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ARTIGO

Profilaxia paraORIGINAL
tromboembolia venosa em uma unidade de tratamento intensivo

Profilaxia para tromboembolia venosa


em uma unidade de tratamento intensivo*
S ÉRGIO S ALDANHA M ENNA B ARRETO 1,2 , P AULA M ALLMAN DA S I LV A 2 , C ARLO S ASSO F ACCIN 2 ,
A LEXANDRO DE L UCENA T HEIL 2 , A LICE H OEFEL N UNES 2 , C LEOVALDO T. S. P INHEIRO 2,3

Objetivos: Identificar o nível de risco e a prática de profilaxia para TEV em pacientes hospitalizados
em um centro de tratamento intensivo (CTI). Métodos: A amostra foi constituída por pacientes
admitidos no CTI-HCPA entre dezembro de 1997 e fevereiro de 1998. Foram excluídos pacientes em
tratamento com anticoagulantes ou que apresentavam contra-indicações para uso de heparina. Os
critérios utilizados para determinação dos fatores de risco para TEV e sua estratificação em níveis de
risco seguiram parâmetros estabelecidos em consensos internacionais. O estudo não foi de
conhecimento do pessoal médico da unidade. Resultados: Foram analisados 180 pacientes, com
média de idade de 58 anos (± 16,5). Os fatores de risco mais freqüentes foram: idade ≥ 40 anos
(85,0%), grande cirurgia (47,8%), infecção torácica ou abdominal (22,8%). Dois ou mais fatores de
risco simultâneos estiveram presentes em 146 (81%) casos. Na avaliação do risco para TEV, 142 (79%)
foram classificados como risco moderado/alto. Medidas profiláticas foram prescritas para 102
pacientes (57%), sendo a heparina utilizada em 60% dos casos de risco moderado ou alto. Evidenciou-se
uma associação significativa entre o aumento do nível de risco e do número de fatores de risco com
o aumento do uso de profilaxia (p < 0,05). Conclusão: Fatores de risco para TEV foram freqüentes na
amostra estudada. No entanto, 40% dos pacientes com risco moderado/alto não receberam profilaxia
farmacológica para TEV . (J Pneumol 2000;26(1):15-19)

Venous thromboembolism prophylaxis in an intensive care unit


Objectives: To identify the degree of risk and the practice of prophylaxis to venous
thromboembolism (VTE) in an intensive care unit (ICU) . Methods: The subjects were patients
admitted to the ICU between December 1997 and February 1998. Patients were excluded if they
were in anticoagulant therapy or presented contra-indication to heparin. Determination of risk
factors and classification of the degree of risk for VTE were done according to international
consensus. The ICU medical staff did not know about the study. Results: The authors evaluated
one hundred and eighty patients with a mean age of 58 years (±16.5). Risk factors more
frequently found were: age ≥ 40 years (85.0%), surgery (47.8%), thoracic or abdominal infection
(22.8%). Two or more risk factors were present in 146 (81%) cases. In the evaluation of VTE risk,
142 (79%) patients were classified as moderate/high risk. Prophylactic measures were prescribed
to 102 patients (57%), and heparin was used in 60% of moderate/high risk cases. There was a
significant association between risk level and the number of risk factors with the use of
prophylaxis (p < 0.05). Conclusion: VTE risk factors were frequent in the sample analyzed.
However, 40% of patients considered moderate/high risk did not receive pharmacological
prophylaxis for VTE .

* Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Fe- 3 . Serviço de Medicina Intensiva – Hospital de Clínicas de Porto Ale-
deral do Rio Grande do Sul, com apoio do CNPq, Fundação de gre.
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e Endereço para correspondência – Paula Mallman da Silva, Rua Walir
Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande Zottis 193, Jardim Planalto – 91220-500 – Porto Alegre, RS. Tel.:
do Sul (Propesq/UFRGS). (51) 348-2714 – E-mail: paula@voyager.com.br
1 . Serviço de Pneumologia – Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
2 . Faculdade de Medicina – Universidade Federal do Rio Grande do Recebido para publicação em 1/6/99. Reapresentado em 2/
Sul. 8/99. Aprovado, após revisão, em 6/10/99.

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Barreto SSM, Silva PM da, Faccin CS, Theil AL, Nunes AH, Pinheiro CTS

Descritores – tromboembolismo, prevenção e controle Siglas e abreviaturas utilizadas neste trabalho


Key words – thromboembolism, prevention & control CTI – Centro de tratamento intensivo
HCPA – Hospital de Clínicas de Porto Alegre
TEV – Tromboembolia venosa
TEP – Tromboembolia pulmonar
INTRODUÇÃO TVP – Trombose venosa profunda
A tromboembolia venosa (TEV) reúne duas condições
inter-relacionadas, a trombose venosa profunda (TVP) e a
tromboembolia pulmonar (TEP). Encontra-se TEP em cer- estivessem em condições de receber medidas profiláticas
ca de 50% dos pacientes com TVP documentada. Em pa- farmacológicas.
cientes com TEP clinicamente sintomática e objetivamen-
te diagnosticada, pode ser encontrada TVP silenciosa em MÉTODOS
cerca de 70% dos casos(1). A TEP aguda está associada a Estudo desenvolvido no Centro de Tratamento Intensi-
definidas taxas de morbimortalidade, principalmente em vo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (CTI/HCPA), o
pacientes hospitalizados, nos quais estudos de necropsias qual é constituído por uma área clínico-cirúrgica e uma
têm mostrado taxas entre 9% e 21%(2-4). A TEV é hoje unidade coronariana, atendidas por médicos intensivistas
considerada de natureza multifatorial, com associação e e residentes em Medicina Interna, Terapia Intensiva e
sinergismo de fatores constitucionais e adquiridos, com Cardiologia.
possibilidade de ocorrência de episódios de desequilíbrio A amostra foi constituída por pacientes consecutivos,
da homeostase da coagulação em direção à trombose ve- admitidos no CTI/HCPA no período entre 1º de dezembro
nosa (5). de 1997 e 28 de fevereiro de 1998 que, no momento da
A TEV é uma complicação comum em unidades de tra- internação, não apresentassem diagnóstico estabelecido
tamento intensivo, sendo documentada incidência de TVP ou suspeito de TVP ou TEP. Também foram excluídos da
de 33%, em pacientes com pelo 48 horas de interna- análise aqueles em uso de anticoagulantes devido a outras
ção(6,7). Imobilidade prolongada no leito, insuficiência res- condições clínicas ou com contra-indicações para uso de
piratória com prótese ventilatória e pressão positiva intra- heparina em doses profiláticas (sangramento ativo, aci-
torácica, insuficiência cardíaca congestiva, infarto agudo dente vascular cerebral hemorrágico, discrasias sanguíneas,
do miocárdio, pós-operatório de cirurgia de alto risco, ca- cirurgia oftalmológica, neurocirurgia).
teterizações venosas, câncer, entre outras, são condições De acordo com critérios de consensos internacionais,
bem definidas e muitas vezes aditivas de risco para o de- consideraram-se como fatores de risco para TEV: idade ≥
senvolvimento de estados adquiridos de hipercoagulabili- 40 anos, imobilidade no leito (≥ 5 dias), obesidade, vari-
dade, que resultam em TVP e TEP. zes em membros inferiores, paralisia de membros inferio-
A instituição de profilaxia para TEV na presença de situa- res, história prévia de eventos tromboembólicos, história
ções reconhecidas de risco constitui-se em medida custo- de trombofilia, grande cirurgia (≥ 30 minutos), câncer, in-
efetiva(8-11), sendo amplamente recomendada por comitês suficiência respiratória com prótese ventilatória e pressão
normativos internacionais (1,12-14). Em estudo envolvendo positiva intratorácica, infarto agudo do miocárdio, insufi-
pacientes criticamente enfermos (10), a profilaxia da TEV ciência cardíaca, aneurismas de grandes vasos, infecções
com heparina não-fracionada reduziu a incidência de TVP torácica ou abdominal, sepse, doença inflamatória crôni-
de 29% para 13%. Goldhaber, em revisão recente(15), re- ca, síndrome nefrótica, trauma de quadril, fêmur, joelho
comenda que todos os pacientes internados em unidades ou tíbia, gestação, parto ou puerpério.
de tratamento intensivo sejam submetidos a medidas físi- A presença de fatores de risco para TEV e a prescrição
cas, preferencialmente com meias elásticas de compres- de medidas profiláticas foi determinada pela revisão dos
são graduada. Segundo o autor, o uso de medidas farma- prontuários médicos e registrados em protocolo padroni-
cológicas deve ser avaliado com cautela, principalmente zado. Como prescrição de profilaxia para TEV, foram con-
nos casos com maior risco de sangramento ou tromboci- sideradas as medidas físicas (deambulação precoce, eleva-
topenia. ção de membros inferiores, meias elásticas compressivas,
Embora bem embasada cientificamente, a prática de compressão pneumática intermitente, fisioterapia e filtro
profilaxia para TEV permanece insatisfatória em hospitais de veia cava inferior) e farmacológicas (heparina não-fra-
gerais e unidades de tratamento intensivo, estendendo-se cionada, heparina de baixo peso molecular e anticoagu-
entre 9% e 56% na maioria dos estudos(16-19). Este estudo lantes orais). Após o registro dos fatores de risco, os pa-
tem como objetivo identificar a prática de profilaxia para cientes foram estratificados em risco baixo, moderado e
TEV em pacientes internados na unidade de tratamento alto para o desenvolvimento de TEV, de acordo com crité-
intensivo de um hospital geral universitário brasileiro, que rios apresentados no Quadro 1.
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Profilaxia para tromboembolia venosa em uma unidade de tratamento intensivo

TABELA 1
QUADRO 1
Freqüência dos fatores de risco para tromboembolia
Estratificação de risco para tromboembolia
venosa em 180 pacientes internados em uma
venosa em pacientes hospitalizados
unidade de tratamento intensivo

Risco baixo
Fator de risco n (%)
• Ausência de fatores de risco para TEV
• Grande cirurgia, sem outros fatores de risco associados
Idade ≥ 40 153 85,0
Risco moderado Grande cirurgia 86 47,8
• Grande cirurgia e idade ≥ 40 anos Infecção 41 22,8
• Grande doença clínica Insuficiência respiratória 33 18,3
• Trauma de quadril ou membros inferiores Infarto do miocárdio 30 16,7
• História prévia de TEV ou trombofilia Obesidade 30 16,7
Imobilidade prolongada 30 16,7
Risco alto Insuficiência cardíaca 26 14,4
• Grande cirurgia ou fratura de quadril ou membros inferiores Sepse 22 12,2
• Grande cirurgia pélvica ou abdominal para câncer Câncer 13 7,2
• História prévia de TEV ou trombofilia em paciente com Acidente vascular cerebral 7 3,9
grande doença clínica, trauma ou cirurgia Outros 12 6,7
• Paralisia de membros inferiores Sem fator de risco 7 3,9
• Amputação de membros inferiores

TABELA 2
Na análise dos resultados, foram determinadas medi- Medidas utilizadas em 180 pacientes internados
em uma unidade de tratamento intensivo para
das descritivas para prevalência de fatores de risco e fre-
prevenção da tromboembolia venosa
qüência de uso de medidas profiláticas para TEV. O teste
do qui-quadrado foi utilizado na avaliação do uso de hepa-
Medida profilática n (%)
rina de acordo com o número de fatores presentes em
cada paciente, sendo utilizado um valor de P < 0,05 como HNF isolada 97 54,0
índice de significância estatística. HNF + deambulação 03 1,7
HNF + fisioterapia 01 0,5
Deambulação precoce 01 0,5
RESULTADOS Sem profilaxia 78 43,3
Durante o período de estudo, 261 pacientes foram ad- Total 180 100,0
mitidos no CTI/HCPA. Foram excluídos 81 pacientes, con- HNF: heparina não-fracionada
siderando-se 45 com contra-indicações para o uso de he-
parina por sangramento ativo (25 casos), acidente vascu-
lar cerebral hemorrágico (11) e discrasia sanguínea (9), e não-fracionada foi prescrita para 100 pacientes (55,6%),
36 apresentando outra doença associada que necessitava deambulação precoce para 4 (2,2%) e fisioterapia para
de anticoagulação, como angina instável (14 casos), trata- apenas 1 (0,6%). Outros métodos de profilaxia para TEV
mento para TVP/TEP (9), prótese cardíaca (9), arritmia (3) não foram prescritos nesta amostra.
e prevenção de AVC recorrente (1). A média de fatores de risco por paciente foi de 2,6 (±
A amostra foi constituída por 180 pacientes, 80 mu- 1,2). Dois ou mais fatores simultâneos estiveram presen-
lheres (44,4%) e 100 homens (55,6%), com idade média tes em 146 casos (81%) e em apenas 7 (4%) nenhum
(± desvio-padrão) de 57,7 (± 16,5) anos, com tempo médio fator de risco foi encontrado. A Tabela 3 mostra a fre-
de internação, na unidade, de cinco dias. qüência de fatores de risco simultâneos por paciente e sua
Na Tabela 1 são apresentados os cenários de risco para relação com a prática de profilaxia para TEV. Houve asso-
TEV mais encontrados entre os pacientes internados no ciação estatisticamente significativa entre o uso de hepa-
CTI/HCPA , sendo os mais destacados idade ≥ 40 anos rina não-fracionada e o aumento do número de fatores de
(85,0%), pós-operatório de grande cirurgia (47,8%), in- risco por paciente, variando de 47% nos casos com me-
fecção torácica ou abdominal (22,8%) e insuficiência res- nos de dois fatores simultâneos para 81% nos casos com
piratória com prótese ventilatória (18,3%). cinco fatores de risco ou mais. Conforme demonstrado
Foram utilizadas medidas profiláticas, físicas ou farma- na Tabela 4, o aumento do nível de risco para TEV tam-
cológicas, isoladas ou em associação para 102 casos bém se associou significativamente com maior freqüência
(56,7%), conforme demonstrado na Tabela 2. A heparina de prescrição de heparina não-fracionada.
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Barreto SSM, Silva PM da, Faccin CS, Theil AL, Nunes AH, Pinheiro CTS

TABELA 3
Freqüência do uso de profilaxia de acordo com o
número de fatores de risco para tromboembolia venosa

Número de fatores de risco n (%) Prescrição de heparina


para tromboembolia venosa profilática (%)

≤1 34 (18,9) 16 (47,0)
2 55 (30,6) 23 (42,0)
3 45 (25,0) 28 (62,2)
4 30 (16,7) 20 (66,7)
≥5 16 (8,9) 13 (81,3)
Total 180 (100,0) 102 (56,7)
P de tendência < 0,005

TABELA 4
Freqüência de uso de profilaxia medicamentosa para
tromboembolia venosa segundo o nível de risco

Nível de risco para n (%) Prescrição de heparina


tromboembolia venosa profilática (%)

Baixo 38 (21,1) 15 (39,5)


Moderado/alto 142 (78,9) 85 (59,9)
Total 180 (100,0) 102 (56,7)
P < 0,005

DISCUSSÃO mur, a heparina dose-ajustada reduziu a incidência de TEV


de 50% para 11%, uma redução de risco relativo de
A TEV aguda representa importante problema na práti- 77%(9,20). Como citado previamente, em estudo envolven-
ca médica, o que está amplamente documentado na lite- do pacientes criticamente enfermos a profilaxia da TEV
ratura e na experiência pessoal de uma gama de médicos, com heparina não-fracionada reduziu a incidência de TVP
pois: 1) os fatores adquiridos de risco para TEV estão mui- de 29% para 13%(10).
to presentes em ambiente hospitalar; 2) a apresentação A extensão de uso de profilaxia para tromboembolia
clínica da TVP ou TEP costuma ser inespecífica, variável ou venosa para apenas 57% dos pacientes admitidos na uni-
mesmo ausente, dificultando a suspeita clínica fundamen- dade de tratamento intensivo do Hospital de Clínicas de
tal; 3) o diagnóstico objetivo por recursos não invasivos é Porto Alegre, que estavam em condições de receber anti-
usualmente de probabilidades e as técnicas invasivas não coagulação preventiva, assemelha-se com os resultados
costumam estar disponíveis na maioria dos hospitais; 4) o de estudos realizados em centros europeus e norte-ameri-
tratamento com anticoagulantes e trombolíticos está as- canos(19). Ressalte-se que o objetivo do estudo foi avaliar
sociado a complicações hemorrágicas; 5) a ocorrência de os pacientes que poderiam receber profilaxia farmacoló-
TEV aumenta os custos hospitalares; 6) os eventos trom- gica, e não a situação de todos os internados na CTI, con-
boembólicos vão de incidental a fatal; 7) a mortalidade é siderando-se a antecipada mínima prescrição de medidas
significativamente maior nas primeiras horas de instala- preventivas não farmacológicas.
ção do episódio embólico, reduzindo a margem temporal A relativamente baixa importância dada à profilaxia da
para a instituição do diagnóstico e tratamento. TEV pode ser devida a: 1) pouca valorização da TEV como
Por outro lado, a profilaxia da TVP é reconhecidamente entidade clínica, decorrente de sua apresentação clínica
efetiva em situações definidas de risco, transformando a inespecífica e da dificuldade de seu diagnóstico objetivo;
TEP em uma das doenças potencialmente fatais mais pre- 2) ao fato de os pacientes internados em unidades de trata-
veníveis. Como exemplo, em cirurgia geral o emprego de mento intensivo terem uma multiplicidade de problemas,
minidoses de heparina não fracionada reduziu a incidên- incluindo pulmonares, que podem explicar as intercorrên-
cia de TEV de 25% para 4%, representando redução do cias; 3) a aparente redução da incidência de TEV, decor-
risco relativo de 86%. Em cirurgia eletiva de colo de fê- rente da queda na taxa de necropsias.
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Profilaxia para tromboembolia venosa em uma unidade de tratamento intensivo

Talvez a principal razão para a baixa utilização de me- Alguns fatores de risco, como presença de TEV prévia,
didas preventivas para TEV seja o temor do agravamento história de trombofilia e obesidade, provavelmente tenham
das condições clínicas de pacientes criticamente enfermos, sido subestimados, em razão da metodologia do estudo.
especialmente pela possibilidade de sangramentos. Nessa Entretanto, isso apenas reforça a observação da existên-
amostra, foram excluídos os pacientes de maior risco de cia de elevada prevalência de fatores de risco para TEV em
hemorragia, não se justificando a baixa freqüência de pres- pacientes internados em centros de tratamento intensivo.
crição de heparina não-fracionada em doses preconiza- A ausência de uma rotina hospitalar de profilaxia para
das, ou mesmo de heparinas de baixo peso molecular, TEV pode também ser uma das razões para a menor ex-
liberadas pela Comissão de Medicamentos do hospital para tensão de seu uso. Resultados de estudo recente(23) de-
pacientes de risco. A mortalidade associada ao tratamen- monstraram que, em um hospital universitário em que um
to anticoagulante pleno para TEV aguda em protocolos programa de educação médica em TEV vinha sendo de-
publicados é de 0,1%(21,22). senvolvido por cinco anos, 86% dos pacientes internados
Medidas físicas, como elevação dos membros inferio- na unidade de tratamento intensivo utilizavam algum tipo
res, fisioterapia e meias elásticas de compressão gradua- de profilaxia. Programas de educação médica parecem
da, são amplamente aplicáveis e de baixo custo, melho- ser importantes, na medida em que possibilitam discus-
rando o fluxo sanguíneo venoso femoral e diminuindo a sões e esclarecimentos à população médica sobre aspec-
incidência de TVP, especialmente em idosos. Tais medidas tos relacionados com a profilaxia, diagnóstico e terapêuti-
deveriam ser prescritas para todos os pacientes critica- ca da TEV, tornando a prevenção desta doença mais efeti-
mente enfermos(11). Em cirurgia geral o emprego de meias va e o diagnóstico precoce e, assim, diminuindo sua mor-
elásticas de compressão graduada e de compressão pneu- bimortalidade.
mática intermitente reduziu o risco relativo de TEV em Em resumo, fatores de risco para TEV foram freqüentes
63% e 61%, respectivamente (20). No entanto, apenas 5 em uma amostra de pacientes internados em uma unida-
pacientes (2,8%) da amostra estudadas receberam pres- de de tratamento intensivo de um hospital geral universi-
crição de medidas físicas durante o período de internação tário brasileiro. A prescrição de profilaxia para TVP limi-
no CTI . A prescrição de deambulação precoce, para 4 tou-se a menos de dois terços dos pacientes para os quais
pacientes, relacionou-se a casos de infarto agudo do mio- estaria indicada, restringindo-se basicamente a minidoses
cárdio de boa evolução clínica. de heparina não fracionada.

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