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RESUMO
Considerando a importância de Gregório de Mattos, este trabalho teve como objetivo
analisar o sarcasmo em seus poemas satíricos. Esta atividade descreveu a técnica, a
riqueza verbal, a imaginação e a independência que marcaram, com força, a sátira do
autor baiano. Encontra-se, no conjunto da obra de Gregório de Mattos, um retrato
claro e escuro, numa antítese tipicamente barroca. A obra desse autor esteve
totalmente esquecida ao longo do século XVIII. Há poucas décadas, tornou-se
plenamente conhecida com a organização de poemas feita por James Amado, em
1968. E esse tema torna-se atual na medida em que o panorama político-social do
país ganha novos personagens e novos contextos históricos. As obras de João Adolfo
Hansen e Haroldo de Campos tornaram este estudo mais elaborado, permitindo
maior compreensão e enriquecendo a qualidade desta pesquisa bibliográfica.
ABSTRACT
Considering Gregório de Mattos´s importance, this work had the objective to analyse
the sarcasm in his satirics poems. This activity described the technic, the verbal
riches, the imagination and the independence that strongly determined , the native
from Bahia author´s satire. We can find in the whole Gregório de Mattos´s work, a
white and obscure portrait, of the typically baroque antithesis. This author´s activity
has been totally forgotten along the XVIII century. A few decades ago it, turned fully
well-known by the organization of the poems done by James Amado, in 1968. And
this issue becomes present in the dimension that the social political environment in
the country to acquire new characters and new historicals contexts. João Adolfo
Hansen´s and Haroldo de Campos´s activities turned this study more elaborated,
allowing higher compreension and enriching the quality of the search.
1 INTRODUÇÃO
Gregório de Mattos foi o nosso primeiro grande malandro e o maior poeta do
Barroco brasileiro. Além de criticar toda a sociedade da época, políticos e religiosos,
o poeta baiano manejou um vocabulário acessível e popular.
Convivem em seus poemas o mais desenfreado sensualismo e erotismo com a
paixão idealizada, a mais furiosa má vontade e um indisfarçável racismo.
Este trabalho teve como objetivo estudar a importância deste autor, dando
enfoque ao sarcasmo e à irreverência que ele usou para ridicularizar muitas pessoas
da época.
O conjunto da obra satírica atribuída a Gregório de Mattos delineia o
horizonte a partir do qual vão se desenvolver recursos e alternativas para um futuro
projeto literário brasileiro. A confluência entre a forma ambígua e descontraída de
sua sátira e determinados procedimentos estéticos, implicados na emergência de um
sistema intelectual brasileiro, justifica, sem dúvida, a atualidade desta tarefa.
E justamente pela amplitude do raio de influências que forjou e pelo caráter
contraditório de sua mística, que a figura de Gregório de Mattos e Guerra pode ser
tomada como o pioneiro perfil, tenso e dividido do intelectual brasileiro. Baiano,
filho da aristocracia latifundiária, formado em Direito por Coimbra, começa, no nível
da própria peripécia individual, a confirmar a histórica esquizofrenia do letrado
brasileiro: visceralmente filho da terra, culturalmente seduzido pela metrópole, mãe e
estrangeira. Sua obra como via de mão dupla reitera o ambivalente convívio entre a
formação cosmopolita e a circunstância brasileira.
Assim, a estruturação dramática e contraditória da forma humorística,
historicamente voltada para a problematização do contrastante e do dúbio na
convivência humana, vai ajustar-se, sobremaneira, à captação crítica de uma fala
cultural brasileira. E isto porque, cravada num torvelinho de múltiplas influências, a
sociedade local foi-se estruturando pela mescla, no convívio dissonante entre a
tradição do colonizador, os costumes do seu escravo e o perfil díspar e estranhado do
índio, o dono da terra.
A sátira, porque muito afinada ao caráter lúdico, à inclinação popular e ao
empenho problematizador característicos da crise do homem pós-renascentista, vai
assumir, na obra de Gregório, o comando de sua vertente barroca.
Em contrapartida, a literatura “séria”, supervalorizada pela tradição cultural, a
comédia, muitas vezes, fica relegada a segundo plano. Isto pode estar ligado ao fato
de a Poética de Aristóteles ter chegado incompleta aos nossos dias. A parte que
restou trata mais especificamente da tragédia. Acredita-se que a parte do que se
perdeu seria da comédia. As formas cômicas, porque mais permeáveis às influências
das festas e dos ritos populares, vão apresentar uma visão de mundo mais
relativizada e saudavelmente transgressora diante dos padrões de comportamento
consagrada pelo poder oficial.
Sendo assim, toda esta reflexão sobre sátira e humor teve como objetivo
mostrar a importância de Gregório de Mattos e Guerra, enfocando a irreverência e o
sarcasmo que foi usado por ele, para ridicularizar, criticar e denunciar as pessoas de
sua época. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, prioritariamente da
biografia, com sustentação teórica básica da psicologia e fundamentos da história
brasileira. Foram feitas revisões e comparações, selecionando-se alguns dados.
Alguns autores contribuíram de forma gratificante para a realização deste trabalho,
dois dos quais com mais conteúdo, como: Haroldo de Campos e João Adolfo
Hansen. Esta pesquisa tornou-se relevante no meio acadêmico, uma vez que a
fortuna crítica acerca de Gregório é escassa e se limita aos grandes centros
universitários, limitando o acesso dos que desejam conhecer melhor este grande
expoente do barroco brasileiro.
“Ora, esse poeta foi um grande poeta, seja na poesia religiosa, seja na sátira de
costumes, seja mesmo nas composições mais declaradamente obscenas. Em qualquer
das categorias é um poeta desigual, com tantos outros grandes poetas; mas nos
momentos de inspiração compara-se com qualquer dos maiores”.
“Se alguém no Brasil pudesse conferir o título de fundador da nossa literatura, esse
deveria ser Gregório de Mattos e Guerra. Foi filho do país, teve mais talento
poético do que Anchieta, foi mais do povo, foi mais desabusado, mais mundano,
produziu mais e num sentido mais nacional”.
Esse poeta foi um poeta formador, adúltero, licencioso, é o delator puritano das
ligações perigosas. Contribuiu pioneiramente para que possamos pensar esse
paradigma, não dogmático, não verocêntrico.
Ao poeta barroco nada repugna mais que a inovação, sendo a sua invenção
antes uma arte combinatória de elementos coletivizados que, propriamente,
expressão individual “original”, representação naturalista do “contexto”, ruptura
estética com a tradição, etc.. Entre tais elementos, a obscenidade está prevista num
sistema de tópicos, articulando-se retórica e política nos poemas segundo temas e
recepção. Categorias como “malandragem”, “sodomia”, “plágio”, “imoralidade”,
“adultério”, “inveja”, “racismo”, “realismo”, “furto”, “repúdio”, “celibato”,
“libertinagem”, “promiscuidade”, todos esses temas foram abordados nos sonetos de
Gregório de Mattos e alguns sonetos abrangem mais de um tema. Por isso, tais
elementos serão apontados e analisados nos poemas que se seguem.
Análise Crítica – Soneto 1
Epílogos
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
Sazonada caramunha!
Enfim que na Santa Sé
O que se pratica é
Simonia, Inveja, Unha
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu e Morreu.
Tema: Racismo
Este soneto parodia um outro clássico de Camões: “Sete anos de pastor Jacó
servia...” Junto com o tom brincalhão, a paródia, ao mesmo tempo em que
dessacraliza o modelo, acaba revelando uma intenção subjacente de homenagem a
um texto já famoso. A tipificação da “pastora indiana” é intensificada, isto é, mais
divertida quando se observa a inadequação do gênero e do objeto nele tipificado
pejorativamente. Na sátira seiscentista, mulheres não-brancas são, por definição, uma
sub-humanidade. Por isso, o estilo para tratá-las como tema de poesia deve ser
cômico ou baixo. A referência à Pastora Indiana como “suja noiva”, evidencia uma
“limpeza e sangue”.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Ângela Maria. Gregório de Matos, Sátira. 3 ed. Rio de Janeiro: Agir. 1988,
p. 10 –16.
DIMAS, Antônio. Literatura Comentada. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 7-21.
MIGUEL, Jorge. Curso de Literatura. Rio de Janeiro: Editora Harbra., 1983, p.37-
53.
MIRANDA, Ana. Boca do Inferno. São Paulo: Companhia das Letras. 2 ed.