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Curso de graduação em Engenharia Química

Reforma Catalítica

Aluna: Isabela Rosa Marchette


Professora: Laurinda Fatima Da Fonseca Pereira Guimaraes Braga
Disciplina: Processos da Química Orgânica

São Gonçalo
2021
1. Introdução

A reforma catalítica surgiu no início da 2.ª Guerra Mundial,e se desenvolveu junto ao


craqueamento catalítico, nos anos cinquenta, tornando-se o principal processo gerador de
gasolina de alta octanagem. O crescimento da indústria petroquímica, resultou no aumento do
preço da nafta, fazendo com que este valor se fosse muito próximo ao preço final da gasolina,
consequentemente diminuindo a rentabilidade do processo, ao ponto de que nos dias de hoje
o processo não é economicamente viável.
A reforma catalítica também é usada para a produção de aromáticos puros (BTXs),
sendo para este caso um processo viável e amplamente utilizado. Apresentado no mercado
mundial, preços equivalente a aproximadamente ao dobro do preço da nafta petroquímica, o
que torna a reforma catalítica rentável neste caso. Países como Estados Unidos, Canadá e
Europa Ocidental utilizam o processo em larga escala na produção de aromáticos e muito
menos na produção de gasolina.

2. O processo de Reforma Catalítica e seus principais objetivos

A reforma catalítica é um processo químico usado para converter naftas ricas em


compostos parafínicos e naftênicos em um produto chamado reformado que apresenta alto
teor de aromáticos e isoparafinas. Este produto é importante para a produção de gasolina de
alta octanagem e insumos petroquímicos básicos. benzeno, tolueno e xileno (BTX), os quais
podem ser utilizados para produção de plásticos, elastômeros, resinas e solventes. Outro
produto da reforma que vem ganhando importância é o hidrogênio. Com o aumento do
hidroprocessamento de correntes intermediárias visando a produção de combustíveis limpos,
a reforma passa a ser uma das grandes supridoras de hidrogênio nas refinarias. Além destes
hidrocarbonetos leves são obtidos como subprodutos.
Consiste, ainda, no rearranjo da estrutura molecular dos hidrocarbonetos contidos em
certas frações de petróleo, com a finalidade de valorizá-las. Pode ser orientado para que um
dos objetivos seguintes seja alcançado:
● obter um produto de elevado índice de octanagem, próprio para motores de alta taxa de
compressão;
● formar um produto rico em hidrocarbonetos aromáticos nobres (Benzeno, Tolueno e
Xilenos), que serão posteriormente recuperados e fracionados, obtendo-se, isoladamente,
cada componente com elevado grau de pureza.
O principal produto do processo é a nafta de reforma, porém, outras frações são
geradas em menores quantidades, tais como gás liqüefeito, gás combustível, gás ácido e uma
corrente rica em hidrogênio. Esta última pode ser usada em unidades de hidrotratamento que
não necessitem de grandes vazões e de elevadas purezas de H2.

a) Características e instalações do processo

Uma Unidade de Reformação Catalítica (URC) é constituída de três seções


fundamentais: seção de pré-tratamento; seção de reformação; e seção de estabilização.
❖ Seção de pré-tratamento

A nafta média é a matéria-prima usual das unidades de reforma, sendo formada por
uma fração de compostos pesados, que possuem pontos de ebulição inferiores a 150 °C, em
sua maioria hidrocarbonetos na faixa de C7-C9. A nafta é pré- tratada antes de entrar na seção
de reação do reformador. A seção de pré-tratamento remove venenos permanentes no
catalisador de reforma, como o arsênio, chumbo e cobre, e reduz os venenos temporários em
baixos níveis no catalisador, tais como enxofre, oxigênio e compostos de nitrogênio. Estas
impurezas contaminam o catalisador de reforma, reduzindo sua atividade, consequentemente
diminuindo o rendimento do reformado final. Nesta etapa, ocorre o hidrotratamento que
envolve a reação em fase vapor com hidrogênio sobre um catalisador tioresistente como Co-
Mo/Al-0, seguido de refrigeração, separação de fase e remoção eficiente de sulfeto de
hidrogênio e amônia da nafta tratada. Se a nafta contiver alguma olefina devido ao
craqueamento, esta será hidrogenada para a parafina correspondente.
A carga selecionada, ao entrar na unidade, recebe um reciclo de gás rico em
hidrogênio, é aquecida em trocadores de calor e em uma fornalha e, então, introduzida no
reator de pré-tratamento, numa faixa de temperatura de 260 a 340ºC e pressão de 300 a 500
psi. Nestas condições, ocorrem as reações que seguem:
1. Reações com compostos sulfurados (mercaptans) : R-SH + H2 → R-H + H2S
2. Reações com compostos nitrogenados: R-NH2 + H2 → RH + NH3
3. Reações com compostos oxigenados: R-OH + H2 → RH + H2O
4. Se, devido ao craqueamento, da nafta contiver alguma olefina será hidrogenada à
parafina: Cn H2n + H2 → Cn H2n+2
5. metais – os metais contidos na carga (As, Pb, Cu, Ni e Fe) ficam retidos na superfície
do catalisador.

Ainda, durante o pré-tratamento água também é removida, porque a sua presença


gera modificações na acidez dos catalisadores de reforma, através da remoção de íons cloreto.
Por outro lado, o excesso de íons cloreto sobre o catalisador altera a seletividade e,
frequentemente, resulta em hidrocraqueamento excessivo. Desta forma, o teor de água na
matéria-prima deve ser inferior a 10 ppm nos processos que contenham um catalisador
promovido por haletos

● Participação do Hidrogênio
O efluente do reator de pré-tratamento pré aquece a carga e o reciclo de gás rico em
H2. Posteriormente, é introduzido num tambor separador, onde se obtém, na fase gasosa, um
gás combustível bastante rico em H2, utilizado na própria refinaria como fonte de H 2, ou
ainda, como matéria-prima para se fabricar amônia. Poderá este gás também ser aproveitado
para queima nas fornalhas, como última e menos econômica alternativa. A fase líquida
proveniente do tambor separador segue para um “stripper”, que consiste na torre de remoção
do H2S, NH3, H2O; de impurezas voláteis; hidrocarbonetos leves e do hidrogênio restante.
Figura 2: Seção de Pré-tratamento. (Fonte: PETROBRÁS, 2002)
❖ Seção de reformação

A seção de reação do reformador é formada por três ou quatro reatores de leito fixo
operando em série, com pré-aquecedores e reaquecedores entre eles. As reações em sua
maioria são endotérmicas e ocorrem em velocidades diferentes. São utilizados reatores
adiabáticos em todas as unidades de reforma e o calor é fornecido através de fornos
colocados entre os reatores, a fim de manter a temperatura necessária à reação. O esquema de
uma unidade típica de reforma catalítica é ilustrado na Figura 3.
A nafta é misturada com hidrogênio de reciclo e aquecida antes de entrar no primeiro
reator. Neste reator, ocorre predominantemente a desidrogenação de cicloalcanos a
compostos aromáticos, que é fortemente endotérmica e responsável pela rápida diminuição da
temperatura no leito. O segundo reator é alimentado com o efluente do primeiro reator
reaquecido, e, nele, acontece principalmente a desidroisomerização de naftenos, que são
reações menos rápidas e levemente exotérmicas. Neste caso, a diminuição de temperatura é
menor do que no primeiro reator, ocorrendo na faixa de 20-30°C Nos últimos reatores,
ocorrem reações como a desidrociclização de hidrocarbonetos parafínicos. Neste caso, são
observadas pequenas variações na temperatura, atribuídas à ocorrência de reações de
hidrocraqueamento, que são lentas e altamente exotérmicas.
Paralelamente, tem-se reações que levam à formação de coque que podem desativar
os catalisadores devido ao depósito dos produtos dessas reações sobre os catalisadores. Com
o objetivo de evitar-se este fato, as reações passam-se sob altas pressões parciais de
hidrogênio. As principais reações na seção de reformação:
1. Desidrogenação de Hidrocarbonetos Naftênicos: São reações fortemente endotérmicas
e muito rápidas. Ocorrem, predominantemente, no 1.º reator e são responsáveis pela
rápida queda de temperatura no leito.
2. Isomerização de Hidrocarbonetos Naftênicos: São reações menos rápidas e
ligeiramente exotérmicas. Ocorrem principalmente no 2.º reator, podendo, porém,
também ser efetuadas no 1.º
3. Desidrociclização de Hidrocarbonetos Parafínicos São reações lentas, fortemente
endotérmicas. Ocorrem predominantemente no 2.º reator, no entanto são também
observadas no último.
4. Isomerização de Hidrocarbonetos Parafínicos: São reações levemente exotérmicas,
rápidas, que ocorrem quase sempre nos dois primeiros reatores.
5. Hidrocraqueamento de Naftênicos São reações muito lentas, fortemente exotérmicas,
ocorrendo principalmente no 3.º reator.
6. Hidrocraqueamento de Parafinas: Também são reações lentas e altamente
exotérmicas. Juntamente com o hidrocraqueamento de naftênicos, as reações de
hidrocraqueamento de parafinas são prejudiciais ao processo.
7. Reações que levam à formação do coque: São as reações de coqueamento, originando
a presença de carbono na forma elementar, que se deposita sobre o catalisador. Pouco
se sabe sobre seu mecanismo, porém são favorecidas pela presença de olefinas e
policíclicos na carga e pela diminuição da pressão parcial de H2. A deposição de
coque sobre o catalisador provoca a desativação deste, que poderá ser temporária,
desde que haja uma posterior regeneração do catalisador no próprio local, com injeção
de gás inerte, queima do coque com ar e depois com O 2 puro + gás inerte (N2),
reativação com H2 do gás de reciclo e/ou com hidrogênio puro.

Figura 3: Seção de Reformação. (Fonte: PETROBRÁS, 2002)

❖ Seção de estabilização
O efluente da seção de reação troca calor com a carga que entra na seção e vai para o
tambor separador, de onde saem duas correntes: corrente gasosa, constituído por hidrogênio e
hidrocarbonetos na faixa de C1-C4, contendo 60-90% em mol de hidrogênio e um produto
líquido. Parte da corrente gasosa é utilizada como gás de reciclo e misturada com a
alimentação de nafta. O restante da corrente gasosa, rica em hidrogênio, pode ser purificada,
obtendo-se hidrogênio líquido, que é utilizado em processos de hidrocraqueamento,
hidrotratamento ou como combustível. A corrente líquida, chamado de reformado, é
constituído por hidrocarbonetos na faixa de C5-C10, em que os compostos aromáticos estão
presentes na faixa de 60- 70% em peso. Este reformado bruto é enviado a um estabilizador de
produtos, onde os voláteis e hidrocarbonetos leves são removidos do produto líquido de alta
octanagem.

Figura 4: Seção de Estabilização. (Fonte: PETROBRÁS, 2002)


b) Principais variáveis do processo

As condições operacionais são importantes para garantir a seletividade e rendimento


do processo de reforma catalítica (INSTITUTO BRASILEIRO DE PETRÓLEO, 1984).
Desta forma, as propriedades da matéria-prima e do produto desejado são os principais
fatores para a determinação das condições de funcionamento da unidade de tratamento.
A orientação (produto de elevado índice de octanagem ou produto rico em
hidrocarbonetos aromáticos) do processo depende, de forma primordial, das frações
selecionadas de nafta, dentre as quais a faixa de destilação é a característica principal.
Além das propriedades da alimentação, outras variáveis influenciam o desempenho do
catalisador, o rendimento e a qualidade do produto reformado. Entre estes fatores estão a
temperatura de reação, pressão de reação, velocidade espacial e razão molar
hidrogênio/hidrocarboneto (H2/HC)

❖ Temperatura de reação

A temperatura de reação deve ser estabelecida buscando equilibrar a atividade


catalítica com a desativação do catalisador, uma vez que elas aumentam juntamente com o
acréscimo de temperatura. À medida que o catalisador perde atividade catalítica, devido ao
envelhecimento, esta temperatura pode ser aumentada ao longo do ciclo para manter
constante o número de octanagem do produto. Entretanto, este aumento pode acelerar ainda
mais a desativação do catalisador. A temperatura de reação, geralmente utilizada no processo
de reforma catalítica, encontra-se na faixa de 480-500 ºC. Os processos a baixa pressão são
operados em temperaturas ligeiramente mais altas, buscando otimizar a conversão de
produtos com alto índice de octano

❖ Pressão de reação

A pressão utilizada nas unidades de reforma afeta significativamente o rendimento e


a duração do ciclo operacional. Quando são utilizadas baixas pressões de reação (8-20 atm),
as reações de desidrogenação de naftenos e desidrociclização de parafinas são favorecidas,
aumentando-se a produção de compostos aromáticos e de hidrogênio e reduzindo o
hidrocraqueamento. Todavia, quando acontece o inverso, opera-se com pressões de 35-50
atm, ocorre um aumento do coqueamento catalítico e o ciclo operacional torna-se mais curto

❖ Razão molar hidrogênio/hidrocarboneto

A razão molar hidrogênio/hidrocarboneto é outra variável importante do processo.


Devido à importância de manter altas pressões parciais de hidrogênio e a razão
hidrogênio/hidrocarboneto nos reatores, o hidrogênio é reciclado nos reformadores
catalíticos. Ele remove o coque do catalisador, reagindo com os precursores, antes de formar
quantidades significativas de compostos aromáticos policíclicos e ocorrer a desativação do
catalisador. As altas razões hidrogênio/hidrocarboneto afetam a aromatização, favorecem o
hidrocraqueamento e reduzem a desativação do catalisador. Contrariamente, às razões
hidrogênio/hidrocarboneto baixas são benéficas às reações de desidrogenação de naftenos e
desidrocicalização de parafinas, mas afetam a vida do catalisador, devido ao coqueamento.

❖ Velocidade espacial

A velocidade espacial é uma medida do tempo de contato entre os reagentes e o


catalisador. Quando a quantidade do catalisador e a carga do reator são expressas em massa, a
velocidade espacial é representada por WHSV (Weight Hourly Space Velocity) e quando são
expressas em volume LHSV (Liquid Hourly Space Velocity). Tipicamente, os reformadores
operam em velocidades espaciais entre 1,0 e 2,0 h -1 LHSV. Valores abaixo de 1,0 h-1 LHSV
favorecem a ocorrência de reações indesejáveis, como o hidrocraqueamento, reduzindo o
rendimento do reformado. Desta forma, as condições de operação devem ser ajustadas, a fim
favorecer a desidrociclização, mantendo-se o hidrocraqueamento num nível aceitável. Por
outro lado, as reações de aromatização e isomerização geralmente não são afetadas pelas
mudanças na velocidade espacial, uma vez que se aproximam do equilíbrio mesmo em
valores elevados desta variável.

c) Catalisador
O catalisador utilizado é constituído de um suporte de alumina, impregnado do
elemento ativo de natureza metálica, geralmente Platina associada a um ou dois outros
elementos de transição, Rênio, Ródio ou Germânio. Embora a quantidade dos elementos
citados na composição do catalisador seja bem baixa (1,0% em massa no máximo), devido ao
preço desses metais, o custo do catalisador é extremamente alto.
É interessante ao processo favorecer a formação de hidrocarbonetos aromáticos e
diminuir a possibilidade de reações e depósito de coque, sendo necessária a utilização de um
catalisador. As reações de desidrogenação (formação de aromáticos), são favorecidas pela
presença de platina, que possui uma alta resistência a temperaturas elevadas. Inicialmente,
este metal era usado em presença de um suporte de alumina (Al2O3). Devido ao alto custo da
platina, o catalisador utilizado era caríssimo. Ao mesmo tempo, devido à alta eficiência deste
catalisador, ocorriam frequentes depósitos de coque, diminuindo os tempos de campanhas e
rapidamente inativando o catalisador. Atualmente, utiliza-se um outro tipo de catalisador, em
que as percentagens de platina são menores, boa parte dela tendo sido substituída por outro
metal, mais barato e de boa eficiência. Os catalisadores bimetálicos (Platina/Rênio ou
Platina/Germânio, em suporte de alumina) proporcionam uma melhor estabilidade, para um
mesmo nível de atividade catalítica. Permitem assim, maiores tempos de campanhas, além de
ter seu preço muito mais baixo que os catalisadores inicialmente usados.
Os catalisadores de reforma estão sujeitos a diferentes tipos de perda de atividade:
– perda temporária, que pode ser restaurada sem regeneração, causada por nitrogênio,
pequenas quantidades de enxofre e água;
– perda temporária, que pode ser restaurada por regeneração, causada pela deposição
de coque sobre o catalisador. A regeneração é feita pela queima do coque com ar dentro do
próprio reator;
– perda permanente, que não pode ser restaurada por nenhum processo conhecido,
causada por alta concentração de enxofre e metais como Arsênio (As), Chumbo (Pb) e Cobre
(Cu).
Periodicamente, a Unidade de Reforma Catalítica é parada, e faz-se a regeneração do
catalisador, para que os níveis de atividade retornem aos valores desejados. Após algumas
regenerações, estes valores não são mais alcançados, devido ao alto teor de metais presentes,
e todo o inventário de catalisador é descartado e substituído por um catalisador novo. Os
modernos catalisadores, se bem operados e regenerados, podem ter vida útil superior a 12
anos.

4. Bibliografia

1. http://www.ifba.edu.br/professores/iarasantos/ENG%20504%20_%20Processos
%20Qu%C3%ADmicos/literaturas/Apostilas%20Petrobr
%C3%A1s/processosderefino.pdf. Acesso em 12/08/2021.
2. https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/10723/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o
%20Karla%20Concei%C3%A7%C3%A3o.pdf . Acesso em 14/08/2021.
3. CAUTO, Marcelo Antunes. ROSA, Gilber Ricardo. Processos e Operações Unitárias
da Indústria Química Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2011 1.
Comunicação – Administração. I— Título ISBN: 978-85-399-0016-9

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