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Estética Contemporânea

 
Docente: Fátima Pombo

  
 
Adalberto Pinto    Elsa Machado    Guilherme Farinha    Helena Freitas    Mariana
Gavela
 

“The Light in the Landscape"

O presente trabalho revisita a obra “Thinking Architecture" do renomado


arquiteto Peter Zumthor tendo por base o seu conceito de atmosfera do espaço em
paralelo com a análise e reflexão do texto “The light in the landscape", cujo explora o
papel fulcral e relevante desempenhado pela iluminação na categoria estética.

Peter Zumthor, arquiteto suíço, ancora a sua linguagem arquitetónica perante


princípios como a sustentabilidade, integração harmoniosa no meio e sensibilidade no
tratamento dos materiais, de forma a explorar as suas qualidades plásticas, tácteis e
reativas. Apologista de uma arquitetura de carácter simples e minimalista, Zumthor
legítima como basilar premissa o fato da arte de projetar e construir partir do pretexto
de que é feita para ser vivida e sentida, assente numa experiência.

Obcecado pelo processo de observação e apreciação, o arquiteto apresenta um estilo


singular sustentado pela desvinculação da metodologia automatizada e apática
corrente na arquitetura. Denotando, deste modo, a importância da dimensão
conceptual tendo como primordial foco as experiências multissensoriais que o público
pode presenciar a partir da relação entre a estrutura, a paisagem e as composições
criadas por intermédio da luz, das cores e das texturas. 

Uma vez mencionados termos como arquitetura, natureza e materiais é


fundamental referir algo que afeta a todos: a luz. Em análise do texto “The light in the
landscape”, o autor atribuiu uma grande conotação a este elemento, onde ao longo do
ensaio descreve e explora a sua funcionalidade em relação à perceção da arquitetura
como paisagem.

A luz expõe uma presença vital na sinfonia dos nossos sentidos, é uma
condição prévia para a saúde humana, hábil de contruir uma noção de escala e de
dimensões do espaço em que estamos inseridos. É possível separar os diferentes
tipos de luz, através da iluminação criada pelo ser humano (luz artificial) e a
iluminação projetada pelo sol e pela lua (luz natural).
Levando em conta a definição, Zumthor trata a luz com extrema importância nos seus
projetos, uma vez que desenha os interiores como espaços onde esta ganha o maior
destaque. Em consequência, o arquiteto privilegia a luz natural, a luz difusa, quando a
descreve como fonte luminosa única, potente e capaz de iluminar a nossa imaginação.
“The light of sun, the day, that reaches the surface of the earth, from outer space, is big
and strong and directed. It is one light.”. Em contraste à atmosfera subjacente da luz
artificial que lhe parece pálida e doentia.

Dentro desta linha de pensamento é possível estabelecer um diálogo com outros


autores nomeadamente os arquitetos modernistas Louis Kahn (1901-1974) e Frank
Wright (1867-1959) segundo as seguintes afirmações: “É ridículo imaginar que uma
lâmpada possa fazer o que o sol e as estações realizam. Por isso, é a luz natural que
dá verdadeiramente sentido a um espaço arquitetural”1 ; “(…) o sol como grande fonte
de luz de qualquer forma de vida. E como tal, deveria ser utilizada na conceção de
qualquer casa.”2

Perante a relação que determina com a luz, Zumthor cita um texto de Friederike
Mayrocker sobre como as emoções e as memórias sensoriais constituem uma luz
própria. A felicidade, a solidão, o orgulho, são imagens e sentimentos que têm uma luz
única e representativa. O que o leva a refletir e questionar sobre a possibilidade da
existência de tudo o que nos rodeia sem este elemento tão significativo — “Is it even
possible to imagine things without light?”.

Por conseguinte, no decorrer do texto “The light in the landscape”, o autor


estabelece uma dicotomia entre a luz e a sombra, onde discute e caracteriza a forma
de iluminação em comparação com a escuridão. Como é explicito nos exemplos que
menciona em relação às flores alpinas e o que um alpinista observou. Cujos
contribuem para a consciência da vastidão da presença da luz, mas também da
presença da escuridão.

Outra referência que é abordada por Zumthor a respeito da conexão entre luz e
penumbra é a obra “In praise of shadows” do escritor japonês Tanizaki Jun’ichiro.
Assim como na estética tradicional japonesa, Jun’ichiro valoriza a sombra como parte
integrante nas suas construções. Ou seja, a sombra é encarada como um objeto que
não deve ser erradicado, porém empurrado para as suas margens, de forma a ser
observado em relação aos objetos que o fundem. Semelhante à ideia defendida por
Zumthor de que tudo no mundo, incluindo as sombras, necessitam também de luz
para se manifestarem - “Jun’ichiro praises shadows. And shadows praise light.”.

Neste seguimento, também é possível criar pontes de ligação à filosofia de Tanizaki


que admite — “The quality that we call beauty, however, must always grow from the
realities of life, and our ancestors, forced to live in dark rooms, presently came to
discover beauty in shadows, ultimately to guide shadows towards beauty’s ends”.

Uma vez apontada a ligação entre luz e sombra, Zumthor referencia a obra de
Andrzej “The world behind Dukla” cuja refere a existência dos objetos a partir da
permanência destes dois grandes pilares. Ora, de acordo com os autores a luz e a
sombra são a única realidade percecionada dos objetos, capazes de compreender os
mais variados componentes tornando-os visíveis.
Além disso, também é possível conceber uma alusão a Louis Kahn, do qual definiu os
materiais como luz gasta. Isto é, quando refletida pelos materiais, torna-os visíveis,
1
KAHN, Louis I., 1901-1974. Titulo Louis I. Kahn : conversar com estudantes / trad. de Alícia Duarte
Penha. Publicação/Produção Barcelona : Gustavo Gili, 2002.
2
WRIGHT, Frank Lloyd, The vision of Frank Lloyd Wright : a complete guide to the designs of na
architectural genius, Chartwell Books, 2003
atribuindo-lhes cores específicas. Sendo o que penetra nos nossos olhos aquilo que
nos faz perceber o objeto. Logo, para Kahn a luz é a criadora do material
manifestando-se doadora de todas as presenças. 
Por fim, Peter Zumthor termina o seu texto “The light in the landscape”
salientando três questões de carisma retórico que ecoam sobre a sua visão
transcendental do significado da luz e da sombra na arquitetura. Das quais incorporam
a ideia de aumento e qualidade espacial. Desta forma para o arquiteto a arte traduz se
exatamente sobre os jogos harmoniosos entre estes dois grandes alicerces.

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