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Licenciatura em Contabilidade e Fiscabilidade

1º Ano do II Semestre
Cadeira de Introdução ao Direito

Resumo: Teoria da Justiça de John Rawls

Discente:
Norlito Massingue

Docente:
Sergio Vinculos

Maputo, Dezembro de 2021

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1. Igual liberdade para todos
Para Rawls, a justiça e a primeira virtude das instituições sociais. A solução para uma sociedade
promissora é um contrato social justo entre o Estado e os indivíduos. Este contrato social para ser
justo precisa que as necessidades de todos os indivíduos envolvidos sejam tratadas igualmente.
Para assegurar tratamento igual, as instituições sociais devem ser justas: devem ser acessíveis a
todos e redistribuir onde for necessário, assim apenas instituições justas podem produzir uma
sociedade promissora.
Em regra, o cidadão deve possuir três tipos de juízo: apreciar a justiça da legislação e da
política social; decidir sobre as soluções constitucionais que, de um modo justo, podem con-
ciliar as opiniões contrárias quanto à justiça; ser capaz de determinar os fundamentos e limites do
dever e da obrigação políticos.
Para ele o primeiro princípio é mais importante, visto que, conforme melhoram as condições
econômicas, pelo avanço da civilização, as questões da liberdade se tornam mais significativas.
Tais princípios exercem o papel de critérios de julgamento sobre a justiça das instituições básicas
da sociedade, que regulam a distribuição de direitos, deveres e demais bens sociais. Eles podem
ser aplicados (em diferentes estágios) para o julgamento da constituição política, das leis
ordinárias e das decisões dos tribunais.

Conceito de liberdade
O conceito de liberdade pode ser explicado a partir de três elementos: quais os agentes que são
livres, as restrições ou limitações das quais eles estão livres e aquilo que eles são livres ou não de
fazer.
Para Rawls,a descrição geral de uma liberdade, assume a seguinte forma, esta ou aquela
pessoa(ou pessoas) está (ou não esta) livre desta ou daquela restrição (ou conjunto de restrições)
para fazer (ou não fazer) isto ou aquilo. Diante disto o autor, em seu texto aborda que as
associações assim como as pessoas físicas podem ou não estar livres, e as restrições serão desde
deveres e proibições definidos por lei até a influências coercitivas causada pela opinião pública e
pela pressão social. Há de se falar em uma liberdade em conexão com limitações legais e
constitucionais.

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Dentre os aspectos citados, o segundo conceito nos traz condições razoavelmente favoráveis,
sempre com um modo de definir essas liberdades de forma que as aplicações principais de cada
uma possam ser simultaneamente asseguradas e os interesses mais fundamentais protegidos, ou
que seja pelo menos possível no contexto adequado.

Liberdade de consciência para todos


O filósofo no seu primeiro conceito, acerca da liberdade refere-se como uma estrutura de
instituições, um certo sistema de normas públicas que definem direitos e deveres. Colocando
assim as pessoas tendo liberdade para fazer alguma coisa, quando estão livres de certas restrições
que levam a fazê-la ou a não fazê-la, e quando sua ação ou ausência está protegida com a
interferência de outras pessoas. Se por exemplo considerarmos a liberdade de consciência como
a lei define, então os indivíduos tem essa liberdade básica e estão livres para perseguir seus
interesses morais, filosóficos e religiosos sem restrições legais. Tendo em mente que as
liberdades básicas devem ser avaliadas como um todo, com um sistema único.

A tolerância e o interesse comum


É possível perceber, que existe a possibilidade de desenvolver um conceito de tolerância a partir
do princípio da diferença e do princípio da distribuição. Entretanto, é uma concepção de
tolerância que se resolve na pura redistribuição, segundo princípios de justiça. Para Rawls, a
distribuição equitativa de bens primários fundamentais é essencial para o desenvolvimento das
potencialidades humanas, e isso deve ser radicalizado ao ponto da distribuição se tornar, em si
mesma, o limite do aceitável, de modo que nenhuma crença, cultura ou concepção de bem que
negue ou dificulte o acesso a esses bens primários pode ser objeto de tolerância. Ademais, não
serão contempladas com a tolerância pessoas consideradas “não razoáveis”, ou seja, aquelas que
não compartilham do senso moral de participar das regras de cooperação, ou que discordam entre
si por motivos que ultrapassam os limites legítimos do juízo.
Com base no princípio de que a limitação à liberdade de consciência deve existir somente
para garantir a própria liberdade, há diversos fundamentos de intolerância, aceites em épocas
anteriores, que estão errados. Por exemplo, Santo Tomás de Aquino justifica a pena de morte
para

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os hereges com o fundamento de que é muito mais grave corromper a fé, que é a vida da alma,
do que falsificar moeda, que é o suporte da vida.

A interpretação kantiana da teoria


Para Rawls, Kant acredita que os princípios morais resultam de uma escolha racional que
definirá a lei moral, e esta dirigirá a conduta dos homens numa comunidade ética. Relata ainda,
que a autonomia de uma pessoa esta relacionada com o fato de que suas escolhas são realizadas
de forma racional, igual e livre, sem influência de posição social, dotes naturais ou querer
particular. O autor interpreta as concepções descritas tendo por base, respectivamente, a posição
original e o véu da ignorância, momentos nos quais as partes se encontram em posição de
igualdade, desconhecendo sua real situação, a qual permite que os princípios da justiça sejam
escolhidos em conjunto por pessoas iguais, racionais e livres.

Segundo o autor ainda é possível comparar os princípios da justiça aos imperativos categóricos
no sentido que derivam do desejo racional e não do particular e se aplicam a todos independente
de vontades individuais.

As instituições de enquadramento
O sistema social deve ser concebido por forma a que o resultado seja justo, aconteça o
que acontecer. Para atingir este objetivo, é necessário que o processo econômico e social
seja enquadrado por instituições políticas e jurídicas adequadas. Compete à função das
transferências a fixação de um mínimo social. Os mercados ponderam as regras convencionais
ligadas aos salários e aos ganhos, enquanto a função das transferências garante um certo nível de
bem estar e satisfaz as exigências decorrentes das carências existentes. A função de distribuição
visa manter uma situação relativamente justa no que respeita à distribuição, por meio da
tributação e dos necessários ajustamentos dos direitos reais.

Os preceitos da justiça
Rawls enuncia o principio da liberdade igual, que garante igual sistema de liberdades e direitos o
mais amplo possível, sendo a liberdade igual a todos os indivíduos, e depois anuncia o principio
da diferença que assegura que as eventuais desigualdades econômicas na distribuição de renda e

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riqueza somente são aceitas caso beneficiem especialmente os menos favorecidos, em ambos,
nenhuma vantagem pode existir moralmente se isto não beneficia aquele em maior desvantagem.
Este princípio é criticado por muitos filósofos com base na argumentação de que se uma
vantagem é obtida sem prejuízo dos demais, isto não pode criar uma obrigação para com
terceiros. Para ele, somente a comunhão dos dois princípios de justiça e que ajudarão a nortear
esta problemática.

Assim sendo, entende que estes os indivíduos devem necessariamente concordar com os dois
princípios, onde direitos e liberdades devem ser tão extensos quanto possível, para cada
indivíduo, até o ponto que não infringisse direitos e liberdades dos outros indivíduos e as
desigualdades sociais e econômicas devem estar igualmente disponíveis para qualquer posição
prover o melhor benefício pela menor desvantagem.

O primeiro princípio, da liberdade igual, se refere à ampla gama de liberdades básicas de um


indivíduo, entendido como um cidadão participante de um estado de direito. São, portanto, a
liberdade política – de votar e ser votado – de expressão, de reunião, de propriedade privada, etc.
De acordo com o primeiro princípio, essas liberdades devem ser iguais a todos os indivíduos.

O dever de obedecer a uma lei injusta


Rawls propõe um sistema visando a consolidação desta sociedade, estruturada em uma
constituição ponderada sob um véu de ignorância que não prevê privilégios a grupos específicos,
mas uma coexistência pacífica entre os cidadãos, independente de gênero, etnia ou credo.
Rawls busca antever de que forma a desobediência civil recorre à legitimidade e ao senso de
justiça
dos indivíduos do meios social, “vinculando os juízos ponderados e julgamentos dos cidadãos
aos princípios políticos esculpidos numa constituição justa.”
Rawls entende por desobediência civil, para posteriormente analisarmos o papel dessa teoria
dentro de uma sociedade democrática.
Rawls afirma que se trata da recusa de obedecer a uma regra ou ordem administrativa imposta
direta ou indiretamente. Ela é uma recusa devido ao fato de que aquele que impõe a ordem
possui meios para saber se ela foi devidamente cumprida ou não. Ainda que o indivíduo se

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oponha à normativa e possa tentar esconder o seu ato contrário ao estabelecido, supõe-se que as
autoridades
possuam o conhecimento da ação do indivíduo.
De acordo com Rawls, podemos diferenciar a objeção de consciência da desobediência civil de
várias formas. Primeiramente, o indivíduo não busca agir como uma forma de apelo ao senso de
justiça da maioria que detém o poder político, visto que suas ações não são praticadas
publicamente. Para aquele que se objeta, geralmente não há a esperança de um convencimento
público das suas convicções, não buscando ocasiões de tornarem públicas as suas ações como é o
caso quanto a desobediência civil.
Portanto, são menos otimistas do que aqueles que praticam a desobediência civil e talvez não
alimentem nenhuma expectativa de mudar leis ou políticas.

As críticas de Michael Walzer e bRobert Nozick a John Rawls


De acordo com os comunitaristas, modelos liberais como o de Rawls tendem a conceber o
indivíduo isolado da comunidade e de suas ideias correlatas de bem comum, tradição e contexto,
tornando-o incapaz de assegurar a coesão e integração de um grupo social qualquer, menos ainda
da sociedade como um todo, que sempre precede o indivíduo. Sandel , como os demais
comunitaristas, acredita que os princípios morais só podem ser compreendidos através das
práticas que prevalecem em sociedades reais. Para os comunitaristas a moralidade é algo que está
enraizada nas práticas particulares das comunidades. Sendo assim, seria impraticável a ideia de
revelar princípios abstratos de moralidade para avaliar ou repensar as sociedades existentes.

Uma sociedade procedimental aos moldes de Rawls e sua posição original, geraria indivíduos
isolados e sem vínculos patrióticos. A questão que fica para os comunitaristas, principalmente
para Sandel, é como encontrar princípios de justiça social que poderiam comandar a submissão
voluntária de todas as pessoas racionais, até de pessoas com perspectivas bastante diferentes
sobre a vida boa. Sob as circunstâncias de uma ontologia social, a posição moral ou política
adotada, é diferente do ponto de vista dos liberais e comunitaristas. Enquanto os liberais
(atomistas) dão primazia aos direitos individuais e às liberdades, os comunitaristas (holistas) dão
maior prioridade à vida comunitária ou ao bem das coletividades.

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Michael Sandel oferece-nos uma crítica à filosofia política de Rawls e ao pensamento liberal em
geral. Sandel não aceita a explicação de pessoa introduzida por Rawls na posição original. Neste
artifício de representação é pedido às partes que escolham princípios de justiça que seriam
segundo Rawls os princípios justos para fundar uma sociedade bem-ordenada. Para Sandel, seria
difícil aceitar, como propôs Rawls, a explicação da pessoa como sujeito moral, suficientemente
desligado de sua vida real na hora da escolha de tais princípios. O conceito de pessoa e sua
constituição ou sua identidade seria abstrato e totalmente desvinculado do mundo real. Na
concepção de Ubiratan Macedo, a teoria de Michael Walzer é a mais razoável nos dias de hoje. É
o que se está debatendo no mundo, em torno da idéia de justiça. Na crítica comunitária ao
liberalismo de Rawls, parte das idéias de modernidade e não de filosofia. A sua grande
preocupação é entender como se pode fazer
crítica moral às instituições de uma comunidade, a partir de um ponto de vista universal, sem
renunciar a tese da comunalidade da conceituação da justiça, nem à sua universalidade ética.

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