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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
DOCENTE: DJANISE MENDONÇA

PLANEJAMENTO SOCIAL: intencionalidade e instrumentação

CLÁUDIA COSTA
IARA BRITO
IRIS SUNSYARAY
ISLA ANDRADE
JACQUELINE BRANDÃO
LAÍS RODRIGUES
REBECA LUNA

RECIFE
2017
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CLÁUDIA COSTA
IARA BRITO
IRIS SUNSYARAY
ISLA ANDRADE
JACQUELINE BRANDÃO
LAÍS RODRIGUES
REBECA LUNA

PLANEJAMENTO SOCIAL: intencionalidade e instrumentação

Trabalho exigido pela disciplina de Planejamento


Social, lecionada pela docente Djanyse Barros
Mendonça Villarroel, referente à nota da II
unidade.

RECIFE
2017
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A RACIONALIDADE DO PLANEJAMENTO
O “planejamento” entendido sob uma perspectiva lógico-racional relaciona-se
ao: “processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de
questões que se colocam no mundo social” (BAPTISTA, 2007). Como processo
permanente presume ação contínua sobre uma gama dinâmica de situações, num
determinado contexto histórico. Metódico de abordagem racional e científica, por
supor uma sucessão de atos decisórios, ordenados em momentos definidos e com
base em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos.
A racionalidade do planejamento diz respeito à logicidade que orienta a ação
dos homens, levando-os a planejar, mesmo sem perceberem. Sendo consequência
do uso da inteligência num processo de racionalização dialética da ação. Assim
sendo, o planejamento serve ao pensar e ao agir dentro de uma sistemática analítica
própria, em que faz-se necessário o estudo das situações, o estabelecimento de
objetivos e estratégias, tendo a clareza de seus limites e possibilidades (BAPTISTA,
2007).
Como processo racional, o planejamento é organizado por meio de operações
complexas e interligadas (FERREIRA apud BAPTISTA, 2007), conforme a seguir:
 De reflexão – ligada ao conhecimento de dados, à análise e estudo de
alternativas, e à reformulação de conceitos e técnicas de variadas disciplinas
que dêem suporte à explicação e quantificação dos fatos sociais;
 De decisão – relacionada à escolha de alternativas, meios e ao
estabelecimento de prazos;
 De ação – diz respeito à execução das decisões, vindo a ser o foco central do
planejamento. É norteada por escolhas realizadas na operação anterior;
 De retomada de reflexão – revisão crítica dos processos e efeitos da ação
planejada, objetivando dar suporte ao planejamento de ações posteriores.
Estendendo a questão da racionalidade do planejamento à prática de planejar
do Assistente Social, é mister estar atento às interferências da racionalidade formal-
abstrata intrínseca ao capitalismo, a qual impede uma análise dialética da realidade,
e uma adequada mediação entre singularidade, particularidade e universalidade.
Esse tipo de racionalidade dissocia a unidade teoria/prática, e no que tange ao
planejamento, privilegia a técnica acima da direção do Projeto Ético-Político do
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Serviço Social (GUERRA, 2002). De forma que é preciso planejar, porém, importa
ter plena clareza dos valores e diretrizes que alicerçam o exercício do planejamento.
O PLANEJAMENTO COMO PROCESSO POLÍTICO
Compreende-se que o planejamento é dotado de uma dimensão política, na
medida em que o mesmo consiste em um processo de tomada de decisões, inscritas
nas relações de poder, o que denota uma função política. O planejamento numa
abordagem tradicional priorizava os aspectos técnico-operativos, todavia, hoje são
consideradas também as tensões e pressões existentes nas relações dos diferentes
sujeitos políticos em presença. Essa percepção levou à necessidade de operar o
planejamento de uma perspectiva estratégica (BAPTSTA, 2007).
Teixeira em seu texto “Formulação, administração e execução de políticas
públicas” traz um esclarecimento quanto à aplicação da estratégia ao planejamento:

A noção de estratégia no planejamento surge para desvendar o seu


caráter de concepção e ação (institucional ou não), que busca
efetividade em um ambiente não homogêneo, onde diferentes
interesses e diferentes posições disputam o alcance de resultados e
da hegemonia (TEIXEIRA, 2009, p. 8).

Logo, para elaborar e conduzir um planejamento de maneira adequada, além


da competência teórico-prática e técnico-operativa, é preciso desenvolver a
competência ético-política. No processo de planejamento não é tarefa fácil fazer a
inter-relação necessária entre o elemento técnico (ou de concepção), e o elemento
político (ou de decisão). Em geral, cabe especificamente ao técnico o
equacionamento e a operacionalização das escolhas assumidas pelo centro
decisório, ainda que ele também possa atuar nas decisões e na implementação de
ações.
O equacionamento corresponde ao conjunto de informações relevantes para
a tomada de decisões, direcionadas pelos técnicos de planejamento aos centros
decisórios. É importante ressaltar que o planejador no desempenho dessa atividade,
o faz sem apartar-se de sua visão de mundo e de seus fundamentos, nutridos nas
grandes correntes teórico-metodológicas. No que tange à decisão, a mesma diz
respeito às diferentes opções necessárias no decorrer do processo. O técnico na
execução dessa atividade tem que ter consciência das ideias e dos sistemas de
valores subjacentes às decisões norteadoras do planejamento (BAPTISTA, 2007).
Quanto à operacionalização, refere-se ao ato de explicitar as atividades
necessárias para a efetivação das decisões tomadas, consolidando-as em planos,
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programas e projetos. E a ação diz respeito às providências que converterão em


realidade aquilo que foi planejado.
O PLANEJAMENTO COMO PROCESSO TÉCNICO-POLÍTICO
O planejamento se concretiza mediante um processo de aproximações frente
à uma situação delimitada como objeto de intervenção. Esse processo suscita uma
ação sistemática diante de questões determinadas por situações alocadas num dado
momento histórico e que necessitam de respostas complexas, diferentemente das
respostas construídas no cotidiano com práticas voltas para imediaticidade
(CARVALHO; NETTO, 2011). Segundo Baptista (2007), essas questões estão
atreladas a circunstâncias que surgem em função da necessidade da utilização de
recursos escassos para atender grandes problemas, disponibilização de recursos
pelas agências financeiras, transferência do poder de decisão para novas
lideranças, necessidade de fundamentar novos programas, entre outros.
Diante dessas questões, Baptista (2007, p. 28) afirma:

Ainda que o planejamento, como um processo contínuo e dinâmico,


possa ser resultado desses estímulos, a tendência natural é levar a
elaboração de planos, programas ou projetos ocasionais, de prazo
limitado, se não foram acompanhados pela adoção consciente de
ação planejada como política permanente de intervenção.

Uma vez feita a decisão de planejar, ressalta-se a necessidade de tais


aproximações: construção/ reconstrução do objeto, estudo da situação, construção
de referenciais teóricos, coleta de dados e sua análise, identificação de prioridades,
controle e avaliação. Porém, tendo a clareza que esse processo não se dá
metodicamente, e sim dinamicamente (BAPTISTA, 2007).

CONSTRUÇÃO/ RECONSTRUÇÃO DO OBJETO: SOBRE O QUE PLANEJAR


No que diz respeito a construção e reconstrução do objeto de planejamento, a
autora relata que o objeto “ [..] vai se construindo e reconstruindo permanentemente
no decorrer de toda ação planejada, em função de suas relações com o contexto
que o produziu, sendo modicado e modificando-o permanentemente (BAPTISTA,
2007, p. 30). Visto que, a realidade social é dinâmica e vai formular um conjunto de
reflexões e preposições para a intervenção. Nesse processo o planejador tem que
identificar espaços que permitirão uma ação efetiva sobre a problemática levantada
e suas questões determinantes, sendo necessário a área de interesse, suas
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condições e a sua dinâmica conjuntural, percebendo ainda limites, possibilidades, as


relações sociais imbuídas na área de interesse para reconstrução do objeto.
Portanto, faz-se necessário a clareza que a intervenção profissional se dará
nas instituições onde o planejador atua. Nesse sentido, a prática acaba por envolver
as demandas da instituição, dos usuários e o planejamento da ação profissional. De
modo que o profissional se vê diante de uma polaridade, em que num polo estar o
empregador, o qual solicita uma demanda específica, e de outro a população
demandatária, a qual não têm acesso a determinados recursos que necessitam.
Com esse dilema posto, Baptista (2007) orienta que o profissional deve ter a
capacidade de atender as demandas superando as contradições inerentes, tendo a
nitidez que o processo de planejamento se realiza em uma realidade complexa e
num dado momento histórico.
De acordo com o aludido, a intervenção profissional do Assistente Social,
envolve mediações que se refere aos processos existentes na realidade social e que
está presente nas relações que ocorrem entre partes, forças e fenômenos de uma
totalidade social (CARVALHO; NETTO, 2011). E a ação de sua intervenção só pode
ser efetiva, como nos direciona Baptista (2007), quando as respostas restritas e
imediatas, aquelas que não produzem grandes modificações e permeiam o cotidiano
da pratica profissional, como nos afirma Carvalho e Netto (2011), forem substituídas
por ações reflexivas e conhecimento da visão de mundo em que estão as pessoas
que ocupam determinada posição no sistema das relações sociais.
Quanto as relações estruturais da sociedade, Baptista (2007) afirma que nem
sempre o Assistente Social poderá ultrapassar os limites postos a sua intervenção.
No entanto uma ação revolucionária não está somente nas mudanças estruturais
sociais constituídas, mas também nas práticas cotidianas questionadoras
embasadas numa unidade teoria-prática frente ao conhecimento cristalizado.
Portanto, para uma reconstrução do objeto profissional diante dos limites
postos pela realidade dinâmica, Baptista (2007, p. 37) relata a necessidade de um
tríplice movimento:

“[...] de crítica, de construção de algo “novo” e de uma nova síntese


no plano do conhecimento e da ação em um movimento que do
particular para o universal e retorna ao particular em outro patamar,
desenhando um movimento que traduz a relação ação/
conhecimento”

.
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ESTUDO DE SITUAÇÃO
Para Baptista (2007), o estudo de situação se dá dentro de uma totalidade, de
uma realidade dinâmica. Forma-se dentro de uma variedade de elementos, ações e
informações que são constantemente fluentes e alimentadas. Ou seja, é uma análise
voltada para o campo interpretativo, sob a ótica do que se percebe, do que é
encarado como problema para o planejamento no entendimento das suas limitações
e possibilidades. Requer investigação e reflexão, fomentando assim a capacidade
argumentativa da equipe profissional com as demais instâncias colaborativas e
conectivas com a temática em questão.
Segundo a autora, o processo de estudo inicia-se a partir de uma imagem pré
concebida do objeto em evidência, do que se é assimilado e observado a primeiro
momento. Essas impressões vão sendo modificadas, alcançando novas concepções
(BAPTISTA, 2007). A autora considera que esse é o momento em que a realidade
vai imbuindo valores, percepções e complexidade, se engendrado em aspectos
vivaz e circundantes de uma totalidade. “Nessa perspectiva, o estudo de situação se
faz por aproximações sucessivas ao objeto: a progressão é feita em patamares,
abrindo, a cada passo, novos horizontes” (BAPTISTA, 2007, p. 40). Sobre isso
Pontes nos direciona:

A dialética entre o universal e o singular processa-se através da


particularidade, que no dizer de Lukács é um campo de mediações.
É neste campo de mediações que os fatos singulares se vitalizam
com as grandes leis da universalidade, e a universalidade se embebe
da realidade singular [...]. A totalidade embora tenha caráter de
universalidade para o ser social, particulariza-se em cada complexo
[...] ou seja, a universalidade é o plano onde está situado os
determinantes e leis de uma dada formação social. Mas na
imediaticidade o que se põe à tona são os fatos como que sem os
condicionamentos e determinantes dessa formação social (PONTES,
1995. p. 10).

Nesse sentido, quando o que se objetiva é a mudança, se faz necessário a


análise de certos aspectos quanto a sua relevância, para proposição de uma
programática condizente com as circunstâncias e possibilidades. E para isso, é
essencial a entrada do conhecimento no campo do poder. A partir do entendimento
do poder, aproxima-se do eixo e composição da problemática e seu campo de
atuação (BAPTISTA, 2007). Portanto, a análise procurará perceber como se
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conforma o poder na situação estudada. Fugindo assim de qualquer tipo de visão


reducionista.

A situação específica do objeto planejado não se trata de maneira isolada de


seu contexto social. É necessário atuar de maneira que as programáticas do âmbito
particular não fiquem só reduzidas a determinadas áreas ou determinados
segmentos populacionais, mas que venham provocar efeitos na sociedade como um
todo, capaz de surtir com uma maior abrangência social (BAPTISTA, 2007).
Desse modo, Baptista (2007) aponta como principais objetivos do estudo de
situação, as seguintes diretrizes:

[...] a configuração do marco de situações ou de antecedentes,


acompanhada de análise compreensiva e explicativa de suas
determinações; a identificação sistemática e contínua de áreas
críticas e de necessidades, a que se pode acrescentar, ainda de
oportunidades e ameaças; a determinação de elementos que
permitam justificar a ação sobre o objeto; o estabelecimento de
prioridades; a análise dos instrumentos e técnicas que podem ser
operados na ação e a indicação de alternativas de intervenção.
(Baptista, 2007, p. 41).

Ao pesquisador, cabe a tarefa de delimitação dos aspectos a serem


analisados. Para Baptista (2007), os aspectos prioritários e que definem o
conhecimento do terreno é o da relação de poder e o das diferenças ideológicas.
Nesse estudo, o entrevistador se arma de oportunidades que o permite confrontar os
diferentes dados da realidade, em um processo em que se engendram novas
posições em relação ao seu objeto. Para Baptista:

O estudo de situação se configura tendo por base as seguintes


aproximações: levantamento de hipóteses preliminares; construção
de referenciais teórico-práticos; coleta de dados; organização e
análise: descrição/interpretação/compreensão/explicação dos dados
obtidos; identificação de prioridades de intervenção; definição de
objetivos e estabelecimento de metas e análise de alternativas de
intervenção (Baptista, 2007, p. 43).
De acordo com Baptista (2007) as aproximações referem-se:
 Levantamento de hipóteses preliminares – A partir de um referencial, o estudo
de situação pauta as suas análises na construção de um conjunto de
suposições que vão nortear todo o procedimento de coleta de dados. Isso a
partir de um referencial já existente;
 Construção de referencias teórico-práticos – Este pode se dar a partir de
conhecimentos empíricos e teóricos. Fazendo valer do senso comum e das
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pesquisas já existentes e feitas pela ciência. É essencial que seja realizado


um levantamento ou uma espécie de busca prévia sobre o objeto em questão.
Como bem nos explica a professora Baptista:

Os conhecimentos que compõem o referencial do planejamento


devem se apoiar em ///base empírica, de forma a permitir a dedução
dos elementos significativos para a análise do contexto social em
foco e a detecção de pressupostos que levem à apreensão do
fenômeno e das experiências correlacionadas com a hipótese
principal, de forma a compreender e reelaborar a demanda e
subsidiar opções relacionadas à ação. (Baptista, 2007, p. 48)
Assim, a autora nos traz a teoria e a prática como uma unidade que
consubstancia –se e complementa-se para execução do planejamento social.

Para que haja uma ação efetiva sobre uma situação, é preciso
conhecê-la como uma totalidade, que tem diferentes dimensões e se
relaciona com totalidades maiores. Uma mesma questão apresenta
dimensões políticas, filosóficas, sociológicas, ecológicas,
demográficas, institucionais, etc. Isso significa que o seu
conhecimento exige uma abordagem de ordem transdisciplinar.
(Baptista, 2007, p. 46)
No fragmento acima, a autora nos convida à concepção do planejamento para
além do imediatismo e do seu objeto de estudo, sua situação problema. Nos fazendo
atentar para a totalidade desse processo. Também sobre essa discussão, Pontes
nos direciona:

A demanda institucional aparece ao intelecto do profissional despida


de mediações, parametrada por objetivos técnico-operativos, metas e
uma dada forma de inserção espacial (bairro, município, etc.),
programática (divisão por projetos ou áreas de ação) ou populacional
(crianças, idosos, migrantes, etc.). Numa palavra, a demanda
institucional aparece presa à imediaticidade, com um “fim em si
mesmo’ (PONTES,1995p. 14).

O desafio consiste em fugir dessa imediaticidade proposta e seguir para o


caminho das múltiplas aproximações com o real, envolto numa totalidade que é
imbuída de sua particularidade e singularidade engendradas através dessa
universalidade, dessa teia social.

COLETA DE DADOS

A coleta de dados deve manter seu foco central na situação objeto do


planejamento, levantando dados em quantidade e qualidade que darão suporte ao
aprofundamento necessário as hipóteses levantadas e as referências teórico-
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práticas construídas. Existem inúmeras fontes de informações as quais podemos


recorrer para a análise de dados, tais como: observação direta, documentos oficiais,
pesquisa de campo, etc.

Nos primeiros passos da coleta de dados deve-se fazer uma aproximação


preliminar exploratória, no sentido de buscar informações prévias da situação geral.
Podendo assim tornar claro o direcionamento, que facilitará o aprofundamento que
servirá de fundamento as primeiras tomadas de decisão. Segundo Minayo (2001), a
fase exploratória é o tempo dedicado a interrogarmos preliminarmente sobre o
objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as
questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. Seu foco fundamental
é a construção do projeto de investigação.

O estudo preliminar necessitará de exame crítico do material existente


(estatísticas, estudos, planos, relatórios, mapas). Deve-se observar de forma ampla
todos esses dados, mesmo que a intervenção possua um campo restrito.

Essa primeira aproximação na coleta de dados deve permitir uma visão geral
dos objetos estudados e sinalizar pontos a serem esmiuçados, permitindo assim
identificar a origem e amplitude dos temas mais expressivos.

A coleta de dados visando uma ação planejada, deverá ocorrer de maneira


cumulativa ao longo do estudo, não se prendendo somente a fase inicial, pois senão
poderá inviabilizar economicamente todo o processo. Importante ressaltar que a
coleta de dados faz parte de todo o processo organizativo do planejamento,
necessitando assim ser retomado no sentido de conter novas informações, outras
observações, entre outros.

Ao longo do processo da coleta de dados deverão ser observados os


seguintes aspectos:

 Dados de situação - Compreensão detalhada do ponto central da ação e


determinar a natureza geral da problemática que será objeto do
planejamento, observando sua conformação, os fatores de ordem social,
econômica e cultural, seus problemas e possibilidades, incluindo também
suas questões subjetivas. As informações poderão ser de caráter imediato -
informações específicas que necessitarão ser analisadas em sua totalidade,
de forma crítica, para evitarmos cair na superficialidade; podendo também
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ser de caráter mediato - o qual requer um maior aprofundamento para serem


apreendidas, devendo ser levado em consideração o contexto socio-histórico
ao qual está inserido.

 Dados da instituição demandatária da ação - a compreensão e a


reconstrução da situação objeto do planejamento, necessita de um
diagnóstico da instituição, que lhe permitirá um prévio conhecimento da
mesma: seus valores, área de atuação, setor que atua, sua função (social ou
econômica), objetivos, etc.

 Dados das políticas públicas, da legislação, do equipamento jurídico e da


rede de apoio existente - requisito essencial ao planejamento, pois requer a
apreensão da totalidade, necessitando identificar as políticas públicas, suas
áreas especificas de intervenção, legislação adequada e equipamento
jurídico e social que lhes cabem. No momento da coleta de dados é relevante
perceber as instituições e programas responsáveis pelos serviços
relacionados à questão analisada.

 Dados de prática (interna e externa) - no momento do levantamento de dados


deverão ser detalhadas as áreas de recursos humanos, econômicos,
institucionais, etc. Sendo analisadas de maneira ampla dentro e fora da
instituição, as que possam ser perceptíveis ou imperceptíveis, levando em
consideração a área geográfica, grupos populacionais [...], sua capacidade e
eficiência, percebendo ainda as restrições de pessoal ou equipamentos.

O aprofundamento nestas questões enriquece o planejamento e permitem


uma maior viabilidade do processo.

ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE

A construção do planejamento social requer a junção de vários elementos que


são essenciais para a sua elaboração e desenvolvimento. Baptista (2007), em seu
livro, traz alguns elementos e aponta para a importância deles, a saber: a
organização e análise; a descrição; a interpretação; a compreensão e explicação
dos dados da realidade.
Na organização e análise, é preciso que todos os acontecimentos históricos,
relativos ao planejamento, sejam devidamente organizados, descritos, interpretados,
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destrinchando dados e processos, para que, dessa forma, o planejador possa utilizar
todas as novas informações obtidas para se aproximar mais do objeto em questão.
A descrição é um dos elementos em que por meio dele se obtém os itens
para a busca da precisão e do seu significado, mostrando assim as especificidades
e os componentes do objeto, por isso, precisa ser delimitado e, com isso,
determinando o que deve ser explicado, a causa da situação, dentre outros fatores.
Alguns instrumentos podem ser classificados para se chegar a este objetivo como a
aproximação descritiva. Ela pode ser feita por meio de simples exposição de dados
ou por meio de técnicas estatísticas de análise. Como se sabe, os fenômenos
sociais não são estáticos, contudo, a utilização de estatística se faz necessária para
fazer a avaliação de tendências, numa tentativa de compreender as variáveis e
descrever um comportamento futuro.
Quando se tem os dados, se faz uma projeção deles em que pode ser
examinada a maneira como a situação evoluiu historicamente e quais os fatores
dinâmicos que estão influenciando nessa evolução. A projeção se faz através do
conhecimento de uma série histórica de relação entre as variáveis. Um exemplo são
as variáveis: tempo, renda, instrução, região, população, etc. Com essas
informações, pode-se identificar as tendências e, com isso, elaborar os diagnósticos
projetivos.
Outro elemento é a interpretação. Este requer muito cuidado, pois como a
interpretação passa não por uma máquina neutra, mas por pesquisadores e
analistas que são, obviamente, seres humanos, que tem vontades, crenças,
princípios e valores, podem ser interpretadas de forma equivocada e pouco ou nada
neutra.
Segundo Baptista, "o profissional precisa se preparar, [...] conhecer suas
representações, seus sistemas e valores, suas noções e práticas [...]" (BAPTISTA
(2007) apud APARECIDA; NEGRINI (2015). A cada mudança que o planejador faz
ele está construindo um novo conhecimento sobre novas situações e esse processo
é cíclico e constante em todas as relações sociais.
O que vai determinar a qualidade de uma análise interpretativa crítica do
material obtido na coleta de dados é a explicitação das perspectivas teóricas
assumidas e o conhecimento de teorias intermediárias.
Essa correlação de teoria com evidências é difícil para qualquer análise, mas
o ideal é que o planejador analise os dados obtidos a partir de um quadro de
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referências, mostrando, a luz do conhecimento teórico, e criando assim indicadores


e parâmetros baseados no modelo expectativo teórico-prático.
O último elemento trazido pela autora é a compreensão/explicação dos dados
da realidade. Na reconstrução do objeto se faz necessário a descrição e
interpretação, contudo, não pode se limitar a esses níveis, pois assim se corre o
risco de não abarcar sua essência. É preciso ir além da apresentação imediata dos
dados, buscando entender a estrutura imanente do objeto em estudo, analisando a
conjuntura sócio-histórica que o gerou. Para que isso aconteça, se faz necessário
utilizar a perspectiva marxiana, somada a vertente goldmaniana, que conjuga a
dimensão analítica de determinantes sócio-históricas, trazendo uma perspectiva de
totalidade.
Analisado os elementos que fazem parte do processo de planejamento social,
é importante destacar que a realidade observada por meio das pesquisas e da
coleta de informações estão dentro do processo de inter-relações, trazendo uma
realidade mais ampla. Esses processos são contraditórios, podendo ao mesmo
tempo ser causa e efeito de uma determinada situação. Por isso, deve-se ter o
cuidado necessário para entender a complexidade de fatores dentre de uma análise.
Necessitando que a análise avalie os fatores externos e internos ao objeto e perceba
que as variáveis dentro e fora dele podem ser contraditórias, tal como são as
relações sociais.

CONTROLE E AVALIAÇÃO
No planejamento social, o controle é um instrumento que serve para
assegurar a execução do planejado. Na medida em que vai se desenvolvendo a
ação faz-se um acompanhamento sistemático, mensura e avalia o processo, quanto
ao tempo gasto, o método, os recursos. Através do controle pode-se evitar os
desvios, os bloqueios de operacionalização do projeto e que impedem de alcançar o
final desejado.

De maneira geral, é controlada a correspondência entre o


programado e o realizado em termos de desempenho técnico
(método e técnicas utilizados, instrumental, rentabilidade da ação e
de desempenho administrativo (prazos, rotinas, fluxos, aplicação de
recursos, uso de equipamentos, produtos, etc. Para tanto, são
elaborados relatórios, boletins estatísticos, gráficos, registros e
outros, os quais têm como referencial os fluxos, cronogramas,
orçamentos, etc., constantes do documento que detalha a execução.
BAPTISTA, 2007, p. 193)
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Podemos dizer que a execução do controle acontece de forma continua


durante toda a execução do plano, também acontece em períodos programados
para verificação, como a construção de relatórios por períodos, semanais, mensais,
anuais, conforme necessidade do projeto e sua extensão. (BAPTISTA, 2007).
O projeto é o instrumento mais utilizado pelos assistentes sociais em sua
prática. O projeto profissional acompanha e influi no movimento da realidade e que
contribui para mudanças pretendidas. É uma forma de sistematizar as ações do
serviço social e o plano auxilia as ações permitindo o controle e pré-avaliação do
seu desempenho e objetivos a alcançar. (MIOTO; NOGUEIRA, 2009).
Controle e avaliação não são a mesma coisa, e não se expressam apenas na
fase final, mas ela também acontece em todas as etapas do plano.

A avaliação, por sua vez, contém elemento valorativo. Um juízo


sobre o planejamento, seja antes ou depois de executado, isto é, ex-
ante ou ex-post. Pode ser, também, avaliação de processos ou de
impactos, ou, ainda, avaliação interna ou externa: técnica ou
participativa (MIOTO, NOGUEIRA, 2009, 296).

A avaliação pode ser considerada um momento de tensão, já que depende do


ponto de vista do avaliador. E esse ponto de vista fornece um referencial, critérios
sobre os quais se emite juízo. É de fato, tomar partido. Por isso é muito importante,
explicitar o posicionamento critico, a atitude que norteia a percepção da situação.
(BAPTISTA, 2007).
Segundo a autora Baptista (2007), no planejamento social, o momento da
avaliação é considerado fundamental para transpor a visão fragmentada e, através
da inserção de conteúdos metodológicos críticos, visualizar a totalidade social. O
planejamento passa a ter um sentido transformador, de superação da realidade, ao
invés de ser modernizador apenas.
Para isso, contamos com algumas dimensões importantes da dialética crítica
para a avaliação, durante o processo do planejamento. Na dimensão do futuro a
avaliação é feita no presente, com um olhar crítico no passado, levando em
consideração a intensão social do plano, ou seja, o que deseja alcançar. Dimensão
da historicidade, significa não só recuperar o processo histórico, mas interpretá-lo na
particularidade da intervenção. Dimensão da contradição, diz respeito a superação
daquilo que foi inapropriado durante a execução, e não só negar o plano. Dimensão
do enfrentamento da reificação, diz respeito a ação planejada, o objeto do plano,
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diante de questões imediatas ou imprevistos, que dependerá do desempenho e


controle que tem quem executou e planejou a ação (BAPTISTA, 2007).
Na avaliação são considerados a intencionalidade do plano, levando em conta
os desafios, os bloqueios, as dificuldades enfrentadas. Fazendo uma avaliação de
tudo, desde o plano, a execução aos resultados alcançados, podemos ampliar
direitos, mantê-los ou redefini-los, readequá-los. O processo de avaliação também
implica na adoção de tipos e critérios de avaliação, dentre esses referenciamos os
mais usuais: de eficácia, eficiência e efetividade.
Enfim, durante a execução do plano é importante controlar e avaliar essas
ações, de acordo com o objeto e objetivo do planejamento. Nem sempre o planejado
dá conta da realidade, que é dinâmica, e as necessidades imediatas redirecionam as
nossas ações. Importante atentar para realidade e lembrar que estamos falando
sobre planejamento social, portanto lidando com pessoas que estão acima das
coisas. Retomar todo processo, significa analisar os resultados esperados a partir de
novos patamares, novas políticas, novas necessidades apresentadas, é essencial.
Lembrando que o foco das ações do assistente social é sempre os usuários, os
serviços prestados a eles.
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REFERÊNCIAS

APARECIDA, Daniela; NEGRINE, Flausino. Planejamento Social: Uma necessidade atual


e futura em relação a seguridade social. São Paulo: Editora Delta, 2015.

BAPTISTA, Myrian Veras. Planejamento Social: intencionalidades e instrumentação. São


Paulo: Veras, 2007.

CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. NETTO, José Paulo. Cotidiano: conhecimento e
crítica. São Paulo: Cortez, 2011.

GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do serviço social. São Paulo: Cortez, 2002.

MIOTO, Regina Célia Tamoso. NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Sistematização,


Planejamento e Avaliação das Ações dos Assistentes Sociais no Campo da Saúde.
Serviço social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional, (orgs). 4ª edição. São Paulo:
Cortez; Brasília/DF: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2009, p.273-303.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18
ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
Disponível em:< http://www.faed.udesc.br/arquivos/id_submenu/1428/minayo__2001.pdf>
Acesso em: 28 Jan 2017.

TEIXEIRA, Joaquina Barata. Formulação, administração e execução de políticas


públicas. In: Serviço social: direitos humanos e competências profissionais. Brasília:
CFESS/ABEPSS, 2009.

PONTES, Reinaldo. A categoria de mediação em face do processo de intervenção do


Serviço Social. Disponível em: <http //www.ts.ucr.ac.cr/binarios/congresos/reg/slets/slets-
016-104.pdf>. Acesso em: 28 de jan. 2017.

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