixamento do pH
e a possível migração de aniões agressivos para o interstício levam a um agravamento das
condições locais (Figura 2.26 (b)) (Salvador, 2002).

29
(a) (b)
Figura 2.26 – Evolução da corrosão intersticial: (a) fase de iniciação (Salvador, 2002), (b) fase de
progressão (Salvador, 2002).

 Corrosão intergranular

Neste caso, a corrosão desenvolve-se nos limites dos grãos cristalinos, com uma
progressão semelhante à formação de fissuras, tendo como consequência a desagregação da
liga e a perda de propriedades mecânicas (Fontinha e Salta, 2007).
A corrosão intergranular ocorre, principalmente, nos aços inoxidáveis sendo
consequência da sensibilização, que se caracteriza pela precipitação de carbonetos de crómio
nos limites do grão. Consequentemente, surgem nas áreas adjacentes à fronteira do grão
zonas empobrecidas de crómio, que é o elemento que confere a resistência à corrosão nos
aços inoxidáveis, tornando-o assim susceptível à corrosão intergranular. A exposição térmica
necessária para sensibilizar um aço pode ser relativamente breve, como num processo de
soldadura, ou muito longa, como em operações de equipamentos a temperaturas elevadas
(Lima et al, 2002).
Quando a soldadura é realizada, as diferentes zonas da estrutura são aquecidas a
temperaturas diferentes, em função da distância ao cordão de soldadura. Nas zonas
submetidas a temperaturas entre 450°C e 800°C é possível que parte do crómio situado nas
proximidades dos limites de grão se combine com o carbono, formando Cr23C6, o que resulta
que as zonas em redor dos limites de grão fiquem empobrecidas em crómio (Salvador, 2002)
(Figura 2.27).

30
Figura 2.27 – Esquema do processo de corrosão intergranular de um aço inoxidável devido a um
processo de soldadura (Salvador, 2002).

 Deszincificação

A deszinficação é um tipo de corrosão selectiva. Nos processos denominados de


corrosão selectiva ocorre a dissolução preferencial de um elemento constituinte de uma liga, ou
seja, existe a formação de um par galvânico originado pela diferença significativa de nobreza
entre dois elementos de uma liga metálica (fonte: http://www.iope.com.br).
De referir que se designa de deszincificação à corrosão selectiva que se observa no
zinco, especialmente em latões (liga de Cu e Zn), que provoca a diminuição da resistência
mecânica do metal (Fontinha e Salta, 2007).
O latão é uma liga de cor amarela, com aproximadamente 30% de zinco e 70% de
cobre. Na corrosão selectiva do latão, o zinco é corroído preferencialmente, deixando o
material frágil e poroso, sendo este tipo de corrosão facilmente detectada pelo aparecimento da
coloração vermelha típica do cobre que contrasta com o amarelo do latão. A corrosão do latão
pode ocorrer de forma uniforme (generalizada) ou localizada, tal como é ilustrado na Figura
2.28 (Salvador, 2002).

(a) (b)
Figura 2.28 – Tipos de corrosão no latão: (a) corrosão selectiva localizada, (b) corrosão uniforme
(Salvador, 2002).

A corrosão na forma uniforme é o tipo mais comum em latões com alto teor em zinco
(>35%) ou em meios ácidos. A forma localizada predomina em latões com baixo teor em zinco
ou em meios neutros ou básicos. De referir que, neste tipo de corrosão a zona não afectada
fica com a coloração amarela do latão e a zona empobrecida de zinco aparece mais escura
(Salvador, 2002).

31
 Corrosão sob tensão

A corrosão sob tensão (Figura 2.29) envolve deterioração de material devida à


presença simultânea de tensões aplicadas ou residuais e de um meio corrosivo (Salvador,
2002).

Figura 2.29 – Esquema de aparecimento da corrosão sob tensão (Salvador, 2002).

A corrosão sob tensão é um fenómeno localizado, iniciando-se na superfície e propaga-


se através da rede cristalina para o interior do metal na forma de fissuras (Fontinha e Salta,
2007).
Uma característica importante da corrosão sob tensão é o facto de praticamente não se
verificar perda de massa do material. Este mantém-se aparentemente em bom estado até ao
momento em que se observa a sua fractura (Salvador, 2002).
As variáveis mais importantes que intervêm na corrosão sob tensão são:
 a tensão aplicada: quanto maior, menor o tempo necessário para ocorrer a
fractura;
 a natureza e concentração do meio corrosivo;
 a temperatura;
 a estrutura e composição do material: em geral, metais puros são imunes à
corrosão sob tensão; quanto menores os grãos maior a resistência de um material
à corrosão sob tensão.

A variável tempo também é muito importante, uma vez que os maiores danos ocorrem
na fase final do processo:
 à medida que a corrosão sob tensão penetra o material (Figura 2.30), dá-se uma
redução da área da secção transversal; para uma mesma força aplicada, a tensão
aumenta e a fractura pode dar-se apenas devido à acção mecânica (Salvador, 2002).

32
Figura 2.30 – Corrosão sob tensão numa conduta (Salta, 2007).

 Corrosão-erosão

A corrosão-erosão consiste no aumento ou aceleração do ataque a um metal como


resultado do movimento relativo entre o fluido e a superfície metálica. O ataque tem um
carácter localizado direccional, que facilmente se relaciona com o movimento do fluido.
Este tipo de corrosão (Figura 2.31) surge geralmente em materiais cuja resistência à
corrosão depende da formação de um filme protector (e.g., Al, Pb, aços inoxidáveis). É a
remoção e/ou a maior dificuldade de formação desses filmes (Figura 2.32) que leva à corrosão-
erosão (Salvador, 2002).

Figura 2.31 – Esquema da evolução da corrosão-erosão (Salvador, 2002).

Figura 2.32 – Imagem de corrosão-erosão ocorrida numa conduta (Salta, 2007).

 Corrosão-cavitação

A corrosão-cavitação deve-se ao processo hidrodinâmico de cavitação e pode ser


considerada como um caso particular da corrosão-erosão. Quando, num sistema de transporte
de um líquido, a pressão desce (localmente) abaixo da sua pressão de vapor, formam-se

33
bolhas de vapor. Estas bolhas vão chocar com as paredes, a alta velocidade, colapsando e
produzindo ondas de choque com pressões da ordem dos 1,5 GPa. O número de bolhas que
implodem numa pequena área pode atingir os milhões por segundo, pelo que os danos
causados podem igualmente ser grandes (Salvador, 2002).
Para além do efeito mecânico da cavitação, ela pode levar à destruição de filmes
protectores, levando à ocorrência de corrosão. O processo de corrosão-cavitação divide-se em
três passos:

 Formação da bolha (ver passo 1 da Figura 2.33);


 Implosão da bolha, com destruição do filme passivo (ver passo 2 da Figura 2.33);
 Formação de novo filme (ver passo 3 da Figura 2.33).

O processo repete-se ao longo do tempo (4/5/6), dando origem a furos profundos. A


corrosão-cavitação (Figura 2.34) é frequente em sistemas onde um líquido se move a altas
velocidades e onde ocorram variações bruscas de pressão, como seja em bombas, turbinas e
em circuitos hidráulicos. (Salvador, 2002).

Figura 2.33 – Esquema da evolução da corrosão-cavitação (Salvador, 2002).

Figura 2.34 – Imagem de corrosão-cavitação ocorrida numa conduta (Salvador, 2002).

2.5.3 Sistemas de distribuição de água

Os problemas provocados pela corrosão e formação de depósitos nas canalizações e


equipamentos originam a diminuição do tempo de vida dos sistemas hidráulicos, o aumento
dos custos de manutenção, a diminuição da qualidade da água potável, a redução da permuta

34
de calor nos equipamentos, as perturbações na circulação de água e a perfuração das
canalizações (fonte: http://www.aquaambiente.com).
Os metais mais usados nas redes de distribuição de água em edifícios são o aço
galvanizado, o aço inoxidável, o cobre e o latão (este último em acessórios).
Dos tipos de corrosão mencionados ao longo do subcapítulo 2.5.2, os que afectam
principalmente as condutas e os seus respectivos acessórios encontram-se expressos na
Tabela 1, assim como, as suas consequências nos sistemas hidráulicos.

Tabela 1 – Principais tipos de corrosão nos sistemas de distribuição de água e suas consequências
(adaptado de Fontinha e Salta, 2007).

De referir que existe outro tipo de corrosão que se econtra fortemente aliada à
degradação de tubagens e de acessórios, sendo esta denominada de corrosão microbiológica.
Este tipo de corrosão provém do facto da água que circula nas tubagens estar contaminada
com determinadas bactérias, que não são nocivas à saúde humana e, como tal não são
identificadas em análises microbiológicas de rotina em águas de consumo humano. O
desenvolvimento destas bactérias está relacionado com as condições de temperatura
relativamente amena, e a estagnação que ocorrem quando a água permanece nas condutas. A
fixação das bactérias pode ser favorecida por vários aspectos, tais como, a presença de
sólidos suspensos na água que se depositam nas tubagens e as reentrâncias resultantes de
sobreespessuras e faltas de penetração dos cordões de soldadura (Pimenta e Pépe, 2003).
Os factores que estão directamente relacionados com o aparecimento de corrosão em
redes de distribuição de água são a inadequada selecção dos materiais, a má concepção ou o
deficiente dimensionamento das condutas e as falhas na montagem e preparação para entrada
em serviço dos sistemas.
Relativamente à má selecção do material, evidencia-se a utilização de tubagens cujas
características da liga, derivadas da sua composição química ou do processo de fabrico, não
são adequadas para o contacto com a água ou para a execução de certas operações de
montagem, como por exemplo, a soldadura. Devem ser usados tubos certificados com base
em normas específicas para esta utilização, tais como as indicadas na Tabela 2. O mesmo
procedimento se aplica aos acessórios das tubagens, em que os acessórios em latão com um
teor de zinco superior a 15% são susceptíveis de sofrer deszincificação, podendo este risco ser
minimizado com a adição de estanho à liga. Devido à composição química da água (por

35
exemplo as águas com elevado teor em cloretos) pode ser necessário optar por um material
mais resistente à corrosão do que o normalmente usado (Fontinha e Salta, 2007).

Tabela 2 – Requisitos para tubos de transporte de água potável (Fontinha e Salta, 2007).

Nos erros de concepção encontra-se o subdimensionamento de condutas que


desencadeia fluxos transitórios provocando, assim, o aparecimento de velocidades de
escoamento demasiado elevadas que podem dar origem a corrosão-erosão e, consequentes
roturas do sistema. Estes subdimensionamentos estão associados a diâmetros demasiado
baixos para os caudais pretendidos e há ocorrência de mudanças bruscas de direcção ou de
secção no circuito hidráulico. Para cada tipo de metal existe um valor crítico para a velocidade
de circulação da água no seu interior, acima do qual pode ocorrer corrosão (Fontinha e Salta,
2007).
As falhas que ocorrem na altura da montagem das tubagens estão, normalmente,
associadas à execução de uniões, sendo exemplo disso, as imperfeições e irregularidades das
soldaduras, dando origem a fendas e interstícios que favorecem, não só a acumulação de
partículas em suspensão, como a concentração de espécies agressivas em solução, tais como
cloretos, e promovem a corrosão intersticial. Outro exemplo de erros de montagem é o uso de
fluxos de soldadura inadequados, com corrosividade excessiva ou em quantidades excessivas,
que podem entrar para o interior da tubagem durante a soldadura, onde vão dar origem à
formação de picadas, quer pelo ataque directo dos agentes corrosivos que os constituem, quer
por corrosão intersticial sob os seus depósitos. Por sua vez, a utilização de acessórios de união
de material mais nobre (por exemplo o uso de latão para ligar aço galvanizado), também surge
como um erro proveniente da montagem, uma vez que irá causar corrosão acelerada do tubo
nas zonas de união (corrosão bimetálica). Nas tubagens de aço galvanizado devem usar-se
acessórios do mesmo material, nas de cobre devem usar-se acessórios de latão ou bronze, e
nas de aço inoxidável as uniões podem ser de ligas de cobre ou de aço inoxidável (Fontinha e
Salta, 2007).
Quanto ao tópico referente à preparação para entrada em serviço das tubagens, a
corrosão pode ocorrer com aparecimento precoce de roturas. Esta preparação passa,
usualmente pela realização de ensaio de estanquidade, após os quais a água geralmente
permanece no interior das condutas durante períodos, nalguns casos, bastante longos. De
notar que é nesta altura que a corrosão pode surgir e está associada à utilização, para a

36
execução de ensaios de estanquidade, de águas não tratadas que podem conter elevados
teores de sólidos (terras) e de agentes agressivos (cloretos, sulfatos e micro-organismos) e à
limpeza incompleta ou inexistente do interior das tubagens após as operações de montagem
para a remoção de eventuais resíduos destas operações, tais como, restos de fluxos de
soldadura, de óleos, de materiais de construção, partículas de metal, entre outros, e que vão
contaminar a água usada nestes ensaios (Fontinha e Salta, 2007).
A permanência prolongada da água no interior das condutas em condições de
estagnação, contendo agentes agressivos diversos, permite o desenvolvimento de corrosão
intersticial e por picadas. Como tal, depois de findadas todas as operações de montagem, deve
introduzir-se água limpa no interior das tubagens com o intuito destas ficarem completamente
limpas de resíduos provenientes das operações de montagem. Nos ensaios de estanquidade
deve ser usada água limpa, filtrada, de preferência água potável. Caso contrário, depois da
realização do ensaio, deve-se fazer circular bastante água limpa nas tubagens.
Para minimizar o risco de corrosão durante o período de espera até à entrada em
serviço das condutas, estas devem manter-se completamente cheias de água, a qual deverá
ser renovada regularmente (para se efectuar a remoção de sólidos depositados), deve evitar-se
a manutenção de condições de estagnação e promover a formação de camadas de produtos
protectores. Em alternativa, as condutas devem ser completamente secas com ar comprimido,
selando-as para assim se impedir a entrada de água ou de matérias estranhas (Fontinha e
Salta, 2007).
Concluindo, os componentes metálicos estão sujeitos a diversos problemas de
corrosão que afectam a sua funcionalidade, o que para se conseguir um desempenho
apropriado é necessário seleccionar o tipo de material adequado para a função ou meio
específico, definir a protecção anticorrosiva correcta, apresentar configuração adequada (e.g.,
minimizando interstícios, zonas de acumulação de depósitos, água), evitar erros de montagem
e de utilização e efectuarem-se manutenções periódicas (e.g., limpeza e reparação de
revestimentos) (Fontinha, 2007).

2.6 Reabilitação de sistemas hidráulicos

2.6.1 Introdução

“ Nenhum material é por si próprio durável; é a interacção entre o material e o ambiente


a que está exposto que determina a sua durabilidade” (Larry Masters).

De referir que, o conceito de durabilidade está conotado à aptidão que uma estrutura
apresenta para desempenhar as funções para as quais foi projectada, durante o período
previsto, sem necessitar de manutenção nem reparação imprevistas.
Em países desenvolvidos, grande parte dos sistemas de abastecimento de água foram
projectados e implementados há dezenas de anos e, actualmente, as entidades gestoras

37
enfrentam problemáticas de uma manutenção operacional, eficiente e de confiança por forma a
garantir o abastecimento de água em quantidade e qualidade suficientes às populações (Grilo
e Covas, 2008). A degradação das infra-estruturas de abastecimento de água e dos
respectivos equipamentos (desde a captação na origem até à distribuição no consumidor) é um
processo natural e inevitável e, à medida que os diferentes componentes do sistema se
aproximam do fim da sua vida útil, o volume de perdas (físicas) de água tende a aumentar, a
ocorrência de roturas e de interrupções de abastecimento torna-se mais frequente, e os custos
de manutenção curativa dos sistemas aumentam (Borda d’Água et al., 2008). Como
consequência, as entidades gestoras são confrontadas com a necessidade de acções de
reabilitação.
Pode-se definir reabilitação como qualquer intervenção física que prolongue a vida útil
de um sistema existente, melhorando o seu desempenho hidráulico, estrutural e de qualidade
da água. Dentro da área de reabilitação existem vários tipos de intervenção, tais como, a
renovação, a substituição e o reforço.
A renovação é qualquer intervenção física que prolongue a vida do sistema, no seu
todo ou em parte, que melhore o seu desempenho, mantendo a capacidade e a função para o
qual foi projectado. A intervenção de substituição corresponde a uma renovação de uma
instalação existente por uma nova, quando a que existe já não é utilizada de acordo com o seu
objectivo inicial. Por sua vez, o reforço é uma intervenção que tem por base a construção de
uma instalação adicional que complemente a capacidade de outra já existente ou que lhe sirva
de alternativa (Grilo, 2007).
Um dos grandes problemas da reabilitação é o facto dos engenheiros e gestores terem
de tomar uma série de decisões baseados em informação vaga, incompleta e desactualizada
dos seus sistemas constituídos por infra-estruturas, predominantemente, enterradas. Este facto
torna a sua condição física difícil de avaliar, e, no caso da redes de distribuição de água, ser
inviável proceder a inspecções directas completas e sistemáticas. São infra-estruturas
integradas que se comportam como um todo, e não como um somatório de componentes.
Factores como o aumento da construção, o aparecimento de novas infra-estruturas enterradas,
como por exemplo redes de gás e de telecomunicações, o crescimento da população nos
centros urbanos, a não existência de uma prática de manutenção nos dispositivos de controlo e
protecção das condutas, têm contribuído para aumentar o mau desempenho das redes de
distribuição de água, e criar problemas que não se resolvem com a simples substituição das
condutas individuais (Borda d’Água et al., 2008).
As entidades gestoras face à acção de reabilitação podem apresentar uma postura
reactiva ou preventiva. Na atitude reactiva, as condutas reabilitadas são seleccionadas de
acordo com critérios de emergência, de entre os quais se incluem a reabilitação de condutas
que falhem ou tenham sido reparadas muitas vezes, e de critérios de previsão de intervenções
na via, sendo estes estabelecidos de acordo com a necessidade de intervenção noutras infra-
estruturas. Com uma postura preventiva, as entidades gestoras planeiam os investimentos a
curto, médio e longo prazo depois de analisarem as condições estruturais das condutas e

38
prever a sua degradação. Esta atitude requer um bom conhecimento das características das
condutas da rede (Borda d’Água et al., 2008).
Segundo Borda d’Água et al. (2008) uma metodologia proposta para o plano de
reabilitação de Sistemas de Abastecimento de Água baseia-se em quatro níveis de decisão
distintos: (i) aplicável à globalidade do sistema de abastecimento, corresponde assim a uma
análise à macro-escala do sistema e tem como finalidade dar a conhecer a direcção de
intervenção; (ii) associado a uma análise à micro-escala do sub-sistema/sector, com o intuito
de especificar a localização de intervenção; (iii) relacionado com a implementação do sistema,
existindo a este nível a particularização da componente a reabilitar; (iv) avaliação dos
resultados da aplicação do plano. A especificidade de cada nível permite definir a direcção,
depois a localização do sector de rede ou da componente a reabilitar, a hierarquização de
prioridades, a forma de implementação da intervenção a respectiva calendarização e,
finalmente, proceder à avaliação da eficácia do plano de reabilitação, através da sua
monitorização.
Os níveis de intervenção mencionados no parágrafo anterior estão estruturados em diferentes
etapas/fases do plano (Figura 2.35). Ao nível (i) corresponde a Fase I e a Fase II, no nível (ii)
encontram-se as Fases III e IV, a Fase V engloba-se no nível (iii) e a Fase VI está associada
ao nível (iv). Na Figura 2.35 será evidenciado os diferentes níveis de actuação, assim como,
será efectuada a especificação de cada uma das fases descritas.

Figura 2.35 – Diferentes níveis e fases de actuação do plano de intervenção (adaptado de Borda d’Água
et al., 2008).

39
2.6.2 Técnicas de reabilitação de condutas

Actualmente são aplicadas muitas técnicas de reabilitação a redes de abastecimento


de água que podem ser classificadas em dois tipos: (i) técnicas destrutivas e (ii) técnicas não
destrutivas.
As primeiras consistem num método tradicional com abertura de valas para
implantação de novas tubagens, tornando-se muitas vezes num processo inviável em zonas
urbanas face aos condicionalismos locais e transtornos causados. Consequentemente, não
será abordado neste estudo este tipo de técnicas. Relativamente, ao método não destrutivo,
este permite a intervenção em infra-estruturas enterradas sem abertura de valas, ou abertura
de pequenos poços de inspecção, onde pode haver a implantação de novas tubagens (re-
entubamento) ou melhoria das condições existentes através de limpeza e revestimento interno
das condutas (Bastos et al., 2008). O re-entubamento consiste na inserção de uma segunda
conduta no interior da conduta a reabilitar, enquanto que o revestimento se resume a revestir
interiormente a conduta com um material que confira à mesma maior resistência estrutural ou
maior capacidade de transporte (Grilo e Covas, 2008). Na Tabela 3 apresentam-se as técnicas
mais utilizadas para a reabilitação de condutas.

Tabela 3 – Técnicas de Reabilitação de condutas (Grilo e Covas, 2008).

 Revestimento com argamassa de cimento

O revestimento com argamassa de cimento é uma técnica que se aplica a condutas


metálicas, condutas de aço ou de ferro fundido, e consiste no revestimento interior da conduta
com argamassa de cimento. A camada de cimento, em contacto com o material constituinte da
conduta, forma um conjunto de elevada resistência e durabilidade (Figura 2.36). A acção

40
protectora resultante desta junção baseia-se em dois agentes: no agente activo que provém da
conversão química da camada de cimento com o óxido de ferro, na zona de fronteira entre a
argamassa de cimento e a parede de ferro da conduta, devido à interacção da água, que se
difunde para o interior da argamassa, e no agente passivo, que é efectuado através do
isolamento mecânico da parede metálica da conduta (Grilo e Covas, 2008).

(a) (b)
Figura 2.36 – Comparação entre a conduta a reabilitar (a) e a conduta reabilitada com revestimento com
argamassa de cimento (b) (Grilo, 2007).

Esta técnica tem várias vantagens, nomeadamente: o método utilizado é um processo


compatível com a defesa do ambiente, pois não utiliza materiais tóxicos na sua execução de
limpeza nem aquando do revestimento; as perturbações à superfície são reduzidas; as
perturbações de tráfego também são mínimas (excepto na abertura de poços); o seu período
de intervenção é mínimo e os seus custos também dão reduzidos comparativamente com outro
tipo de soluções, como por exemplo, revestimento com resinas epoxy. Os seus principais
inconvenientes comparativamente com outras técnicas são os seguintes: é uma técnica
dispendiosa e morosa em trechos longos de condutas; após o polimento da parede interior da
conduta, pode haver necessidade de alteração de técnica, uma vez que esta técnica não
confere uma maior durabilidade estrutural à conduta; é considerada uma solução provisória
dadas as características do material de revestimento utilizado (cimento) e não permite um
aumento significativo de capacidade hidráulica do sistema (Grilo, 2007).

 Revestimento com spray de resinas epoxy

Esta técnica pode ser usada para reabilitar condutas de abastecimento de água, de
combate a incêndios, de abastecimento industrial, assim como, quando existem problemas
relacionados com a qualidade de água devido à corrosão interna da conduta. O revestimento à
base de resinas epoxy (Figura 2.37) consiste em revestir interiormente a conduta deteriorada
com resinas líquidas aplicadas através de um spray que, posteriormente solidifica. O tipo de
resinas a utilizar deve garantir a formação de uma camada durável e resistente à corrosão
(Grilo e Covas, 2008).

41
Figura 2.37 – Espigão de aplicação da resina epoxy (Grilo e Covas, 2008).

As vantagens da técnica de revestimento com spray de resinas epoxy são: (i) mais
rápida do que a técnica de revestimento com argamassa de cimento; (ii) as resinas têm uma
maior durabilidade e a superfície adquirida com este método é substancialmente mais lisa; (iii)
consegue-se um maior controlo da espessura da camada de resina do que pelo método de
argamassa de cimento; (iv) não obriga a interrupções de ramais prediais e (v) é a técnica ideal
para resolver problemas de corrosão e, consequentemente, problemas de qualidade de água.
Quanto às desvantagens desta técnica destacam-se as seguintes: (i) não é aconselhável a sua
utilização para trechos muito longos (mais de 1000 m), nem para condutas com diâmetros
superiores a 1000 mm; (ii) este método não resolve problemas de fugas, nem problemas
estruturais na conduta existente e tal como o revestimento por argamassa de cimento, esta
técnica (iii) não permite um aumento significativo da capacidade hidráulica da conduta (Grilo,
2007).

 Re-entubamento simples

O método de re-entubamento simples consiste na introdução de um novo tubo com


menor diâmetro no interior da conduta a reabilitar (Figura 2.38). Esta técnica é usada sempre
que se pode diminuir o diâmetro da conduta inicial, e neste processo predomina a utilização de
materiais como o PVC e o PEAD (Grilo e Covas, 2008).

Figura 2.38 – Ilustração da técnica de re-entubamento simples (Grilo,2007).

O método descrito anteriormente apresenta as seguintes vantagens: simplicidade de


aplicação; a possibilidade de progressão em troços longos; não apresenta perturbações de
obras ou outras actividades circundantes; a possibilidade de aplicação em longos trechos;
facilidade de superação de curvas e pendentes elevadas; uma grande gama de abrangência de

42
diâmetros (de 20 a 1600 mm); rápida instalação e a conduta a reabilitar serve de protecção ao
novo tubo resolvendo os problemas de pequenas fugas existentes (Grilo, 2007).
É uma técnica utilizada tipicamente para a reabilitação de trechos de conduta em redes
de distribuição, uma vez que se perde sempre alguma capacidade de transporte do
escoamento. Como os materiais utilizados neste processo são o PVC ou o PEAD o seu uso
não é aconselhado sempre que se verifiquem grandes sobrecargas diametrais (e.g., solo
envolvente) na conduta ou em sistemas submetidos a grandes pressões. Sempre que exista
uma fuga, o local onde a água aparece à superfície pode não corresponder ao local onde a
fuga realmente ocorreu, e pode incorrer-se o erro de reabilitar um trecho de conduta em boas
condições, daí a importância da inspecção com câmara de vídeo (Grilo, 2007).

 Re-entubamento por destruição da tubagem existente

O re-entubamento por destruição da tubagem existente pode ser utilizado em


sistemas de abastecimento de água, em sistemas de transporte e distribuição de gás (para
baixas pressões) e em sistemas de águas residuais (Figura 2.39). Este processo baseia-se na
colocação de uma nova conduta do mesmo diâmetro ou de diâmetro superior à existente, e na
destruição da tubagem existente através de um cone hidráulico-pneumático transportado na
extremidade da nova conduta que avança à medida que destrói a conduta existente (Grilo e
Covas, 2008).

Figura 2.39 – Técnica de re-entubamento por destruição da tubagem existente: pormenor do processo de
distruição da conduta existente (Grilo e Covas, 2008).

O re-entubamento por destruição da tubagem existente apresenta as seguintes


vantagens: permite efectuar progressos de instalação relativamente rápidos ao longo de
grandes extensões e de uma só vez (mais de 1500m); é o processo ideal para situações em
que se necessita de um aumento do diâmetro da conduta ou de substituição por um material
que tenha maior resistência à compressão diametral. Contudo, este processo apresenta
também algumas desvantagens, uma vez que provoca algumas vibrações e ruído, pode
provocar perturbações no terreno ou em tubagens adjacentes e obriga à abertura de poços de
ataque de alguma extensão, o que em zonas urbanas pode não ser exequível (Grilo, 2007).

 Re-entubamento com tubo com diminuição diametral

O re-entubamento com tubo com diminuição diametral é um processo de reabilitação


que consiste na introdução de condutas de polietileno comprimidas diametralmente, no interior

43
de uma conduta existente. Este processo foi concebido para solucionar problemas de condutas
com patologias estruturais e/ou não estruturais, mas especificamente para tubos com
diâmetros entre 100 e 500 mm. Pode ainda ser desenvolvido para curvas até aos 11º 25` e
funcionar como uma conduta comum sujeita a uma pressão comum ou para tubos de
pequenas reparações (Grilo e Covas, 2008).
As vantagens desta técnica são as seguintes: rápida execução; pode aplicar-se a
extensões de conduta superiores a 1500 m por cada inserção, voltando apenas ao diâmetro
original quando os técnicos assim o desejarem, possibilitando deste modo uma instalação mais
eficiente; permite uma versatilidade de procedimentos de inserção que toleram a realização de
outros trabalhos entre diferentes trechos; pode ser utilizado em condutas de abastecimento e
distribuição de água, em condutas de distribuição de gás, em estações elevatórias de esgotos
e em pipelines industriais. Este método apesar de ser aplicado correntemente apresenta como
desvantagem o elevado custo, não sendo por isso recomendado para condutas que não
necessitem de reabilitação estrutural (Grilo, 2007).

 Re-entubamento com tubo de parede dobrada

Este processo consiste na introdução de um tubo previamente dobrado em fábrica no


interior da conduta a reabilitar (Figura 2.40). O re-entubamento com tubo de parede dobrada é
somente utilizado com tubos de polietileno e sempre que é necessário utilizar um tubo que
permaneça o mais justo possível à tubagem existente, por forma à conduta não perder a
capacidade de transporte. É utilizado para condutas de parede fina, numa gama de diâmetros
entre 75 e 1600 mm, podendo vencer curvas até aos 45º (Grilo e Covas, 2008).

Figura 2.40 – Técnica de re-entubamento com tubo de parede dobrada: pormenor do tubo dobrado e
detalhe do tubo expandido no interior da conduta (Grilo, 2007).

O re-entubamento com tubo de parede dobrada apresenta-se como relativamente


económico, resolve problemas de fugas na conduta existente, assim como, problemas de
corrosão e, como fornece um re-entubamento justo e o material é polido, pode aumentar a
capacidade de transporte da conduta. Verifica-se a possibilidade de instalação em troços com
mais de 1000 m de comprimento e a sua rápida instalação minimiza o tempo de interrupção do
abastecimento através da conduta existente. De referir que este processo não perturba
serviços adjacentes e tem um tempo de vida útil superior a 50 anos. Contudo, este método
pode provocar danos no material da conduta quando o polietileno expande, e a nova conduta
reabilitada terá uma menor capacidade de transporte (Grilo, 2007).

44
O diagnóstico, a avaliação do desempenho e a reabilitação dos sistemas hidráulicos
constituem, actualmente, questões de grande relevo para as entidades gestoras. Com efeito, a
utilização racional dos investimentos necessários para a melhoria dos sistemas implica o
conhecimento detalhado das suas características assim como o seu comportamento e o
estabelecimento correcto de prioridades de actuação. Esta actuação deve enquadrar-se numa
óptica de desenvolvimento sustentável, ou seja, racionalizando e optimizando os recursos
disponíveis através da implementação de soluções integradas a que correspondam os
melhores custos-benefício, e a satisfação de níveis de desempenho adequados, a médio e
longo prazo (fonte: https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/141012/1/10%20Capitulo%209.pdf).

2.6.3 Técnicas usadas para proteger os materiais da corrosão

A corrosão caracteriza-se como sendo um desafio permanente ao Homem, pois quanto


mais a ciência cria, evolui e a tecnologia avança, mais a corrosão encontra espaço e maneiras
de se evidenciar (Merçon et al., 2004).
Muitas vezes, o custo de um novo material que substituirá o antigo é de 20 a 50 vezes
mais elevado, o que inviabiliza a sua reposição. Assim, na maioria das vezes, é necessário o
emprego de uma técnica anticorrosiva (Merçon et al., 2004). As técnicas mais utilizadas para
proteger os materiais da corrosão são a protecção catódica, a protecção anódica, os
revestimentos e os inibidores de corrosão.
Hoje em dia, a protecção catódica é um método electroquímico cada vez mais utilizado
para proteger uma superfície metálica contra a corrosão, e que se traduz em tornar toda a
estrutura metálica numa zona catódica. Com este objectivo, a protecção catódica injecta
corrente eléctrica na superfície metálica através de fontes de energia externa, como ânodos
sacrificiais ou sistemas de corrente imposta, o que origina uma migração de electrões em
direcção à superfície metálica a proteger que, entretanto, se tornou numa superfície catódica e,
por isso, praticamente imune à corrosão (fonte: http://wwiprocatportugal.pt/info_1.html). Deste
modo, a corrente eléctrica que flui para o metal a proteger tem que ser tal que a sua tensão
baixe para valores de potencial, correspondentes à zona de imunidade (Figura 2.41).

Figura 2.41 – Diminuição do potencial eléctrico de um metal através da protecção catódica


(Salvador, 2002).

45
De referir que na protecção por ânodo de sacrifício, o ânodo é formado por um metal
que corroa mais facilmente que o metal a proteger (Figura 2.42). Quanto mais afastados
estiverem os dois metais na série galvânica, maior a diferença de potencial e
consequentemente melhor será o funcionamento do sistema de protecção (Appleton e Costa,
2007).

Figura 2.42 – Esquema de uma protecção catódica por ânodo de sacrifício de uma tubagem
(Salvador, 2002).

No caso de estruturas metálicas enterradas, como gasodutos, condutas ou tanques, o


electrólito é o próprio solo que, pelo seu conteúdo variável de humidade, sais e matéria
orgânica em decomposição, é um electrólito muito complexo. A resistividade do solo, onde a
estrutura metálica está ou vai ser enterrada, é um factor determinante num projecto de
protecção catódica (Figura 2.43). O solo é um meio heterogéneo onde surgem variações na
velocidade de corrosão dos metais. Um solo natural contém, como principais elementos, areia,
argila, cal e húmus. Estes componentes podem estar misturados no solo em diferentes
proporções, o que origina distintos níveis de agressividade dos solos. No caso dos sistemas de
corrente imposta é extremamente importante, na fase de projecto, a determinação da
localização do leito anódico, com base em medições da resistividade do solo na zona onde se
pretende instalar os ânodos de corrente imposta.

Figura 2.43 – Esquema de uma protecção catódica por corrente imposta de uma tubagem enterrada
(Salvador, 2002).

A protecção anódica é um método de aumento da resistência à corrosão que consiste


na aplicação de uma corrente anódica na estrutura a proteger (Figura 2.44). A corrente anódica

46
favorece a passivação do material dando-lhe resistência à corrosão. A protecção anódica não
só propicia a formação da película protectora mas principalmente mantém a estabilidade desta
película (fonte: http://www.iope.com.br).

Figura 2.44 – Protecção anódica (Salvador, 2002).

Os revestimentos constituem uma camada superficial com propriedades diferentes das


do metal base. Os revestimentos classificam-se em revestimentos orgânicos, revestimentos
metálicos e revestimentos inorgânicos (não-metálicos). Quanto aos primeiros consistem numa
barreira, constituída por resinas orgânicas (e outros aditivos) entre o material a proteger e o
meio e têm a propriedade de formar um filme (película sólida) contínuo e aderente ao
substrato. As tintas e os vernizes são exemplo deste tipo de revestimentos (Salvador, 2002).
Os revestimentos metálicos consistem na interposição de uma película metálica entre o meio
corrosivo e o metal que se quer proteger. As películas metálicas protectoras, quando
constituídas por um metal mais catódico (mais nobre) que o metal de base, devem ser
perfeitas, ou seja, isentas de poros ou rebiques para que se possa evitar que na ocorrência de
uma eventual falha provoquem corrosão na superfície metálica do metal de base ao invés de
evitá-la. Caso as películas protectoras sejam mais anódicas (menos nobre) podem ser
imperfeitas porque elas conferem protecção catódica à superfície do metal de base. A imersão
a quente e a metalização constituem dois tipos de revestimento metálico. Relativamente, aos
revestimentos não-metálicos tratam-se de substâncias inorgânicas formadas ou depositadas
sobre a superfície metálica a proteger. Podem ser óxidos, cimentos, carbonetos, nitretos ou
carbonitretos metálicos, vidros, esmaltes vitrosos, porcelanas e outros. Os óxidos são usados
geralmente para revestimentos que resistem a altas temperaturas. Os revestimentos obtidos
pela deposição de produtos de reacção química que ocorrem entre o metal e um meio
adequado, protegem o material metálico contra posterior acção agressiva. Entre os processos
mais usados para a obtenção de revestimentos inorgânicos estão a anodização, a cromatação
e a fosfatação (fonte: http://cursos.unisanta.br/quimicabasica).
Os inibidores de corrosão são substâncias inorgânicas ou orgânicas que, adicionadas
em pequenas concentrações ao meio corrosivo, diminuem a velocidade de corrosão. Estas
substâncias podem ser inibidores anódicos, catódicos ou mistos.
Os inibidores anódicos interferem nas reacções anódicas e normalmente trata-se de
aniões que migram para superfícies anódicas, formando películas protectoras. De referir que se

47
a concentração em inibidor for ou se tornar insuficiente, o seu efeito torna-se adverso, como tal,
existe um valor crítico de concentração de inibidor, abaixo do qual se torna perigoso. Os
inibidores catódicos interferem nas reacções catódicas e trata-se de catiões que migram para
superfícies catódicas, onde reagem, depositando-se e polarizando as reacções que se
realizam. Relativamente aos inibidores mistos estes actuam por adsorção 5 em toda a superfície
do metal e interferem tanto nas reacções anódicas como catódicas (Salvador, 2002).
Nas últimas décadas, com o intuito de evitar ou minimizar os inconvenientes causados
pelos processos corrosivos, têm sido desenvolvidos e estudados novos materiais mais
resistentes e duradouros, como ligas metálicas, polímeros e cerâmicas (Merçon et al., 2004).

2.7 Sismos

2.7.1 Introdução

O território de Portugal encontra-se localizado numa zona de grande sismicidade


tendo, ao longo da história, sido atingido por diversos sismos intensos. Evidencia-se o sismo de
1755, como o mais conhecido, pelo facto de ter danificado ou destruído a maior parte da cidade
de Lisboa e de outras cidades do sul de Portugal continental. O conhecimento dos mecanismos
de geração dos sismos indica que zonas que já foram atingidas por sismos intensos no
passado voltarão a sê-lo no futuro e o mesmo se pode afirmar dos tsunamis provocados por
sismos. Assim, a probabilidade de regiões como Lisboa ou o Algarve serem atingidas por
sismos violentos no futuro é muito elevada, apenas se desconhece quando (Lopes e Leite,
2005).
O impacto dos sismos ao nível das populações resulta não só de prejuízos humanos e
materiais envolvidos, mas também da dificuldade de previsão de uma ocorrência deste tipo de
fenómeno. Visto o período de retorno dos sismos de elevada magnitude ser bastante grande, a
população em geral não se encontra consciencializada para a forte probabilidade de ocorrência
deste tipo de acontecimentos. É importante pois, que na sequência de sismos mais recentes e
com grande impacto junto da comunidade científica e da população em geral, se desenvolvam
estudos que permitam estimar com relativa segurança o desempenho das mais variadas
estruturas (Silva, 2002).
A avaliação do efeito da acção sísmica em sistemas ou redes de abastecimento pode
ser efectuada a partir da análise dos danos directos que estão relacionados com a interrupção
do fornecimento de água imediatamente após o evento sísmico, ou através dos danos
indirectos (ou diferidos) resultantes da perda de operacionalidade do sistema por um período
prolongado de tempo, com consequências sociais económicas e ambientais nas zonas
afectadas (Silva, 2002). De referir que o presente trabalho apenas visa a consideração dos
danos directos.

5
Define-se como sendo a fixação de moléculas de gases ou de líquidos à superfície de outra substância
(normalmente um sólido).

48
Os danos directos podem ser definidos qualitativamente segundo duas perspectivas,
danos físicos (estruturais) ou danos funcionais (operacionais). Os danos físicos englobam os
danos estruturais, que se manifestam através da rotura de condutas, abertura de juntas de
ligação, rotura de válvulas, colapso de reservatórios, apoios e maciços de amarração,
desmoronamento de estações elevatórias ou centrais hidroeléctricas e de tratamento. Os
danos funcionais, essenciais para caracterizar os efeitos dos sismos em termos de
operacionalidade da rede, estão interelacionados com os danos estruturais e podem
manifestar-se na forma de redução de pressão e/ou caudal induzidos por fugas através de
fissuras ou rupturas (Silva, 2002).
De acordo com pesquisas efectuadas por Estêvão (1998), deve-se proceder a um
zonamento sísmico do território, com o intuito de apresentar a distribuição da casualidade
sísmica numa grande região. É possível classificar o zonamento sísmico em três grupos
distintos, consoante os objectivos e os indicadores utilizados:

 Zonamento de sismicidade: divisão de uma região em zonas de sismicidade distinta,


incluindo a taxa de ocorrência de eventos, magnitudes e energia libertada, com o
objectivo de expor a distribuição geográfica da sismicidade para o estudo da
casualidade sísmica e distribuição da estrutura tectónica;

 Zonamento dos movimentos do solo: consiste no zonamento da casualidade


sísmica em termos de amplitude, espectro e duração dos movimentos do solo, em
conjunto com a probabilidade da sua ocorrência, com a finalidade de poder ser
usado no dimensionamento de novas estruturas e na avaliação e reforço de
estruturas existentes;

 Zonamento de danos: apresentação de mapas com a distribuição geográfica dos


vários tipos e níveis de perdas e danos, nomeadamente as perdas de vidas
humanas, danos estruturais, danos nos solos e impacto económico.

O zonamento sísmico pode ser dividido em macro e microzonamento, consoante a


escala de intervenção. O microzonamento é a divisão de uma zona sísmica (macrozona) em
pequenas zonas (microzonas), de acordo com determinados critérios, para facilitar a
implementação de medidas anti-sísmicas. Na Tabela 4 são apresentadas as principais
diferenças entre o microzonamento e o zonamento sísmico (macrozonamento) (Estêvão,
1998).

49
Tabela 4 – Comparação entre zonamento e microzonamento (adaptado de Estêvão, 1998).

2.7.2 Identificação dos parâmetros que afectam as tubagens enterradas na


sequência de um sismo

Como é conhecido, as redes de água, esgotos, gás e combustível são constituídos


fundamentalmente por sistemas de tubagens enterradas. Uma das principais características
destas redes é que se estendem por áreas muito grandes, ficando deste modo sujeitas à
aleatoriedade da ocorrência dos sismos tanto no espaço, como no tempo e intensidade. Este
tipo de estruturas pode sofrer danos devido à propagação das ondas sísmicas ou devido a
movimentos permanentes do solo, tais como, a ocorrência de falhas geológicas, de fenómenos
de liquefacção ou de escorregamentos (Bento, 2000).
A propagação das ondas sísmicas gera, pela assíncronia ao longo da conduta, um
campo de deformações internas que poderá levar à rotura da conduta ou, no caso de condutas
segmentadas, à abertura das suas juntas (Proença, 2000). As ondas sísmicas podem ser de
dois tipos, ondas esféricas e ondas de superfície. As primeiras geram-se nos focos sísmicos
(falhas sísmicas) e propagam-se no interior da terra, enquanto que as ondas de superfície
propagam-se ao longo da superfície do solo e são geradas pela reflexão e refracção das ondas
esféricas (Silva, 2002).
As ondas esféricas incluem as ondas de compressão (ondas P) e as ondas de
corte/cisalhamento (ondas S). Em relação às ondas P (compressão) o solo desloca-se na
direcção de propagação da onda, gerando zonas de tracção e outras de compressão ao nível
do solo (Figura 2.45) e consequentemente das tubagens enterradas. As ondas S produzem nas
partículas do solo movimentos perpendiculares à direcção de propagação da onda (Figura
2.45) (fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html).

50
Figura 2.45 – Ondas esféricas (fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html).

As ondas Rayleigh (ondas R) e Lowe (ondas L) são dos tipos principais de ondas
superficiais geradas pela ocorrência de sismos. Nas ondas L as partículas deslocam-se
segundo um plano horizontal e imprimem ao solo movimentos de vibração lateral.
Relativamente, às ondas R produzem nas partículas afectadas movimentos elípticos sobre
planos verticais e em sentido oposto à direcção de propagação da onda, como é demonstrado
na Figura 2.46.

Figura 2.46 – Ondas superficiais (fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html).

Apesar dos movimentos permanentes do solo estarem geralmente limitados a zonas


concentradas na rede, a probabilidade de ocorrer danos muito elevados é grande, desde que
sejam impostas às tubagens deformações significativas. Existem dois tipos de danos causados

51
por movimentos permanentes do solo, dependendo das condições do solo e da presença de
falhas geológicas: um primeiro tipo corresponde à localização abrupta de deslocamentos
relativos, que poderá ser causada por uma falha ou deslocamento imposto nas margens de um
escorregamento de solo. Os danos observados nas tubagens ocorrem principalmente na zona
de rotura do solo. O segundo tipo equivale à distribuição espacial de movimentos permanentes
do solo e poderá ser provocada, por fenómenos de liquefacção ou por assentamentos do solo.
Neste caso os danos nas tubagens podem ocorrer em qualquer lugar, dentro da área onde se
verificou o movimento permanente do solo (Bento, 2000).
De referir que, a liquefacção é um fenómeno comportamental do solo, para o qual os
solos saturados perdem uma quantidade substancial de resistência devido, principalmente, ao
excesso de pressão ao nível da água dos poros, gerada e acumulada durante a ocorrência de
um dado cenário sísmico de magnitude elevada (Silva, 2002).

2.7.3 Danos ocorridos em infra-estruturas de redes

2.7.3.1 Identificação de danos

A protecção sísmica das redes deve ser uma preocupação relevante das entidades
governativas e, em particular, das encarregues dos planos de emergência após a ocorrência de
um sismo. Embora existam regiões que, pelas suas características, se tornam mais vulneráveis
à ocorrência destes fenómenos naturais, a elaboração de estudos sobre as referidas redes
bem como a definição de planos de emergência devem ser práticas correntes, por forma a
reduzir ou até eliminar os riscos decorrentes de um abalo sísmico (Silva, 2002).
Os sistemas de infra-estruturas civis, tais como, as redes de água e de electricidade, o
gás natural e os sistemas de transporte, são essenciais ao bom funcionamento das sociedades
modernas. Devido à natureza interligada dos sistemas, referidos anteriormente, quando um
deles é danificado/destruído por um sismo ou outro risco natural, os outros sistemas de infra-
estruturas também poderão vir a funcionar precariamente (Adachi e Ellingwood, 2006).
Os sistemas de condutas, enterradas ou elevadas, contínuas ou segmentadas por
trechos, constituem uma componente importante dos sistemas vitais de abastecimento
(“lifelines”). O seu dimensionamento e implantação raramente obedece a condicionantes de
desempenho sísmico. Em consequência desta omissão têm sido muito elevados os prejuízos
verificados em sistemas vitais de abastecimento durante a ocorrência de sismos, entre os quais
se destacam os sismos de São Francisco (Califórnia, 1906), de São Fernando (Califórnia,
1971), de Nortthridge (Los Angeles, 1994), de Kobe (Japão, 1995), de Izmit (Turquia, 1999) e o
sismo de Chi-Chi (Tailândia, 1999) (Proença, 2000).

2.7.3.2 Sismo de São Francisco (1906)

Os sismos surgem como o fenómeno natural mais perigoso que afecta a Califórnia do
Norte. Um sismo de magnitude elevada (escala de Richter, M > 8), e vários terramotos de

52
grande magnitude (escala de Richter, M> 6) afectaram aquela parte dos Estados Unidos
durante os últimos 200 anos. Estes choques e réplicas causaram extensos danos materiais e
infligiram várias centenas de acidentes/feridos. Com efeito, dada a expansão da população
através da construção de edifícios, pontes e infra-estruturas de abastecimento, um crescente
número de locais poderão ser afectados pela ocorrência de um sismo com consequências
significativas. Este crescimento da população é, hoje em dia, enorme quando comparado com
a densidade populacional do passado, e em especial com a de 1906, data do último grande
choque destrutivo. No sismo de 1906, os incêndios deflagrados foram responsáveis por 85%
dos danos causados em São Francisco (Richie, 2003). Pelas 5:12 da manhã (hora local) do dia
18 de Abril de 1906, a cidade de São Francisco na Califórnia foi abalada por um sismo seguido
de um fogo sem precedentes na sua história. Em estudos recentes estimou-se que o sismo
registou uma magnitude de 8,25 na escala de Richter. Este sismo teve o epicentro perto da
cidade de São Francisco (Figura 2.47) e foi gerado pela rotura na zona mais a norte da falha de
Santo André, que é a principal falha de um conjunto de falhas com movimento lateral direito
que acomodam a maior parte dos movimentos relativos entre as Placas Norte Americana e
Pacífica (Silva, 2002).

Figura 2.47 – Localização do epicentro do sismo de São Francisco 1906 (Silva, 2002).

De referir que a liquefacção dos solos tem efeitos significativos nas estruturas e um
exemplo disso surge aquando do abalo sísmico de 1906, onde a liquefacção da Valencia Street
provocou um movimento lateral de 1,80 m nas condutas e nas estruturas existentes (Richie,
2003).
Richie (2003) afirma que segundo o relatório de Lawson, datado de 1908, uma
característica importante de um abalo sísmico é a clara correlação existente entre a
intensidade deste e as condições geológicas subjacentes.
Em Valencia Street, o sismo causou um assentamento aproximadamente de 2,4 m, ao
longo da rua, numa distância de 46 a 61 m, e simultaneamente moveu-a, juntamente com as
terras adjacentes, para leste aproximadamente entre 2,70 e 3 m (Figura 2.48). Esta diferença
de alinhamento e de declive originou a destruição total das redes de água, de esgotos, de gás,

53
de electricidade, de telefone, entre outras infra-estruturas. A destruição das linhas de água
levou ao corte total deste bem numa grande parcela da cidade, que logo foi rodeada por
chamas (Richie, 2003).

(a) (b)
Figura 2.48 – Danos registados nas redes de água da cidade de São Francisco durante o sismo de 1906:
(a) distruição de condutas de água perto do Reservatório Crystal Springs em San Mateo County; (b)
rotura de condutas em Valencia Street entre as ruas 18th e 19th (fonte:
http://www.sfmuseum.net/1906/photos.html).

O sismo de 1906 mostrou que os estragos observados nas condutas enterradas foram
mais gravosos em solo de fracas características mecânicas do que em solos com boas
características. Verificou-se que o fogo propagado na cidade de São Francisco na sequência
do sismo e que durou três dias, começou na zona em que o solo apresentava fracas
características mecânicas, tendo-se posteriormente propagado a alguns edifícios fundados em
solo firme, adjacentes a essas áreas (Silva, 2002). De acordo com este autor, o sismo revelou
alguns dos efeitos desastrosos que a existência de deformações permanentes do solo, como a
presença de falhas geológicas ou liquefacção dos solos, tem sobre as tubagens enterradas.
Assim, durante o referido sismo, cerca de metade das condutas (aproximadamente 52%) que
sofreram danos estavam colocadas em zonas onde se verificaram fenómenos de liquefacção,
enquanto que a restante se ficou a dever ao efeito da propagação das ondas sísmicas.
Contudo, apesar da percentagem das tubagens que sofreram danos devido a deformações
permanentes do solo e devido à propagação das ondas sísmicas ter sido praticamente a
mesma, os níveis de estragos observados nas tubagens incluídas na primeira situação foram
cerca de 20 vezes superiores aos níveis de danos registados na outra situação referida.

2.7.3.3 Sismo de São Fernando – Califórnia (1971)

O sismo de São Fernando na Califórnia, também designado por Sylmar, ocorreu pelas
6:01 da manhã do dia 9 de Fevereiro de 1971. O epicentro localizou-se perto da cidade de São
Fernando a cerca de 20 km a noroeste da cidade de Los Angeles, tendo afectado uma área de
cerca de 220 000 km2 incluindo o sul da Califórnia, o oeste do Arizona e o sudoeste do Nevada

54
(Figura 2.49). Pelo facto do sismo ter acontecido numa zona fortemente urbanizada, as
repercussões ao nível das habitações e das várias redes foram desastrosas, registando-se
cerca de 58 mortos e de 2000 feridos (Silva, 2002). De referir que este sismo gerou zonas de
superfície de falha, tal como é visível na Figura 2.50.

Figura 2.49 – Localização do epicentro do sismo de São Fernando 1971 (Silva, 2002).

Figura 2.50 – Localização das reparações e substituições efectuadas nas tubagens (Silva, 2002).

O fenómeno de liquefacção originado pelo Sylmar, foi responsável tanto pela abertura
de fendas como por deslocamentos no solo. Apesar de ter registado apenas uma magnitude de
6,4 na escala de Richter foi considerado, até essa altura, como o sismo mais forte alguma vez
registado na Califórnia em termos de movimento. De notar que, a escala de Richter só mede a
energia total libertada durante um abalo sísmico e não outros factores, tais como,
movimentos/deslocamentos (Richie, 2003).
Durante a ocorrência da liquefacção dos solos surgiram compactações diferenciais que
danificaram fortemente as tubagens. As redes de água, de gás, de esgotos e de electricidade
foram interrompidas nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno e as
tubagens que atravessavam a zona da falha foram destruídas (Figura 2.51).

55
(a) (b)
Figura 2.51 – São Fernando, 1971: (a) as redes de água, gás, esgotos, electricidade foram interrompidas
nas áreas onde se verificaram os maiores deslocamentos do terreno (Richie, 2003); (b) rotura das redes
de água e esgotos que atravessavam a falha (fonte:
http://nisee.berkeley.edu/bertero/html/damage_due_to_surface_faulting.html).

As roturas do solo associadas a liquefacção e aos demais fenómenos relacionados


com os movimentos permanentes do solo encontram-se indicadas na vista panorâmica na zona
a oeste do reservatório de Upper Van Norman que se mostra na Figura 2.52.

Figura 2.52 – Localização dos fenómenos relacionados com os movimentos permanentes do solo e dos
danos ao nível de tubagens (Silva, 2002).

A localização dos movimentos diferenciais mais severos pode ter variado durante o
sismo na sequência do desenvolvimento da zona de escorregamento lateral. É importante
referir que é bastante provável que as primeiras roturas nas tubagens de transmissão de gás,
tenham ocorrido nas zonas de localização de crateras de explosão (Figura 2.53). Estas roturas
encontram-se preferencialmente a sudeste da zona em que ocorreu o escorregamento lateral,
onde as tubagens estavam sujeitas a tensões elevadas resultante do movimento permanente

56
do solo. O máximo deslocamento verificado na zona de escorregamento lateral foi cerca de 2
m e grande parte deste deslocamento desenvolveu-se por uma extensão de 70 m ao nível das
margens sudeste da zona em que se verificou este tipo de movimento permanente do solo. De
notar que as crateras de explosão que surgiram na sequência do sismo, apresentavam cerca
de 3 a 5 m de diâmetro, tendo sido originadas pela libertação súbita de gás a elevada pressão
(Silva, 2002).

Figura 2.53 – Danos observados nas tubagens da rede de transmissão dos segmentos de Mission Wells e
Sylmar (Silva, 2002).

As fugas de gás provenientes das roturas de tubagens levaram à ocorrência de fogos,


um dos quais localizado na cratera de explosão mais a sul que surgiu na linha 115 (Figura
2.53). Na área indicada na Figura 2.53, não houve qualquer dano reportado na linha 85, ainda
que a tubagem atravessasse um dos segmentos mais afectados pelo sismo, sendo este o de
Mission Wells (Silva, 2002).
De acordo com Silva (2002), verificou-se uma tendência para que as tubagens
construídas antes e durante a década de 30 apresentassem respostas piores, tanto em relação
aos movimentos permanentes do solo como aos movimentos temporários verificados. Desta
forma constatou-se que as tubagens construídas antes e durante a década de 30 devem ter
sido consideradas como apresentando um mau desempenho funcional, devendo ainda serem
identificadas como sendo vulneráveis às deformações referidas. Aparentemente estas
tubagens não beneficiaram do mesmo tipo de controle de qualidade verificado durante a
construção das tubagens mais recentes.
O sismo de São Fernando, pela proximidade do epicentro e pelos danos que causou,
em infra-estruturas do tipo auto-estradas e passagens superiores, aliada ao facto de ter
proporcionado pela primeira vez um conjunto de registos de sismos diversificados, tornou-se
um marco importante para a engenharia sísmica. Este sismo permitiu detectar as deficiências
de projecto de infra-estruturas, pondo em causa determinadas técnicas seguidas até então
(Sousa Oliveira et al., 1995).

57
2.7.3.4 Sismo de Northridge – Califórnia (1994)

O sismo de Northridge ocorreu pelas 4:31 horas da manhã (hora local) do dia 17 de
Janeiro de 1994, com epicentro localizado nas imediações da cidade de Northridge, situada a
aproximadamente 30 km a Noroeste de Los Angeles (Figura 2.54) (Silva, 2002). Este sismo
apresentou uma magnitude na escala de Richter estimada em 6,4 e a duração das vibrações
mais intensas foi de 15 a 20 segundos, dependendo da distância epicentral e das condições
geológicas locais. Devido a este sismo verificaram-se cerca de 57 mortos, 8000 feridos e
20000 desalojados (Sousa Oliveira et al., 1995).

Figura 2.54 – Epicentro do sismo de Northridge (Silva, 2002).

O abalo sísmico proveio de uma rotura numa falha inversa sub-horizontal na zona de
transição de alinhamento da célebre falha de Santo André, sendo possível identificar um
mecanismo de compressão. De referir que o movimento no plano da falha é de cavalgamento
(Sousa Oliveira et al., 1995).
De acordo com Sousa Oliveira et al. (1995), devido à ocorrência deste sismo
observaram-se pequenas roturas superficiais em diversas zonas, tanto nas falhas dos montes
de Santa Mónica, como em todo o vale de São Fernando. Neste segundo local, as roturas
superficiais são visíveis nos pavimentos, passeios, aterros, entre outros, correspondendo a
assentamentos diferenciais, laterais e/ou compactação (Figura 2.55).

Figura 2.55 – Roturas Superficiais em pavimentos (Sousa Oliveira et al., 1995)

58
Ainda de acordo com estes autores, os assentamentos diferenciais, relacionados com
fenómenos vibratórios do solo, correspondem a fenómenos de compressão ou de extensão. Os
casos mais relevantes localizaram-se junto do Balboa Boulevard entre as ruas Rinaldi e
Lorillard (Figura 2.56). Os movimentos de compressão, que atingiram 35 cm estão na origem
das roturas em condutas de água e de gás (com diâmetros de 1,73 m e de 0,5 m,
respectivamente), e os que atingiram 30 cm são responsáveis pelo cavalgamento das pedras
dos passeios. Relativamente a extensões, observaram-se deslocamentos diferenciais de 25 cm
que romperam em tracção das condutas de menor diâmetro. Num caso ou noutro observou-se
movimentação lateral esquerda de 15 cm.

Figura 2.56 – Mapa do Balboa Boulevard com as zonas de rede de água e gás danificadas devido a
fenómenos de compactação dos solos (Sousa Oliveira et al., 1995).

De um modo geral as infra-estruturas de apoio à cidade de Los Angeles (i.e., redes de


transportes, redes de água, esgotos, electricidade, gás, telefones e distribuição de combustível)
demonstraram danos relevantes aquando do sismo. No entanto, à excepção da rede de auto-

59
estradas, os sistemas evidenciaram elevado grau de redundância e resiliência 6. Assim,
enquanto a rede de auto-estradas teve graves problemas por um período longo de tempo, as
restantes redes reiniciaram o seu funcionamento horas ou dias após o abalo sísmico (Sousa
Oliveira et al., 1995).
Em relação às redes de água surgiram diversas roturas no sistema de abastecimento
que afectaram o fornecimento de dezenas de milhares de consumidores. O tipo mais frequente
de danos consistiu na rotura das tubagens de menor diâmetro, possivelmente devido ao
assentamento diferencial e lateral dos solos envolventes. Os danos provocados nas
instalações de tratamento de águas, correspondem a roturas em tubagens provenientes de
movimento de solos. Uma explicação para as grandes deformações de compressão e tracção
observadas reside no deslizamento para sul, com ligeira descida de um grande bloco de solo
com cerca de 400 m de comprimento, comprimindo a zona de contacto a sul, e traccionando a
norte, sendo de 50 cm o movimento total deste bloco (Sousa Oliveira et al., 1995).
Sousa Oliveira et al., 1995 conclui que embora a maior parte dos danos tenham
ocorrido em estruturas mais antigas, edificadas quando as regras construtivas não eram tão
exigentes como as que hoje em dia se praticam, houve alguns casos de estruturas
recentemente construídas com colapso generalizado. No entanto, tal como já se verificou
noutras ocorrências recentes, a observância das regras de construção sismo-resistente, quer
no que diz respeito ao projecto, quer à construção, correspondeu, de um modo geral, a bons
comportamentos estruturais.

2.7.3.5 Sismo de Kobe – Japão (1995)

O sismo de Hyogo-ken Nambu, com epicentro na Baía de Osaka, ocorreu pelas 5:47
horas da manhã do dia 17 Janeiro de 1995. Atingiu algumas das cidades em torno da referida
Baía e, em especial, a cidade de Kobe (Figura 2.57). A agência Meteorológica Japonesa
estimou a magnitude deste sismo em 7,2 na escala de Richter (Silva, 2002).

Figura 2.57 – Localização do epicentro do sismo de Kobe (Silva, 2002).

6
Resiliência, em mecânica, é a capacidade de resistência de um material ao choque.

60
As perdas provenientes do sismo de Kobe, também conhecido pelo grande sismo de
Hanshin, foram imensas. Ao todo registaram-se mais de 6400 mortes e 15000 feridos, os
incêndios consumiram cerca de 82 hectares de terrenos urbanos, e mais de 400000 edifícios
foram danificados, sendo que 100000 colapsaram totalmente. Duzentas mil unidades
habitacionais foram parcial ou totalmente destruídas, e 85% das escolas da região, muitos
hospitais, e outras importantes instalações públicas sofreram severos danos (1995 Kobe
Earthquake, 2005).
A liquefacção dos solos foi particularmente destrutiva nas zonas portuárias, Port Island
e Rokko Island, que correspondem a zonas de aterro (Silva, 2002) (Figura 2.58).

Figura 2.58 – Danos ocorroridos na região Kobe-Osaka, em Port Island e em Rokko Island (Laity, 2005).

Aquando do sismo de 1995, verificou-se que os sistemas de água, de gás e de esgotos


sofreram danos generalizados, e registaram-se extensivos estragos ao nível de infra-estruturas
de transporte ferroviário, de transporte viário, e em instalações portuárias. Registando-se para
a rede de abastecimento de água roturas que ascenderam a 3600 nas redes primárias e
134000 em redes secundárias (Proença, 2000). O desempenho das redes durante este
fenómeno foi bastante variado, enquanto a rede eléctrica e as telecomunicações foram
restabelecidas muito rapidamente, o fornecimento de gás e de água demoraram
consideravelmente mais tempo (Silva, 2002). De evidenciar que mais de 845000 famílias
viram-se privadas de serviços de gás por mais de 2,5 meses, a restauração de sistemas de
água e de esgotos de 1,27 milhões de famílias demorou 4 meses nalgumas regiões e o
processo de reconstrução das linhas ferroviárias e viárias foi acelerado, mas ainda demorou
muitos meses para ser concluído (Figura 2.59) (1995 Kobe Earthquake, 2005).

61
Figura 2.59 – Danos observados em tubagens devido a deformações permanentes do solo (Silva, 2001).

O sismo de 1995 foi o evento sismológico mais significativo no Japão desde 1923, data
da ocorrência do sismo Kanto. Por conseguinte, o evento incitou a novos programas de
pesquisa em todos os aspectos de engenharia sísmica, sismologia, e gestão de desastre, tanto
no Japão como em todo o mundo. Este abalo sísmico realçou a importância da mitigação 7 do
risco para ambientes urbanos complexos dependentes de sofisticados sistemas de transporte,
comunicação e de sistemas de infra-estruturas de abastecimento. Serviu também para ilustrar
a forma como o grau de dano difere, dependendo de uma combinação de perigo, exposição, e
de vulnerabilidade e da necessidade de estudos probabilísticos para a avaliação dos riscos
(1995 Kobe Earthquake, 2005).
Este sismo foi considerado o primeiro teste real ao código Japonês de edifícios pós
1981. As estruturas construídas com este novo código, em geral, tiveram um bom
desempenho. As modificações do código foram aprovadas no início de 1980 proibindo o uso de
betão armado não dúctil em estruturas, em prol do uso de betão armado dúctil. As novas
estruturas apresentavam maior flexibilidade, permitindo desta forma resistir a fortes vibrações
no solo experienciadas no sismo de Kobe.

2.7.3.6 Sismo de Izmit – Turquia (1999)

Aproximadamente pelas 3 horas da manhã (hora local) do dia 17 de Agosto de 1999,


as províncias de Kocaeli e Sakaraya no noroeste da Turquia foram atingidas por um sismo de
magnitude 7,4. Estas regiões eram densamente povoadas e incluíam o centro industrial da
Turquia. De referir que, os principais colapsos de edifícios residenciais e industriais ocorreram
nas cidades ao longo da costa sul do Mar de Marmara (Golcuk de Yalova) e nas cidades de
Izmit e Adapazari (Figura 2.60) (Gillies et al., 2001).

7
Mitigação consiste em minimizar ou eliminar as perdas e danos, mediante o controlo do processo e/ou a
protecção dos elementos expostos, reduzindo a sua vulnerabilidade.

62
Figura 2.60 – Mapa da localização do epicentro do sismo de Izmit e as regiões afectadas (Gillies et al.,
2001).

O sismo foi extremamente devastador (Figura 2.61) tendo morrido aproximadamente


16000 pessoas, cerca de 20000 foram declaradas desaparecidas, 120000 habitações foram
danificadas, das quais 2000 colapsaram e 4000 sofreram danos muito importantes e tiveram
que ser destruídas. Além disso, cerca de 600000 pessoas ficaram sem abrigo (Silva, 2002).

Figura 2.61 – Colapso de uma ponte em Arifiye, devido ao sismo de Izmit (Gillies et al., 2001).

Este abalo sísmico causou danos significativos devido a liquefacções e


escorregamentos laterais do solo, tanto nas zonas mais para o interior como nas zonas
costeiras da Baía de Izmit e do Lago Sapanca. Observaram-se ainda casos mais ou menos
gravosos de submersão das zonas costeiras, tendo-se verificado que vários quilómetros
quadrados de terra ao longo da Baía de Izmit e do lado Sapanca foram inundadas e invadidas
pelo mar e pelo lago. Aparentemente foi a primeira vez que, durante um sismo, a submersão
ocorrida numa área extensa de falhas em degrau foi responsável pela inundação de zonas
costeiras muito populosas e industrializadas. Como tal, as observações efectuadas na
sequência do sismo de Kocaeli mostram que as deformações da superfície associadas a
grandes roturas ao nível das falhas podem ser difíceis de prever (Silva, 2002).
Nas áreas fortemente danificadas em redor do Golfe de Izmit e da cidade de Adapazari,
os sistemas de abastecimento de água dentro das cidades ficaram fora de serviço,
imediatamente a seguir ao sismo. Existem três fontes de redes potáveis de abastecimento de

63
água para as regiões: o reservatório de Gokce perto de Yalova, que serve a população de 13
cidades desde Yalova até Golcuk, o reservatório de Kullar no Izmit Water Project que abastece
19 cidades desde Golcuk até Gebze e o Lago de Sapanca que serve a área de Adapazari
(Gillies et al., 2001).
De acordo com, Gillies et al. (2001), não houve relatos de danos significativos em
reservatórios, estações de bombagem, ou estações de tratamento, mas, num curto prazo,
todas estas infra-estruturas perderam a capacidade de bombagem e de tratamento, e o
sistema principal de alimentação teve roturas em várias condutas, em particular onde as
tubagens cruzavam falhas. Dentro das cidades, as redes de distribuição tiveram danos
extensos devido à rotura de terras e devido a fenómenos de liquefacção e de assentamentos.
Antes do abalo sísmico, a água para abastecer Adapazari provinha do Lago Sapanca,
através de uma estação de bombagem localizada em Esentepe, numas montanhas acima do
Lago. Clorídrico em forma de gás foi adicionado à água, na estação de bombagem de
Esentepe, e por gravidade era conduzida através de duas tubagens de aço, uma de 1200 mm
de diâmetro, para a estação de tratamento de água localizada em Maltepe, no Distrito de
Adapazari, e uma segunda tubagem de 700 mm de diâmetro passava a estação de tratamento
e ia directamente abastecer a rede urbana de alguns subúrbios, incluindo Serdivan (Gillies et
al., 2001).
Imediatamente após o sismo de Izmit, também designado por Kocaeli, as estações de
bombagem e de tratamento de água foram destruídas. Verificaram-se severos danos nas duas
condutas de alimentação e danos extensos na rede de distribuição dentro do Distrito
Adapazaru. Com o tempo, as infra-estruturas hidráulicas, referidas anteriormente, foram
restauradas e as principais roturas nas tubagens de alimentação foram reparadas (Gillies et al.,
2001).
Este mesmo sismo constituiu um bom exemplo de como a compressão longitudinal
afecta as tubagens. A compressão longitudinal tem evidenciado ser das maiores causas de
danos em tubagens devido à ocorrência de sismos. Segundo estudos efectuados por Richie
(2003) é importante evitar, se possível, a colocação de infra-estruturas críticas sobre linhas de
falha. De notar que infra-estruturas críticas são as instalações físicas e de tecnologia de
informação, redes, serviços e bens, as quais, se forem interrompidas ou destruídas, provocarão
um sério impacto na saúde, na protecção, na segurança e no bem-estar económico dos
cidadãos. As infra-estruturas críticas abarcam vários sectores da economia, incluindo o sector
bancário e financeiro, os transportes e a distribuição, a energia, os serviços públicos, a saúde,
o abastecimento alimentar e as comunicações, bem como certos serviços administrativos de
base (Comissão das Comunidades Europeias, 2004).
Ainda relativo às pesquisas de Richie (2003), este autor constatou que com a
aprendizagem dos erros, é possível o melhoramento dos códigos da prática de construção que
podem salvar vidas em futuros sismos. O sismo de Kocaeli mostrou que o encurtamento das
tubagens e a compressão destas, devido aos movimentos do solo, reflecte um sério problema
de projecto relacionado com o zonamento do território, com o plano arquitectónico e com os

64
processos construtivos a implantar no local da obra. Neste sismo, muitas das recentes
tubagens dúcteis resistiram aos movimentos do solo.

2.7.3.7 Sismo de Chi-Chi – Tailândia (1999)

A Tailândia encontra-se localizada no anel de fogo do Pacífico onde a ocorrência de


abalos sísmicos é bastante frequente. O sismo de Chi-Chi que teve lugar dia 21 de Setembro
de 1999 foi particularmente destrutivo, apresentando uma magnitude estimada em 7,3. A
activação da falha Chelungpu (Figura 2.62) provocou o maior deslocamento vertical, valor
superior a 10 m, e um comprimento de rotura observado em mais de 100 km. Como
consequência deste facto, a parte central da Tailândia foi fortemente atingida, registando-se
mais de 2490 mortos, 11300 feridos graves, o colapso total de 52753 edifícios e 54406 edifícios
ruíram parcialmente (Shih e Chang, 2006).

Figura 2.62 – Localizaçao da falha de Chelungpu (fonte: http://www.rcep.dpri.kyoto-


u.ac.jp/~mori/ChelungpuDrilling).

O sismo de Chi-Chi teve bastante influência na vida e no desenvolvimento da


sociedade Tailandesa, sendo isto denunciado pelo facto dos sistemas de distribuição de água
se encontrarem no seio de infra-estruturas destruídas, pela ocorrência deste fenómeno natural.
De acordo com uma investigação preliminar dirigida pelo Conselho Nacional de Ciência do
Instituto Central Meteorológico da República Popular da China (“Central Weather Bureau of the
Republic of China” – ROC) tanto estações de tratamento de água como condutas enterradas
sofreram danos generalizados/extensos, sendo que muitas destas infra-estruturas hidráulicas
(i.e., estações de tratamento de água) ficaram fora de serviço. Os danos ocorridos podem ser
sumarizados na Tabela 5 e as suas localizações registam-se na Figura 2.63.

65
Tabela 5 – Resumo dos danos ocorridos em estações de tratamento devido ao sismo de Chi-Chi (Shih e
Chang, 2006).

66
Figura 2.63 – Localização em planta das estações de tratamento danificadas pelo sismo (Shih e Chang,
2006).

67
Segundo pesquisas bibliográficas efectuadas por Shih e Chang (2006), as principais
causas de rotura das condutas de água, provenientes do abalo sísmico de Chi-Chi, foram as
vibrações do solo (48%), os deslocamentos verticais do terreno (16%), os deslocamentos
horizontais do solo (9%), o colapso de terrenos (11%), as fendas ou buracos existentes no solo
(10%), a liquefacção (2%) e outros (4%). De referir que o fenómeno de liquefacção apresentou
uma percentagem diminuta, cerca de 2%, visto a maioria das zonas, que foram severamente
liquefeitas, estavam localizadas em margens de rios, campos de golfe, e zonas portuárias, em
vez de cidades populosas. Embora se tenha dito que a grande percentagem de danos
provocados em tubagens, ao longo da falha de Chelungpu, se devesse aos relevantes
movimentos permanentes do solo, derivados dos grandes valores de picos de aceleração do
solo (PGA) e de picos de velocidade no solo (PGV), registados nessa falha, Shih e Chang
(2006) acreditam que movimentos do solo, por si só, também poderiam causar elevados
estragos. Os autores Shih e Chang escolheram o estudo dos parâmetros PGA e PGV entre
muitos outros não só pelas razões acima expostas, mas também porque ambos são os
parâmetros mais frequentemente referidos nos estudos de engenharia sísmica e possuem um
importante significado na análise do dano em sistemas vitais enterrados. Devido ao enorme
potencial risco sísmico desta zona, a estimativa de perdas devido à ocorrência de um sismo é
especialmente importante para o governo desenvolver medidas de protecção.
As condutas de água são, em geral, constituídas por vários tipos de materiais, tais
como Policloreto de Vinilo (PVC), Ferro Fundido Dúctil (DI), Ferro Fundido (CI), Aço (S),
Polietileno (PE), entre outros. Shih e Chang seleccionaram algumas das cidades mais
afectadas pelo sismo de Chi-Chi (Figura 2.64), para realizarem uma análise sobre a fragilidade
das condutas de água, para tal fizeram levantamentos acerca do número de reparações, para
cada tipo de material de tubagem e comprimento das mesmas (Tabela 6).

Figura 2.64 –Localização das áreas de estudos sobre a fragilidade e condutas (Shih e Chang, 2006).

68
Tabela 6 – Comprimento e número de reparações para cada tipo de material de tubagem na área em
estudo (Shih e Chang, 2006).

Os dados obtidos evidenciaram que a maioria das tubagens, cerca de 86%, era
constituída por PVC. O diamentro nominal das condutas de água estava compreendido entre

69
25 a 500 mm, e aquelas com diâmetro inferior a 65 mm foram, maioritariamente, utilizadas nas
ligações entre as tubagens de distribuição de água e os ramais domiciliários.

Em conclusão deste capítulo, o movimento do solo em cada local onde os sismos são
sentidos, só por si, não causa vítimas. Estas devem-se, fundamentalmente, aos danos e
colapsos de construções com resistência sísmica insuficiente. Por isso, as consequências
humanas e económicas dos sismos dependem fortemente da resistência sísmica das
construções nas zonas afectadas. Conclui-se, assim, que, embora os sismos sejam fenómenos
naturais, as suas consequências são resultado da acção do homem, por serem inversamente
proporcionais às precauções tomadas para evitar os danos. A Figura 2.65 ilustra esta
afirmação porque duas construções próximas na Ilha do Faial, sujeitas ao mesmo sismo em
1998, apresentam danos muito diferentes devido à diferença de resistência sísmica entre
ambas (Lopes & Leite, 2005).

Figura 2.65 – Diferença de vulnerabilidade entre edifícios: Sismo do Faial de 9 de Julho de 1998 (Lopes e
Leite, 2005).

70
3. MODELOS COMPUTACIONAIS

3.1 Componente hidráulica

O uso de modelos matemáticos já faz parte da rotina de projecto, assim como na


gestão e controlo dos sistemas hidráulicos e, em especial, na previsão do comportamento
dinâmico para diferentes características do sistema e condições operacionais normais,
acidentais e de emergência.
Actualmente já existem importantes avanços no que respeita à modelação dos
escoamentos e na simulação do comportamento do sistema como um todo, permitindo ao
projectista conhecer a resposta dinâmica e identificar eventuais limitações operacionais. É
aconselhável a modelação computacional em todas as fases de um projecto (i.e., estudos
prévios, projecto para concurso e projecto final de execução), por forma a conhecer-se a
pressão máxima e mínima e a sua evolução ao longo do tempo e do circuito hidráulico. Só
assim é possível especificar os procedimentos de controlo relativamente aos tipos de efeitos
dinâmicos que podem ocorrer (e.g., variações de pressão e velocidade, efeitos dissipativos e
de desfasamento das ondas elásticas) e qual a melhor forma de os controlar. Este tipo de
análise depende de vários factores: (i) tipos de acções (e.g., tipo de manobras no equipamento
hidromecânico, ocorrência de fugas e efeitos de variação de velocidade em grupos
turbogeradores ou electro-bombas); (ii) análise do comportamento dos materiais das condutas
e dos seus apoios; (iii) características e respostas dos dispositivos especiais de protecção mais
adequados a cada situação (Ramos, 2004).
O recurso a técnicas de computação avançadas permite efectuar a análise e a
simulação de diferentes cenários, por forma a conseguir-se uma maior eficácia na optimização
da solução final a adoptar. Deste modo, a utilização de critérios simplificados ou formulações
semi-empíricas na estimativa dos valores extremos de pressão do escoamento ao longo do
circuito hidráulico, em geral baseados no tempo de duração da manobra, pode conduzir a
resultados pouco fiáveis ou a soluções menos económicas. Só a modelação computacional
integrada permite obter uma resposta global rápida para as diferentes situações, assim como, a
optimização das regras de controlo do equipamento (e.g., especificação dos tempos de
manobra de abertura e fechamento de válvulas, arranque e paragem de grupos) e uma melhor
selecção dos dispositivos de protecção a adoptar (Ramos, 2004).
A análise de regimes transitórios pode ser feita a diversos níveis consoante o grau de
detalhe necessário e a importância do fenómeno para o estudo em questão. Esta análise vai
desde a utilização de fórmulas simplificadas até à utilização de complexos modelos de
simulação.
De acordo com estudos de Ramos (2004) e Covas e Ramos (2006) existem fórmulas
simplificadas que permitem ter, rapidamente, uma primeira aproximação do valor da variação
de pressão induzida numa conduta em função da duração da manobra efectuada. Na

71
derivação destas formulações, admite-se que a conduta tem características uniformes em todo
o seu desenvolvimento e que são desprezáveis as perdas de carga contínuas e localizadas e a
altura cinética do escoamento. Para manobras de fechamento total rápido (i.e., T*<2L/a0) para
um caudal em regime permanente de Q0, a sobrepressão máxima induzida junto ao obturador
pode ser estimada de forma aproximada pela fórmula de Frizel-Joukowsky (HJ), e para
manobras lentas (i.e., T*>2L/a0) do tipo linear, a variação máxima de pressão obedece à
fórmula de Michaud (HM):
𝑎 0 𝑄0 2𝐿
∆𝐻𝐽 = 𝑇∗ ≤ 𝑎 (1)
𝑔𝑆 0

2𝐿 𝑄0 2𝐿
∆𝐻𝑀 = 𝑇∗ ≥ 𝑎 (2)
𝑇 ∗ 𝑔𝑆 0

sendo:
T* = duração da manobra (s); L = comprimento da conduta (m); S = secção transversal
da conduta (m2); Q0 = caudal inicial (m); e a0 = celeridade da onda elástica (m/s).

Estas fórmulas podem ser utilizadas para obter um valor de referência dos valores das
variações de pressão máximas e mínimas induzidas. No entanto, devem ser usadas com
parcimónia, uma vez que as manobras não são usualmente lineares nem as perdas de carga
desprezáveis, induzindo variações de pressão mais elevadas no sistema do que as obtidas por
estas formulações (e.g., devido ao efeito de empacotamento ou tempos efectivos de
fechamento muito inferiores ao tempo de duração da manobra).
Na elaboração do modelo de cálculo para os elementos do tipo conduta em pressão,
admitem-se como válidas as seguintes hipóteses simplificativas: (i) o fluido transportado é
pouco compressível (líquido); (ii) as distribuições da velocidade e da pressão são uniformes em
cada secção transversal da conduta ( α = α´= 1); (iii) o comportamento reológico do líquido e
do material da conduta é elástico e linear (desprezam-se as forças de inércia da conduta); (iv) o
escoamento é homogéneo e monofásico; (v) a altura cinética do escoamento é desprezável
face à altura piezométrica; (vi) são válidas durante os regimes transitórios as expressões para
a determinação das perdas de carga contínuas deduzidas para o regime permanente e
uniforme (hipótese quasi-estacionária) (Ramos 1989, Ramos 2003).
As equações do movimento transitório são obtidas de duas equações diferenciais que
representam a equação da dinâmica (ou da conservação da quantidade de movimento) e a
equação da continuidade (ou da conservação da massa).
A equação da dinâmica é dada por:
𝜕𝑄 𝜕𝐻
+ 𝑔𝐴 𝜕𝑥 + 𝑅𝑄 𝑄 = 0 (3)
𝜕𝑡

A equação da continuidade é dada por:

72
𝜕𝐻 𝑐 2 𝜕𝑄
+ 𝑔𝐴 𝜕𝑥 = 0 (4)
𝜕𝑡

sendo:
𝑝
𝐻 = 𝑔𝜌 + 𝑧 a cota piezométrica acima do nível de referência;

𝑄 = 𝑉. 𝐴 o caudal;
𝐽 ∆𝑥
𝑅= o coeficiente de resistência ou perda de carga continua.
𝑄2

De referir que estas equações (3) e (4) não têm uma solução geral conhecida, mas
pelo método das características (MC) podem ser convertidas em equações com derivadas
totais, válidas ao longo das linhas características definidas pelo plano (x,t):

𝑐
𝑑𝐻 + 𝑔𝐴 𝑑𝑄 + 𝐽𝑑𝑥 = 0 (5)

para: 𝑑𝑥 = +𝑐𝑑𝑡

𝑐
𝑑𝐻 − 𝑔𝐴 𝑑𝑄 + 𝐽𝑑𝑥 = 0 (6)

para: 𝑑𝑥 = −𝑐𝑑𝑡

A integração das equações (5) e (6) é, regra geral, executada utilizando um esquema
de diferenças finitas, segundo um esquema explícito e com intervalo de tempo especificado ao
longo das linhas características (técnica dos intervalos de tempo especificados), (Figura 3.1):

Figura 3.1 – Método das características. Malha de cálculo e linhas características (adaptado de Ramos,
1989; Ramos, 2003).

As designações C+ e C- são consistentes com o sentido positivo do eixo do elemento


conduta, que se convenciona ter o sentido do nó de montante para o nó de jusante. Após a

73
integração das equações (5) e (6) e considerando a malha de cálculo da Figura 3.1, obtêm-se
as seguintes equações características:

 Equação característica C+ (ao longo das linhas C+):


𝐻𝑃 − 𝐻𝐴 + 𝐵 𝑄𝑃 − 𝑄𝐴 + 𝑅𝑄𝐴 𝑄𝐴 = 0 (7)

 Equação característica C- (ao longo das linhas C-):


𝐻𝑃 − 𝐻𝐵 − 𝐵 𝑄𝑃 − 𝑄𝐵 − 𝑅𝑄𝐵 𝑄𝐵 = 0 (8)

onde:
𝐶1 +𝐶2 𝐶1 −𝐶2
𝐻𝑃 = e 𝑄𝑃 = (9)
2 𝐵

sendo:
𝐶1 = 𝐻𝐴 + 𝐵 − 𝑅|𝑄𝐴 | 𝑄𝐴 (10)

𝐶2 = 𝐻𝐵 + 𝐵 − 𝑅|𝑄𝐵 | 𝑄𝐵 (11)
𝑐
𝐵 = 𝑔𝐴 (12)

𝐽 ∆𝑥
O coeficiente de perda de carga contínua é definido por 𝑅= sendo J a perda de
𝑄2

𝐾
carga unitária e a celeridade das ondas elásticas dada por 𝑐 = 𝐾 .
𝜌 1+ Ψ
𝐸

De referir que as equações (9) permitem o cálculo dos valores das variáveis H e Q em
cada secção P da malha de cálculo, em função do valor calculado no instante anterior e nos
pontos A e B correspondentes a secções vizinhas sendo igualmente necessário a
caracterização das condições de fronteira (Ramos, 1989 e Ramos, 2003).

3.2 Componente estrutural

Os fenómenos físicos subjacentes a muitos problemas de engenharia são descritos por


equações, algébricas e diferenciais, que relacionam as diversas variáveis em jogo. De um
modo geral, apenas é possível obter soluções analíticas do problema para situações
relativamente simples, por exemplo, domínio com formas geométricas elementares, e casos
particulares de condições de fronteira. Para situações mais complexas, como é a maioria das
que se encontram em problemas de engenharia, é necessário recorrer a métodos conducentes
a soluções aproximadas, mas que garantam rigor suficiente para a aplicação em vista.
Presentemente, os métodos numéricos são os mais utilizados, nomeadamente o método dos
elementos finitos, o qual apresenta grande generalidade e versatilidade (Lemos, 2005).
O método dos elementos finitos é um método numérico que permite obter soluções
aproximadas de problemas de valores de fronteira, com base numa discretização do domínio

74
do problema. Esta discretização consiste na divisão do domínio em domínios elementares, os
elementos finitos. No interior de cada elemento, admite-se uma aproximação das variáveis do
problema por funções relativamente simples, por exemplo, funções polinomiais. Com base
nesta aproximação, o andamento das variáveis no interior de cada elemento pode ser definido
pelos valores que as variáveis (ou, por vezes, as suas derivadas) assumem em certos pontos
particulares, os pontos nodais do elemento. Deste modo, o problema teórico, envolvendo um
meio contínuo, é transformado através do método numérico num problema discreto, em que a
solução aproximada, para todo o domínio, e definida por um número finito de parâmetros, que
correspondem aos valores das variáveis nos pontos nodais. Estas variáveis nodais são as
incógnitas do problema discreto. A sua determinação requer um critério que permita definir qual
a melhor solução numérica de entre as várias soluções possíveis para uma dada discretização.
Um maior número de elementos de pequenas dimensões, isto é uma discretização mais fina,
conduz a uma solução numérica mais próxima da solução exacta (Lemos, 2005).
O programa SAP2000 é um programa de elementos finitos que permite determinar o
desempenho estático ou dinâmico de sistemas estruturais, assim como, proceder à elaboração
de análises lineares ou não-lineares desses mesmos sistemas.
Além de ser um sistema de análise e concepção/dimensionamento estrutural que
permite aos utilizadores criarem e testarem um modelo animado das suas estruturas, permite
também calcular pesos próprios, forças resultantes, momentos, deformações, entre outros.
O método de elementos finitos obtém a solução minimizando a energia funcional em
cada elemento. Esta solução é baseada no princípio do trabalho virtual, o qual estabelece que
se uma partícula se encontra em equilíbrio sob um sistema de forças, assim para qualquer
deslocamento, o trabalho virtual é zero, princípio básico da mecânica dos meios contínuos,
como utilizado no modelo hidráulico.
Cada elemento estrutural finito terá a sua própria e única energia funcional. Como
exemplo, em análise de esforços, as equações que regem os corpo rígidos contínuos podem
ser obtidas pela minimização do potencial energético total do sistema. O potencial total pode
1
ser expresso através de: Π = 2 Ω
σT εdV − Ω
dT bdV − Γ
dT qdV onde  e  são os vectores

das componentes das tensões e deformações em qualquer ponto, d é o vector dos


deslocamentos em qualquer ponto, b é o vector das forças em cada elemento por unidade de
volume, e q é o vector das componentes de tracção aplicada à superfície do volume de
controlo em qualquer superfície. O primeiro termo do membro do lado direito dessa equação
corresponde à energia de tensão e o segundo e terceiro termos são respectivamente as
contribuições da energia potencial das forças em cada volume elementar e distribuídas na
superfície de controlo. As deformações dentro de cada elemento podem ser expressas em
termos dos deslocamentos nodais como  = B u em que B é a matriz deformação. Finalmente,
as tensões podem ser relacionadas com as extensões/deformações através da utilização da
matriz de elasticidade (e.g., módulo de Young) com  = E .

75
De referir que este programa, SAP2000, pode ser utilizado em diversas estruturas,
como por exemplo, em pontes, em estádios, em torres, em estruturas industrias, em sistemas
de condutas, em edifícios, em barragens, em solos.

76
4. APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO

4.1 Introdução

Neste capítulo analisa-se um caso prático, referente a um invulgar acidente ocorrido


num dos principais sistemas de distribuição de água da cidade de Lisboa, localizado na zona
de Telheiras, que originou alguns danos nas tubagens, bem como, o deslocamento das
mesmas nalguns pontos do sistema. Nos tópicos seguintes fazer-se-á uma breve descrição do
sistema em análise e do acidente ocorrido. Desde o início da elaboração desta dissertação que
este caso prático já fazia parte de algumas análises desenvolvidas, tanto a nível hidráulico
como estrutural, pelo que o principal objectivo deste estudo se concentrou mais
especificamente na análise das acções que produzem efeitos semelhantes, em particular a
sensibilização aos efeitos causados pela actuação de um sismo e pelo diferencial de pressão
no batente de uma válvula no mesmo sistema e posterior comparação desses resultados, a
nível de deslocamentos e esforços associados, com os obtidos na situação real. Esta análise é
baseada na modelação hidráulica, através do método das características (modelo WANDA
Engineering 3.53 - Delft Hydraulics) e estrutural das componentes críticas do sistema através
de um programa de cálculo estrutural avançado, modelo SAP 2000, como será evidenciado
nos subcapítulos 4.6 e 4.7.

4.2 Descrição do sistema

Actualmente, o sistema de abastecimento de água, que se desenvolve desde o


reservatório da barragem de Castelo de Bode até à cidade de Lisboa, apresenta uma extensão
de 2100 km.
A água potável produzida é transportada por diferentes sistemas de transporte que têm
uma capacidade de 240000 m3/dia. A EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres) abastece
água de qualidade e quantidade para cerca de 3 milhões de pessoas, numa área total de 7000
km2. De notar que o sistema de abastecimento de água a Lisboa se encontra dividido em
diferentes zonas caracterizadas pelas respectivas cotas topográficas.
Telheira é um dos reservatórios localizados na Zona Superior que recebe água para,
posteriormente, abastecer a cidade de Lisboa, bem como Sintra e Amadora.
O sistema de bombagem contém três conjuntos de bombas em paralelo (3 para a Zona
Superior (3x800 m3/h) + 3 para a Amadora (3x900 m 3/h) + 4 bombas para Sintra (4x1280 m 3/h
e H=120m)), que são alimentadas por um grande reservatório de água através de duas
condutas de aço (d=1,00 m), identificadas na Figura 4.1 por CRE e CRD. Estas tubagens
encontram-se ligadas à principal conduta horizontal de aço denominada de CPC (d=1,60 m),
colocada sobre apoios de betão com eixo ao nível 117,60 m. Por sua vez, esta tubagem (CPC)
está ligada aos grupos elevatórios (bombas), assim como, a outra conduta (d=1,00 m) cujo eixo

77
se localiza à cota de 126,62 m. De referir que a conduta CPC apresenta duas válvulas de
seccionamento designadas por válvulas de borboleta (identificada por V58 e V59) e uma
terceira válvula colocada na parte superior da conduta (V53) (Almeida e Ramos, 2007).

Figura 4.1 – Esquema da estação de bombagem (Almeida e Ramos, 2007).

As válvulas V58 e V59 conseguem isolar três diferentes trechos de tubagens: (i) trecho
D ligado às três bombas da Zona Superior; (ii) trecho intermédio ligado à estação de
bombagem da Amadora; (iii) trecho E ligado à estação de bombagem de Sintra. Entre a válvula
V53 e o trecho final da conduta CPC, ou seja, trecho D, existem várias juntas. Esta tubagem
principal (CPC) encontra-se amarrada a maciços de betão através de apoios de aço embebidos
no betão. Como consequência a conduta CPC pode ter pequenos movimentos ao longo do
eixo, uma vez que está simplesmente apoiada (Almeida e Ramos, 2007).
Ainda referente ao mesmo sistema de bombagem, existem dez tubos de sucção
(d=0,40 m) que ligam a conduta CPC às bombas e uma conduta secundária (designada de “by-
pass”) (d=0,40 m) que une a tubagem de alta pressão de Sintra (d=1,00 m) à CPC. A conduta
“by-pass” tem uma válvula de seccionamento, válvula VBP (Almeida e Ramos, 2007).
Na Figura 4.2 é possível ver a estação elevatória, assim como, as plataformas dos
reservatórios, as tubagens de aspiração, o nível de água dentro dos reservatórios, a conduta
CPC, a conduta “by-pass” e a válvula V59.

78
Figura 4.2 – Pormenores da estação elevatória de Telheiras. Sistema de abastecimento da EPAL
(Almeida e Ramos, 2007).

4.3 Acidente ocorrido no sistema

Antes do acidente o sistema operava nas seguintes condições:


 Válvulas: V53 – fechada; V58 – aberta; V59 – aberta; V8 – aberta; V12 – aberta;
VBP – fechada;
 Bombas: Zona Superior – duas bombas em funcionamento (780 + 820 m 3/h);
Amadora – três em funcionamento (900 + 1030 + 900 m 3/h); Sintra – fora de
serviço;
 Nível do reservatório: 129,00 m.

Para se proceder a operações de rotina e à substituição de válvulas, o sistema


elevatório de Sintra foi retirado de serviço. A válvula V59 é fechada manualmente, com o intuito
de se isolar o trecho E. De notar que este procedimento é efectuado pela primeira vez ao fim
de 20 anos de funcionamento do sistema, e passados 15 minutos a válvula V59 está
completamente fechada. Repentinamente e após o fechamento da válvula a conduta CPC
desloca-se e a válvula V59 mexe-se 0,065 m em direcção à válvula V58 e a junta JP2 abre
quase por completo (0,07 m) e o trecho E da conduta move-se 0,015 m na direcção oposta, tal
como é visível na Figura 4.3. Muitos deslocamentos são detectados no sistema na zona da
estação elevatória (EE) incluindo as tubagens CRE e CRD e nos tubos de ligação às bombas
(Figura 4.4). Na Figura 4.5 são notórias as roturas em alguns blocos de apoio.
Depois do acidente, a válvula V59 é aberta lentamente e o sistema retoma o seu
funcionamento sem qualquer tipo de movimento (Almeida e Ramos, 2007).

79
Figura 4.3 – Esquema dos deslocamentos observados aquando da ocorrência acidental na EE (Almeida e
Ramos, 2007).

Figura 4.4 – Fotografias dos diferentes deslocamentos na EE (Almeida e Ramos,2007).

Figura 4.5 – Rotura nos blocos de apoio das condutas (Almeida e Ramos, 2007).

80
4.4 Análise de diagnóstico

Após a ocorrência do acidente descrito no subcapítulo 4.3, efectuaram-se inspecções


de peritagem e todos os componentes do sistema são analisados em detalhe. No decorrer
deste procedimento descobre-se que a válvula VBP se encontra ligeiramente corroída (Figura
4.6), permitindo a passagem de um pequeno fluxo de escoamento. Procede-se à medição dos
deslocamentos observados.

Figura 4.6 – Válvula VBP apresentando elevado nível de corrosão (Almeida e Ramos, 2007).

Baseado nessa inspecção e nos deslocamentos verificados nas condutas, é


desenvolvida uma análise conceptual preliminar, onde diversas possibilidades foram
consideradas sendo que apenas uma delas foi escolhida como a mais provável para a
identificação das causas deste acidente (Figura 4.7).

Figura 4.7 – Procedimento para a identificação das causas do acidente (adaptado de Almeida e Ramos,
2007).

81
Como resultado da análise do caso em estudo, Almeida e Ramos (2007) chegaram às
seguintes explicações: (i) a válvula VBP permitia o escoamento devido a diferentes frentes de
pressão entre a conduta de Sintra e a conduta principal CPC; (ii) depois do fechamento da
válvula V59, a conduta CPC ficou com dois trechos isolados: um trecho entre a válvula V59 e a
válvula V57 que recebia o fluxo de escoamento proveniente da conduta “by-pass”, através da
válvula VBP, e outro trecho entre a válvula V59 e a tubagem que se encontrava na extremidade
D, ligado a um grande reservatório localizado à cota 139,00 m; o escoamento ocorrido através
da válvula VBP possibilitou a transferência de pressões aumentando, consequentemente, a
pressão interna entre as válvulas V59 e V53; a existência de um desequilíbrio de forças na
válvula V59, originou o deslocamento do sistema de condutas.
A corrosão na válvula VBP pode ter ocorrido devido a diferentes circunstâncias. De
facto, a água estava estagnada há algum tempo desenvolvendo-se camadas de limo perto da
válvula, o que induziu a criação de um ambiente anaeróbio e uma favorável actividade
microbiológica. Em condições anaeróbias, com presença de sulfatos e conteúdo orgânico na
maior parte de água, ocorre a redução dos sulfatos para sulfuretos por microorganismos, tais
como as Desulfovibrio Desulfuricans, com deposição de sulfureto de ferro que ataca a
superfície da válvula. Depois do desenvolvimento de pontos de corrosão e pequenos orifícios,
a diferença de pressão entre os dois lados do batente da válvula induziu o escoamento através
desses pequenos orifícios. Outra possibilidade seria a corrosão química local da válvula,
devido à qualidade da água, mais precisamente, devido a altas concentrações de oxigénio
dissolvido, uma significativa condutividade eléctrica do líquido e elevadas concentrações de
cloretos e/ou nitratos e/ou sulfatos. Todos estes factores podem ter contribuído para o início de
corrosão química, embora a concentração de oxigénio dissolvido (condições aeróbias) seja
vista como a mais importante. As condições hidrodinâmicas locais criadas após a existência de
um pequeno orifício no batente da válvula, podem ter acelerado o processo de corrosão.

4.5 Análise da zona afectada

Para uma melhor compreensão dos fenómenos intervenientes no invulgar acidente


ocorrido, procedeu-se a uma análise separada da componente hidráulica (Figura 4.8) e da
componente estrutural.

82
Figura 4.8 – Sistema hidráulico simplificado: a) condições normais de funcionamento, b) antes do acidente
(Almeida e Ramos, 2007).

No estudo hidráulico, o aumento do desequilíbrio de forças no sistema foi analisado em


pormenor através de um modelo elástico e de diferentes simulações computacionais baseadas
no método das características. A análise da pressão transitória, proveniente do fechamento da
válvula V59, e da variação de pressão na conduta CPC, devido à permissão de passagem de
líquido através da válvula VBP, foi efectuada mediante a simulação desses cenários. Foi
evidenciado o desequilíbrio da força no sistema, apresentando o valor de 765 kN (Figura 4.9 e
Figura 4.10) (Almeida e Ramos, 2007).

83
Figura 4.9 – Desequilíbrio de pressões e força resultante na válvula V59 (Almeida e Ramos, 2007).

(a) (b)
Figura 4.10 – Trecho da válvula V59 e VBP: a) em condições normais de funcionamento, b) antes do
acidente (Almeida e Ramos, 2007).

No decorrer da análise estrutural relativa à conduta CPC (esta mexeu-se 0,065 m


através da válvula V59 em direcção à válvula V58, a junta JP2 abriu 0,07 m e o trecho E da
conduta moveu-se 0,015 m na direcção oposta) diversos deslocamentos foram detectados no
sistema na zona da EE.
A análise desenvolvida foi baseada nos seguintes pressupostos: (i) compatibilidade
entre força/deslocamento; (ii) análise linear e (iii) análise estrutural 3-D. Devido ao desequilíbrio
interior da pressão ocorrido na válvula V59 e recorrendo a um modelo matemático do
escoamento dinâmico foi possível simular o efeito do escoamento ocorrido na válvula VBP e a
força induzida de 765 kN, responsável pelos deslocamentos no sistema (Almeida e Ramos,
2007).

84
Baseado em análises simplificadas, o valor da contracção da conduta pelo efeito de
Poisson devido à pressão interna de 176 m no trecho de conduta pode ser estimado em 0,015
m.
𝜐𝐿𝑝𝐷
∆𝐿1 = = 0,015 𝑚 (13)
2𝐸𝑡

sendo:
𝜐 = 0,4 o coeficiente de Poisson do aço;
L = comprimento de conduta entre apoios;
p = pressão interna no trecho de conduta;
D = valor médio do diâmetro;
E = módulo de elasticidade do material da conduta;
t = espessura da tubagem.

Devido às forças instaladas na válvula aquando do seu fechamento, registaram-se


extensões noutras tubagens. Esse deslocamento, com valor 0,065 m, ocorreu devido a
tracções induzidas pela pressão na válvula e desprezando o efeito da temperatura.

𝐿𝐹
∆𝐿2 = = 0,065 𝑚 (14)
𝜋𝐷𝐸𝑡

De referir que nesta parte do estudo também se realizou um modelo de simulação 3D


que permitiu observar as forças e deslocamentos associados a cada nó (Figura 4.11). Nesta
análise estrutural foram tidas em conta as principais forças desenvolvidas, assim como, as
características dos apoios. Obtiveram-se os deslocamentos nas condutas que foram
posteriormente comparados com os medidos, e através de uma análise inversa resultou o
verdadeiro valor da força de desequilíbrio de 850 kN (Almeida e Ramos, 2007).

Figura 4.11 – Modelo estrutural e deslocamentos nas condutas (Almeida e Ramos, 2007).

85
4.6 Modelação de acção de um sismo no sistema

4.6.1 Fundamentos

Este tópico em análise remete, numa primeira fase de testes, para a modelação da
ocorrência de um sismo num sistema simplificado onde apenas se representa a conduta
principal CPC correspondente ao Trecho Inferior e parte das condutas CRE e CRD. Numa
segunda etapa, o estudo recairá sobre o sistema de condutas prolongado, em que para além
dos trechos mencionados anteriormente, se modela também a conduta CPC relativa ao Trecho
Superior e a conduta com d=1,0 m, que faz a ligação entre a conduta CPC inferior e a CPC
superior, para melhor compreender a interacção com esses elementos e de que forma podem
influenciar a análise de resultados em termos de deslocamentos.
Em estudos anteriores nunca foram especificadas as condições de apoio das condutas,
apenas se mencionava que a conduta principal CPC poderia ter pequenos deslocamentos
axiais. Deste modo, as condições de apoio do sistema de condutas, na zona da Estação
Elevatória de Telheiras, serão também alvo de análise. O estudo focaliza-se no nó da válvula
V59, visto ter sido neste ponto do sistema onde se verificaram os maiores deslocamentos no
caso analisado anteriormente.
De referir que a acção sísmica é uma acção dinâmica sobre a estrutura, visto a sua
acção variar ao longo do tempo conforme se exemplifica na Figura 4.12 em que se visualiza a
variação da aceleração (em ordenadas) com o tempo (em abcissas).

(a) (b) (c)

(d)
Figura 4.12 – Exemplo do registo do movimento de uma conduta em laboratório através de um
sismógrafo: (a) acção longitudinal (segundo o eixo da conduta); (b) acção transversal (direcção
perpendicular ao eixo da conduta, mas no mesmo plano); (c) acção vertical; (d) Exemplo de um registo
num sistema real

86
Um dos métodos de análise dinâmica consiste em utilizar espectros de resposta para
quantificar a acção sísmica. Um espectro de resposta pretende representar o valor da
aceleração a que uma estrutura fica sujeita durante a acção sísmica. Este espectro é obtido a
partir de um acelerograma (i.e., valores de aceleração no solo em função do tempo), e baseia-
se no princípio de que a máxima resposta de um oscilador sujeito a acelerações impostas na
base só depende da frequência de vibração do oscilador e do valor do coeficiente de
amortecimento que o mesmo apresenta. Assim sendo, um espectro de resposta resulta como
um gráfico, em que se relaciona o valor da aceleração de pico em função do amortecimento e
do período (e frequência), referente a um determinado sismo (possuindo um acelerograma
específico). Apesar de ser possível simular a acção dinâmica de um sismo sobre uma estrutura
pelo procedimento anterior, é praticamente impossível construir espectros de resposta que
englobem todas as acções possíveis, uma vez que a grande variabilidade de frequências e
amplitudes que envolvem a acção sísmica, tornam-no impraticável. Como meio de solucionar
este problema, o Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes
(RSA) considera apenas dois tipos de acção sísmica, representativos dos fenómenos sísmicos
com maior probabilidade de ocorrência no território português:
Tipo 1 – Acção sísmica de magnitude moderada e pequena distância focal de alta frequência e
cm durações de aproximadamente 10 s;
Tipo 2 – Acção sísmica de magnitude elevada e maior distância focal, com baixas frequências
e com durações de cerca de 30s.

Para a maioria das estruturas que na sua vida útil poderão ser sujeitas a acções
sísmicas de grande intensidade, o seu dimensionamento assumindo um comportamento
reológico elástico-linear não é viável nem desejável por razões económicas e práticas. Deste
modo, a admissibilidade de tirar partido do comportamento não linear dos materiais para
dissipar a energia que os sismos transmitem às estruturas (com excepção de centrais
nucleares, barragens, estruturas offshore e outras estruturas especiais) tem tido uma aceitação
generalizada. Assim é possível dimensionar as estruturas para esforços substancialmente
inferiores aos que se obtêm através de análises elásticas (fonte:
http://www.civil.ist.utl.pt/~luisg/textos/Folhas2_24_5.pdf).
A possibilidade de tirar partido do comportamento não linear dos materiais e
consequentemente do sistema estrutural, deriva do facto de a acção sísmica corresponder a
deslocamentos impostos às estruturas e não a forças aplicadas. Neste caso, as forças de
restituição que se desenvolvem numa estrutura dependem das relações constitutivas dos
materiais.
Note-se, no entanto, que para tirar partido do comportamento não linear é necessário
que o oscilador possua uma significativa capacidade de se deformar para além da cedência,
sem perda significativa de capacidade resistente. Em estruturas metálicas, os danos sofridos
durante a ocorrência de um sismo estão relacionados com fenómenos tais como fractura,
instabilidade local e fadiga para um baixo número de ciclos.

87
O coeficiente de comportamento surge como o factor de proporcionalidade entre o
valor que uma dada grandeza (deslocamento, tensão, esforço) assume, se a estrutura
responder ao sismo em regime linear e o valor da mesma grandeza, se a resposta da estrutura
se der em regime não linear, ou seja, o coeficiente de comportamento é um coeficiente que
permite transformar os resultados obtidos numa análise linear, nos que se obteriam numa
análise não linear. De salientar que o RSA, assume que o coeficiente de comportamento em
deslocamento é unitário, ou seja, que o deslocamento máximo em regime não linear é
sensivelmente igual ao deslocamento que se verificaria se o comportamento fosse linear (fonte:
http://www.civil.ist.utl.pt/~luisg/textos/Folhas2_24_5.pdf).
De acordo com o Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e
Pontes (RSA), artigo 28º, para efeitos de quantificação da acção sísmica considera-se o país
dividido em quatro zonas que, por ordem decrescente de sismicidade, são designadas por A,
B, C e D. Ainda referente a este regulamento, no artigo 29º, a quantificação da acção sísmica
quanto à natureza do terreno pode ser do seguinte tipo:
Tipo I – rochas e solos coerentes rijos;
Tipo II – solos coerentes muito duros, duros e de consistência média; solos incoerentes
compactos;
Tipo III – solos coerentes moles e muito moles; solos incoerentes soltos.

4.6.2 Análise do caso de estudo

 Teste 1

Relativamente à acção sísmica considerou-se o espectro de resposta regulamentar do


sismo Tipo 1 e adoptou-se um solo Tipo II. No estudo usou-se o espectro de resposta relativo à
zona A, visto que a cidade de Lisboa se insere nesta delimitação de zona sísmica, e um
coeficiente de amortecimento de 5% (Figura 4.13).

Figura 4.13 – Espectro de resposta utilizado.

De referir que a escolha de usar o sismo Tipo 1, em detrimento do sismo Tipo 2, não
teve nenhuma razão especial, porque como o objectivo do estudo era testar a vulnerabilidade

88
sísmica do sistema de condutas e sensibilizar o projectista para a consideração deste aspecto
no dimensionamento, apenas se optou por apresentar a análise com um dos sismos.
Tal como referido anteriormente, a análise sísmica da estrutura foi feita com base em
espectros de resposta, tendo-se definido a combinação das respostas modais pelo método da
Combinação Quadrática Completa (CQC) e a combinação direccional de espectros de resposta
efectuada pelo método SRSS, garantindo que o sismo ocorre com a magnitude máxima em
ambas as direcções.
Na análise desenvolvida para a modelação do sistema simplificado adoptaram-se
alguns valores base conforme especificados nas Figuras 4.1 e 4.3, resultando para o
comprimento total da conduta CPC 66,50 m, e das condutas CRD e CRE 15,46 m. Ainda
referentes aos elementos da conduta, estes foram modelados recorrendo a secções circulares
de aço com uma espessura da parede da conduta de 0,015 m, no caso da conduta CPC e de
0,0127 m para as condutas CRE e CRD. De referir que os valores adoptados para a espessura
das paredes resultaram da consulta de dados de fabricantes. O diâmetro externo da conduta
CPC é de d=1,6 m e os restantes (CRD e CRE) são de d=1,0 m.
Quanto às condições de apoio, neste teste analisado, optou-se por permitir apenas os
deslocamentos axiais em todas as tubagens, como se pode observar na Figura 4.14.

Eixos:

Figura 4.14 – Teste 1: sistema de condutas simplificado.

Como o programa SAP 2000 não permite simular o efeito do líquido, para se ter em
conta na análise sísmica o efeito da água contida dentro das condutas adicionou-se aos
elementos de conduta como cargas distribuídas por metro de conduta, apresentando-se na
Tabela 7 os seus valores e na Figura 4.15 uma esquematização dessas cargas no sistema. De
referir que as únicas cargas que se contabilizam para a análise deste sistema são o peso
próprio das condutas e o peso da água, não apresentando sobrecargas, uma vez que estas
condutas são superficiais.
Tabela 7 – Teste 1: tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água.

dext (m) eparede (m) dint (m) Aint (m2)  (kN/m3) Págua (kN/m)
CPC 1,6 0,015 1,57 1,94 10 19,36
CRD 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CRE 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46

89
Na Figura 4.15, direcção X simboliza o eixo da conduta, a direcção Y o eixo
perpendicular à conduta mas no plano do seu eixo e a direcção Z resulta no eixo vertical.

Figura 4.15 – Esquematização do carregamento no sistema.

Efectuada a análise sísmica no programa SAP 2000 e limitando o estudo apenas aos
deslocamentos no nó da válvula, nó condicionante no caso do estudo real, obtiveram-se os
valores de deslocamentos absolutos que se mostram na Tabela 8.

Tabela 8 – Teste 1: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Máx. 1,8129 0,1089 -0,2026
Nó da válvula V59 Combinação_sísmica_S1
Mín. -1,7528 -0,1087 -0,2055

Pela observação da Tabela 8, é visível que com estas condições de apoio o nó da


válvula V59, salientado na Figura 4.14, não apresenta praticamente deslocamentos na direcção
axial, pelo que não se aproxima da situação real de estudo. Ainda referente a essa tabela, é de
salientar que existe um valor máximo e um valor mínimo para a mesma direcção de
deslocamento que traduzem o facto da acção sísmica ser uma envolvente de esforços
resultante da actuação do sismo nas duas direcções, sendo que o valor mínimo e máximo
correspondem ao sentido da força do sismo segundo aquela direcção. Os sinais positivos e
negativos dos deslocamentos apresentados na Tabela 8, apenas traduzem o facto de estes
deslocamentos ocorrerem ou não no sentido positivo dos eixos globais do sistema. O U x
corresponde ao deslocamento na direcção X, o U y ao deslocamento segundo o eixo Y e o Uz
ao deslocamento na direcção do eixo Z.
Na Figura 4.16 ilustra-se a deformada do sistema devido à acção sísmica
conjuntamente com o peso próprio da estrutura e o peso da água. De referir que se
apresentam várias ilustrações dentro da mesma figura, com o intuito de se mostrar o
andamento da deformada do sistema.

90
Figura 4.16 – Teste 1: deformada resultante da acção sísmica.

 Teste 2

Este teste foi executado recorrendo ao mesmo espectro de resposta da situação


mencionada no tópico anterior (Teste 1), sismo Tipo 1 num terreno Tipo II e na zona A (Figura
4.13), assim como ao mesmo sistema simplificado de condutas e aos mesmos carregamentos
(Figura 4.15). O objectivo deste caso de estudo centra-se nas condições de apoio das
condutas, onde a conduta CPC continua apenas a possuir deslocamentos na direcção axial,
mas o nó de ligação entre a conduta CPC e a CRD, que se encontra a uma cota de 119,80 m,
agora apenas restringe os deslocamentos verticais, ou seja, os deslocamentos segundo as
direcções X e Y passaram a ser permitidos. O mesmo procedimento foi efectuado para o nó,
paralelo ao referido anteriormente, que liga a conduta CPC à CRE. Esta opção foi considerada,
pelo facto de não se considerar praticável que a conduta CPC pudesse deslocar axialmente e
os nós de ligação entre essa conduta e as restantes não acompanhassem o movimento
exposto.
Na Figura 4.17 são focadas as diferenças existentes, ao nível dos apoios, entre o
Teste 2 e o Teste 1 e evidenciado o nó da válvula visto ser o nó condicionante neste estudo.

Eixos:

Figura 4.17 – Teste 2: sistema de condutas simplificado.

Os deslocamentos absolutos no nó da válvula V59, para este caso de estudo,


encontram-se sistematizados na Tabela 9, e a deformada resultante da acção sísmica
combinada com os carregamentos está apresentada na Figura 4.18.

91
Tabela 9 – Teste 2: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Máx. 11,0895 0,1088 -0,2027
Nó da válvula V59 Combinação_sísmica_S1
Mín. -11,0291 -0,1088 -0,2055

Avaliando os deslocamentos obtidos no nó condicionante, é visível que o movimento


axial na conduta CPC é aproximadamente 11 cm, valor superior ao obtido no acidente ocorrido
pelo fecho da válvula e desequilíbrio de forças no respectivo batente (8 cm = 6,5 cm + 1,5 cm).
Este aspecto deve-se ao facto de na ocorrência de um sismo toda a componente
estrutural (movimentos do solo - quando a conduta é enterrada, da conduta e apoios) ficar
envolvida nessa acção, associada, como um todo, também à componente hidráulica
(escoamento no interior da conduta), enquanto que num fenómeno transitório, do tipo golpe de
aríete, apenas a compressibilidade do escoamento no sistema e uma pequena deformação das
paredes da conduta interagem, embora implique variações significativas de pressão ao longo
do circuito hidráulico e forças que promovem, também, o movimento das condutas.

Figura 4.18 – Teste 2: deformada resultante da acção sísmica.

De referir que os testes que serão mostrados em seguida, correspondem a um


prolongamento do sistema de condutas e surgiram com o intuito de tentar aproximar este
sistema ao sistema real dentro da Estação Elevatória e não só na vizinhança da válvula V59, e
para permitir testar outras possíveis alterações nos apoios do sistema e respectivas
consequências.

 Teste 3

Este caso de estudo remete para a segunda parte dos testes, onde se prolongou a
conduta em análise, acrescentando-se a conduta CPC Superior com d=1 m e a conduta que
faz a ligação entre as duas condutas CPC (Superior e Inferior) de d=1m. Neste exemplo, o
espectro de resposta em análise e os carregamentos continuam a ser os mesmos,
acrescentando apenas o peso da água aos novos trechos de conduta (Tabela 10). Na Figura
4.19 mostram-se esquematicamente os carregamentos de todas as condutas.

92
Tabela 10 – Tabela de cálculo das cargas correspondentes ao peso da água.

dext (m) eparede (m) dint (m) Aint (m2)  (kN/m3) Págua (kN/m)
CPC Trecho Inferior 1,6 0,015 1,59 1,97 10 19,73
CRD 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CRE 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
CPC Trecho Superior 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46
d=1m 1,0 0,0127 0,97 0,75 10 7,46

Figura 4.19 – Esquematização do carregamento no sistema.

93
Neste teste as condições de apoio das condutas CPC Inferior, CRD e CRE continuam
a ser as mesmas (i.e., permissão de deslocamentos axiais com excepção dos nós de ligação
das condutas CRE e CRD à CPC Inferior, onde apenas está restringido o deslocamento
vertical), e a conduta CPC Superior está possibilitada de se mover na direcção do seu eixo,
excepto o nó de ligação da conduta d=1 m com a CPC Superior, que apenas permite rotação,
sendo este dado extraído da observação da Figura 4.1. De seguida, na Figura 4.20, mostra-se
um esquema do novo caso de estudo, assinalando-se o nó da válvula V59.

Eixos:

Figura 4.20 – Teste 3: sistema de condutas prolongado.

Os deslocamentos absolutos no nó da válvula V59, bem como, nos diversos pontos da


nova conduta encontram-se registados na Tabela 11.

Tabela 11 – Teste 3: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59 e no prolongamento do sistema de


condutas.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Máx. 10,9583 0,0076 -0,1965
Nó da válvula V59 Combinação_sísmica_S1
Mín. -10,8436 -0,0078 -0,2123
Máx. 0 0 0
Mín. 0 0 0
Máx. 0,0533 0 0
Mín. -0,0533 0 0
Máx. 0,0992 1,2247 -2,1075
Mín. -0,0992 -1,2307 -2,1857
Combinação_sísmica_S1 0,1122 0,8636 -1,4654
Máx.
Nova tubagem (nos vários nós ao longo
do sistema analisado) Mín. -0,1122 -0,8669 -1,5185
Máx. 0,1168 0,6059 -1,0269
Mín. -0,1168 -0,6081 -1,0638
Máx. 0,127 0 0
Mín. -0,127 0 0
Máx. 0,1304 0,1047 0,1544
Mín. -0,1304 -0,1043 0,1481

94
Máx. 0,1403 0 0
Mín. -0,1403 0 0
Máx. 0,1438 0 0
Mín. -0,1438 0 0

Pela observação dos deslocamentos, sintetizados na Tabela 11, é evidente que o nó


da válvula V59 continua a ser a zona condicionante do sistema, mesmo depois do seu
prolongamento. Efectuada apenas uma avaliação ao nó da válvula V59 denota-se que é
segundo a direcção X, direcção do eixo da conduta, que prevalecem os maiores
deslocamentos, tal como nos restantes testes.
A evolução da deformada correspondente a este teste apresenta-se na Figura 4.21,
onde são evidenciados os vários movimentos sofridos pelas condutas devido à acção sísmica.

Figura 4.21 – Teste 3: deformada resultante da acção sísmica.

Para este caso de estudo, visto o sistema de condutas ser semelhante ao sistema real,
achou-se interessante o traçado dos diagramas de momentos resultantes da combinação
sísmica.
Na Figura 4.22 mostram-se os momentos perpendiculares ao eixo da conduta em
termos qualitativos. Pela análise desse diagrama (Figura 4.22) é possível notar que os
momentos flectores perpendiculares ao eixo da conduta apresentam um andamento
semelhante/típico ao do diagrama resultante apenas da actuação de cargas verticais, neste
caso peso da conduta e peso da água, uma vez que apresenta um traçado parabólico. A cor
vermelha representa os momentos flectores negativos, a cor preta os momentos flectores
positivos e a cor azul a envolvente dos esforços do sismo. De referir que a acção de um sismo
pode provocar dois efeitos: aliviar a estrutura ou carregá-la ainda mais. Este aspecto pode ser
observado neste diagrama, pelo facto dos esforços máximo e mínimos apresentarem sempre a
coloração azul para os maiores valores absolutos. Quando se refere que alivia a estrutura quer
dizer que ela apenas fica com esforços provenientes das cargas verticais. Apesar de não se
representar o diagrama de esforço transverso, convém salientar o facto de este apresentar um
comportamento linear.

95
Figura 4.22 – Momentos perpendiculares ao eixo da conduta devido à acção sísmica.

A Figura 4.23 mostra que os momentos flectores segundo o eixo Z evidenciam o efeito
da acção sísmica, pelo facto de apresentarem valores muito superiores aos da Figura 4.22,
devido ao seu andamento ser linear, ou seja, as cargas verticais praticamente não interferem
neste diagrama. Este aspecto pode ser também comprovado pela cor azul do gráfico, cor que
correspondente à envolvente do sismo.
Como o diagrama de momentos flectores, neste caso, é linear implica que o diagrama
de esforço transverso que causa este momento seja constante, isto porque o esforço
transverso é a derivada do momento.

Figura 4.23 – Momentos segundo o eixo Z devido à acção sísmica.

O diagrama seguinte, Figura 4.24, refere-se ao andamento dos momentos torsores que
provêm da transferência de cargas/esforços entre condutas transversais. Este gráfico

96
denuncia, mais uma vez, pela sua cor a grande influência da acção sísmica para este
momento.

Figura 4.24 – Momentos torsores devido à acção sísmica.

 Teste 4

Este teste é em tudo semelhante ao anterior (Teste 3), sendo a única particularidade a
condição de apoio do nó de ligação da conduta CPC Superior com a conduta d=1m, em que o
apoio apenas permite deslocamento segundo o eixo da conduta, tal como se pode verificar na
Figura 4.25, onde se assinala com um círculo o local onde se mudou o tipo de apoio, assim
como a localização da válvula V59.

Eixos:

Figura 4.25 – Teste 4: sistema de condutas prolongado.

Em seguida, mostram-se os valores dos deslocamentos obtidos no nó da válvula V59 e


dos novos trechos de conduta (Tabela 12). Pela análise da Tabela 12, verifica-se que com
estas condições de apoio o deslocamento no nó da válvula V59 resultou menor do que no

97
Teste 3, cerca de 8,6 cm, mas o deslocamento na nova conduta CPC Superior surge muito
elevado, aproximadamente 23 cm. Consequentemente, o caso de rotura passaria a ser nesta
nova conduta, tornando-a condicionante face ao nó da válvula V59.

Tabela 12 – Teste 4: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59 e na nova tubagem.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Máx. 8,5977 0,0166 -0,191
Nó da válvula V59 Combinação_sísmica_S1
Mín. -8,5365 -0,0166 -0,2176
Máx. 22,5737 0 0
Mín. -22,9536 0 0
Máx. 22,5799 0 0
Mín. -22,9598 0 0
Máx. 22,5844 1,2634 -2,1101
Mín. -22,9643 -1,2634 -2,1826
Máx. 22,5856 0,8805 -1,4691
Mín. -22,9656 -0,8805 -1,5145
Combinação_sísmica_S1 22,586 0,6163 -1,0298
Máx.
Nova tubagem (nos vários nós ao longo
do sistema analisado) Mín. -22,966 -0,6163 -1,0608
Máx. 22,5869 0 0
Mín. -22,9669 0 0
Máx. 22,5872 0,1059 0,1538
Mín. -22,9672 -0,1059 0,1486
Máx. 22,5881 0 0
Mín. -22,968 0 0
Máx. 22,5884 0 0
Mín. -22,9683 0 0

A Figura 4.26 demonstra a evolução da deformada nos vários pontos do sistema para
este teste.

Figura 4.26 – Teste 4: deformada resultante da acção sísmica.

 Teste 5

Este último teste pretende apenas simular o caso de um dos apoios deixar de ter as
suas funções normais, ou seja, colapse ou não exista mesmo. Como tal, o sistema ficará igual

98
ao do Teste 3, em termos de carregamentos, combinação sísmica e condições de apoio,
desaparecendo apenas o apoio de ligação entre a conduta CPC Superior e a conduta d=1m,
estando esta diferença assinalada na Figura 4.27.

Eixos:

Figura 4.27 – Teste 5: sistema de condutas prolongado.

Para esta situação obtiveram-se os valores dos deslocamentos absolutos referentes ao


nó da válvula V59, ao nó onde deixou de ser considerado o apoio e aos trechos da nova
conduta (CPC Superior), tal como se pode observar na Tabela 13.

Tabela 13 – Teste 5: deslocamentos absolutos no nó da válvula V59, na nova tubagem e no nó sem


apoio.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Máx. 8,8565 0,0206 -0,2053
Nó da válvula V59 Combinação_sísmica_S1
Mín. -8,8067 -0,0123 -0,2299
Máx. 16,3999 10,3979 -20,38
Nó sem apoio Combinação_sísmica_S1
Mín. -29,3881 2,8637 -28,6204
Máx. 16,4055 0 0
Mín. -29,3937 0 0
Máx. 16,4096 0,3961 2,5508
Mín. -29,3978 -2,5336 1,0049
Máx. 16,4106 0,4192 1,1522
Mín. -29,3989 -1,6129 0,2471
Máx. 16,411 0,318 0,698
Combinação_sísmica_S1 -29,3993 -1,103 0,0936
Mín.
Nova tubagem (nos vários nós ao longo
do sistema analisado) Máx. 16,4118 0 0
Mín. -29,4001 0 0
Máx. 16,4121 0,1846 -0,0297
Mín. -29,4004 -0,0593 -0,1281
Máx. 16,4129 0 0
Mín. -29,4011 0 0
Máx. 16,4131 0 0
Mín. -29,4014 0 0

99
Pela análise da Tabela 13 é notório, mais uma vez, que o trecho de conduta que foi
prolongado (CPC Superior) se evidencia como condicionante, apresentando um deslocamento
de 30 cm segundo a direcção axial, assim como o nó sem apoio que manifesta um
deslocamento segundo o eixo Y de cerca de 11 cm e na vertical de 28 cm. De referir apenas
que o nó correspondente à válvula V59 apresenta um deslocamento um pouco inferior ao Teste
3, aproximadamente de 9 cm.
A deformada correspondente a este teste encontra-se ilustrada na Figura 4.28.

Figura 4.28 – Teste 5: deformada resultante da acção sísmica.

Em conclusão desta análise, refira-se que os testes 4 e 5 evidenciam a importância de


se proceder a um correcto dimensionamento dos apoios, assim como, mostram o que sucede
ao sistema de condutas no caso de algum apoio deixar de cumprir as suas funções,
implicando, então, o aparecimento de novos trechos condicionantes no sistema e certamente
outras secções entrariam em ruptura.

4.7 Modelação da acção do diferencial de pressão na válvula V59

Neste tópico do trabalho pretende-se simular a diferença de pressões induzidas a


montante e a jusante do nó da válvula V59 aquando da ocorrência do acidente no sistema da
EPAL, na Estação Elevatória de Telheiras e comparar os resultados dos deslocamentos
obtidos pela modelação do sistema, recorrendo ao programa SAP 2000, com os verificados
localmente pelos peritos.
O modelo SAP 2000 é um modelo para análise estrutural e como tal a pressão do
fluido foi adicionada ao sistema como cargas por metro linear de conduta, na direcção do eixo
da mesma. De referir que no caso analisado, as cargas em estudo são o peso próprio da
conduta, o peso da água e a diferença de pressões. Tal como já foi mencionado no tópico
anterior, não existem sobrecargas de dimensionamento, visto tratar-se de uma conduta
superficial.

 Teste 6

Este teste pretende analisar o efeito do diferencial de pressão entre montante e jusante
da válvula V59 após o fechamento desta. Neste teste, utilizou-se o sistema prolongado de

100
condutas mencionado no Teste 3 (Figura 4.20), com os carregamentos referentes ao peso
próprio, ao peso da água e à diferença de pressão ocorrida nos trechos a jusante da válvula
V59. Este carregamento foi obtido dividindo a força de desequilíbrio de 765kN analisada em
4.5, obtida por um modelo hidráulico de golpe de aríete, pelo comprimento da tubagem (Tabela
14).

Tabela 14 – Diferença de pressão nos vários trechos a jusante da válvula V59.

Conduta prolongada - jusante V59


Força (kN) 765
L (m) 120
Diferença de pressões (kN/m) 6,36

Figura 4.29 – Esquematização do carregamento devido à diferença de pressao na V59.

De notar que estas cargas adicionais ao sistema se encontram dispostas segundo o


eixo de cada tubagem, sendo que o seu sentido de actuação pode alterar entre os diferentes
tipos de conduta, uma vez que o carregamento será sempre no sentido de aumentar a pressão
a jusante da válvula V59 (Figura 4.29).

101
Pela observação da Tabela 15, onde o deslocamento sofrido no nó da válvula V59
corresponde a aproximadamente 10 cm, sendo pouco superior ao valor do deslocamento
observado no sistema.

Tabela 15 – Deslocamentos sofridos pelo nó da válvula V59.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


Nó da válvula V59 PP+Peso_água+Dif_pressões -10,312 -0,007 -0,2106

A Figura 4.30 mostra a deformada do sistema para este caso de estudo.

Figura 4.30 – Teste 6: Deformada devido à combinação de cargas peso próprio+peso água+diferença de
pressão, do sistema prolongado.

Para este teste extraíram-se do programa SAP 2000, os diagramas de momentos


resultantes da actuação do diferencial de pressão juntamente com o peso próprio do sistema
de condutas e o peso da água. Na Figura 4.31 mostram-se os momentos flectores
perpendiculares ao eixo da conduta, em termos qualitativos, onde é evidente o traçado
parabólico dos vários momentos que denuncia, quase exclusivamente, o efeito da acção das
cargas verticais no sistema (i.e., peso da água+peso próprio).

Figura 4.31 Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão, segundo o eixo perpendicular à conduta.

De referir que a cor vermelha representa os momentos flectores negativos e a cor


verde os momentos positivos. Como o esforço transverso é a derivada do momento, então,

102
para este momento flector, o diagrama apresenta um comportamento linear. O diagrama da
Figura 4.32 representa os momentos flectores segundo o eixo Z, onde se verifica um
andamento linear do traçado dos momentos. Por conseguinte, esse diagrama de momentos
traduz o efeito do carregamento, segundo o eixo de cada conduta, das diferenças de pressão.
O esforço transverso apresenta um diagrama uniforme, porque o momento é linear.

Figura 4.32 – Momentos flectores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão, segundo o eixo Z.

A Figura 4.33 apresenta o diagrama de momentos torsores devido à transferência de


esforços entre condutas que sejam perpendiculares entre elas.

Figura 4.33 – Momentos torsores provenientes da combinação de carga: Peso próprio + Peso água +
Diferenças de pressão.

Após concluídos todos os testes especificados nos subcapítulos 4.6 e 4.7, há que
mencionar que a introdução das forças de pressão nos trechos a jusante da válvula V59 (Teste

103
6) demonstraram que a força de cerca de 765 kN, obtida pelo modelo hidráulico baseado no
Método das Características, e introduzida no modelo do programa de cálculo estrutural SAP
2000 corresponde a um deslocamento um pouco superior ao observado, cerca de 2 cm,
diferença que não se considera relevante, uma vez que o modelo estrutural entra com os
efeitos nas condições de apoio e que o modelo hidráulico não é capaz de o fazer. Deste modo,
denota-se, aqui, a importância da interacção fluido-estrutura e a boa correlação com as
medições efectuadas in situ aquando da ocorrência do acidente descrito no subcapítulo 4.3.
Outro factor importante, proveniente da interpretação dos resultados obtidos nos
subcapítulos 4.6 e 4.7, reside no facto da modelação do sistema baseado numa combinação
sísmica e do fechamento de uma válvula (acções diferentes) ter tido uma resposta idêntica
(efeitos semelhantes) tendo originado grandes deslocamentos no apoio deste acessório. Neste
caso, essa semelhança verificou-se em termos de deslocamentos tendo sido a única grandeza
mensurável após a ocorrência do acidente, tal como se pode observar na Tabela 16, onde os
valores correspondentes ao carregamento peso próprio + peso água + diferenças de pressões
surgem do Teste 6 e os restantes (combinação sísmica) provêm do Teste 3.

Tabela 16 – Comparação dos deslocamentos devido a uma acção sísmica e a um diferencial de pressão
aquando do fechamento de uma válvula.

Ux (cm) Uy (cm) Uz (cm)


PP+Peso_água+Dif_pressões -10,312 -0,007 -0,2106
Nó da válvula V59 Máx. 10,9583 0,0076 -0,1965
Combinação_sísmica_S1
Mín. -10,8436 -0,0078 -0,2123

104
5. ORIENTAÇÕES PARA PROJECTO

5.1 Noções básicas de interacção fluido-estrutura

O presente capítulo surgiu com a finalidade de abordar e alertar os projectistas acerca


de considerações/critérios, preponderantes, a ter em atenção aquando do dimensionamento de
condutas sujeitas a pressões transitórias, em particular aquando da interacção fluido-estrutura.
Por conseguinte serão mencionados os tipos de análises a efectuar para sistemas com
condutas superficiais e enterradas, especificando as diferenças e/ou semelhanças existentes
entre eles.
Para o dimensionamento de condutas, referido anteriormente, será dado ênfase ao
efeito do golpe de aríete ao nível das cargas introduzidas por este fenómeno, assim como a
sua influência, nos esforços, na fadiga do material e no comportamento dinâmico do sistema.
Segundo Lemmens e Gresnigt (2001), os sistemas de condutas, especialmente os
instalados à superfície, durante a ocorrência de fenómenos transitórios (golpe de aríete) ficam
sujeitos a relevantes forças dinâmicas. Quando a essas forças estão associados movimentos
do sistema gera-se uma importante interacção fluido-estrutura, o que implica que o líquido e a
conduta devem ser analisados conjuntamente e o mecanismo de interligação tem que ser
contabilizado. Os parâmetros importantes a considerar são:

 a relação entre o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material da


conduta;
 a geometria e as condições de apoio do sistema;
 a rigidez das ligações e dos sistemas de apoio;
 a relação entre o raio e a espessura da parede da conduta;
 a relação entre densidade do líquido e a densidade do material da conduta;
 a relação entre a compressibilidade do líquido e o módulo de elasticidade da
conduta.

De referir que as pressões transitórias e as forças dinâmicas geradas pelo golpe de


aríete acrescem ao sistema novos carregamentos, tais como, pressões internas e pressões
externas, sendo que estas últimas podem ser pressões provenientes do solo e cargas devido
aos apoios.
Ainda relativo ao efeito da interacção fluido-estrutura há que evidenciar a importância
dos tipos de apoios nos movimentos induzidos nas condutas, durante a ocorrência de
fenómenos transitórios. Caso os apoios sejam flexíveis, o efeito do golpe de aríete nas
condutas será relativamente elevado, tanto em termos de pressões transitórias como de
movimentos do sistema. Se os apoios e instalações forem rígidos traduz-se, por um lado, num
aspecto favorável, uma vez que permite apenas pequenos movimentos no sistema, mas por

105
outro lado, gera forças elevadas nos apoios, assim como, tensões elevadas ao nível das
paredes da conduta perto dos apoios (Lemmens e Gresnigt, 2001).

5.2 Identificação dos tipos de carga

5.2.1 Nota introdutória

Neste sub-tópico apresenta-se uma distinção entre as cargas de dimensionamento


para condutas enterradas e para condutas superficiais, visto que para cada caso os métodos
de análise e verificação a aplicar são diferentes, especialmente em termos de pressões
transitórias. De referir que será feita uma distinção entre cargas internas e externas, dinâmicas
e permanentes, incidental e acidental. As cargas incidentais são definidas como não-
permanentes que podem ocorrer em condições normais de funcionamento, enquanto que as
cargas acidentais são cargas que não deveriam acontecer (Lemmens e Gresnigt, 2001;
Ramos, 2006; Ramos, 2007).

5.2.2 Cargas para condutas enterradas

A. Cargas permanentes ou estáticas exteriores


 Peso próprio (conduta, componentes da conduta e fluido);
 Peso do solo;
 Assentamentos diferenciais do terreno ao longo da conduta;
 Mudanças de temperatura pouco significativas e pouco frequentes
 Degradação do material e corrosão (estes efeitos podem ser consideradas como
cargas acidentais, no entanto, na maioria das normas, a degradação do material e a
corrosão não são consideradas como cargas, mas como elementos que afectam a
resistência do sistema).

B. Cargas dinâmicas exteriores (sobrecargas)


 Mudanças de temperatura significativas e frequentes (carga incidental));
 Tráfego (carga incidental);
 Sismos (cargas acidentais);
 Deslizamento de terras (carga acidental);
 Escavação mecânica (carga acidental);
 Qualquer outra carga incidental e acidental.

C. Cargas permanentes internas


 Pressão estática e de regime permanente (sistema gravítico e elevatório).

D. Cargas dinâmicas internas

106
 Arranque e paragem dos grupos electrobombas (carga incidental);
 Abertura/fechamento de válvulas, i.e., válvulas de controlo automático, ventosas,
válvulas de segurança, de seccionamento, de protecção (carga incidental);
 Enchimento/esvaziamento de condutas (carga incidental);
 Modificação do escoamento (carga incidental);
 Saída de serviço repentina dos grupos electrobomba (carga acidental);
 Fechamento não intencional de uma válvula (carga acidental);
 Mau funcionamento dos dispositivos de segurança e protecção (carga acidental);
 Rotura de condutas (carga acidental);
 Qualquer outra carga incidental e acidental, por exemplo provocada por ocorrência de
incêndio ou explosão.

5.2.3 Cargas para condutas superficiais

A. Cargas permanentes ou estáticas exteriores


 Peso próprio (conduta, componentes da conduta e fluido);
 Cargas devido aos apoios, e.g., devido ao peso próprio e a assentamentos diferenciais
do terreno;
 Mudanças de temperatura pouco significativas e pouco frequentes;
 Degradação do material e corrosão (estes efeitos podem ser consideradas como
cargas acidentais, no entanto, na maioria das normas, a degradação do material e a
corrosão não são consideradas como cargas, mas como elementos que afectam a
resistência do sistema).

B. Cargas dinâmicas exteriores (sobrecargas)


 Vento (carga incidental);
 Neve (carga incidental);
 Mudanças de temperatura significativas e frequentes (carga incidental));
 Tráfego (colisão com os apoios (carga acidental));
 Sismos (cargas acidentais);
 Deslizamento de terras (carga acidental);
 Qualquer outra carga incidental e acidental.

C. Cargas permanentes internas


 Pressão estática e de regime permanente (sistema gravítico e elevatório).

D. Cargas dinâmicas internas


 Arranque e paragem dos grupos electrobombas (carga incidental);

107
 Abertura/fechamento de válvulas, i.e., válvulas de controlo automático, ventosas e
válvulas de segurança, de seccionamento, de protecção (carga incidental);
 Enchimento/esvaziamento de condutas (carga incidental);
 Modificação do escoamento (carga incidental);
 Saída de serviço repentina dos grupos electrobomba (carga acidental);
 Fechamento não intencional de uma válvula (carga acidental);
 Mau funcionamento dos dispositivos de segurança e protecção (carga acidental);
 Rotura de conduta (carga acidental);
 Qualquer outra carga incidental e acidental, por exemplo provocada pela ocorrência de
incêndio ou explosão.

5.2.4 Forças nos elementos da conduta devido ao golpe de aríete

De acordo com Lemmens e Gresnigt (2001) podem existir diferentes tipos de sistemas
de condutas, assim como, diferentes tipos de condutas. Alguns exemplos serão mencionados
em seguida:

 As condutas podem ser enterradas ou instaladas à superfície e feitas de vários


materiais;
 As condutas podem apresentar diversos usos, tais como, transporte de água, de gás
natural, de óleo e de outros produtos químicos;
 As condutas localizam-se por todo o lado nos mais diversos lugares, fazendo
atravessamentos de estradas, de rios e diques, de fronteiras, de cidades, vilas e
aldeias, partindo de estações elevatórias e reservatórios;
 Em relação às condutas superficiais podem existir diferentes condições de apoio. Para
as condutas enterradas podem existir diferentes condições de solo, e nomeadamente
em zonas de assentamentos podem causar severas flexões nas condutas;
 As ligações entre diferentes condutas podem ser por soldadura e por flanges, ou por
emboquilhamento (encaixe) dependendo do tipo de conduta, da localização e do
material utilizado.

Os regimes transitórios originam um aumento de pressão e de tensão circunferencial,


assim como, geram importantes forças dinâmicas nos elementos da conduta (e.g., apoios,
bifurcações em T e em Y, flanges e cotovelos).
Essas forças podem provocar o movimento dos elementos do sistema e criar danos
devido à fadiga do material. Na Figura 5.1-(a) mostram-se alguns exemplos onde as forças,
provenientes dos fenómenos transitórios, actuam nas condutas e nos seus elementos,
enquanto na Figura 5.1-(b) são indicadas algumas secções ou nós de condutas onde o golpe
de aríete causa significativas forças dinâmicas.

108
(a) (b)
Figura 5.1 – (a) Exemplos de zonas de actuação das forças dinâmicas, nas condutas e nos seus
elementos; (b) Exemplo de secções ou nós onde podem surgir importantes forças devido ao golpe de
aríete (Lemmens e Gresnigt, 2001).

Na maioria dos códigos, em vigor, está estabelecido que devem ser tomadas medidas
de modo a garantir que o aumento de pressão máxima incidental, proveniente do golpe de
aríete, possa ser da ordem de 15% a 20% superior à classe de pressão da tubagem.
Tal como referido anteriormente, a geometria e a rigidez dos sistemas de condutas e
respectivos apoios têm influência no resultado das pressões transitórias e das forças
dinâmicas. Para além deste aspecto, o amortecimento das ondas elásticas surge como um
fenómeno importante. Esse amortecimento depende do tipo de material da conduta (e.g., aço,
betão, plástico), da ovalização da tubagem, das propriedades dos apoios e das propriedades
do solo, para o caso de tubagens enterradas

5.3 Dimensionamento e critérios de segurança

Os requisitos fundamentais para o dimensionamento de condutas e sistemas de


condutas, segundo o ENV 1993-4-3 (1993), são descritos como se apresenta em seguida
(Lemmens e Gresnigt, 2001):

1. As condutas devem ser dimensionadas e construídas com uma probabilidade


aceitável de permanecerem aptas a desempenhar as suas funções, tendo em
consideração a sua vida útil e os seus custos; com adequados graus de confiança
para resistirem a todas as acções a que estão sujeitas, assim como, às
intervenções que possam ocorrer durante a execução e utilização do sistema,
devendo apresentar uma durabilidade apropriada em relação aos custos de

109
manutenção; não ficarem danificadas por ocorrência de acontecimentos como
explosões, impactos ou consequências de erros humanos.

2. O potencial dano nas condutas deve ser evitado ou limitado pela escolha
apropriada dos seguintes critérios: evitar, limitar ou reduzir os riscos/perigos a que
a estrutura tem de resistir; seleccionar uma forma estrutural que apresente baixa
sensibilidade aos riscos considerados.

3. As condições acima referidas devem ser satisfeitas através da escolha de


materiais adequados, pela concepção e detalhe apropriados e pela especificação
dos procedimentos de controlo de produção, de construção e de utilização.

Os riscos a que as tubagens e os sistemas de condutas ficam sujeitos são diferentes,


consoante os diferentes tipos de condutas e os diferentes locais de implantação. Por
conseguinte, isto envolve diferentes níveis de segurança (níveis de fiabilidade). De acordo com
ENV 1993-4-3 (1993), os critérios de segurança a este respeito são descritos como se
apresenta em seguida (Lemmens e Gresnigt, 2001):

1. Devem ser adoptados diferentes níveis de segurança para os diferentes tipos de


condutas, em função das possíveis consequências económicas e sociais oriundas
do seu colapso.

2. O critério mínimo de segurança deve ser especificado pela entidade gestora e


engenheiro projectista/especialista consoante as características dinâmicas do
sistema, localização e número de pessoas que possam ser afectadas.

3. A segurança pode ser expressa em termos de factores de concepção e/ou níveis


de qualidade de execução.

5.4 Estado Limite

5.4.1 Fundamentos

A tensão de cedência é, normalmente, limitada a uma análise elástica e, não aborda


situações de carregamentos onde a conduta apresenta um comportamento não elástico-linear.
A aplicação da teoria plástica para elevadas deformações proporciona uma melhor descrição
do comportamento real de condutas, como é evidenciado na Figura 5.2 pelo diagrama
momento-curvatura. Pela análise da mesma figura, é visível que a teoria elástica apenas
descreve uma pequena parte do comportamento carga-deformação real de condutas
constituídas por um material dúctil, tal como, o aço (Lemmens e Gresnigt, 2001).

110
(a)

Moment
(b)

Bending
Bending Moment Curvature
Curvature
Deformation capacity

Figura 5.2 – Diagrama momento-curvatura (análise qualitativa) para uma conduta sem pressão interna
(a) e para uma conduta com uma pressão interna elevada (b). As linhas contínuas representam um
comportamento elástico, enquanto as linhas a tracejado traduzem um comportamento plástico. A cruz
indica o instante de ruptura (Lemmens e Gresnigt, 2001).

Na verificação de segurança aos estados limite, devem ser escolhidos coeficientes de


segurança adequados, de modo a obterem-se resultados fiáveis. Tais factores de segurança
devem ter em conta (Lemmens e Gresnigt, 2001):

 As variações desfavoráveis nos valores característicos das cargas. As condutas são


submetidas a diferentes combinações de cargas, tais como, pressões internas e
externas, efeitos de pressões transitórias, efeito do solo, flexão devido a diferentes
assentamento do solo ao longo da conduta, esforço axial, esforço transverso e, por
vezes, torção e cargas locais, e.g., nos apoios. De referir que as cargas,
especificadas anteriormente, designam-se por acções;

 As variações desfavoráveis nos valores característicos da resistência e da


capacidade de deformação das tubagens, como por exemplo, a ductilidade, a
tensão de cedência, a tensão última. As características do material acima
mencionadas traduzem a sua resistência;

 O nível de segurança exigido na estrutura.

O grau de incerteza das várias acções e das componentes de resistência do material


diferem de caso para caso. Portanto, cada acção tem de ser multiplicada pelo seu próprio
coeficiente de segurança (Fi>1) e cada componente de resistência dividido pelo seu coeficiente
de segurança (Mi>1). Ou seja, a adopção de valores para os coeficientes de segurança
parciais deve ser tal que, majorem as cargas consoante o tipo de acção e minorem as
resistências dos diferentes tipos de materiais.
De modo a garantir o nível de segurança exigido na estrutura, devem ser considerados
determinados aspectos de entre os quais se destaca as condições seguras de transporte, as

111
características do meio envolvente onde a conduta se irá inserir (presença de habitações,
traçados de estradas, possibilidade de ruptura de diques, ocorrência de cheias), as
necessidades ambientais e as acessibilidades (e.g., em atravessamento de rios e em
emissários submarinos).
Segundo o RSA, entenda-se por estado limite um estado a partir do qual se considera
que a estrutura, neste caso a conduta, fica prejudicada total ou parcialmente na sua
capacidade para desempenhar as funções que lhe são atribuídas. As categorias existentes de
estados limite são Estado Limite de Utilização, Estado Limite Último, Estado Limite de Fadiga e
Estado Limite Acidental.
De referir que em muitos códigos, o Estado Limite de Fadiga e o Estado Limite
Acidental estão agrupados no Estado Limite Último.

5.4.2 Estado Limite Último incluindo Estado Limite de Fadiga

Os modos de fracasso que podem ocorrer em condutas são, em geral, o


desenvolvimento de fugas devido à presença de fendas ou rupturas e o desenvolvimento de
deformações inadmissíveis.
Para aplicações práticas, estes modos de rotura podem ser solucionados pelos
seguintes estados limite últimos (Lemmens e Gresnigt, 2001):

 Tensão: Estado limite em que a tensão limite é excedida.


 Extensão: Estado limite cuja extensão máxima é ultrapassada.
 Fadiga: Estado limite de rotura devido a cargas cíclicas ao longo do tempo.
 Deformação: Estado limite para deformações excessivas que podem ser excessivas
ovalidades, instabilidade local, implosões ou instabilidade global da conduta.
 Deslocamento / Instabilidade lateral: Estado limite para deslocamentos excessivos e/ou
instabilidade lateral das condutas ou qualquer dos seus apoios.
 Ressonância e vórtice: Estado limite para deslocamentos excessivos na conduta ou
nos seus componentes.
Estes deslocamentos surgem quando a frequência de excitação coincide com a
frequência natural das condutas. Para os segmentos de conduta, que não se
encontram localmente apoiados pelo solo e estão expostos a ondas e/ou correntes,
deve ser elaborado um estudo com os modos de vibração devido a vórtices ou outros
fenómenos de instabilidade.

5.4.3 Estado Limite Acidental

O Estado Limite Acidental refere-se, como o próprio nome indica, às cargas acidentais.
De entre os Estados Limite Acidentais destacam-se os seguintes (Lemmens e Gresnigt, 2001):

112
 Punçoamento: Estado limite onde, por exemplo, devido a actividades como
escavações com máquinas, no caso de condutas enterradas.
 Grandes deslocamentos: Estado limite que, por exemplo, devido ao choque de
veículos a conduta experimenta grandes deslocamentos (e.g., em apoios no caso
de condutas superficiais).
 Golpe de aríete: Estado Limite onde, devido ao golpe de aríete, ocorrem danos na
conduta como em juntas e outras acessórios.

5.4.4 Estado Limite de Utilização

O Estado Limite de Serviço refere-se a deformações e/ou vibrações que afectam de


forma adversa a utilização da conduta, e/ou que causam desconforto, ou afectam
negativamente os apoios ou outras partes da conduta.
Critérios de utilização relativos à ovalização, à deformação, à vibração e à fuga
(Lemmens e Gresnigt, 2001):

 O projectista pode estabelecer limites na ovalização, na deformação e na


vibração.
 O projectista, dependendo das condições de concepção (e.g., natureza da
conduta, o que transporta e o ambiente onde se insere), pode estabelecer limites
especiais para a ocorrência de fugas ou rupturas.

5.5 Combinação de cargas e procedimentos de verificação

Nos estados limite, as cargas são multiplicadas por coeficientes de segurança e


agrupadas em combinações de cargas. De referir que para diferentes códigos, diferentes
combinações de cargas são estabelecidas. O requisito geral é que a combinação de carga
definida deve ser apropriada para o estado limite último que se pretende analisar.
De seguida será feita alusão ao Código Canadiano (CSA-Z662 (1996)) apenas para
mostrar um tipo de análise de combinação de cargas possíveis e de factores de segurança
relativos a essas mesmas combinações. O Código Canadiano CSA-Z662 (1996) evidencia a
seguinte equação geral para o cálculo das combinações de carga (i = 1, 2, 3, ...).

𝐿𝑐𝑖 =∝ 𝛾𝐺 𝐺 + 𝛾𝑄 𝑄 + 𝛾𝐸 𝐸 + 𝛾𝐴 𝐴 (15)

onde:
 = classe do factor de segurança
G, Q, E, A = factores de carga para G, Q, E e A
G = cargas permanentes

113
Q = cargas operacionais (sobrecargas)
E = cargas ambientais
A = cargas acidentais

Para cada combinação de carga são calculados os seus efeitos, como por exemplo, ao
nível de tensões, extensões e deformações. Por último, o valor resultante destes efeitos é
comparado com o valor limite, a fim de determinar se algum estado limite não é respeitado.
Conforme se representa na Figura 5.3.
A classe do factor de segurança depende dos riscos/perigos a que a tubagem fica
sujeita. Os factores que influenciam este parâmetro são a localização (população, potencial
risco económico) e o que transporte (gás natural, petróleo, produtos químicos, água). Na maior
parte dos códigos, a classe do factor de segurança para condutas de água é de 1,0, para
condutas de gás natural numa área densamente povoada, o Código Canadiense CSA-Z662
(1996) apresenta um factor de segurança de classe 2,0.
As cargas na equação (15) são denominadas de cargas nominais ou características.
Normalmente, essas cargas são definidas como 95% da carga nominal (ou seja, a
probabilidade da carga actual ser superior ao valor nominal é de 5%).

Tabela 17 – Factores de carga segundo o Código Canadiano (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

114
Figura 5.3 – Procedimento de cálculo para verificação ao estado limite
(adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

Note-se que se trata de um procedimento de verificação. Antes de se proceder à


verificação, o sistema de conduta é projectado. Se durante ou após a verificação tornar-se
claro que o modelo não é satisfatório, ou seja, algum estado limite é ultrapassado, então ou a
verificação deve ser refinada, e.g., tirar-se partido do comportamento plástico em vez de
análise elástica, e/ou o modelo deve ser modificado, e.g., escolher uma parede mais grossa
e/ou modificar os apoios.
De referir que este último procedimento, geralmente significa também uma reanálise do
comportamento transitório, uma vez que este comportamento depende da geometria e rigidez
das tubagens e dos seus elementos (Lemmens e Gresnigt, 2001).

115
5.6 Análise e verificação para as condutas de aço dúctil

5.6.1 Efeito de cargas externas na pressão de rebentamento

No dimensionamento de condutas, as combinações de carga a serem consideradas


para as análises tornam-se num assunto prioritário. Uma questão relevante é se a tensão
devido a todas as cargas deve ser adicionada, sendo isto especialmente importante para o
golpe de aríete.
Foi provado, tanto teoricamente como experimentalmente, que em condutas enterradas
as cargas externas e as deformações impostas não têm nenhum efeito na pressão de ruptura
se as condições seguintes forem cumpridas:

 A tenacidade8 do material da tubagem é suficiente para permitir a cedência sem


fracturas prematuras;
 As deformações /assentamentos diferenciais ao longo da conduta não são maiores do
que o permitido quando a pressão se anula.

As encurvaduras locais, caso não sejam muito profundas, não afectam a pressão de
rebentamento. Lemmens e Gresnigt (2001) fizeram um teste no laboratório de Deft com uma
tubagem que apresentava as seguintes características: diâmetro 609,6 mm, espessura da
parede 6,4 mm; tensão de cedência 360 - 380 N/mm2 e tensão última 500 - 510 N/mm2. A
tubagem foi dobrada até atingir a encurvadura local e depois foi levada até ao rebentamento
(pressão de rebentamento foi de 110,1 bar) (Figura 5.4-(a)). O rebentamento ocorreu numa
zona distinta da zona encurvada. Uma segunda amostra feita da mesma espécie da tubagem
referida anteriormente, não foi dobrada e a pressão de rebentamento desta tubagem atingiu o
mesmo valor que o obtido na tubagem encurvada (Figura 5.4-(b)).

(a) (b)
Figura 5.4 – (a) Conduta encurvada durante a dobragem; (b) rotura da conduta após o teste de
rebentamento (fora do laboratório) (Lemmens e Gresnigt, 2001).

8
Tenacidade é uma medida da quantidade de energia que um material pode absorver antes de fracturar.
Se um material é tenaz pode absorver um alto grau de deformação sem romper. Uma maneira de se
avaliar a tenacidade consiste em considerar a área total sob a curva (-).

116
Isto significa que a margem de segurança contra o rebentamento devido à sobrecarga
de pressão não é afectada por cargas externas (se os requisitos mencionados anteriormente
forem cumpridos).
Para o estado limite último de tensão (rotura), no caso de condutas enterradas, apenas
basta analisar o seguinte caso de carga:
Caso de carga 1: Apenas pressão interna e as restantes nulas.

Para o estado limite de deformação a situação com cargas exteriores e pressão interna
tão baixa quanto possível é relevante:
Caso de carga 2: Cargas externas conjuntamente com pressão interna tão baixa
quanto possível.

Para o estado de limite de extensão, a situação com cargas externas e pressão interna
tão baixo enquanto possível (caso de carga 2) deve ser analisada e também a situação com
cargas externas e pressão interna (caso de carga 3).
Caso de carga 3: Cargas externas com pressão interna.

Para o estado limite de fadiga, cada situação com cargas não-estáticas deve ser
analisada. Isto pode resultar em vários casos de carga, como por exemplo:
Caso de carga 4: Cargas estáticas com variações internas de pressão
Caso de carga 5: Cargas estáticas com variações de temperatura

5.6.2 Métodos de análise

Para a análise de cada sistema de condutas podem ser utilizados diferentes modelos.
Os modelos podem ser baseados na teoria elástica ou na teoria plástica, dependendo do
comportamento estrutural da conduta e das ferramentas disponíveis pelo engenheiro
projectista/especialista.
De um modo geral, deve ser utilizado o seguinte procedimento de acordo com os
requisitos hidráulico-estruturais de segurança:

A. “Análise de viga”

A conduta é concebida com propriedades de viga elástica/plástica suportada pelo solo


circundante, que é modelado através de molas (Figura 5.5) traduzindo-se assim num meio
elástico. Na análise deste sistema, é necessário contabilizar a não-linearidade das várias molas
do solo.
Os inputs são as propriedades do solo, as propriedades da conduta, os deslocamentos
impostos (assentamentos), e outras cargas. As propriedades da conduta são, especialmente, o

117
diagrama do momento flector-curvatura e quando existe torção, o diagrama de momento-
rotação.

Legenda:
(a) mola vertical
(b) mola horizontal
(c) mola de fricção

Figura 5.5 – Esmatização da conduta em meio elástico.

O resultado baseado na "análise de viga" traduz-se no facto de em cada secção


transversal da conduta serem conhecidos os seguintes dados:

 Momento flector e curvatura;


 Momento torsor e rotação;
 Esforço normal e o alongamento ou encurtamento;
 Esforço transverso e a deformação por corte;
 Pressão da terra e deslocamentos.

B. “Análise de anel”

Na análise da secção transversal, tanto a ovalização como as extensões da secção


transversal da conduta são calculadas. Os inputs são os resultados da análise de viga e as
cargas que actuam na secção transversal, como por exemplo a pressão interna e externa e as
cargas provenientes do solo.

C. “Análise adicional”

Em caso de carregamento de fadiga, como por exemplo devido às variações na


pressão e/ou na temperatura, tem de ser realizada uma análise adequada a este fenómeno.
Além disso, outras combinações de cargas podem necessitar de análises adicionais, por como
é o caso do comportamento dinâmico devido ao golpe de aríete e as cargas locais devido aos
apoios.

118
5.6.3 Verificação aos estados limite

Em seguida mostram-se as funções de estado limite último a aplicar para condutas de


aço, de acordo com NEN 3650 (1992), EN 1594 (1998), ENV 1993-4-3 (1993) e adaptado de
Lemmens e Gresnigt (2001):

 Tensão (estado limite de rotura): é especificada a tensão mínima de cedência.


 Extensão (estado limite de rotura): Se a qualidade do material da tubagem
(resistência e ductilidade do metal soldado e zonas afectadas pelo calor;
geometria da soldadura e respectivas descontinuidades) satisfizer certas
condições, então a tensão limite pode ser assumida pelo menos como 0,5 % (NEN
3650, 1992 e em 1594, 1998).
 Ovalização (estado limite de deformação excessiva): O valor limite para a variação
do diâmetro é de 0,15 D.
 Instabilidade local (estado limite de deformação excessiva, com possibilidade de
atingir o estado limite de rotura): Os valores limites para a extensão negativa (cr)
são os seguintes:

𝑟0 𝑡 𝑃 𝑟 2 |𝑃|
se: ≤ 60: 𝜀𝑐𝑟 = 0,25 𝑟 − 0,0025 + 3000 (16)
𝑡 0 𝐸𝑡 𝑃

𝑟0 𝑡 𝑃 𝑟 2 |𝑃|
se: > 60: 𝜀𝑐𝑟 = 0,10 𝑟 + 3000 (17)
𝑡 0 𝐸𝑡 𝑃

𝑟
𝑟0 = 3𝑎 (18)
1−
𝑟

O raio r0 é o raio local de curvatura da parte comprimida da circunferência (Figura 5.6).


A ovalização devido à pressão da terra é indicado por uma distância a (a = metade da variação
do diâmetro devido à pressão da terra). A pressão p tem um sinal positivo (+), no caso de
pressão interna e um sinal negativo (-), para pressões externas.

Figura 5.6 – Definição de r0 (Lemmens e Gresnigt, 2001).

 Fadiga (estado limite de rotura): é feita referência a importantes códigos/normas,


e.g., NEN 3650 (1992), EN 1594 (1998), BS 8010 (1989-1992), DNV (2000).

119
 Fuga (estado limite de fuga): fuga dos fluidos contidos na conduta, devido a outras
causas que não a ruptura da parede da tubagem (e.g., devido à insuficiente
estanquidade das ligações, ou devido à corrosão).
 Colapso (estado limite de deformação excessiva, com possibilidade de se atingir o
estado limite de rotura): As elevadas pressões externas podem levar ao colapso
(achatamento da secção transversal). O modo de colapso é importante para
condutas offshore onde as combinações de elevadas pressões exteriores e flexão
podem ser um dos casos de carga, de acordo com as normas BS 8010 (1989-
1992), DNV (2000). Também para o golpe de aríete este modo de fracasso pode
ser relevante quando ocorrem pressões subatmosféricas.
 Envelhecimento (estado limite de deformação excessiva, rotura ou fugas): alguns
materiais como PVC, PE e PP podem ser mais susceptíveis ao envelhecimento.

De referir que para além dos estados limite últimos, os estados limite de utilização
também têm de ser considerados.

5.6.4 Pressões transitórias no dimensionamento de condutas

Para condutas enterradas, as análises incluindo as pressões devido à ocorrência de


regimes transitórios, golpe de aríete, podem ser efectuadas de acordo com métodos existentes,
tendo em conta o efeito dinâmico da pressão interna e verificando se os valores extremos
atingidos e a frequência das ondas de pressão verificadas afectam a fadiga do material e o
estado limite de envelhecimento. Ocasionalmente ocorrem roturas, embora muitas delas não
são relatadas em grande pormenor.
As condutas enterradas, em geral, não são muito sensíveis ao fenómeno de interacção
fluido-estrutura quando ocorre uma paragem de uma bomba ou o fechamento de uma válvula
(causa interna) que provocam ondas de pressão. No entanto, nas áreas sensíveis a sismos, a
aceleração do solo é capaz de introduzir uma onda através da estrutura da tubagem (causa
externa). Nestas áreas, os procedimentos padrão de dimensionamento de circuitos hidráulicos
em pressão devem incluir uma avaliação do aumento de cargas na tubagem devido a ondas de
pressão induzidas pela interacção fluido-estrutura (Lemmens e Gresnigt, 2001).
Uma questão importante para as condutas superficiais é a filosofia a seguir, i.e., devem
ser considerados nas diversas análises os tipos de apoios do sistema (flexíveis ou rígidos),
uma vez que este aspecto terá repercussões ao nível das pressões transitórias, tal como foi
referido em tópicos anteriores.

5.6.5 Dimensionamento e métodos de análise para condutas superficiais

120
A análise de condutas superficiais é semelhante à análise de condutas enterradas e
baseia-se numa análise de viga, seguida de uma análise de anel ou de uma análise da secção
transversal. As diferenças residem no facto da flexão ser predominantemente uma carga
controlada e não o deslocamento como numa conduta enterrada.
Nas condutas superficiais, o momento flector é predominante, enquanto nas condutas
enterradas a capacidade de deformação por flexão é que determina o nível de segurança.
Outra característica importante é a interacção com os apoios, visto estes acessórios
introduzirem cargas locais na conduta. De notar que é necessária uma concepção cuidadosa
de tais apoios, para evitar exceder os estados limite (e.g., de tensão, de extensão e de
ovalização).
Quanto à questão do fenómeno do golpe de aríete, a rigidez dos apoios é importante,
porque influi na interacção fluido-estrutura. Para além da análise à rigidez dos apoios, deve
também ser considerada a possível contribuição, para as deformações, da introdução de carga
na parede da conduta (Lemmens e Gresnigt, 2001).
Devido à situação de cargas controladas, a verificação do facto da secção transversal
conseguir suportar forças, como momentos flectores e cargas dos apoios, é mais importante do
que em tubagens enterradas. O factor de segurança para estados limite, tais como, tensão e
elevadas deformações, deve ser mais elevado do que no caso de condutas enterradas.
Nas combinações de carga a analisar, o vento e outras cargas típicas de tubagens
superficiais devem ser incluídas. Além disso, a verificação a estados limite típicos de condutas
superficiais, como vibrações e cargas acidentais devido ao tráfego, necessitam de adequados
casos de carga para estes estados limite recorrendo-se à interacção fluido-estrutura.

5.7 Condutas de diferentes materiais

Para além dos mencionados aços dúcteis, as condutas podem ser construídas de
diferentes materiais tais como: fibrocimento, ferro fundido, betão, plástico reforçado com fibras
de vidro (GRP), policloreto de vinilo (PVC), polietileno (PE) e polipropileno (PP).
De salientar que as ligações entre tubagens são um aspecto muito importante. No aço,
normalmente são aplicadas soldaduras, enquanto que no ferro fundido e noutros materiais
existem outras possibilidades que podem ser aplicadas, como juntas de dilatação, juntas
coladas, flanges. Outras partes importantes do sistema são os acessórios, como as curvas e os
cotovelos, as bifurcações em T e em Y, válvulas, entre outros.
Note-se que para o transporte de produtos perigosos como o gás natural, o petróleo e
produtos químicos, o aço dúctil é o material padrão a ser aplicado, embora para condutas de
distribuição de gás natural os materiais como PP e PE são muitas vezes utilizados.
As combinações de carga a serem consideradas, são basicamente as mesmas que se
apresentaram aquando de condutas de aço. Contudo, o método de análise a usar para
condutas de outros materiais para além do aço dúctil podem ser completamente diferentes,

121
dependendo das propriedades do material e das ligações e acessórios. Se o material não é
dúctil, deve ser utilizada uma análise elástica.
Na verificação ao estado limite, alguns dos estados dependendo do material, devem
ser identificados e verificados, e.g., fluência no PVC, PE e PP. Outros estados limite referem-se
a materiais especiais, que o seu comportamento depende das ligações e acessórios, e.g., fuga
em juntas de dilatação e possibilidade de diferentes comportamentos para casos de carga
devido aos impactos provenientes do tráfego ou do golpe de aríete (Lemmens e Gresnigt,
2001).

5.8 Metodologia de decisão sobre a interacção fluido-estrutura

Neste tópico serão mostradas algumas propostas desenvolvidas de apoio à decisão


sobre o fenómeno de interacção fluido-estrutura. De referir que esses cenários cobrem a
maioria dos sistemas de condutas de transporte de água potável e água residual.
A Figura 5.7 apresenta um procedimento de selecção do tipo de sistema de condutas,
sendo a principal característica a divisão entre condutas enterradas e condutas superficiais.
No caso das condutas enterradas uma análise de interacção fluido-estrutura
normalmente não é necessária se forem consideradas juntas soldadas, porque em geral a
conduta encontra-se suficientemente fixa (rígida) ao solo e está impossibilitada de se mover.
Esta é a principal razão para se prestar atenção ao aumento da tensão nas paredes da
conduta.
Existe uma excepção a esta situação, resultando numa possível análise da interacção
fluido-estrutura, quando uma causa externa é capaz de provocar o movimento parcial da
conduta (Figura 5.8).

122
Figura 5.7 – Tipo de sistema (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

Para as condutas enterradas aplica-se apenas o cenário da Figura 5.8. Enquanto que
para as tubagens superficiais existem três situações a considerar:
1. Cenário da Figura 5.9: condutas em Estações Elevatórias (EE);
2. Cenário da Figura 5.10: condutas em pontes (viadutos);
3. Cenário da Figura 5.10: parte principal da conduta numa ponte e/ou em apoios

123
Figura 5.8 – Condutas enterradas (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

124
Figura 5.9 – Conduta numa Estação Elevatória (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

125
Figura 5.10 – Conduta em ponte (adaptado de Lemmens e Gresnigt, 2001).

 Breves comentários aos diferentes cenários

Pela análise da Figura 5.8 são reconhecidas duas fontes principais exteriores: sismos e
deslizamentos de terra. Nestes casos é sempre recomendado um processo de verificação
estrutural para determinar se o factor de carga acidental é menor que 1,0 (ver Tabela 17). De
referir que o valor 1,0 é um valor estimado, tendo por base a prática corrente no Canadá e em
alguns países europeus. Nas zonas sensíveis à ocorrência de sismos e deslizamentos de
terras, geralmente, é recomendada uma análise de interacção fluido-estrutura, uma vez que um
súbito deslocamento local da conduta desencadeia uma onda de pressão que se acresce ao
estado de operação normal de pressão. Este efeito tem de ser adicionado ao aumento de
tensão na parede da tubagem devido à diferença de cargas induzidas pelo movimento do solo.

126
Para um cenário correspondente à Figura 5.9 é sempre recomendada uma análise
estrutural do desempenho da conduta na estação elevatória (EE) pelas seguintes razões:

1. As variações de pressão são, geralmente, as mais significativas em todo o


sistema: considerar uma bomba parada com a válvula de retenção fechada,
enquanto a(s) outra(s) bomba(s) está em funcionamento. O diferencial de pressão
sobre a válvula de retenção fechada corresponde à altura total de elevação da
bomba;
2. O arranque e a paragem de grupos elevatórios resulta em considerável variação
de pressão dinâmica;
3. Extensões significativas do material.

Um sistema dimensionado com valores de baixa pressão nominal (<6 bar) com
tubagens de grandes diâmetros (> 500 mm) e de material frágil corresponde a um sistema
crítico do ponto de vista da interacção fluido-estrutura.

De referir apenas que na situação da Figura 5.10 é possível a formação de bolsas de ar


porque o ar no seio do fluido tende a reunir-se e permanecer nas secções da conduta que se
encontram mais elevadas (pontos altos). Dependendo do tamanho da bolsa de ar e da
distância à estação elevatória, o início de bombagem pode dar origem a importantes ondas de
pressão.
A colocação, em passagens superiores (em pontes), de ventosas pode reduzir
significativamente as variações de pressão devido à expulsão e entrada de ar sempre que
necessário.
Muitas vezes as condutas de transporte são superficiais e desenvolvem-se ao longo de
um comprimento considerável devido a várias razões: terrenos pouco adequados (rocha ou
zonas pantanosas), facilidade de inspecções e manutenções. Nesses sistemas a tensão
(dinâmica) na parede da conduta é desigualmente distribuída sobre os apoios localizados. Para
estas situações é sempre aconselhável uma análise estrutural de pelo menos uma parte
representativa do sistema para se calcularem as diferentes solicitações e tensões locais.

127
128
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 Conclusões

Este estudo compreendeu o levantamento exaustivo das acções que podem pôr em
causa a integridade dos sistemas de transporte de fluido em pressão. Como é do
conhecimento e particularizando para o caso dos sistemas hidráulicos, estes encontram-se
sujeitos a carregamentos internos, tais como, cargas estáticas ou pressões dinâmicas do fluido,
e a cargas exteriores devido aos apoios, aos assentamentos do solo e ao tráfego. As cargas
acumuladas no sistema, as tensões, extensões e deformações provenientes de tais
carregamentos devem respeitar os limites aceitáveis impostos pelas diversas normas de
dimensionamento. De mencionar que as propriedades dos materiais podem sofrer alterações
significativas devido às solicitações e à degradação do próprio material, devendo ser
contabilizadas nas diversas análises de interacção fluido-estrutura (e.g., o envelhecimento dos
materiais e a corrosão).
Quando os sistemas de condutas não se encontram bem apoiados/amarrados podem
sofrer deslocamentos significativos devido a diferenciais de pressão. A variação de pressão no
fluido exerce forças nas paredes das condutas e nos seus apoios, podendo dar origem a
deslocamentos ou mesmo rupturas do sistema. Por sua vez, esses deslocamentos geram,
também, ondas de pressão, designando-se por interacção fluido-estrutura, que está sempre
associada a fenómenos dinâmicos que podem pôr em causa a segurança e a operacionalidade
das infra-estruturas.
Um aspecto importante, relativo ao efeito da interacção fluido-estrutura, é o tipo de
apoios do sistema. Caso os apoios sejam rígidos, em termos de movimentos não permitem
grandes deslocamentos, mas em contrapartida geram-se elevadas tensões nas paredes das
condutas. Em relação aos apoios flexíveis, quando ocorre fenómenos do tipo golpe de aríete
que se propagam ao longo do circuito hidráulico, desencadeiam-se movimentos no sistema e
sobrepressões daí induzidas.
Relativamente à aplicação a um caso de estudo real, numa primeira fase de testes é
analisado o efeito de uma acção sísmica na estrutura representativa do sistema de
abastecimento de água a Lisboa, na Estação Elevatória de Telheiras, na vizinhança da válvula
V59, verificando-se que o deslocamento obtido nessa válvula V59, nó condicionante, é da
ordem de grandeza do obtido num acidente ocorrido após o fechamento da válvula que
originou um posterior desequilíbrio de forças no sistema. De referir na análise da acção sísmica
toda a componente estrutural (i.e., conduta e apoios) fica envolvida de forma integrada,
associada à componente hidráulica. Na análise hidráulica isolada, apenas a compressibilidade
do escoamento no sistema e a deformação das paredes da conduta interagem, dando só por si
origem a significativas ondas de pressão que se propagam ao longo do sistema hidráulico e
que podem provocar, também, o movimento de condutas. Contudo a integração com a análise

129
estrutural mostra-se fundamental para melhor aferir a segurança e a operacionalidade de um
sistema deste tipo.
Neste estudo foi também desenvolvida um análise de sensibilidade às condições de
apoio de um dos nós, com o intuito de prever as consequências que podem daí advir, em
termos de possíveis deslocamentos. Concluiu-se que, em função das restrições nos apoios,
outros trechos da conduta podem ficar condicionantes a possível ocorrência de rupturas. Esta
análise evidencia a importância da execução de um correcto dimensionamento dos apoios e da
interacção fluido-estrutura, assim como, mostra o que pode originar se um apoio deixar de
cumprir as suas funções, implicando o aparecimento de novos trechos condicionantes no
sistema e certamente outras secções potenciais de colapso.
Das diferentes análises desenvolvidas procedeu-se ao diagnóstico do acidente ocorrido
através da modelação estrutural incluindo as forças de pressão provenientes da análise
hidráulica, nos trechos a jusante da válvula em causa. Deste caso resultaram deslocamentos
da ordem dos observados in situ, aquando da ocorrência do acidente na Estação Elevatória de
Telheiras, no sistema de abastecimento da EPAL, sublinhando, mais uma vez, a importância
da interacção fluido-estrutura e a boa correlação com as medições efectuadas com uma
análise integrada do sistema.
Estes efeitos, que muitas das vezes são desprezados no projecto, podem colocar em
risco infra-estruturas estratégicas de abastecimento e drenagem, deixando sem água zonas
urbanas de grande densidade populacional. As acções devidas à degradação dos materiais
constituintes dos sistemas de transporte de fluidos, da ocorrência de sismos ou da variação de
pressão podem ter efeitos semelhantes, induzindo elevados níveis de vulnerabilidade, que
devem ser considerados desde as primeiras fases de um projecto de Engenharia Civil deste
tipo.

6.2 Recomendações

Recomenda-se que, tanto ao nível de projecto como exploração do sistema, a análise


aos efeitos dinâmicos não convencionais com vista a serem garantidas as soluções mais
adequadas em termos de segurança e operacionalidade de cada sistema de transporte de
fluidos deve ser integrada e detalhada. Assim, quer ao nível do projecto, funcionamento,
manutenção e exploração dos circuitos hidráulicos deve ser sempre adoptada uma estratégia
de monitorização e análises de diagnóstico, que incluam a ocorrência de regimes transitórios
decorrentes de possíveis cenários associados a diferentes condições operacionais, de sismos,
se o local se situar numa zona considerada sísmica, assim como de dimensionamento e
distribuição adequada de apoios/amarrações a prever.

130
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