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LINGUAGEM E FENÔMENO

RELIGIOSO
AULA 1

Prof. Alex Villas Boas

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CONVERSA INICIAL

O que é fenomenologia? É um movimento filosófico iniciado pelo


matemático e filósofo Edmund Husserl (1859-1938). Também é o nome dado ao
método de investigação filosófica criado por ele. A fenomenologia visa analisar
criticamente os fenômenos, e como se dão a conhecer na consciência.
Fenômeno é tudo o que acontece e que se pode perceber:

 Phainestai, em grego, diz respeito ao que vem à luz, o que se mostra, o


que aparece;
 Noumenom diz respeito às coisas em si, que não aparecem no espaço e
no tempo, e de que não se pode fazer juízo.

O objetivo desta aula é analisar o que é fenomenologia, como movimento


filosófico e método de investigação criado por Edmund Husserl.
Principais tópicos a serem analisados:

 Tema 1 – Introdução à fenomenologia: aborda seu desenvolvimento e


conceitos gerais da fenomenologia.
 Tema 2 – Método fenomenológico: apresenta o modo de proceder da
investigação fenomenológica, seus três momentos e categorias
fundamentais.
 Tema 3 – Consciência fenomenológica: apresenta a consciência como
característica fundamental da fenomenologia.
 Tema 4 – Atitude fenomenológica: descreve a postura e a perspectiva
fundamental para a investigação fenomenológica – epoché.
 Tema 5 – Precursores e principais fenomenólogos: apresenta autores
que foram precursores do pensamento fenomenológico, assim como
alguns grandes fenomenólogos.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA

Husserl pretendia superar algumas tendências epistemológicas que


julgava reducionistas, principalmente:

 Empirismo: conhecimento só poderia vir da experimentação (ênfase na


objetividade);

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 Idealismo e racionalismo: divide a realidade entre o mundo perfeito (das
ideias) e o mundo imperfeito (dos fenômenos sensíveis, com ênfase na
abstração das ideias);
 Psicologismo: conhecimento desde um ponto de vista de predominância
psicológica (ênfase na subjetividade) e consciência história do modo
como as instituições religiosas atuaram em relação aos regimes políticos.

Em outras palavras:

 A fenomenologia pode ser entendida como o estudo da consciência e a


forma de dar sentido aos objetos que constituem nossa consciência.
 É o estudo da experiência subjetiva da consciência e sua relação com o
mundo conhecido, a realidade.

1.1 Fenômeno e fenomenologia

A fenomenologia é um exercício de compreensão do fenômeno. E o


fenômeno é aquilo que se mostra. Isto implica que o fenômeno é algo que se
mostra, e é considerado fenômeno pelo fato de se mostrar, pelo que se mostra,
e a quem se mostra.
Dito de outro modo, o fenômeno um objeto que se refere a um sujeito e
ao mesmo tempo um sujeito que se refere a um objeto.
O fenômeno não é produzido pelo sujeito ou provado por ele, mas se
mostra a ele, e a fenomenologia surge quando o sujeito começa a falar desse
fenômeno que se mostra a ele.
Há ainda no fenômeno três características fenomenais superpostas:

 O fenômeno é relativamente oculto;


 O fenômeno se revela progressivamente;
 O fenômeno é relativamente transparente.

Tais características são correlativas a outras características da vida:

 Experiência experimentada, vivida;


 Compreensão;
 Testemunho.

A fenomenologia diz respeito ao rigor científico aplicado a um método


que desenvolva as duas últimas características.

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A experiência vivida não é inseparável de seus condicionamentos e nem
da sua interpretação.
A interpretação se dá em função de uma experiência vivida primordial sob
a qual se fundam as demais experiências, que vão se constituindo na tessitura
de sentido da vida, que demanda ser desvelada. É um traçado em meio à
confusão da realidade, que identifica como estrutura de sentido, constitutiva de
um todo orgânico que vai se compreendendo pelas suas partes.
Tal estrutura é experimentada e se desdobra na construção de uma
realidade significativamente organizada. Tal significação pertence, em parte, a
alguém que pretende compreendê-la em busca de conexão de sentido das
experiências vividas, sobre as múltiplas unidades de sentido experimentadas,
em busca de conexões que operam como semelhanças significantes. E toda
conexão é uma experiência vivida e ao mesmo tempo um tipo, em que o que se
mostra se dá como imagem.
Tal imagem vai se comportando no exercício de construção da realidade
vivida por contraste com outras imagens, que vão sendo organizadas em
nuances de posições centrais, periféricas, subordinadas, concorrentes,
distantes, próximas, e se aplicam a pessoas, situações históricas, uma religião;
algumas dessas imagens podem ainda assumir a forma de tipo ideal.
A fenomenologia trata de nomear aquilo que aparece, de modo a
classificar, separar e reunir. Em um segundo momento, ocorre a inserção desses
fenômenos na própria vida, e com isso a elucidação do que se vê; a reunião de
todos os elementos constitui a compreensão do fenômeno.
Essa significação da realidade caótica se torna uma revelação, uma
comunicação trazida ao conhecimento. O factum (empírico, ontológico,
metafísico) se torna um datum, uma palavra viva. A fenomenologia se torna uma
hermenêutica em busca da compreensão da experiência vivida, que se deixa
revelar algo.
Nesse sentido, a religião pode ser considerada como experiência vivida
compreensível, e um fenômeno em que a pessoa pode dar uma resposta ao que
é revelado. Tal resposta pode identificar na religião a recusa a se limitar a aceitar
simplesmente a vida que lhe é dada.
Aquele que não aceita simplesmente a vida tenta encontrar ali um sentido,
e assim organiza a vida em um conjunto significativo: aí onde nasce a cultura, e
mais ainda a relação entre religião e cultura (Van Der Leeuw, 2009, p. 173-189).

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TEMA 2 – MÉTODO FENOMENOLÓGICO

O método fenomenológico não explica algo mediante leis ou princípios,


mas visa descrever como uma ideia aparece na consciência. Para Husserl, “toda
consciência é consciência de algo”, portanto:

 Fenômeno é o que aparece de algo que está presente na mente (objeto).


Pode ser real, fantástico ou uma ideia.
 Desse algo, busca-se captar sua essência ou conceito universal
manifestado na vivência.
 Vivência é o que fica para o sujeito por meio da intuição, que permite
conhecer a essência pela experiência.
 Intuição é um ato de consciência.

Há três momentos no método:

 Intuição: quando o fenômeno se faz presente à consciência (intuição,


verdade e evidência coincidem).
 Redução: visa suspender o juízo sobre o mundo real para um
“retorno às coisas-mesmas”.
 Ideação: é o caminho do objeto à essência, um ato de significação, que
só se revela em situação.

A metodologia fenomenológica, portanto, pode ser entendida como uma


descrição fenomenológica de qualquer narração que seja feita da consciência de
algo. É uma descrição intuitiva do modo que se formam as ideias que temos dos
fatos e uma forma de compreensão da relação entre subjetividade e objetividade
no ato de conhecer.

TEMA 3 – CONSCIÊNCIA FENOMENOLÓGICA

A ênfase, na fenomenologia, é sobre a consciência, ou seja, sobre a


interpretação dos significados do mundo (o sentido dos fenômenos) e as
ações dos sujeitos (o propósito das atividades sociais).
O tópico de pesquisa mais característico da fenomenologia é a
consciência, entendida como a área em que a realidade está presente ou
mostrada (fenômeno).

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A característica fundamental da consciência é a intencionalidade, que é
o modo pelo qual a consciência se direciona para um objeto. A consciência é
uma atividade direcionada (intencionalidade) para algo. Para cada tipo de
objeto, há uma intencionalidade (consciência de algo). A consciência intencional
é um “ir”, um movimento que em três tempos básicos:

 Futuro (imaginação);
 Presente (sensação);
 Passado (memória).

O pensamento tem estruturas próprias e permanentes na distinção do que


as coisas são e como se apresentam. Dessa forma, é de extrema importância
as concepções de noesis e noema:

 Noesis – percepção e consciência de algo (aspecto subjetivo da


experiência vivida).
 Noema – aquilo que se tem consciência (aspecto objetivo da experiência
vivida).

TEMA 4 – ATITUDE FENOMENOLÓGICA

A atitude fenomenológica, por excelência, é a epoché, a suspensão do


juízo de algo. Para Husserl, epoché seria a forma de mensurar o fenômeno, em
uma “redução” ou “suspensão fenomenológica”. Com isso, o fenômeno pode, de
certa forma, ser descrito em sua “essência”, sua “forma” e seu “conteúdo”.
Destacam-se três tipos de epoché em Husserl:

 Epoché filosófica: colocar entre parênteses toda a teoria filosófica e


hipótese, com a finalidade de concentrar a atenção unicamente nos
objetos;
 Epoché fenomenológica: colocar entre parênteses tudo aquilo que for
acidental em relação ao objeto, para se captar a intencionalidade da
consciência;
 Epoché eidetica: reduzir o fenômeno à sua estrutura essencial.

TEMA 5 – PRECURSORES E PRINCIPAIS FENOMENÓLOGOS

Podemos mencionar como autores que influenciam o movimento


fenomenológico de Edmund Husserl:

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 David Hume (1711-1776);
 Johann Heinrich Lambert (1728-1777);
 Immanuel Kant (1724-1804);
 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831);
 Franz Brentano (1838-1917).

Podemos mencionar alguns dos Principais fenomenólogos do século XX:

 Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): sua principal obra é Fenomenologia


da percepção (1945);
 Martin Heidegger (1889 -1976): sua principal obra é O ser e o tempo;
 Jan Patočka (1907-1977): sua principal obra é Platão e Europa (1973).

NA PRÁTICA

Estudamos uma metodologia de investigação filosófica que pode ser


compreendida como ciência das significações, pois é a significação que faz algo
ser ele mesmo.
Os fenômenos são constituídos como significados (objetivos) e
significantes (subjetivos) por meio de sua manifestação.
A primeira coisa que sujeito apreende em sua consciência é o objeto
(fenômeno), por meio da sua vivência (intuição), chegando assim à experiência
ideativa do conhecimento (à essência pela experiência).

FINALIZANDO

O que é fenomenologia?

 Estudo dos fenômenos;


 Relação entre consciência e mundo, realidade;
 Elucidação da relação sujeito-objeto.

Edmund Husserl (1859-1938) é conhecido como o “pai” da


fenomenologia. Ele redefiniu a fenomenologia:

 Como uma espécie de psicologia descritiva;


 Como uma filosofia que reflete sobre o conhecimento do conhecimento,
um método de investigação.

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A fenomenologia não pretende dar solução a algo, mas oferecer a
descrição da relação entre sujeito cognoscente (que aprende) e objeto
cognoscível (que é aprendido) → consciência de algo (noesis), e aquilo de que
se tem consciência (noema).
Principais categorias do método fenomenológico:

 Consciência como princípio de análise para o fenômeno;


 Epoché;
 Suspensão fenomenológica;
 Redução fenomenológica;
 Ideação.

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REFERÊNCIAS

HOLANDA, A. F. A religião em sua essência e suas manifestações.


Fenomenologia da Religião. Trad. do epílogo do livro de Van Der Leeuw, G. La
religion dans son essence et ses manifestation. Phénoménologie de la Religion.
Revista da Abordagem Gestáltica, n. XV, v. 2, p. 179-183, 2009.

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