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DIREITO PENAL

Definição:
“Conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações
de natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de
segurança” (Cezar Roberto Bitencourt)

1. CONJUNTO DE NORMAS JURÍDICAS


1.1 CÓDIGO PENAL - DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE
1940. (Vigência 01/01/1942)
1.2 Parte Geral – Do artigo 1º até o artigo 120 (Lei 7.209/84)
1.3 Parte Especial – Do artigo 121 até o artigo 361
1.4 LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES (Peregrinas) – Código de Defesa do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Trânsito
Brasileiro, Estatuto do Desarmamento, Lei Antidrogas, Lei de Crimes
Ambientais, etc.

2. INFRAÇÕES DE NATUREZA PENAL ( LICP – Decreto Lei nº 3.914/41)


2.1 CRIME – “Infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com
a pena de multa.”
2.2 CONTRAVENÇÃO PENAL – “Infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas.
alternativa ou cumulativamente.”

3. SANÇÕES CORRESPONDENTES: PENAS E MEDIDAS DE


SEGURANÇA - Segundo Cléber Masson, “sanção penal é a resposta
estatal, no exercício do ius puniendi e após o devido processo legal, ao
responsável pela prática de um crime ou de uma contravenção penal”, e
se divide em duas espécies: penas e medidas de segurança.”
3.1 PENAS – Aplicável ao agente imputável (Privativas de liberdade,
Restritivas de Direitos, Multa)
3.2 MEDIDAS DE SEGURANÇA – Aplicável ao inimputável (Internação em
HCTP e Tratamento Ambulatorial)

FINALIDADE DO DIREITO PENAL


Proteção da sociedade e, mais precisamente, a defesa dos bens jurídicos
fundamentais (vida, integridade física e mental, honra, liberdade, patrimônio,
costumes, paz pública, etc) (Júlio Fabbrini Mirabete).

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL


É ramo do Direito Público (regula relações entre os indivíduos e a sociedade).
O direito de punir (jus puniendi) é exclusivo do Estado, mesmo que a proposta de ação
seja de um particular.
Tutela os bens jurídicos mais importantes (vida, liberdade, patrimônio, dignidade
sexual, etc)

DIREITO PENAL COMO CIÊNCIA


Cultural: é produto da evolução cultural do homem em sociedade, integrando a
categoria do “dever ser” e não a do “ser”;
Normativa : estuda a norma e as consequências jurídicas de seu não-cumprimento;
Finalista: age em defesa da sociedade protegendo os bens jurídicos fundamentais;

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Sancionadora: impõe sanções para a proteção de outras normas (extrapenais) como
o direito à propriedade, por exemplo.
Direito Penal Material: encontra-se reunido no Código Penal e em outras leis penais
(extravagantes/peregrinas), onde são definidas as condutas contrárias ao
ordenamento jurídico e cominadas as respectivas penas.
Direito Penal Formal: são as normas de aplicação do Direito Penal (material) contidas
principalmente no Código de Processo Penal.

DIREITO PENAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO


A CF definiu o perfil político-constitucional do Brasil como um Estado Democrático de
Direito.
Estado Democrático de Direito é muito mais do que simplesmente Estado de Direito,
posto que este último garante a igualdade meramente formal entre os homens.
As leis devem possuir adequação social.
No âmbito penal, as leis devem punir apenas as condutas que possuam real lesividade
social.
Os princípios do Direito Penal devem todos se orientar a partir do princípio da
dignidade humana.
O Estado de Direito constituiu um avanço do liberalismo burguês contra o arbítrio do
Absolutismo Monárquico.
É possível um Estado de Direito, com leis iguais para todos, sem que, no entanto, se
realize a justiça social.

Características do Estado Democrático de Direito


Imposição de metas e deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e
solidária:
pela garantia do desenvolvimento nacional ;
pela erradicação da pobreza e da marginalização;
pela redução das desigualdades sociais e regionais;
pela promoção do bem comum;
pelo combate ao preconceito de raça, cor, origem, sexo, idade e quaisquer outras
formas de discriminação
pelo pluralismo político e liberdade de expressão das ideias;
pelo resgate da cidadania ;
pela afirmação do povo como única fonte do poder e pelo respeito inarredável da
dignidade humana.

PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO DO ESTADO


O QUE SIGNIFICA PRINCÍPIO?
“Etimologicamente, princípio tem vários significados, entre os quais o de
momento em que algo tem origem; causa primária, elemento predominante na
constituição de um corpo orgânico; preceito, regra ou lei; fonte ou causa de uma
ação.
No sentido jurídico, não se poderia fugir de tais noções, de modo que o
conceito de princípio indica uma ordenação, que se irradia e imanta os sistemas
de normas, servindo de base para a interpretação, integração, conhecimento e
aplicação do direito positivo.” Guilherme de Souza Nucci (Manual de Direito
Penal)

Consequência da violação de um princípio:


“Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave
forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio
atingido, porque representa ingerência contra todo o sistema, subversão de

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seus valores fundamentais, contumélia (injúria) irremissível (imperdoável) a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”. (Celso Antônio Bandeira
de Mello).
Impõe limites à intervenção estatal no campo da aplicação da pena.
Ingressaram nas legislações penais como garantia contra o absolutismo.
Ganharam dimensão constitucional (Estão todos implícita ou explicitamente insertos
na C.F).

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Pelo Princípio da Legalidade a elaboração de normas incriminadoras é função
exclusiva da lei (stricto sensu), isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e
nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato
(anterioridade) exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção
correspondente.
Feuerbach, no início do século XIX, resumiu o princípio na fórmula latina: “ Nullum
crimen, nulla poena sine praevia lege”
A Constituição Federal (1988) consagrou o princípio no artigo 5º, inc. XXXIX: “não
haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal”. O Código penal (Art. 1º, traz redação similar).
O princípio da legalidade não pode ser relativizado. Se aplica a qualquer tipo de
sanção penal e se estende pela execução da pena.
Desdobramentos do princípio da legalidade (subprincípios):
a) Anterioridade da lei (lege praevia); b) reserva legal (lege scripta); c) proibição
de analogia em malam partem (lege scripta); d) taxatividade da lei (ou
mandado de certeza – lege certa)

PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL


Desde que uma lei entra em vigor até que cesse sua vigência, deve reger todos os
atos abrangidos pela sua destinação. Não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou
depois dos dois limites extremos Exemplo:
Favorecimento real
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Art. 349-A.  Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de
2009).
Exceção: no caso de lei posterior mais benéfica para o agente, está deverá ser
aplicada.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Claux Roxin (1964) criou a terminologia, defendendo que a tipicidade penal exige a
ofensa de alguma gravidade ao bem jurídico tutelado.
Devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetem infimamente
(minimamente) um bem jurídico.
Klaus Tiedmann chamou de princípio da bagatela, defendendo ser imperativa a efetiva
proporcionalidade entre a gravidade Da conduta que se pretende punir e a
drasticidade da intervenção estatal.
CONDIÇÕES PARA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
1. Mínima ofensividade da conduta.
2. Inexistência de periculosidade social do ato.
3. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.

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4. Inexpressividade da lesão provocada.
Obervações:
Os crimes de menor potencial ofensivo e as contravenções penais já foram
devidamente valorados pelo legislador quanto à pena.
Não se pode confundir pequeno valor (furto, artigo 155, § 2º, do CP) com valor ínfimo
ou nulo que leva à atipicidade.

PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
Nenhuma pena pode atentar contra a incolumidade (não lesividade) da pessoa
humana. Este princípio impede a adoção da pena capital (morte) e da prisão perpétua
no Brasil. A proibição de penas cruéis e infamantes, de torturas e maus-tratos nos
interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infra-estrutura
carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos
condenados decorrem do princípio da humanidade.
ARTIGO 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com
seus filhos durante o período de amamentação;

PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO MÍNIMA E DA FRAGMENTARIEDADE


Também conhecido como ultima ratio (última razão ou argumento), preconiza que a
criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a
proteção de determinado bem jurídico. Se outras formas de sanção (civil,
administrativa, comercial, etc) revelarem-se suficientes, a sua criminalização é
inadequada e não recomendável. Por outro lado, como corolário (consequência) da
intervenção mínima, a fragmentariedade busca selecionar fragmentos de
antijuridicidade penalmente relevantes. (seletividade).

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
A sanção penal deve ser sempre proporcional ao delito praticado.
Este princípio é uma consagração do constitucionalismo moderno, embora já fosse
reclamado por Cesare Beccaria (Dos Delitos e da Penas, 1764)
A Constituição Federal brasileira recepcionou este princípio em vários dispositivos, tais
como: exigência da individualização da pena; proibição de determinadas modalidades
de sanções penais; admissão de maior rigor para crimes mais graves, previsão de
crimes de menor potencial ofensivo.
Na antiguidade, o talião já ensaiava o princípio da proporcionalidade.

FONTES DO DIREITO PENAL


CONCEITO
Fonte é o lugar donde provém a norma de direito. Fonte do Direito Penal é, pois,
aquilo de que ele se origina. (Magalhães Noronha).

CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES:

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Fontes materiais ou de produção: dizem respeito à origem (gênese) do Direito
Penal. O Estado é a única fonte de produção (fonte material) do Direito Penal. A C.F
no art. 22, I prescreve que compete à União legislar sobre matéria penal. (Parágrafo
único: Lei Complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo).
Fontes formais ou de conhecimento: referem-se às formas de manifestação das
normas jurídicas. dividem-se em: IMEDIATAS, que são as leis (não abrange decretos,
portarias, medidas provisórias) e MEDIATAS (indiretas), que são os costumes, a
doutrina, a jurisprudência e os princípios gerais de direito.
a) costumes
consistem na reiteração constante e uniforme de regras de conduta social. Há
expressões descritas em tipos penais (crimes) que se interpretam pelo costume.
Exemplos: honra, decoro, reputação, ato obsceno. Confrontando-se com a lei, o
costume pode ser:
secundum legem: é o que encontra suporte legal;
praeter legem: destina-se a suprir eventuais lacunas da lei (art. 4º da LINDB) (as
praxes forenses);
contra legem: é formado em sentido contrário ao da lei, contudo não não faz
desaparecer a norma criminal, que somente se revoga com outra lei. (jogo do bicho)
b) Jurisprudência
Entendida como a repetição de decisões num mesmo sentido, tem grande importância
na consolidação e pacificação das decisões dos tribunais.
c) Doutrina
Resultado da atividade intelectual dos doutrinadores, que objetivam sistematizar as
normas jurídicas, construindo e elaborando conceitos, princípios, e teorias que
facilitem a interpretação e aplicação das leis vigentes.
d) Princípios gerais de direito
Fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo.

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PENAIS (Fonte, meio, resultado)


O que é interpretar?
É descobrir o real sentido e o verdadeiro alcance da norma jurídica.

MODALIDADES DE INTERPRETAÇÃO EM MATÉRIA PENAL


01) QUANTO ÀS FONTES (autor):
A) autêntica: é fornecida pelo próprio Poder Legislativo, quando edita lei para
esclarecer o conteúdo ou significado de outra já existente, ou quando faz
determinadas definições do tipo: funcionário público (art.327 do CP), casa (art. 150,
parágrafos 4º e 5º do CP). (violação de domicílio)
B) judicial: realizada por juízes e tribunais. ( Busca a vontade da lei.)
C) doutrinária: é feita pelos escritores de direito, em seus comentários às leis.
(communis opinio doctorum).

INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA
EXEMPLIFICAÇÃO
Violação de domicílio
   Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":

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I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo
a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Funcionário público
  Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em
entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.     
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

MODALIDADES DE INTERPRETAÇÃO EM MATÉRIA PENAL


02) QUANTO AOS MEIOS:
A) Interpretação gramatical ou literal (filológica ou sintática): busca o sentido
literal do texto normativo.
I Deve-se dar preferência à linguagem técnica;
II A lei não tem palavras supérfluas;
III As expressões contidas na lei têm conotação técnica e não vulgar.
B) Interpretação histórica: baseia-se na investigação dos antecedentes históricos
que levaram à criação da norma jurídica. Exposições de motivos, discursos em
plenário, debates, trabalhos nas comissões legislativas, etc).
C) Interpretação lógico-sistemática: busca-se situar a norma no conjunto geral do
sistema que a engloba, para justificar sua razão de ser. (Crimes de Perigo Comum -
Incêndio)
D) Teleológica: objetiva desvendar a genuína vontade manifestada na lei. Serve-se o
intérprete de todos os elementos disponíveis (histórico, sistemático, direito comparado,
elementos extrajurídicos, como por exemplo, o conceito de veneno que é próprio da
química, etc).

MODALIDADES DE INTERPRETAÇÃO EM MATÉRIA PENAL


03) QUANTO AOS RESULTADOS:
A) Declarativas: na interpretação declarativa o texto não é ampliado nem restringido,
correspondendo exatamente a seu real significado. O intérprete apenas declara o que
está contido na letra da lei.
Vicente Ráo preconizava que a interpretação declarativa “afirma a coincidência da
norma com o sentido exato do preceito”.
B) Restritivas: o legislador exprimiu-se de forma ampliativa, foi além de seu
pensamento, cumprindo ao intérprete restringir o alcance da norma.
Ex. Fraude por meio de cheque (art. 171§ 2º, VI). Não é a simples emissão de cheque
sem fundos que caracteriza o crime, mas a fraude quando lhe for inerente.
C) Extensiva: destinada a corrigir uma fórmula legal demasiadamente estreita, cujo
significado fica aquém da expressão literal.
Exemplo I - O art. 260 do CP (Perigo de desastre ferroviário) inclui também o serviço
de metrô.
Exemplo II - No art. 261 do CP deve ser incluída a navegação “lacustre” omitida pelo
legislador.
Exemplo III - A bigamia do art. 235 inclui também a poligamia.
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever
de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº
11.466, de 2007).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

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ANALOGIA NO DIREITO PENAL
CONCEITO DE ANALOGIA
Analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei, a disposição relativa
a um caso semelhante.
I - É forma de integração e não de interpretação do Direito Penal (analogia, costumes,
princípios gerais de direito – LICC);
II - Analogia é forma de auto-integração da ordem legal para suprir lacunas,
estendendo a aplicação da lei a casos que ela não regula e de que não cogita;
III - O Direito Penal, como regra, proíbe analogia em relação a normas penais
incriminadoras.
IV – Funda-se a analogia no princípio ubi eadem legis ratio, ibi eadem dispositio (onde
há a mesma razão lega, aplica-se o mesmo dispositivo).
FORMULAÇÃO DE DAMÁSIO EVANGELISTA DE JESUS
O legislador, através da lei A, regulou o fato B. O julgador precisa decidir o fato C.
Procura e não encontra no direito positivo uma lei adequada a este fato. Percebe,
porém, que há pontos de semelhança entre o fato B (regulado) e o fato C (não
regulado). Então, através da analogia, aplica ao fato C a lei A.

A ANALOGIA PODE SER DIVIDIDA EM:


in bonam partem (beneficia o sujeito)
Exemplo: a coação moral irresistível e a obediência hierárquica (Art.22, do CP) são
causas legais de não exigibilidade de conduta diversa, que importa na absolvição do
réu. Apesar de a lei prevê apenas essas duas hipóteses, o juiz poderá, em um caso
concreto, reconhecer uma causa supralegal análoga a essas duas e isentar de pena o
réu. (inexigibilidade de conduta diversa).
Escusa absolutória nos crimes contra o patrimônio (união estável).
in malam partem (prejudica o sujeito)
Exemplo: o legislador não previu o furto de uso. Tentar incriminar alguém por esta
conduta é tentar aplicar analogia em malam partem não admitida pela nosso Direito
Penal.

DIFERENÇA ENTRE ANALOGIA E INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA


Analogia é forma de integração (auto-integração) da lei, já a interpretação analógica
é forma de interpretação. Após enumerar casuisticamente as hipóteses, o legislador
usa fórmula genérica deixando para o intérprete definir a situação em um caso
concreto.
Exemplo I - Art. 121, § 2º, inciso III (com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso (traiçoeiro) ou cruel).
Exemplo II – Art. 349-A (aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou
similar).

INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
EXEMPLIFICAÇÃO
Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;

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III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime:         Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Art. 349-A.  Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho


telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de
2009).
Exceção: no caso de lei posterior mais benéfica para o agente, está deverá ser
aplicada.

Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO


01. A lei penal como qualquer outra nasce, vive e morre.
02. A lei nova deve sempre ser entidade como melhor que a lei anterior.
03. Salvo disposição em contrário, a lei entra em vigor 45 dias após sua publicação no
DOU.
04. Ao lapso temporal entre a publicação e a efetiva vigência dá-se o nome de vacatio
legis (possibilita o seu conhecimento).

REVOGAÇÃO: traduz a idéia de cessação da existência da lei.


DIVIDE-SE EM:
I - Derrogação: quando cessa em parte a autoridade da lei. Ex.: A lei 7.290/84
derrogou a parte geral do CP;
II - Ab-rogação: quando faz cessar por completo a vigência da lei.
A REVOGAÇÃO PODE SER:
I - Expressa: quando a lei expressamente determina a revogação da lei anterior;
II - Tácita: quando o novo texto é incompatível ou regula inteiramente a matéria.

ATIVIDADE
Diz respeito ao fato de que uma lei, desde sua entrada em vigor, deve reger todos os
fatos por ela abrangidos, enquanto dure a sua vigência.
EXTRA-ATIVIDADE
Refere-se à possibilidade de a uma lei reger situações ocorridas fora do seu período
de vigência. A extra-atividade divide-se em:
Retroatividade – que possibilita a lei novel alcançar fatos ocorridos antes da sua
vigência (em matéria penal somente a lei mais benigna pode retroagir)
Ultra-atividade – que permite à lei já revogada regular fatos ocorridos durante o
período de sua vigência.

CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO


1. O princípio do tempus regit actum só tem aplicação integral em processo penal.
2. A lei nova deve sempre ser entidade como melhor que a lei anterior.

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3. A lei mais benigna é retroativa e também ultrativa.
 
SITUAÇÕES HIPOTÉTICAS:
a) O crime se inicia na vigência de uma lei, mas tem a consumação em outro
momento. (homicídio, extorsão mediante sequestro, etc)
b) O crime é cometido na vigência de uma lei, mas a sentença se dá na vigência de
outra (mais gravosa ou benigna)
c) Durante a execução da pena sobrevém lei mais benigna.
Observação:
Como decorrência do princípio do nullum crimen, nulla poena sine praevia lege, há
uma regra dominante: a da irretroatividade da lei penal, que deve se submeter ao da
retroatividade da lei mais benigna.

CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO


Abolitio criminis: ocorre quando a lei nova deixa de considerar crime fato
anteriormente tipificado como tal. Retroage para afastar as conseqüências jurídico-
penais a que estariam sujeitos os autores de crimes. Atinge, inclusive, fatos já julgados
definitivamente. ( Art. 240 – Adultério; 220 – Rapto Consensual)
Novatio legis incriminadora: ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato
anteriormente não incriminado. É irretroativa, não podendo alcançar condutas
praticadas antes da sua vigência. (Art. 216-A – Assédio Sexual; 313-A - Inserção de
dados falsos em sistema de informações)
Novatio legis in pejus: lei posterior, que de qualquer modo agravar a situação do
sujeito, não retroagirá. Se houver um conflito entre duas leis, a anterior mais benigna,
e a posterior mais severa, aplicar-se-á a mais benigna. A anterior será ultra-ativa por
ser mais benigna. (Art. 217-A – Estupro de vulnerável)
 Novatio legis in mellius: pode acontecer que uma lei nova, mesmo sem
descriminalizar uma conduta, dê tratamento mais favorável ao sujeito. Mesmo que a
sentença condenatória encontre-se em fase de execução, prevalecerá a lex mitior.

Lei penal no tempo


Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

LEIS TEMPORÁRIAS OU EXCEPCIONAIS


Leis temporárias são as que possuem prazo prefixado de vigência. Exemplo:
congelamento geral de preços, em que se publica lei punindo a conduta de quem
descumprir o tabelamento. Já as leis excepcionais têm vigência em situações de
emergência. Exemplo: a publicação, em tempo de guerra, de lei punindo a conduta de
quem acender as luzes. Leis dessa natureza são ultra-ativas, alcançando fatos que
ocorreram na sua vigência, mesmo depois de revogadas.
Lei excepcional ou temporária
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.  

OBSERVAÇÕES
1. A maior ou menor benignidade da lei deve ser apurada caso a caso. Havendo
dúvida em relação à lei que melhor beneficia o réu, este deve ser consultado por meio
de seu defensor.

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2. Lei intermediária: quando a lei mais benigna não é a do tempo do crime e nem a da
data da condenação, deve-se optar pela lei intermediária por ser a mais favorável
(princípios gerais do direito) Há discussão doutrinária.

LEIS PENAIS EM BRANCO


CONCEITO
São as de conteúdo incompleto ou lacunoso, que precisam ser complementadas por
outras normas jurídicas, geralmente de natureza extrapenal.

ESPÉCIES
Norma penal em branco em sentido lato ou homogênea: o complemento se
encontra em norma de mesma hierarquia. Ex.: o crime previsto no artigo 237 do CC é
complementado pelo artigo 1.521 do CC (impedimentos e nulidades do casamento).
Norma penal em branco em sentido estrito ou heterogênea: o complemento está
descrito em fonte formal distinta da norma penal incriminadora. Ex.: Lei 11.343/06, art.
33 (tráfico ilícito de drogas). Portaria da ANVISA define as drogas que causam
dependência (ilícitas).

Exemplos:
I – Infração de Medida Sanitária Preventiva (Art. 268 do CP)
I - Omissão de Notificação de Doença (Art. 269 do CP);
II - Conhecimento prévio de impedimento (Art. 237 do CP – o complemento está no
art. 1.521 do CC).
Lei 11.343/06 (Antidrogas)
Revogam-se em decorrência da revogação de seus complementos? (divergência
doutrinária).

NORMAS PENAIS EM BRANCO EXEMPLIFICAÇÃO


Conhecimento prévio de impedimento
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause
a nulidade absoluta:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Infração de medida sanitária preventiva
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou
propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da
saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Omissão de notificação de doença
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

TEMPO DO CRIME
TEORIAS ACERCA DO TEMPO DO CRIME
Teoria da atividade: adotada pelo Código Penal, considera o momento do crime, o
momento da ação ou omissão, ainda que seja outro o momento do resultado.
(Exemplificar com o adolescente infrator)
Teoria do resultado: considera-se praticado o crime no momento do resultado (no
homicídio, quando falecer a vítima).
Teoria mista (ou da ubiquidade): o momento do crime tanto pode ser o da ação
quanto o do resultado.
 Súmula 711 do STF

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“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

CONTAGEM DE PRAZO NO DIREITO PENAL


Artigo 10, do Código Penal
A contagem de prazo tem influência no cumprimento da pena, extinção de punibilidade
(prescrição), livramento condicional (período de prova), progressão de regime, etc.
O prazo se desenvolve entre dois termos: O termo inicial a quao e o termo final ad
quem.
Termo: É o instante determinado no tempo.
O prazo no Direito Penal se diferencia do Direito Processual Penal. No Direito Penal “o
dia do começo inclui-se no cômputo do prazo” (Art. 10, do CP).
Qualquer que seja a fração do dia do começo, será contado como dia inteiro (vide
Prisão Temporária de 05 dias)
Os dias, meses e anos são contados pelo calendário comum.
EXEMPLOS:
Dias: São contados por dias corrrido
Meses: 02 meses, iniciando-se no dia 03 abril, termina à meia-noite do dia 02 junho.
Anos: 03 anos, iniciando-se no dia 02 de janeiro de 2005, termina à meia-noite do dia
01 de janeiro de 2008.
Desprezam-se nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito as frações
de dia, e na pena de multa, as frações de cruzeiros. (dias-multa).

Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os
meses e os anos pelo calendário comum.
Frações não computáveis da pena
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos,
as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

ITER CRIMINIS

COGITAÇÃO
Refere-se ao plano intelectual acerca da prática criminosa, com a visualização do
resultado querido, essa fase é interna ao sujeito, está em sua mente, em sua cabeça,
daí a expressão "interna". Não se pune essa fase, pois não há como adentrar à
cabeça do sujeito, salvo exceções que sejam explícitas em algum tipo, caracterizando
pois um fato típico. Se escolhe os meios e a opção mais adequada, bem como a
previsão do resultado. Tudo que vier a ir além da mente do sujeito será pois, externo.

ATOS PREPARATÓRIOS
Atos externos ao agente que passam da cogitação à ação objetiva, como a aquisição
da arma para a prática de homicídio. Da mesma forma que a cogitação também não
são puníveis. Contudo, há uma exceção no código penal brasileiro, a formação de
Associação Criminosa (Art. 288), cuja reunião (em tese um ato preparatório) é punido
como crime consumado, este crime é punido pois se entende que a quadrilha é uma
ameaça à sociedade, mesmo que ela não exerça nenhum tipo de crime (furto,
estelionato, sequestro, assassinato...), já é punida por ser quadrilha, o bem jurídico a
ser tutelado aqui é o bem estar social. Há também um certo consenso na
jurisprudência de que certos atos preparatórios devem ser punidos autonomamente
como crime, por exemplo, as hipóteses de petrechos para a falsificação de moedas
(Código Penal, Art. 291).

ATOS DE EXECUÇÃO

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São aqueles dirigidos diretamente à prática do crime. No Brasil o Código Penal em seu
artigo 14, inciso II (o crime se diz tentado quando iniciada a execução, esta não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente), adotou a teoria objetiva ou
formal para tentar diferenciar atos executórios de atos preparatórios. Assim, exige-se
que o autor tenha realizado de maneira efetiva uma parte da própria conduta típica,
adentrando no núcleo do tipo. É punivel como tentativa.

CONSUMAÇÃO
É o momento no qual estão presentes todos os elementos da definição legal do crime.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS


CONCEITO
É quando, a um mesmo fato supostamente podem ser aplicadas normas diferentes, da
mesma ou de diversas leis penais, surge o que é denominado conflito ou concurso
aparente de normas. (Júlio Fabbrini Mirabete)
Pressupostos:
a) unidade de fato;
b) pluralidade de normas que (aparentemente) identificam o mesmo fato delituoso.
Observação: impossibilidade jurídica de aplicação de mais de uma norma em virtude
do princípio do non bis in idem.

 PRINCÍPIOS ADOTADOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS


 ESPECIALIDADE, SUBSIDIARIEDADE, CONSUNÇÃO E ALTERNATIVIDADE

A) Princípio da Especialidade
Diz-se que uma norma penal incriminadora é especial em relação à outra, quando
possui em sua definição legal todos os elementos típicos desta, e mais alguns, de
natureza subjetiva ou objetiva, denominados especializantes. O confronto entre as
duas normas pode se dá em abstrato.
Exemplos:
I - O crime de infanticídio (art.123 do CP) é especial em relação ao crime de homicídio,
contém os elementos do homicídio e mais alguns (estado puerperal, próprio filho, etc).
II – O art. 20 da Lei 7.170/83 é especial em relação ao homicídio, quando a motivação
do atentado, por exemplo, for por inconformismo político. “Devastar, saquear,
extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar,
provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por
inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção
de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o
dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo.”

B) Princípio da subsidiariedade
Há relação de primariedade e subsidiariedade entre normas quando descrevem graus
de violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária,
de menor gravidade que a principal, é anulada por esta. A conduta punível deve ser
analisada em concreto para que se determine o preceito legal a que se enquadra.
 
Expressa ou explícita: quando a norma, em seu próprio texto, subordina a sua
aplicação à não-aplicação de outra, de maior gravidade. Ex. art. 132, 239, 307, etc.
Tácita ou implícita: quando uma figura típica funciona como uma elementar ou
circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva. Ex.:
Ameaça/constrangimento ilegal, constrangimento ilegal/aborto sem o consentimento

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da gestante/extorsão/estupro, etc. (vis absoluta – força física) (vis compulsiva –
ameaça)

SUBSIDIARIEDADE EXPRESSA OU EXPLÍCITA

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida
ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas
legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Simulação de casamento
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa:
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.
Falsa identidade
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em
proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento
de crime mais grave.

SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA


Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o
que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Estupro 
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)

C) Princípio da consunção
Ocorre a relação consuntiva ou de absorção, quando um fato definido como crime é
meio necessário ou fase de preparação ou execução de outro crime mais grave ou
mais complexo.
Exemplos:
I O furto em residência absorve o crime de violação de domicílio.
II O crime de homicídio absorve o de lesão corporal.
III O crime de lesão corporal absorve a contravenção penal de vias de fato.

D) Princípio da alternatividade
A norma penal que prevê vários fatos alternativamente, como modalidade de um
mesmo crime, só aplicável uma única vez, ainda que o agente tenha praticados todas
as condutas sucessivamente. Ex.: Tráfico de Pessoas (art.149-A do CP) Receptação
(art. 180 do CP).

Princípio da alternatividade

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Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
Art. 149-A.  Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher
pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade
de:              (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;               (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016)          (Vigência)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;               (Incluído pela
Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;               (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)          (Vigência)
IV - adoção ilegal; ou               (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)          (Vigência)
V - exploração sexual.               (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)          (Vigência)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.               (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016)          (Vigência)
Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de
1996)
Petrechos para falsificação de moeda
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à
falsificação de moeda:

CONCEITOS DE CRIME ( Ausência de definição no CP).


CONCEITO FORMAL DE CRIME (aspecto externo, nominal do fato)
É o fato humano contrário à lei (Carmignani).
CONCEITO MATERIAL DE CRIME (conteúdo do fato)
É a violação de um bem penalmente protegido (José Frederico Marques).
CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME (características do crime)
Do ponto de vista analítico, crime é o fato típico, antijurídico e culpável.
Teoria bipartida: Fato típico e antijurídico
Teoria tripartida: Fato típico, antijurídico e culpável.
Culpabilidade: é a reprovação da ordem jurídica em face de estar o homem ligado a
um fato típico e antijurídico. Funciona como condição de imposição da pena.

ANÁLISE DO CRIME SOB O PONTO DE VISTA FORMAL


REQUISITOS
Para que haja crime é necessário conduta humana (ação ou omissão);
Pelo princípio da reserva legal a conduta tem que estar prevista como crime;
O fato típico é o primeiro requisito do crime;
Não basta apenas que o fato seja típico, é necessário que seja antijurídico (contrário
ao direito);
Às vezes a antijuridicidade da conduta é afastada por uma causa de exclusão (legitima
defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento do
dever legal);
O conceito de antijuridicidade ou ilicitude se dá por exclusão, ou seja, o que não for
declarado lícito, é antijurídico.
A punibilidade é apenas a consequência jurídica do delito e não uma característica
sua.

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ILICITUDE
PENAL - CIVIL - ADMINISTATIVA
Ilícito penal é a violação do ordenamento jurídico, contra a qual, pela sua
intensividade ou gravidade, a única sanção adequada é a pena, e ilícito civil é a
violação da ordem jurídica, para cuja debelação bastam as sanções atenuadas da
indenização, da execução forçada, da restituição in specie, da breve prisão
coercitiva,da anulação do ato, etc. (Nelson Hungria)
Ilícito administrativo: não existe diferença ontológica em relação ao ilícito penal. A
diferença reside na gravidade da violação ao ordenamento jurídico.

ELEMENTOS DO FATO TÍPICO


 
CONDUTA humana dolosa ou culposa.
RESULTADO (salvo nos crimes de mera conduta) (só é descrita a conduta:
desobediência, violação de domicílio, porte ilegal de arma.
NEXO DE CAUSALIDADE entre a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera
conduta e formais ) (formais: descreve conduta e resultado, mas não exige a produção
deste: ameaça, violação de segredo profissional, concussão, etc).
TIPICIDADE, que é o enquadramento do fato material a uma norma penal
incriminadora.

ELEMENTOS DO FATO TÍPICO


1. CONDUTA: é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada
finalidade. (Damásio E. de Jesus)
 
Elementos da conduta:
a) ato de vontade dirigido a uma finalidade;
b) atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior (fazer ou não fazer).
(vontade, finalidade, exterioridade, consciência).
 
Formas de conduta:
a) comissiva: caracteriza-se pela realização de comportamento positivo (subtrair,
matar, apropriar-se, destruir, etc)
b) omissiva: revela-se pela não-realização de um comportamento exigido que o
sujeito podia concretizar.
c) comissiva-omissiva: resulta do dever jurídico de impedir o resultado, como no
caso da mãe que deixa do filho morrer de inanição.

Elemento subjetivo
a) dolo (direto/determinado) (indireto: alternativo/indeterminado)
b) culpa
c) preterdolo ou preterintenção (Lesão Corporal Seguida de Morte, Aborto com
resultado morte ou lesão grave em relação à gestante)

 
Sujeitos do crime
a) Sujeito ativo: é o ser humano praticante da conduta típica descrita na norma penal
incriminadora (César Dario Marino da Silva)
b) Sujeito passivo: é o titular do objeto jurídico atingido pela conduta criminosa,
dividindo-se em formal ou constante, que é o Estado (titular do direito de punir); e,
material, que o titular do interesse penalmente protegido.

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES EM FACE DO SUJEITO ATIVO

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Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Exemplo: homicídio, furto,
lesão corporal, dano, etc.Crime próprio: exige qualidade especial do sujeito ativo.
Exemplo: peculato, corrupção passiva, auto-aborto (124, primeira parte).
Crime de mão própria: só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa. Exemplo: falso
testemunho, prevaricação, deserção (CPM). (admite participação moral).

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA


 
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 173, parágrafo 5º, e 225, parágrafo
3º, determina que a lei puna a pessoa jurídica nos atos cometidos contra a economia
popular, a ordem econômica e financeira e o meio ambiente.
Teorias acerca da natureza da pessoa jurídica:
Teoria da ficção: a PJ não tem capacidade penal e, portanto, não pode cometer
crime. Falta-lhe os requisitos psíquicos da imputabilidade. Não tem consciência nem
vontade própria.Teoria da realidade ou organicista: entende a pessoa jurídica como
um ser real, um verdadeiro organismo datado de vontade própria.
1. A lei 9.605/98 (Lei dos crimes ambientais) prevê a responsabilização.
2. A dupla imputação (bis in idem?)

OBJETO DO DELITO
OBJETO JURÍDICO DO CRIME
É o bem ou interesse que a norma penal tutela : vida, integridade física, patrimônio,
honra, etc.
OBJETO MATERIAL DO CRIME
É a pessoa ou coisa contra a qual recai a conduta do sujeito ativo, como o homem
vivo no homicídio, a coisa no furto, o documento na falsificação, etc.
OBSERVAÇÃO
Às vezes, o sujeito passivo coincide com o objeto material ,é o que ocorre no
homicídio e na lesão corporal, por exemplo.

TEORIAS SOBRE A CONDUTA

TEORIA CAUSALISTA (naturalista, tradicional, clássica)


A conduta é comportamento humano voluntário de fazer ou não fazer. É processo
mecânico, muscular. Basta a voluntariedade (sem se indagar acerca da finalidade da
conduta) para que haja o crime. Exemplo: Quando alguém aperta o gatilho de uma
arma e atinge outra pessoa não se cogita sobre a finalidade do agente.
Dificuldades: conceituação da tentativa e explicação da tipicidade quando o tipo
contém elementos subjetivos na própria descrição.
Crítica: essa teoria é criticada em virtude da cisão de um fenômeno real, separando-
se a ação voluntária de seu conteúdo (o fim do agente ao praticar a ação).

TEORIA FINALISTA (ou da ação finalista)


Todo comportamento do homem tem uma finalidade. A conduta realiza-se mediante a
manifestação da vontade dirigida a um fim determinado, devendo assim ser apreciada
juridicamente. No crime doloso a finalidade da conduta é a vontade de concretizar um
fato ilícito. No crime culposo o agente responde por não ter empregado os cuidados
necessários para evitar o resultado.
Exemplo: Atingimento de um ladrão que escondeu-se atrás de placa de tiro ao alvo
para fugir da polícia.

TEORIA SOCIAL DA AÇÃO


A teoria social da ação (da adequação social ou normativa) faz um ponte entre as
teorias causalista e finalista. A relevância social da ação deve também ser o critério
no campo penal. Como o Direito Penal só comina pena às condutas socialmente

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danosas e como socialmente relevante é toda conduta que afeta a relação do
indivíduo para com seu meio, sem relevância social não há relevância jurídico-penal.
 
Exemplo: o médico que faz uma cirurgia quer curar o paciente, portanto não há ação
típica de lesão corporal.
Crítica: dificuldade de conceituar o que seja relevância social (juízo ético), tornaria
vaga, indeterminada a tipicidade.

2. RESULTADO
Conceito: é a modificação do mundo exterior provocado pelo comportamento humano
voluntário (Damásio Evangelista de Jesus).
1. Nos trabalhos forenses e na doutrina evento e resultado são usados como
sinônimos.
2. Não constitui obstáculo ao entendimento da existência de crimes sem resultado
naturalístico o que se contém nos artigos 13 e 18 do CP.
 
Teorias acerca da natureza resultado:
a) Teoria naturalística: resultado é a modificação do mundo externo causado por um
comportamento humano.
b) Teoria jurídica ou normativa: o resultado da conduta é a lesão ou perigo de lesão
de um interesse protegido pela norma penal. (todo crime produz resultado “dano ou
perigo” mesmo os de mera conduta).

O NEXO DE CAUSALIDADE
 SUPERVENIÊNCIA CAUSAL
 
Causa: é toda condição que atua paralelamente à conduta, interferindo no processo
causal (Fernando Capez)
Concausas: o Código Penal adotou a “teoria da equivalência dos antecedentes
causais”, assim, qualquer conduta que tiver contribuído para a produção do resultado
deve ser entendida como causa (conditio sine qua non).
Teorias acerca da causalidade não adotadas no Brasil:
A) Causalidade adequada: causa é a condição mais adequada para a produção do
resultado;
b) Eficiência: causa é a condição mais eficaz na produção do resultado;
c) Relevância jurídica: causa é tudo que concorre para o evento ajustado à figura
penal ou adequado ao tipo.

ESPÉCIES DE CAUSAS
Dependente: é aquela que tem origem na própria conduta do agente e, por isso, não
exclui o nexo de causalidade. Exemplo: A atira em B, que em decorrência do ferimento
sofre hemorragia e morre.
 
Independente: é aquela que escapa do desdobramento natural da conduta e produz,
por si só, o resultado. Existem duas espécies de causas independentes: a absoluta e
a relativamente independente.
ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES
 
Preexistentes
Já existiam antes mesmo da conduta ser realizada, portanto, o resultado iria acontecer
de qualquer forma. Exemplo: o genro atira em sua sogra, mas esta morre em
conseqüência não do disparo, mas de envenenamento anterior provocado pela nora.
(O genro responde por tentativa de homicídio, se não teve nenhuma participação no
envenenamento)
concomitantes

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Acontece no mesmo instante em que a conduta é realizada, mas não tem qualquer
ligação com esta. Exemplo: no instante em que a nora aplica o veneno na sogra, um
assaltante entra na casa e atira na velhinha causando-lhe a morte. (A nora responde
por tentativa de homicídio)
 
Superveniente
Acontece após a realização da conduta do agente. Exemplo: após a nora ter
envenenado a sogra, um maníaco invada a casa e mata a velhina a facadas. (A nora
responde por tentativa de homicídio)

ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES


 
Preexistentes
A desfere uma facada no braço da vítima que morre em razão de sua condição de
hemofílico. A hemofilia atuou como causa independente, mas provocada pela conduta
do agente. (O sujeito ativo responde pelo resultado morte).
 
Concomitantes
A atira na vítima, que, assustada, morre de ataque cardíaco. A causa foi independente
(colapso cardíaco), mas se originou da conduta do agente. (O sujeito responde pelo
resultado morte).
 
Supervenientes
A vítima leva um tiro na perna e, ao ser conduzida para o hospital, morre em
decorrência de um acidente com a ambulância. Neste caso, por força do disposto no
parágrafo 1º, do artigo 13 do Código Penal, ocorre (por ficção jurídica) a ruptura do
nexo causal, respondendo o agente apenas pela conduta anterior.

A CAUSALIDADE NA OMISSÃO
 
CÓDIGO PENAL – ART. 13 “ O RESULTADO DE QUE DEPENDE A EXISTÊNCIA DO
CRIME SÓ É IMPUTADO A QUEM LHE DEU CAUSA. CONSIDERA-SE CAUSA A
AÇÃO OU OMISSÃO SEM A QUAL O RESULTADO NÃO SE PRODUZIRIA.
 
NÃO SE FALA EM NEXO CAUSAL OBJETIVO EM CRIMES OMISSIVOS, UMA VEZ
QUE DO NADA, NADA SURGE. A ESTRUTURA DO TIPO PENAL OMISSIVO É
ESSENCIALMENTE NORMATIVA. O AGENTE RESPONDE PELO RESULTADO
NÃO PORQUE LHE DEU CAUSA COM A OMISSÃO, MAS PORQUE NÃO O
IMPEDIU REALIZANDO UMA CONDUTA QUE ESTAVA OBRIGADO A REALIZAR.
 
O ART. 13, PARÁGRAFO 2º, DO CP REGULAMENTA A RELAÇÃO DE
CAUSALIDADE NOS DELITOS COMISSIVOS POR OMISSÃO ADOTANDO A
TEORIA DA OMISSÃO NORMATIVA, RESULTANDO QUE A OMISSÃO É
PENALMENTE RELEVANTE QUANDO O OMITENTE DEVIA E PODIA AGIR PARA
EVITAR O RESULTADO.

O DEVER DE AGIR INCUMBE A QUEM


A) TENHA POR LEI OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO OU VIGILÂNCIA.
Exemplo: mãe que deixa de alimentar o filho que morre de inanição (A obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância advém das relações de pátrio poder, casamento,
família, etc).
B) DE OUTRA FORMA, ASSUMIU A RESPONSABILIDADE DE IMPEDIR O
RESULTADO. Exemplo: alpinista contratado ou que se ofereceu espontaneamente
para guiar um grupo abandona-o, sobrevindo resultado danoso. NÃO É DO

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CONTRATO FORMAL QUE SURGE O DEVER JURÍDICO, MAS DA POSIÇÃO DE
GARANTIDOR DA NÃO OCORRÊNCIA DO RESULTADO.
C) COM SEU COMPORTAMENTO ANTERIOR, CRIOU O RISCO DA OCORRÊNCIA
DO RESULTADO. Exemplo: um exímio nadador convida alguém a acompanhá-lo em
um longo nado e, em determinado instante, vendo que o companheiro está perdendo
as forças, não socorre, deixando-o morrer.

CASO FORTUITO
Diz-se caso fortuito, toda ocorrência episódica, ocasional, rara, como no exemplo de
alguém que involuntariamente tropeça e cai dentro de tonel cachaça, embriagando-se.
 
FORÇA MAIOR
A força maior deriva de uma força externa ao agente. É o caso, por exemplo, da
pessoa que é obrigada por coação a ingerir bebida alcoólica.
 
Observação: o caso fortuito e a força maior excluem a própria conduta, por ausência
de dolo e culpa. Não atuam, portanto, sobre o nexo causal.

IMPUTAÇÃO OBJETIVA
Desenvolvida por Karl Larenz (1927) e Richard Honig (1930) rechaçavam o rigorismo
causalista da conditio sine qua non. Para a existência do crime, além do elo
naturalístico de causa e efeito, são necessários os seguintes requisitos: a) criação de
um risco proibido (não há adequação típica, por exemplo, na conduta da mulher que
convida o marido para ir à praia na esperança de que ele se afogue, pois este é um
risco permitido); b) que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento
causal da conduta (Ex: um traficante não pode ser responsabilizado pela conduta
imprudente do usuário que morre de overdose); c) que o agente atue fora do sentido
de proteção da norma (Ex. quem atira no braço de alguém que ameaça se suicidar
com um tiro não pode responder por lesão corporal).
 
Observações:
O mero ingresso do dolo e da culpa no curso causal (conditio sine qua non) não
resolve a questão do nexo causal.
02) Qualquer comportamento socialmente padronizado será considerado
“objetivamente” atípico.
03) Para que haja o crime é preciso que o agente tenha o domínio do fato (controle a
relação de causalidade)

TIPICIDADE
CONCEITO
É a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie
de infração contida na lei penal incriminadora. (Damásio E. de Jesus)
a) Elementos objetivos do tipo: também chamados de elementos descritivos, são os
que se referem à materialidade da infração penal, no que diz respeito à forma de
execução, tempo, lugar, etc. O verbo constitui o núcleo do tipo, a sua parte mais
importante. Ex. matar, subtrair, constranger, destruir. (às vezes o verbo não é um
injusto: ex: retirar, expor, etc).
b) Elementos normativos do tipo: são os que exigem um juízo de valor dentro do
próprio campo da tipicidade, exteriorizando-se em expressões como: indevidamente
(arts: 162, 319, 296 do CP), sem justa causa (arts: 246 e 248 do CP), e ainda nos
ternos sem permissão legal, fraudulentamente, seu autorização, etc.
c) Elementos subjetivos do tipo (do injusto): referem-se ao estado anímico do
sujeito, à sua intenção, exteriorizam-se em expressões como: para ocultar desonra

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própria (art. 134 do CP), com o intuito de (art. 158), por motivo (art. 208), para
satisfazer (347), a fim de (353), etc.

ERRO DE TIPO
BASE LEGAL
Art. 20 do Código Penal - “ O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime
exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”.
 
CONCEITO
É o que recai sobre circunstância que constitui elemento essencial do tipo. É a falsa
percepção da realidade sobre um elemento do crime. É a ignorância ou falsa
representação de qualquer dos elementos constitutivos do tipo penal.
 
FORMAS DE ERRO DE TIPO
ESSENCIAL
Incide sobre elementares e circunstâncias do crime. Impede o agente de compreender
o caráter criminoso do fato ou de conhecer a circunstância

Essencial invencível ou escusável (não pode ser evitado) - Exclui o dolo e a culpa,
caso o crime admita essa última modalidade. Exemplo: Um caçador na floresta atira
em um artista fantasiado de cervo. Se a fantasia era perfeita a ponto de confundir
qualquer pessoa, afasta-se dolo e culpa.
 
Essencial vencível ou inescusável (poderia ser evitado pelo agente) - Recaindo
sobre elementar, exclui o dolo, mas não a culpa. Exemplo: No caso acima
apresentado, se o artista não estivesse fantasiado e o caçador, sendo míope, tivesse
atirado, agiria culposamente.

ERRO DE TIPO ACIDENTAL


Incide sobre dados irrelevantes da figura típica, fazendo com que o agente responda
pelo crime como se não houvesse erro.
 
Erro sobre o objeto
É o erro sobre a coisa que caracteriza o objeto material do crime. Exemplo: Furtar café
pensando que está furtando feijão. É irrelevante.
 
Erro sobre a pessoa (error in persona)
O sujeito mata uma pessoa pensando que está matando outra. Responderá como se
tivesse matado a pessoa pretendida.
 
Erro na execução do crime (aberratio ictus)
Também conhecida como desvio de golpe, ocorre quando se dá erro não em relação à
pessoa que se pretendia atingir, mas em relação à execução do crime. Ex.
Pretendendo atingir A, o sujeito erra a pontaria e acerta B.

Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)


O agente quer atingir um bem jurídico, mas por erro na execução, acaba atingindo
outro. Ex. Atirar uma pedra contra uma vidraça atingindo, entretanto, uma pessoa.
Conseqüências: Se apenas atinge o bem jurídico que não pretendia atingir, o outro,
que ficou na tentativa, será absorvido pelo crime efetivamente cometido. Se, por outro
lado, atingiu dois bens jurídicos (a janela e a pessoa), responde em concurso formal.

Erro sobre o nexo causal (aberratio causae)


Ocorre quando o agente na suposição de já ter consumado o crime, realiza nova
conduta (erro sucessivo), sendo que é esta última que determina a consumação. Ex.

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Estrangular a vítima e atira-la ao rio para esconder o cadáver, vindo esta a morrer por
afogamento.

ERRO DE PROIBIÇÃO
CONCEITO
É o que incide sobre a ilicitude de um comportamento. O agente supõe, por erro, ser
lícita a sua conduta. O objeto do erro não é, pois, nem a lei, nem o fato, mas a licitude,
isto é, a contrariedade do fato em relação à lei. O agente supõe permitida uma
conduta proibida. O agente faz um juízo equivocado daquilo que lhe é permitido fazer
em sociedade.
 
1. Erro de Proibição - erro sobre a proibição jurídica do fato. (Art. 21 do CP).
2. O desconhecimento da lei é inescusável.
3. A influência de elementos culturais pode conduzir à impossibilidade de
conhecimento do caráter ilícito do fato.
4. Não se reconhece erro de proibição em crime de homicídio.

CLASSIFICAÇÃO DO ERRO DE PROIBIÇÃO


INVENCÍVEL (escusável)
É aquele que não poderia ser evitado por um homem comum, portanto, afasta-se a
culpabilidade. Exemplo: comerciante chinês que tenta vender carne de cachorro para
restaurante, atividade que desenvolvia em seu país.
VENCÍVEL (inescusável)
O erro poderia ter sido evitado por qualquer pessoa normal, diligente. Não afasta a
culpabilidade, mas enseja a diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Exemplo: sujeito com
educação razoável encontra bolsa com dinheiro, dela se apropriando, pensando ser
lícita a conduta.
Exemplos:
1. Estrangeiro que se casa com brasileira, já sendo casado em seu país, que admite a
poligamia.
2. O sujeito que se apodera de pertences de outra pessoa para saldar dívida (art.345).
3. Candidato que pintou o asfalto com propaganda sua, pensando que era lícito (dada
a abundância de cartazes, etc de outros candidatos).
4. Filho que, por compaixão, desliga aparelho que mantinha viva sua mãe, pensando
ser lícita a eutanásia (poderá haver também o relevante valor moral).

CRIME CONSUMADO E TENTADO


BASE LEGAL - Artigo 14 do Código Penal. 
CONCEITO DE CRIME CONSUMADO
É aquele em que foram realizados todos os elementos constantes de sua definição
legal. (Art. 14, inciso I)
 
ITER CRIMINIS - é o caminho do crime, que desdobra-se em quatro etapas:
Cogitação - agente apenas idealiza, mentaliza o crime. Nesta fase o crime é
impunível.
Preparação - prática de atos imprescindíveis à execução do crime. O agente não
começou a realizar o verbo constante da definição legal (núcleo do tipo). Pode ser
exemplificado como a compra de uma arma para matar alguém. Não é punível nesta
fase, se os atos preparatórios não constituem crimes por si só. (Art. 122, 288, 291).
Execução - o bem jurídico começa a ser atacado. Nessa fase o agente inicia a
realização do núcleo do tipo, e o crime já se torna punível.
Consumação - todos os elementos descritos no tipo penal foram realizados.
 
CRIME CONSUMADO E CRIME EXAURIDO

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No crime exaurido, o sujeito ativo continua a atingir o bem juridicamente protegido,
mesmo depois da consumação efetiva. (os atos posteriores são havidos como mero
exaurimento). Ex.: No crime de Concussão (art. 316 do CP) a consumação se dá com
a exigência.

CONSUMAÇÃO 
CONSUMAÇÃO NOS DIVERSOS TIPOS PENAIS
Materiais - com a produção do resultado naturalístico.
Formais - com a simples atividade, independentemente do resultado (Concussão).
De mera conduta - com a ação ou omissão delituosa (violação de domicílio).
Culposos - com a produção do resultado (não existe tentativa)
Permanentes - enquanto não cessar a permanência.
Habituais - com a reiteração da conduta.

TENTATIVA (CONATUS)
CONCEITO
É a não-consumação de um crime, cuja execução foi iniciada, por circunstâncias
alheias à vontade do agente. (Art. 14, inciso II)
Consequência jurídico-penal - a pena na tentativa é diminuída de um a dois terço.
(Parágrafo único do art. 14).

Elementos
a) início da execução;
b) não-consumação;
c) Interferência de circunstâncias alheias à vontade do agente.

FORMAS DE TENTATIVA
IMPERFEITA
Ocorre a interrupção do processo executório; o agente não chega a praticar todos os
atos de execução do crime, por circunstâncias alheias à vontade. posto que ocorre
interferência externa. O agente foi impedido de continuar esfaqueando a vítima que
pretendia matar, por exemplo.
PERFEITA OU ACABADA (crime falho)
A consumação não ocorre, embora o agente tenha praticado os atos suficientes para a
produção do resultado. Ex. O agente efetuou diversos disparos na vítima, mas esta
não veio a óbito.
Observação: o juiz considera essas formas de tentativa no momento da aplicação da
pena base (art.59 do CP).
 
DELITOS QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA
Contravenções penais; crimes culposos, crimes habituais; crimes em que a lei só pune
o agente se ocorrer o resultado (art.122 do CP); crimes em que a lei pune a tentativa
como crime consumado (art.352 do CP)

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ


Trata-se de espécies de tentativa abandona ou qualificada. O resultado não é
produzido por força da vontade do agente, diferentemente da tentativa propriamente
dita, em que o resultado não se produz por circunstâncias alheias à essa vontade
(Artigo 15 do CP).
 
Ponte de ouro para quem abandonou voluntariamente o propósito.
Nas duas situações o sujeito não responde por tentativa.
Fundamenta-se em razões de política criminal 

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

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O agente interrompe por sua própria vontade a execução do crime, ou seja, não
esgota todo o processo executivo do crime.
Exemplo 01 - o sujeito ativo dispõe de revólver municiado com 06 projéteis. Efetua
dois disparos contra a vítima, mas não acerta, podendo prosseguir atirando, desiste
por vontade própria. Neste caso só responde pelos atos já praticados (Periclitação da
vida e da saúde, art. 132 do CP, ou Lesão Corporal, art. 129 do CP).
Exemplo 02 - o ladrão que já estando dentro da casa da vítima e com a res furtiva na
mão, desiste de levá-la.

ARREPENDIMENTO EFICAZ
O agente, após encerrar a execução do crime, impede que o resultado se produza. Só
é possível nos chamados crimes materiais, onde é exigida a produção de um resultado
naturalístico.
Exemplo 01 - o sujeito ativo atira na vítima ferindo-a com gravidade, mas se
arrepende prestando socorro que impede a morte da mesma. Responde pelas lesões
produzidas e não por tentativa de homicídio.
Exemplo dois - esposa que ministra veneno na comida do marido, mas depois aplica-
lhe um antídoto evitando a morte. Responde pelas lesões causadas.
 
Observação - o arrependimento ineficaz não gera qualquer benefício para o sujeito
ativo.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Causa de diminuição de pena que ocorre nos crimes cometidos sem violência ou
grave ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente repara o dano ou restitui a
coisa até o recebimento da denúncia ou da queixa.

CRIME IMPOSSÍVEL
É também chamado de quase-crime, tentativa inidônea ou inadequada. Está
capitulado no artigo 17 do Código Penal: “não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
impossível consumar-se o crime”.
Ineficácia absoluta do meio
quando o meio utilizado pelo agente, por sua natureza, é absolutamente incapaz de
produzir o resultado. Ex. Ministrar açúcar na alimentação da vítima pensando tratar-se
de veneno; atirar contra a vítima com balas de festim ou arma descarregada, etc.
Impropriedade absoluta do objeto
Neste caso não existe o objeto material onde deveria recair a conduta, ou quando,
pela situação ou condição, torna impossível a produção do resultado visado pelo
agente. Ex: Atirar em pessoa que já está morta; mulher que, supondo erroneamente
encontrar-se grávida, realiza manobra abortiva; agente que subtrai objeto dele mesmo,
pensando que está furtando alguém.
Nos dois casos não há tentativa por ausência de tipicidade.
Não sendo figura típica, não enseja a aplicação de pena ou medida de segurança.

TEORIAS ACERCA DO CRIME IMPOSSÍVEL


Teoria sintomática
O critério decisivo é a periculosidade do agente.
 
Teoria subjetiva
O fator que decide a questão é a intenção do delinqüente. O autor deveria sofre a
mesma pena do crime consumado
 
Teoria objetiva

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O elemento objetivo é o perigo para o bem juridicamente protegido. Se a conduta não
possui idoneidade para lesar o bem jurídico, não constitui tentativa.

Teoria objetiva temperada


Exige sejam absolutamente inidôneos os meios empregados pelo agente e o objeto
sobre o qual recai a conduta. É a teoria adotada pelo legislador brasileiro.

CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS PENAIS


Normas penais incriminadoras
São as que descrevem condutas puníveis e impõem as respectivas sanções. Ex: Art.
121, caput, art. 155, 213, etc. ( toda a parte especial do CP)
 
Normas penais permissivas
São as que determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, embora estas
constituam crimes.. Ex: Arts. 20 a 27, 28, parágrafo 1º, art. 156, parágrafo 2º, 142
(imunidades nos crimes contra a honra); do art. 348, § 2° (imunidades no crime de
favorecimento pessoal); dos arts. 20 e 21 (erro sobre o elemento do tipo e sobre a
ilicitude do fato); do art. 26 (inimputabilidade) etc.
  
Normas penais finais, complementares ou explicativas
São as que esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam a âmbito de sua
aplicação. Ex: Arts. 4º, 5º, 7º, 10 a 12, do CP, etc.
A norma penal não diz expressamente qual a conduta proibida (está implícita)
 
Preceito: (mandamento) Art. 121 “Matar alguém”
Sanção: (pena) Pena: 06 a 20 anos de reclusão 

CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS PENAIS


Exclusividade
Somente elas definem crimes e cominam penas.
Anterioridade
As que descrevem crimes somente têm incidência se já estavam em vigor na data de
seu cometimento.
Imperatividade
Impõem-se coativamente a todos, sendo obrigatória a sua observância.
Generalidade
Têm eficácia erga omnes, dirigindo-se a todos, inclusive inimputáveis.
Impessoalidade
Dirigem-se impessoal e indistintamente a todos, não se admitindo a elaboração de
uma norma para punir especificamente uma pessoa.

PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO DO ESTADO

ANALOGIA, INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA, INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO: ATIVIDADE E EXTRA-ATIVIDADE

CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO

TEMPO DO CRIME

CONFLITO APARENTE DE NORMAS

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ELEMENTOS DO FATO TÍPICO: CONDUTA, RESULTADO, NEXO DE
CAUSALIDADE, TIPICIDADE

ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

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