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AULA 147 - O que é caridade?

O que é Umbanda? Em 1908, Zélio de Moraes, um jovem rapaz que incorpora o Caboclo das
Sete Encruzilhadas, dentro da recém fundada Federação Espírita de Niterói, diz: Umbanda é a
manifestação do espírito para a prática da caridade. Mas o que é caridade?

Não existe estudo, profundidade de conhecimento e entendimento real sem contextualizar


absolutamente tudo no campo do conhecimento. O erro de todos os erros é acreditar que
você conhece a premissa como algo verdadeiro, solidificado para você. Então dizemos,
“Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”, ótimo. Quando você ouve isso,
pensa: Caridade eu já sei o que é. Para eu entender a Umbanda, se o Caboclo das Sete
Encruzilhadas define que ela é a manifestação do espírito para a prática da caridade, então eu
acho que já sei o que é essa definição. O que é caridade? Será que realmente nós sabemos o
que é caridade? Será que fazemos a caridade? O que essa frase dita pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas quer dizer?

Quando diz “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”, nós dogmatizamos isso
de tal maneira que a palavra caridade, o conceito começa a se tornar uma aversão a tudo que
se relaciona a uma energia do dinheiro e muitas vezes a energia da prosperidade.

O conceito caridade é um conceito muito mais antigo que pode ser remontado, por exemplo, a
Bíblia em Paulo Coríntios 13, ele diz assim: “Posso falar a língua dos anjos, mas se eu não tiver
Ágape nada serei”. O que é Ágape? É uma qualidade de amor. Eles utilizavam três palavras
para definir o amor: o amor Eros, que é esse amor de envolvimento, relacionamento de pele,
química, toque, cheiro. Tem o amor Philos, que é o amor dos irmãos, dos amigos, e Ágape, que
é um amor caridade. Então, aquilo que chamamos de caridade, na verdade, em um
entendimento mais profundo, é amor, e não a aversão a alguma outra coisa.

No universo da Umbanda a coisa toma uma proporção tão grande, tão errônea, que o médium
chega a dizer que ele é que está fazendo caridade para o próprio Caboclo. Porque se eu não
trabalhar, eu não evoluo e o meu Caboclo não evolui. Olha a inversão de valores! Você
acreditar que o seu Caboclo depende de você para evoluir é a mesma coisa que acreditar que
você é que está fazendo caridade para seu Caboclo. Você acha que é você que está fazendo a
caridade? Ou que você é médium de Umbanda para fazer caridade?

“Fazer caridade é não sujar suas mãos com dinheiro e fazer o bem para o próximo sem olhar a
quem e sempre estar ali disposto a ajudar o próximo antes de você”. Então eu lhe pergunto:
como pode você ajudar o próximo sem antes ajudar a você mesmo?

Caridade deveria ser entendida como o amor. Nessa qualidade é o exercício de amar o
próximo como a si mesmo. E você diz: Estamos aqui praticando isso, amando ao próximo como
a mim mesmo. Você ama? Você tem certeza de que ama a si mesmo?

Porque quando se diz: amar ao próximo como a si mesmo, a premissa é amar a si mesmo! Não
há como amar ao próximo como a si mesmo se não há o amar a si mesmo antes, só depois que
vem amar ao próximo.

Manifestação do espírito para a prática da caridade, a primeira caridade da Umbanda é para o


médium. No momento que o Caboclo incorpora, ele já está fazendo caridade para o médium.
Porque a única razão para um Caboclo vir (e quando falo Caboclo estou querendo dizer todas
os Guias de Umbanda) é amor, ele não vem por dívida.
Você acha que você é médium porque você tem muitas dívidas? Você é médium porque você
tem um carma? Então nas vidas passadas fizemos muitas coisas erradas, agora essa é nossa
oportunidade de fazer caridade. “Vou incorporar um espírito para ajudar todo mundo, e não
interessa se minha vida está um lixo”. Nós chegamos no discurso, naquele discurso antigo de
que meu Guia ajuda todo mundo, mas não me ajuda. Nossa, como seu Guia incorpora em
você, ajuda todo mundo e não te ajuda? Como isso pode ser verdade se o simples fato dele
incorporar, é algo transformador para sua vida. Olhar o mundo com os olhos do Caboclo, essa
é a maior caridade da Umbanda, transformar você em uma pessoa melhor. Não existe
caridade maior do que despertar, acordar, conscientizar.

Olhar o mundo com os olhos do Caboclo, do Preto Velho, da criança, essa é a maior caridade
da Umbanda. Então, se a Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade, a
manifestação do espírito já é a prática da caridade. Umbanda é amor, fé e caridade. A
manifestação, a incorporação, é um ato de amor e não de dívida. Não é uma obrigação.

A caridade com o tempo tem sido utilizada como moeda de troca para comprar um pedaço no
céu. Então, se faz caridade como quem paga uma indulgência (a Igreja Católica na Idade Média
vendia indulgência, que é vender o perdão dos seus pecados por dinheiro) e as pessoas
acreditam que a caridade é moeda de indulgência de seus pecados, porque acredita que o
carma é uma conta bancária. E voltamos para o conceito de carma que é tão polêmico até
agora. Ainda chegam perguntas sobre carma: Ah, então se carma não é isso, o que é afinal?

O carma é você. E quem é você? Você é o resultado de todas as suas experiências, dessas e de
outras vidas. Isso é aqui, agora, e não uma conta bancária que está lá. Então, o carma não deve
ser um peso e a caridade não deve ser a moeda para pagar o peso do saldo negativo do seu
carma. Porque a virtude não espera recompensa, então virtude não é moeda de troca.

Quando você chega em um Terreiro e ouve o discurso de um dirigente de que o preço da


caridade é a ingratidão, não entendeu nada. Não reclame dos médiuns, se você é dirigente a
falha de um médium é o resultado da falta de um olhar mais aproximado do dirigente. Porque
você estabelece disciplina, regras, diz como as coisas são antes, para você não reclamar
depois. No momento que faço a caridade, que ajudo alguém, jamais estarei esperando
recompensa. Aquela pessoa não deve nada para mim. Se amanhã ela vira as costas e vai
embora, não tenho nada com isso. A única coisa que tenho é uma relação de gratidão pela
minha oportunidade de ter ajudado aquela pessoa. Se ela carrega ingratidão, então esse é um
peso para a alma dela, e não para a minha alma, porque minha alma é livre e leve. A caridade é
para tornar as coisas mais leves. Caridade é amor, e amor é para libertar, não para prender,
nem aprisionar.

Pense, qual é a maior caridade da Umbanda? Para que serve hoje, essa afirmação: “Umbanda
é a manifestação do espírito para a prática da caridade”? Hoje, é visto como a única garantia
de que o trabalho mediúnico não deve ser cobrado. A frase do Caboclo das Sete Encruzilhadas
serve como base de doutrina para a religião, da unidade Umbanda, onde, garante, que o
trabalho mediúnico não deve ser cobrado. Agora, o entendimento mais profundo, de onde
chegarei com isso, precisa ir muito além do que o conceito de caridade de um senso comum e
muito além do que se usa com a palavra caridade para escovar os dentes. Precisa ir muito além
da ideia de que se minha casa está caindo aos pedaços quer dizer que sou uma pessoa boa,
que não olho para mim, somente para o outro. Essa ideia de que caridade é fazer tudo pelo
outro e nada por mim, é totalmente errada, porque se você não tem para você, como é que
você tem para o outro? Primeiro é você, a primeira caridade é você.
O que é ajudar o próximo? O que você faz pelos seus filhos? O melhor que você faz pelos seus
filhos é quem você é, e não o que você faz. O melhor que você faz por todos a sua volta, é
quem você é e não o que você fala. Então, não faça caridade, seja caridade e entenda caridade
como amor, e não uma moeda de troca ou desencargo de consciência. É isso que eu tinha para
dizer sobre caridade. (Texto adaptado de Alexandre Cumino)

Axé

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