VISÃO
instalado numa caldeira, o economizador fica
CALDEIRA, O CORAÇÃO DA USINA
O estudo das questões ligadas ao uso da
energia em nossas usinas tem tamanha im-
portância nos tempos de hoje que tem fasci-
nado muito os técnicos ligados ao setor,
inclusive nós. E é incrível como ainda há
tanto a aprender. As caldeiras, além de serem
equipamentos vitais à operação de uma usina
(quando elas param, tudo pára), constituem-
se no ponto de partida do sistema energético,
influindo enormemente na estabilidade de
todo o processo.
Numa caldeira, a fornalha nada mais é que
um “reator químico”, onde carbono e hidro-
gênio se combinam com oxigênio para for-
mar gás carbônico e água, reações estas for-
temente exotérmicas e, assim, chamadas ge-
nericamente de “combustão”. Logo, a gera-
ção de calor, digamos, é uma tarefa da Quími-
ca e a recuperação deste calor, da Mecânica.
As duas se completam, uma auxiliando a
outra, de modo que, a eficiência do sistema
seja a melhor possível. Sendo um reator,
também as fornalhas estão sujeitas às leis que
regem os reatores químicos. Como se sabe, as
reações químicas dependem de três fatores:
tempo, temperatura e concentração dos
reagentes. Existe então uma velocidade de
reação (combustão), que para uma capacida-
de de produção de vapor requerida determina
o volume necessário de fornalha; os reagentes
(combustível e ar) precisam ter contato ínti-
mo (turbilhonamento) de modo a reagirem; a
reação é favorecida pelo aumento da tempe-
ratura do ar e pela redução dos compostos
presentes no combustível que atrapalham a
fibra entrar em contato com o ar, neste caso,
a umidade e a terra. Tudo isto determina uma
velocidade de reação e deste modo, injetar
mais combustível ou mais ar, praticamente
não aumenta significativamente a velocidade
de combustão.
As caldeiras modernas têm fornalhas de gran-
de volume e altura, de modo que, os fatores
tempo e turbilhonamento estão otimizados.
As caldeiras mais antigas, e muitas delas em
plena atividade, são de uma época que estes
conhecimentos eram ou desprezados, ou
pouco conhecidos e, além disso, as necessi-
dades de eficiência eram menos importantes
do que hoje. Do ponto de vista químico, secar
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Falando
de Fábrica
Florenal Zarpelon
o bagaço (seria melhor dizer reduzir a umida-
de), a 35% de umidade, antes de alimentá-lo
a caldeiras antigas é uma alternativa eficaz,
pois aumenta a velocidade de combustão, já
que diminui o tempo para eliminar a água,
para depois iniciar a combustão (o combustí-
vel, bagaço, passa a queimar mais rápido). O
sistema de alimentação do bagaço em espiral,
apresentado pelos australianos no congresso
da ISSCT-1999 tem mais ou menos esta
finalidade; o secador de bagaço desenvolvi-
do por Luiz E.C.Maranhão, na Usina
Sto.Antonio/AL, também tem esta caracte-
rística.
Do ponto de vista mecânico, a transferência
do calor obtido da combustão é feita por
irradiação na própria fornalha e por convecção
no feixe tubular e demais partes da caldeira,
incluindo-se aqui o aquecedor de ar e eventual-
mente o economizador. As caldeiras moder-
nas sendo altas, proporcionam grande capa-
cidade de transferência por irradiação, pois
se adicionam paredes aletadas que proporcio-
nam grande superfície de captação do calor
irradiado. A transferência por irradiação tem
o mérito de desgastar menos a caldeira, pois
não exige velocidades do gás junto aos tubos
que estão recebendo o calor. Numa caldeira
pequena, antiga, não se tem grandes super-
fícies de irradiação e, muito calor é então
transferido por convecção, ou seja, pelo con-
tato do fluxo do gás quente na superfície do
acessório que está recebendo o calor.
Além das paredes d’água, os acessórios prin-
cipais de recuperação do calor gerado são o
aquecedor de ar (ou pré-aquecedor de ar) e o
economizador (ou pré-aquecedor de água). O
aquecedor de ar é o acessório preferido por
muitos especialistas, pois gera menos pro-
blemas mecânicos e influi positivamente na
reação de combustão, já que o ar quente
melhora a combustão. Ar primário, sob a
grelha, até 220°C, na maioria das vezes, não
causa problemas mecânicos nas grelhas e
acelera a combustão. O ar secundário, por
outro lado, poderia ter uma temperatura até
mais alta. A alternativa para a recuperação do
calor dos gases é a instalação do
economizador, onde o calor recuperado é
transferido diretamente para a água. Quando
normalmente antes dos gases passarem pelo
aquecedor de ar. Numa caldeira a bagaço tem
sido freqüente a instalação deste acessório
após o aquecedor de ar, o que, do ponto de
vista da combustão está correto, pois o
economizador passa a ser o último recuperador
do calor ainda disponível nos gases saindo da
caldeira, não prejudicando a obtenção da maior
temperatura possível no ar necessário. Numa
caldeira bem projetada, o calor retirado pela
irradiação faz a temperatura dos gases, saindo
do feixe tubular, descer a um nível que somen-
te a instalação do aquecedor de ar é suficiente
para recuperar todo o calor disponível nos
gases. Em caldeiras que não tenham esta habi-
lidade, a instalação do economizador depois
do aquecedor de ar pode ser uma alternativa
para melhorar a eficiência. A instalação de um
economizador após a aquecedor de ar, teori-
camente, não deveria influir na combustão em
si, pois ele é um elemento puramente de recu-
peração do calor remanescente nos gases sain-
do da caldeira; no entanto, tem sido observado
alguma melhoria na combustão e, ao nosso
ver, isto pode ser explicado pelo fato de que ao
se resfriar os gases, o exaustor ganha capaci-
dade e, assim, podendo-se admitir mais ar na
caldeira, ou ainda gerando uma menor neces-
sidade de bagaço para a mesma produção de
vapor na caldeira. O economizador é um equi-
pamento que deve merecer algum cuidado do
ponto de vista da qualidade da água que ali-
menta a caldeira; os produtos químicos injeta-
dos para o tratamento interno permanecem
algum tempo dentro da caldeira, podendo-se
dizer que há sempre um “estoque” de produ-
tos disponíveis para realizar as reações quí-
micas de proteção à caldeira. No
economizador não existe este estoque para
eventuais necessidades, e pode não haver a
proteção quando necessária. Assim, os
economizadores são peças críticas, sendo
tanto mais confiável quanto for a qualidade
da água que alimenta a caldeira. É por isso que
em muitos países, evita-se a instalação de
economizadores e prefere-se recuperar o má-
ximo da energia dos gases através dos aque-
cedores de ar.
Quando reformamos uma caldeira para obter
maior capacidade é importante analisar estes
fatores alinhados, para evitar frustrações pos-
teriores. Para uma dada condição de forna-
lha, chega-se a conclusão que a obtenção de
um aumento de capacidade passa pela redu-
ção da eficiência, e quando necessitamos
extrair o máximo de vapor do bagaço dispo-
nível (eficiência) então temos que operar a
caldeira numa capacidade mais moderada.
Parece complicado obter as duas coisas jun-
tas, a não ser que a caldeira tenha habilidade
para isto. Vale aqui lembrar que, por melhor
que seja o curso, ninguém aprende inglês em
duas semanas!