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Por Ronald E.

Watterson

O sábado é mencionado frequentemente na Bíblia, especialmente no Velho Testamento. Estas constantes


menções indicam que o assunto é muito importante e merece um estudo cuidadoso.
Em nossos dias é um assunto polémico, mas nem por isso devemos deixar de examiná-lo. Devemos, sim, deixar
de lado o que os homens falam e considerar o que as Escrituras Sagradas dizem a respeito. Vamos observar
primeiramente o que a Bíblia revela sobre

A História do Sábado
Embora não encontremos a palavra "sábado", na Bíblia, até chegarmos em Êxodo capítulo 16, cerca de 2.500
anos depois de Adão, a doutrina do sábado começa com a criação do homem, quando Deus trabalhou seis dias e
no sétimo dia descansou de toda a Sua obra. “E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou" (Gn 2.3).
Apesar do silêncio da Palavra de Deus quanto ao sábado, nos primeiros 2.500 anos da história humana, é
provável que os fiéis o observassem durante aquele tempo. Quando Israel estava no deserto, Deus lhes deu o
maná durante seis dias e avisou que no sétimo dia não haveria maná, pois aquele dia era "o santo sábado do
Senhor" (Ex 16.23). Esta declaração, sem nenhuma explicação, leva-nos a crer que o sábado não lhes era
desconhecido. Notemos, a seguir,

O Sábado Dado a Israel


Nos dias de Moisés o sábado foi dado à nação de Israel (Ex 16.29) e a partir daquele tempo a sua história fica
mais clara. Ele foi incluído nas leis da aliança que Deus fez com Israel, sendo escrito pelo dedo de Deus na tábua
de pedra, e também por Moisés no livro da lei (Ex 24.4; Dt 31.24).
Entre as outras leis, o sábado assumiu um lugar destacado para Israel, pois Deus o deu por sinal da aliança.
Assim como Deus estabeleceu a circuncisão como sinal da aliança que fez com Abrão (Gn 17.11), o sábado foi
estabelecido como sinal da aliança entre o Senhor e Israel (Ex 31.13,17 e Ez 20.12).
O sábado não foi dado às outras nações, mas exclusivamente a Israel, como sinal da sua posição privilegiada, em
concerto com o Senhor. Este facto é confirmado quando Moisés exortou o povo e disse: “E que gente há tão
grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós?” (Dt 4.8). A lei,
incluindo o sábado, foi dada com exclusividade a Israel. Notemos, ainda,

O Sábado Ampliado
Ao dar o sábado a Israel, Deus o ampliou. A partir daquele tempo o sábado não seria apenas o sétimo dia de
cada semana: mais dias além do sábado seriam “sábados do Senhor”. O Dia da Expiação, por exemplo, que é o
décimo dia do sétimo mês, seria “sábado de descanso” (Lv 16.29-31), mas este dia poderia cair no começo, no
meio, ou no fim da semana, dependendo do ano.
A terra também teria o seu sábado. O povo poderia cultivar a terra seis anos, mas o sétimo seria “sábado de
descanso para a terra, um sábado ao Senhor” (Lv 25.4). Naquele ano não poderiam semear o campo, nem podar
a vinha. Mas convém que notemos, agora,

O Sábado Profanado
Israel foi infiel; não guardou os sábados ao Senhor. Profanou o sábado ainda no deserto, antes mesmo de entrar
na terra prometida.
Referindo-se àqueles anos no deserto, Deus disse: "Também lhes dei os meus sábados... mas... Israel se rebelou
contra mim no deserto... e profanaram grandemente os meus sábados” (Ez 20.12-13). Após a entrada na terra, a
avareza levou o povo a considerar o sábado como um peso desagradável e difícil de suportar. Diziam: “Quando
passará o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo”(Am 8.5). Tal
hipocrisia era insuportável a Deus e a repreensão veio nas palavras do profeta: “O incenso é para mim
abominação... e os sábados; ... não posso suportar iniqüidade, nem mesmo o ajuntamento solene" (Is 1.13).

O Sábado Interrompido
Por causa daquela iniquidade e hipocrisia, Deus tirou de Israel os Seus sábados. Ele disse, por intermédio do
profeta: Farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados...”(Os 2.11). Ele
afirmou ainda, através de Jeremias: “O Senhor em Sião pôs em esquecimento a solenidade e o sábado, e na
indignação da Sua ira rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote” (Lm 2.6).

O Sábado Reestabelecido
Apesar da profanação do sábado por parte de Israel, Deus não abandonou o Seu propósito. Ele ainda há de
restaurar o Seu povo e esta nação ainda guardará os sábados ao Senhor. As promessas feitas a Abrão serão
cumpridas e o sábado será observado. Descrevendo aqueles dias gloriosos que ainda estão por vir, Ezequiel fala
dos holocaustos e das ofertas que serão trazidas nas luas novas e nos sábados (Ez 45.17). O mesmo profeta fala
da porta do átrio interior do templo que será reconstruído e diz que “estará fechada durante os seis dias, que
são de trabalho; mas no dia de sábado ela se abrirá” (Ez 46.1; veja também Ez 46.3, 4, 12). Agora, voltemos a
nossa atenção para

Um Detalhe Importante
Considerando a história do sábado, é importante observar que não há mandamento algum para a igreja guardar
o sábado. E isto não é uma omissão. Deus não omitiu da Sua Palavra coisa alguma que fosse necessária ao Seu
povo (veja 2 Tm 3.17). Longe de apresentar qualquer mandamento para guardar o sétimo dia, o Novo
Testamento mostra que o cristão que estima um dia acima do outro é um cristão fraco (Rm 14.1-6). Reforçando
isto, Paulo disse, escrevendo aos Colossenses: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” (Cl 2.16).
Vemos, ainda, que, na carta aos Gálatas, escrita a igrejas que estavam começando a guardar dias, Paulo disse:
“... Agora, conhecendo a Deus... como tornais outra vez a estes rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo
quereis servir? Guardais dias... receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco” (Gl 4.9-11). Esta
preocupação do apóstolo com relação aos gálatas deixa muito claro que o cristão que guarda o sábado, ou
qualquer outro dia, está cometendo um erro gravíssimo e está jogando por terra a obra que Deus está fazendo.

O Propósito e o Significado do Sábado


Um dia, quando o Senhor passava pelas searas, com Seus discípulos, estes começaram a colher espigas e foram
severamente criticados pelos fariseus (veja Marcos 2.23-28). Respondendo as críticas, o Senhor afirmou ser o
Senhor do sábado e revelou, pelo menos em parte, o propósito do mesmo.

Para o Homem
Ele disse: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (v. 27). O sábado
nunca foi uma restrição, ou uma exigência pesada que Deus impôs ao homem, mas sim uma bênção. Deveria ser
uma ocasião alegre e benéfica para o homem.
No Velho Testamento vemos a maneira como este dia deveria ser uma bênção para o homem. Traria benefícios
físicos, pois seria um dia de descanso depois de seis dias de trabalho (Êx 20.10). Quando esta lei foi dada a Israel,
Deus relacionou este descanso semanal com a Sua própria obra na criação: “Porque em seis dias fez o Senhor os
céus e a terra, o mar, e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia de
sábado, e o santificou”(Êx 20.11).
Quando, porém esta lei foi repetida na campina ao oriente do Jordão, Deus mencionou outro propósito do
sábado. “Guarda o dia de sábado...seis dias trabalharás... mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não
farás nenhuma obra nele...Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te
tirou dali com mão forte e braço estendido” (Dt 5.l2-13).
O sábado, portanto, seria um dia de descanso físico e também seria um dia de recordação das bênçãos
recebidas do Senhor. Seria uma bênção para o corpo e também para a alma.

Para Deus
Foi de facto uma dádiva preciosa que Deus deu ao povo de Israel (Êx 16.29), mas convém observar que não é
somente “o sábado do Senhor” (Êx 16.23), é também “um sábado ao Senhor” (Êx 31.15). Ao mesmo tempo que
proporcionava descanso e refrigério ao homem, deveria proporcionar algo também a Deus. Ao deixar de lado a
preocupação com as coisas materiais, o homem deveria ocupar-se com as coisas espirituais, e assim Deus
receberia adoração e louvor.
Além do propósito imediato de proporcionar ao homem descanso e trazer a Deus honra e louvor, havia algo
mais, na celebração do sétimo dia. Era uma sombra “das coisas futuras” (Cl 2.17). Vejamos vários aspectos disto.

O Descanso em Canaã
Logo que o pecado entrou no jardim do Eden, o descanso de Deus foi interrompido e Ele se pôs a trabalhar (Jo.
5.17). O sábado não seria mais uma expressão do descanso do Criador, mas sim, uma sombra dum descanso
futuro, baseado na obra perfeita terminada pelo Senhor Jesus Cristo.
Em primeiro lugar, prefigurava o descanso que Deus queria dar ao povo de Israel em Canaã. Moisés disse àquele
povo: “Até agora não entrastes no descanso ...mas passareis este Jordão, e habitareis na terra que vos fará
herdar o Senhor vosso Deus; e vos dará repouso dos vossos inimigos... ”(Dt 12.9-10).
Num sentido limitado, este descanso foi alcançado nos dias de Josué, pois “o Senhor lhes deu repouso em redor,
conforme a tudo quanto jurara a seus pais”(Hb. 4.8).
O descanso em Canaã não permaneceu, e Deus falou ainda dum descanso futuro (Sl 95.8-11).

Descanso para o Mundo no Milênio


Um dia Satanás será preso no abismo (Ap 20.1-3); todo inimigo será derrotado (1 Co 15.25); a criação deixará de
gemer (Rm 8.22-23); e a terra há de gozar o seu sábado. O profeta anunciou isto ao dizer: “Já descansa, já está
sossegada toda a terra! exclamam com júbilo” (Is 14.7). O mesmo profeta ainda disse: ”As nações perguntarão
pela raiz de Jessé, posta por pendão dos povos, e o lugar do seu repouso será glorioso”(Is 11.10).

O Descanso Eterno
Este maravilhoso descanso milenar, porém não perdurará. Satanás será solto da sua prisão e sairá para enganar
as nações que estão nos quatro cantos da terra, liderando uma última rebelião contra Deus.
Mas ele será derrotado, e lançado no lago de fogo. Os mortos serão julgados e haverá um novo céu e uma nova
terra onde habita a justiça (2 Pe 3.13 e Ap 21.1). Deus será tudo em todos e será glorificado naquele descanso
eterno.

O Descanso presente em Cristo


O sábado é a sombra; a substância é Cristo (Cl 2.16-17). Por isto, não nos ocupamos mais com a sombra; temos
a substância. Não guardamos o sábado; descansamos em Cristo. Esta verdade é apresentada mais
detalhadamente na carta aos Hebreus.

O Sábado à Luz de Hebreus 3 e 4


A carta aos Hebreus mostra a superioridade de Cristo. Ele é Deus (cap. 1) e, portanto, superior aos anjos. Ele Se
fez homem (cap. 2), mas continua superior a todos os homens. Os capítulos que estamos considerando mostram
como Ele é superior a Moisés e a Josué. Estes não conseguiram dar ao povo aquele descanso verdadeiro, mas
nós, pela fé no Senhor Jesus Cristo, já entramos no repouso (4.3).

O Repouso
A questão do repouso é introduzida com uma citação do Velho Testamento, tirada do Salmo 95.8-11, já
anteriormente citada no capitulo 3.7-11. O escritor quer demonstrar que o Senhor Jesus é maior do que todos
os homens. Os que sairam do Egito deveriam ter entrado no descanso em Canaã, mas pela desobediência e
incredulidade, seus corações foram endurecidos e Deus jurou na Sua ira que não entrariam no Seu descanso.
Este facto serve de exortação aos leitores, para que não venham a cair no mesmo erro (3.12-13). Poderiam ter
ouvido as boas novas, mas se o coração se endurecesse pelo engano do pecado não entrariam no repouso
desejado (3.13).
Muitos têm mal interpretado esta passagem e, nela baseados, afirmam que o crente pode perder a salvação,
mas veja bem que não é isso o que o texto sagrado diz. O Deus afirma e: “A qual casa somos nós, se tão-
somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (3.6). Note bem que não diz que
“seremos”, mas que “somos”, agora, no presente, a casa de Deus. Ele não diz que somos enquanto
conservarmos firme, mas que já somos a casa de Deus se conservarmos firme. Isto é, a palavra “se”, neste caso,
não introduz uma condição, mas, sim, uma evidência. Os hebreus, a quem a carta foi dirigida, professavam ser a
casa de Deus, mas alguns poderiam não ser verdadeiros. A realidade da sua profissão seria manifesta pela sua
permanência. Veja isto com mais clareza no versículo 14 – “...nos tornamos participantes de Cristo, se
retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”. O verbo “tornamos”refere-se a algo já
acontecido — é o tempo perfeito no texto original. Ele não está dizendo que vamos participar de Cristo se
retivermos firmemente, e, sim, que já participamos de Cristo há muito tempo. A palavra se, no caso, não é
condicional, pois se o fora, o versículo não teria sentido. O ensino claro destes dois versículos é que aquele que
permanece é aquele que creu e aquele que não permanece demonstra que nunca creu.
No capítulo 4 o Espírito volta a destacar o perigo de não entrar no repouso de Deus: “Temamos, pois que,
porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás” (v. 1).
Observe, porém, que o texto não fala da possibilidade de ser expulso dum repouso já alcançado, mas, sim, da
possibilidade de não chegar a entrar no repouso esperado. É isto o que vemos no Salmo 95: a geração que saiu
do Egito não entrou em Canaã. É isto, também, o que Hebreus 4 ensina: alguns que querem entrar no repouso
de Deus poderão não entrar. Aqueles que saíram do Egito ouviram as boas novas e esperavam entrar, mas
cairam no deserto. Como o texto afirma, nada disto lhes aproveitou, porquanto não estava misturado com a fé.
É possível ouvir as boas novas e abandonar o mundo e, contudo, não entrar no descanso porque, na realidade,
não creu.
Mas o contraste no versículo seguinte é notável: “Nós, os que temos crido, entramos no repouso” (v. 2). Aqui
vemos novamente que a fé é o meio pelo qual entramos no repouso. Eles (v. 2) não entraram porque não
creram; nós (v. 3) entramos (presente) porque temos crido (passado). Quem não crê, não entra. Quem creu, já
entrou.
Tudo é relacionado com o descanso de Deus no sétimo dia (v. 4), mostrando que aquele repouso de Deus na
obra completada pela criação era uma sombra do repouso que o crente tem agora em Cristo. No versículo 5
vemos mais uma vez que o incrédulo jamais entrará neste descanso.
A partir do versículo 6, o Espírito Santo torna a falar do descanso concedido em Canaã, mostrando que não
correspondeu plenamente à sombra, pois, de outra sorte, Davi não teria, no Salmo 95, falado de outro dia. Isto
leva logicamente à conclusão de que “resta ainda um repouso (literalmente, “um sábado de repouso”) para o
povo de Deus” (v. 9).
O sábado do Velho Concerto, portanto, era uma sombra do descanso que gozamos hoje em Cristo. O assunto é
concluído com uma afirmação e uma exortação.
A afirmação: “Aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou das suas obras, como Deus das suas” (v.
10). Quando descobrimos que as nossas tentativas de alcançar a vida eterna eram inúteis e deixamos de confiar
em nossas justiças, orações, obras, etc., e confiamos no Senhor Jesus Cristo e no valor da obra consumada na
cruz, descansamos das nossas obras e entramos no descanso de Deus.
A exortação: É dirigida àqueles que ainda não entraram no repouso de Deus e diz: “Procuremos entrar... para
que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência” (v. 11).

A Conclusão
O Sábado foi uma dádiva preciosa que Deus concedeu ao povo de Israel, mas aquele povo não apreciou. Era
uma parte integrante daquela lei do velho concerto e traz lições preciosas para nós, cristãos, no dia de hoje,
sendo uma sombra do nosso descanso espiritual em Cristo.
Mas aquela “cédula que era contra nós” foi riscada (literalmente, apagada, como quando se apaga o que foi
escrito numa lousa) e tirada do meio de nós pela cruz de Cristo (Cl 2.14). Continuando este ensino, o Espírito
Santo pergunta: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam
AINDA de ordenanças...?” (Cl 2.20).

Nesta Escritura Deus mostra claramente que o cristão não deve guardar a lei do velho concerto (isto inclui o
sábado), pois tal lei foi apagada e tirada do meio de nós. Na carta aos Gálatas, porém, Deus apresenta, por
meio duma alegoria, a nossa responsabilidade nesta parte.

Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. Na alegoria, Agar, a escrava, representa o velho concerto
firmado no monte Sinai, enquanto Sara representa o novo. Na conclusão da alegoria, Deus diz: “Lançai fora a
escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre” (v. Gl 4.21-31). Temos
a responsabilidade de lançar fora o velho concerto, bem como as conseqüências que ele produz, pois de modo
algum poderão os dois concertos conviver um com o outro.
Portanto, em Colossenses vemos o lado divino desta mudança — Ele apagou a “cédula”, tirando-a do meio de
nós (Cl 2.14), mas em Gálatas vemos o lado humano — nossa responsabilidade de lançar fora o velho concerto,
inclusive o sábado.

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