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As 3 falhas mais comuns no recolhimento de custas

Por Modelo Inicial 16/01/2019 às 00:36

O Código de Processo Civil, previu expressamente o dever de


antecipar o pagamento de custas pelos atos processuais:

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da


justiça, incumbe às partes prover as despesas dos atos que
realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o
pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução, até
a plena satisfação do direito reconhecido no título.

§ 1º Incumbe ao autor adiantar as despesas relativas a ato cuja


realização o juiz determinar de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, quando sua intervenção ocorrer como fiscal da
ordem jurídica.

§ 2º A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as


despesas que antecipou.

Nos casos recursais, o CPC reitera esta obrigação ao exigir


expressamente a apresentação do comprovante de pagamento, gerando em
alguns casos mais graves, o não recebimento do recurso.

Por tais razões que se exige especial atenção no recolhimento das


custas e, especialmente na sua apresentação. Vejamos as principais falhas nesta
etapa.

1. JUNTAR AGENDAMENTO DE PAGAMENTO

O simples agendamento do pagamento da guia de custa não


comprova o seu pagamento, razão pela qual não será aceita.

Não são raros os casos em que o leitor de pagamento coloca como


data do pagamento aquela prevista para vencimento gerando um comprovante
de mero agendamento. Casos em que não geram documentos hábeis a
demonstrar que as custas foram efetivamente pagas, conforme posicionamento
já adotado pelo STJ:

"(...) A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça -


firmada à luz do CPC/73 - orienta-se no sentido de que, no ato de
interposição doRecurso Especial, deve o recorrente comprovar o
prévio recolhimento das custas judiciais, do porte de remessa e
retorno, bem como dos valores locais, estipulados pela legislação
estadual, sob pena de deserção (art. 511 do CPC/73 e Súmula
187/STJ). IX. Em consequência,"a juntada de comprovante
de agendamento não constitui meio apto à comprovação
de que o preparo foi efetivamente recolhido, levando,
portanto, à deserção do recurso"(STJ, AgRg no AREsp
743.163/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA
TURMA, DJe de 17/11/2015). No mesmo sentido: STJ, AgRg no
AREsp 744.643/SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, DJe de 18/12/2015; AgRg no REsp 1.491.294/RS, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
20/04/2015; AgRg no AREsp 619.761/RN, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de
12/02/2015.X. Agravo interno improvido. (STJ, AgInt no AREsp
1077458/RJ, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe 18/12/2017)

Portanto, não efetivamente comprovado o devido pagamento das


custas recursais, o recurso inevitavelmente corre sério risco de sequer ser
recebido.

2. NÃO JUNTAR A GUIA OU COMPROVANTE


ORIGINAL DE PAGAMENTO
Outra formalidade usualmente exigida pelos tribunais é que seja
apresentado o comprovante de pagamento juntamente com a sua guia, de forma
a demonstrar que aquele pagamento se refere exatamente à guia vinculada ao
processo.

Situações como estas já geraram o não recebimento de Recurso


junto ao STJ:

"(...) A juntada apenas do comprovante de pagamento das


custas processuais, desacompanhado da respectiva guia de
recolhimento, é insuficiente à comprovação do preparo"
(STJ, AgInt no REsp 1.622.574/RS, Rel.Ministro FRANCISCO
FALCÃO, SEGUNDA TURMA, DJe de 27/04/2017).

Mais uma situação que exige especial cuidado na hora da instrução


do recurso.

3. PREENCHIMENTO EQUIVOCADO DA GUIA


Outra falha comumente encontrada nas decisões de não
recebimento de recurso se trata do preenchimento equivocado da guia, seja em
relação ao valor ou em relação ao número do processo.

Da mesma forma que nos casos anteriores, esta situação não supre
a previsão legal de comprovar de forma inequívoca o pagamento das custas
devidas, gerando, em alguns casos, o não recebimento da ação ou do recurso:

"(...) é dever da recorrente apontar o correto


preenchimento das guias de recolhimento que compõem
as custas do preparo, sob pena de deserção do recurso. A
exigência do correto preenchimento da guia, longe de ser mero
formalismo, presta-se a evitar fraudes contra o Judiciário,
impedindo que se use a mesma guia para interposição de diversos
recursos. (...)" (AgRg no AREsp 736.400/SP, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, Quarta Turma, julgado em 15/3/2016, DJe 6/4/2016)

DESERÇÃO. É certo que, em homenagem aos princípios da boa-fé


e do máximo aproveitamento dos atos processuais, o TST tem se
orientado no sentido de que o preenchimento incorreto do
número do processo e da Vara de origem na guia de recolhimento
do depósito recursal não impede o processamento do apelo, desde
que a respectiva guia contenha elementos que possibilitem
identificar a satisfação do preparo. Ocorre, contudo, que no ato da
interposição do recurso ordinário, a Reclamada juntou guia de
depósito judicial referente a outro processo, com partes diversas,
sendo que as custas referem-se à mesma demanda. Em que pese a
jurisprudência do TST ter adotado entendimento flexível quanto
aos critérios referentes às irregularidades sanáveis no
preenchimento da guia de recolhimento do depósito recursal,
verifica-se que, no caso dos autos, a guia juntada, bem como as
custas, não se referem aos presentes autos, o que não configura
apenas irregularidade passível de ser sanada nos termos da
legislação processual vigente aplicável na hipótese. Desse modo,
considerando que não se discute a insuficiência de
depósito recursal, mas sim a própria inexistência,
porque as irregularidades contidas na guia de depósito
recursal não são passíveis de serem sanadas, afigura-se
inaplicável o entendimento contido na OJ 140 da SDI-I
do TST. A hipótese é de não comprovação do depósito
recursal no prazo alusivo ao recurso, o que atrai a
aplicação da Súmula 245 do TST. (TRT-2, 1000346-
46.2017.5.02.0069, Rel. FRANCISCO FERREIRA JORGE NETO -
14ª Turma - DOE 18/07/2018)

NO CASO DE INSUFICIÊNCIA OU EQUÍVOCO, É POSSÍVEL


COMPLEMENTAÇÃO?

O Novo Código de Processo Civil trouxe regramento expresso para


a concessão de prazo ao saneamento de falhas diante
da insuficiência, ausência ou equívoco no preparo:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente


comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o
respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob
pena de deserção.

[...]
§ 2o A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de
remessa e de retorno, implicará deserção se o
recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não
vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias.
[...]
§ 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do
recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e
de retorno,será intimado, na pessoa de seu advogado,
para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de
deserção.
[...]
§ 7o O equívoco no preenchimento da guia de custas não
implicará a aplicação da pena de deserção,cabendo ao
relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o
recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.

Ou seja, em clara redação, o Novo CPC estabelece que um recurso


será declarado deserto SE, E SOMENTE SE não for suprida a
complementação necessária, após intimação do Advogado,in verbis:

Art. 932. Incumbe ao relator:


(...)
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o
recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou
complementada a documentação exigível.

Essa inovação processual fundamenta o princípio


da EFETIVIDADE DO PROCESSO, que além de se fundar nos princípios
da FINALIDADE e daECONOMIA PROCESSUAL, busca
efetivar o PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO, previsto no Art. 6º do CPC, em
detrimento ao excesso de formalismo repugnado pela doutrina e entendimento
dos Tribunais Superiores:

"Além do compromisso com a Lei, o juiz tem um


compromisso com a Justiça e com o alcance da função
social do processo para que este não se torne um
instrumento de restrita observância da forma se
distanciando da necessária busca pela verdade real,
coibindo-se o excessivo formalismo. Conquanto mereça
relevo o atendimento às regras relativas à técnica processual,
reputa-se consentâneo com os dias atuais erigir a
instrumentalidade do processo em detrimento ao apego
exagerado ao formalismo, para melhor atender aos comandos
da lei e permitir o equilíbrio na análise do direito material em
litígio. Recurso especial provido."(STJ - REsp: 1109357 RJ
2008/0283266-8, Relator: Ministra Nancy Andrighi)

Com base nesta argumentação, nos casos em que a deserção for


declarada previamente ao prazo para complementação, cabe ao
Advogado mover Agravo de Instrumento nas ações trabalhistas (ver modelo), Agravo Interno (ver
modelo) ou mesmo o Recurso Especial (ver modelo), dependendo de cada caso.

Temas como estes merecem sempre uma especial atenção, para


que rigorismos exacerbados não retirem do cliente o tão almejado pleito por
meras formalidades.
Dúvidas? Contribuições? Compartilhe suas ideias. Nossa principal
missão é fomentar um ambiente de crescimento colaborativo e constante!

Fonte: Modelo Inicial

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