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UNIVERSIDADE COOPERATIVA CONSULCOOP

HISTÓRIA LICENCIATURA

VITOR SANTOS DE JESUS

O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO EM CAIO PRADO JÚNIOR

SALVADOR
2021
VITOR SANTOS DE JESUS

O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO EM CAIO PRADO JÚNIOR

Trabalho apresentado a Universidade Cooperativa


Consulcoop, com requisito para obtenção da
Atividade Avaliativa Acadêmica da Disciplina História
do Brasil I.
Orientador: Professor Dielson Bispo de Santana

SALVADOR
2021
O Sentido da Colonização em Caio da Silva Prado Júnior

Nas linhas que se seguem, discorremos sobre o sentido da colonização europeia


nas Américas, com particular interesse sobre o período colonial brasileiro, com
base nas contribuições do historiador Caio Prado Jr., especialmente no capítulo
do seu livro Formação do Brasil Contemporâneo (2002) que trata sobre o tema.

O autor fundamenta sua análise na seguinte premissa: “Todo povo tem na sua
evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’’’ (ibid., p.1130). O sentido de um
povo, a síntese da sua evolução, o que lhe confere uma unidade ou uma
personalidade histórica, só se pode vislumbrar pelo historiador, segundo Prado
Jr., se for analisado o conjunto de fatos essenciais desse país, por um longo
período de tempo e em articulação com o contexto mundial.

Sendo assim, Prado Jr. investiga o sentido da colonização nas Américas a partir
dos desenvolvimentos históricos dos países da Europa que lhes permitiram
realizar a expansão marítima e delinear a geografia moderna com a descoberta
do Novo Mundo.

Portugal assumiu o pioneirismo da colonização americana. Pelo fato histórico de


ter se constituído em Reino com delimitações territoriais definidas no começo do
século XV; e pelo fato geográfico de ser o país mais bem situado para a
navegação pelo Oceano Atlântico, ocupando a extremidade da Península
Ibérica, Portugal reunia vantagens comparativas extraordinárias em relação aos
demais países europeus para transcender as rotas comerciais continentais e
marítimas do Velho Continente e singrar, sem concorrência inicial, por “mares
nunca dantes navegados”, como poetizou Luís de Camões no épico “Os
Lusíadas”.

A liderança ultramarina portuguesa ainda no século XV proporcionou ao país


inaugurar as soluções que serviriam para organizar a colonização de toda a
América no século seguinte, a partir da chegada dos portugueses à costa
atlântica da África, onde passaram a comercializar marfim, ouro e escravos (a
mercadoria mais importante) com povos africanos.

Na mesma região, Portugal descobriu as Ilhas de Cabo Verde, Madeira e Açores,


onde experimentou pela primeira vez a organização da produção de
monoculturas agrícolas, inclusive da cana-de-açúcar, com base no trabalho
escravo.

Prado Jr. assinala que, em suma, todos os grandes acontecimentos da “era dos
descobrimentos” (a exploração da costa africana, o descobrimentos e
colonização das Ilhas pelos portugueses, o roteiro das Índias em busca das
especiarias, o descobrimento, exploração e ocupação da América) articulam-se,
no seu conjunto, à história do comércio europeu. Este é o sentido essencial da
colonização americana, ainda que por força das circunstâncias, tenha se imposto
a necessidade de povoamento de colônias na América.

Antes deste momento, porém, o significado de colonização compreendia a


montagem de feitorias comerciais, com a mobilização de pessoal reduzido,
encarregado apenas da administração dos negócios e de sua defesa armada.
Negócios estes que se resumiam ao comércio de produtos naturais, oriundos do
extrativismo, como o pau-brasil entre nós; madeiras, pesca e peles de animais,
explorados por ingleses na América do Norte; e metais preciosos, como ouro e
prata, minerados para os espanhóis no México e no Peru.

As características da América, no entanto, de imenso território pouco habitado


por indígenas, geralmente inaptos como fornecedores de produtos de alto valor,
impeliram os colonizadores europeus a povoar as colônias americanas para criar
um sistema de abastecimento das feitorias, organizar a produção de
mercadorias de modo economicamente mais estável com o desenvolvimento da
agricultura e defender os territórios conquistados da invasão de concorrentes
também europeus.

O salto histórico para a experiência que se convencionou chamar de colonização


de povoamento se deu com a ocupação populacional dos EUA pela Inglaterra.
Mas ainda aqui, o sentido da colonização enquanto ampliação do comércio
europeu não foi desviado por virtude de qualquer intenção civilizatória dos
ingleses.
Prado Jr. observa que o povoamento dos EUA a partir do século XVII ocorreu
por força de contingências internas da Inglaterra. O autor se refere às lutas
político-religiosas entre católicos e protestantes, que impulsionaram as
populações de puritanos e quakers a buscar abrigo na colônia americana, a fim
de cultuar suas crenças em paz e em uma região de clima temperado, assim
como o do Reino Unido.

O outro fator que colaborou para a emigração inglesa foi o deslocamento forçado
de grandes contingentes de produtores rurais dos campos para dar lugar às
pastagens para carneiros e aproveitamento da lã, matéria-prima que abastecia
a nascente indústria têxtil inglesa.

Foram, portanto, expulsos da Inglaterra os homens e mulheres depauperados


que afluíram aos EUA em busca de oportunidades de trabalho para sobreviver.

No caso do povoamento do Brasil por portugueses, por outro lado, a escassez


demográfica de Portugal e a hostilidade do clima tropical desaconselhavam a
migração, que quando ocorria, quase nunca era como atrativo para os
trabalhadores, senão como incentivo para empresários dotados de recursos para
investir na produção de gêneros de alto valor comercial, a serem cultivados em
grandes propriedades de terra, nas quais trabalharia para a mão-de-obra
escrava, fosse indígena ou, regra geral, africana.

Assim delineado o quadro geral da colonização, Prado Jr. reafirma que a


essência da nossa formação foi tão somente a de fornecer açúcar, tabaco, ouro,
algodão e café para o comércio europeu. Um fato que corrobora esse
entendimento é o de que a primeira faculdade do Brasil só foi criada em 1808
(trezentos e oito anos após o descobrimento) por D. João VI, com a chegada da
Família Real Portuguesa no país. Contata-se que a edificação de uma civilização
tropical jamais foi a ambição de Portugal.

Conclui-se, afinal, que o sentido da evolução colonial brasileira foi orientado para
objetivos exteriores, voltados para a metrópole, de forma que a organização da
economia (monocultura de exportação) e da sociedade brasileiras (de caráter
escravista) foi feita para atender os interesses de fora do país, do branco
europeu, e não da maioria da população brasileira, formada por negros, mestiços
e indígenas.
Prado Jr. sustenta que essa estrutura colonial, que fundamentou três séculos e
meio da história brasileira, marcou profundamente o país até a
contemporaneidade. Haja vista a situação atual do Brasil, em pleno século 21,
liderado por governantes que operam uma internacionalização jamais vista na
história moderna do país, privatizando patrimônios naturais e empresas públicas
para multinacionais sediadas nos países centrais da Europa e nos EUA, a preços
muito inferiores ao valor de mercado dessas riquezas, enquanto a ampla maioria
da população sofre privação de direitos básicos, com o alastramento da fome e
da miséria, bem como com um impiedoso recorde de mortes pela pandemia de
coronavírus.
Referência Bibliográfica

PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova


Aguilar, 2002.

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