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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE MANICA

DIVISÃO DE AGRICULTURA
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

PROJECTO DE LICENCIATURA

Secagem ao ar livre de madeira de Brachystegia spiciformis (Messassa) na região centro


de Moçambique

Autor:
Marino Mário Gulamo

Supervisores:
Engo. Reinaldo Calçada Guina Luís (MSC)
Prof. Doutor Andrade Fernando Egas

Matsinho, Abril de 2015


Secagem ao ar livre de madeira de Brachystegia spiciformis (Messassa) na região centro
de Moçambique

Marino Mário Gulamo

Contactos: +258 847074525/ +258 825611180


gulamomario@gmail.com / marinogulamo@nokiamail.com

Projecto de Licenciatura apresentado


ao Instituto Superior Politécnico de
Manica, como Requisito principal para
Grau de Licenciatura em Engenharia
Florestal.

2
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Mário Gulamo e Lúcia Jamal José, pela aposta na minha formação.
Aos meus irmãos Paúlo que Deus o tenha, Dalú José, Cecília Gulamo, Francisco Gulamo e
Assissa Gulamo.
Aos meus sobrinhos.

i
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela força e saúde durante todo o percurso académico.

Aos meus supervisores Eng.º Reinaldo Luís e ao Professor Doutor Andrade Egas, pelos úteis,
valiosos e sábios ensinamentos que me transmitiram ao longo da elaboração deste estudo e
pelo apoio financeiro prestado para custear todo o processo de recolha de dados.

A serração ‗‗IMM‘‘, em especial ao Sro Castro por ter ajudado na recolha de dados.

Aos meus amigos inseparáveis Armando Machabai e Guidione Vinte pelo apoio moral
prestado.

A todo corpo docente do Curso de Engenharia Florestal do Instituto Superior Politécnico de


Manica pelos ensinamentos prestado durante todo o curso.

Aos colegas Ancha Jamal, Isabel Vidigal, Dálica Mussa, Nelson Marques, Zacarias Bero,
Eduardo Pereira, Walter Abel, Idelfonso Magalhães, Semo Siambeu, Paulo Tafadzua,
Cardoso Murririua, Viegas Estevão, Ismael Saide e Rosila da Costa que estiveram presente
nos momentos difíceis durante a minha formação.

Aos meus companheiros e colegas de residência que estiveram comigo durante todo percurso,
Dinis Kulei e Flávio da Silva.

O meu agradecimento é extensivo a todos que de uma forma direta ou indireta fizeram com
que este trabalho fosse possível.

MUITO OBRIGADO…

ii
RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a secagem ao ar livre da madeira de


Brachystegia spiciformis na região centro de Moçambique. Para o alcance deste objetivo
foram construídas 2 pilhas, sendo 1 na IMM na cidade da Beira e outra no CEFLOMA no
posto administrativo de Machipanda, as tábuas utilizadas tiveram espessura de 32 mm. As
pilhas foram construídas com madeira obtida a partir de estacas tratadas de 100 cm de altura,
Para arrumação as tábuas foram distribuídas aleatoriamente. O comprimento da pilha foi
determinado pelo próprio comprimento das tábuas, a largura da pilha foi de 100 cm, sendo a
altura total das pilhas de 1,80 cm (IMM) e 1,60 cm (CEFLOMA) e foram cobertas por chapas
de zinco, o controlo da humidade foi feito durante todo o período da secagem da madeira
onde de 15 em 15 dias eram registados os peso e a humidade. Os resultados mostram que os
indicadores de humidade para CEFLOMA em Machipanda e na IMM na Beira obterão
médias de 13,21 % alcançadas em 120 dias e 15,05 % alcançadas em 167 dias
respetivamente. Os gradientes de humidade foram de 0.08 % para Beira e 0.03 % para
Machipanda, os valores médios das rachaduras em Machipanda e na Beira encontrou-se 34
cm e 23.83 cm respetivamente e encurvamento em Machipanda e na Beira obterão médias de
0.32 e 5.79 mm respetivamente.

Palavras-chaves: Secagem; madeira; Tábuas; Defeitos; Brachystegia spiciformis; Beira;


Machipanda; pilha.

iii
LISTA DE ABREVIATURAS

ABIMCI _Associação brasileira da indústria de madeira processada mecanicamente


C _Celso
CEFLOMA -Centro Agro-Florestal de Machipanda
Cm _Centímetro
DNTF _Direção Nacional de Terras e Florestal
E _Este
etal _vários autores
GL _Grau de liberdade
IMM _Indústria Madeireira de Moçambique
Kg _Quilogramas
MAE _Ministério de Administração Estatal
N _Norte
No _Número
P _Páginas
P _Probabilidade
QM _Quadrado Médio
S _Sul
SQ _Soma dos quadrados
TU -Teor de Humidade
W _Oeste

iv
LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Classificação dos defeitos ...............................................................................24


TABELA 2. Valores médios das humidades finais das tábuas (%), por região ..................27
TABELA 3. Valores médios das rachaduras por região ......................................................31
TABELA 4. Valores médios do encurvamento nas regiões estudada .................................33

v
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Defeito do tipo encanoamento...........................................................................9


FIGURA 2. Defeito do tipo arqueamento e encurvamento................................................10
FIGURA 3. Defeito do tipo Rachadura...............................................................................11
FIGURA 4. Empilhamento plano com separadores ............................................................12
FIGURA 5. Empilhamento tipo tesoura..............................................................................13
FIGURA 6. Empilhamento tipo tesoura..............................................................................14
FIGURA 7. Comportamento da madeira com relação a presença de esforços (a=livre de
esforços; b=com encruamento; c=com encruamento reverso)..................................................16
FIGURA 8. Mapa de localização da área de estudo ‗‗ posto administrativo de
machipanda‘‘….........................................................................................................................17
FIGURA 9. Mapa de localização da área de estudo ‗‗ cidade da beira‘‘ ............................18
FIGURA 10. Esquema de localização de tábuas laterais e centrais no toro; l – região de
tábuas laterais; c – região de tábuas centrais ............................................................................20
FIGURA 11. Estrutura que serviram da base para a pilha ....................................................21
FIGURA 12. Silagem dos topos das tábuas ..........................................................................22
FIGURA 13. Peso sobre as tábuas ........................................................................................22
FIGURA 14. Cobertura da pilha com chapas de zinco .........................................................23
FIGURA 15. Registo de dados, pesagem das tabuas ............................................................23
FIGURA 16. Medição do encurvamento das tábuas .............................................................24
FIGURA 17. Amostras para medição de humidade, Gradiente de humidade e Teste de
garfo………….. ........................................................................................................................25
FIGURA 18. Corte da amostra para a determinação do gradiente de humidade ..................25
FIGURA 19. Corte para determinação do teste de garfo ......................................................26
FIGURA 20. Humidade média das amostras de controle durante o processo de secagem ao
ar livre na beira e em machipanda ..............................................................................................8
FIGURA 21. Distribuiçao horizontal das humidades na pilha .............................................29
FIGURA 22. Teste de garfo. A – MACHIPANDA; B – BEIRA ........................................30
FIGURA 23. Carteira produzida com madeira de messassa seca ao ar livre ........................33

vi
LISTA DE ANEXO

ANEXO 1. Analise de variância……………………………………………………………..40


ANEXO 2.Layout da posição das tábuas na pilha…………………………………….……..41
ANEXO 3. Materiais utilizados no estudo…………………………………………………..42
ANEXO 4. Ficha de recolha de dados……………………………………………………….43

vii
Conteúdos Páginas

DEDICATÓRIA ................................................................................................... i
AGRADECIMENTOS ....................................................................................... ii
RESUMO…. ....................................................................................................... iii
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 1
1.1 Problema do estudo ..................................................................................................... 3

1.1.1 Importância do estudo .......................................................................................... 3

1.2 Objetivos ..................................................................................................................... 3

1.2.1 Geral ..................................................................................................................... 3

1.2.2 Específicos ........................................................................................................... 4

1.2.3 Limitações do estudo ........................................................................................... 4

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 5


2.1 Descrição da espécie ................................................................................................... 5

2.2 Madeira........................................................................................................................ 5

2.3 Secagem da madeira .................................................................................................... 6

2.3.1 Secagem da madeira ao ar livre ........................................................................... 6

2.3.2 Aspetos que influência na secagem da madeira ao ar livre ................................. 7

2.3.3 Defeitos da secagem ............................................................................................ 9

2.3.4 Vantagens e limitações da secagem da madeira ao ar livre ............................... 11

2.3.5 Velocidade da secagem da madeira ao ar livre .................................................. 12

2.3.6 Tipos de empilhamento de secagem da madeira ao ar livre .............................. 12

2.3.7 Importância da secagem da madeira .................................................................. 14

2.3.8 Gradiente de humidade ...................................................................................... 14

2.3.9 Tensões de secagem ........................................................................................... 15

2.3.10 Uso da madeira de Messassa.............................................................................. 16

2.4 Separadores ............................................................................................................... 16

3 METODOLOGIA ....................................................................................... 17

viii
3.1 Descrição da área do estudo ...................................................................................... 17

3.1.1 Posto administrativo de Machipanda ................................................................. 17

3.1.2 Cidade da beira .................................................................................................. 18

3.2 Amostragem .............................................................................................................. 19

3.3 Codificação das tábuas .............................................................................................. 19

3.4 Características das pilhas .......................................................................................... 20

3.5 Construção das pilhas ................................................................................................ 21

3.6 Processo de secagem ................................................................................................. 23

3.7 Avaliação dos defeitos .............................................................................................. 23

3.8 Avaliação da qualidade de secagem .......................................................................... 24

3.9 Processamento de dados ............................................................................................ 26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 27
4.1 Tempo de secagem da madeira ................................................................................. 27

4.1.1 Valores de humidade.......................................................................................... 27

4.1.2 Tempo de secagem da madeira .......................................................................... 28

4.1.3 Distribuição da humidade na pilha .................................................................... 28

4.2 Qualidade de secagem ............................................................................................... 29

4.2.1 Teste de garfo ..................................................................................................... 29

4.2.2 Gradiente de humidade ...................................................................................... 30

4.3 Defeitos pós secagem ................................................................................................ 31

4.3.1 Rachaduras ......................................................................................................... 31

4.3.2 Encurvamento .................................................................................................... 32

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................ 34


6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 35

ix
1 INTRODUÇÃO

A exploração massiva das espécies madeireiras pertencentes a primeira classe vem


diminuindo consideravelmente o seu volume. A utilização de espécies de segunda classe
apresenta-se como alternativa de substituição a muitas espécies de primeira já quase em
extinção em Moçambique.

Sendo assim, a Brachystegia spiciformis (Messassa), é uma espécie madeireira pertencente a


segunda classe em Moçambique, devido as suas propriedades tecnológicas é utilizado para o
fabrico de mobiliário escolar, travessas, colmeias, decoração de casas e teto, obstante e
apresenta maior volume comercial segundo os últimos dados do inventário florestal nacional
de DNTF (2008).

Porém, o uso da Messassa com alto teor de humidade têm trazido grandes problemas para os
fabricantes de carteira como por exemplo a fixação de verniz, colocação da cola, variação
dimensional e a trabalhabilidade da madeira. A secagem quer ao ar livre ou em câmara de
secagem, contribui para ultrapassar estes constrangimentos e permite a fabricação de
produtos com melhor qualidade, abrindo assim possibilidades para uma ampla e eficiente
utilização da madeira no mercado interno e para a exportação (SANTINI 1999).

A secagem da madeira é definida como uma técnica que visa a redução da humidade a um
determinado ponto com o mínimo de defeitos e no menor tempo possível. Ao ar livre é o
método mais antigo, onde a madeira é exposta à ação de fatores ambientais, nomeadamente
temperatura, humidade relativa e circulação do ar. Este método baseia-se em regras empíricas
que foram sofrendo modificações ao longo do tempo permitindo melhorias significativas
(NOVES e SECO, 1992).

No entanto, a secagem da madeira é fundamental no processo produtivo de uma indústria


madeireira, ela é responsável por maior parte do valor do produto final, mas é também uma
das ações que mais contribui para o aumento dos custos no processo de transformação. Por
esta razão a busca de melhor eficiência na secagem da madeira deve ser procurada. A
secagem adequada da madeira irá ajudar na redução dos custos de produção e na qualidade
do produto final.

1
De acordo com KLITZKE (2009), a duração da secagem ao ar livre é relativamente longa e
depende das características da espécie, das condições climáticas, da forma de empilhamento e
da disposição e da formação do pátio de secagem. Quanto maior for a temperatura e menor
for a humidade relativa, maior será a velocidade de secagem, razão pela qual, mantendo
constante a temperatura, a velocidade de secagem de madeira é maior em microclimas secos
características de zonas interior em relação a microclimas húmidos predominantes em zonas
litorais. Resultados de trabalhos apresentados por NOVES e SECO (1992) indicam intervalos
de duração entre 1 e 5 meses na secagem de tábuas de 27 mm de espessura de diferentes
espécies Europeias para atingirem 20 % de humidade a partir do estado verde.

O método de secagem ao ar livre, apesar de certos inconvenientes como a longa duração do


processo, quando estabelecido obedecendo regras básicas para condições específicas
(secagem ao ar livre padronizada), oferece melhores resultados que as práticas improvisadas
de secagem ao ar livre, quando se pretende atingir teores de humidade de 16-18 %.

Assim, pretende-se com o estudo avaliar as influências das condições climáticas na secagem
solar da madeira de Brachystegia spiciformis na região centro de Moçambique. Os locais
possuem diversidades climáticas que influência na secagem da madeira ao ar livre, a cidade
da Beira é predominada pelo clima tropical húmido, proporcionando a existência de várias
indústrias madeireira que procuram escoamento do seu produto pelo porto da Beira. O posto
administrativo de Machipanda esta localizado numa zona montanhosa, proporcionando
temperatura e humidade relativa do ar baixa, fazendo vizinho com os países do interland
havendo uma facilidade para a entrada das indústrias madeireira nesses mercados.

2
1.1 Problema do estudo

Os padrões de qualidade exigidos pelo mercado consumidor tendem a ser cada vez maiores,
exigindo madeira seca a teores de humidade desejado. Para tal, o entendimento da secagem é
fundamental para o desenvolvimento da indústria de produtos de madeira, sendo impossível a
obtenção de produtos com qualidade de nível internacional, se a madeira não é seca
adequadamente torna-se uma condição determinante para o fracasso desta operação comercial
(KLITZKE, 2009). Atualmente a maior parte das empresas fazem a secagem ao ar livre, mas
de forma não padronizada, comprometendo deste modo a qualidade do produto final e a
eficiência do processo.

Deste modo a falta do conhecimento adequado da região onde se pode proceder a secagem da
madeira em curto espaço de tempo, proporcionando produto final de boa qualidade, com
pouco defeitos e com mínimo de investimento possível constituem um desafio para as
indústrias madeireira da região Centro.

1.1.1 Importância do estudo

Com o conhecimento tecnológico de como a secagem da madeira ocorre ao ar livre da


espécie Brachystegia spiciformis nos locais estudado, fornecerá as empresas madeireiras e
aos utilizadores deste produto ferramentas necessária para a secagem desta em condições
climáticas destas regiões, deste modo podendo melhorar o seu produto final e em simultâneo
melhorar a rentabilidade dos seus investimentos.

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

 Avaliar a secagem ao ar livre da madeira de Brachystegia spiciformis na região


Centro de Moçambique.

3
1.2.2 Específicos

 Determinar o tempo de secagem da madeira nas duas regiões de estudo;


 Avaliar a qualidade da secagem;
 Identificar os defeitos pós secagem.

1.2.3 Limitações do estudo

Para o estudo, o programado seria a construção de pilhas com o mesmo número de tábuas nos
dois locais, devido a falta de recursos para o transporte de madeira da Beira para Machipanda
o mesmo não foi possível.

4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Descrição da espécie

A população de Brachystegia spiciformis foi descoberta nas montanhas Soutpansberg do


norte da África do Sul. Sendo uma das espécies protegidas na África do Sul. A altura das
árvores chega aos 16 m, com muitas ramificações e apresenta folhas médias e cacho pequeno
perfumado de flores verdes. A árvore é larga e têm uma cor âmbar e vinho vermelho
distintivo quando jovens. A madeira é durável, apresentando cor marrom pálido e pesado. Ela
cresce em savana, tanto em florestas abertas e florestas fechadas da África Austral e Oriental,
principalmente em Tanzânia, Malawi e Moçambique (DRESSLER & ZIZKA, 2013).

A área de maior ocorrência encontra-se em Tanzânia (5o S) e em Moçambique apenas fora


dos trópicos (25o S). Para o seu bom crescimento necessita de uma humidade seca, a
precipitação mínima situa-se nos 500 mm e a temperatura média anual varia de 19 a 21o C
(DRESSLER & ZIZKA, 2013).

A espécie Brachystegia spiciformis pertencente a 2a classe, muito predominante em floresta


de Miombo. Tendo como zonas de maior ocorrência em Moçambique na região Norte e
Centro (DNT, 2002).

2.2 Madeira

BESSA (2009), argumenta que a madeira é um material natural heterogéneo que apresenta
grande diversidade no aspecto geral macroscópico e microscópico, na composição química,
nas propriedades físicas, mecânicas e na durabilidade, que resultam diferentes aptidões
tecnológicas e consequentemente diversas utilizações possíveis, mais para TAKESHITA
(2011), madeira é um material com fibras altamente resistentes e unidades fibro-tubulares
composta por diferentes arranjos celulares, do ponto de vista comercial a madeira somente é
encontrada em árvores com altura superior a 6 metros.

5
2.3 Secagem da madeira

Secagem da madeira é o processo da redução do teor de humidade a fim de leva-la a um teor


de humidade definido, com o mínimo de defeitos, no menor tempo e de uma forma
economicamente viável, para o uso a que se destina (MARTINS, 1988), para SILVA et.al.
(2009), a secagem da madeira é a evaporação da humidade superficial, que é absorvida pela
atmosfera local e ao mesmo tempo, a movimentação da humidade interior para as zonas
superficiais.

Conforme ABIMCI (2004), a madeira pode ser secada de diferentes maneiras: secagem
artificial, secagem ao ar livre e secagem convencional. SANTINI (1999), afirma que as
diferentes formas de secagem da madeira são: secagem ao ar livre, secagem a baixa
temperatura, desumidificação, secagem solar, pré-secadores, secagem convencional, secagem
a alta temperatura e secagem a vácuo.

2.3.1 Secagem da madeira ao ar livre

Conforme PONCE e WATAI (1985), a maneira mais simples de secar a madeira é através de
sua exposição ao ar livre. Esse processo é bastante rápido no início, isto é, quando a madeira
apresenta humidade elevada. Quando a humidade da madeira aproxima-se da humidade de
equilíbrio, dependendo da temperatura e da humidade relativa do ambiente, a secagem ao ar
livre pode tornar-se bastante lenta.

A secagem ao ar livre é obtida pela exposição ao ar da madeira empilhada de maneira


adequada. A humidade relativa do ar e a intensidade de sua movimentação são fatores muito
importantes na eficiência da secagem da madeira. A madeira quando adequadamente exposta
ao ar livre, seca mais rapidamente quando a temperatura é alta, a humidade relativa do ar é
baixa e o movimento do ar faz-se através das peças (PONCE e WATAI, 1985). Para
(MARTINS, 1988), secagem da madeira ao ar livre consiste em empilhar convenientemente a
madeira em local ventilado e preferencialmente coberto, a fim de evitar a incidência dos raios
solares e da chuva, fazendo-se o controle do teor de humidade em intervalos regulares até que
este atinja o valor desejado, que estará em função do uso final a que a madeira se destina ou
até onde as condições climáticas da região permitirem.

6
2.3.2 Aspetos que influência na secagem da madeira ao ar livre

O tempo entre o início da secagem da madeira verde e a obtenção da humidade desejada


depende de fatores que envolvem as características da própria madeira, da pilha do pátio e
das condições climáticas.

Aspetos inerente a madeira

Espessura da madeira
A rapidez de secagem é afetada pela taxa de remoção da água capilar e livres. A espessura
influência muito no tempo da secagem da madeira se a secagem não for conduzida com os
seus devidos efeitos. Quanto maior a espessura de uma madeira maior é o tempo de secagem
desta madeira. Quando se prepara a madeira para a secagem deve-se ter muito em conta a
espessura evitando que peças de espessuras diferentes se misturam mesmo que sejam da
mesma espécie (STEIN, 2003).

Madeira
Algumas madeiras secam mais rapidamente que outras sob as mesmas condições.
Normalmente as folhosas precisam de mais tempos que as coníferas para secar, o peso
especifico da madeira é um bom indicador da sua velocidade de secagem, madeiras mais
densas levam mais tempo para secar que as madeiras mais leves. O peso específico está muito
relacionado com a permeabilidade, que é um dos fatores intrínsecos da madeira que
influenciam na secagem (MARTINS, 1988).

Direção das fibras


A madeira seca mais rapidamente na direção longitudinal que na transversal, em
consequência da estrutura anatómica da madeira ser mas favorável a circulação da humidade
no sentido longitudinal (MENDES, 1997 e STEIN, 2003). O fluxo de humidade no sentido
longitudinal é 10 a 15 vezes maior que no transversal (radial ou tangencial) sendo que esse
fluxo é de 20 a 50% maior no sentido radial que no tangencial (MARTINS, 1988)

Cerne e borne
Conforme MARTINS (1988) O borne, tanto em folhosas como em coníferas, seca mais
rápido que o cerne devido a sua alta permeabilidade, apesar que o borne sempre têm um teor

7
de humidade mais alto que do cerne. A menor permeabilidade do cerne é devida ao fato de
que os extrativos obstruem as pequenas aberturas existentes nas paredes das células que o
compõem. Conforme (STEIN, 2003) entre os diferentes tipos de madeira destaca-se as
denominadas madeiras de cerne e as de alburno, cada uma delas apresentando maior ou
menor velocidade de secagem. Geralmente o alburno apresenta maior velocidade de secagem
que o cerne. Deve-se considerar ainda a proporção entre a madeira de primavera e a de verão.

Condições climáticas da região

Temperatura
Segundo MARTINS (1988) quanto maior a temperatura, maior a velocidade de secagem. No
entanto durante a retirada da água livre não é necessário utilizar temperaturas elevadas, pois o
efeito do aquecimento não aumenta significativamente a taxa de secagem nessa fase. O
aumento da temperatura influência na humidade relativa do ar acelerando a difusão,
responsável pela retirada da água presa (abaixo de 30 %). SANTINI (1999), explica que de
um modo geral a temperatura influência e muito na secagem da madeira, sendo que, quanto
maior for a temperatura de um determinado local, maior será a taxa de secagem da madeira
neste local.

Humidade relativa do ar
MELO (2005), enfatiza que quanto menor à humidade do ar de um determinado local, faz
com que a secagem da madeira neste local seja mas rápida do que em locais em que têm uma
maior humidade relativa do ar. Para MARTINS (1988) a humidade relativa do ar é a razão
entre a quantidade de vapor de água contida num determinado volume de ar e a quantidade
máxima de vapor de água que este mesmo volume poderá conter, na mesma temperatura.
Portanto quanto maior a temperatura maior a quantidade de água que o ar poderá conter,
acelerando assim a evaporação na superfície da madeira e estimulando a retirada da
humidade. (STEIN, 2003) a humidade relativa do ar, ou seja, o grau higrométrico é a relação
expressa em percentagem, entre o peso de vapor de água contido na humidade de volume do
ar e o peso do vapor de água, que seria necessário para saturar 100% do mesmo volume de ar,
à mesma temperatura. Desde que a temperatura se mantenha constante, um abaixamento do
grau higrométrico resulta num aumento da velocidade de secagem.

8
Velocidade do ar
A circulação do ar é importante na remoção desse ar, substituindo o ar com alta humidade por
ar seco dando sequência a secagem e na distribuição homogénea do calor por toda a pilha,
transferindo energia para a superfície da madeira (SANTINI, 1999).
Para MARTINS (1988) conforme o ar em volta da madeira vai absorvendo humidade, este irá
perdendo o seu poder de absorção, se não for substituído, tenderá a um equilíbrio que fará
desaparecer o fluxo de transferência da humidade da madeira para o ar.

2.3.3 Defeitos da secagem

JANKOWSKY e GALINA (2013), da entender que os defeitos que surgem após a secagem
são causados pelas características da própria madeira e da própria tábua, os defeitos começam
a aparecer quando a madeira começa a perder à água, durante este processo esses defeitos
podem aumentar ou diminuir dependendo da forma que ela vai perdendo a humidade.

Encanoamento
É um tipo de empenamento das peças de madeira quando as arestas ou bordas longitudinais
não se encontram no mesmo nível que à zona central, se reconhece quando ao colocar a peça
de madeira sobre uma superfície plana, apoiará à parte central da tábua ficando os bordos
levantados, apresentando um aspeto curvo (KLITZKE, 2009). É causado pela maior
contração paralela aos anéis de crescimento em relação à contração perpendicular. Ocorre
preferencialmente em tábuas retiradas tangencialmente ao toro (MARTINS, 1988).

FIGURA 1. DEFEITO DO TIPO ENCANOAMENTO


Fonte: Fonte: SANTINI, 1999

9
Arqueamento e o encurvamento
São causados pela diferença na contração longitudinal entre duas faces opostas, da mesma
peça de madeira. A parte mais central do toro se contrai mais longitudinalmente, que à da
parte externa, causando esses tipos de empenos (KLITZKE, 2009).

FIGURA 2. DEFEITO DO TIPO ARQUEAMENTO E ENCURVAMENTO


Fonte: SANTINI, 1999

Colapso
Este defeito ocorre quando é exercida uma força da tensão capilar fazendo com que à
resistência não suporte a compressão perpendicular a grã da parede celular que ocorre quando
a movimentação dos meniscos pelas pontuações da parede celular. Este defeito ocorre em
muitas das vezes quando à secagem é muito rápida com elevado teor de humidade na
madeira. (SANTINI, 1999 e KLITZKE, 2009). O colapso caracteriza-se por ondulações nas
superfícies da peça de madeira, que pode apresentar-se bastante distorcida. O colapso é
basicamente ocasionado por forças geradas durante a movimentação da água capilar, as quais
deformam as células. O colapso aparece quando a tensão desenvolvida durante a saída da
água capilar supera a resistência da madeira à compressão. De forma geral, os fatores que
influencia no colapso da madeira são: pequeno diâmetro dos capilares; altas temperaturas no
início da secagem; baixa densidade da madeira e alta tensão superficial do líquido que é
removido da madeira. A presença de bolhas de ar na água capilar diminui a possibilidade do
colapso (MORH, 2010).

Rachaduras
Rachaduras são os alargamentos das unidades que formam a madeira, afetado por um grande
trabalho efetuado no processo de secagem. Esses esforços resultam da diferença de humidade
normalmente existente entre a extremidade e o centro da madeira. Quando a madeira começa
a perder a água, a humidade dentro da madeira fica menor que no centro, à humidade da

10
superfície fica à baixo do PSF e começa a contração da madeira, a humidade no meio da peça
é maior que ao PSF, por esta razão não ocorre a alteração das dimensões e nem contrai-se
(SANTINI, 1999). Rachaduras nos extremos das peças (rachas de topo) são causadas devido
à secagem rápida dessas partes em relação ao resto. Os extremos começam a contrair
rapidamente e como o restante da peça não acompanha, ocorrem as rachaduras que, em casos
mais sérios, podem transformar-se em verdadeiras fendas causando grandes perdas de
madeira (MARTINS, 1988).

FIGURA 3. DEFEITO DO TIPO RACHADURA


Fonte: SANTINI, 1999

2.3.4 Vantagens e limitações da secagem da madeira ao ar livre

A principal vantagem da secagem ao ar livre sobre os demais métodos é o baixo custo com o
investimento inicial. O investimento se resume na preparação do pátio, confeção das ripas,
separadores e fundações apropriadas. Aliado a este fato, as necessidades de energia
requeridas para o empilhamento são muito baixas (KLITZKE, 2009).

As limitações da secagem ao ar livre estão geralmente associadas a sua dependência das


condições atmosféricas. O processo é mais favorável quando a temperatura e insolação são
maiores, quando ocorre menor humidade relativa do ar, baixas precipitações e com maior
circulação do ar. Nos períodos menos favoráveis, o longo tempo de secagem favorece o
desenvolvimento de fungos, principalmente em madeiras propensas a manchas. Todavia, as
principais limitações deste método estão relacionadas ao seu custo na forma de juros sobre
capital, e a dificuldade de se obter madeira com teor de humidade suficientemente baixo para
algumas utilizações (SANTINI, 1999).

11
2.3.5 Velocidade da secagem da madeira ao ar livre

Conforme JANKOWSKY (1990), o tempo entre o início da secagem da madeira verde e a


obtenção da humidade desejada depende de fatores que envolvem as características da
própria madeira, da pilha, do pátio e das condições climáticas. A perda da humidade no início
do processo é bastante rápida, por exemplo: o tempo necessário para secar um lote de
madeira ao ar livre de 60 para 40 % é muito menor do que o tempo de secagem de 40 para 20
%.

2.3.6 Tipos de empilhamento de secagem da madeira ao ar livre

Conforme a maneira de executar o empilhamento é um fator básico para secagem ao ar.


Diferentes tipos de empilhamento permitem aumentar a amplitude do controle sobre a
secagem, que é eliminada quando processada ao ar. Os principais tipos de empilhamento são:

Empilhamento plano com separadores


Este método é o mais utilizado, também conhecido por pilha gradeada. Neste tipo de pilha
cada camada de peças de madeira justapostas é separada de outra por separadores. O
treinamento para operários é muito importante, para que as pilhas sejam feitas de acordo com
as recomendações técnicas e em tempo relativamente curto (KLITZKE 2009), como mostra a
figura a abaixo.

FIGURA 4. EMPILHAMENTO PLANO COM SEPARADORES


Fonte: MARTIS, 1988

12
O empilhamento em gaiola
Este tipo de empilhamento é o indicado para madeiras fáceis de secar e de pequena espessura,
e quando não se tem compromisso com a qualidade. As gaiolas podem ser triangulares ou
quadradas, sendo cada camada formada por duas ou três peças. A vantagem deste método é
que pode ser executada por um só Homem, além de não necessitar de separadores. Uma
desvantagem é a grande área de contacto entre as tábuas retardando a secagem nestas regiões
(KLITZKE 2009). Enquanto MARTINS (1988), o método padrão de empilhamento é aquele
em que as tábuas pré-selecionadas são colocadas lado a lado formando camadas superpostas.
Entre uma camada e outra colocam-se separadores, para permitir a passagem do ar entre as
tábuas e retirar a humidade da madeira. Os separadores devem ser de madeira seca e sem
empenos. Em lugares húmidos usam-se separadores mais espessos para acelerar a secagem
(até uma vez e meia a espessura das tábuas). Em lugares secos procede-se inversamente
reduzindo-se a espessura dos separadores. É importante que no empilhamento os separadores
fiquem alinhados verticalmente, um na mesma direção do outro, para que haja uma boa
distribuição do peso, evitando empenos nas tábuas, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 5. EMPILHAMENTO TIPO TESOURA


Fonte: KLITZKE, 2009

Empilhamento tipo tesoura


MARTINS (1988), o empilhamento tipo tesoura é muito usado em regiões tropicais. Consiste
em dispor as peças de forma inclinada, apoiadas a uma estrutura de madeira. É muito
utilizada em lugares húmidos, principalmente como pré-secagem, devido a alta velocidade de
secagem que apresenta. Além disso, a montagem é bastante rápida quando as armações já
estão prontas e dispensa a colocação de separadores, pois estes já fazem parte da armação.
Apresenta desvantagens tais como: tendência a empenos como torcedura e arqueamento; a
parte superior da peça seca mais rápido que a inferior causando desuniformidade de

13
humidade ao longo da peça. Quanto à distribuição das pilhas no pátio, existe uma influência
tanto na direção predominante do vento como da distância entre as pilhas. Reduzindo-se o
espaço entre as pilhas aumenta-se o tempo de secagem, ocorrendo o contrário quando essa
distância é aumentada. Quando as pilhas são colocadas com o seu comprimento
perpendicular à direção. A madeira é colocada em posição inclinada, apoiando uma das
extremidades sobre um piso horizontal cerca de 20cm do solo e um canto encostado em outro
suporte a 2 ou 3 metros de altura, conforme a figura abaixo (KLITZKE 2009).

FIGURA 6. EMPILHAMENTO TIPO TESOURA


Fonte: KLITZKE, 2009

2.3.7 Importância da secagem da madeira

A secagem faz com que a madeira fica com um peso menor em relação ao peso inicial,
facilitando assim o manuseio e o transporte da madeira, consequentemente os seus custos no
transporte irá diminuir. Com a secagem da madeira ela fica com uma maior durabilidade
mecânica. Ela fica mais resistente com o ataque de muitos fungos, pragas e apodrecedores e
garante uma melhor trabalhabilidade da madeira (ALBURQUERQUE, 1995 e MARTINS,
1999).

2.3.8 Gradiente de humidade

Somente em madeira recém cortada se encontra uma distribuição mais ou menos uniforme do
conteúdo de humidade através da seção transversal de uma peça. Quando começa a secagem,
a distribuição da humidade no interior da peça se modifica. De forma simples pode-se
explicar a secagem da madeira como um resultado do movimento da humidade desde o
interior até a superfície. Ao colocar uma peça de madeira húmida em contacto com um

14
ambiente seco inicia-se a evaporação da água presente nas superficiais, enquanto no seu
interior permanece ainda húmida. A diferença entre o teor de humidade do centro da peça e
da superfície denomina-se gradiente de humidade, significando que quanto maior a diferença
entre o teor de humidade da superfície e do centro, mais elevado é o gradiente de humidade,
quer dizer que quanto maior a diferença entre o teor de humidade da superfície e do centro,
mais rapidamente secará a madeira e inversamente, se o gradiente for baixo, o tempo de
secagem aumentará causando um aumento nos custos de secagem (KLITZKE, 2009).

2.3.9 Tensões de secagem

Segundo SANTINI (1999), a presença de tensões internas na madeira seca pode ser detetada
no final da secagem por meio do teste de garfo ou de tensão. O método usualmente
empregado para avaliar o equilíbrio entre os esforços existentes nas extremidades e no centro
da peça, que consiste na extração de um pequeno corpo de prova de aproximadamente 12 a
25 mm ao longo da direção do grã, de um local relativamente afastado da extremidade. Para
eliminar esforços residuais de contração devidos exclusivamente às diferenças de humidade
entre a extremidade e o centro, as amostras devem permanecer dentro de uma sala
climatizada por aproximadamente um dia, para que ocorra a igualização do teor de humidade
da madeira.

A verificação da existência de esforços nas amostras é visualizada pela posição assumida


pelos garfos após sua climatização. Sabe-se que madeira submetida a esforços de tração se
retrai, enquanto madeira sob compressão se expande ou dilata. Garfos retos indicam a
ausência de esforços, permite que a madeira seja resserada e industrializada sem o risco de
surgir empenamentos. Se os garfos assumirem um encurvamento para dentro, em direção ao
centro da peça, indica a existência de encruamento, o qual precisa ser removido antes da
madeira ser processada. Se no final do período de secagem for detetada uma condição de
encruamento que poderia dificultar o processo de industrialização, só é possível aplicar um
tratamento em caso de secagem na estufa, visando o alívio dos esforços presentes na madeira.
Esse tratamento consiste em aumentar a temperatura e a humidade relativa dentro da estufa
de secagem, mantendo-se essas condições durante um período de tempo suficiente para que
os esforços de tração e compressão se anulem (SANTINI 1999).

15
FIGURA 7. COMPORTAMENTO DA MADEIRA COM RELAÇÃO A PRESENÇA
DE ESFORÇOS (A=LIVRE DEESFORÇOS; B=COM ENCRUAMENTO;
C=COM ENCRUAMENTO REVERSO).
Fonte: SANTINI, 1999

2.3.10 Uso da madeira de Messassa

A madeira de Messassa não é só utilizado para os artigos ou móveis, no entanto é também


amplamente utilizado para o combustível, tanto para carvão assim como lenha. É muito
utlizado para o fabrico de colmeia e por vezes para o fabrico de barcos e construção no geral.
Ela é considerada como sendo um efeito geral para decoração interior (DRESSLER &
ZIZKA, 2013). Em Moçambique ela é muito usada para o fabrico de travessas e carteiras.

2.4 Separadores

São peças utilizadas no empilhamento para separar as camadas do material em secagem de


maneira a deixar espaços onde o ar possa circular durante o processo de retirada da
humidade. Os separadores devem ser obtidos de madeiras estáveis e duras, de grã reta e
isentas de defeitos. Antes de utilizados devem ser secos e empilhados longe do solo, apoiado
para não deformarem e sua secção transversal deverá ser uniforme em todo seu comprimento.
A distância entre os separadores está em função da espessura das peças, quanto mais finas,
menor deverá ser a distância entre os separadores para evitar deformações. Nas áreas de
contacto dos separadores com as peças a secagem é retardada, portanto não é necessário usar
mais separadores do que o necessário (KLITZKE, 2009).

16
3 METODOLOGIA

3.1 Descrição da área do estudo

O estudo foi realizado na zona centro de Moçambique em duas regiões destintas


nomeadamente o posto administrativo de Machipanda e a cidade da Beira.

3.1.1 Posto administrativo de Machipanda

A figura 8 mostra a localização da área de estudo no Posto administrativo de Machipanda.

FIGURA 8. MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ‗‗ POSTO ADMINISTRATIVO


DE MACHIPANDA‘‘

O posto administrativo de Machipanda localiza-se no distrito de Manica, província do mesmo


nome, fazendo fronteira com Zimbabwe. Situa-se a uma latitude meridional variando de 18o
55‘45‖ a 18o 57‘56‖ e longitude oriental entre os 32o41‘52‖ e 32o44‘17‖. Estando a um nível
de altitude que chega aos 1500 à 2000 m a nível do mar. O clima da região é do tipo
temperado húmido, com temperatura média anual do distrito de 21,2o C a média anual no
verão é de 28,4o C, com valores extremos de 30,9o C (Outubro) e a média anual no inverno é

17
de 14o C com valores mensais extremos de 18,5o C (Fevereiro) e 7,3o C (Julho) de mínima, a
Precipitação da região montanhosa de Machipanda regista valores médios anuais na ordem
dos 1000 à 1200 mm. Em geral a distribuição da chuva é irregular ao longo do ano, tendo
duas estacões distintas, a estação chuvosa e a seca, sendo que a evapotranspiração média
anual é de 1220-1290 mm. A humidade relativa do ar é muito baixa (MAE, 2005).

3.1.2 Cidade da beira

A figura 9 mostra a localização da área de estudo na Cidade da Beira

FIGURA 9. MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ‗‗ CIDADE DA BEIRA‘‘

A cidade da Beira localiza-se na província de Sofala, fazendo limite a norte com o distrito de
Dondo e a sul pelo oceano Índico, com as coordenadas 19o 30‘ e 19o 52‘ Sul e meridianos 34o
30‘ e 35o 10 este‘. Estando a uma altitude média de 11 m acima do nível do mar. O clima da
região é do tipo tropical chuvoso, com temperatura média anual da cidade de 25o C com
média anual no verão de 28,4o C, valores extremos de 35,2o C (Novembro e Dezembro) e a
média anual no inverno é de 20o C, sendo Julho o mês mais frio, a precipitação da cidade da
beira regista valores médios anuais na ordem dos 1200 à 1800. A humidade relativa do ar na
cidade da Beira apresenta uma média anual de 70,1 %, sendo Setembro Fevereiro e Julho os

18
que apresentam valores de humidade acima dos 73 % em quanto que os meses de Setembro e
Outubro são os que apresentam valores inferiores a 70 % (MAE, 2005).

3.2 Amostragem

Para a realização deste trabalho foram usadas 50 tabuas obtidas imediatamente após a
serragem de 11 toros de Brachystegia spiciformis (Messassa) na empresa Indústria
Madeireira de Moçambique (IMM). Para cada toro foram selecionadas todas as tábuas de boa
qualidade e o número total de peças selecionadas foram determinados pelo diâmetro e
qualidade do toro.

3.3 Codificação das tábuas

As tabuas de cada toro foram codificadas de modo a permitir a identificação de peças laterais
e centrais e para o melhor controlo durante todo o processo de secagem. Foram codificadas
mediante o número de toro presente no caderno de registo da empresa IMM, onde a primeira
tábua a ser serrada recebeu o número de toro seguido o número 1, exemplo 172-1, 172-4,
172-10 neste caso se o número de toro for 172 assim sucessivamente. A segunda ou a terceira
tábua dependendo do diâmetro do toro recebeu o número do toro, seguida a letra L1 que
significa primeira lateral e por fim o número da tábua, por exemplo 172L1-3, neste caso se
for a terceira tábua, as duas tábuas mediana receberam número do toro seguido C1 e C2
respetivamente que significa central um e dois e o número da tábua como por exemplo
172C1-8 e 172C2-9. Por fim a penúltima tábua recebeu número de toro seguida L2 que
significa segunda lateral do toro seguida do número da tábua, exemplo172L2-16, como
mostra a figura 10.
As tabuas com a codificação L1, L2,C1 e C2 serviram como amostra para poder controlar a
perda de humidade durante todo o processo de secagem da madeira.

19
FIGURA 10. ESQUEMA DE LOCALIZAÇÃO DE TÁBUAS LATERAIS E CENTRAIS NO TORO;
L – REGIÃO DE TÁBUAS LATERAIS; C – REGIÃO DE TÁBUAS CENTRAIS

Antes da formação das pilhas registou-se os pesos de todas tábuas, como variável de controlo
do processo de secagem. Cada toro foram selecionadas igualmente duas peças laterais (uma
de cada lado) e duas peças centrais para a retirada de dois corpos de prova nas suas
extremidades para a determinação da humidade inicial; esta operação excluiu o toro no 11 do
qual foi obtida apenas uma tábua para completar o número de tábuas necessárias para o
ensaio. Para o cálculo da humidade das amostras utilizou-se o método de gravimétrico.

3.4 Características das pilhas

Para o presente estudo foram construídas 2 pilhas, sendo uma nas instalações da Indústria
Madeireira de Moçambique (IMM) na cidade da Beira em Sofala, e uma no Centro Agro-
florestal de Machipanda (CEFLOMA) no Posto administrativo de Machipanda, província de
Manica, onde usou-se o empilhamento plano com separadores. A primeira pilha foi
construída no pátio de toros da IMM com 30 tábuas cada, distribuídas em 15 camadas de
duas tábuas cada e a outra pilha foi construída nas instalações do CEFLOMA com 20 tábuas
distribuídas em 10 camadas de duas tábuas cada, sendo colocado pesos em ambas pilhas.
Todas as pilhas foram construídas com tábuas de 32 mm de espessura nominal, com
separadores de madeira de alta durabilidade intercalando camadas consecutivas, os quais
tinham as dimensões de 1,5 cm de espessura, 1,5 cm de largura e um comprimento de 100
cm. Antes do início da construção das pilhas, para cada tábua foram registados o
comprimento das rachaduras e empenamentos para análise posterior.

20
3.5 Construção das pilhas

A construção das pilhas seguiu a metodologia usada por (SILVA et. al,2009), após a seleção
das tábuas, identificação e medição dos defeitos (rachadura e encurvamento), escolheu-se o
local para a construção das pilhas para a secagem ao ar livre, onde foram eliminados
entulhos, restos de vegetação e analisada a direção dos ventos predominantes para melhor
proveito do impacto da circulação do ar na velocidade de secagem.

A base das pilhas foi construída com estrutura de madeira confecionada a partir de estacas
tratadas de 100 cm de altura, de modo a não permitir o ataque de térmitas. Sobre estes apoios,
foram depositados travessas com perfil de 100 x 8 x 5 cm (comprimento x altura x largura
respetivamente). A primeira camada assentou diretamente sobre as travessas e as camadas
seguintes foram intercaladas por separadores na mesma linha vertical das travessas nas pilhas
da IMM, sendo a distância horizontal entre estacas, travessas e separadores de 1m. Para a
pilha do CEFLOMA foi estabelecida uma separação horizontal entre estacas e travessas de
1,5 m e a distância entre separadores foi de 1 m, como mostra a figura 11.

FIGURA 11. ESTRUTURA QUE SERVIRAM DA BASE PARA A PILHA

Para arrumação das pilhas, as tábuas foram distribuídas aleatoriamente de modo que todas as
tábuas tivessem a mesma hipótese de secar em qualquer uma das pilhas. O comprimento da
pilha foi determinado pelo comprimento das tábuas. A largura da pilha foi de 100 cm, tendo o
cuidado de deixar espaçamentos de 5 a 10 cm entre as tábuas de cada camada.

A altura útil das pilhas expostas a secagem ao ar livre foi de 80 cm e a altura total de 1,80 cm
para a pilha construída na IMM enquanto a pilha construída no CEFLOMA teve uma altura
útil de 60 cm e atingiu uma atura total de 1,60 cm aproximadamente. Os topos de todas as

21
peças receberam uma silagem com tinta a óleo para evitar rachaduras de topo, ocasionadas
pela perda brusca de humidade, como mostra a figura 12.

FIGURA 12. SILAGEM DOS TOPOS DAS TÁBUAS

Após a colocação da última camada, as pilhas receberam 10 blocos maciços, de


aproximadamente 23 kg de peso cada, sendo colocados 5 blocos de cada lado da pilha. Os
pesos exerceram pressão nas tábuas com a finalidade de reduzir a percentagem de
empenamentos, como mostra afigura 13.

FIGURA 13. PESO SOBRE AS TÁBUAS

As pilhas foram cobertas com chapas de zinco para impedir a irradiação direta do sol e
possíveis influências de um longo período chuvoso. Esta cobertura continha um beiral livre
de 20 cm para as laterais e 50 cm para os topos, como mostra a figura 14.

22
FIGURA 14. COBERTURA DA PILHA COM CHAPAS DE ZINCO

3.6 Processo de secagem

O processo de secagem teve início no mês de Junho de 2014 e o seu término no mês de
Dezembro de 2014. O controlo da humidade foi feito durante todo o período da secagem da
madeira, onde de 15 em 15 dias eram registados os pesos das tábuas, como mostra a figura
15.

FIGURA 15. REGISTO DE DADOS, PESAGEM DAS TABUAS

3.7 Avaliação dos defeitos

No final do processo de secagem, para além do registo do peso e humidade final as tábuas
foram verificados e registados os principais defeitos de secagem de cada tábua,
especificamente rachaduras e encurvamento, de acordo com a metodologia usada por
SEVERO (2000) e CALONEGO et. al. (2006).

23
Classificação dos defeitos
TABELA 1. CLASSIFICAÇÃO DOS DEFEITOS
Tipos de defeitos

Rachaduras: Encurvamentos:

Ausente Ausente

Pequena 4 Pequeno 7

Media 5 Medio 8

Grande 6 Grande 9

Fonte: SILVA, et. al,2009

Onde: 4- Rachaduras de até 5 cm de comprimento; 5- rachaduras de 5 a 20 cm de


comprimento; 6- rachaduras com comprimento superior a 20cm; 7- empenamentos com
flecha até 2,5 % da largura da tábua; 8- empenamentos com flecha de 2,5 a 10 % e 9-
empenamentos com flecha superior a 10 %.

FIGURA 16. MEDIÇÃO DO ENCURVAMENTO DAS TÁBUAS

3.8 Avaliação da qualidade de secagem

Em cada pilha foram selecionadas 6 tábuas para a retirada de três amostras para a
determinação da humidade, gradiente de humidade e teste de garfo, onde cada amostra tinha
uma dimensão 10x3.2 x5 cm (comprimento x espessura x largura respetivamente), de acordo
com a metodologia usada por SEVERO (2000) e CALONEGO et.al (2006), como mostra a
figura 17.

24
FIGURA 17. AMOSTRAS PARA MEDIÇÃO DE HUMIDADE, GRADIENTE DE HUMIDADE E
TESTE DE GARFO
Fonte: LUIS, 2014

A determinação da humidade final média e do gradiente de humidade com base na humidade


no interior e no exterior das tábuas da amostra, foi feita pelo método de diferença de pesos,
usando uma balança de precisão e uma estufa de laboratório para a secagem das amostras a
103± 2 oC, como mostra afigura 18.

FIGURA 18. CORTE DA AMOSTRA PARA A DETERMINAÇÃO DO GRADIENTE DE


HUMIDADE

A partir dos corpos de prova foram retiradas amostras com um formato ―U‖ e em seguida,
codificou-se para a verificação de existência de tensões residuais ou endurecimento
superficial (teste de garfo). Depois da secagem destas foram comparadas, para poder avaliar
se a tábua é normal, médio, forte ou reverso, como mostra a figura 19.

25
FIGURA 19. CORTE PARA DETERMINAÇÃO DO TESTE DE GARFO

3.9 Processamento de dados

Foram testados os dois locais de estudo como variáveis independente. As variáveis


dependentes usadas foram: humidade das tábuas, qualidade de secagem, defeitos da secagem
(rachaduras e encurvamento). Sendo selecionado para cada variável 6 tábuas de cada pilha
para a sua análise. Para o processamento dos dados foi usado o pacote estatístico ‗‗
statistix8‘‘ que forneceu as médias, soma dos quadrados totais, soma dos quadrados dos
tratamentos, soma dos quadrados de erro, soma dos quadrados médios, F calculado e a
probabilidade. Com base nos dados foi usado o ‗‗Microft Excel‘‘ para a obtenção dos
gráficos e tabelas.
Os dados colhidos foram processados de acordo com as fórmulas de adaptação de SEVERO
(2000):

Encurvamento
Iea x 100 onde:

Iea= Intensidade do encurvamento ou arqueamento (%);


X= flecha na curvatura da peça (mm)
L1= Comprimento da tábua (mm).

Rachaduras

R onde:

R= índice representativo das rachas, (%);


l2+l3+…ln = comprimento individual das rachaduras (mm);
L1= Comprimento (mm).

26
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Tempo de secagem da madeira

4.1.1 Valores de humidade

Secou-se a madeira da Messassa com 32 mm de espessura durante o período compreendido


entre Junho a Dezembro de 2014 na zona Centro de Moçambique. O processo de secagem foi
finalizado em 11/12/2014, totalizando 167 dias. A Tabela 2 mostra os valores das humidades
finais médias obtidas nas amostras das peças retiradas das pilhas de secagem no CEFLOMA
em Machipanda e na IMM na Beira, com os valores de 13,21 % e 15,05 % respetivamente e
os resultados das análises indicam que as médias diferem estatisticamente entre elas a um
nível de 5 %, como mostra a tabela 1 do anexo 1, onde P<0.05.

TABELA 2. VALORES MÉDIOS DAS HUMIDADES FINAIS DAS TÁBUAS (%), POR REGIÃO

Número da Humidade Humidade


Região
amostra das tábuas (%) média
1 14.25
2 15.13
3 14.90
Beira (IMM) 15.05
4 15.03
5 15.28
6 15.69
1 13.39
2 13.67
Machipanda 3 12.77
13.21
(CEFLOMA) 4 13.56
5 12.98
6 12.91

A diferença pode ter ocorrido devido a diferenças de fatores climáticos nas duas regiões.
MANHIÇA (2006), usando uma fórmula proposta por SIMPSON (1971), estimou a
humidade de equilíbrio higroscópico médio em 15,05 % para as regiões costeiras incluindo

27
Beira e em 13,2 % para cinco distritos interiores das regiões sul e entro de Moçambique,
incluindo dois distritos da província de Manica, o que sustenta até certo ponto os resultados
deste estudo. SILVA et.al. (2009), secando peças de Eucalyptus grandis de 21 a 32 mm de
espessura durante 72 dias encontrou valores de humidade similares aos valores de humidade
de equilíbrio da região onde ocorreu o ensaio.

4.1.2 Tempo de secagem da madeira

Segundo a Figura 20, as peças secadas em Machipanda levaram 121 dias para atingir uma
humidade de 13,21 %, entretanto, para Beira foi possível atingir-se 15,05 % em 167 dias.
Comparando os tempos de secagem para os dois locais para uma humidade de 18 %,
verificou-se que o tempo despendido em Machipanda corresponde aproximadamente a 50%
do tempo necessário na Beira. Independentemente do local, o gráfico mostra que houve maior
perda da humidade nos primeiros 60 dias, havendo perdas de humidade lenta nos últimos 100
dias da secagem.

60.00

50.00
Beira
(IMM)
Humidade (%)

40.00
Com Peso
30.00
Machipand
20.00 a
(CEFLOMA
10.00 )

0.00
1 32 60 91 121 152
Duração da secagem (Dias)

FIGURA 20. HUMIDADE MÉDIA DAS AMOSTRAS DE CONTROLE DURANTE O PROCESSO DE


SECAGEM AO AR LIVRE NA BEIRA E EM MACHIPANDA

4.1.3 Distribuição da humidade na pilha

A figura 21 ilustra a distribuição da humidade final das tábuas no interior da pilha. Não foi
observada nenhuma diferença significativa a um nível 5 % no teste ―t‖. As pilhas foram

28
construídas com alturas superior à 50 cm para as bases das pilhas de secagem, seguindo deste
modo, a recomendação do SILVA et. al. (2009).

16.00
Humidade tábuas na pilha (%)

15.50

15.00
Beira
14.50
(IMM)
14.00 Machipa
13.50 nda

13.00

12.50
Topo Centro Base
Localização das tábuas na pilha

FIGURA 21. DISTRIBUIÇAO HORIZONTAL DAS HUMIDADES NA PILHA

Apesar das médias não apresentar uma diferença significativa entre as duas camadas da pilha
horizontal, pode-se observar na figura 14 uma tendência que o gráfico mostra a aumentar os
valores de humidade final consoante se desloca do topa para base. A mesma distribuição e
diferença foi observado por (SILVA et.al, 2009).

4.2 Qualidade de secagem

4.2.1 Teste de garfo

A Figura 22 ilustra os resultados do teste de garfo feito na Beira e em Machipanda, o que


possibilita avaliar a existência e distribuição das tensões de secagem numa peça de madeira.
Pode-se notar, que a madeira no geral em todos os tratamentos após a secagem não estava
tensionada, indicando que a secagem foi suave.

29
FIGURA 22. TESTE DE GARFO. A – MACHIPANDA; B – BEIRA

4.2.2 Gradiente de humidade

Os gradientes de humidade observados nos dois locais de secagem tiveram uma diferença de
0.08 % para Beira e 0.03 % para Machipanda, podendo considerar-se esses gradientes como
insignificantes.

Com base nos resultados pode se afirmar que a diferença entre o teor de humidade da
superfície e do centro foi insignificante nos dois locais de estudo. Isto deve-se por estas peças
terem uma secagem regular e por uma distribuição uniforme da humidade no processo de
secagem. Mas a diferença entre os valores observados pode ter ocorrido devido as diferenças
das condições climáticas nos dois locais estudado, sendo que no Posto Administrativo de
Machipanda ocorre baixa humidade do ar e maior circulação do ar, isto fez com que as tábuas
secadas neste local tivessem uma distribuição mas uniforme da humidade comparativamente
as secadas na Cidade da Beira.

BATISTA (2012), observou que o gradiente de humidade está diretamente relacionado com a
presença de tensões de secagem e que quanto maior for o gradiente, maior será a incidência
de tensões de secagem. Pode-se notar que neste experimento praticamente não se observou a
presença de tensões e que portanto a madeira pode ser usada para a fabricação de artigos de
alta qualidade, incluindo mobiliário escolar.

30
4.3 Defeitos pós secagem

4.3.1 Rachaduras

A tabela 3 mostra os valores iniciais, finais e médios das rachaduras obtidas nas amostras das
pilhas secadas no CEFLOMA em Machipanda e na IMM na Beira apresentando valores
médios de 34 % e 23.83 % respetivamente, estes resultados diferem-se estatisticamente ao
nível de significância de 5 %, como mostra a tabela 2 (anexo 1), onde P <0.05.

TABELA 3. VALORES MÉDIOS DAS RACHADURAS POR REGIÃO


Região No da Rachas antes Rachas pós Diferença das % das
amostra secagem (%) Secagem (%) rachaduras rachaduras
1 0 0 0
2 10 65 57
3 0 0 0 23.83
Beira (IMM) 4 0 24 24
5 0 8 8
6 0 54 54
1 33 42.1 60
2 15 32.6 58
Machipanda 3 0 7.7 17 34
(CEFLOMA) 4 0 6.8 15
5 0 11.3 23
6 0 39.9 31

As médias altas de rachaduras ocorreram nas peças secadas em Machipanda, sendo a maior
parte das rachaduras encontradas nas extremidades. Diante dos resultados é possível afirmar
que secando 100 tábuas de madeira na cidade da Beira 23.83 % dessas terão rachaduras e
para o posto administrativo de Machipanda secando 100 tábuas 34 % delas terão rachaduras.

Esta incidência de alta percentagem de rachaduras nas peças secadas no CEFLOMA pode ter
sido provocada, pelas perdas bruscas de humidade nas peças devido ao baixo teor de
humidade do ar do local, como pela grande velocidade do ar no local e pelos movimentos

31
provocados no transporte da madeira da Beira para Machipanda ocasionado pelo mão estado
da via de acesso.

CARVALHO (2006) secando peças de Eucalyptus urophylla de 30mm de espessura ao ar


livre durante 64 dias em condições climáticas aproximadamente idênticas as de Machipanda
encontrou peças com alto índice de rachaduras ocasionada pela secagem rápida das pecas, o
que sustenta os resultados obtidos no presente estudo. As rachaduras encontradas nas tábuas a
maior parte ocorreram nas extremidades, isto, pode ter acontecido devido as vibrações
provocadas no processo de desdobro que proporcionou o surgimento das rachaduras no
processo de secagem.

4.3.2 Encurvamento

A tabela 4 mostra os intervalos dos defeitos de encurvamento das tábuas secadas em


Machipanda no CEFLOMA e Beira no IMM sendo encontrado 1,5 % e 17 % respetivamente,
as tábuas secadas em Machipanda tiveram uma percentagem de encurvamentos menor
comparando com as tábuas secadas na cidade da Beira, os resultados analisados
estatisticamente indicam que existe diferença significativa ao nível de significância de 5%,
tabela 3 anexo 1, onde P <0.05. as rachaduras das tábuas secadas em Machipanda são
consideradas ausentes e as das tábuas secadas na Cidade da Beira consideradas grandes de
acordo com a classificação feita por (SILVA et. al. 2009). Diante destes resultados pode se
dizer que secando 100 tábuas em Machipanda 1.5 % dessas terão defeitos de encurvamento,
enquanto para Beira secando 100 tábuas 17 % delas terão encurvamento.

Esta diferença pode estar associada ao facto das tábuas secadas em Machipanda terem um
comprimento menor em relação as tábuas secadas na cidade da Beira, isto fez com que
houvesse uma melhor distribuição do peso na pilha por estas terem um comprimento menor.
Os encurvamentos são causados pela diferença na contração longitudinal entre duas faces
opostas, da mesma peça de madeira. A parte mais central do toro se contrai mais
longitudinalmente, que à da parte externa, causando esses tipos de empenos (KLITZKE,
2009).

32
TABELA 4. VALORES MÉDIOS DO ENCURVAMENTO NAS REGIÕES ESTUDADA
Número da Encurvamento Média
Região amostra (%) (%)
1 0.120
2 0.109
3 0.059
0.170
Beira (IMM) 4 0.324
5 0.238
6 0.170
1 0.018
2 0.022
Machipanda 3 0.006
0.015
(CEFLOMA) 4 0.012
5 0.023
6 0.009

FIGURA 23. CARTEIRA PRODUZIDA COM MADEIRA DE MESSASSA SECA AO AR LIVRE

33
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

 A secagem ao ar livre de tábuas não-alinhadas de 32 mm de espessura em pilhas com


separadores de 1,5 cm de espessura e com cobertura de chapas de zinco permitiu
alcançar a humidade final da madeira de 13.5 % em 121 dias e 15,05 % em 167 dias
em Machipanda e na Beira respetivamente.
 O processo de secagem teve maior velocidade em Machipanda onde a madeira
alcançou 18 % de conteúdo de humidade em cerca de metade do tempo necessário
para atingir a mesma humidade na cidade da Beira.
 A qualidade de secagem foi boa independentemente da região onde ocorreu, pois não
foi verificada a formação de gradiente de humidade significativo nem a existência de
tensões nas peças secas.
 O processo de secagem encontrou-se defeitos como (rachaduras e encurvamento),
sendo encontrado maior média dos defeitos de rachaduras no Posto administrativo de
Machipanda comparativamente a Cidade da Beira. Em relação aos encurvamentos
obteve maior média na cidade da Beira em relação ao posto administrativo de
Machipanda.
 Tendo em conta os resultados obtidos a secagem padronizadas de madeira de
Messassa ao ar livre nos moldes aplicados neste trabalho pode ser recomendada de
forma preliminar para a produção de mobiliário em geral e de carteiras escolares em
particular.
 Recomenda-se que o estudo do género seja feito em outras províncias de Moçambique
devido a variabilidade das condições climáticas.

34
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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para mestre em tecnologia de produtos florestais. Universidade de São Paulo. Escola
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38
35. TSOUMIS, G.T. (1991). Science and technology of wood: structure, properties,
utilization. New York : Chapman & Hall.

39
7 ANEXO

ANEXO 1. ANÁLISE DE VARIÂNCIA

TABELA 1. DE ANALISE DE VARIÂNCIA DAS HUMIDADES


Fonte de variação G.L S.Q QM F Cal P
Tratamento 1 10.0833 10.0833 54.96 0
Erro 10 1.8347 0.18347
Total 11 11.918

TABELA 2. DE ANALISE DE VARIÂNCIA DOS DEFEITOS DAS RACHADURAS

Fonte de variação G.L S.Q QM F Cal P


Tratamento 1 43.08 43.08 14.9428 0.03672
Erro 10 28.83 2.883
Total 11 71.91

TABELA 3. DE ANALISE DE VARIÂNCIA DOS DEFEITOS DE ENCURVAMENTOS

Fonte de variação G.L S.Q QM F Cal P


Tratamento 1 222.08 222.08 20.3762 0.02636
Erro 10 108.99 10.899
Total 11 331.07

P ˂ 0.05 Existe diferença significativa


P ˃ 0.05 Não existe diferença significativa

40
ANEXO 2. LAYOUT DA POSIÇÃO DAS TÁBUAS NA PILHA

Posição das tábuas na pilha do IMM na Beira


172L1-1 456L1-2
464-19 172-10
247-8 247C1-6
476C2-10 438C1-6
276L2-15 438C2-8
247-9 276L1-3
276-2 434C1-6
456L2-13 276-1
464C1-7 484L2-10
434-10 494C2-5
438-10 438-12
476-2 276-6
456-10 476-9
464-8 484-9
484-11 464-9

Posição das tábuas na pilha no CEFLOMA em MANICA


484L1-3 172C2-4
247-5 484-5
172-6 276-18
484-1 438-13
247-4 172-7
247L1-2 464-17
456L1-3* 484-4
464-16 172-5
464-20 464-18
247-1 172-11

41
ANEXO 3. MATERIAIS UTILIZADOS NO ESTUDO

FIGURA 1. BALANÇA UTILIZADO NA PESAGEM DA MADEIRA

FIGURA 2. MEDIDOR DE HUMIDADE

42
ANEXO 4. FICHA DE RECOLHA DE DADOS
FICHA DE RECOLHA DE DADOS
SECAGEM DA MADEIRA AO AR LIVRE
LOCAL__ POSTO ADMINISTRATIVO DE MACHIPANDA; PILHA COM PESO
Racha Peso peso
Código da tabua (cm) Humidade 1(g) Peso (g) inicial 18/07/14 2/8/2014 7/8/2014 17/08/14 1/9/2014 16/09/14 1/10/2014 16/10/14 31/10/14 15/11/14 30/11/14

43

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