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Considerações (Terapêuticas de Substituição Opiáceos)
Considerações (Terapêuticas de Substituição Opiáceos)
Daí que, como terapêutica, ela de facto substitua a droga, mas não por ser de
natureza similar. Só o é de substituição, por analogia grosseira com outras
terapêuticas ou, talvez, porque implica um período de administração longo,
para ver efeitos concretos de sucesso.
Por esta razão, esta substância deveria (em qualquer das suas formas e
dosagens comercializadas), com toda a propriedade ser muito, mas muitíssimo
mais facilmente considerada pela comunidade dos Licenciados em Medicina,
que exercem a Medicina Familiar, ao invés de excessos de zelo, infundados,
que desajudam quem precisa e, pior, ajudam o mercado negro, os traficantes e
toda a corja que daí faz modo de vida. Afinal, e vendo bem, ajudam muita
gente, mas só não ajudam os escravos de vícios desesperadamente à procura de
refazer a vida, com toda a legitimidade e valor…
È precisamente este um dos objectivos que norteou a livre entrada das diferentes variantes
comercializadas, tendo sido alterada a dosagem original (administração de 0,8 a 2mg/ dia) de
forma a cobrir o tratamento da toxicodependência, aliás, anos, talvez mesmo décadas, após
experiências de sucesso noutros países, esses sim, civilizados. Tendência que se verá reforçada
no futuro.
Com este mais do que breve enquadramento (mas que procurou rigor nas fontes da
informação), impõe-se questionar como é que se sustenta a decisão do médico parar a
prescrição, ou simplesmente aumentar o zelo, quando, em cima de tudo, o caso em
terapêutica responde com absoluto sucesso (começando a perder-se no tempo a patologia que,
afinal se pretendia tratar).
Aqui chegados, deixa mesmo de fazer qualquer sentido voltar a um Centro de Atendimento
especializado (fora de mão, implicando, necessariamente, uma reabertura de processo, com
todos os custos que tal acarreta) para, desta feita procurar apoio, não para o consumo
de droga, mas para a manutenção da abstinência. Ao fim e ao cabo, é para isso também,
e com toda a propriedade (deve sublinhar-se), que cá estão os ‘médicos de família’. Ainda a este
propósito, de relembrar que se gastaram alguns recursos significativos a preparar os Centros
de Saúde, e os médicos que assim o desejaram, na administração de terapêuticas de
substituição dos opiáceos in loco.
Se algumas dessas terapêuticas ainda não são comercializadas na farmácia, caso da metadona
(mas tudo indica que muito em breve o serão, implicando aí automaticamente o ‘médico de
família’ no processo terapêutico, até porque deixa de fazer sentido manter os custos
associados às permanentes deslocações, mas mais ainda, manter a sobrecarga dos
técnicos especializados e dos Centros, já de si, em ruptura eminente), outras como a
buprenorfina, já lá estão disponíveis, para facilitar o tal acesso fácil, democrático e pouco
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16-9-2009
oneroso para os utentes (normalmente vítimas do desequilíbrio da Vida que eles próprios
provocaram) e, por arrastamento, para todo o sistema, para o estado e para a sociedade.
Ademais, è de vital importância, que seja dada a devida atenção às contingências de vida
(àquelas que estão para além do controlo do próprio), às condições emocionais actuais do utente
e, por fim, às consequências para o próprio e para os demais, que com ele fazem sistema, antes
de qualquer decisão que afectará indelével (mesmo até aos fundilhos) a vida da pessoa.
Afinal, ao criar dificuldades num processo deste tipo (mesmo que menores e
involuntariamente), está-se implicitamente a convidar, senão mesmo a obrigar, o sujeito (neste
caso particular, imerso na maior crise da sua vida, a não ser que não seja já por demais
evidente a natureza terminal do quadro clínico da mãe) a cair na tentação da facilidade (e
nesta encruzilhada, ao menos uma…), ainda que ilusória, que o consumo da droga encerra,
terminada que seja a última embalagem de medicação. Medicação essa que, súbita e
repentinamente, parece estar a tornar-se de mais difícil acesso do que a droga de rua, contra a
qual foi afinal institucionalizada e, contra a qual deveria competir.