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ÍNDICE

PÁGINA

. APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... ..................... 09

. A SIGNIFICANCIA
CONTEXTUAL DA GEOGRAFIA FISICA

Christofoletti) ............................................................................................................. 15

. NATUREZA E SOCIEDADE
(Helmut Troppmair) ......................................................................................................................... 21

. NATUREZA E SOCIEDADE
(Roberto Messias Franco) .............................................................................................................. 27

. A GEOGRAFIA E A TOTALIDADE
ESTRUTURAL EM CRISE DE FUNDAMENTOS
(Armando C. da Silva) ................................................................................................................... 37

, O PERIODO TÉCNICO-CIENTÍFICO E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO


( Ignez C. Barbosa)
49
....................................................................................................................................

. ESTADO, SOCIEDADE E PRODUÇÃO DO ESPAÇO


(Manuel C. de Andrade) ................................................................................................................. 61

. ESPAÇO OU TERRITORIO
(Dilema da Geografia ou dos Geógrafos?)
(Claudio A. G. Egler)...................................................................................................................... 73

. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO E A ANALISE GEOGRAFICA


(Oswaldo Bueno Amorim Filho) ................................................................................................... 81

. AS QUESTÕES DE ESCALA EM GEOGRAFIA


(Adelci Figueiredo Santos) .................................................................................................................. 95

. ARTICULAÇÕES ENTRE OS NÍVEIS DE ENSINO


(Um retrospecto sobre a evolução do processo)
(Ivo Lauro Müller Filho) .................................................................................................................. 99

. ARTICULAÇÕES DOS NÍVEIS DE ENSINO


(Maria Auxiliadora Cartaxo) ............................................................................................................ 113
A SIGNIFICANCIA CONTEXTUAL DA GEOGRAFIA FISICA

Antonio Christofoletti
Departamento de Planejamento Regional
IGCE/UNESP - Campus de Rio Claro

Ao participar do "Simpósio Teoria e Ensino da Geografia", no Grupo de Trabalho


relacionado com o tema "Natureza e Sociedade", se-ja-me permitido expor considerações a propósito do
contexto e da função da Geografia Física na análise e compreensão das organizações espaciais.
A análise das condições naturais sempre foi claramente
exposta como sendo objetivo inerente à ciência geográfica. No contex
to científico do século XIX, a focalização geográfica era global, sinté
tica, e as condições ambientais caracterizadoras do quadro natural fo
ram inicialmente concebidas como unidade integrada, interligada por re
lações entre os diversos componentes. Posteriormente, mormente na pri
meira metade do século XX, houve o predomínio de fase mais analítica,
integrante no processo de especialização então reinante. Se os geógra
fos não conseguiram realizar as almejadas "sínteses", contribuíram de
modo decisivo para o desenvolvimento dos estudos tópicos. Os geógrafos
não estudavam explícita e diretamente o meio físico, mas realizaram nu
merosos estudos setoriais, mais ou menos paralelos, que só ocasionalmen
te chegavam a fornecer compreensão e caracterização da totalidade da
paisagem. A expansão dos trabalhos relacionados com a Biogeografia, cli matologia. Geomorfologia,
Hidrologia e Pedologia criou condições para que se individualizassem como ciências autônomas. No
decorrer das décadas posteriores a 1950, observa-se tendência em favor da síntese, com novas bases
teóricas e metodológicas, para sua execução. O estabelecimento de clima científico propício à abordagem
e valorização do quadro natural, os movimentos relacionados com a crise ambiental, a difusão da
abordagem sistêmica e das técnicas de análise multivariada, e a preocupação em fornecer as bases
necessárias para os planejamentos sócio-econômicos, tanto nos países capitalistas como socialistas,
contribuíram para que houvesse retomada nos estudos concernentes à caracterização, es-trutura e
dinâmica das paisagens naturais.

1. Definição de Geografia Física

A definição de Geografia Física está imbricada com a que


se oferece para a Geografia. Kolars e Nystuen (19 75) consideram a Geografia como "o estudo
dos sistemas homem - meio ambiente sob o ponto de vista das relações espaciais e processos
espaciais". Assim, a Geografia Física focalizaria "os atributos espaciais dos sistemas naturais,
particularmente na medida em que se relacionam com a humanidade". As re lações e os
processos são algo de dinâmico e se refletem em certo padrão de organização espacial. Se o
termo de "meio ambiente" é usado pa ra exprimir a soma das condições que em conjunto
funcionaram para produzir as características de determinado espaço, na perspectiva da Geo-
grafia Física se restringe para as condições do meio ambiente físico. Para designar o conjunto
dos componentes, processos e relações dos sistemas do meio ambiente físico, Sochava, desde
19 60, vem propondo o uso do termo geossistema. Desta maneira, podemos definir a Geografia
Física como sendo o estudo da organização espacial dos sistemas do meio ambiente físico ou
da organização espacial dos qeossistemas. Nessa defini ção deve-se entender que a
organização espacial se expressa pela estrutura, que é a distribuição e arranjo dos componentes
do sistema, e se apresenta como resultante da dinâmica dos processos atuantes e das relações
existentes entre os elementos.
A caracterização de que os geossistemas constituem o ob
jeto de estudo da Geografia Física faz com que esse setor adquira fina
lidade própria e nao interfira com as esferas de ação das disciplinas
como Geomorfologia, Climatologia, Hidrografia, Biogeografia e Pedolo
gia. A Geografia Fisica nao deve estudar os componentes da natureza
(clima, formas de relevo, vegetação, água, solos) por si mesmos, mas in
vestigar as conexões existentes entre eles (Sochava, 1977). Obviamente,
ela se utiliza de muitas informações fornecidas por tais disciplinas, mas
esses dados devem ser recompostos, reorganizados e valorizados em fun
ção dos objetivos da Geografia Física, projetando a sua dinâmica e fun
cionalidade.
Em suma, a importância fundamental da Geografia Física é a de fornecer
as bases para a compreensão da natureza, cujo funcionamen to se caracteriza pelas
interrelações entre os diversos elementos. Entretanto, essa compreensão e conhecimento não
devem cingir-se a meras informações de ordem técnica, mas também propiciar condições que
permitam avaliar o quadro natural tendo em vista ser o cenário das atividades humanas. As
ações de compreender, avaliar e comportar-se perante a natureza fazem com que a Geografia
Física assuma a abrangência explicativa e aplicativa, pois se torna matéria de uso diário nas
relações das pessoas e comunidades com os elementos ambientais.
. Objetivos da Geografia Fisica

Preocupando-se era estudar os geossistemas, a Geografia


Fisica não absorve nenhum ramo já constituido das geociências. Seu ob
jetivo está em esclarecer a organização espacial levando em conta os
componentes do quadro natural.
Embora os geossistemas sejam fenômenos naturais, i indis cutível a interferência
das atividades antrópicas em seu funcionamento. Ao estudar os geossistemas, deve-se considerar os
subsistemas naturais e todas as influências dos fatores sociais e econômicos que repercutem nos sistemas
naturais. Por essa razão, a Geografia Física preocupa-se com as relações entre a sociedade e a natureza,
com os relacionamentos entre os meios ambientes e a ação antròpica, verificando os mecanismos de
retroalimentação atuantes no sistema (Sochava, 1977) . As denominadas paisagens antropogenéticas
(Isachenko, 19 74) são simplesmente estados possiveis dentro da gama de possibilidades oferecidas pelos
geossis temas, perfeitamente incluidas no contexto analítico sobre a dinâmica das paisagens componentes
da superficie terrestre.
Para investigar a estrutura, processos e relações dos
geossistemas, em seus diversos niveis escalares, a Geografia Fisica sur
ge como setor no qual se pode e se deve aplicar e usar os conceitos e
os critérios relacionados com a análise de sistemas. Em nivel de abor
dagem mais geral encontramos a teoria dos sistemas, que versa sobre as
propriedades, tipos e comportamentos do sistema, oferecendo contexto me
todológico para considerar a estrutura, comportamento, elementos, esta
do, fronteiras e meio ambiente dos sistemas em geral. Além disso, for
nece as bases para numerosos conceitos, tais como equilíbrio dinâmico,
equifinalidade, homeostase, informação, hierarquias sistêmicas, retroa
limentação, entropia, fechamento e outros. Em nivel mais baixo de abs
tração encontramos a análise de sistemas, que é caracterizada por um
conjunto especifico de propósitos e técnicas analíticas. A análise de
determinado sistema torna-se fundamental e, para isso, pode-se proceder
fazendo com que conjuntos complexos sejam divididos em unidades mais
elementares a fim de investigar a resposta de um sistema a um determi
nado input ou a um determinado conjunto de condições ambientais. Se a
abordagem da teoria dos sistemas se encontra em nível conceituai, gené
rico, a da análise de sistemas é considerada como domínio da praticabi
lidade e da operacionalização.
3. Os geossistemas e seus componentes

As atividades humanas desenvolvem-se na superfície ter


restre, cuja dimensão envolve determinada espessura, representando uma
geosfera entre outras. No contexto da "ciência da paisagem", desenvol
vida entre os pesquisadores soviéticos, Demek (19 78) denominou-a de
esfera da paisagem, Com essa designação, entende-se que o entrosamento
entre os diversos componentes contribui para organizar e estruturar os
panoramas visíveis e perceptíveis do planeta Terra. Recebendo e per
dendo energia e matéria, assim como funcionando como mecanismo trans
formador, a "esfera da paisagem" representa sistema aberto de dimensão
planetária. Todavia, em escalas espaciais diversas, pode-se distinguir
unidades estruturadas e dinamicamente integradas: são os geossistemas.
O geossistema designa um sistema natural homogêneo ligado a um
território. Ele se caracteriza por uma morfologia, isto é, por estruturas espaciais verticais e
horizontais; por um funcionamento que engloba o conjunto das transformações ligadas aos
fluxos de matéria e energia, representando os processos, e por um comportamento específico,
isto é, pelas mudanças de estados que ocorrem no geossistema em determinada seqüência
temporal (Beroutchachvili e Bertrand, 19 78). Desta maneira, o geossistema é unidade
espacial que pode ser delimitada e ana lisada em determinada grandeza. Expressa-se como
organização espacial cuja estrutura reflete os processos atuantes em seu funcionamento e na
sua história.
Em qualquer escala espacial, o geossistema sempre surge como sendo
composto por conjuntos estruturados de componentes, com relações discerni veis entre eles,
mas funcionando como um todo complexo. Assim, podemos discernir os seguintes
componentes básicos:
- A crosta terrestre (litosfera), com as formas de relevo características da
topografia, com a sua dinâmica e processos atuantes;
- A parte inferior da atmosfera, sobre a superfície terrestre, cuja
composição e dinâmica controlam as condições climáticas;
- A hidrosfera, compreendendo as águas continentais
e oceânicas, cuja importância se torna essencial para as atividades
humanas;
- A pedosfera, que forma a delgada película de solos a recobrir a
superfície das terras emersas, constituindo a interface irre guiar entre a atmosfera, biosfera e
litosfera;
- A biosfera, que ocupa as partes dos geossistemas onde as condições são
propícias ã manutenção da vida, com as características formações vegetais e animais;
- A esfera sócio-econômica, que compreende o conjunto
formado pela sociedade e seus produtos.

4. Conotações para a estrutura curricular

Em nossa exposição, tecemos considerações voltadas para a disciplina de


Geografia Física. Isto porque os trabalhos desenvolvidos nos setores mais específicos, sobre
os elementos do quadro natural, alicerçam uma bibliografia que por si só mostra a importância
de sua contribuição para o conhecimento da natureza e da compreensão das rela ções entre a
sociedade e o meio ambiente físico. Não se torna necessário, no momento, explanar
considerações sobre a Geomorfologia, Hidrologia, Climatologia, Biogeografia e Pedologia.
Se os geossistemas representam unidades integradas,
os elementos componentes da natureza também devem ser ana
lisados e compreendidos pelos geógrafos. Em conseqüência, a estrutura
curricular destinada ã formação do especialista em Geografia (tanto no
Bacharelado como na Licenciatura) deve incluir disciplinas relacionadas
:
- o Estudo dos Geossistemas;
- o Estudo das Formas de Relevo e dos seus Processos;

- o Estudo das Características e das condições climáti-


cas;
- o Estudo das águas continentais e oceânicas;

- o Estudo das Biogeocenoses;

- o Estudo dos Solos.


Para designar essas disciplinas, na formulação do currí
culo, pode-se usar designações tradicionais ou propor nomenclatura de
maior relevância geográfica. É óbvio que, para cada disciplina, em sua
execução nas unidades de ensino universitário, a programação deve-se
desdobrar de modo a abranger um ou mais semestres letivos. Como suges-tão, propomos
a seguinte nomenclatura designativa para as discipli-

- Geografia Física;
- Geomorfologia;
- Climatologia;
- Biogeografia;
- Geografia das Aguas;
- Geografia dos Solos.

Referencias Bibliográficas

BEROUTCHACHVILI, N. e BERTRAND, G. - (19 78) - Le géosystème ou système


territorial naturel. Revue Géog. des Pyrénées et du Sud-Ouest, 49
(2): 167 - 180.
CHRISTOFOLETTI, Antonio - (1981) - Geografia Física. Boletim de Geografia
Teorètica, 11 (23-22) : 5-18.
DEMEK, Jaromir (1978) - The landscape as a geosystem. Geoforum, 9 (1): 29
- 34.
ISACHENKO, A. G. - (19 74) - On the so-called anthropogenic landscapes. Soviet
Geography, 15 (8): 4 6 7 - 47 5 .
KOLARS, J. F. e NYSTUEN, J. D. - (19 75) - Physical Geography: environment
and man. MacGraw Hill Book Co., New York.
SOCHAVA, V. B. - (1977) - 0 estudo de geossistemas. Métodos em Questão, nº
16, 52 pp., IGUSP, Sao Paulo.

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