Este resumo descreve a obra de Wilhelm Wundt sobre a Psicologia dos Povos, que propõe estágios evolutivos da vida mental humana desde os povos primitivos até as culturas modernas. Apresenta as principais contribuições de Wundt para entender como funções psicológicas como linguagem, religião e arte evoluíram através da história dos povos.
Este resumo descreve a obra de Wilhelm Wundt sobre a Psicologia dos Povos, que propõe estágios evolutivos da vida mental humana desde os povos primitivos até as culturas modernas. Apresenta as principais contribuições de Wundt para entender como funções psicológicas como linguagem, religião e arte evoluíram através da história dos povos.
Este resumo descreve a obra de Wilhelm Wundt sobre a Psicologia dos Povos, que propõe estágios evolutivos da vida mental humana desde os povos primitivos até as culturas modernas. Apresenta as principais contribuições de Wundt para entender como funções psicológicas como linguagem, religião e arte evoluíram através da história dos povos.
ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO - RESUMO
ISSN 1981-4321
Tema: Sessões Temáticas - Histórias, Teorias e Metodologias
HISTÓRIA E VIDA MENTAL:A PSICOLOGIA DOS POVOS WUNDTIANA
Autor: RONALD CLAY DOS SANTOS ERICEIRA - PPGPS-UERL
A obra de Wilhelm Wundt é sobejamente conhecida pela suas contribuições aos
desenvolvimentos teóricos e metodológicos da Psicologia Experimental. É factível que Wundt empreendeu esforços intelectuais e profissionais direcionados à configuração da Psicologia como uma ciência autônoma, aqui entendida como possuidora de uma metodologia própria de abordagem de seu objeto de estudo: as funções mentais dos seres humanos. Nessa direção, Wundt forjou pertinentes leis gerais sobre o funcionamento da experiência consciente, quais sejam: princípio da realidade imediata, da síntese criadora, e da consciência auto-reguladora. Embora a vertente social da obra wundtiana siga os princípios teóricos empregados no laboratório experimental de Leipzig, a relevância histórica e epistemológica da Psicologia dos Povos quase sempre é secundada pelos manuais de História da Psicologia. As digressões presentes neste trabalho são referentes a um resumo de quatrocentas e sessenta e quatro páginas da versão em espanhol dos dez volumes originalmente em alemão da Völkerpsychologie. Diria que os objetivos desta comunicação oral são minimamente três, a saber: primeiro, debater a proeminência desta obra como uma proposta concreta de abertura da Psicologia para as demais Ciências Sociais - Sociologia, Antropologia, Economia e Política; segundo, discutir a noção de religião, arte, linguagem e cultura como funções psicológicas superiores; terceiro, tratar a interpretação idiossincrática de Wundt sobre História a partir de suas digressões sobre a vida mental consciente. Em a Psicologia dos Povos, Wundt propõe uma série de considerações psicológicas referentes às qualidades intelectuais e morais dos povos. Sua abordagem examina os diferentes graus de evolução psíquica da Humanidade, desde a fase primitiva até as produções espirituais das culturas mais complexas. Observo como primeira questão relevante a ser tratada a própria definição de um campo de estudo singular para a Psicologia dos Povos. Esta, diferentemente da Psicologia Social que estuda a vida dos pequenos grupos e da Etnografia preocupada com a gênese dos povos, estudaria a organização dos graus de evolução psicológica dos povos em seções transversais que aglutinariam os feitos humanos de cada época (religião, arte, casamento, política). As fases da evolução psicológica seriam caracterizadas por representações, sentimentos e condutas bem definidos e estariam circunscritas em quatros estágios: Primitivo; Totemismo; Heróis e Deuses; Evolução em direção à humanidade. No tocante ao primeiro estágio da evolução mental, Wundt afirma que o absolutamente primitivo seria um povo que não teria uma fase psíquica anterior ou que executasse um número menor de operações mentais em relação às qualidades gerais humanas. Cumpre examinar, o autor analisou dados coligidos por missionários e viajantes sobre tribos consideradas intactas do contato com outros povos: os pigmeus na região do Rio Nilo e algumas tribos asiáticas nas Filipinas e Malásia. Para Wundt, os primitivos teriam uma mitologia ingênua baseada na crença em vários deuses, demônios e na magia. Nesse período, insiste, não havia um pensamento pautado por uma causalidade lógica, mas por uma causalidade mágica. Suas relações familiares seriam marcadas primeiramente pela promiscuidade e depois pelo casamento dentro do próprio grupo. Por não estabelecerem trocas culturais com outros povos vizinhos, os primitivos teriam qualidades intelectuais e morais limitadas. Por seu turno, a fase totêmica demarcaria uma estreita relação entre homens e animais e plantas. Os dados sobre este estágio do psiquismo humano foram fornecidos por Spencer e Gillen em suas viagens à Austrália e ao noroeste dos Estados Unidos. Notadamente, essas tribos estavam divididas em clãs que cultuavam totens. Estes eram considerados antepassados a serem cultuados. As crenças religiosas desse período são baseadas na existência de almas e nos poderes sobrenaturais dos objetos (pedras, madeiras), que assumem poderes mágicos (fetichismo). No âmbito familiar, teria havido um avanço moral em direção à exogamia e à proibição do incesto. Este estágio seria marcado ainda pela consolidação do comércio entre as tribos e o desenvolvimento das artes plásticas com a confecção de objetos artesanais. A fase heróica e dos deuses trouxe à baila a emergência do processo de individualização dos sujeitos ante as sociedades gregas e romanas, haja vista a valorização da personalidade forte e relevante dos heróis. Ademais, os deuses são concebidos por um viés antropomórfico. Wundt aponta este período como demarcando o princípio da religião nacional, já que cada Cidade-Estado elegia os seus deuses e heróis a serem cultuados pela população. Destaca ainda que o pensamento religioso seria corolário de sentimentos e afetos despertados pelos mitos e lendas, que, por sua vez, se elevam e são reforçados pelo próprio sentimento religioso. Outrossim, a arte teria alcançado seu apogeu com a edificação de templos religiosos, construção de esculturas e fabricação de pinturas de deuses e figuras humanas heróicas. Além do significativo desenvolvimento da Poesia. No período de Evolução, à Humanidade teria se iniciado a partir do movimento renascentista. Na acepção de Wundt, as funções psicológicas superiores, como linguagem, costumes, pensamento religioso e expressão artística se tornam universais. A universalidade é entendida como o acesso geral de todos os seres humanos ao vasto cabedal de saberes e fazeres acumulados pelos povos em suas trajetórias históricas. A consolidação da escrita, por exemplo, permitiu que os diversos conhecimentos circulassem entre as diferentes sociedades, independentemente do tempo e do lugar que foram formulados. Nessa mesma direção, as duas religiões efetivamente universais - budismo e cristianismo - insistiam na salvação da humanidade em sua totalidade, sem levarem em consideração o gênero, a classe social e a etnia de seus adeptos. Em efeito, Wundt propõe um evolucionismo romântico da humanidade, posto haver uma valorização do caráter individual perante os desígnios de um Estado Nacional soberano. Aliás, a cultura universal seria paradoxalmente universal e individualista, pois caberia a cada sujeito elaborar seu próprio percurso em busca do aprimoramento espiritual, isto é, do refinamento de seus conteúdos psíquicos superiores. Nessa perspectiva, acrescenta, a história da humanidade deveria açambarcar a história da produção mental de todos os povos e não apenas contemplar a historiografia das civilizações eruditas. Para Wundt, a Psicologia concebe dois tipos de temporalidades: a primeira concerne à objetividade e seqüência cronológica dos fatos; a segunda remete à forma subjetiva que cada coletividade vivencia sua própria História. Desse modo, a História e a vida mental consciente estariam estreitamente imbricadas, já que o entendimento da história da humanidade deveria seguir os princípios referenciais que regem o psiquismo humano, qual seja: a incorporação de conteúdos psíquicos inferiores por sínteses mais complexas. A propósito, a História e a Consciência Humana seriam intrinsecamente auto-organizadoras. Assim, as funções mentais superiores propiciaria o encadeamento lógico das idéias. Malgrado partilhe as críticas à metodologia aplicada na escrita da Völkerpsychologie, reitero a intenção de restabelecer a preeminência histórica desta obra como uma possibilidade de a Psicologia repensar seu objeto de estudo centrado no indivíduo e no diálogo, nem sempre travado com as demais ciências humanas e sociais.