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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE CARAGUATATUBA
FORO DE CARAGUATATUBA
2ª VARA CÍVEL
PRAÇA DOUTOR JOSÉ REBELLO DA CUNHA, 73, Caraguatatuba - SP
- CEP 11661-050
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001714-90.2020.8.26.0126 e código A09748B.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1001714-90.2020.8.26.0126


Classe - Assunto Embargos de Terceiro Cível - Esbulho / Turbação / Ameaça
Embargante: Paulo Roberto Granzotto e outro
Embargado: Antonio Ricardo Furlan

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por TATIANA SAES VALVERDE ORMELEZE, liberado nos autos em 18/12/2020 às 15:53 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Tatiana Saes Valverde Ormeleze

Vistos.

Trata-se de ação de embargos de terceiro opostos por Paulo Roberto Granzotto e


Berta Maria Granzotto em face de Antonio Ricardo Furlan, todos qualificados nos autos.
Alegam os embargantes que o imóvel matricula n.53193, bloqueado nos autos
principais, deve ser desbloqueado, eis que quando adquirido de Osvaldo Lima de Souza não havia
qualquer restrição ou constrição judicial na matricula. Após a aquisição, construiu no terreno e
buscam a regularização da construção junto ao Cartório de Registro de Imóveis. Contudo, ante o
arresto, encontram-se impossibilitados de qualquer ato. Requerem a liberação do imóvel da
constrição.
Com a inicial, juntaram procuração e documentos (fls.12/96).
Devidamente citado, o embargado sustenta que os embargantes são construtores e
investidores, sendo que houve conluio com o antigo proprietário na transmissão do bem. Alega
que os requerentes dispensaram, no ato de escritura de compra e venda, a apresentação da certidão
de distribuição de processos judiciais cíveis. Afirma que a compra e venda realizada em
16/05/2016 ocorreu após a citação válida do devedor nos autos principais, não obstante a
inalienabilidade tenha sido comunicada ao cartório de registro de imóveis após a transação
fraudulenta. Juntou documentos (fls.116/126).
Réplica às fls.133/152.
Instadas à produção probatória, apenas o embargado manifestou-se pelo
julgamento antecipado da lide (fls.156/157).
É o relatório. Fundamento e decido.
O feito comporta pronto julgamento, nos termos do art. 355, I, do Código de
Processo Civil (CPC), uma vez que a matéria “sub judice” não demanda a produção de outras

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provas e já se encontra nos autos a necessária prova documental.
A esse respeito, oportuna é a orientação do E. Superior Tribunal de Justiça: “O
Superior Tribunal de Justiça tem orientação firmada de que não há cerceamento de defesa
quando o julgador considera dispensável a produção de prova (art. 330, I, do CPC), mediante a
existência nos autos de elementos hábeis para a formação de seu convencimento” (STJ; Rel.Min.

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HERMAN BENJAMIN; j.05/12/13; AgRg no AREsp 423659).
O embargado ajuizou ação monitória em 11 de março de 2016, e o executado,
Osvaldo Lima de Souza, foi citado em 13 de abril de 2016. A liminar concedendo o arresto
ocorreu em 23 de março de 2016.
Os embargantes realizaram negocio jurídico com o executado em 16 de maio de
2016, conforme escritura pública juntada às fls.22/25. A constrição judicial foi prenotada somente
em 09 de outubro de 2019, cerca de 03 anos depois da propositura da ação (fls.83)
Ocorre que no caso dos autos, o embargado não promoveu o registro do arresto
para dar publicidade e conhecimento a terceiros da existência da ação, e também não produziu
prova para demonstrar a má-fé dos terceiros adquirentes.
Caberia ao embargado cumprir o disposto no artigo 844 do CPC, in verbis:
Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, cabe ao
exequente providenciar a averbação do arresto ou da penhora no registro competente, mediante
apresentação de cópia do auto ou do termo, independentemente de mandado judicial.
Aponto ainda que não me parece crível que os embargantes construiriam um
condomínio de apartamentos no local, cientes de que poderiam vir perder o imóvel em eventual
processo de execução (fls.60/64).
Meras alegações de que os compradores deveriam ter exigido certidões não é o
bastante, pois má-fé não se presume e deve ser provada.
Ademais e infelizmente, os Cartórios de Notas adotam essa prática para facilitar
seus serviços, da dispensa de exibição de certidões, e se o comprador não for datado de
conhecimentos da prática imobiliária ou não contar com assessoria de pessoa especializada, acaba
aceitando a minuta tal como redigida pelo Tabelionato que normalmente faz essa dispensa com a
justificativa de que a faz a pedido da parte.
A Súmula 375 do STJ exige o registro da penhora ou a prova da má-fé do terceiro
adquirente para caracterizar a fraude de execução, e no caso dos autos essas duas provas não foram
produzidas: “Súmula 375-STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da

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penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”.
Destarte, cabia ao embargado a produção da prova de pelo menos um desses dois
requisitos, ou seja, o registro da penhora para dar publicidade da existência de ação executiva
pendente contra o vendedor, ou a má-fé do terceiro adquirente, e tais provas não foram produzidas.
Argumentar que os compradores deveriam ter exigido certidões não significa que

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houve má-fé, pois nem todos dispõem de conhecimento das engrenagens dos negócios
imobiliários, além de ser prática dos Tabelionatos a justificativa da dispensa dessas certidões a
pedido das partes quando estas nem sempre sabem o exato significado da expressão e depositam
sua confiança na Serventia Extrajudicial que busca apenas facilitar seu serviço.
Nesse sentido: "Agravo interno. Embargos de terceiro. Fraude de execução. Bem
imóvel. Hipóteses definidas pelo superior tribunal de justiça no tema 0243. Necessidade de
citação válida, ressalvada a hipótese prevista no §4º do art. 828 do CPC (art. 615-a, §3º, do CPC
revogado). Além da citação, o reconhecimento da fraude depende do registro da penhora do bem
alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente (súmula 375 do STJ). Se não existir registro
da penhora, pertence ao credor o ônus da prova de que o terceiro adquirente tinha conhecimento
de demanda capaz de levar o alienante à insolvência. Ausência de demonstração do desacerto da
aplicação do entendimento estabelecido pelo STJ em julgamento repetitivo. Decisão mantida.
Recurso desprovido." (TJSP; Agravo Regimental 0021693-49.2008.8.26.0361; Relator (a):
Campos Mello (Pres. da Seção de Direito Privado); Órgão Julgador: Câmara Especial de
Presidentes; Foro de Mogi das Cruzes - 4ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 25/06/2018; Data de
Registro: 25/06/2018).
É nesse sentido, ainda, que caminham outras decisões do C. Superior Tribuna lde
Justiça: "ao terceiro adquirente de boa-fé é facultado o uso dos embargos de terceiro para defesa
da posse. Não havendo registro da constrição judicial, o ônus da prova de que o terceiro tinha
conhecimento da demanda ou do gravame transfere-se para o credor. A boa-fé neste caso
(ausência de registro) presume-se e merece ser prestigiada" (STJ, 4 a Turma, REsp493914/SP,
rel. Min. Fernando Gonçalves, DJe 5.5.2008).
“Para a caracterização da fraude de execução prevista no inc. II do art. 593 do
CPC, não basta a simples existência de demanda contra o vendedor (devedor da execução) capaz
de reduzi-lo à insolvência, é necessário também o conhecimento pelo comprador de demanda com
tal potência. Presume-se esse conhecimento na hipótese em que existente o devido registro da
ação no cartório apropriado, ou então impõe-se ao credor da execução a prova desse

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conhecimento" (STJ-3ª T., REsp 439.418, Min. Nancy Andrighi, j. 23.9.03, DJU 1.12.03).
Do mesmo modo manifesta-se GELSON AMARO DE SOUZA: “Esse mesmo
raciocínio deverá ser aplicado nos casos em que um terceiro de boa-fé adquira o bem do
verdadeiro dono (vero dominus), desconhecendo ser este devedor ou que o bem está sujeito à
alguma execução. A aparência (teoria da aparência) de que o bem está livre e

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desembaraçado,bem como a boa-fé de quem adquire devem ser prestigiadas e a aquisição tida e
reconhecida como plenamente eficaz. Assim sendo, a aquisição feita por um terceiro adquirente
de algum bem aparentemente livre de ônus não poderá ser considerada em fraude à execução.”
(Fraude à execução e o direito de defesa do adquirente . São Paulo: Juarez de Oliveira. 2002, p.
167).
É certo que o E. Tribunal de Justiça de São Paulo também possui decisões no
sentido da presunção da boa-fé, em regra, e não da má-fé, que leve, automaticamente, à fraude à
execução:
“EMBARGOS DE TERCEIRO. Penhora de imóvel. Sucessivas alienações
posteriores à citação, mas anteriores ao registro de penhora ou arresto. Insuficiência para
configurar fraude à execução. Necessidade de comprovação do consilium fraudis e mesmo que a
ação existente pudesse levar a alienante à insolvência à época da venda do bem. Acolhimento dos
embargos. Recurso provido para esse fim. 'Ausente o registro de penhora ou arresto efetuado
sobre o imóvel, não se pode supor que as partes contratantes agiram em consilium fraudis. Para
tanto, é necessária a demonstração, por parte do credor, de que o comprador tinha conhecimento
da existência da execução contra o alienante ou agiu em conluio com o devedor-vendedor, sendo
insuficiente o argumento de que a venda foi realizada após a citação do executado'." (Ap nº
1010147-97.2015.8.26.0400; Relator(a): Gilberto dos Santos; Comarca: São Carlos;
Órgãojulgador: 11ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 02/06/2016; Data de registro:
06/06/2016).
“EMBARGOS DE TERCEIRO Fraude à execução Imóvel Registro de compra e
venda anteriormente à efetivação da penhora Transmissão do bem para embargante por terceira
pessoa que não a executada Ausência de prova de eventual conluio - Má-fé que não se presume
Inexistência de fraude à execução Determinada a desconstituição da penhora - Ação procedente
Recurso provido” (Ap nº 0042292-46.2013.8.26.0001; Relator(a): Heraldo de Oliveira; Comarca:
São Paulo;Órgão julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 06/04/2016; Data
de registro: 06/04/2016).

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"RECURSO DE APELAÇÃO EM EMBARGOS DE TERCEIROS. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. COMPROVAÇÃO DE POSSE. Conjunto probatório que indica ter sido o imóvel
adquirido por meio de escritura pública em data anterior a execução e determinação da penhora
nos autos. Ausência de averbação da penhora na matrícula do imóvel, impossibilitando a ciência
prévia de terceiro. Hipótese de fraude à execução não caracterizada. Levantamento da constrição

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de imóvel adquirido por terceiro de Boa-fé.Sentença de procedência mantida Recurso
desprovido." (TJSP; Apelação 0002560-33.2015.8.26.0116; Relator (a): Marcelo Berthe; Órgão
Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro de Campos do Jordão - 1ª Vara; Data do Julgamento:
27/04/2018;Data de Registro: 27/04/2018).
Não fosse o bastante, o embargado não produziu prova da insolvência do devedor,
razões pelas quais a improcedência da ação é medida que se impõe.
Ante o exposto e considerando tudo mais que do processo consta, julgo procedente
o pedido com resolução do mérito nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil,
na ação de embargos de terceiro opostos por Paulo Roberto Granzotto e Berta Maria Granzotto
contra Antonio Ricardo Furlan, nos termos da fundamentação retro, e, em consequência,
determino o cancelamento do arresto do imóvel objeto da matrícula imobiliária nº 53.193 do CRI-
Caraguatatuba (SP).
Vencido, arcará o embargado a pagar as custas, despesas do processo e honorários
advocatícios que arbitro em 10% do valor atualizado da causa.
Junte-se cópia desta sentença - que serve de ofício para ser apresentado
diretamente ao registro de imóveis - nos autos do processo nº (0010007-37.2018.8.26.0126).
P.I.
Caraguatatuba, 18 de dezembro de 2020.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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PODER JUDICIÁRIO
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Registro: 2021.0000916986

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1001714-


90.2020.8.26.0126, da Comarca de Caraguatatuba, em que é apelante ANTONIO
RICARDO FURLAN, são apelados PAULO ROBERTO GRANZOTTO e BERTA
MARIA GRANZOTTO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROMOLO RUSSO JUNIOR, liberado nos autos em 11/11/2021 às 15:28 .
O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIZ ANTONIO
COSTA (Presidente sem voto), MARIA DE LOURDES LOPEZ GIL E JOSÉ
RUBENS QUEIROZ GOMES.

São Paulo, 11 de novembro de 2021.

RÔMOLO RUSSO
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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Voto n. 34150

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Apelação n. 1001714-90.2020.8.26.0126
Comarca: Caraguatatuba 2ª VC
Ação: Embargos de terceiro
Apelante(s): Antônio Ricardo Furlan
Apelado(s): Paulo Roberto Granzotto e Berta Maria Granzotto

EMBARGOS DE TERCEIRO. Sentença de


procedência. Irresignação. Desacolhimento.
Arresto de bem imóvel determinado em ação
monitória. Transferência imobiliária efetivada

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROMOLO RUSSO JUNIOR, liberado nos autos em 11/11/2021 às 15:28 .
antes da averbação da constrição. Hipótese
em que somente tal averbação poderia atribuir-
lhe eficácia erga omnes. Boa-fé dos
adquirentes que se presume. Aplicação da
Súmula 375 do STJ. Existência de processo
monitório antes da alienação do bem, por si
só, que não é suficiente para a configuração
da fraude. Ausência de prova de que havia
ciência inequívoca dos embargantes,
tampouco de que agiu em conluio ou má-fé no
negócio. Precedentes. Estado de insolvência
do devedor igualmente indemonstrado.
Sentença mantida. Recurso desprovido.

Da r. sentença que julgara procedentes os


embargos de terceiro para determinar o cancelamento do arresto
efetivado sobre o imóvel indicado na exordial (fls. 158/162); apela
o vencido asseverando, em síntese, que: a) a aquisição do imóvel
litigioso pelos embargantes ocorreu sob fraude à execução; e, b)
os embargantes, por ocasião da lavratura da escritura pública de
compra e venda, dispensaram a exibição de certidão de
processos judiciais cíveis, o que evidencia sua má-fé (fls.
165/181).

Recurso tempestivo, preparado, mas não


respondido.

Há oposição ao julgamento virtual (fls.


196).

Apelação Cível nº 1001714-90.2020.8.26.0126 -Voto nº 34150 2


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É o relatório.

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Inconsistente juridicamente o apelo.

Trata-se de embargos de terceiro opostos


em face do arresto do bem imóvel indicado na exordial,
determinado nos autos da ação monitória n.
1001571-43.2016.8.26.0126.

A questão refere-se à verificação ou não


da existência da propalada fraude à execução.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROMOLO RUSSO JUNIOR, liberado nos autos em 11/11/2021 às 15:28 .
A propósito, a jurisprudência consolidou o
entendimento de que é necessária a demonstração da má-fé do
adquirente ou o registro da constrição do bem alienado para
configuração da fraude à execução.

É o que se infere da Súmula 375 do C.


STJ, in verbis:

“O reconhecimento da fraude à
execução depende do registro da penhora do bem
alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”.

A presunção de boa-fé é princípio geral de


direito, baseado no brocardo de que “a boa-fé se presume, a má-
fé se prova”.

Nessa medida, não existindo a averbação


do arresto, é do credor o ônus da prova de que o terceiro
adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o
alienante à insolvência.

Na hipótese vertente, porém, não restou


demonstrada a má-fé dos adquirentes ou a averbação anterior da
constrição que recaiu sobre o imóvel litigioso.

É verdade que a alienação data de


16/05/2016 (fls. 22/25), época em que já tramitava a mencionada

Apelação Cível nº 1001714-90.2020.8.26.0126 -Voto nº 34150 3


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ação monitória, inclusive com a citação do devedor, operada em


13/04/2016.

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No entanto, não há nos autos
comprovação de que, no momento da alienação, os embargantes
tinham ciência da existência do processo monitório em que foi
determinado o arresto.

Vale ressaltar que a existência de


processo monitório antes da alienação do imóvel, por si só, não é
suficiente para a configuração da fraude, afigurando-se
imprescindível a prova de que havia ciência inequívoca dos

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embargantes a respeito.

Noutro período, a falta de diligência e


eventual descuido em buscar certidões em nome do vendedor no
distribuidor cível não fazem prova suficiente da má-fé dos
terceiros adquirentes.

Nesse sentido, colhem-se precedentes


registrados no âmbito desta C. Corte de Justiça, em harmonia
com o entendimento do C. Superior Tribunal de Justiça:

“CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
Fraude de execução. Alienação de imóvel no curso do
processo. Inexistência de averbação da ação (art. 615-
A do CPC) ou da penhora (art. 659, § 4º, do CPC).
Simples dispensa de certidões de distribuição de feitos
ajuizados contra o vendedor não faz prova suficiente
da ciência do comprador acerca da ação em curso.
Inteligência da Súmula n. 375 do STJ, interpretada no
REsp n. 956.943- PR pela sistemática dos recursos
repetitivos (art. 543-C do CPC). Má-fé não
demonstrada. Recurso não provido” (A.I. nº
2205523-53.2015.8.26.0000, 28ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. GILSON DELGADO MIRANDA. j.
em 12/01/2016).

“EMBARGOS DE TERCEIRO.
FRAUDE À EXECUÇÃO. Entendimento do STJ, em
regime de recursos repetitivos, no sentido de que
"Inexistindo registro da penhora na matrícula do
imóvel, é do credor o ônus da prova de que o terceiro
adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de

Apelação Cível nº 1001714-90.2020.8.26.0126 -Voto nº 34150 4


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PODER JUDICIÁRIO
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levar o alienante à insolvência" (Tema Repetitivo 243 -


REsp 956.943/PR), pacificando a interpretação da

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Súmula nº 375 do STJ. Posição reforçada no novo
CPC/2015, quando o §2º do at. 792 exige cautela do
adquirente por meio de retirada de certidões (padrão
de conduta boa-fé objetiva) apenas "No caso de
aquisição de bem não sujeito a registro". Em caso de
bem sujeito a registro, a lei tratou de dar plenas
garantias somente ao credor diligente, assegurando-
lhe presunção absoluta de conhecimento, por terceiros,
da existência de ação em curso mediante a inscrição
da penhora no registro público ou a averbação de
certidão premonitória (art. 828 do CPC, também
aplicável, segundo a jurisprudência, para ações ainda

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROMOLO RUSSO JUNIOR, liberado nos autos em 11/11/2021 às 15:28 .
em fase de conhecimento). A mera dispensa de
certidões por parte do adquirente, ainda que conste
advertência na escritura pública, não é apta a
comprovar a má-fé do adquirente, visto que a lei
permite tal dispensa e não lhe impõe tal padrão de
conduta. Má-fé não comprovada. Transmissão do
imóvel eficaz, com levantamento da penhora. Sentença
de procedência dos embargos mantida. Honorários
sucumbenciais. Alegação de que o valor é exorbitante.
Fixação com base no valor da causa (art. 85, §2º, do
CPC). Arbitramento por equidade, com base no art. 85,
§8º, do CPC, se aplica apenas quando o valor da
causa é muito baixo, e não quando é elevado.
Orientação recente do E. STJ. Recurso não provido.”
(Ap 1041950-65.2020.8.26.0100, 7ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. MARY GRÜN, j. em 25/02/2021)

“Apelação embargos de terceiro


impossibilidade de reconhecer fraude à execução
julgamento do Resp nº 956.943/PR pela sistemática
dos recursos repetitivos ausência de registro da
penhora do bem alienado e inexistência de prova da
má-fé do terceiro adquirente inteligência da súmula
375 do STJ ausência de obtenção de certidão
negativa do distribuidor cível que não é suficiente para
a comprovação da má-fé sentença mantida
necessidade de majoração dos honorários advocatícios
em grau recursal recurso desprovido.” (Ap n.
1086856-43.2020.8.26.0100, 28ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. CESAR LUIZ DE ALMEIDA, j. em
26/07/2021)

Apelação Cível nº 1001714-90.2020.8.26.0126 -Voto nº 34150 5


fls. 202

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Noutras palavras, a averbação da


constrição no álbum imobiliário é imprescindível para a atribuição

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001714-90.2020.8.26.0126 e código 17747D26.
de efeito erga omnes, sendo então eficaz para prevenir a
alienação do bem a terceiros em fraude à execução, o que não
se verificou na hipótese vertente, tendo em vista que não havia
qualquer registro público, no momento da compra e venda do
bem em comento, que pudesse ao menos sugerir a verificação do
consilium fraudis.

Por fim, não se evidencia concreto estado


de insolvência do devedor, sobretudo em razão da correlata
ausência de lastro probatório.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROMOLO RUSSO JUNIOR, liberado nos autos em 11/11/2021 às 15:28 .
Impõe-se, assim, reconhecer a boa-fé dos
apelados (terceiros-adquirentes), pois, reitere-se, conforme o
princípio geral do direito e entendimento consolidado nos
Tribunais Superiores, inclusive no REsp n. 956.943/PR (sob o rito
dos recursos repetitivos), ela se presume, enquanto a má-fé deve
ser comprovada.

Objetivamente inviável, por conseguinte,


qualquer alteração no r. julgado monocrático.

Por esses fundamentos, pelo meu voto,


nego provimento ao recurso.

Nos moldes do art. 85, § 11, do CPC,


majoro os honorários sucumbenciais para 15% do valor
atualizado da causa.

RÔMOLO RUSSO
Relator

Apelação Cível nº 1001714-90.2020.8.26.0126 -Voto nº 34150 6


fls. 203

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
SJ 3.1.4.1 - Serv. de Proces. da 7ª Câmara de Dir. Privado
Páteo do Colégio, nº 73 - CEP 01016-040 - Páteo do Colégio - sala
705

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001714-90.2020.8.26.0126 e código 17806650.
CERTIDÃO

Processo nº: 1001714-90.2020.8.26.0126

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ELIANA LESSA DE MACEDO ESTAY, liberado nos autos em 16/11/2021 às 20:47 .
Classe Assunto: Apelação Cível - Promessa de Compra e Venda
Apelante: Antonio Ricardo Furlan
Apelado: Paulo Roberto Granzotto e outro
Relator(a): RÔMOLO RUSSO
Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Privado

CERTIDÃO DE PUBLICAÇÃO

CERTIFICO que o v. Acórdão foi disponibilizado no DJE hoje.


Considera-se data da publicação o 1° dia útil subsequente.

Advogado
Aldinei Rodrigues Macena (OAB: 316061/SP) - Gisele Bozzani Calil
(OAB: 87314/SP) - Thiago Magalhães Reis Albok (OAB: 246553/SP)

São Paulo, 12 de novembro de 2021.

_______________________________________________
Eliana Lessa de Macedo Estay - Matrícula 316737
Escrevente Técnico Judiciário
fls. 204

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
SJ 3.1.4.1 - Serv. de Proces. da 7ª Câmara de Dir. Privado
Páteo do Colégio, nº 73 - CEP 01016-040 - Páteo do Colégio - sala
705 - 3101-2422

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001714-90.2020.8.26.0126 e código 17C3B9F6.
CERTIDÃO

Processo nº: 1001714-90.2020.8.26.0126


Classe Assunto: Apelação Cível - Promessa de Compra e Venda
Apelante Antonio Ricardo Furlan
Apelado Paulo Roberto Granzotto e outro
Relator(a): RÔMOLO RUSSO

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VAGNER PATRICIO DA SILVA, liberado nos autos em 09/12/2021 às 14:50 .
Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Privado

CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO

Certifico que o v. acórdão transitou em julgado em 9/12/2021

São Paulo, 9 de dezembro de 2021.

_______________________________________________________
VAGNER PATRICIO DA SILVA - Matrícula: M372123
Escrevente Técnico Judiciário

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