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LUKÁCS, György. Para uma Ontologia do ser social I.

São
Paulo: Boitempo, 2012, 440 p.

maturidade, nos anos de 1950, que lhe


ocorre a necessidade de desenvolver uma
sistematização categorial das reflexões que
vinha fazendo sobre arte e literatura. Retira-
se então da vida política para dedicar-se à
elaboração dos volumes que compõem a
Estética.
Sua finalização aponta para o projeto de
uma Ética; antes, porém, era preciso definir
o sujeito capaz de assumir um
György comportamento verdadeiramente ético.
Lukács é Vêm daí as motivações que impeliram
um dos maiores expoentes do pensamento Lukács a trabalhar tão arduamente, ao
humanista do século XX e Para uma longo de toda a década de 1960, nos
ontologia do ser social é a mais complexa manuscritos de Para uma ontologia do ser
sistematização filosófica de seu tempo. social.
Considerada uma das mais importantes
obras do filósofo húngaro, concebida no Segundo o pesquisador romeno Nicolas
curso dos anos 1960, a Ontologia (como se Tertulian, Lukács tinha perfeita consciência
tornou conhecida) significa o salto da do extremo empobrecimento sofrido pelo
ontologia intuída à ontologia pensamento marxista durante a época
filosoficamente fundamentada nas staliniana. “Desse modo, Para uma
categorias mais essenciais que regem a vida ontologia do ser social representa um
do ser social, bem como nas estruturas da gigantesco esforço para examinar, passo a
vida cotidiana dos homens. passo, as categorias fundamentais do
pensamento marxiano, a fim de restituir-lhe
O primeiro volume de um dos centrais a densidade e a substancialidade”, afirma na
projetos editoriais da Boitempo, acalentado introdução dos Prolegômenos.
por mais de uma década, finalmente chega
às livrarias brasileiras com primorosa Obra de síntese, Para uma ontologia do ser
apresentação de José Paulo Netto e tradução social pretende ainda precisar os pontos do
direta do alemão por Mario Duayer e Nélio debate que agitaram o pensamento marxista
Schneider, acrescida da tradução de Carlos nos últimos decênios. A Ontologia
Nelson Coutinho, introdutor de Lukács no permitiu-lhe abordar a fundo esses pontos
Brasil e profundo conhecedor de sua obra, de dissenso e fornecer esclarecimentos
baseada na edição italiana. O texto contou acerca dos problemas essenciais do
também com uma minuciosa revisão marxismo e dos fundamentos da própria
técnica de Ronaldo Vielmi Fortes, auxiliado evolução. “Os materiais que deveriam
por Ester Vaisman e Elcemir Paço Cunha. constituir uma “introdução” à Ética
adquirem, assim, o estatuto de fundacionais
A tomada de posição ontológica marxiana da Ontologia, obra que não foi ainda
tem início nos anos 1930, quando o filósofo suficientemente analisada. Em relação a ela
segue da Hungria para Moscou. No no entanto se pode afirmar, com inteira
Instituto Marx-Engels-Lenin faz um segurança, que abre um novo horizonte
mergulho definitivo nos Manuscritos teórico-filosófico para o desenvolvimento
econômico-filosóficos do jovem Marx. Mas, do marxismo, e que não haverá nenhum
se a guinada ontológica de Lukács acontece renascimento do marxismo se ela for
ainda na juventude, marcando todos os seus ignorada”, sentencia José Paulo Netto.
escritos dos quarenta anos seguintes, é na

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Trecho do livro Sobre o autor
“Antes de tudo, vida cotidiana, ciência e Nascido em 13 de abril de 1885 em
religião (teologia incluída) de uma época Budapeste, Hungria, György Lukács é um
formam um complexo interdependente, sem dos mais influentes filósofos marxistas do
dúvida frequentemente contraditório, cuja século XX. Doutorou-se em Ciências
unidade muitas vezes permanece Jurídicas e depois em Filosofia pela
inconsciente. A investigação do Universidade de Budapeste. No final de
pensamento cotidiano é uma das áreas 1918, influenciado por Béla Kun, aderiu ao
menos pesquisadas até o presente. Há Partido Comunista e, no ano seguinte, foi
muitos trabalhos sobre a história das designado Vice-Comissário do Povo para a
ciências, da filosofia, da religião e da Cultura e a Educação. Em 1930 mudou-se
teologia, mas são extremamente raros os para Moscou, onde desenvolveu intensa
que se aprofundam em suas relações atividade intelectual. O ano de 1945 foi
recíprocas. Em virtude disso, resulta claro marcado pelo retorno à Hungria, quando
que justamente a ontologia se eleva do solo assumiu a cátedra de Estética e Filosofia da
do pensamento cotidiano e nunca mais Cultura na Universidade de Budapeste.
poderá tornar-se eficaz caso não seja capaz Estética, considerada sua obra mais
de nele voltar a aterrar – mesmo que de completa, foi publicada em 1963 pela
forma muito simplificada, vulgarizada e editora Luchterhand. Já seus estudos sobre
desfigurada.” a noção de ontologia em Marx, que
resultariam oito anos depois em Para uma
Ontologia do ser social, iniciaram-se em
1960 e agora ganha edição em dois volumes
pela Boitempo. Faleceu em sua cidade
natal, em 4 de junho de 1971. Do autor, a
Boitempo já publicou Prolegômenos para
uma ontologia do ser social: questões de
princípios para uma ontologia hoje tornada
possível (2010), O romance histórico
(2011), Lenin: um estudo sobre a unidade
de seu pensamento (2012) e agora o
primeiro volume de Para uma ontologia do
ser social. O segundo volume está previsto
para 2013.

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