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ÉTICA

Discentes: Isabela Vidal Batistella


Docente: Jonas Gonçalves Coelho
FAAC – UNESP – 09.12.21

Relatório sobre o filme “Silenciadas”, de Pablo Agüero

Questão 1: Escolher e comentar aspectos éticos.


Questão 2: Escolher e comentar uma cena.
Questão 3: Fazer associações. 
Assistindo a um filme sobre o assunto, é fácil se esquecer de que o Tribunal da Santa
Inquisição e a Caça às Bruxas foi um evento real na história da Humanidade. Parece risível
pensar que, em nome de Deus, inúmeras mulheres tenham sido queimadas em uma fogueira
ou amarradas e jogadas em rios, graças ao seu ‘culto ao diabo’, ou o sabbath, como vemos
no filme.
É interessante a sutil demonstração do filme de que o que verdadeiramente incriminava
essas mulheres eram rituais, canções e costumes muitas vezes presentes em sua própria
cultura. No caso de “Silenciadas”, a cultura basca era reprimida. Vemos, no início da obra,
os dois inquisidores protagonistas do filme em um questionamento de ‘quantas mortes
seriam necessárias’. A desculpa seria a de que esperavam que as mulheres revelassem os
segredos do sabbath e, se não revelassem, seriam mortas. O inquisidor, então, questiona: “E
se o sabbath não existir?”
É interessante o conceito de que, mesmo sabendo da possibilidade, isso não impediu a
Inquisição de torturar e matar mulheres. É interessante pensar que, se existiu realmente, a
Igreja nunca colocou as mãos em nada.
O filme, para mim, demonstra bem a contradição do cristianismo. Utilizando o nome e a
imagem de Deus, fizeram o que em entendiam e se sentiam os deuses da humanidade.
Desde guerras até o genocídio deliberado de povos nativos, mulheres. Os crimes da Igreja
Católica poderiam escrever milhares de livros. Me parece, honestamente, muita arrogância
pressupor que um humano – tão abaixo de Deus, segundo o cristianismo – poderia falar e
agir em nome Dele.
Um dos aspectos mais interessantes são a representação da cultura basca e o fato de grande
parte do filme ser feito em euskera, língua basca. A cena em que Ana, protagonista do
filme, inventa histórias sobre o ritual das bruxas para satisfazer a curiosidade dos
inquisidores ressoou bastante. No conflito entre as cenas do interrogatório e suas memórias,
temos um contraste de iluminação, cores e sons que passam os exatos sentimentos sentidos
pela protagonista. É uma construção bonita e bem pensada, que transporta algo imaterial
em imagens e nos permite sentir junto à personagem.
Essa cena mostra, também, algo interessante: a protagonista nota que sua cultura e sua
liberdade, as histórias e músicas de seu povo eram o que significavam ‘bruxaria’ para a
Santa Inquisição e traziam tanto medo aos cristãos. Isso, até hoje, se relaciona com a
vivência feminina na sociedade: uma mulher livre causa medo e espanto, repulsa e ódio.
Decisões que deveriam ser pessoais se tornam debates sociais intensos. Crescer os pelos
púbicos ou da axila, para uma mulher, é aceitável? Vestir roupas curtas, é aceitável? Usar
maquiagem, cortar o cabelo curto ou raspá-lo, se relacionar sexualmente com mais de uma
pessoa em um curto período de tempo, isso tudo, é aceitável? Observando
minunciosamente o comportamento social dentro do patriarcado, mínimos atos de liberdade
pessoal são, para as mulheres, uma luta.
A própria cena do sabbath criada no filme demonstra a fascinação dos inquisidores. Eles
queriam oprimir ou participar? Ana descreve o diabo com a exata aparência de Rostegui, e
isso é certamente proposital. Durante a cena, enquanto o homem se encontra dançando em
meio às mulheres, entendemos que Ana o manipulou através do desejo. Ele, inquisidor e
supostamente um homem de mínimos pecados, se vê tentado a tomar o papel do “diabo”
em um ritual satânico para ter mulheres dançando e cantando para o seu prazer.
O filme “A Bruxa”, de Robert Eggers, traz um cenário e mensagens semelhantes quanto a
liberdade feminina, mas são construídos de forma diferente. Se tratando de um filme de
terror atmosférico e psicológico, a escolha do final de fazer com que Thomasin, a
protagonista, aceitasse a oferta de Lúcifer e se juntasse à clássica imagem de um sabbath –
com mulheres nuas dançando em volta de uma fogueira – contrasta com a abordagem mais
racional de “Silenciadas”.
Pensando no discurso da razão ocidental, que atua dentro de uma lógica tipicamente
masculina – que sustenta a dominância da razão sobre o sensível, sobre o corpóreo e sobre
a experiência. Platão, preocupado em dominar os afetos e as paixões, define a virtude como
força moral da vontade de cumprir o dever, acreditando que através do controle dos apetites
é que se pode chegar à justiça social.
É possível associar essa desvalorização da dimensão sensível da existência como que
construída paralelamente à identificação da mulher com a natureza, com o corpo e com o
irracional; sendo elas, portanto, desprovidas dos conceitos necessários para serem
consideradas seres sociais.

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