Você está na página 1de 4

ASSIM FALA O NOVO IDIÔTÉS: “TRABALHE MENINO, TRABALHE”!

Jean Paulo Pereira de Menezes


é docente no curso de graduação em Ciências Sociais da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Campus de Paranaíba.
Artigo originalmente publicado na Revista caros amigos.

Há poucos dias, em um curso de Política (na Universidade ainda Pública), entre meus
alunos, falávamos do idiôtés na Grécia antiga e como este personagem atravessou a história
e se manifesta em nossos dias. É verdade que idiôtés é uma classificação para o indivíduo,
mas aqui tomarei a liberdade de considerar a ligação da palavra grega com a definição latina,
onde o idiota é também uma pessoa tola. E abusando mais um pouco da etimologia,
colocarei o tolo aqui organizado em classe dominante e muito preocupado com uma política
para si.
“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As
contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino
tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que as
coisas voltem a ser como era antes”.
Ou ainda, nas palavras de Michel Temer:
“Não eliminamos nenhum programa social. Estamos é levando adiante. Tudo isso é
para preservar os mais carentes, os mais pobres”.
Estas afirmações exclamativas tornaram-se parte do mantra da classe dominante
nos últimas décadas para tentar convencer a classe trabalhadora de que é necessário fazer
sacrifícios para retomar o crescimento e sair da crise. O que o mantra não diz é que são
exclusivamente os trabalhadores que devem pagar pela crise!
As peças publicitárias do Estado nos apresentam a categoria mística de sociedade,
escondendo com ela o caráter de classe e o papel destas diante da produção e reprodução
da vida. O Estado tenta mistificar ainda mais quando trata por povo, genericamente, as
classes sociais, na tentativa de esconder, velar, o papel da classe dominante diante da crise.
Por isso, dirá o novo idiôtés: “todos devem fazer a sua parte em nome da recuperação do
Brasil”.
A realidade é que estão depositando apenas nas costas da classe trabalhadora o preço
de uma crise que não foi feita pelos trabalhadores. Uma crise gerada pela própria classe
burguesa, pela lógica imanente do sistema capitalista e pela ganância da burguesia obcecada
pelo lucro inconsequentemente.
Diante da estagnação e do déficit, para retomarem o crescimento da taxa de lucro,
colocam a culpa nos trabalhadores e das conquistas históricas desta classe para operarem os
planos de austeridades e retomarem o crescimento dos seus negócios. E neste sentido a
leitura que diz que o Estado é um balcão de negócios da classe burguesa se mostra mais uma
vez correta e atual. Nos escreveu Karl Marx e Engels em 1848:

A burguesia, afinal, com o estabelecimento da indústria moderna e do


mercado mundial, conquistou, para si própria, no Estado representativo
moderno, autoridade política exclusiva. O poder executivo do Estado
moderno não passa de um cômite para gerenciar os assuntos comuns de
toda a burguesia (MARX; ENGELS, 1999, p.12).

O Estado, para recuperar o crescimento da taxa de lucro da burguesia tenta


desesperadamente propagar que é necessária uma série de medidas impopulares para
colocar o país nos trilhos do desenvolvimento. Que desenvolvimento? O da classe que
domina, é claro!
As “medidas impopulares” é um eufemismo para embelezar o crime contra toda a
classe trabalhadora! Trata-se de fazer trabalhar até a morte. Trata-se de negar o direito a
aposentadoria. É a negação mais nítida ao futuro. É um decretar do retorno a escravidão!
A reforma da previdência deveria se chamar “decreto de morte... trabalhe menino,
trabalhe”. Querem fazer a classe trabalhar até morrer! Mas não é só isso... Querem impor o
fim das leis trabalhistas, acabarem com as garantias mínimas (mesmo que ainda nos marcos
do capitalismo) conquistadas com a luta dos trabalhadores... Impõem a liberdade de
terceirização (PL 4302, aprovado nesta quarta-feira, 22) quando já é mais do que provado
que este regime de trabalho só faz a escravização dos trabalhadores! A terceirização abre
caminho para o fim do serviço público e consolidação do trabalho escravo. Prova mais cabal
desta nossa afirmação é a própria realidade onde a relação capital e trabalho terceirizado
expressa as maiores condições precárias de trabalho, com diversas pesquisas que
demonstram o quanto é vil esse regime e como se nega ao mesmo tempo os direitos
conquistados.
A regência da burguesia diante da crise orquestra um conjunto de ações através do
Estado que são profundas no que diz respeito a própria existência da classe trabalhadora.
Desmonte ainda maior da educação; destruição do sistema previdenciário; fim das leis
trabalhistas e terceirização.
Para ficarmos nestes três... Observem meu caro leitor... Trata-se de preparar uma
estrutura para retomada da taxa de lucro da burguesia: Desmonte da educação e mais
liberdade para o setor privado atuar neste setor altamente rentável para os tubarões do
ensino. Desmonte da providência pública para o deleite da previdência privada. Destruição
das leis trabalhistas e fortalecimento da prioridade do negociado sob o legislado... ou seja,
enfraquecimento do sistema sindical de representação de classe e imposição das
condicionalidades de interesse do capital em detrimento do trabalhador. E o vírus da
terceirização que na verdade é uma das formas de desmonte de todo o setor público, dando
espaço para a ação da burguesia onde hoje atua o Estado, possibilitando, por exemplo, que
prefeituras, estados e união contratem empresas privadas para realizarem o que hoje é feito
por servidores públicos.
Mas não é apenas isso, separadamente, pois o conjunto destes desmontes age
organizadamente em todos os setores. Ou seja, estes ataques, coordenadamente,
colaboram para que a precarização ainda maior da vida do trabalhador seja afetada em
todos os sentidos. Menos saúde, educação, serviços públicos, trabalho, direitos, menos tudo
para a classe trabalhadora que é a que gera toda a riqueza!
E agora pergunto (?)... O que a burguesia vai pagar para o “Brasil sair da crise”???
A resposta é nítida: não querem pagar absolutamente nada!
Uma classe social tola e repugnante. Tola porque está confiante que passará ilesa por
mais uma crise do capitalismo, fazendo os trabalhadores pagarem por tudo. Repugnante
porque vive da exploração que promove sob os trabalhadores, realizando-se como parasitas,
dissipando a vida de seu hospedeiro.
Insisto no mantra que diz:
“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As
contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino
tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que as
coisas voltem a ser como era antes”.
Ser “como era antes” trata-se da burguesia desesperada para retomar a taxa de lucro!
É preciso “trabalhar”, a burguesia não trabalha há séculos!
Querem colocar nas costas da classe trabalhadora o pagamento de uma crise que não
fizemos. Querem que arquemos com as responsabilidades de uma lógica que só faz nos
explorar e oprimir! Querem que sejamos dóceis e obedientes! Não!
Tolos parasitas... Provavelmente Alexis Tocqueville continuaria dizendo que estão
sentados sob um vulcão prestes à erupção e ainda não consideraram isso com a devida
seriedade, pois apostam nos corpos dóceis. Nas suas palavras, em 1848, na Câmara dos
Deputados da República Francesa:

"Tal é, senhores, minha convicção profunda: no momento em que estamos,


creio que dormimos sobre um vulcão… Pois quando passo a procurar em
diferentes tempos, em diferentes épocas, entre diferentes povos qual foi a
causa eficaz que provocou a ruína das classes que governavam, vejo
claramente que a causa real e eficaz que faz com que os homens percam o
poder é que se tornaram indignos de mantê-lo" (TOCQUEVILLE, 2011, p.
50).

A classe trabalhadora já demonstrou que está cada vez menos confusa com toda esta
crise e no último dia 15, por todo o Brasil, deixou claro que não esta a fim de pagar a conta
de um jantar que não alimenta os seus filhos.
É preciso que as centrais sindicais e movimentos sociais convoquem uma greve geral
para responder com firmeza: Nós não vamos pagar nada!
Pela greve geral de trabalhadores!
Fora todos eles!

REFERÊNCIAS
TOCQUEVILLE, Alexis. Lembranças de 1848, as jornadas revolucionárias de Paris.
Clássicos Penguin & Companhia, 2011.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. (Tradução Maria Lucia Como). 4ª ed.
revista. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1999.

Você também pode gostar