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Universidade de Brasília- Unb

Introdução à Antropologia - DAN 0022 (Turma:7)


Docente: Amanayara Tupinambá - Juliana Santana
Discentes:Anne Karoline Martins (211053760) Natália Sousa
Teixeira (190093820)
Data: 19/04/2023

3. Resumo Crítico: Antropologia para quê serve?


(7-19)
1. Sobre levar os outros a sério
A questão de como devemos viver é uma reflexão única dos seres humanos, que não é
levantada por outros animais. A vida humana não é predeterminada e requer que
continuamente improvise modos de vida, abrindo novas trilhas, mesmo quando seguindo os
rastros de seus predecessores. A vida humana é social, e cada modo de vida representa uma
experiência comunitária acerca de como viver. É uma resposta ao problema da vida da
mesma forma que um caminho é uma solução para chegar a um destino ainda desconhecido.
No entanto, ele é uma abordagem do problema.Ingold defende um campo de estudo que
busca aprender com a maior variedade de abordagens possível e apoiar-se na sabedoria e na
experiência de todos os habitantes do mundo, independentemente de suas origens, meios de
subsistência, circunstâncias e lugares de residência, chamado de antropologia. Ele apresenta
uma visão pessoal sobre o que a antropologia deveria aspirar a ser, reconhecendo que outros
podem discordar, mas isso seria um sinal de vitalidade.
A antropologia é uma disciplina em aberto, e a história da antropologia não pode ser narrada
como uma história do início ao fim. O livro é sobre refazer a antropologia para o futuro e
recontar o seu passado. O pesquisador apresenta a questão sobre como viver e acredita que
essa questão pertence tanto à filosofia quanto à antropologia. Ele questiona o que significa ser
humano e como nos organizamos em sociedades, construímos instituições, entre outros.
Enquanto os filósofos se dedicam a examinar textos canônicos, os antropólogos praticam sua
filosofia no mundo, estudando povos através da observação, diálogo e prática participativa.
Para o autor, a antropologia é a filosofia com as pessoas dentro.O mundo vive um momento
crítico, com uma população cada vez mais numerosa e vivendo em cidades, com cadeias
produtivas de alimentos e outros produtos que atravessam o globo, devastação de florestas,
mineração, queima de combustíveis fósseis, e escassez de água e outros itens básicos que
motivaram conflitos genocidas. O sistema de produção, distribuição e consumo enriqueceu
grotescamente poucos em detrimento de incontáveis milhões de pessoas, causando destruição
ambiental em escala sem precedentes e deixando muitas regiões inabitáveis. Esses impactos
humanos são irreversíveis e alguns declararam o início de uma nova era na história terrestre:
o Antropoceno. Nesse contexto, a filosofia antropológica se torna mais necessária do que
nunca. Neste trecho, o autor destaca que este mundo é o único que temos e que devemos
encontrar maneiras de tornar a vida sustentável para todos. Não há uma solução definitiva
para alcançar isso, mas a antropologia pode ajudar a entender como as sociedades humanas
lidam com essas questões. As nossas ações irremediavelmente conformam as condições do
futuro, por isso precisamos abordar questões de magnitude para encontrar um caminho em
meio às ruínas.O mundo está inundado de informação e conhecimento, com cerca de 2,5
milhões de artigos científicos publicados por ano e mais de 50 milhões de publicações desde
1665. Especialistas e pesquisadores das artes e humanidades têm perspectivas diferentes, mas
ambos acreditam que podem explicar o mundo a partir de um ponto de vista privilegiado. A
antropologia, assim como outras disciplinas, reivindicou poderes superiores para descrever e
interpretar os contextos sociais e culturais de outros povos. O antropólogo defende um tipo
diferente de antropologia, que não busca interpretar ou explicar o comportamento dos outros,
mas sim compartilhar sua presença e aprender com suas experiências para aplicar esse
conhecimento em nossas próprias concepções de vida. Para o autor, a antropologia não busca
produzir conhecimento objetivo, mas sim sabedoria, e os antropólogos estão imersos nos
processos e relações do mundo ao invés de apenas estudá-lo como um objeto. Ingold
reconhece que essa abordagem pode ser vista como uma fraqueza ou falta de objetividade,
mas acredita que é a fonte da força da antropologia.O conhecimento busca explicar e prever
as coisas, enquanto a sabedoria se aventura pelo mundo e se expõe ao que acontece. O
conhecimento nos dá poder e controle, mas a sabedoria desestabiliza e perturba. Precisamos
de ambos, mas atualmente a balança está inclinada para o conhecimento e afastada da
sabedoria. A tarefa da antropologia é restaurar o equilíbrio, combinando o conhecimento
científico com a sabedoria da experiência e da imaginação.Os antropólogos são conhecidos
por sua disposição em aprender com povos que são frequentemente rejeitados como incultos,
analfabetos ou ignorantes. Eles acreditam que esses povos são sábios e têm muito a ensinar,
especialmente em um mundo que está chegando ao limite. No entanto, muitos estudiosos os
tratam apenas como informantes em vez de professores, usando métodos que os mantêm à
distância para garantir objetividade. Para a antropologia, o envolvimento íntimo e afetivo
com os povos estudados é essencial, e o método de "observação participante" é fundamental
para a disciplina.
O método da observação participante demanda tempo, já que os antropólogos precisam
passar muitos anos no campo, sendo hospedados pelos locais e se submetendo aos princípios
de dar e receber. Diferente do laboratório, onde as coisas são forçadas a revelar seus segredos
através de instrumentos, na observação participante é necessário esperar que as coisas
aconteçam e aceitar o que é oferecido. Os dados na ciência são vistos como fatos
consolidados, já separados dos fluxos da vida, e tendem a ser considerados principalmente
como quantitativos.
O texto questiona a ideia de coleta de "dados qualitativos" através da observação participante
na antropologia. Embora muitos manuais de antropologia descrevam essa prática como um
método para coletar dados não quantitativos, o autor argumenta que a qualidade de um
fenômeno só pode ser entendida em sua presença, em sua conexão com o ambiente em que se
encontra. Quando se transforma a qualidade em um dado, o fenômeno é isolado de sua matriz
de formação, e a coleta de dados qualitativos pode se tornar uma forma de expropriação
disfarçada de generosidade. O autor questiona se é correto se aproximar das pessoas para
descrevê-las, e aponta a necessidade de refletir sobre as implicações éticas da observação
participante na antropologia.
O escritor argumenta que a observação participante não é apenas um meio para a etnografia,
mas sim uma forma de estudar com as pessoas e aprender fazendo. Ele defende que a
antropologia não tem como objetivo primordial a descrição etnográfica, mas sim a
transformação educativa das vidas dos antropólogos e das pessoas com as quais trabalham. O
potencial da antropologia só será concretizado se os antropólogos levarem as pessoas a sério
e estiverem dispostos a aprender com elas.
O antropólogo defende que a regra número um da antropologia é levar os outros a sério e
encarar os desafios que eles apresentam às nossas concepções. Ele critica as estratégias
antigas da antropologia que classificavam outros povos como irracionais, supersticiosos ou
infantis. O autor afirma que muitos antropólogos contemporâneos repudiam essas estratégias,
mas alguns ainda praticam a "suspensão voluntária da descrença", sem levar a sério o
pensamento e as práticas de outros povos.
Assumir uma posição de "suspensão voluntária da descrença" é uma estratégia para nos
protegermos e negar que as palavras e ações dos outros tenham relação com a realidade. Isso
implica em considerar as construções culturais dos outros como meras fabricações
alternativas da realidade, e não como lições das quais podemos aprender. Essa estratégia trai a
regra número um da antropologia, que é levar os outros a sério e abrir-se para imaginações
enriquecidas pela sua experiência.
O texto discute questões ontológicas e epistemológicas relacionadas à antropologia. O
exemplo apresentado envolve um antropólogo que trabalhou com os nativos Anishinaabe e
discutiu com um chefe sobre a natureza das pedras e sua classificação como seres animados
ou inanimados, o que levantou questões sobre como pode haver um mundo a ser conhecido.
A resposta do chefe, de que algumas pedras estão vivas, deixou o antropólogo intrigado e
sem saber o que pensar.
O texto aborda a questão ontológica de como pode haver um mundo a ser conhecido, e
apresenta um exemplo envolvendo a percepção do povo Anishinaabe em relação às pedras. O
antropólogo A. Irving Hallowell teve uma conversa com William Berens, um chefe
Anishinaabe, sobre como algumas pedras pareciam estar vivas na gramática do idioma
Ojibwa. O autor sugere que essa percepção pode ser vista como uma atitude ritual ou sagrada,
em contraste com a atitude prática do senso comum, e questiona se essa atitude leva as
pessoas a se enganarem coletivamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ingold, Tim Antropologia : para que serve / Tim Ingoldtradução de Beatriz Silveira Castro
Filgueiras. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2019. – (Coleção Antropologia) Título original:
Anthropology – Why It Matters Bibliograa. ISBN 978-85-326-6250-7 – Edição digital 1.
Antropologia – Filosoa 2. Etnologia I. Título. II. Série. 18-22199

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