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O Velho Fausto parecia um domingo. Costumava vê-lo, manhã cedo, cruzar o passeio,
pisando sem ruído as flores das acácias, muito aprumado no seu fato de linho branco, chapéu
de palha, laço e bengala, e tão sem pressa, meu Deus!, cumprimentando com acenos lentos
(largos sorrisos) a turba ansiosa. Um dia alguém o provocou:
Ele sorriu, ainda mais generoso, e o claro fulgor dos seus dentes perfeitos cegou o
atrevido:
“Todos os meus dias são inúteis”, respondeu com solene orgulho: “Eu os passeio.”
Durante muitos anos, devo confessar, quis ser como ele. Hoje sei que pecava por
excessiva ambição. Trabalhando intensamente qualquer pessoa é capaz de alcançar, no fim da
vida, relativa prosperidade e a admiração dos outros. Um ladrão hábil pode ficar rico em dez
ou quinze anos. A conquista do poder também impõe considerável esforço; isto, já para não
falar em santidade ou heroicidade. A inutilidade, porém, exige algo mais difícil: talento. Nem
todos podem ser inúteis, realmente inúteis, da mesma forma que poucos conseguem fazer
chorar um violino. Também nem todos merecem ser inúteis. Fausto sim, era inútil ― e
merecia-o. Foi, enquanto viveu, ocioso e magnífico como uma tela de Gauguin.
A pergunta ecoou na sala como um traque. Alguém gritou: “Fascista!” Um tipo alto, de
bigodes, sentado ao lado do escritor, encolheu os ombros:
O desprezo com que disse aquilo serenou os ânimos. Encontrei Fausto, horas mais tarde, ainda
na mesma mesa. Ardia ao lume brando do crepúsculo. “Gostaria realmente de saber o que
aconteceu à barata”, disse-me com tristeza. Ele queria saber que género de música dançava o
inseto: rumba, valsa, a velha rebita? Recomendei-lhe mais cuidado com a língua. Podia-se ser
preso, naquela época, por coisas assim. Fausto encolheu os ombros, cético, terminou de beber
a sua cerveja e foi-se embora. Morreu, tempos depois, atropelado por um camião do exército.
Voltei a lembrar-me dele quando, há poucos dias, um amigo me disse ter descoberto no
Cemitério do Alto das Cruzes uma lápide partida: “Aqui repousa Fausto Bendito. Foi ele quem
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renunciou à vida/ podeis continuar a ocupar o seu lugar/ vós, que nos roubastes/ Não foi,
nunca foi, renunciou-se/ atingiu o zero.” Reconheci os versos de Agostinho Neto, musicados
depois pelos Irmãos Kafala no belo álbum “Salipo”. “E agora vivei, cantai, chorai/ e agora casai-
vos, matai-vos/ embriagai-vos/ e agora dai esmolas aos pobres/ nada me pode interessar/ que
não sou, não sou/ Atingi o zero/ Nada me pode interessar/ Não sou, não sou/ Atingi o zero.”.
1. Diz-se, no conto, que “O Velho Fausto parecia um domingo.”. Explica esta afirmação
partindo do texto que leste.
2. Segundo o narrador, ser inútil é muito difícil. Explica a afirmação por palavras tuas.
3. No texto conta-se um episódio da vida do ocioso Fausto. Faz o seu breve resumo e explica
a importância desse episódio no contexto social e político em que aconteceu.
II
“No século XXI, África constitui-se definitivamente como fornecedor de recursos naturais das
duas superpotências. A China não impõe contrapartidas políticas, enquanto os Estados Unidos
não são indiferentes aos problemas de segurança e às emergências humanitárias. A não
ingerência de Pequim é mais sedutora para os Estados africanos.
O Governo de Hu Jintao pretende apenas fazer negócios em paz sob a sua conceção do mundo
em que o crescimento é o objetivo absoluto. Uma visão estratégica assente na convicção de
que a economia resolverá a maioria dos problemas de direitos e desenvolvimento humano do
continente. Esta ênfase na harmonia abona a favor de Pequim, tanto mais que rivaliza com a
estratégia de compensações norte-americana. «Se o consenso de Washington é
ideologicamente intervencionista, o emergente consenso de Pequim parece ideologicamente
agnóstico», observa Roger Cohen, colunista do diário «The New York Times».
In http://www.alem-mar.org
1. Para cada um dos itens de 1.1. a 1.7., escolhe a alternativa correta, de acordo com o sentido
do texto:
1.3. O que significa o enunciado “em oposição aos Estados Unidos, que pretendem
contrapartidas como mais democracia, liberdade, direitos humanos e o domínio da lei.” (2º
parágrafo)?
c. A China e os Estados Unidos têm pontos de vista diferentes no que concerne aos negócios
com África.
a. Truncação.
b. Empréstimo.
c. Sigla.
d. Acrónimo.
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1.5. A expressão “O gigante asiático”, referido no segundo parágrafo, pretende retomar a
palavra “China”, sendo considerada, por isso,
a. uma anáfora.
b. uma catáfora.
c. um correferente.
d. uma elipse.
a. Eufemismo.
b. Perífrase.
c. Antonomásia.
d. Metonímia.
1.7. Que figura de retórica se verifica no enunciado “Pequim oferece a harmonia (…)” (2º
parágrafo)?
a. Metonímia.
b. Metáfora.
c. Eufemismo.
d. Pleonasmo.
2.3. Classifica a oração subordinada presente no enunciado “em oposição aos Estados Unidos,
que pretendem contrapartidas como mais democracia, liberdade, direitos humanos e o
domínio da lei.” (2º par.).
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III
Num texto bem estruturado, entre 150 e 200 palavras, comenta o cartoon apresentado,
refletindo sobre a importância que os computadores assumem na vida do Homem: moderno.
BOM TRABALHO!!!