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João Wesley explicava que “a sociedade nada mais é do que um grupo de ho-
mens procurando o poder da piedade, unidos para orarem juntos, para receberam a
palavra da exortação e para vigiarem uns pelos outros em amor, a fim de que possam
auxiliar-se mutuamente a conseguir a sua salvação”.
A influência das Regras Gerais, que governavam a vida moral dos metodistas,
cedo se fez notar na Inglaterra. O metodismo se tornou o modelo de moralidade e isto
acabou influenciando a nação inteira. Segundo alguns historiadores importantes, foi
ele que salvou aquele império do triste caminho em seguia para o caos.
Poderá parecer ao leitor de hoje, pelo estilo da escrita de César Dacorso Filho,
talvez um pouco prolixa para os tempos de hoje e contendo um vocabulário não mui-
to usual, que esse é um documento sem valor para nosso mundo do século XXI.
Também, em função dos atuais níveis da moralidade dos metodistas – e dos cristãos
em geral – que já estão não só se conformando com a substituição dos rígidos padrões
cristãos, que eram uma característica dos metodistas mas até aderindo a essa nova
moral, pode-se pensar que esse é um documento para ser guardado e esquecido no
fundo de um baú.
Nada mais errado. Os metodistas acabam não tendo mais aquela importância
moral que tiveram na Inglaterra dos séculos 18 e 19 justamente porque têm esquecido
as “regras” para uma vida realmente cristã, absorvendo, sem um julgamento criterio-
so e realmente cristão, uma série de mazelas que tomam conta de nossa igreja e de
nossas famílias nestes tempos atribulados em que vivemos.
As Regras Gerais adotadas pela Igreja Metodista são, em essência, as mesmas dadas por João Wes-
ley, para orientação na prática da vida cristã, aos primeiros irmãos que o cercaram em busca de con-
forto espiritual e desejosos de salvação e santidade.
As Regras Gerais não são mais nem menos do que um resumidíssimo código de conduta aos que
prometeram sujeitar-se todos os que se filiam à Igreja. Por isso mesmo, elas tentam evitar, na vida
deles, umas tantas práticas e, ao mesmo tempo, estimular outras tantas que constituem, como facil-
mente se vê, não só as características da Igreja como um corpo, mas, também, as de cada um dos
que a ela pertencem, quer como simples homens, quer como cristãos. São, como claro fica, para
orientação certa, sistematizada, insofismável, do proceder evangélico, em face do século, por parte
de quem deseja e busca a perfeição. Seu fim é produzir santidade como sinal do coração regenerado
pelo Espírito Santo.
É certo que as regras Gerais não incluem todos os deveres dos membros da Igreja, quando tentam
evitar ou estimular práticas. Já se subentende, por princípios morais, natural e indelevelmente es-
tampados na consciência de todos os homens mais ou menos civilizados e educados, que eles não
devem assassinar, roubar, mentir, adulterar, etc., que devem proceder com lisura nos negócios, amar
ao próximo, etc. Tais prevaricações repugnam enormemente à consciência cristã e tais correções
são por ela louvadas. De mais a mais, aquelas estão condenadas e estas exaltadas, com expressões
iniludíveis nas páginas da Bíblia. As Regras Gerais se referem, proibindo as prevaricações “que
mais geralmente se praticam”, que são toleradas pela sociedade em geral, que, para muitos, não
chegam a ser defeitos e muito menos crime; e, estimulando, as que, por outro lado, para os profanos
não têm importância e que os próprios cristãos são tentados a negligenciar e mesmo a esquecer.
Cumpre afirmar que as Regras Gerais não constituem novidade dos metodistas, nem visam substitu-
ir instruções escriturárias. Elas se extraem ou se deduzem diretamente das Escrituras Sagradas, prin-
cipalmente no Novo Testamento. Na legislação da Igreja, elas se apresentam, pode-se dizer, como o
colecionamento ou a coordenação de semelhantes instruções.
PRIMEIRO GRUPO
1. NÃO TOMAR O NOME DE DEUS EM VÃO. Esta regra, nota-se logo, vem quase literal-
mente do terceiro mandamento do Decálogo. Estabelece o cuidado de que se deve revestir o
crente para que não use, quer escrevendo, quer falando, indevida ou impropriamente e, menos
ainda, frívola, profana ou sacrilegamente, o nome de Deus. Assim como Deus é santo, santo é o
seu nome. Assim como santamente se trata a Deus, santamente se usa o seu nome. Não se quer
impedir o uso do nome de Deus, mas o seu indevido emprego.
1
No 10º Concílio Geral (2ª Seção-1971) foi introduzida nova redação para as Regras Gerais, que é a seguinte: “1. Não
praticar o mal. 2. Zelosamente praticar o bem. 3. Atender às ordenanças de Deus.”
2. NÃO PROFANAR O DOMINGO. Guarda-se o domingo como dia comemorativo da ressur-
reição de Jesus Cristo. Esse dia, dada sua significação, celebra-se da maneira mais digna e
solene possível. Confundi-lo, deste ou daquele modo, com os dias chamados úteis, é profa-
ná-lo, atentando contra o sentimento da cristandade. Até mais do que nos grandes dias co-
memorativos, nele não se deve fazer trabalho ordinário, não se deve cuidar de negócios, não
se deve comprar, nem vender, não se deve entregar a ocupações e divertimentos que desvi-
em o corpo do descanso e o espírito da adoração devida a Deus; não se deve fazer viagens e
passeios desnecessários. Tudo isso, porém, não impede que se façam serviços especiais de
evangelização, de culto, de caridade, etc.
1. NÃO TOMAR, FABRICAR OU VENDER BEBIDAS ALCOÓLICAS. Demonstrado co-
mo está que as bebidas alcoólicas prejudicam o corpo, o espírito, a felicidade, ninguém deve
ingeri-las. A Igreja só recebe em seu seio as pessoas que solenemente prometem não fazer
uso delas, nem fabricá-las, nem vendê-las.
2. NÃO CONVERSAR SEM CARIDADE. Nada mais próprio ao cristão que somente conver-
sar sobre assuntos que edificam, que aproveitam, que são úteis. Ninguém tem o direito de
falar mal do seu próximo. Do mesmo moldo, ninguém tem direito de entabular conversações
que não visam algum bem. Como é detestável a calúnia, a difamação, a intriga, o mexerico,
a conversa-fiada, as palavrosidade desnecessária, a parolice.
3. NÃO BRIGAR. Não está de harmonia com o Evangelho o espírito rixento, questionador,
disputador, avalentoado. Por isso a Igreja condena as brigas, as altercações, o pagar o mal
com o mal, o retribuir injúria com injúria. O espírito que o Evangelho produz é invariavel-
mente pacífico e pacificador e, mesmo, sofredor de injustiças.
4. NÃO PROCESSAR UM IRMÃO a um IRMÃO. Não se admite, na Igreja, que um professo
recorra aos tribunais civis contra outro. Ambos cristãos, ambos amigos da verdade e da jus-
tiça, que devem ser, por força têm, nas leis da própria Igreja, os recursos necessários para re-
solverem as dificuldades que entre eles surgirem. Se entre si não podem chegar a um resul-
tado satisfatório, procurem a arbitragem aconselhada nos Cânones.
5. NÃO BURLAR AS LEIS DO GOVERNO. É grave delito deixar de pagar os impostos, por
processo fraudulento, quer na compra, quer na venda de móveis ou imóveis, quer na decla-
ração das rendas, quer na avaliação de propriedades, quer em transações de qualquer nature-
za. Nesse delito se inclui a compra de artigos contrabandeados, a sonegação de artigos que
se vendem às ocultas, as viagens nas estradas de ferro sem bilhetes devidamente comprados
ou com passes concedidos contra os regulamentos, os negócios ilícitos, as reservas mentais,
as evasivas, os pretextos, enfim tudo o que trai a verdade dos contratos e dos tributos.
6. NÃO USAR DIVERTIMENTOS IMPRÓPRIOS. A Igreja reconhece a necessidade de di-
vertimentos, leitura e cânticos que todo homem tem mas, ao mesmo tempo, reprova os que
não tendem para a edificação da alma e aperfeiçoamento moral. Dos divertimentos muitos
há que são incompatíveis com a pureza do Evangelho, como o baile, o carnaval, certos ci-
nemas, teatros ou circos; outros que são cruéis, como algumas lutas de tablado, touradas, ri-
nhas de galo e, mesmo, as corridas de cavalo; alguns que despertam ambições indevidas,
como uns tantos jogos de azar. Do mesmo modo, há por toda parte livros e cânticos que não
se coadunam com o caráter cristão, porque acordam instintos que devem ficar adormecidos,
corrompem bons costumes, atentam contra a fé e a moral. Quanto a tudo isso, a regra que se
pode estabelecer é que deve rejeitar tudo o que não possa gozar em nome de Jesus. Uma
consciência realmente ansiosa de pureza e santidade, sempre estabelece o critério necessário
para a escolha de divertimentos.
7. NÃO SE ENTREGAR AO LUXO. A naturalidade, a sobriedade, a simplicidade são os or-
namentos do cristão. Elas se opõem à ostentação, ao luxo, à vaidade. Compreende-se que
não fica bem ao cristão o uso de vestimentas, jóias e perfumes que, por excesso, ofendem
aos humildes, aos pobres. As modas extravagantes e outras coisas assim, estão muito longe
de corresponder à modéstia que a Palavra inspirada pede aos crentes.
8. NÃO DEIXAR DE PAGAR EMPRÉSTIMOS. O cristão honra sua palavra. Honra-a tanto
que, para ele, deveria ser desnecessária, nos negócios, qualquer testemunha ou qualquer do-
cumentação. “Sim”, para ele, é sempre sim. “Não”, para ele, é sempre não. Se pede alguma
importância emprestada, paga-a pontualmente, na data marcada para pagá-la. Se pede algum
objeto emprestado, devolve na data que prefixou para devolvê-lo. Se, ainda, por força maior,
não pode satisfazer seu credor no dia do vencimento, vai a ele, em momento oportuno, edir
prorrogação. Caso não consiga prorrogação, toma emprestado de terceiro para pagar aquele
credor. Em suma, não usa de pretextos nem de escusas nos seus negócios mas, ao contrário,
neles age com toda a sinceridade, com toda a honestidade, mesmo porque reconhece que a-
gir de outro modo é mentir, é expor-se à vergonha e, sobretudo, macular o nome de cristão.
11.NÃO FAZER AOS OUTROS O QUE NÃO QUER QUE A SI SE FAÇA mas, de outro
lado, lembrar-se do que Jesus disse: “Fazei aos outros tudo o que quiserdes que eles vos
façam”. Esta regra, capaz de santificar todas as relações do homem com os outros ho-
mens, embora de execução difícil, é um imperativo para todos os cristãos.
SEGUNDO GRUPO
3. MAS NÃO É SÓ AOS OUTROS QUE SE DEVE FAZER TODO BEM POSSÍVEL, MAS
TAMBÉM A SI MESMO. Daí,
a. ter-se ocupação e trabalho de modo que não dependa dos outros e a, se possível,
construir, sem mesquinhez, sai independência econômica para quando o surpreende-
rem dias difíceis, ou lhe chegarem os tempos de invalidez, ou da velhice;
b. usar de diligência para que, por sua causa, não seja o Evangelho vituperado de ne-
nhum modo – quer isto dizer que se deve conduzir em tudo de maneira tal que, por
sua causa, ninguém possa, com razão, falar mal de sua religião;
c. embora não se dê oportunidade a que se insurjam os homens contra sua religião, es-
tar sempre pronto, por amor a Jesus Cristo e ao Evangelho, a sofrer, com paciência, o
que eles, em sua incredulidade, lhe façam de desprezo, escândalo, injúria, persegui-
ção e morte.
TERCEIRO GRUPO
c. participar da Ceia do Senhor, porque ela é um meio de graça para reforçar a fé e re-
novar a consagração dos cristãos. Ninguém deve abster-se dela. Antes, todos devem
estar sempre preparados para os elementos representativos do corpo e sangue de
Cristo, onde quer que a ministrem;
e. jejuar e fazer abstinência. Infelizmente, não se dá muita atenção ao jejum, como prá-
tica religiosa. Entretanto, deveria dar-se, deixando-se a cada um decidir o número de
vezes, quando e como fazê-lo. De mais a mais, é uma obrigação o cristão metodista
recusar-se aos desejos de seu corpo que contrariem a vontade divina.
Aí temos explicadas de modo geral as partes mais importantes das Regras Gerais da Igreja
Metodista, que são norma de vida para todos os seus membros.
Ninguém pode ser recebido na Igreja Metodista sem prometer obedecer a elas e honrá-las.
Se, porém, depois de devidamente recebido, alguém as quebra, fica sujeito, por isso, à admoestação
do pastorou de uma comissão nomeada por ele. Não havendo correção, não mais poderá continuar
na Igreja.
Obs.
Estes comentários, escritos na década dos 40, foram publicados duas vezes pela Junta Geral de
Educação Cristã da Igreja Metodista e distribuídos em todo o Brasil.
MATERIAL DA PUBLICAÇÃO ELETRÔNICA
De 1934 a 1946, toda a Igreja Metodista do Brasil estava sob sua jurisdição.
Ele trabalhou com afinco visitando pessoalmente todo o Brasil metodista da época.
Era muito organizado, pregava muito bem e era muito zeloso com a unidade das dou-
trinas e práticas metodistas. Era enérgico, exigente, vibrante. Ótimo administrador,
queria saber de tudo. Para ele, a itinerância pastoral era uma questão de honra para o
pastor metodista. Muitos até o achavam autoritário. Na realidade, o que ele tinha
mesmo era autoridade, e a sabia usar muito bem e com inteiro senso de justiça. Na
defesa da doutrina, era intransigente. Como o apóstolo Paulo, além de viajar muito,
pastoreava por cartas. Escrevia dezenas delas por semana em sua máquina portátil
Smith Corona, numa época em que não tinha uma sede ou, mesmo, uma secretária.
Para se ter uma idéia de sua atividade febril, seu biógrafo Nelson de Godoy
Costa (*) relembrou os verbos usados com frequência pelo Bispo César em seus rela-
tórios e cartas : “viajei, cheguei, vi, convidei, participei, li, escrevi, respondi, agrade-
ci, estudei, orei, preguei, visitei, observei, estive, examinei, saí, percorri, andei, suge-
ri, aconselhei, resolvi, determinei, ordenei, comuniquei, cuidei, exortei, aconselhei,
batizei, realizei, oficiei, falei, acompanhei, iniciei, concluí, continuei, convoquei, di-
rigi, presidi, sugeri, atendi, sofri, intercedi, supliquei...”
Esse era o Bispo César, cujo amor à Igreja Metodista era inexcedível e cuja
fidelidade ao chamado de Cristo foi fielmente cumprido até seu falecimento em 15 de
fevereiro de 1966.
Além de bispo da Igreja Metodista do Brasil por 21 anos, ele foi o primeiro
presidente da Sociedade Bíblia do Brasil e na função permaneceu por nove anos.
Doutor em Teologia honoris causa, recebeu em vida outras homenagens muito im-
portantes, como presidente de Honra da Sociedade Bíblica do Brasil, Sócio Vitalício
da Sociedade Bíblica Americana, Sócio Honorário da Sociedade Bíblia Britânica e
Estrangeira, membro das Academias Evangélicas do Rio de Janeiro e de São Paulo,
além de muitas outras.
É uma alegria para o autor destas linhas, que o conheceu e o admirou desde
menino e com quem manteve uma forte amizade durante muitos anos, poder dar este
testemunho. Sua pessoa deve ser sempre lembrada como verdadeiro herói da fé.
João Wesley Dornellas
OBS:
(*) O livro César Dacorso Dacorso Filho, príncipe da Igreja Metodista do Brasil,
está publicado integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel.
Link:
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/César-Dacorso-Filho-Príncipe-da-
Igreja.pdf