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A Resposta Católica: a Contrarreforma ou Reforma Católica

Tende a dar resposta pela positiva e negativa a alguns dos problemas que a Igreja do
século XVI enfrentava e que vinham já do século XVI, para os quais Humanistas e
Protestantes, com destaque para o pioneirismo de Lutero, recusam – os Concílios.

Concílio de Trento
- Trata-se de um concílio ecuménico, onde reúne a Igreja Universal através da
representação dos seus principais líderes. Realizado na cidade italiana de Trento;
- Aberto em 1545, com a 1ª sessão de trabalho em 1546; a última realizou-se em 1563,
com várias interrupções dos trabalhos;
- Abre uma nova época na História do Ocidente – a ligação trono-altar, só maculada no
século XIX, manteve-se intacta entre os séculos XVI e XVIII, em boa parte graças às
determinações tridentinas…
- Três períodos: 1545-48; 51-52; 62-63.
Principais pontos do Concílio
- Matérias doutrinais:
Sessão IV:
- Dispõe-se sobre o texto da Sagrada Escritura e sobre o seu uso de interpretação. Trata-
se de matéria questionada pelos reformadores, aceitando-se como autêntica a Vulgata
(tradução da bíblia para latim por S. Jerónimo), por se considerar que era o tempo mais
autêntico entre o grande número de traduções dos textos sagrados. Isto não significa que
os outros textos não fossem admitidos, mas este era considerado o que menos
deficiências apresentava na tradução (Erasmo era contrário – filologia histórica).

- Estabelecem-se normas sobre a edição de livros sagrados:


1) Obrigatoriedade de submeter tais edições a teólogos indicados pela autoridade
eclesiástica, com o fim de evitar heterodoxias.
2) determina-se o lançamento de uma edição depurada da Vulgata.
3)proíbe-se, sob pena de excomunhão, a impressão total ou parcial da Sagrada Escritura.
4) proíbe-se a publicação de obras anónimas. Reforça-se a vigilância censória sobre os
livros = censura intelectual). O português Frei Francisco Foreiro colaborou com a
elaboração do Índex.

Sessão V:
- Tratou-se da questão do pecado original;
- Normas para o ensino da teologia, Sagrada escritura e pregação – Erasmo criticava os
malabarismos do ensino da Teologia (Elogio da Loucura);
- Determina-se que os Arciprestes, párocos e sacerdotes, deviam dedicar-se à pregação:
pelo menos aos domingos e dias santos.

- A 1ª interrupção dá-se em 1549 e volta em 1551; a 2ª dá-se entre 1552-62

3ª etapa (1562-63)
1º decreto - Proclama-se a doutrina do Purgatório.
- Origina a devoção Às Almas do Purgatório: a origem em todas as paróquias das
confrarias das almas está nesta sessão tridentina… multiplicam-se as populares
alminhas. Insiste-se na ajuda que os fiéis podem dar aos defuntos estantes no
Purgatório, através das boas obras;

2º decreto – determina-se sobre a evocação das relíquias dos Santos e a veneração das
imagens:
- Ordena-se que se evitem abusos introduzidos e e praticados;
- Determina-se a eliminação da superstição no culto;
- Reafirma-se o combate à bruxaria;

3º decreto – determina-se sobre a reforma monástica


- procura-se a referência das obras monásticas antigas – é intenção fazê-las regressar ao
espírito primitivo do fundador: o caso mais conhecido é o caso de Cister (1531-32)

-1563- decreto sobre as indulgências – clarificação;


- estabelecem-se os dias de jejum, abstinência e festivas. Podiam ser substituídas,
pagando indulgências.

- Confia-se ao Papa a publicação de:


a. um missal e um breviário;
b. um índex de livros proibidos;
c. um catecismo
Todas estas obras terão um papel relevante na formação dos crentes.

Consequências do Concílio de Trento


- Os bispos E os párocos que antes se faziam substituir nas paróquias e nos bispados
foram obrigados a neles residir = aproximação às comunidades;
- os seminários são impostos ao clero secular, com o objetivo de melhor preparar os
padres a nível moral e intelectual = uniformização do ensino;
- Colocam-se em causa os cultos e crenças populares:
. ao nível das praticas populares, avultam manifestações do universo mental arcaico pré-
cristão (mesmo nos séculos XVI e XVII, entende-se que os corpos mortos e vivos são
animados de “alma” e “espírito” – não se distingue o natural do sobrenatural, gerando
angústia e insegurança no Homem perante o mundo:
Exemplos:
a. Distingue-se mal o visível do invisível;
b. No século XVII, certas ervas eram consideradas mágicas;
c. Na Bretanha orava-se à Lua;
d. Prestava-se cultos a fontes-virtudes curativas;
e. Suicidas;
f. Vestígios do corpo (sangue, esperma, unhas e cabelos) - entendiam-se que
continham parte da alma (é tabu)
g. Tendência, nos séculos XVI-XVII, para a folclorização das festividades cristãs,
como o caso da Festa do Corpo de Deus;
h. No S. João, colhiam-se ervas mágicas (erva cidreira); faziam-se fogueiras para
afastar os maus espíritos;
i. Lançam.se gatos (animais considerados diabólicos);
j. Banhos – acreditava-se que eviravam as febres por um ano;
k. Multiplicam-se crenças: lavadeiras da noite; deslocação dos marcos; mortos sem
sepultura; nºs mágicos (ímpares) – 3 pessoas, Santíssima Trindade, 7 pecados
mortais;
l. Multiplicam-se o culto dos Santos;
m. Exorcismos.
=
As constituições sinodais vieram proibir estas crenças

Cultura e Censura
- Até ao século XVI foi prática corrente serem os prelados ou as Universidades, através
das respetivas Faculdades de Teologia, a tomarem posição em matéria de censura de
livros heréticos.
- 1529 – bula de Paulo III, a autorizar Carlos V a usar no seu Império um Índice de
Livros Proibidos;
- 1540 – este índex foi adorado pela Universidade de Lovaina e passou também a ser
utilizado em Espanha. Este índex inspirou o 1º rol de livros proibidos que circulou em
Portugal em 1547.

1º rol PT (1547)
- manuscrito;
- integra 160 títulos que não se deviam comprar;
Dirigia-se sobretudo contra o progresso das Igrejas Protestantes e contra o Erasmismo,
com o objetivo de evitar a disseminação de escritos favoráveis a estas correntes.

2º rol (1551): Rol dos Livros Defesos (proibidos)


- reproduz um outro rol publicado em Espanha por Carlos V, organizado pela Faculdade
de Teologia de Lovaina;
- características gerais:
a. muito mais volumoso, com 495 títulos;
b. os censores portugueses conferem já alguma originalidade – não se limitaram à
reprodução da fonte inspiradora, acrescentando-lhe um apêndice de obras consideradas
incómodas para a Igreja:
- Escritores reformistas como Le Fevre D’Etaples (percursor da ref.protestante
em França) foram incluídos;
- sete autos de Gil Vicente;
- proibiu obras recomendadas aos estudantes de Lovaina
=
Começou aqui o zelo censório português, que nunca mais se perdeu e que marcou a
originalidade da nossa vida cultural por mais de 300 anos

3º Índex de Livros Proibidos (1559)


- trata-se do ano da publicação do 1º índex romano pelo Papa Paulo IV;
- Coimbra foi a única cidade não italiana ou papal a reproduzi-lo nos seus prelos;

4º Índex (1561)
- atinge-se um grande apuro;
- além do índex, o texto integra um conjunto de regras gerais a seguir, como critério
para justificar as condenações = tratado completo de legislação inquisitorial sobre livros
- este índex transformou os censores portugueses em verdadeiros especialistas na
matéria: é graças a ele que Frei Francisco Foreiro é chamado ao concílio de Trento para
colaborar na revisão do Índex de Paulo IV e elaborar as bases do índex Tridento.

5º Índex (1564)
- é precisamente a adoção do índex aprovado em 1563
Características gerais do Rol de Trento:
- Não apresenta grandes avanços relativamente ao de 1561 (as obras de Gil Vicente
deixam de figurar entre os textos interditos) – o que parece revelar algum recuo do brio
censório;
- A importância está no facto de se ter transformado numa espécie de código legislativo
sobre a censura de livros:
a. define 10 regras básicas que precedem a descrição das obras proibidas;
b. confere aos bispos e aos inquisidores poderes para recusar/autorizarem nos seus
territórios a leitura do texto sagrado – questão do livre exame é preocupação;
- Mesmo os membros do clero regular (mosteiros) só podiam ler a bíblia depois de
autorizados pelos seus superiores seculares;
- a aquisição e leitura da bíblia passa a ser precedida por uma autorização escrita
(incluem-se os livreiros, etc. Controlam-se os leitores, os meios de produção e venda);
- livros que tratassem de matérias lascivas ou “desonestas” (exceção feita a alguns
clássicos) deviam ser incluídos no rol = alargamento do leque de temáticas alvo da
censura;
- livros de astrologia só podem circular se tivessem aplicação prática nas navegações---
agricultura e medicina;
- livros que contivessem matéria supersticiosa deveriam ser dela expurgados antes de
circularem;
- os autores surgem neste índice divididos em 2 grupos/categorias:
1) os que viam todos os seus livros interditos – condenação nominal
2) os que viam só alguns títulos expurgados ou indexados
O rigor deste índex chega ao pormenor de aconselhar cuidados especiais com as obras
de bons autores, mas sumariados, glosados ou prefaciados por autores reprovados – se o
fossem, não poderiam circular.
Em suma
- Principais categorias em que se enquadravam os títulos do Índex de 1564: 1ª livros de
propaganda herética; 2ª veiculadores de artes ocultas; 3ª temáticas dos bons costumes;
4ª Texto sagrado

Este rigor teve aplicação prática?


- a sua aplicação foi rigorosa:
a. Os oficiais do Stº Ofício visitavam, algumas vezes por ano, as tendas dos livreiros;
b. revedores e familiares (grupo de gente que fazia pate do Stº Ofício = denunciador e
fiscal) do tribunal, à mesma hora e de surpresa, vistoriavam as livrarias de Lisboa,
apreendiam livros suspeitos de conterem matérias melindrosas; preocupavam-se
sobretudo com os livros estrangeiro, veiculadores da heresia e do erro;
c. foi criado o cargo de visitador das naus estrangeiras em todas as cidades costeiras,
que procuravam por livros e cadernos (somados os vários cadernos, resultavam em
Códex’s)
d. as livrarias particulares não escaparam a este zelo, sendo vistoriadas com
regularidade. Sempre que alguém morria, os seus herdeiros só podiam apropriar-se dos
livros que colecionou após uma visita do revedor do Stº Ofício, que sequestrava os
exemplares que entedia por suspeitos = este 5º índex deixou fama no Reino

6º Índex (1581)
- D. Jorge de Almeida fez imprimir este índex: traduz de forma rigorosa o de 1564 no
que se refere às 10 regras do catálogo tridentino, mas no final, Frei Bartolomeu Ferreira
acrescentou-lhe mais uma…

7º Índex (1597)
- cópia de um novo índex romano que continha regras há muito seguidas em Portugal
nesta matéria. Afinal, desde 1547 que Portugal se constituiu como “uma fortaleza
inexpugnável contra a heresia e a imortalidade literárias” – prof. Barros Cardoso

8º índex (1624)
- ultimo índex da chamada Censura inquisitorial, vigorando até à criação da Real Mesa
Censória em 1768, que alterará este censura (parcialmente) em censura laica;
- foi um precioso instrumento de trabalho para a censura:
a. continha o índex romano em vigor em todo o mundo católico;
b. continha um apêndice com livros interditos especificamente em Portugal

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