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NATAL/RN
2018
Heitor Freire
NATAL/RN
2018
HEITOR FREIRE DE ALBUQUERQUE FILHO
Figura 1 - Vista lateral da Casa da Fazenda - Museu - Fazenda Bom Fim ............... 18
Figura 2 - Painel mostrando o interior do Museu do Vaqueiro - Fazenda Bom Fim .. 18
Figura 3 - Publicação Jornalística - Fazenda Bom Fim ............................................. 19
Figura 4 - Presidentes Rossevelt e Getúlio Vargas em Natal .................................... 21
Figura 5 - Base aérea de Parnamirim – RN .............................................................. 22
Figura 6 - Rádio valvulado......................................................................................... 23
Figura 7 - Luiz Gonzaga – Rei do Baião.................................................................... 26
Figura 8 - Jackson do Pandeiro – o Rei do Ritmo ..................................................... 30
Figura 9 - Dominguinhos – Neném do Acordeom ..................................................... 31
Figura 10 - Vista Externa da área da Fazenda - Fazenda Bom Fim ......................... 34
Figura 11 - Apresentação de Arnaldo Farias – Forró da Lua .................................... 35
Figura 12 - Apresentação de Zé Barros e Gugu do Acordeom – Forró da Lua ......... 35
Figura 13 - Portal de Entrada - Fazenda Bom Fim .................................................... 36
Figura 14 - Painel ilustrativo da Pega de Boi - Fazenda Bom Fim ............................ 36
Figura 15 - Painel mostrando o interior do Museu do Vaqueiro - Fazenda Bom Fim 37
Figura 16 - Vista do Painel de Entrada do Museu - Fazenda Bom Fim ..................... 37
Figura 17 - Painel em homenagem a L. Gonzaga - Dominguinhos – Elino Julião -
Fazenda Bom Fim ..................................................................................................... 39
Figura 18 - Apresentação da Crianças do Projeto – Forró da Lua ............................ 39
Figura 19 - Painel em homenagem aos Forrozeiros Tradicionais – Fazenda Bom Fim
.................................................................................................................................. 40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16
3 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 17
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 47
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
8
1 INTRODUÇÃO
“Minha sanfona, minha voz, o meu baião,
Este meu chapéu de couro e também o meu gibão,
Vou juntar tudo, dar de presente ao museu,
É a hora do Adeus,
De Luiz, rei do baião”
(Onildo Almeida e Luiz Queiroga, 1967)
Já vai longe o tempo em que a vida pacata do sertanejo nordestino era ditada
pelo ronco disfônico das sanfonas. Com a aproximação das cidades, fruto dos
constantes avanços tecnológicos ou não da sociedade, o que era original e autêntico
foi sendo relativizado. O reflexo disto pode ser observado desde os hábitos,
costumes, dança e também na “Música Popular Nordestina”. De acordo com
Cascudo (2009), esse Patrimônio Imaterial aos poucos foi sendo esquecido.
(1996) apud Zanella (2011), a pesquisa qualitativa tem como base a análise teórico-
empírica que permite atribuir cientificidade ao trabalho. São utilizadas como fontes
de pesquisa os recursos da mídia, obras literárias baseadas em relatos de diversos
autores e a vivência “in loco” por ocasião da realização do Evento Cultural do Forró
da Lua e da visita ao Museu do Vaqueiro. Foram também utilizadas entrevistas de
cantores tradicionais concedidas em redes de televisão – disponíveis na plataforma
de compartilhamento de vídeos (YouTube), em ocasião de suas apresentações no
espaço em estudo. Durante o estudo foi constatada a escassez de material para o
embasamento do referencial teórico que aborde de forma incisiva o tema central da
pesquisa.
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2 OBJETIVOS
3 DESENVOLVIMENTO
cultura, foi o tronco principal no que diz respeito à formação da música popular no
Brasil, isso é o que afirmava o antropólogo Darcy Ribeiro1.
Segundo Ribeiro (1995), só se falar de cultura brasileira na concepção de
uma entidade complexa e fluída que não corresponde a uma forma dada, senão a
uma tendência em busca de uma autenticidade jamais lograda plenamente.
O forró expressa bem a condição de mosaico da cultura brasileira. No final do
século XIX, aconteciam bailes populares no Nordeste do Brasil, especificamente no
sertão de Pernambuco, conhecidos por Forrobodó. A história do Forró começou com
estilo de dança do xaxado, caracterizada pela batida do pé. Na visão do grupo de
Xaxado Cabras de Lampião, de Serra Talhada (PE), registrado como Fundação
Cultural, que são artistas e estudiosos do ritmo, naquela época, as pistas de dança
eram de barro e, para que a poeira não levantasse, antes de começar a dança,
jogavam água no barro, por isso as pessoas dançavam arrastando os pés para
evitar que a poeira subisse.
Muitos ainda confundem xaxado, forró e baião e não apenas esses três
gêneros, mas muitos outros existentes na música nordestina. Essa grande variedade
de gêneros musicais se dá devido às influências variadas e à mistura de um estilo
com outro. As letras das músicas do Forró Tradicional possuem temáticas ligadas
aos aspectos culturais e cotidianos da região Nordeste do Brasil, caracteriza-se pela
básica utilização dos seguintes instrumentos musicais: Triângulo, Sanfona E
Zabumba.
A popularização geral do Forró no Brasil ocorreu com a migração dos
nordestinos para outras regiões do país, devido ao auge da Industrialização. Entre
as décadas de 1960 a 1980, essa migração para a região Sudeste, em especial aos
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, foi intensa. Uma junção de fatores como:
exploração de mão de obra barata no Nordeste, a vegetação seca da região, e a
grande oferta de empregos nas regiões Sul e Sudeste do país, contribuiu para essa
migração. Na década de 1950, o Forró tornou-se um fenômeno nestes Estados.
1
Darcy Ribeiro: autor de ficção, romance e cultura, o educador brasileiro foi diretor do Museu do
Índio, fundou a Universidade de Brasília e em 1962 foi reitor da instituição. Em 1961 foi Ministro da
Educação, posteriormente Chefe da Casa Civil.
25
Vestido de Lampião da cabeça aos pés, Luiz Gonzaga foi confundido com
um cangaceiro pelos meninos da cidade onde morreu Antônio Silvino.
Quem estava ali no início dos anos 1950, no auditório da Rádio Borborema,
porém, não era o Rei do Cangaço, e sim o Rei do Baião, gênero musical
que tinha sido apresentado ao Brasil, de forma tão envolvente quanto
didática, por Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira:
Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião,
E quem quiser aprender é favor prestar atenção (CARVALHO;
RODRIGUES, 2012, p.20).
Exímio sanfoneiro de oito baixos, Januário, pai de Luiz Gonzaga, era sempre
requisitado para tocar nos sambas de pé de serra, os forrós, festas dançantes que
começavam no início da noite e se prolongavam até a madrugada. Também
mantinha na casa uma pequena oficina para consertar instrumentos dos tocadores
da região.
De acordo com Carvalho; Rodrigues (2012, p.18-19) de 1920 a 1930,
Gonzaga acompanhou o pai nos forrós. Observando com atenção a reação dos
convidados às músicas tocadas. Evitando desgastar demais o filho, Januário
mandava-o dormir no início da festa, depois o acordava para tocar, diante do olhar
admirado dos convidados. Tocar nos forrós representava raro alento na vida de
menino pobre, que não frequentara escola e aprendera o alfabeto graças à
paciência das filhas do primeiro patrão, sinhô Ayres, para quem fazia pequenos
serviços, como acompanha-lo em viagens pelo interior, Ayres no cavalo, Gonzaga
num burrinho. Foi Ayres quem o ajudou a comprar a primeira sanfona.
Na música, gravada em novembro de 1946 e lançada em março de 1947,
Teixeira já desenvolve uma temática que se tornaria recorrente: a dor da ausência e
a melancolia, alternando com momentos de alegria.
Lá no meu pé de serra
Deixei ficar meu coração
Ai que saudades tenho
Eu vou voltar pro meu sertão
No meu roçado eu trabalhava todo dia
Mas no meu rancho eu tinha tudo que queria
Sanfona não faltava
E tome xote a noite inteira
O xote é bom de se dançar
A gente gruda na cabocla sem soltar
Um passo lá, um outro cá
Enquanto o fole tá tocando, tá gemendo, tá chorando, tá fungando,
reclamando sem parar… (GONZAGA; TEIXEIRA, 1946)
28
Que não se pense porém que a vida de sucesso e realizações foi sempre a
de seu Luiz (como era chamado pelo afilhado Dominguinhos). Na realidade por
conta de um namoro proibido com Nazarena, uma moça da região, foi rejeitado pelo
pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, que não o queria para genro, visto que ele
não tinha instrução, era muito jovem e sem maturidade para assumir um
compromisso. Revoltado com o rapaz, ameaçou-o de morte. Gonzaga se viu
obrigado a fugir para evitar uma tragédia. Não sem antes levar uma pisa da mãe e
do seu pai, descontes com a atitude do filho.
Recebeu da imprensa carioca o apelido – “Lua”, criado por Dino Sete Cordas
e divulgado por Paulo Gracindo na Rádio Nacional. Faltava, porém, definir a
vestimenta adequada ao repertório. O objetivo de Luiz Gonzaga era marcar de forma
indelével a sua presença. Inspirado no cantor e acordeonista catarinense Pedro
29
Raimundo, que todo faceiro cantava e encantava a plateia quando aparecia pilchado
(de bombacha e lenço no pescoço). “No auditório da Rádio Nacional, teve uma ideia:
– Esse cabra canta, declama, improvisa, faz tudo entrosado com a sanfona. É um
espetáculo. Ele canta muito bem o sul, eu vou cantar o norte. Ele é gaúcho, vou ser
um cangaceiro” (CARVALHO; RODRIGUES, 2012, p. 32).
Gonzaga pediu para a sua mãe enviar um chapéu de couro pelo primeiro
portador que aparecesse em Pernambuco. Ela obedeceu, e Luiz Gonzaga ficou
pronto para se mostrar ao Brasil: chapéu de cangaceiro, lenço colorido no pescoço,
gibão encourado no corpo, sandália rústica nos pés. Sucesso feito!
Conforme Silva (2010, p.3), José Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro,
ilustrado na Figura 8, nascido em Alagoa Grande, na Paraíba, em 31 de agosto de
1919, era conhecido como o “Rei do Ritmo” devido a seu recurso vocálico que
improvisava melodias ao cantar.
Considerado o primeiro artista pop brasileiro e o maior ritmista da história da
música popular brasileira a história da sua carreira artística reforça a herança da
influência negra na música nordestina, sempre com o auxílio de um luxuoso
pandeiro na mão e dono de um recurso vocálico único. O maior mérito de Jackson
do Pandeiro foi ter levado toda a riqueza dos cantadores de feiras livres do nordeste
para o rádio e televisão, cantando músicas como Chiclete com banana, Alô Alô
Campina Grande, a Cantiga do sapo, O Canto da Ema e outras músicas de sua
autoria que fizeram de Jackson do Pandeiro um divulgador do forró cantando coco
por todo o Brasil. O coco é dança de roda do norte e nordeste do Brasil, fusão da
musicalidade negra e cabocla. Acredita-se que tenha nascido nas praias, daí sua
designação. O ritmo sofreu várias alterações com o aparecimento do baião nas
caatingas e agreste.
O sucesso de Jackson do pandeiro junto ao público derrubou o preconceito
contra o Forró fazendo com que ele ganhasse um programa na rádio Globo do Rio
de Janeiro, isto na década de 70. Neste programa Jackson do pandeiro dava
oportunidade para que artistas nordestinos se apresentassem cantando Forró.
30
Certa feita, tocando com seus irmãos na porta do hotel em Garanhuns, foi
ouvido por Luiz Gonzaga, que ficou encantado com Dominguinhos e prometeu-lhe
uma sanfona de presente se algum dia ele resolvesse ir ao Rio de Janeiro. Em 1954,
sua família mudou-se para o Rio, radicando-se em Nilópolis. Dominguinhos procurou
imediatamente o Rei do Baião para cobrar-lhe a promessa, sendo presenteado com
uma sanfona nova.
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Buarque (Tantas palavras, Xote da navegação), Nando Cordel (De volta pro
aconchego, Gostoso demais, Faz de mim, Isso aquí tá bom demais), Gilberto Gil
(Abri a porta e Lamento sertanejo), Manduka (Quem me levará sou eu), Fausto Nilo
(Pedras que cantam). É autor também de trilhas e temas musicais de filmes como O
Cangaceiro (Aníbal Massaini Neto) e As Aventuras de um Paraíba (Marco Altberg).
Na sua longa discografia estão incluídas a composição e gravação de choro, forró,
xaxado, baião, coco, quadrilha, entre vários outros ritmos da música típica
do Nordeste brasileiro. O famoso Forró do Dominguinhos além de espalhar-se pelo
País nos shows que ele fazia para plateias universitárias, virou um gênero musical.
A sua qualidade como músico, compositor e intérprete é inconfundível.
Tem muita coisa para ser explorada em termos de folclore. Nós somos
muito ricos. Toda essa riqueza precisa ser bem divulgada para que todo
Brasil cante. Tem muitos cantores novos que estão na nossa, como Zé
Ramalho, Amelinha, Alceu Valença, Fagner. As rádios não precisam tocar
músicas estrangeiras, têm que dar valor ao que é nosso. A juventude está
exigindo e os meios de divulgação vão acatar, porque não deixa de ser
interesse desse meio (JACKSON DO PANDEIRO, 2001, p. 355).
casa que abriga as instalações do referido, é uma cópia fiel da Casa de Fazenda
dos Engenhos do século XIX.
novos rumos em torno do tema Forró de Pé de Serra e Cultura Nordestina, haja vista
a concorrência com outros estilos de forró. Em alguns momentos as atrações da
noite são convidadas a participar com as suas experiências. Como de costume, as
opiniões convergem para o fato da descaracterização das festas de Luiz Gonzaga.
O Projeto Museu do Vaqueiro/Forró da Lua, tem como escopo o resgate da
Cultura Nordestina de Raiz, ou seja, os hábitos e costumes vividos pelos autóctones
em relação aos “utensílios, hábitos alimentares e músicas regionais”. Como meio
para atingir tal intento, utiliza a Fazenda Bom Fim, localizada na Estrada da Lagoa
do Bonfim no entorno do Posto da Polícia Rodoviária Federal na BR-101, de
propriedade da família Lopes. Não restam dúvidas de que se trata de um Lugar
Diferenciado.
Para que se possa ter a exata dimensão deste possível atrativo turístico, se
faz necessária uma maior divulgação junto as empresas que compõe o chamado
Trade Turístico. Podendo abrigar em suas dependências cobertas,
aproximadamente 1.000 pessoas, o local permite ao visitante encontrar um espaço
para adquirir cultura através dos diversos painéis instalados na parte interna e
externa do Museu, como mostra as Figuras 17 e 19, bem como dançar ao som das
músicas regionais, além de contar com um cardápio tipicamente sertanejo.
A sua temática musical tem como matriz genética Luiz Gonzaga, Trio
Nordestino, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Elino Julião entre outros, o que a
torna “Verdadeiramente Nordestina”. Nas suas instalações, funciona a Escola de
Sanfonas, que tem como público alvo os alunos da rede Municipal de São José de
Mipibu e Nísia Floresta, tendo dado origem a Orquestra Sanfônica, contando
atualmente com crianças e adolescentes na faixa etária de 6 aos 17 anos, ilustrado
pela Figura 18.
Os instrumentos musicais são frutos de doações, nada sendo cobrado dos
alunos. Inclusive a remuneração do professor é feita de forma particular.
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Figura 17 - Painel em homenagem a L. Gonzaga - Dominguinhos – Elino Julião - Fazenda Bom Fim
Fonte: Freire (2018)
Por outro lado a Cultura Nordestina também se faz viva e presente com a
realização do evento “Forró da Lua”, uma tradição que teve o seu início em 30 de
Novembro de 2002, com a realização da 1ª Pega de Boi no Mato, por ocasião da
Lua Cheia, tendo contado na época com a presença dos seguintes artistas:
Waldonys, Luizinho Calixto e Arlindo dos 8 Baixos. Buscava-se através da
realização do Forró a oportunidade de conciliar lazer e entretenimento dos
vaqueiros, sem a pretensão comercial. A presença era somente dos empregados da
Fazenda e convidados.
2
Santana O Cantador. Entrevista disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=vD6srWA8gEk>.
Acesso em: 8 set. 2018.
3
Devolva meu São João. Entrevista disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=osaQQUq_240. Acesso em: 8 set. 2018.
43
Elba Ramalho4 (Devolva meu São João) também faz referência a presença de
cantores sertanejos em eventos de forró, o que o descaracteriza, segundo dito por
ela: “com todo o respeito, não é a festa do peão, é a festa do São João. Explicado e
compreendido. Não pense só no oportunismo. Não distorçam as minhas palavras”.
O cantor Alcymar Monteiro5, em apoio ao movimento citado, compôs uma
música em referência a causa de todos os forrozeiros, o resgate da música de Luiz
Gonzaga, intitulada “Fora breganejo”. Em um trecho da música, diz: “Precisamos
resgatar nossas manifestações”.
Entrevista com Dominguinhos - Publicada na Revista Contexto6 (ipsis litteris):
Pergunta - MUITOS artistas se opõem ao chamado “forró eletrônico”, tocado
por essas bandas que fazem sucesso hoje, quase todas do Ceará. O que o Sr.
pensa dessa nova música tocada pelo povo do Nordeste?
Dominguinhos - AQUILO ALI tem o lado bom. Eu vejo aquilo ali como um
momento de lucidez, porque alguém tinha de fazer alguma coisa para dar uma
sacudida na música nordestina. Exatamente Emanuel Gurgel formou as primeiras
bandas no Ceará, conseguiu esse furo: o novo forró. Desde que eles começaram,
nós sabemos que nenhuma banda toca forró, por que, um forró depende de um
triângulo e um zabumba, pode ter bateria, pode ter guitarra, pode ter piano, o que
quiser, mas se não tiver o zabumba e o triângulo para tocar redondo, não vai dizer
que é forro que não é, é uma invenção. Mas eles, através dessa sacada do
Emanuel, deram um chute muito grande e esse chute atravessou o mundo. A
música nordestina muito parada despertou.
Pergunta - QUAIS FORAM os prejuízos dessa música para os sanfoneiros de
raiz?
Dominguinhos - OS SANFONEIROS perderam espaço. Todos nós fomos
tolhidos porque as bandas faziam um show-baile. Eles botavam dois bateristas,
quatro cantores, dois guitarristas, tudo em dobro desde que começava até às 4h da
manhã. Eu toquei muito no Ceará, no Rio Grande do Norte, no Piauí, aí as portas se
fecharam. Por quê? Quando as bandas iam tocar numa festa, a meia noite era a
hora do artista. Aí a banda parava, ia descansar, tomar e comer um negocinho e o
4
Elba Ramalho. Entrevista disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=VURy6uPyQRQ>.
Acesso em: 8 set. 2018.
5
Alcymar Monteiro. Entrevista disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SJ7OWZqUH6c>.
Acesso em: 8 set. 2018.
6
Dominguinhos. Entrevista realizada por Tárik de Souza, disponível em:
<http://www.mpbnet.com.br/musicos/dominguinhos>. Acesso em: 8 set. 2018
44
artista fazia, por volta de uma hora, o seu show. As bandas tomaram conta de tudo e
não foi mais possível artista nenhum fazer show porque comandavam a noite toda e
o dono da festa pagava um cachê só. Isso aí foi uma coisa muito ruim para nós,
integrantes da música nordestina de raiz, porque eu só tocava, naquela época, com
zabumba, triângulo e pandeiro. Era um trio. Daí uma banda daquelas com trombone,
com pistão, com isso e com aquilo, e a gente éramos três gatos pingados, você
imagine a diferença de som. E, muitas vezes, o som era do cara da banda que
ficava fazendo maldade: tirava o som, deixava baixinho. Isso aí, até o Flávio José já
passou em épocas mais perto agora, Já famoso como é.
Em entrevista prestada por Arnaldo Farias7 ao programa de televisão Fátima
Mello, o artista faz referência a perda de espaço da música popular de raiz para as
Bandas, dizendo também que no Rio Grande do Norte o Forró de Raiz passa por
dificuldades, não sendo valorizado. Por este motivo optou por fazer o São João no
interior da Bahia. Para ele o verdadeiro forró é o de Luiz Gonzaga, Jackson do
Pandeiro e Trio Nordestino.
7
Arnaldo Farias. Entrevista disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=_cFEd8CMH2M >. Acesso em: 8 set. 2018.
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locais. No que diz respeito à culinária, está baseada no cardápio nordestino, dando
ênfase à macaxeira, escondidinho de carne de sol, feijão verde e paçoca.
Sem qualquer exagero, pelo conjunto da obra, é um lugar a ser visitado,
preservado e divulgado. Seria no entanto interessante investir em uma melhor
definição do local, como placas de sinalização para facilitar a orientação espacial
logo no início da estrada de acesso na BR-101.
Merece ser melhor explorado pelas de agências viagens e congêneres,
inclusive sendo inserido no Turismo Rural pelos órgãos competentes. Tão carente
de opções noturnas que agreguem valor e Cultura na Região Metropolitana de Natal,
poderia ser melhor aproveitado como opção de lazer e turismo. Podendo vir a ser
um Atrativo Turístico, se bem trabalhado. Saindo do artesanal.
Diante do exposto, é possível afirmar que se trata de uma oportunidade única
do visitante associar Cultura Nordestina de raiz ao ambiente tipicamente matuto.
Neste local realmente se preserva a boa música de Gonzagão.
Tem sim, potencial a ser explorado, pois trata-se de um produto turístico
acabado.
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4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CÂMARA CASCUDO, Luis da: Dicionário do Folclore Brasileiro: 9ed. São Paulo:
Global, 2000.
CÂMARA CASCUDO, Luis da: Viajando o Sertão: 4ed. São Paulo: Global, 2009.
GULART, José Alípio. Brasil de boi e do couro. Rio de Janeiro: edição GRD, 1964.