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EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ENSINO DE CIÊNCIAS

Clarice Ferreira e Silva1

Marília Carla de Mello Gaia2

Resumo

A Educação é um direito de todos e deve ser oferecida para todos. Cada vez
mais estudos e reformas buscam tratar este assunto, de forma a garantir a todos
este direito. Neste cenário a Educação Inclusiva é um assunto importantíssimo, no
qual discussões acerca do papel do professor são cada vez mais constantes e
presentes nos estudos atuais, e, além disso, como a utilização de metodologias
diferenciadas podem enriquecer este processo com o intuito de oferecer aos alunos
com necessidades educacionais especiais um ensino de qualidade e digno de todos.
A proposta deste trabalho é discutir o papel do professor na inclusão de alunos com
necessidades educacionais especiais, como isto é feito atualmente tanto na visão
geral de Educação quanto no Ensino de Ciências. O trabalho foi fundamentado com
base em pesquisas bibliográficas a fim de compreender um pouco mais sobre a
Educação Inclusiva como um todo bem como atuação/formação de professores de
Ciências neste contexto.

Palavras-Chave: Educação para todos. Educação Inclusiva. Necessidades


educacionais especiais. Ciências.

Introdução

O termo Educação Inclusiva teve início nos Estados Unidos - através da Lei
Pública 94.142, de 1975, segundo informações de Mrech (2001). Em todo o país
(EUA), são estabelecidos projetos e programas voltados para a Educação Inclusiva.
Para Sant'Ana (2005) “Mais especificamente a partir da Declaração de
Salamanca, em 1994, a inclusão escolar de crianças com necessidades especiais no
ensino regular tem sido tema de pesquisas e de eventos científicos”, fazendo com

1
Licencianda em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.
2
Professora do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.
2

que sejam propostas técnicas e formas de se programar estudos propostos na


referida declaração.
A Educação Inclusiva é um tema constantemente discutido e está cada vez
mais presente no nosso dia a dia. Atualmente é preciso saber como incluir um aluno
com necessidade educacional especial no ensino regular, bem com garantir que ele
tenha um ensino digno e de muita qualidade, igual aos demais alunos. Mas ainda
assim, são muitos tipos de necessidades especiais, dificultando o trabalho de todos
envolvidos neste processo. Mais um ponto para que seja dada a devida atenção ao
assunto e às necessidades especiais de cada um. A questão é como garantir que
este aluno tenha um ensino de qualidade, como os professores, escolas, família,
enfim, tudo que diz respeito à educação, se mobilizarão para que isto ocorra
naturalmente e que os resultados sejam os melhores possíveis a cada dia (MRECH,
2001).
De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2006), o aluno com
necessidades educacionais especiais é considerado público alvo de projetos e
ações no país a fim de programar novas políticas com o intuito de garantir a estes
alunos um aprendizado melhor a cada dia.
Para que isto ocorra, mobilizações sociais, de professores, pais, alunos,
diretores, entre outros, devem estar envolvidos no processo de educação especial3
no Brasil. É importante que os professores sejam capacitados para exercer esta
função e garantir o direito desses alunos. A capacitação deste professor vai
depender de vários processos como, por exemplo, uma formação com uma ênfase
mais efetiva no assunto educação inclusiva e cursos que irão garantir a este um
melhor entendimento na teoria e na prática, e não menos importante, seu interesse
em aprender e aprimorar seus conhecimentos acerca do assunto (NORONHA &
PINTO, 2001).
Pacievitch (2008) aponta que o termo Educação Inclusiva é bastante amplo e
pode dizer sobre várias diretrizes e temas, mas que geralmente está ligado à
inserção de pessoas com necessidades especiais no ensino regular e também ao
mercado de trabalho. Esta inserção ocorre por meio de projetos sociais e hoje já
podemos perceber que de várias maneiras ela está presente no nosso dia a dia e na

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Segundo Noronha e Pinto(2001), a Educação Especial é o atendimento e educação de pessoas com
deficiências e transtornos de desenvolvimento em instituições especializadas, e a Educação Inclusiva é um
processo que permite a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de Ensino Regular.
3

forma como nossa sociedade vive. Isto foi efetivado através de políticas públicas que
buscam viabilizar acessibilidade em diferentes espaços como escolas, serviços
públicos e empresas.
Mrech (2001) refere-se à Educação Inclusiva como um processo de inclusão
de alunos com necessidades especiais ou com algumas dificuldades de
aprendizagem nas redes de ensino e enumera vários quesitos para que isso ocorra
dentro de uma sociedade. Nestes quesitos estão incluídas várias possibilidades,
enfatizando que toda criança com necessidades educacionais especiais tem direito à
escolarização como qualquer outra criança e que para isso é necessário incluir esta
na sociedade; a família deve estar inserida neste processo, apoiar e acompanhar
seu crescimento e aprendizado; todos os que ali estão devem tomar conhecimento
de que dentro de uma escola somos uns pelos outros e o conhecimento une todos
com um só objetivo; o ambiente escolar deve ser flexível e atender a demanda de
todos os alunos e professores; os critérios de avaliação não podem ser os mesmos
aplicados há alguns anos, ou seja, novas formas de avaliação devem ser aplicadas
de modo que atenda as necessidades destes alunos; o acesso físico das escolas
deve proporcionar aos alunos portadores de deficiências locomoção e acesso a
todas as dependências da escola; e finalmente, todos os professores deverão dar
continuidade aos seus estudos, para que desta forma, possam se atualizar sobre as
mudanças a respeito desta educação e como trazer isto para dentro de sala de aula.
Granemann (2005) afirma que a proposta inclusiva veio para marcar uma
etapa importante na educação mundial, que é justamente a educação para todos.
Tal ambição só será possível com metodologias de ensino diferenciadas e que
atendam os alunos com necessidades educacionais especiais, professores com
atitudes e posturas adequadas para lidar com os alunos, integração social, enfim,
tudo que possa proporcionar aos alunos um ensino regular digno para todos os
seres humanos. “O conhecimento é algo que se encontra em constante
transformação, revisão, superação”.
O mesmo autor afirma que tal processo cobra de todos os profissionais certa
aceitação e abertura para novas propostas de ensino. Para que isso ocorra, o
processo envolverá além de professores e alunos, uma reestruturação cultural,
política e das práticas aplicadas nas escolas. Muitas adequações são necessárias
para que este processo ocorra de forma organizada, consciente e que beneficie a
todos que estão inseridos neste processo de inclusão. Tal iniciativa vem sendo cada
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vez mais buscada e procurada nas escolas. Hoje já temos legislações que
asseguram os direitos de alunos com necessidades educacionais especiais e sua
aceitação está cada vez maior, pois estes alunos podem agregar no sentido de
trazer para o ambiente de sala de aula um novo olhar para o aprendizado.
Mas infelizmente este processo por vezes se apresenta um pouco moroso,
pois algumas falhas ainda são evidentes no que diz respeito a laudos e alguns
processos que são necessários para que a inclusão ocorra, e para que seja dada a
devida atenção e cuidado necessário a alunos com necessidades educacionais
especiais.
Dentro deste contexto o ensino de Ciências também deve desenvolver
peculiaridades ao ser ministrado para crianças com necessidades educacionais
especiais. Os conteúdos de Ciências muitas vezes, apresentam temas de difícil
compreensão e isso pode ser um desafio para professores e alunos. As aulas
práticas apresentam formas de estudos que nem sempre são acessíveis para todos,
por exemplo, olhar um material no microscópio. Este e outros pontos devem ser
analisados minuciosamente pelo professor para que nenhum aluno seja 'excluído' do
aprendizado (CAMARGO, 2006).
O objetivo deste trabalho é discutir qual o papel dos professores de Ciências
no contexto da Educação Inclusiva, além de identificar as metodologias empregadas
atualmente pelas escolas e por professores de Ciências em situações de aulas com
alunos com necessidades educacionais especiais.
Para a fundamentação deste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica a
fim de compreender um pouco mais sobre a Educação Inclusiva e formação/atuação
de professores de Ciências no que diz respeito à inclusão.
Os descritores utilizados nesta pesquisa foram: Educação Inclusiva, Ensino
de Ciências, Ciências e Educação Inclusiva, Metodologias de Ensino na Educação
Inclusiva, Práticas de Inclusão, Educação para Todos, Educação Especial,
Necessidades Educacionais Especiais, Formação de Professores e Educação
Inclusiva, entre outros termos que foram necessários no decorrer deste trabalho.
Apenas foram utilizados neste trabalho artigos publicados a partir do ano
2000, a fim de envolver as discussões mais recentes sobre o assunto.

Papel e formação dos professores na Educação Inclusiva


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De acordo com o Ministério da Educação - Secretaria De Educação Especial


(BRASIL, 2004), o professor necessita de suporte técnico-científico para conhecer
mais a respeito da prática de ensino na Educação Inclusiva e saber aplicá-la no
cotidiano. Este suporte deve ser dado pela escola e não somente ser um processo
individual do professor em particular. O professor juntamente com a Coordenação
Pedagógica da escola deve analisar quais os recursos que a escola apresenta e
como o professor pode estimular a criatividade para lidar com alunos com
necessidades especiais, além disso, acredita-se ser importante que o professor
tenha um acompanhamento interdisciplinar para aprimorar seus conhecimentos a
respeito dos recursos e métodos para o ensino destes alunos.
Para que o processo de inclusão ocorra de forma efetiva, metodologias de
ensino devem ser revistas a fim de garantir melhor aprendizagem a respeito do
assunto que está sendo estudado dentro de sala de aula, facilitando assim a
compreensão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Os professores
têm papel importantíssimo na inclusão, bem como escolas, família, comunidade,
entre outros.

“O professor tem um papel essencial como mediador dos processos


de ensino-aprendizagem. Na escola inclusiva, é ele que recebe o
aluno com necessidades especiais na sala de aula. Sua atitude
perante a deficiência é determinante para orientar como esse aluno,
com as suas diferenças, vai ser visto pelos colegas. O professor
também organiza o trabalho pedagógico e pensa estratégias para
garantir que todos tenham possibilidade de participar e aprender”.
(REILY, 2001).

Mas, em contrapartida, Reily (2001), discute que o professor não é o principal


responsável pela educação dos alunos com necessidades educacionais especiais. A
escola também deve responder por este papel, e a inclusão deve obedecer a níveis
como trabalho pedagógico, relações em sala de aula, comprometimento do
professor, na escola e nas relações com a família.
No Ensino de Ciências o raciocínio deve ser o mesmo: diferentes estratégias
são necessárias para que o professor desenvolva o conteúdo de Ciências com
estudantes que apresentam necessidades educacionais especiais.
Assim, é necessário discutir qual o real papel dos professores na inclusão,
como a formação dos professores está diretamente ligada ao processo de inclusão e
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como metodologias de ensino podem interferir no processo de aprendizado de


Ciências destes alunos.
Para Barbosa e Souza (2010), existe uma cobrança muito grande para com o
professor, pois a sociedade como um todo o pressiona para que ele cumpra o seu
papel de Educador, por ele estar inserido em um contexto social e gerar uma
expectativa a seu respeito. A vivência do professor com a Inclusão está associada,
muitas das vezes, com a sua formação, pois muito do que este professor sabe a
respeito da Inclusão foi adquirido somente na teoria durante sua formação inicial
(curso de licenciatura). Desta forma, é possível perceber que, além deste professor
saber a teoria, deve vivenciar na prática tudo que diz respeito à Inclusão e como um
aluno com necessidades educacionais especiais deve ser inserido em uma sala de
aula regular.
É complicado pensarmos em desenvolver tudo que sabemos na prática para
depois poder aplicá-la. Mas de alguma forma, alguns estudos a respeito do que se
tem de recurso e como isso pode ser aplicado pode ajudar muito na compreensão
de como se deve tratar um aluno com necessidades educacionais especiais e, além
disso, fazer com que o que foi aprendido na formação inicial seja aplicado dentro de
sala de aula.
Santos (2009), discute que a Educação Inclusiva requer dos professores
mudanças sociais e individuais, e que a utilização de recursos didáticos
diferenciados (recursos estes que já são muito utilizados no Ensino de Ciências em
geral) ajuda na busca da identidade intrapessoal e interpessoal de ambos (alunos e
professores). Para a autora, a relação aluno-professor deve ser de parceria e
cumplicidade e que a partir daí as dificuldades no aprendizado podem ser
minimizadas, fazendo com que este aluno possa interagir socialmente e ajudando-o
a ser ativo no processo de aprendizagem e de sua realização como sujeito.

Estratégias na Educação Inclusiva

Alencar (2007) ao falar das características sócias emocionais dos


superdotados, indica que é preciso saber também como lidar com um aluno deste
tipo, como reconhecer que ele tem um conhecimento maior e algumas habilidades
maiores do que todos os outros alunos. A autora afirma que para incluir tal aluno em
sala de aula, reconhecer e aceitá-lo de forma ampla, é necessário um trabalho de
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toda a escola, da família e dos próprios colegas. Para o bom desempenho destes
alunos e dos demais colegas, não se deve somente atentar para suas características
cognitivas, e sim a forma como ele lida com os demais. Suas características sócio
emocionais são importantes, pois desta forma, analisando a forma como ele vive,
sente, interage com os demais colegas e com a sua família, esta habilidade em
algum campo do conhecimento pode ser utilizada como rumo de aprendizado melhor
para toda a turma.
Lacerda (2006) analisa a inclusão escolar de alunos surdos, e aprofunda na
visão de alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. “A inclusão deve
ser vista como um processo dinâmico e gradual”, mas na sociedade em que vivemos
e não diferente do que todos os outros autores descreveram em seus textos, tais
alunos necessitam de várias condições e metodologias de ensino que infelizmente
muitas escolas ainda não proporcionam. A autora afirma que a inclusão social é
encarada como um processo lento, gradual, e que deve sempre ser voltada para a
necessidade dos alunos. O aluno surdo não se comunica e não compartilha da
mesma linguagem dos demais colegas e isso pode dificultar seu acesso à maioria
das informações ministradas dentro de sala de aula. Por isso a necessidade de
intérpretes que ajudem estes alunos a acompanhar o ritmo da turma é de grande
importância. Em seu trabalho a autora realizou pesquisas dentro de sala de aula
com alunos do sexto ano do Ensino Fundamental com uma faixa etária de 10 a 12
anos do ensino fundamental, em uma escola privada, que tem em sua grande
maioria alunos ouvintes, apenas uma criança surda e duas intérpretes. A escola se
mostrou bastante interessada em receber um aluno com necessidade especial e
consequentemente interessada na inclusão deste aluno em seu ambiente e que para
recebê-lo deveria mobilizar a todos como, direção, coordenação, família,
professores.
Ao citar os superdotados, Alencar (2007) fez a mesma observação de
Lacerda (2006), no que diz respeito à mobilização geral para que este aluno seja
inserido dentro de sala de aula e que o seu processo de aprendizagem seja
satisfatório. Não há como falar de inclusão sem mobilizar todo o contexto escolar e
tudo que o envolve.

Ensino de Ciências e Educação Inclusiva


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Para Mathias (2009), todos que se inserem no contexto da educação, como


pais, professores, alunos e a escola como um todo, devem sempre estar atentos ao
comportamento dos alunos em sala de aula e, além disso, oferecer metodologias e
estratégias didáticas diferenciadas para auxiliar no aprendizado destes alunos. A
autora discute a respeito de metodologias para o ensino de ciências aplicadas para
alunos com necessidades especiais. As dificuldades são muitas, pois não existem
recursos necessários e, ainda hoje, a exclusão ainda está muito presente dentro das
escolas, exclusão esta que não ocorre somente com algum aluno com necessidade
educacional especial, e sim pode ocorrer com qualquer aluno pelo simples fato de
apresentar alguma dificuldade de aprendizado.
Mathias (2009) fundamentou seu trabalho a partir de experiências práticas
vivenciadas dentro de sala de aula no decorrer do curso de Ciências Biológicas,
apresentando experiências com alunos dos Ensinos Fundamental, Médio e Especial,
relatando qual a peculiaridade encontrada em cada estágio. Durante a realização
dos estágios curriculares de licenciatura, a autora inseriu metodologias de ensino
diferentes do que a professora normalmente desenvolvia com seus alunos de
inclusão e regulares.
Mathias (2009) utilizou em suas aulas, metodologias diferenciadas como
palavras-cruzadas, atividades teórico práticas, jogos, experiências, aulas ilustrativas
e projetos com os alunos relacionados a assuntos cotidianos. Todas essas práticas
trouxeram resultados positivos no aproveitamento dos alunos. Para o Ensino
Fundamental e Médio, com alunos que não apresentavam necessidades
educacionais especiais, o conteúdo foi assimilado muito bem.
Para o estágio no ensino especial, a mesma autora escolheu uma instituição
de educação especial que recebia diferentes tipos de alunos com necessidades
especiais, como surdez, síndromes diversas, esquizofrenia, entre outros. A faixa
etária dos alunos recebidos era de 18 a 57 anos. Em sua discussão, Mathias (2009)
afirma que percebeu na escola preocupação em integrar esses alunos à sociedade.
Participou de projetos relacionados à saúde e à higiene, juntamente com a oficina de
culinária. Durante os afazeres sobre culinária, técnicas de higiene e saúde eram
ministradas na teoria e na prática para que eles associassem melhor o tema. Os
alunos tiveram acesso a receitas, foram levados ao supermercado para comprar os
ingredientes necessários para o prato do dia e durante todo o processo, eles tinham
que descrever o nome do alimento que estavam comprando, como lavá-lo, qual seu
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benefício para a saúde, temperatura do alimento, embalagem, ou seja, tudo que era
importante saber ao adquirir tal alimento. Perceberam-se dificuldades no que diz
respeito à compreensão de determinados alunos e por esse motivo não foi possível
a aplicação de um método de ensino de Ciências tradicional. Mas em função disso,
foram desenvolvidas metodologias que integraram estes alunos na turma, trazendo-
os para dentro do contexto de sala de aula, ajudando-o a construir uma linha de
raciocínio a respeito de determinado tema na prática. Os resultados obtidos pela
autora foram satisfatórios porque os alunos com necessidades especiais
demonstravam ter assimilado muito do conteúdo.
Vários alunos são incluídos no cenário relatado por Mathias (2009), como,
deficientes visuais, surdos e mudos, deficientes físicos, deficientes mentais e
superdotados, e, independente de cada um ter sua necessidade especial, estes
podem ter alguma facilidade em um determinado tema ou estratégia didática , o que
pode acrescentar e muito os estudos para os demais alunos.
As técnicas apresentadas por Mathias (2009) para se incluir um aluno com
necessidades educacionais dentro das escolas são bastante aplicados no ensino
regular, o que é de fato importante, é perceber como estas metodologias
diferenciadas trazem um resultado positivo para alunos com necessidades
educacionais especiais. Muito do que foi explorado pela autora já está inserido
dentro de uma sala de aula de Ciências, sabemos que é complicado inserir um aluno
com necessidades educacionais especiais o tempo todo, pois são muitas as
necessidades especiais. Mas a rotina diária pode ajudar muito na compreensão de
cada necessidade especial e qual o tempo de cada um para determinada tarefa ou
assunto tratado dentro de sala de aula.
Ribeiro (2004) discute a respeito da inclusão relatando as práticas adotadas
no Museu de Ciências Morfológicas situado na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Vários projetos estão sendo realizados neste Museu e se
enquadram no cenário da inclusão social e consequentemente, educação inclusiva.
Dentre eles está o projeto “A célula ao alcance da mão” que contempla a inclusão de
deficientes visuais para conhecer a estrutura e funcionamento do corpo humano. A
autora descreve o processo de implantação deste projeto, que se inicia na
percepção das dificuldades de alunos com necessidades especiais, como
portadores de deficiência visual, em disciplinas de cursos das áreas Biológicas e da
Saúde. Mecanismos diferentes são necessários para que tal aluno conheça todas as
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particularidades do corpo humano, qual a forma dos órgãos, o que isso interfere em
sua função, enfim, fazê-lo conhecer o ‘todo’ que os demais colegas de turma
aprendem através de figuras, atlas, microscópios ópticos, manipulação de órgãos e
estruturas reais, entre outros.
O projeto acima foca nesta dificuldade do aluno aprender sem conseguir ‘ver’
e tentar minimizar os problemas de aprendizado. Vários modelos didáticos foram
confeccionados para que os alunos possam compreender um pouco mais sobre
cada estrutura do corpo humano apresentado e isso pode também beneficiar alunos
com déficit de atenção. Segundo a autora ainda é uma dificuldade encontrar
recursos didáticos, professores especializados e fazer com que o acesso desses
cidadãos seja amplo e completo. Tal projeto, do Museu de Ciências Morfológicas,
está em fase experimental em escolas de Ensino Fundamental e Médio, e a
realidade ainda é um pouco distante de todos os planos e práticas que o projeto
propõe. Mas nesta fase do projeto os resultados têm sido os melhores possíveis
como, por exemplo, em turmas onde há alunos com diversas deficiências, a
limitação de um compensa a limitação do outro e assim todos aprendem de forma
dinâmica.
Viveiros e Camargo (2006) discutem como metodologias diferenciadas podem
acrescentar no ensino de Ciências e como isto pode interferir no ensino dentro de
uma aula inclusiva. Vários métodos de ensino são propostos, dentre eles métodos
de ensino para deficientes visuais, acompanhado de recursos didáticos e sugestões
de metodologias de ensino. Os autores acreditam que em se tratando de um
deficiente visual, o diálogo deve sempre estar presente dentro e fora de sala de aula,
acompanhado de um tom de voz calmo, normal, sem parecer um esforço ou algo
feito sem naturalidade e firmeza. Indicam que os professores devem solicitar ajuda
aos demais alunos quanto às orientações em determinadas atividades e temas
apresentados em sala de aula. Apontam que o posicionamento do alunos com
necessidades educacionais especiais em sala de aula também é importante para
que este aluno apresente um bom desempenho.
A formação dos professores de Ciências (e das demais áreas) deve ser
completa e o ensino no âmbito da inclusão deve ser vivenciado na prática, para que
tudo que diz respeito às novas metodologias de ensino possam ser aplicadas e
aproveitadas em benefício dos alunos. Segundo Viveiros e Camargo (2006) o
professor deve assumir uma postura de responsabilidade buscando todos os
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mecanismos, estratégias e condições, visando um ensino de qualidade para todos.


No Ensino de Ciências o cuidado deve ser enorme, pois muitos temas são de difícil
compreensão e isso cobra do professor um cuidado maior. Alguns assuntos tratados
em Ciências exigem um olhar crítico, alguns conteúdos necessitam ser vivenciadas
na prática, outros necessitam de um olhar microscópico, ou seja, muitas atividades
dentro de sala de aula de Ciências são complexas se forem tratadas somente na
teoria. Como propor um trabalho de campo a um aluno que apresenta deficiência
física? Como apresentar um microscópio a um aluno deficiente visual? Tudo isto
deve ser trabalhado de forma diferenciada ao se ministrar aulas no ensino inclusivo.

Considerações Finais

Através deste trabalho e de estudos realizados acerca deste assunto, foi


possível perceber que cada vez mais professores, escolas, alunos, familiares e tudo
que envolve o assunto educação têm se preocupado em incluir alunos com
necessidades educacionais no contexto geral, facilitando seu acesso,
proporcionando metodologias de ensino que visam atingir a todos. Desta forma,
deve haver maior preocupação e mobilização em discutir de forma adequada e
efetiva, qual a formação dos professores de Ciências no contexto geral de Educação
Inclusiva e, além disso, como professores podem colocar em prática tudo vivenciado
na graduação de licenciatura dentro de sala de aula para seus alunos.
O processo de inclusão deve ser visto como necessidade e uma causa que
deve ser abraçada por todos. É importante que tenhamos consciência de que a
educação deve ser oferecida de forma completa para todos, respeitando a
dificuldade de cada aluno, especial ou não. Em se tratando de alunos com
necessidades educacionais especiais, devemos também proporcionar maneiras de
inserir este aluno no contexto social vivido dentro das escolas.
A sociedade cobra de professores uma postura inovadora, uma busca pelo
conhecimento constante, uma atualização de conhecimentos, postura esta que
sempre fez parte da vida dos educadores. Mas quando dizemos a respeito de
inclusão, a formação destes professores deve trazer a prática de ensino, e não
somente a teoria a respeito do que deve ser feito dentro e fora de sala de aula
inclusiva. Trata-se de um processo que deve se iniciar desde o início da formação do
professor até o momento em que o mesmo se torna um educador responsável pelo
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aprendizado de vários alunos, dentre estes alguns que necessitam de cuidados e


metodologias diferenciadas. Quando Santos (2009) discute a respeito da relação
aluno-professor, a autora afirma que a cumplicidade deve estar presente sempre, só
não se pode esquecer que para que esta relação ocorra desta forma, deve-se haver
estrutura/recursos suficientes, o que muitas vezes nem toda escola dispõe destes
recursos.
O Ensino de Ciências, assim como todos os outros, pode ser ministrado com
diversos trabalhos dinâmicos, metodologias diferenciadas, inovadoras e criativas e
podem fazer com que se trate de um assunto interessante, e a partir do qual alunos
podem fazer paralelos e trazer muito do que é visto dentro de sala de aula para o
cotidiano. Não podemos esquecer que o Ensino de Ciências também apresenta
temas complexos, que muitas vezes não são compreendidos a princípio pelos
alunos e, por mais este motivo, deve ter a atenção/cuidados necessários para ser
ministrado da melhor forma possível, e para que este ensino e todos os outros não
desconsiderem os alunos com necessidades educacionais especiais.
Atualmente devemos considerar que muitas instituições de formação inicial de
professores não preparam os alunos para este tipo de desafio. Ainda falta muita
discussão e prática nas disciplinas e nos cursos de licenciatura para que o atual
aluno e futuro professor saia preparado para lidar com tais peculiaridades. Em geral,
durante a graduação, poucas disciplinas (pedagógicas e de formação geral)
abordam inclusão de conteúdos. Se o assunto é cada vez mais estudado, discutido
e vivenciado, são necessárias mais ações na formação inicial dos professores como,
atividades e estágios curriculares, projetos de pesquisa e extensão, debates,
seminários acadêmicos, visitas de campo, etc., que abordem temas e ações da
Educação Inclusiva na licenciatura em Ciências Biológicas, além de cursos de
formação continuada e especializações em diversas áreas das necessidades
educativas especiais, ou seja, extensões que viabilizem o estudo na inclusão na
prática dos professores.
É possível proporcionar um ensino de qualidade que atenda a todos, mas
para isso, deve haver uma mobilização geral e até mesmo aceitação para que dentro
de uma sociedade tenhamos igualdade entre todos.

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