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Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.2
Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.2
Estudo no V ocabulário
G rego do N ovo T estamento
Evangelho de João
Epístolas de João
Apocalipse
Tradução:
Lena Aranha
Α missão primordial e intransferível da CPAD é proclamar, por meio da página impressa, o
Θ Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo no Brasil e no exterior; edificara Igreja de Cristo por
intermédio de literaturas ortodoxas, que auxiliem os obreiros cristãos no desenvolvimento
de suas múltiplas tarefas no Reino de Deus; e educara sociedade e a Igreja através da Escola
vJ tHU Dominical, que evangeliza enquanto ensina. Nosso maior presente é pensar no futuro.
Bibliografia: p. 498.
ISBN 978-85-263-1094-0.
1 . Bíblia. Novo Testamento —Estudos. 2 . Bíblia. Novo Testamento - Introduções. I. Título.
CDD 225.6
LISTA DE REDUÇÕES.....................................................................................ix
INTRODUÇÃO AOS ESCRITOS DE JOÃO..................................................... 1
O Evangelho....................................................................................................... 4
Relação com os Evangelhos Sinópticos................................................................7
As epístolas..........................................................................................................10
0 Apocalipse........................................................................................................ 13
Estilo e expressão de João...................................................................................15
JOÃO....................................................................................................................19
Comentário...........................................................................................................19
1 JOÃO.............................................................................................................. 251
Comentário........................................................................................................ 251
Nota crítica sobre lJoS. 19-22.......................................................................... 311
2 JOÃO...............................................................................................................323
Comentário........................................................................................................ 323
3 JOÃO...............................................................................................................329
Comentário........................................................................................................ 329
APOCALIPSE.................................................................................................. 335
Comentário........................................................................................................ 335
Lista de palavras e expressões gregas empregadas somente por João...........483
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT
REFERÊNCIAS............................................................................................... 493
ÍNDICE TEMÁTICO...................................................................................... 497
ÍNDICE DE PALAVRAS GREGAS............................................................... 509
viii
L ista de Reduções
L ivros da B íblia
L iteratura A pócrifa
T extos e T raduções
G erais
cap., caps. capítulo, capítulos op. cit. lat. opus citatum, na obra
cp. compare, confronte citada
ibid. lat. ibidem, na mesma p. página(s)
obra ss. seguintes
id. lat idem, do mesmo autor v., vv. versículo, versículos
i.e. lat. id est, isto é volume(s)
xi
Introdução aos E scritos de João
Mestre para fazer companhia a Ele durante sua agonia no Getsêmani (Mc 14.33).
Acompanhou Jesus, depois de sua prisão, ao palácio do sumo sacerdote e assegurou
a entrada de Pedro (Jo 18.15-16). Permaneceu ao lado da cruz com a mãe de Jesus,
que a entregou aos seus cuidados (Jo 19.25-27). Com Pedro, correu ao sepulcro na
manhã da ressurreição, ao ser informado por Maria Madalena, entrou na tumba
vazia, viu e creu (Jo 20.2-8). Depois da ressurreição, aparece envolvido em sua
ocupação anterior, no mar da Galileia. Ele é o primeiro a reconhecer o Senhor
ressurreto de pé na praia (Jo 21.7), e é o objeto da inquirição de Pedro: “Senhor, e
deste que será?”, quando ele o vê seguindo a Jesus (Jo 21.20-21).
Sua atividade apostólica aconteceu nos primeiros trinta anos após a ascensão.
Em Jerusalém, sua posição entre os apóstolos não era excepcionalmente proemi
nente. Na época da perseguição de Estêvão, ele permaneceu em Jerusalém com os
outros apóstolos (At 8.1), mas quando Paulo, três anos após sua conversão, foi a
Jerusalém (G1 1.18), só encontrou ali Pedro e Tiago, o irmão de Jesus. Contudo,
isso não quer dizer que os outros apóstolos tinham partido definitivamente da
cidade e se estabelecido em outro lugar. Em G1 2.9, Paulo alude a João como es
tando presente em Jerusalém na época do concilio (At 15). A narrativa de Atos dos
Apóstolos não o menciona em conexão com o concilio, mas Paulo, na epístola aos
Gálatas, refere-se a ele como um dos pilares da igreja, junto com Tiago e Cefas.
A tradição comumente recebida retrata-o encerrando sua carreira apostó
lica na Ásia e em Éfeso. Uma antiga tradição afirma que ele deixou Jerusalém
doze anos depois da morte de Cristo. Portanto, ele não foi, de forma alguma,
imediatamente para Éfeso. Notícias claras quanto à sua moradia nesse in
tervalo são totalmente inexistentes. Um fato digno de nota é que a vida de
muitos líderes mundiais inclui períodos que permanecem em branco para a
maioria dos mais cuidadosos biógrafos, e nos quais a curiosidade do mun
do não consegue nunca adentrar. Assim é o período do retiro de Paulo na
Arábia, do exílio de Dante, e, em alguma extensão, da tentação de Jesus no
deserto. Algumas tradições posteriores afirmam que ele visitou a Pártia, e
Jerônimo, de forma infundada, conjectura que ele tenha pregado na Judeia.
Há alguma plausibilidade na suposição de que ele pode ter ido para Antioquia
na época da primeira viagem missionária de Paulo. É certo que, muito depois,
João foi sucessor de Paulo em Éfeso. Na partida de Paulo para Mileto (At 20),
ou durante a composição da epístola aos Efésios, não há nenhum traço da
presença de João em Éfeso.
A tradição também concorda que João foi banido para a ilha de Patmos pelas
autoridades romanas. Ireneu diz que ele foi banido no reinado de Domiciano;
outra tradição fixa o exílio no reinado de Nero. Diz-se que, desse exílio, foi-lhe
permitido retornar sob o reinado de Nerva (96-98 d.C.). A data de sua morte é
desconhecida. Jerônimo data-a 68 anos após a morte de Cristo.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
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I ntrodução aos E scritos de J oão
O E vangelho
jeto - o Verbo feito carne, em que todas as controvérsias religiosas são reconci
liadas. Conforme Westcott:
Da mesma maneira que ele se eleva acima da controvérsia enquanto condena o erro,
preserva as verdades características que a heresia isolou e usou impropriamente. O
quarto Evangelho é a resposta mais completa às múltiplas formas do gnosticismo,
todavia foi o escrito mais usado pelos gnósticos. Ele não contém uma narrativa formal
da instituição dos sacramentos, contudo apresenta de forma mais completa a ideia
deles. Expõe com forte ênfase o fracasso do povo antigo, e mesmo assim aponta com
mais clareza a relevância da dispensação que foi confiada a eles. Traz as muitas opo-
sições —antíteses - da vida e do pensamento e deixa-as à luz do fato supremo que
reconcilia tudo: o Verbo sefez carne, e sentimos, do princípio ao fim, que essa luz brilha
no registro de dor e triunfo, de derrota e esperança.
declarações de nosso Senhor, em que o visível era usado como o tipo do invisível.
Como afirma Lange:
João nos fornece não só um simbolismo da palavra do A ntigo Testamento, das ins
tituições, histórias e pessoas veterotestamentárias; ele também nos fornece o simbo
lismo da natureza, da antiguidade, da história e da vida pessoal; daí, o simbolismo
absoluto, ou o sentido ideal de toda existência verdadeira, em esboços relevantes.
O plano é prenunciado no prólogo. Aquele que era o Verbo, estava com Deus
desde o princípio, por meio de quem todas as coisas vieram à existência, era vida e
luz - a luz dos homens. Para Ele, o testemunho foi dado por João, que foi enviado
para testificar dele a fim de que todos os homens pudessem crer nele. Mas, embora
Ele tenha se feito carne e habitado entre os homens, embora tenha vindo para sua
própria casa, embora fosse cheio de graça e verdade, o mundo não o conheceu, e
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I ntrodução aos E scritos de J oão
2 . Para uma lista dessas coincidências, vide Westcott, Introdução ao Commentary on the Gospel o f
John, em Speaker’s Commentary.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
se tivéssemos apenas o relato deles, jamais poderiamos, com alguma certeza, afirmar
que Ele foi a Jerusalém, durante sua vida pública, até chegar o momento de ser entregue.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
É verdade que eles não excluem essa suposição, mas, antes, talvez a sugiram. Contudo,
isso não podería ser deduzido da narrativa deles com alguma precisão histórica.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
As E pístolas
3. Este Cerinto ensinava que o mundo não foi feito pelo Deus supremo, mas por outro poder re
moto que governa o universo. Dizia que Jesus não nasceu da virgem por concepção milagrosa,
mas era o filho de José e Maria por geração natural, embora fosse especialmente provido com
justiça e sabedoria. Dizia também que, depois do batismo de Jesus, o Cristo desceu sobre Ele na
forma de uma pomba, a partir desse poder soberano que está sobre todas as coisas. Então, Ele
anunciou o Pai desconhecido e realizou milagres, mas, perto do fim do seu ministério, o Cristo
partiu de Jesus, e este sofreu e ressuscitou da morte, enquanto o Cristo permaneceu impassível
como um ser espiritual.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
4. Os docetistas defendiam que o corpo de nosso Senhor era um espectro imaterial. O nome deles
deriva de δοκέω (dokeõ), parecer.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
1 J oão E vangelho
1.2-3 3.11
1.4 16.24
2.11 12.35
2.14 5.38
2.17 8.35
3.5 8.46
3.8 8.44
3.13 15.18
3.14 5.24
3.16 10.15
4.6 8.47
5.4 16.23
O A pocalipse
O livro está absolutamente impregnado das memórias, dos incidentes, dos pensamen
tos e da linguagem do passado da igreja. Em tal extensão, é esse o caso de que se
pode duvidar se contém uma única figura não extraída do Antigo Testamento, ou
uma única sentença completa que não tenha sido, mais ou menos, construída a partir
de materiais extraídos da mesma fonte. £...] É um perfeito mosaico de passagens do
A ntigo Testamento, em um momento, citadas verbalmente, em outro, mencionadas
por meio de alusão distinta; agora, tomadas de uma cena da história judaica, e agora
novamente, de duas ou três juntas.
5. Está, obviamente, fora do escopo deste livro discutir de forma crítica essa e outras questões joa-
ninas. Tal tarefa tem de pressupor a familiaridade do leitor com o grego. A discussão referente
às diferenças de linguagem pode ser encontrada na excelente obra do Professor Milligan, The
Revelation of St. John, Apêndice II.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
Godet descreve o estilo como caracterizado por “uma simplicidade infantil e pro
fundidade transparente, uma santa melancolia, e uma vivacidade não menos que
santa; acima de tudo, a suavidade de um amor puro e gentil”.
O vocabulário é escasso. As mesmas expressões ocorrem continuamente. Por
isso, encontramos 23 ocorrências de φώς (luz); 42 de δόξα, δοξάζεσθαι (glória,
ser glorificado); 52 de ζωή, ζην (vida, viver); 47 de μαρτυρεΐν, μαρτυρία (teste
munhar, testemunho); 55 de γινώσκειν (saber, conhecer); 78 de κόσμος (mundo);
98 de πίστευε lv (crer, acreditar); 23 de εργον (trabalho); 25 de όνομα (nome) e
άληθεία (verdade), cada; e 17 de σημεΐον (sinal).
Todavia, a escassez do vocabulário é compensada por sua riqueza. As pou
cas palavras constantemente recorrentes são símbolos de idéias fundamentais e
eternas. Conforme Godet:
Elas não são puramente noções abstratas, mas poderosas realidades espirituais que
podem ser estudadas sob múltiplos aspectos. Se o autor tem apenas poucos termos
em seu vocabulário, esses termos podem ser comparados a peças de ouro com que
grandes senhores fazem pagamentos.
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I ntrodução aos E scritos de J oão
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João
P rólogo
O prólogo resum e-se a três pensam entos, que também determinam o plano dele:
O Logos: o Logos renegado; o L ogos reconhecido e recuperado. E sses três as
pectos fundam entais harm onizam com os três principais aspectos da história
conform e relatada nesse Evangelho: a revelação do Logos; a descrença do povo
judeu; a fé dos discípulos. O versículo 5 forma uma transição entre a primeira
parte (vv. 1-5) e a segunda (vv. 6- 1 1), da m esm a maneira que os versículos 12 e
13 ligam a segunda parte à terceira (vv, 12-18), a qual, por sua vez, tem ligação
próxim a com a primeira parte. A relação dessa última parte com a primeira,
indicada pela sim ilaridade de pensam ento e exp ressão que pode ser observada
entre os versículos 18 e 1 , pode ser expressa desta maneira: a pessoa que os
apóstolos observam , que foi proclamada por João Batista, e em quem a igreja
cria (vv. 12-18), não é ninguém além daquele cuja existência e suprema grandio
sidade foram indicadas pelo títu lo L ogos. Logo, a igreja possui em seu Redentor
o Criador de todas as coisas, a Luz essencial, o Príncipe da vida, o próprio Deus.
A ligação original entre o homem e D eus, que o pecado arruinou (v. 5), e que
a descrença rompeu com pletam ente (v. 1 1 ), é perfeitam ente restaurada para o
cristão; e, por m eio da fé, a lei do paraíso (v. 4) torn a-se mais uma vez a lei da
história humana (vv. 16-18). A ssim , o prólogo forma um todo com pacto e orgâ
nico, do qual o pensam ento germ inal é este: por m eio da encarnação, os cristãos
são restaurados àquela com unhão com o Verbo e àquela relação viva com Deus,
da qual o homem foi privado pelo pecado.
J oão —P rólogo
1. No princípio, era (ev αρχή ήν). É uma evidente alusão à primeira palavra de
Gênesis. Mas João eleva a frase de sua referência a um ponto no tempo, o início
da criação, para o tempo da absoluta preexistência, anterior a qualquer criação,
que só é mencionada no versículo 3. Esse princípio não teve princípio (cp. v. 3;
17.5; lJo 1.1; Ef 1.4; Pv 8.23; SI 90.2). Contudo, esse engrandecimento da con
cepção não aparece tanto em άρχή, princípio, que apenas deixa espaço para isso,
como no uso de ήν, era, denotando existência absoluta (cp. eípí, eu sou, Jo 8.58),
em vez de eyeveio, veio a ser, ou começou a ser, usado nos versículos 3 e 14, acerca
do vir a ser da criação e do Verbo tornando-se carne. Observe também o con
traste entre kv αρχή, no princípio, e a expressão απ’ αρχής, desde o princípio, que
é comum nos escritos de João (8.44; lJo 2.7,24; 3.8) e que não deixa espaço para
a ideia de preexistência eterna. Segundo Milligan e Moulton:
Vide nota sobre Cl 1.15. Essa noção de “princípio” é engrandecida ainda mais
pela declaração subsequente da relação do Verbo com o Deus eterno. Ο αρχή
deve referir-se à criação - o princípio primordial das coisas; mas se, nesse princí
pio, o Verbo já era, então Ele pertencia à ordem da eternidade. Conforme Lange:
Todavia, o Verbo não só existia no princípio, mas também era o princípio eficiente, o
início do princípio. Ο άρχή (princípio), em si mesmo e em sua operação das trevas e dos
caos, estava, em sua ideia e em seu princípio, encerrado em uma única palavra lumino
sa, que era o Logos. E quando é dito que o Verbo estava em seu princípio, sua existên
cia eterna já é expressa e sua posição eterna na divindade já é indicada por meio disso.
E Godet:
Há, como o refrão de um hino, oito ocorrências na narrativa da criação (em Gênesis)
das palavras: E disse Deus. João reúne todos esses ditos de D eus em um único dito, vivo
e favorecido com atividade e inteligência, do qual emanam todas as ordens divinas: ele
encontra o Verbofalando como a base de todas as palavras faladas.
λόγος, acima de tudo, é uma coletânea, ou coleção, das coisas que estão na mente e das
palavras por meio de que são expressas. Assim, a palavra representa aforma exterior
por meio de que o pensamento interior é expresso, e opensamento interior propriamente
dito, o oratio e ratio latinos; compare com o termo italiano ragionare, “pensar” e “falar”.
Enquanto significando a forma exterior, a palavra nunca é usada no sentido me
ramente gramatical, como apenas o nome de uma coisa ou ato (έπος, όνομα, ρήμα),
mas representa uma palavra como a coisa a que se refere, a parte material, não aformal·,
a palavra como incorporando a concepção ou ideia. Vide, por exemplo, Mt 22.46;
lCo 14.9,19. Por conseguinte, a palavra representa um dito, de Deus ou do homem
(Mt 19.2 1-22; Mc 5.35-36); um decreto, umpreceito (Rm 9.28; Mc 7.13). A l x x chama
os Dez Mandamentos de oi δέκα λόγοι., “as dez palavras’ (Ex 34.28), daí o conhe
cido termo decálogo. O termo é usado ainda para discurso, o ato de falar (At 14.12), a
habilidade e prática no falar (Ef 6.19), ou a fala contínua (Lc 4.32,36). Também para
doutrina (At 18.15; 2Tm 4.15), sobretudo a doutrina da salvação por intermédio de
Cristo (Mt 13.20-23; Fp 1.14); para narrativa, tanto a relação como a coisa relacio
nada (At 1.1; Jo 21.23; Mc 1.45); para assunto sob discussão, um negócio, um caso da
lei (At 15.6; 19.38).
Com o significado de pensamento interior, ela denota a faculdade de pensar e
discernir (Hb 4.12); observação ou consideração (At 20.24); avaliação, prestação de
contas (At 20.29).
João a usa em um sentido peculiar, aqui e no versículo 14; e, com esse sentido,
só nessas duas passagens. A abordagem mais próxima a essa está em Ap 19.13,
em que o conquistador é chamado a Palavra de Deus; e é lembrada nas expressões
Palavra da vida e a vida fo i manifestada (lJo 1.1-2). Compare com Hb 4.12. Era
um termo teológico familiar e corrente quando João escreveu, e, por essa razão,
ele o usa sem dar explicações.
USO APÓCRIFO
Ela se estende com força de uma extremidade do mundo à outra e com bondade go
verna o universo. Eu a amei e a procurei desde minha juventude, busquei desposá-la,
apaixonei-me por sua beleza. Sua glória eclipsa a nobreza, pois partilha a vida de
Deus, e o soberano do universo a amou. Iniciada na própria ciência de Deus, é ela
quem decide suas obras. [../] Graças a ela, obterei a imortalidade, e deixarei aos pós-
teros uma lembrança eterna (8. 1- 4,13, teb).
No capítulo 16.12, é dito: "Tua palavra, ó Senhor, que a todos cura” ( t e b ; cp.
SI 107.20); e no capítulo 18.15-16: “A tua Palavra onipotente, deixando os céus
e o trono real, irrompeu como o guerreiro impiedoso no meio da terra maldita,
empunhando, como espada afiada, teu decreto irrevogável. Levantando-se, ela
encheu tudo de morte; ela chegava ao céu, enquanto caminhava sobre a terra”
( t e b ) . Vide também Sr 1; 24; e Br 3; 4.1-4.
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J oão - P rólogo
pessoa. Todos os títulos que ele lhe deu podem ser explicados pela suposição de
que se referia ao mundo ideal sobre o qual o mundo real é modelado.
Além disso, em Fílon, a função do Logos está confinada à criação e preservação
do universo. Ele não se identifica ou se conecta com o Messias. Sua doutrina era,
em grande grau, um substituto filosófico para as esperanças messiânicas. Ele pode
ter concebido a Palavra como agindo por intermédio do Messias, mas não como
um com Ele. O Logos é um princípio universal. Em João, o Messias é o Logos mes
mo, unindo-se à humanidade e vestindo-se com um corpo a fim de salvar o mundo.
As duas noções diferem quanto à origem. O Deus impessoal de Fílon não pode
passar de criação finita sem contaminação de sua essência divina. Por isso, um
agente inferior deve ser mediador. O Deus de João, por sua vez, é pessoal e tem
personalidade amorosa. Ele é Pai ( 1. 18); sua essência é amor (3. 16; lJo 4.8, 16).
Ele está em relação direta com o mundo que deseja salvar, e o Logos é Ele mes
mo manifestado na carne. De acordo com Fílon, o Logos não é coexistente com o
Deus eterno. A matéria eterna está antes dele no tempo. Segundo João, o Logos
está essencialmente com o Pai desde toda a eternidade (1.2), e é Ele quem cria
todas as coisas, incluindo a matéria ( 1.3).
Fílon não capta a força moral da religião hebraica conforme expressa em sua
ênfase sobre a santidade de Jeová, e, por isso, não percebe a necessidade de um
mestre e Salvador divino. Ele se esquece da vasta diferença entre Deus e o mundo,
e declara que, se o universo acabasse, Deus morreria de solidão e inatividade.
Da mesma maneira que Logos tem o duplo sentido de pensamento e fala, tam
bém Cristo é relacionado a Deus como a palavra à ideia, não sendo a palavra um
mero nome para a ideia, mas a própria ideia expressa. O pensamento é a palavra
interior (o Dr. Schaff compara com a expressão hebraica “falo em meu coração”,
com sentido de “penso”).
O Logos de João é o Deus verdadeiro e pessoal (1.1), a Palavra, que estava
originalmente com Deus antes da criação, e era Deus, um em essência e natureza,
contudo pessoalmente distinto ( 1. 1, 18); o revelador e intérprete do ser oculto de
Deus; o reflexo e a imagem visível de Deus, e o órgão de todas as suas manifesta
ções ao mundo. Compare com Hb 1.3 . Ele fez todas as coisas, procedendo pesso
almente de Deus para a execução do ato da criação ( 1.3 ), e tornou-se homem na
pessoa de Jesus Cristo, realizando a redenção do mundo. Compare com Fp 2.6.
Sobre João, Ford cita William Austin:
O nome Palavra é dado de forma mais excelente a nosso Salvador, pois expressa sua na
tureza em um, mais que em quaisquer outros. Por isso, João, quando nomeia a pessoa na
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J oão - P rólogo
Trindade (1Jo 5.7), escolhe, antes, chamá-lo P a la v ra que F ilho, pois o termo p a la v r a é mais
comunicável que filh o. F ilh o refere-se só ao P a i que o gerou; mas p a la v r a pode referir-se
àquele que a concebe, àquele que a pronuncia; ao que é fa la d o p o r m eio dela; à voz, de que ela
se reveste; e aos efeitos que ela desperta naquele que a ouve. Assim, Cristo, por ser Ele a
P a la vra , não só se refere a seu Pai que o gerou, e de quem Ele vem, mas também a todas
as criaturas que foram feitas por Ele; à carne com que Ele se revestiu; e à doutrina que
Ele trouxe e ensinou, e que ainda vive nos corações de todos os que a ouviram de forma
obediente. Ele é que é essa P alavra; e qualquer outro, profeta ou pregador, é somente um a
voz (Lc 3.4). P a la v ra é um a concepção in terior d a mente, e v o z é apenas u m sin a l de intenção.
João era só um sinal, uma vo z, não digno de desatar as correias das sandálias dessa Palavra.
Cristo é a concepção in terior “no seio de seu Pai”, e Ele é propriamente a P alavra. Não obs
tante, a Palavra é a intenção proferida, como também concebida no interior; pois Cristo,
no ventre da virgem, ou na manjedoura, ou no altar da cruz, não era menos a Palavra do
que Ele era no princípio, “no seio de seu Pai”. Pois, da mesma maneira que a intenção não
deixa a mente quando a palavra é proferida, também Cristo, procedendo do Pai por gera
ção eterna, e depois aqui por nascimento e encarnação, ainda permanece nele e com Ele
em essência; como a intenção, concebida e nascida na mente, ainda permanece com ela e
nela, embora a palavra seja pronunciada. Por isso, Ele é corretamente chamado a P alavra,
por sua vinda do Pai e, ainda assim, sua permanência nele'.
Estava com Deus (ήν προς τον 0eòv). Na anglo- saxâ, no meio de Deus. Na
wycliffe , em Deus. Com (πρός) não transmite o sentido pleno, mas não há ne
nhuma palavra em português que o faça melhor. A preposição πρός, que, com o
caso acusativo, denota movimento rumo a, ou direção, é também frequentemente
usada no texto do Novo Testamento com o sentido de com; e não apenas de estar
perto ou ao lado, mas como uma união e comunhão vivas, sugerindo a noção ativa
de relação. Assim: "Não estão aqui conosco suas irmãs?” (πρός ημάς), ou seja, em
relações sociais conosco (Mc 6.3; Mt 1S.56). “Até quando estarei convosco?” (πρός
ύμάς, Mc 9.19). “Todos os dias me assentava junto de vós’ (Mt 26.55). "Para habi
tar com o Senhof (πρός τον Κύριον, 2Co 5.8). “Fique convosco e passe também o
inverno” (lCo 16.6). “A vida eterna, que estava com o Pai’ (πρός τον πατέρα, lJo
1.2). Dessa forma, a declaração de João é de que o Verbo divino não só habitava
com o Pai por toda a eternidade, mas também estava em relação de comunhão
ativa e viva com Ele.
1. Austin, M e d ita tio n f o r C hristm as D ay. Sobre João nomear a pessoa na Trindade (lJo 5.7), ele
naturalmente não previa a crítica que eliminaria essa passagem do texto. E, ao discutir sobre
“voz”, Austin usou o termo latino vox, e é óbvio que ele tinha em mente o sentido secundário de
p a la v r a ou dito.
27
J oão - P rólogo
E o Verbo era Deus (καί Θεός ήν ό λόγος). Na ordem grega, e Deus era o Ver
bo, a qual é seguida pela anglo- saxã, wycliffe e tyndale. Contudo, Θεός, Deus,
é o predicado, não o sujeito, da proposição. O sujeito deve ser o Verbo, pois João
não está tentando mostrar quem é Deus, mas quem é o Verbo. Observe que Θεός
está sem artigo, que não podería ser omitido se ele pretendesse designar o Verbo
como Deus; porque, nesse caso, Θεός seria ambíguo, talvez um Deus. Além disso,
se ele dissesse: Deus era o Verbo, estaria contradizendo sua declaração anterior
pela qual distinguira (de forma hipostática)2. Deus do Verbo, e λόγος (Logos)
significaria, ademais, só um atributo de Deus. Na proposição, o predicado está
localizado enfaticamente antes do sujeito, por causa do progresso do pensamen
to, sendo essa a terceira e mais elevada declaração referente ao Verbo - o clímax
das duas proposições precedentes. A palavra Deus, usada de modo atributivo,
mantém a distinção pessoal entre Deus e o Verbo, mas une a essência e a natu
reza para seguir a distinção da pessoa, e atribui ao Verbo todos os atributos da
essência divina. Segundo Meyer: “Há algo majestoso na forma como a descrição
do Verbo, nas três breves porém extraordinárias proposições do versículo 1, é
desvelada com crescente abundância”.
28
J oão - P rólogo
A principal concepção de criação presente nos escritos de São João é expressa pela
primeira menção que ele faz dela: Todas as coisas vieram a ser por meio da Palavra. Essa
declaração deixa de lado as noções de matéria eterna e de mal inerente à matéria. Hou
ve ocasião quando o mundo não existia (Jo 17.5,24); e, por implicação, todas as coisas
quando feitas eram boas. A agência da Palavra, que “era Deus”, mais uma vez exclui
a ideia de um Criador essencialmente inferior a Deus, e a noção de um monoteísmo
abstrato em que não há relação viva entre a criatura e o Criador; pois, como todas as
coisas vieram à existência “por meio” da Palavra, assim elas são sustentadas “nela”
29
J oão - P rólogo
(Jo 1.3; cp. Cl 1.16ss.; Hb 1.3). E ainda mais, o uso do termo èyéveto, v eio a ser, como
distinto de έκxía§r\, f o r a m cria d a s, sugere o pensamento de que a criação deve ser vista
(de acordo com nossa apreensão) como uma manifestação de uma lei divina de amor.
Dessa forma, a criação ( to d a s a s coisas v ie ra m a ser p o r m eio dele) corresponde à encarna
ção (a Palavra se f e z carne). Todo o desvelamento e veladura do ser finito até o último
resultado encontra-se no cumprimento de sua vontade, que é amor.
Por ele (δι’ αύτοϋ). Literalmente, por meio dele. A preposição διά, em geral, é usa
da para denotar a obra de Deus por intermédio de alguma agência secundária, como
διά του προφήτου, por meio doprofeta (Mt 1.22; vide nota sobre essa referência)3. É a
preposição pela qual usualmente se expressa a relação de Cristo com a criação (cp.
lCo 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2), embora, de vez em quando, ela seja usada em relação ao
Pai (Hb 2.10; Rm 11.36; e G1 1.1, onde é usada em relação a ambos). Por isso, como
comenta Godet, “ela não rebaixa a Palavra à categoria de um mero instrumento”,
mas apenas indica uma relação diferente com a criação por parte do Pai e do Filho.
Nada do que foi feito se fez (έγέι^το ούδ€ eu, ό γέγονεν). Muitas autoridades
colocam o período depois de eu, e juntam ò γέγοι/ev com o que se segue, traduzin
do por “sem Ele coisa alguma foi feita. Aquilo que foi feito era vida nele”*.
Nada (ούδ€ eu). Literalmente, nem mesmo uma coisa. Compare com πάντα (todas
as coisas), no início desse versículo.
Que foi feito (ò yéyovev). Na t b , mais corretamente, que tem sidofeito, observan
do a força do tempo perfeito como distinta do aoristo (eyeueTo). O último tempo
aponta para a obra da criação considerada como um ato definitivo ou uma série de
atos no início do tempo. O tempo perfeito indica a continuidade das coisas criadas;
de forma que a ideia completa é: que tem sidofeito e existe. A combinação de uma
oração positiva com uma negativa (cp. v. 20) é característica do estilo de João, como
também do de Tiago. Vide nota sobre “sem faltar em coisa alguma”, Tg 1.4.
3. Assim na rv, mas não consistentemente em toda ela. Vide meu artigo sobre o Novo Testamento
Revisado, in: Presbyterian Review, out 1881.
4. Essa leitura é defendida muito energicamente pelo Cônego Westcott, e é adotada no texto de
Westcott e Hort, e sustentada por Milligan e Moulton. Ela é rejeitada por Tischendorf e pelos
revisores; também por Alford, De Wette, Meyer e Godet. Considerações gramaticais parecem
colocar-se contra ela (v id e Alford, sobre a passagem), mas a defesa de Westcott é mais enge
nhosa e plausível.
30
JoAo - P rólogo
4. Nele, estava a vida (ev αύτώ ζωή ήν). Ele era a fonte da vida - física, moral
e eterna seu princípio e fonte. O Novo Testamento emprega duas palavras
para vida·, βίος e ζωή. A primeira distinção é que ζωή significa existência em con
traposição à morte, e βίος, o período, meios, ou modo de existência. Assim, βίος
é originalmente a palavra mais elevada, sendo usada para o homem, enquanto
ζωή é usada para os animais (ζώα). Por isso, referimo-nos à discussão da vida e
dos hábitos dos animais como zoologia; e aos relatos da vida dos homens como
foografia. Os animais têm o princípio vital em comum com os homens, mas os
homens levam a vida controlada pelo intelecto e pela vontade, e direcionada para
fins morais e intelectuais. No texto do Novo Testamento, βίος significa sustento,
ou seja, meios de subsistência (Mc 12.44; Lc 8.43), ou curso de vida, a vida vista
como um plano (Lc 8.14; lTm 2.2; 2Tm 2.4). Ζωή ocorre no sentido mais inferior
da vida, considerada, principal ou totalmente, como existência (1 Pe 3.10; At 8.33;
17.25; Hb 7.3). Parece haver relevância no uso da palavra em Lc 16.25: “Recebes
te os teus bens em tua vida (èu rrj ζωή σου)”, com a sugestão de que a vida do ho
mem rico tinha sido pouco melhor do que a mera existência, e não a vida em todo
seu verdadeiro sentido. Todavia, do começo ao fim do Novo Testamento, ζωή é
uma palavra mais nobre e parece ter trocado de lugar com βίος. Ela expressa o
conjunto de bênçãos mortais e eternas (Mt 25.46; Lc 18.30; Jo 11.25; At 2.28;
Rm 5.17; 6.4), e não só referentes ao homem, mas também a Deus e a Cristo.
Assim aqui. Compare com 5.26; 14.6; lJo 1.2. Essa mudança deve-se à revelação
evangélica da conexão essencial de pecado com morte, e, por conseguinte, de
vida com santidade. Conforme Trench: “Qualquer coisa verdadeiramente viva só
está assim porque o pecado nunca encontrou lugar nela, ou, tendo encontrado
lugar por um tempo, desde de então foi dominado e expulso”.
Ζωή é uma palavra favorita de João. Vide 11.25; 14.6; 8.12; lJo 1.2; 5.20;
Jo 6.35,48; 6.63; Ap 21.6; 22.1,17; 7.17; Jo 4.14; Ap 2.7; 22.2,14,19; Jo 12.50 ;17.3;
20.31; 5.26; 6.53-54; 5.40; 3.15-16,36; 10.10; 5.24; 12.25; 6.27; 4.36; lJo 5.12,16;
Jo 6.51.
Era a luz dos homens (ήν το φως τώυ άνθρώπων). Passando do pensamento
de criação em geral para o da criação da humanidade, que, na gama inteira das
coisas criadas, tem capacidade especial para receber o divino. A luz —o modo
peculiar da operação do divino sobre os homens, em conformidade com a natu
reza racional e moral deles, que sozinha estava preparada para receber a luz da
verdade divina. Não se diz que o Verbo era luz, mas que a vida era a luz. O Verbo
torna-se luz por meio do ambiente de vida, de vida espiritual, da mesma maneira
que a visão é uma função da vida física. Compare com 14.6, em que Cristo torna-
-se a vida por ser a verdade; e com Mt 5.8, em que o coração puro é o meio pelo
qual Deus é contemplado. Em qualquer modo de manifestação, o Verbo está no
31
J oão - P rólogo
mundo, Ele é a luz do mundo; em suas obras, no alvorecer da criação, nas condi
ções alegres do Éden; nos patriarcas, na Lei e nos Profetas, em sua encarnação,
e na subsequente história da igreja. Compare com 9.5. Dos homens, como uma
classe, e não de indivíduos somente.
Contra o ser eterno, luz e vida do Verbo divino, emerge um princípio contrá
rio no mundo - trevas. Tendo sido apresentados o propósito e a obra de Deus na
criação, agora somos confrontados com a atitude do homem em relação a essas
coisas.
Nas trevas (kv tf| σκοτία). Σκοτία, trevas, é uma palavra peculiar ao grego
posterior, e é usada no texto do Novo Testamento quase exclusivamente por
João. Há uma ocorrência dela em Mt 10.27, e outra em Lc 12.3. A palavra mais
comum no texto neotestamentário é σκότος, oriunda da mesma raiz, que aparece
em σκιά, sombra, e σκηνή, tenda. Outra palavra para trevas, ζόφος, ocorre apenas
em Pedro e Judas (2Pe 2.4,17; Jd 6,13). Vide nota sobre 2Pe 2.4. As duas palavras
estão combinadas na expressão escuridão das trevas (2Pe 2.17; Jd 13). No grego
clássico, σκότος, como distinto de ζόφος, é o termo mais forte, denotando a condi
ção de trevas em contraposição à luz na natureza. Daí de morte, da condição antes
de nascer, de noite. Ζόφος, principalmente um termo poético, quer dizer sombrio,
obscuridade, nebulosidade. Aqui, usa-se a palavra mais forte. As trevas do pecado
são profimdas. A condição moral que se opõe à luz divina é totalmente escura. A
luz mesma que está nela são trevas. Sua condição é a oposta àquele estado feliz
de humanidade indicado no versículo 4, quando a vida era a luz dos homens; é
uma condição em que a humanidade tornou-se presa da falsidade, tolice e pecado.
Compare com lJo 1.9-11; Rm 1.21-22.
ideia correta, que aparece em 12.35: “Para que as trevas vos não apanherri’, isto
é, aposse-se de e capture. A palavra é usada no sentido de apossar-se depara tornar
sua posse-, consequentemente, tomar posse de. Usada para referir-se à obtenção
do prêmio nos jogos (lCo 9.24); ao alcance da justiça (Rm 9.30); a um demônio
tomando posse de um homem (Mc 9.18); ao Dia do Senhor surpreendendo alguém
como um ladrão (lTs 5.4). Essa ideia, aplicada às trevas, inclui a noção de eclip
sar ou subjugar. Por isso, alguns traduzem por prevalecer (Westcott, Moulton). O
pensamento de João é de que, na luta entre a luz e as trevas, a luz sai vitoriosa. As
trevas não se apropriam da luz e a eclipsam. Segundo Westcott: “A frase toda, na
verdade, é um paradoxo impressionante. A luz não bane as trevas; as trevas não
dominam a luz. Luz e trevas coexistem lado a lado no mundo”.
De Deus (παρά Θεοϋ). A preposição significa do lado de. Ela investe o mensa
geiro de mais dignidade e relevância do que se o escritor tivesse dito: “enviado por
Deus”. A preposição é usada para o Espírito Santo, enviado da parte do Pai (15.26).
Cujo nome era João (όνομα αύτφ Ίωάνης). Literalmente, o nome para ele João.
Essa é a primeira menção a João Batista; a última ocorre em At 19.3. Acerca do
nome, vide nota sobre Mt 3.1; Lc 3.2. João nunca fala do Batista como João, o
Batista, como os outros evangelistas, mas simplesmente como João. Isso é per-
feitamente natural na suposição de que João mesmo é o autor do Evangelho, e é
o outro João da narrativa.
33
J oão - P rólogo
Todos. João Batista assume o trabalho dos profetas quanto à preparação deles
para a extensão universal do chamado divino (Is 69.6). Sua mensagem era para
os homens, sem relação com qualquer nação, seita, descendência ou outras con
siderações.
8. Ele (εκείνος). Enfático: “Não era ele a luz”. Compare com 2.21: “Ele (εκείνος)
falava”, destacando a diferença entre a concepção de Jesus sobre destruir e re
construir o templo e a de seus ouvintes.
d e s n e c e s s á rio .
5. Tennyson, In Memoriam.
35
J oão —P rólogo
A quele que é incapaz de ter com unhão tam bém é incapaz de ter amizade. E, Cáli-
cles, o s filósofos nos dizem que com unhão e amizade e m étodo e tem perança e justiça
m antêm unidos céu e terra e deuses e hom ens, e, por isso, este universo é chamado
Cosmos, ou ordem, não desordem ou mistura6.
(c) Esse universo como moradia do homem (Jo 16.21; lJo 3.17). (d) A soma total da
humanidade existente no mundo-, a raça humana (Jo 1.29; 4.42). (e) No sentido ético,
a soma total da vida humana existente no mundo ordenado, considerada à parte de,
alienada de, e hostil a, Deus, e das coisas terrenas que desviam de Deus (Jo 7.7; 15.18;
17.9,14; lCo 1.20-21; 2Co 7.10; Tg 4.4).
36
J oão - P rólogo
10. Estava no mundo. Não só no seu advento, mas antes de sua encarnação, e
não menos que depois dela. Vide nota sobre os versículos 4 e 5.
Por ele. Ou por meio dele (διά). Vide nota sobre o versículo 3.
37
J oão —P rólogo
11. Veio (ήλθει/). Agora, a narrativa passa da ação geral para a especial, a ação
do Verbo como a Luz. O Verbo veio, no tempo aoristo, denota um ato absoluto
—a encarnação. No versículo 10, o Verbo é descrito como estando invisível no
mundo. Agora, Ele aparece.
Para o que era seu (εις τα ίδια). Literalmente, suaspróprias coisas; vide nota sobre
At 1.7. A a r a segue a a r c . A n t l h traduz: veiopara o seuprópriopaís, e a w y c l i f f e : veio
para suas próprias coisas, e compare com 16.32; 19.27; At 21.6. A referência é à terra
de Israel, reconhecida como a de Deus em um sentido peculiar. Vide Jr 2.7; Os 9.3;
Zc 2.12; Dt 7.6. O versículo 11 não é uma repetição do versículo 10. Há um progres
so na narrativa. Ele estava no mundo em geral, a seguir, Ele veio para sua própria casa.
Seu (ol ίδιοι). O gênero masculino, como o precedente, é neutro. Que repre
senta seu próprio país ou posses, seu próprio povo. Na r v , Eles que eram seu.
12. A todos (όσοι). Denotando indivíduos, como ’ίδιοι (v. 11) representa a nação
como um todo.
Milligan e Moulton, que traduzem παρέλαβον por aceitaram e έλαβον por rece
beram e dizem que “o primeiro enfatiza a vontade consentida (ou recusada) de
receber enquanto o último traz diante de nós aposse conquistada·, de forma que o
sentido pleno é este, Tantos quantos o aceitaram, o receberam”. Para o uso do
verbo simples, vide versículo 43; 13.20; 19.6.
D e serem (γενέσθαι). Como os que nascem (v. 13; cp. 3.3 e Mt 5.45).
Filhos (τέκνα). Na rv, mais corretamente, crianças. Filho é υιός. Τέκνον, crian
ça (τίκτω, nascer) denota uma relação baseada na comunhão de natureza, enquan
to υιός, filho, só pode indicar adoção e herança. Vide G1 4.7. A não ser em Ap 11.7,
que é uma citação, João nunca usa υ'ιός para descrever a relação dos cristãos com
Deus, uma vez que ele não considera a posição destes resultados da adoção, mas
da nova vida. Paulo, por sua vez, observa a relação do ponto de vista legal, como
adoção, transmitindo nova dignidade e relação (Rm 8.15; G1 4.5-6). Vide também
Tg 1.18; 1Pe 1.3,23, passagens que adotam o ponto de vista de João, em vez do de
Paulo. Τέκνον, indicando a relação do homem com Deus, ocorre em 1.12; 11.52;
lJo 3.1,2,10; 5.2 e sempre no plural.
Nome (όνομα). Vide nota sobre Mt 28.19. Expressando a soma das qualidades
que marcam a natureza, ou caráter, de uma pessoa. Crer no nome de Jesus Cris
to, o Filho de Deus, é aceitar como verdadeira a revelação contida nesse título.
Compare com 20.31.
14. E o Verbo (καί). Como antes, a conjunção simples, não sim, nem a saber nem
por isso, mas passando a uma nova declaração concernente ao Verbo.
40
J oão —P rólogo
Se fez carne (σαρξ cyeveuo). Na nvi , “tomou-se carne”. O mesmo verbo que en
contramos no versículo 3. Todas as coisas tornaram-se por intermédio dele; Ele,
por sua vez, tornou-se carne. “Ele tornou-se aquilo que primeiro se tornou por
intermédio dele.” Ao se fazer carne, Ele não deixou de ser o Verbo eterno. Sua
natureza divina não foi deixada de lado. Ao se fazer carne, Ele não se separa da
alma racional do homem. Ele, retendo todas as propriedades essenciais do Verbo,
entrou em novo modo de ser, não em um novo ser.
A palavra σάρξ, carne, descreve esse novo modo de ser. Ela representa natureza
humana em manifestação corpórea e de acordo com esta. Aqui, como contraposto de pu
ramente divino e da natureza puramente imaterial do Verbo. Ao se fazer carne, Ele
não se tornou primeiro uma personalidade. Todo o prólogo concebe-o como uma
personalidade desde o início —desde eras eternas. A expressão sefe z carne quer
dizer mais do que Ele ter assumido a forma do corpo humano. Ele assumiu a toda a
natureza humana, identificando-se com a raça do homem, possuindo um corpo hu
mano, uma alma humana e um espírito humano. Vide 12.27; 11.33; 13.21; 19.30. Ele
não assume apenas por um tempo a humanidade como algo estranho a Ele mesmo.
A encarnação não foi um mero acidente de seu ser substancial. “Ele se fez carne, e
não se revestiu na carne.” Compare com toda a passagem com 1Jo 4.2; 2Jo 7.
41
JoAo - P rólogo
restre, cp. t eb , em 2C0 5.1), uma sugestão da transitoriedade da estadia de
nosso Senhor na terra; o que pode bem ser verdade, embora a palavra não
sugira necessariamente isso; pois Ap 21.3 diz a respeito da Jerusalém celes
tial·. “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará
(σκηνώσίΐ)”.
Dante alude à encarnação no sétimo canto do "Paraíso”:
Entre nós (êv ήμΐν). No meio de nós. Compare com Gn 24.3, l x x : “D os cana-
neus, no meio dos quais eu habito (μ€θ’ ών έγώ οίκώ eu αύτοίς)”. A referência é à
testemunha ocular da vida de nosso Senhor. Godet afirma: “Conforme a mani
festação apresenta-se na mente do evangelista e, nas palavras entre nós, assume o
caráter da lembrança mais pessoal, torna-se nele o objeto de deleitável contem
plação”
As palavras seguintes, até Pai e incluindo esta, são parentéticas. A sentença
contínua é: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, £...j cheio de graça e de
verdade”.
Vimos (Ιθ€ασάμ€θα). Compare com Lc 9.32; 2Pe 2.16; lJo 1.1; 4.14. Vide nota
sobre Mt 11.7; 23.5. A palavra denota contemplação calma e contínua de um
objeto que permanece diante do espectador.
Glória (δόξαν). Não a glória absoluta do Verbo eterno, que só podia pertencer
ao estado preexistente dele e à condição subsequente de sua exaltação; mas sua
glória revelada, sob as limitações humanas, nele mesmo e nos que o observavam.
A referência, mais uma vez, é às manifestações da glória divina no Antigo Testa
mento, no deserto (Ex 16.10; 24.16 etc.); no templo (lRs 8.11); para os profetas
(Is 6.3; Ez 1.28). A glória divina revelada de tempos em tempos em Cristo, em
sua transfiguração (Lc 9.31; cp. 2Pe 1.16-17) e seus milagres (Jo 2.11; 11.4,40),
10. Dante, A Divina Comédia, Paraíso, tradução José Pedro Xavier Pinheiro, São Paulo, Tietê,
1954, vii, p. 41.
42
J oão —P rólogo
Como (ώς). Uma partícula de comparação. Compare com Ap 5.6: “Um Cordei
ro, como havendo sido morto”; e também com Ap 13.3.
11. Ou seja, atribuindo forma humana e modos de atividade humanas a Deus, como quando falamos
da mão, daface e dos olhos de Deus, ou, como aqui, de Deus gerando.
43
J oão - P rólogo
com a preposição εις significando que entrou e está lá-, vendo, assim, o Filho como
tendo retornado ao Pai (mas vide nota sobre v. 18).
15. Da mesma maneira como o versículo 14 faz paralelo com os versículos 1-5,
também esse versículo faz paralelo com os versículos 6-8, mas com um avanço do
pensamento. Os versículos 6-8 apresentam o testemunho de João Batista para o
Verbo como a luz, em geral, dos homens. Esse versículo apresenta o testemunho
de João Batista do Verbo pessoal se fazer carne.
Clamou (κεκραγεν). Vide nota sobre Mc 5.5; 9.24; Lc 18.39.0 verbo denota uma
declaração inarticulada como distinta das palavras. Quando usado em ligação com
a fala articulada, ele é unido com λεγειν ou είπεΐν, dizer, como em 7.28, clamar,fa
lar. Compare com 7.38; 12.44.0 clamor corresponde à descrição de si mesmo, feita
por João Batista, como uma voz (φωνή, som ou tom), Mc 1.3; Lc 3.4; Jo 1.23.0 verbo
está no tempo perfeito, mas com o sentido clássico usual de presente.
Depois de mim (όπίσω μου). Literalmente, após eu: em sua manifestação humana.
dignidade nem para classificação. A expressão tem uma forma enigmática: “meu
sucessor é meu predecessor”. A ideia da dignidade superior de Cristo não é uma
inferência necessária de sua vinda depois de João como, nessa interpretação, as
44
J oão - P rólogo
16. E (και). Mas a leitura correta é ότι, porque, ligando, assim, a sentença seguin
te ao “cheio de graça e de verdade” do versículo 14. Conhecemos a Jesus como
cheio de graça e de verdade porque recebemos da sua plenitude.
12. Segui Meyer e Godet. D e Wette, Alford, Milligan e M oulton adotam a outra interpretação,
referindo-se a «μπροσθίν para classificação ou dignidade. Como também W estcott, embora ele
não afirme a questão entre as duas explicações com sua contundência usual.
IS. Aristófanes, As Vespas, 66O.
14. Heródoto, iii, 22.
15. Aristóteles, Política, iv, 4. Vide Platão, República, 371.
45
J oão - P rólogo
ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus” (Cl 2.19; cp. E f 4.16). De for
ma semelhante, ele ora (Ef 3.19) para que os irmãos possam ser enchidos de
toda a plenitude de Deus; isto é, que eles possam ser enchidos com a plenitude
que Deus transmite. Relacionado de forma mais próxima com o uso do termo
por João aqui está Cl 1.19: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitu
de (τό πλήρωμα, observe o artigo) nele (Cristo) habitasse”; e 2.9-10: “Porque
nele habita corporalmente (ou seja, tornando-se encarnado) toda a plenitude da
divindade. E estais perfeitos (πεπληρωμένοι) nele”. Essa passagem declara que
o todo agregado dos poderes e graças divinos aparecem no Verbo encarnado e
corresponde à declaração de João de que “o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, £...] cheio de graça e de verdade”; enquanto “estais perfeitos” corresponde
à declaração de João de que “todos nós recebemos também da sua plenitude”.
Assim, o sentido de João aqui é que os cristãos recebem da plenitude divina
tudo que é necessário para a perfeição de seu caráter e para a realização de seu
trabalho (cp. Jo 15.15; 17.22)16.
Assim, tendo provido e dispensado as primeiras graças (χάριτας), antes que seus desti
natários se tornem desumanos por meio da saciedade, subsequentemente, ele concede
diferentes graças em troca por (άντί) aquelas, e uma terceira supre para a segunda, e
sempre as novas em troca pela mais antiga.
16. Dificilmente é necessário referir-se ao estudante crítico para a admirável observação do Bispo
Lightfoot em seu comentário sobre Colossenses, p. S2Sss.
17. H e ró d o to , iii, 59.
46
J oão - P rólogo
Por Moisés (διά). Literalmente, por intermédio de. Vide nota sobre por ele, ver
sículo 3.
A graça e a verdade vieram (εγει/ετο). Vieram a ser como o desenvolvimento
do plano divino inaugurado na lei e revelando a relevância do dom da lei. Elas
não vieram a ser de forma absoluta, mas em relação à humanidade. Compare com
1Co l .30, passagem que diz que Cristofo i feito (propriamente, tornou-se, έγενηθη)
para nós sabedoria e justiça etc.; que no sentido pleno é graça e verdade. A pala
vra graça não ocorre em mais nenhuma passagem de João, a não ser nas sauda
ções (2Jo 3; Ap 1.4; 22.21).
18. D eus nunca foi visto p o r alguém (θεόν ούδείς έώρακεν πώιτοτε). Na
ordem grega, Deus vem em primeiro lugar, isto para enfatizar “Deus foi
nenhum homem visto”. Quanto ao conteúdo da declaração, compare com
3.11; Êx 33.20; lJo 4.12. As manifestações de Deus para os santos do An
tigo Testamento eram apenas parciais e aproximadas (Êx 33.23). Aqui, o
visto é a visão da essência divina, em vez da pessoa divina, que também está
indicada pela ausência do artigo de Θεόν, Deus. Nesse sentido, nem mesmo
Cristo era visto como Deus. O verbo όράω, ver, denota um ato físico, mas
enfatiza o discernimento mental que o acompanha e aponta para a resulta
do, não para o ato de ver. Em lJo 1.1; 4.12,14, θεάομαι é usado, denotando
contemplação calma e deliberada (vide nota sobre v. 14). Em 12.45, temos
θεωρεω, ver (vide nota sobre Mc 5.15; Lc 10.18). Tanto θεάομαι quanto
θεωρεω sugerem contemplação deliberada, mas o primeiro é ver para satis
fazer o olho, enquanto o último é ver de forma mais crítica com interesse
espiritual ou mental interiores na coisa vista e com vistas a conhecê-la.
47
J oão - P rólogo
Que está no seio (ò ών εις τον κόλπον). A expressão ó ών, que está ou aquele estando
é explicada de duas maneiras: (l) como um presente eterno que expressa a relação
eterna de Filho e Pai. (2) Conforme interpretado pela preposição εις, em, literalmente,
no, e expressando o fato do retorno de Cristo para o Pai depois de sua encarnação: “O
Filho que entrou no seio do Pai e está lá”. No primeiro caso, é uma descrição absoluta da
natureza do Filho; no segundo caso, a ênfase está no fato histórico da ascensão, embora
com referência à sua moradia eterna com o Pai daquele tempo em diante.
Embora o fato de o retorno de Cristo para a glória do Pai possa estar presente
na mente do escritor e possa ter ajudado a determinar a forma da declaração,
enfatizar esse fato nessa conexão pode parecer menos consistente com o curso
do pensamento no prólogo que a outra interpretação, uma vez que, nessa sen
tença, João declara a competência do Filho encarnado para manifestar Deus para
a humanidade. A ascensão de Cristo, na verdade, está associada a essa verdade;
todavia, à luz do curso de pensamento anterior, não é seu fator original. Antes, é
a eterna unidade do Verbo com Deus que, embora passando pela fase de encarnação,
permanece ininterrupta (3.13). Assim, Godet declara de forma competente: “A
qualidade atribuída a Jesus de ser o revelador perfeito do ser divino está funda
mentada em sua relação íntima e perfeita com Deus mesmo”.
A expressão no seio do Pai descreve essa relação eterna com uma relação es
sencialmente de amor, usando a imagem da relação de marido e esposa (Dt 13.6),
18. O Dr. Scrivener, em Introduction to the C riticism o f the N e w Testam ent, declara: “Os que utilizam
evidência antiga exclusivamente para a revisão do texto podem bem ficar perplexos ao lidar
com essa passagem. Os mais antigos manuscritos, versões e escritores estão irremediavelmen
te divididos”. Contudo, ele decide sempre pela leitura υιός. Como o texto de Tischendorf e
dos comentaristas, Meyer, D e Wette, Alford, Godet, Schaff (em L a n g e ’s Com m entary). O texto
de W estcott e Hort apresenta Θεός, com ό μονογενής υιός em nota de margem. Assim Wes-
tcott ( Com m entary ), Milligan e Moulton, e Tregelles. Vide nota de Schaff sobre a passagem
em L a n g e ’s Com m entary, Scrivener, p. 525; e F. J. A. Hort, T w o D issertations, Cambridge, 1877.
48
J oão — P rólogo
Este (εκειίΌς). Muitíssimo enfático e aponta para o Filho eterno. Esse prono
me é usado por João com mais frequência que por qualquer outro escritor. Há
72 ocorrências dele, e não só para denotar um objeto mais distante, mas também
para denotar e dar ênfase especial à pessoa ou coisa imediatamente à mão ou a
qual tem, de forma predominante, a qualidade que está imediatamente em ques
tão. Por isso, Jesus aplica-o a si mesmo como a pessoa sobre quem o homem cego
de nascença, já curado, indaga: “É aquele (εκείνος) que fala contigo” (Jo 9.37).
Também aqui: “o Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer”.
19. H e ró d o to , i, 78.
20. Platão, República, 427.
21. Id., Leis, 759.
49
J oão - C ap. 1
19. Este (αυτή). O seguinte. Esse uso do pronome chamando a atenção do leitor
para o que se segue e preparando-o para isso é frequente em João. Às vezes, o
pronome carrega o sentido de qualidade, desse tipo, desse caráter. Vide 3.19; 15.12;
lJo 5.4,9,11,14.
Para que £../] perguntassem (iva έρωτήσωσιν). Literalmente, afim de que eles
perguntassem. Vide nota sobre Mt 15.23.
Eu não sou o Cristo. De acordo com a leitura apropriada, έγώ, eu, permanece
na frente na declaração de João Batista, com δτι tendo apenas a força das mar
cas da citação. A frase é enfática: “Eu não sou o Cristo, embora o Cristo esteja
aqui”. Alguns questionavam se João era o Cristo (Lc 3.15; At 13.25). Observe a
ocorrência frequente do enfático eu·, versículos 23,26-27,30-31,33-34. Acerca de
o Cristo, vide nota sobre Mt 1. l .
21. Então, quem és, pois? És tu Elias? Algumas autoridades leem: Então, quem
és tu? Elias? Elias, predito em Ml 4.5, como o precursor do dia do Senhor.
23. A voz (φωνή). Ou uma voz. Não há artigo. Vide nota sobre M t 3.5.
a João Batista (Mt 3.8; Me 1.3; Lc 3.4). Aqui, ele usa a citação para se referir a si
mesmo. Acerca de deserto, vide nota sobre Mt 3.1.
26. Eu batizo com água, mas, [...)] está um. Os melhores textos omitem mas-,
para que as duas orações ilustrem o paralelismo característico de João e revele o
contraste contundente entre João Batista e seu sucessor.
Meio de vós (μέσος υμών). No grego, é: no meio em relação a vocês. Έγώ, eu,
e μέσος, no meio, permanecem, respectivamente, na início das orações paralelas
enfatizando, assim, os dois grupos contrapostos.
27. Este é aquele que vem após mim (αυτός εστιν ό όπίσω μου ερχόμενος). Os
melhores textos omitem as duas primeiras palavras. Westcott e Hort também
omitem ó; assim, a tradução é: não conheceis aquele que vem após mim.
D esatar (ϊνα λύσω). Literalmente, que eu podia desatar. Marcos (1.7) e Lucas
(3.16) trazem desatar. Mateus (3.11) traz levar. Vide nota sobre Mt 3.11.
terem o mesmo nome, como as duas Betsaidas, uma na margem leste do lago de
Genesaré (Mc 6.32,45) e a outra na margem oeste (Jo 1.44); as duas Cesareias,
uma no Mediterrâneo (At 8.40) e outra em Gaulanites, aos pés do Líbano, a Ce-
sareia de Filipe (Mt 16.13).
Viu (βλέπει). Ambos όράω e βλέπω denotam o ato físico de ver, o primeiro
ver em geral, o segundo o simples olhar. A percepção indicada por βλέπω é mais
externa-, a percepção do sentido como distinta do discernimento mental, que é
proeminente em όράω. Um olhar diz a João Batista que o mais poderoso chegou.
Vide nota sobre o versículo 18 e Mt 7.3.
30. Do qual (trepl οΰ). Ou seja, “a respeito tfcquem”; mas a leitura mais apropria
da é υπέρ οδ, “em nome de quem”, em vindicação de.
Um homem (άνήρ). O Novo Testamento usa três palavras para homem, άρρην ou
άρσην, άνήρ e άνθρωπος. ’Άρσην denota apenas a distinção sexual, varão (Rm 1.27; Ap
12.5,13). Άνήρ denota o homem como distinto da mulher, como varão ou marido (At
8.12; Mt 1.16), ou como distinto do menino (Mt 14.21). O homem também é favorecido
com coragem, inteligência, força e outros atributos nobres (lCo 13.11; Ef 4.13; Tg 3.2).
O termo άνθρωπος é genérico, não faz distinção de sexo, um ser humano (Jo
16.21), embora, com frequência, seja usado em conexões que indicam ou envolvem
sexo, como Mt 19.10; 10.35. Usado para humanidade (Mt 4.4) ou para pessoas (Mt
5.13,16; 6.5,18; Jo 6.10). Usado para homem como distinto de animais ou plantas
(Mt 4.19; 2Pe 2.16) e também distinto de Deus, Cristo, como divinos, e dos anjos
(Mt 10.32; Jo 10.33; Lc 2.15). Usado com a noção de fraqueza que leva ao pecado
e com sentido de insolência (lCo 2.5; lPe 4.2; Jo 5.12; Rm 9.20). Assim, o sentido
mais nobre e honrável está ligado a άνήρ, e não a άνθρωπος. Por isso, Heródoto
diz que quando os medos atacaram os gregos, eles caíram em grandes números
para que ficasse claro para Xerxes que ele tinha muitos combatentes (άνθρωποι),
mas poucos guerreiros (άνδρeç)23. Daí Homero dizer: “Sede homens (àvépeç), amigos,
ânimo forte, mutuamente ciosos da honra no duro embate”24. Por isso, João Batista
usa aqui άνήρ para Jesus com sentido de dignidade. Compare com άνθρωπος, no
versículo 6, no qual a palavra não indica desprezo, mas é simplesmente indefinida.
Em João, άνήρ tem principalmente o sentido de marido (4.16-18). Vide 6.10.
54
J oão - Cap. 1
31. E eu (κάγώ). Enfático. “E eu, [embora^ disse^sse]: após mim vem um homem
(v. 30), não o conhecia”.
Como uma pomba (ώσε'ι περιστεράν). Na forma de uma pomba. Vide nota
sobre Mt 3.16.
33. Esse (εκείνος). Na n v i , aquele. Vide nota sobre o versículo 18. Enfatiza a co
municação pessoal de Cristo com João Batista.
Com o Espírito Santo (èv Πνεύματι 'Αγίω). A preposição εν, em, com fre
quência, tem a força instrumental de com. Contudo, aqui, ela parece significar o
elemento da nova vida, como εν υδατι, com água, representa o elemento do batismo
simbólico e seria mais bem traduzido por em. A ausência do artigo com Espírito
Santo concorda com isso, como indicando a influência espiritual do agente divino,
em vez de sua personalidade.
Acerca de υΙός, filho, como distinto de τέκνον, criança, descendentes, vide nota
sobre o versículo 12.
Dois dos seus discípulos. Um era André (v. 41), e o outro, o próprio evangelis
ta, que cuidadosamente evita mencionar seu próprio nome em toda a narrativa.
O nome de Tiago, o mais velho, também não aparece nem o de Salomé, a mãe do
evangelista, mencionada pelo nome no Evangelho de Marcos (15.40,16.1). A omis
são de seu próprio nome é mais relevante a partir do fato de que ele, habitualmente,
é preciso em definir os nomes em sua narrativa. Compare a simples designação de
Simão (l .42) com as ocorrências subsequentes de seu nome depois do seu chamado,
como 1.42; 13.6; 21.15 etc. Também Tomé (11.16; 20.24; 21.2); Judas Iscariotes
(6.71; 12.4; 13.2,26) e o outro Judas (14.22). Observe também que ele nunca se
refere a João Batista como João, o Batista, como os outros três evangelistas, mas
sempre como João.
36. Vendo (έμβλέψας). A n v i dá a força do aoristo, quando viu. Vide nota sobre o
versículo 29. O verbo só é usado por João aqui e no versículo 42.
Passar a Jesus (πφίπατοϋντι). O sentido literal do verbo é andar por ali (πφί).
Aqui é possível que o sentido seja caminhando ao longo. Westcott, “partir”. Vide
nota sobre lPe 5.8; Lc 11.44.
Rabi. Meu poderoso, meu honrável senhor. Explicado por Jesus mesmo com
διδάσκαλος, mestre (Mt 23.8, passagem em que a leitura apropriada é διδάσκαλος,
em vez de καθηγητής, guia, chefe, encontrada em Mt 23.10, n v i ). Termo usado
pelos judeus para se dirigirem a seus professores e formado a partir de uma raiz
56
JoÂo —C ap . l
hebraica com o sentido de grande, notável O termo ocorre comumente em João
e é encontrado em Mateus e Marcos, mas não em Lucas, pois ele usa επιστάτης.
Vide nota sobre Lc 5.5.
Morava (μένει). O tempo presente. Literalmente, eles viram onde ele morava.
Para uma construção semelhante, vide 2.9; 4.1; At 10.18 etc.
Hora décima. A questão é se essa hora deve ser considerada de acordo com
o método judaico ou romano de cálculo. O método judaico, empregado pelos
outros evangelistas, começa o dia ao nascer do sol, assim, de acordo com ele, a
décima hora seria 16 horas. O método romano, como o nosso, conta a partir da
meia-noite, de acordo com o que a décima hora seria 10 horas. O peso do argu
mento, no todo, parece estar a favor do método judaico, o qual, indubitavelmente,
é assumido por João em 11.9. Os gregos da Ásia Menor, para quem João escrevia,
usavam o método judaico, recebido dos babilônios. Godet cita um incidente dos
“Discursos sagrados”, de Aélio Aristides, sofista grego do século II e contem
porâneo de Policarpo. Deus ordenou-lhe que tomasse um banho, ele escolheu a
sexta hora como a mais benéfica para a saúde. Sendo inverno, e o banho era frio, a
hora era meio-dia·, pois ele disse ao amigo, que o esperava: “Veja, a sombra já está
virando?” Até mesmo o Cônego Westcott, que advoga o método romano, admite
que “romanos e gregos, não menos que os judeus, contam as horas a partir do
nascer do sol”, embora os romanos calculem seus dias civis a partir da meia-noite,
e a décima hora seja chamada de última hora, quando os soldados pegavam sua
refeição ou tinham permissão para descansar. Por isso, em seu relato do ataque
57
J oão - C a p . 1
romano a Sutri, Lívio registra: “Por volta da décima hora, o cônsul ordenou uma
refeição para seus homens e instruiu-os para que estivessem em armas a qual
quer hora do dia ou da noite em que ele desse o sinal. £...] Depois de se refresca
rem, eles descansaram”25.
Aristófanes diz: “Quando a sombra no relógio de sol está com três metros de
comprimento, então vão jantar”26; e Horácio: “Você jantará comigo hoje. Venha
depois da nona hora”27. Objeta-se que o horário que se estende das 16 horas até o
fim do dia não seria descrita como aquele dia-, todavia, além de marcar a hora espe
cífica em que acompanharam Jesus como a primeira hora de sua vida cristã, seria
improvável que João usasse uma forma de falar mais popular e mais imprecisa para
indicar a extensão da estadia com Jesus, querendo dizer apenas que eles permane
ceram com Jesus durante o resto do dia e, sem dúvida, prolongaram sua conversa
até a noite28.
André. Vide nota sobre Mc 3.18. Compare com Mc 13.3; Jo 6.8; 12.22.
41. Este achou primeiro (eúpíoKei οΰτος πρώτος). Na n v i , o primeiro que ele
encontrou. Este é o pronome demonstrativo, esse aqui, que, junto com primeiro, pa
rece apontar para o encontro posterior de seu irmão pelo outro discípulo, ou seja,
de Tiago por João. Bengel diz: “Ao festival de novidade daqueles dias correspon
de belamente a palavra achou, que com frequência é usada aqui”.
Seu (τον ’ίδιον). Vide nota sobre M t 22.5; 25.15; At 1.7; lPe 1.3.
25. Não é fácil ajustar todas as referências à hora do dia no Evangelho de João a um dos dois mé
todos. Assim, 19.14 localiza a crucificação na sexta hora ou ao m eio-dia, contando pelo método
judaico, enquanto Marcos (15.25) diz terceira hora ou entre 8 e 9 horas. As duas passagens do
capítulo 4.6,52 são de pouca ajuda, sobretudo a última. Talvez, afinal, a passagem quase mais de
cisiva seja 11.9. Há autoridades de peso dos dois lados. Para o método romano, Tholuck, Ebrard,
Ewald, Westcott; para o método judaico, Lücke, D e Wette, Meyer, Alford, Lange, Godet.
26. Lívio, ix, 37.
27. Aristófanes, Ecclesiazusae, 648.
28. Horácio, E pístolas, livro 1, vii, 69.
58
J oão - C ap . 1
Pedro (Πέτρος). Vide nota sobre Mt 16.18. Uma massa de rocha separada. NaKJv,
umapedra. Cefaséo nome aramaico, que ocorre em lCo 1.12; 3.22; 9.5; 15.5; G1 2.9.
Quis ir (ήθέλησεν έξίλθεΧν). A nvi tem uma tradução melhor, decidiupartir. Acer
ca da construção, vide nota sobre Mt 20.14; acerca do verbo quis ir, vide nota sobre
Mt 1.19.
Filipe. Vide nota sobre Mt 3.18. Para indícios de seu caráter, vide 6.5,7;
12.21SS.; 14.8-9.
59
JoÂo - Cap. 1
45. Natanael. Provavelmente o mesmo que Bartolomeu. Vide nota sobre Barto
lomeu, Mc 3.18.
46. Pode vir [../] de Nazaré (’εκ Ναζαρέτ είναι). Literalmente, “<?de dentro de”;
expressão característica de João. Vide 3.31; 4.22; 7.17,22; 8.23; 15.19; 18.36,38
etc. Quer dizer mais do que “vir de”, mais propriamente, “vir de” com o sentido
de que é de-, ser identificado com algo de modo a aparecer com a impressão, a mo
ral ou outra coisa desse local. Vide especialmente 3.31: “Aquele que vem da terra
é da terra”; ou seja, compartilha de sua qualidade. Compare com as palavras de
Cristo para Nicodemos (3.6) e com lCo 15.47.
Na ordem grega, de Nazaré vem primeiro na sentença expressando o proemi
nente pensamento que Natanael tinha em mente, surpreso por Jesus vir de Na
zaré, uma vila pobre cujo nome nem mesmo aparece no Antigo Testamento. Ao
contrário da explicação popular, não há evidência de que Nazaré fosse pior que
outros lugares, além do fato da violência de seu povo com Jesus (Lc 4.28-29) e de
sua descrença obstinada nele (Mt 13.58; Mc 6.6). Contudo, existia o provérbio de
que nenhum profeta veio da Galileia (Jo 7.52).
Debaixo da figueira (ύττό την συκήν). A construção com eíôov oe, te vi eu;
ou seja, te vi debaixo dafigueira. A preposição com o caso acusativo - o que su
gere movimento em direção a um ponto - indica a retirada dele para a sombra
da árvore a fim de meditar ou orar. Vide nota sobre o versículo 50. Os escritos
judaicos falam de rabis célebres que tinham o costume de se levantar cedo para
dar continuidade a seus estudos sob a sombra de uma figueira. Compare com
Mq 4.4; Zc 3 .1 0 . Agostinho, em suas Confissões, relata a respeito de si mesmo:
“Deixei-me, não sei como, cair debaixo de uma figueira e dei livre curso às lá
grimas, que jorravam de meus olhos aos borbotões, como sacrifício agradável
a ti”30. Natanael pergunta: "De onde me conheces tu?”. Jesus responde: “Q..J] te
vi eu (eíôov)”.
49. Rabi. Aqui, Natanael usa o título que evitara em sua primeira fala.
50. Debaixo da figueira (úuò τής συκής). Compare com o versículo 48. Aqui é
usada a mesma preposição com o caso genitivo, indicando descanso, sem a suges
tão de retirada ou afastamento para.
Crês? Assim está correto, embora alguns traduzam como afirmação, crês.
30. Agostinho, Confissões, traduçãoMaria Luiza Jardim Amarante, 10 . ed., SãoPaulo, Paulus, 1984,
viii, 28, p. 213-214.
61
J oão - C ap . 1
Anjos. Com exceção de 12.29 e 20.12, João não usa a palavra “anjo” em outras
passagens do Evangelho nem das epístolas e não se refere ao ser nem ao ministé
rio deles. Trench cita uma bela passagem de Platão como sugestiva das palavras
do nosso Senhor31. Platão fala de amor.
Filho do Homem. Vide nota sobre Lc 6.22. Nesse capítulo, observe os títulos
aplicados sucessivamente para nosso Senhor: o grande sucessor de João Batista,
o Cordeiro de Deus, o Filho de Deus, o Messias, o Rei de Israel. Esses títulos
todos foram dados por outras pessoas. O título de Filho do Homem, Ele aplica
a si mesmo.
No Evangelho de João, como nos Sinópticos, essa expressão é usada só por
Cristo ao falar de si mesmo e, em outras passagens, apenas em At 7.56, passagem
em que o título é aplicado a Ele por Estêvão. A expressão ocorre com menos fre
quência em João que nos Sinópticos, tendo trinta ocorrências em Mateus, treze
em Marcos e doze em João.
O uso do título por Jesus aqui é explicado de duas maneiras.
I. Que Ele empresta o título do Antigo Testamento para designar a si mesmo
ou (a) como um profeta, como em Ez 2.13; 3.1 etc.; ou (b) como o Messias, con
forme prognosticado em Dn 7.13. Essa profecia de Daniel tinha alcançado uma
circulação tão ampla que o Messias era chamado Anani ou o homem, das nuvens.
(a) Essa explicação é indefensável porque, em Ezequiel e em outras passagens
do Antigo Testamento, a expressão filho do homem é usada para descrever o ho
mem sob suas limitações humanas, como fraco, falível e incompetente por ele
mesmo para ser um agente divino.
(b) A alusão à profecia de Daniel é admissível, mas Jesus não pretende dizer:
“Sou o Messias prognosticado por Daniel”. O conceito popular do termo Messias
tem um sentido político ligado a ele; e é perceptível em todo o Evangelho de João
em que Jesus tem o cuidado de evitar usar esse termo diante das pessoas, mas ex-
S3. Em Jo 9.35, passagem em que Jesus mesmo formula uma confissão, a leitura é debatida; três dos
principais manuscritos trazem Filho do Homem. Vide nota sobre essa passagem.
63
João - C ap. 2
C apítulo 2
Estava ali. Quando Jesus chegou. Provavelmente, sua mãe estava ali como
amiga íntima da família ajudando nas arrumações.
Que tenho eu contigo (τί έμοί και ool). Literalmente, o que há para mim
e ti. Vide nota sobre Mc 5.7, e compare com Mt 8.29; 27.19; Mc 1.24; Lc 8.28.
A frase ocorre muitas vezes no Antigo Testamento, 2Sm 16.10; lRs 17.18 etc.
Jesus, embora de modo gentil e afetuoso, rejeita a interferência dela, pretendendo
prover a demanda de sua própria maneira. Compare com 6.6. Na n v i , que temos
nós em comum, mulher?
Ainda não é chegada a minha hora. Compare com 8.20; 12.23; 13.1. Em todo
caso, a chegada da hora indica alguma crise na vida pessoal do Senhor, mais comu-
mente sua paixão. Aqui, trata-se da hora de sua manifestação messiânica (v. 11).
64
J oão - Cap. 2
5. Aos empregados (διακόνοις). Vide nota sobre Mt 20.26; Mc 9.35.
10. Têm bebido bem (μεθυσθώσι). Na yvi,já beberam bastante. A ara traduz já be-
beramfartamente. As traduções da kjv e tyndale são melhores que a da rv : quando
os homens beberam livremente. O mestre-sala quer dizer que quando o paladar dos
convidados fica menos sensível graças à indulgência é oferecido um vinho de
qualidade inferior. Em todas as instâncias do uso da palavra no texto do Novo
Testamento, seu sentido é intoxicação. Dificilmente requer comentário a tenta
tiva de defender a teoria do vinho não fermentado a fim de negar ou enfraquecer
esse sentido da palavra citando “wmjardim regado” (Is 58.11; Jr 31.12). Pode-se
responder a isso citando Platão, que usa βατιτίζίσθαι, ser batizado, para estar bê
bado35. Na lxx , o verbo ocorre muitas vezes para regar (SI 65.9,10), mas sempre
com o sentido de molhar ou enxaguar, de estar embriagado ou saciado de água. Em
Jr 48.26 (lxx , 31), a palavra é encontrada no sentido literal, estar embriagado. O
uso metafórico da palavra foi transmitido para a gíria comum, como quando se
diz que um homem embriagado está encharcado ou molhado (como Platão, acima).
O uso figurativo da palavra na lxx tem um paralelo no uso de ποτίζω, dar para
beber, para expressar regar o chão. Como Gn 2.6, um vapor regou a face da terra
ou deu-lhe de beber. Compare com Gn 13.10; Dt 1 l . i o . Um uso curioso da pala
vra ocorre em Homero, na passagem em que ele descreve o estiramento da pele
de um boi a qual, a fim de ficar mais elástica, é imersa (μςθύουσαν) com gordura36.
Inferior (Ιλάσσω). Literalmente, fraco. Indicando tanto pior quanto mais fra
co. Fraco aparece no mesmo sentido de ordinário.
66
J oão - Cap. 2
11. Principiou assim. Ou, no sentido mais estrito, isso como um início.
Creram nele (επίστευσαν εις αυτόν). Vide nota sobre 1.12. Literalmente, cre
ram em. O Cônego Westcott, mais habilmente, diz que essas palavras transmi
tem a ideia de “absoluta transferência de confiança de uma pessoa para outra”.
13. Páscoa dos judeus. Acerca do uso de João do termo judeus, vide nota sobre
1.19. Assim, aqui o termo é usado como uma sub-referência à religião nacional
como se consistisse apenas de meras cerimônias. A mesma sugestão está sub
jacente nas palavras do versículo 6: “Para as purificações dos judeus”. Só João
menciona essa primeira Páscoa do ministério de Jesus. Os Sinópticos não relatam
nenhum incidente de seu ministério na Judeia, e, exceto pela narrativa de João,
não se pode afirmar positivamente que Jesus subiu a Jerusalém durante sua vida
pública antes de sua prisão e crucificação.
14. No templo (ίερω). No recinto do templo, não no santuário (ναός). Vide nota
sobre Mt 9.5; Mc 11.16.
indício do preço elevado nessa troca, e que a palavra usada por João aqui não
transmite. Os cambiadores abriam suas barracas nas cidades do interior um
mês antes da festa. Na época da chegada da primeira leva de peregrinos para
a Páscoa em Jerusalém, as barracas no interior eram fechadas, e os cambia
dores assentavam-se no templo (vide nota sobre M t 17.24; 21.12; Mc 11.15).
O retrato desse incidente fornecido por João é mais vivido e detalhado que
os dos Sinópticos, que apenas declaram sumariamente a expulsão dos comer
ciantes e a derrubada das mesas. Compare com M t 21.12-13; Mc 11.15-17;
Lc 19.45-4637.
Lançou [...^ fora (έξέβαλβν). Literalmente, com na nvi, expulsou. Vide nota
sobre M t 10.34; 12.35; Mc 1.12; T g 2.25.
Todos. Refere-se aos animais. A ntlh faz referência a toda aquela gente, a nvi
traduz corretamente: “Expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os
bois”.
Dinheiro. Vide nota sobre o versículo 14.
Mesas. Na arc, derribou as mesas-, na teb , derrubou suas mesas. Vide nota sobre
Lc 19.23.
16. Casa de meu Pai. Vide nota sobre negócio de meu Pai, Lc 2.49, e compare com
Mt 23.38, passagem em que Jesus fala do templo como sua casa. O povo transfor
mara a casa de Deus na casa deles.
37. Não levanto a questão sobre se a narrativa de João e a dos Sinópticos se referem ao mesmo
evento.
38. Heródoto, i, 26.
68
J oão - C ap . 2
17. Está escrito (γεγραμμένον έστίν). Literalmente, permanece escrito. Essa for
ma da frase, o particípio com o verbo substantivo, é peculiar de João no lugar da
mais comum γεγραπχαι. Para uma construção similar, vide 3.21.
O zelo da tua casa. Zelo para a honra da casa de Deus. Zelo, ζήλος, de ζέω,
entrar em ebulição. Vide nota sobre T g 3.14.
18. Responderam. Com frequência, usado para réplica de uma objeção ou crí
tica, ou para algo presente na mente do outro, como em 19.7 ou 3.3, onde Jesus
responde com referência ao erro que Nicodemos tem em sua mente, em vez de
com réplica direta ao seu discurso.
19. Derribai este templo (λύσαχε xòv ναόν χοΰχον). Destruir, literalmente, li
vrar, na wycliffe , desfazer. Vide nota sobre Mc 13.2; Lc 9.12; At 5.38. Observe
que a palavra para templo é ναόν, santuário (vide nota sobre v. 14). Esse templo
aponta o templo real, que é verdadeiramente um templo só como o é a moradia
de Deus, daí santuário, mas com uma referência típica à própria pessoa de Jesus
como o lugar santo de habitação de Deus, que “estava em Cristo”. Compare com
lCo 3.16-17. Por essa razão, a morte de Cristo foi a derrubada do templo; e sua
ressurreição, a reconstrução dele. O imperativo emfazeres é da natureza de desa
fio. Compare com "enchei vós”, Mt 23.32.
20. Em quarenta e seis anos, foi edificado este templo (χεσσαράκονχα καί έξ
έχεσιν ώκοδομήθη ò ναός ούτος). Literalmente, em quarenta e seis anos este templo
fo i construído. Falavam do templo como se estivesse concluído, embora ele só
tenha sido concluído 36 anos depois.
21. Ele (εκείνος). Vide nota sobre 1.18. O pronome é enfático e marca o contraste
entre o sentido mais profundo de Jesus e o literalismo dos judeus e de seus discípu
los {vide o versículo seguinte). Para outras ilustrações de João apontando o sentido
das palavras de Jesus que não foram entendidas de início, vide 7.39; 12.33; 21.19.
69
João - Cap. 2
22. Ressuscitou (ήγερθη). Na ntlh , mais corretamente, fo i ressuscitado. O mesmo
verbo dos versículos 19 e 20.
Dissera (ελεγεν). Na rv, mais corretamente, ele disse. Os melhores textos omi
tem lhes.
Durante a festa (εν τη εορτή). Na n v i , nafesta. A Festa dos Pães Asmos, du
rante os sete dias seguintes ao da verdadeira Páscoa (vide nota sobre Mc 14. l).
Seu nome. Vide nota sobre 1.12. Compare a expressão creram no seu nome
com creram nele (8.30), que é a expressão mais forte indicando o ato de lançar-se
a si mesmo sobre ele; enquanto crer no nome é mais apropriadamente crer nele
como aquele que afirma ser, nesse caso, o Messias. Isso é crer em reconhecimen
to, em vez de em apropriação. Segundo Meyer: “A fé deles em seu nome (como o
de Messias) ainda não equivale a alguma decisão de sua vida interior por Jesus,
era apenas uma opinião, produzida pela visão de seus milagres, de que Ele era
o Messias”.
Não confiava (ούκ επίστευεν). Na ara , não se confiava-, na teb , não sefiava. Há
um tipo de jogo de palavras com entre esse termo e επίστευσαν, creram, no versí
culo precedente. A ara reproduz isso: “O próprio Jesus não se confiava a eles”. Ele
não confiava sua pessoa a eles. Na tyndale , não se punha nas mãos deles. Conforme
Godet: “Ele não tinha fé na fé deles”.
25. Não necessitava (ού χρείαν είχεν). Literalmente, ele não tinha necessidade.
Ele [[...] sabia (αυτός έγινωσκεν). O pronome é expresso e visa à ênfase, como
na arc: “Ele mesmo sabia”. O imperfeito expressa continuação: Ele estava ciente
o tempo todo conforme os casos sucessivos se apresentavam; ligando-se, assim,
com as palavras seguintes: “O que havia no homem”, ou seja, em cada homem em
particular com quem Ele estava relacionado. Nenhuma característica desse tipo
era atribuída aos deuses do paganismo. Gladstone afirma:
membrodacomunidadedoOlimpotivesseessedom, comoeraditodealguémqueera
maior que eles, ‘Ele conhecia todos os homensenãoprecisavaqueninguémtestificas
sedo homem, pois sabiao que estava no homem39.
C apítulo 3
2. Com Jesus. Os melhores textos substituem por προς αύτόν, para ele.
Rabi. O mestre de Israel (v. 10) dirige-se a Jesus pelo título usado por seus
próprios discípulos a ele mesmo —meu mestre (vide nota sobre 1.38). Milligan e
Moulton dizem “Temos certeza de que um membro da seita que examinou cui
dadosamente as credenciais de João Batista (1.19-24) não se dirigiría claramente
a Jesus por meio desse título de honra nem o reconhecería como mestre”.
Sabemos (οΐδαμεν). Convicção garantida baseada nos milagres feitos por Je
sus (vide nota sobre 2.24).
És mestre. De acordo com a ordem grega, que tu vens de Deus como mestre.
72
João —Cap. 3
3. Respondeu e disse. Vide nota sobre 2.18.
Nascer de novo (yevvr|Gf| ãvcoGev). Vide nota sobre Lc 1.3. Literalmente, de alto
(Mt 27.51). Os expositores dividem-se quanto à tradução de άνωθ€ν, alguns tradu
zem por do alto, e outros, por outra vez ou de novo. A palavra é usada nos seguintes
sentidos no texto do Novo Testamento, em que há treze ocorrências dela:
1. Do alto: Mt 27.51; Mc 15.38; Jo 19.23; Tg 1.17; 3.15,17.
2. De cima: Jo 3.31; 19.11.
3. Desde o princípio: Lc 1.3; At 26.5.
4. De novo: G1 4.9; mas acompanhada de πάλιν, de novo, novamente.
Em favor da tradução do alto, argumenta-se que ela corresponde ao método
habitual de João descrever a obra de regeneração espiritual como um nascimento
de Deus{\.\3-, lJo 3.9; 4.7; 5.1,4,8); e mais, que é Paulo, e não João, quem descreve
isso como um novo nascimento.
Em favor da outra tradução, outra vez, pode-se dizer: (1) que do alto não des
creve o fato, mas a natureza do novo nascimento, o que na ordem lógica seria
afirmado depois do fato, mas que é anunciado antes se traduzirmos por do alto. Se
traduzirmos por outra vez ou de novo, a ordem lógica é preservada, a natureza do
nascimento é descrita no versículo 5; (2) que Nicodemos entendeu claramente a
palavra com o sentido de outra vez, uma vez que, no versículo 4, ele traduziu-a
por tornar, (3) que parece estranho que Nicodemos tenha se surpreendido com a
ideia de um nascimento do céu.
O Cônego Westcott chama a atenção para a forma tradicional do dito na qual
a palavra άναγ^ννάσθαι, que só pode ter o sentido de renascer, é usada como sua
equivalente. Contudo, outra vez não transmite a exata força da palavra, que é
mais propriamente como na arc, de novo ou outra vez. Assim, a tradução deve ser
como a da arc : aquele que não nascer de novo. A frase ocorre somente no Evange
lho de João.
Ver (Lôelv). As coisas do reino de Deus não estão aparentes para a visão nor
mal. É necessário um novo poder de visão, o qual está ligado apenas ao novo
homem. Compare com lCo 2.14.
Entrar. Isso é mais que ver (v. 3). É tornar-se participante, entrar e tomar
posse, como os israelitas fizeram em Canaã.
Da carne (4κ τής σαρκός). Vide nota sobre o versículo 14. João usa a palavra
σάρξ, em geral, para expressar a humanidade sob a condição desta vida (1.14; 1Jo
4.2-3,7; 2Jo 7), às vezes, com um indício mais definido da natureza pecaminosa
e falível da humanidade (lJo 2.16; Jo 8.15). Usa duas vezes em contraposição a
πνεύμα, Espírito (3.6; 6.63).
Onde quer (οπού θελει). Acerca do verbo θέλω, querer ou determinar, vide nota
sobre Mt 1.19. Na k j v , equivale a listeth, antiga palavra inglesa para agradar ou
desejar, derivada da anglo-saxônica lust, com o sentido de prazer. Chaucer usa as
formas arcaicas leste, lust e list para as idéias de prazer ou desejo:
Ela andavapara cima epara baixo como o serviçal cobiça ( sem pre qu e lh e agrada)**.
76
João - Cap. 3
Voz (φωνήν). Na n t l h , barulho. Usa a proclamação articulada e a não articulada,
como nas palavras vindas do céu no batismo de Jesus e na transfiguração (Mt 3.17;
2Pe 1.17-18); de trombeta (Mt 24.31; lCo 14.8) e coisas inanimadas em geral (lCo
14.17). João Batista chama a si mesmo de φωνή, a voz, e a palavra é usada para ven
to, como aqui, em At 2.6. De trovão, com frequência, em Apocalipse (6.1; 14.2 etc.).
Não sabes donde vem (ούκ ονδας). Essa é a melhor tradução, e a nvi esco
lheu uma tradução não tão precisa, mas [você] não pode dizer. Em Memorabilia,
Sócrates diz:
Os instrumentos das deidades você também achará imperceptíveis, pois o raio, por
exemplo, emborasejaevidentequeéenviadodo altoequeseguesuavontadeemtudo
comque entra emcontato, ainda assimnunca é visto nemse aproximando, atacando
ourecuando; os ventos tambémsãoeles mesmos invisíveis, emboraoefeito deles seja
evidentepara nós epercebamos o curso deles45.
Não sabes (ού γινώσκπς). Vide nota sobre 2.24. Nicodemos não é reprovado
por carecer de conhecimento prévio, mas por carecer de percepção ou de entendi-
77
J oão - C ap. 3
mento quando essas verdades são expostas para ele. A tradução da n v i é melhor,
não entende.
Coisas terrestres (τα 4ττίγεα). Composto de 4irí, sobre, e γή, terra. Em Cl 3.2,
o adjetivo aparece em sua forma analisada, τα 4πί τής γης, coisas da terra. E nesse
sentido literal que deve ser entendido aqui; e não coisas de natureza terrena, mas
coisas cujo lugar apropriado é na terra. Não assuntos mundanos, nem coisas pecamino
sas, mas, ao contrário, Westcott diz que:
os fatos e fenômenos da vida mais elevada como uma classe de coisas que tem seu
assento e manifestação na terra; que pertence emsua realização a nossa existência
atual; que sãovistas emsuas consequências, como as questões donascimento; que são
sensíveis emseus efeitos, como aação do vento; que são umprincípio e umaprofecia,
não umcumprimento.
[Coisas^] celestiais (τα 4πουράνια). Composto de4ní, sobre ou no, e ουρανός, céu.
Não coisas santas quando comparadas com as pecaminosas, nem coisas espirituais
quando comparadas com as temporais; mas coisas que estão no céu, os mistérios da
redenção, tendo seu assento na vontade divina, as que foram realizadas no mundo
13. Ora (καί). Observe a partícula conectiva sim ples, com nada que indique a
sequência lógica do pensamento.
79
JoAo - C ap. 3
Desceu. Equivale a tem estado no. Jesus diz que ninguém esteve no céu a não
ser o Filho do Homem que desceu do céu, porque nenhum homem podería ir ao
céu sem ter ascendido a ele.
14. Importa (ôeX). Importa representa a eterna necessidade dos conselhos divi
nos. Compare com Lc 24.26,46; Mt 26.54; Mc 8.31; Jo 12.34.
15. Nele crê (πισκυων elç αυτόν). Os melhores textos trazem a expressão èv αύτω,
construída com vida eterna e traduzida por tenha nele a vida eterna. Como a t e b .
Tenha a vida eterna. Frase característica de João para viver para sempre. Vide
versículos 16,36; 5.24; 6.40,47,54; lJo 3.15; 5.12.
A entrevista com Nicodemos acaba no versículo 15, e as palavras seguintes são
de João. Isso fica evidente a partir dos seguintes fatos: (l) no versículo 16, o tempo
passado de amou e deu ajusta-se melhor do ponto de vista posterior a partir do qual
João escreve, depois da morte vicária de Cristo como um fato histórico realizado,
em vez de a partir da tendência do presente discurso de Jesus antes da plena re
velação dessa obra. (2) Na maneira de João acrescentar comentários explanatórios
seus mesmos (1.16-18; 12.37-41) e de fazer isso de forma abrupta. Vide 1.15-16,
e a respeito do e, 1.16. (3) O versículo 19 segue a mesma linha de pensamento de
1.9-11, no prólogo; e o tom daquele versículo é histórico, carregando o sentido de
rejeição passada, como: amaram as trevas; eram más. (4) A expressão nele o r não é
usada em outras passagens por nosso Senhor, mas por João (1.12; 2.23; lJo 5.13).
(5) A expressão Filho unigênito não é usada em outras passagens por Jesus mesmo,
mas, em todos as ocorrências, pelo próprio evangelista (1.14,18; lJo 4.9). (6) A ex
pressão pratica a verdade (v. 21) ocorre de novo somente em lJo 1.648.
O homem não tem garantia de perdão nem mesmo quando ele oferece sacri
fícios com os quais os deuses se deleitam de forma especial. “Por conseguinte, o
pecado do homem e a punição divina são certezas; o perdão é incerto e depende
do capricho arbitrário dos deuses. A vida humana é uma vida sem a certeza da
graça”51. O Sr. Gladstone observa: “Jamais se descobrirá que alguma deidade
homérica fez sacrifício pessoal em favor de um cliente humano”52.
17. Enviou (άπέστειλεν). Vide n o ta sobre 1.6. Enviar, em vez de dar{v. 16), p o r
que aqui a ideia de sacrifício funde-se nesse com issionam ento autoritativo.
81
J oão - C a p . 3
Trevas (το σκότος). Vide nota sobre 1.5. A arc traz corretamente as trevas.
João emprega essa palavra somente aqui e em lJo 1.6. Seu termo usual é σκοτία
(1 .5 ; 8 .1 2 ; lJo 1.5 etc.), mais comumente descrevendo uma condição de trevas, que
trevas em contraposição com luz.
Mal (φαύλα). Na rv, maldade. O versículo anterior trazia uma palavra distinta
dessa. Originalmente, leve, irrisório, trivial e, por conseguinte, sem valor. Portan
to, o mal considerado sob o aspecto de inutilidade. Vide nota sobre T g 3.16.
Para que as suas obras não sejam reprovadas (ίνα μη έλεγχθη τα epya
αυτού). Mais provavelmente, afim de que suas obras não sejam reprovadas. O termo
έλέγχω, traduzido por reprovadas, tem várias fases de sentido. No grego clássico
21. Pratica a verdade (ποιων την αλήθειαν). A frase ocorre apenas aqui e em
1Jo 1.6. Observe a frase contraposta, fa z o mal (v. 20). Lá o plural é usado: fa z o
mal, mal é representado pelo número de obras ruins. Aqui o singular, a verdade
ou verdade, verdade é considerada única e “inclui em uma unidade suprema todas
as obras boas e corretas”. Também se deve observar nesses dois versículos as pa
lavras distintas usadas para fazer, fa z o mal (πράσσων); pratica a verdade (ποιων).
54. Homero, Odisséia, traduçãoDonaldoShüler, Porto Alegre, L&PM Pocket, 2007, xxi, 424.
55. Heródoto, i, 115.
56. Sófocles, A ntigone, 260.
57. Píndaro, P ítica s, xi, 75.
83
J oão - Cap. 3
O último verbo contempla o objeto e ofim da ação; o primeiro, o meio, com a ideia
de continuidade e repetição. Πράσσων é a prática, enquanto ποιων pode ser ofa
zer de uma vez por todas. Assim, ποιεϊν ειρήνην é firmar paz-, πράσσειν ειρήνην é
negociar paz. Como Demóstenes diz: “Ele fará (πράξει) essas coisas e as concluirá
(ποιήσει)”. No texto do Novo Testamento, a tendência observável é o uso de
ποιεΐν no bom sentido e de πράσσειν no mal sentido. Compare com a palavra
semelhante, πράξις, ação ou trabalho, da qual há seis ocorrências, e quatro dessas
seis ocorrências referem-se às obras más (Mt 16.27; Lc 23.51; At 19.18; Rm
8.13; 12.14; Cl 3.9). Compare essa passagem especialmente com o versículo 29,
no qual, como aqui, os dois verbos são usados com os dois substantivos. Tam
bém Rm 7.15,19. Bengel diz: “O mal não tem descanso; ele é mais ocupado que a
verdade”. Os textos de Rm 1.32 e 2.3 usam os dois verbos para fazer o mal, mas
ainda com uma distinção em que πράσσω é o termo mais abrangente, designando
a busca do mal como o objetivo da atividade.
Vem para. Em contraste com aborrece (v. 20). Seu amor pela luz é demonstrado
por sua busca por ela.
22. A terra da Judeia (την Ίουδαίαν γην). Literalmente, a terra judeia. A frase
ocorre somente aqui no texto do Novo Testamento.
25. Então (ούν). Não uma partícula de tempo, mas de consequência; por isso,
porque Jesus e João batizavam.
26. Ei-lo (ϊδε). Usado por Mateus e Marcos, não por Lucas, mas com muita fre
quência por João.
Batizando - vão ter. O presente seria mais bem traduzido por está batizando,
estão vindo.
Essa minha alegria (αϋτη ή χαρά ή έμή). Uma expressão muito enfática: essa,
a alegria que é minha. A mudança de estilo nos versículos seguintes parece indicar
que as palavras do Batista cessaram nesse ponto e são retomadas e comentadas
pelo evangelista.
31. Aquele que vem (ό Ερχόμενος). O particípio presente. A vinda vista ainda em
processo de manifestação. Compare com 6.33.
Fala da terra. A partir da terra. Suas palavras têm origem terrena. Acerca de
λαλζϊ,/αΐα, vide nota sobre Mt 28.18.
32. Aceita (λαμβάνει). João usa apenas uma vez δέχομαι para aceitar, a respeito
dos galileus aceitarem a Cristo (4.45). A distinção entre os dois não é preservada
de forma contundente, mas δέχομαι, em geral, acrescenta a ideia de pegar, de
saudar. Por isso, Demóstenes diz que os anciãos de Tebas não receberam as boas-
86
J oão - Cap. 3
vindas (Ιδεζαντο), ou seja, não receberam com prazer o dinheiro que lhes foi
oferecido nem o pegaram (ελαβον). Λαμβάνει também inclui a retenção do que é
pego. Daí receber a Cristo (1.12; 5.43; 13.20). A expressão aceita o seu testemunho
é peculiar a João (v. 11; 5.34; lJo 5.9).
34. As palavras (τα ρήματα). Não palavras nem palavras individuais, mas as pala
vras - a mensagem completa de Deus. Vide nota sobre Lc 1.37.
86. Aquele que não crê (ό άπβ-θών). Na t e b , se recusa a crer. A forma mais
correta é a da ntlh , desobedece. A descrença é vista em sua manifestação ativa,
a desobediência. O verbo πείθω quer dizer persuadir, provocar crença, induzir a
fazer algo para persuadir, e, assim, atinge o sentido de obedecer, apropriadamente
como resultado de persuasão. Vide nota sobre At 5.29. Compare com lPe 4.17;
Rm 2.8; 11.30-31. Contudo, obediência inclui fé. Compare com Rm 1.5, obedi
ência da fé.
Não verá (ούκ δψετοα). Compare o tempo futuro com o presente “tem a vida
eterna”, e o termo simples, vida, com o pleno desenvolvimento da ideia de vida
eterna. Aquele que crê está no círculo da vida de Deus, eterna em essência. Sua
vida “está escondida com Cristo em Deus”. A vida eterna é conhecer o único e
verdadeiro Deus e Jesus Cristo, que Ele enviou. Por isso, essa vida eterna não é
apenas futura, é uma posse atual. Ele a tem. O descrente e desobediente, em vez de
ter vida eterna, não tem vida, nem mesmo a vê(cp. vero Reino de Deus, 3.3). Ele
não tem percepção da vida considerada e muito menos da vida eterna, o desenvol
vimento pleno e complexo da vida.
A ira de Deus (όργή του Θεού). Tanto οργή quanto θυμός são usados no
texto do Novo Testamento para ira ou raiva e sem nenhuma distinção comu-
mente observada. O termo όργή denota um sentimento mais profundo e mais
permanente, um hábito de mente estabelecido; enquanto θυμός é uma agitação
mais turbulenta, mas temporária. As duas palavras são usadas na expressão ira
de Deus, o que, em geral, denota uma manifestação distinta do julgamento de
Deus (Rm 1.18. 3.5; 9.22; 12.19). Όργή (não θυμός) também aparece na expres
são a irafutura e suas variantes (Mt 3.7; Lc 3.7; lTs 2.16 etc.). Compare com
ira do Cordeiro (Ap 6.16).
Permanece (μενει). O tempo presente. Enquanto o crente tem vida, a ira perma
nece sobre o descrente. Ele vive continuamente em uma economia alienada de Deus
e que, em si mesma, é habitualmente objeto do desprazer e indignação de Deus.
C apítulo 4
1. E. Volta à passagem 3.22 e à controvérsia que surge a respeito dos dois batismos.
Fariseus. João nunca se refere aos saduceus pelo nome. Os fariseus represen
tavam a oposição a Jesus, a mais poderosa e perigosa das seitas judaicas.
4. Era £...]] necessário. Por esse ser o caminho natural de Jerusalém para a Ga-
lileia. Possivelmente, com a sugestão da necessidade de proceder da vontade do
Pai. João não apresenta isso como uma missão empreendida pelos samaritanos.
Jesus observava a lei que impunha a seus discípulos (Mt 10.5).
5. Pois (οΰν). Não uma partícula de tempo, mas a ligação lógica. Por essa razão,
indo por esse caminho, Ele deve precisar etc.
Pois. Exatamente como Ele estava ou, como alguns explicam, estando, pois,
cansado do caminho.
91
J oão - C ap. 4
7. Uma mulher. Considerada como alguém que não merecia muito estima pelos
mestres populares; uma samaritana, por conseguinte, desprezada pelos judeus;
pobre, pois, nos tempos mais antigos, tirar água do poço não era algo realizado
pelas mulheres de posição social (Gn 24.15; 29.9).
Não se comunicam (ού συγχρώνται). Não tem relação familiar nem de ami
zade. Que eles tinham algum tipo de comunicação é demonstrado pelo fato de os
discípulos irem à cidade para comprar provisão. Algumas autoridades omitem
porque osjudeus não se comunicam com os samaritanos. Os judeus tratavam os sama-
ritanos com todo tipo de desdém e os acusavam de falsidade, tolice e descrença.
Os samaritanos tinham vendido os judeus como escravos quando os tiveram em
seu poder e acendido sinais espúrios para que os fachos de fogo brilhassem e
servissem para anunciar o início dos meses, além de eles assaltarem e matarem
os peregrinos na estrada para Jerusalém.
Água viva (ϋδωρ ζών). Fresca, perene. Imagem familiar para os judeus. Vide
Jr 2.13; 17.13; Zc 14.8. Não é necessariamente a mesma coisa que água da vida
(ύδωρ ζωής; Ap 21.6; 22.1,17).
11. Com que a tirar (αντλημα). Esse substantivo grego quer dizer o que ê tirado,
o ato de tirar e a coisa com que se tira. Aqui, o balde —de pele e com três varetas
cruzadas na boca para mantê-lo aberto - é baixado por meio de uma corda feita
de pêlo de cabra. Não deve ser confundido com o cântaro (υδρία) do versículo 28.
A palavra é encontrada somente aqui no texto do Novo Testamento.
Poço (φρέαρ). Vide nota sobre o versículo 6. Talvez o poço fosse alimentado
por nascente (πήγα!) viva.
13. Qualquer que beber (πας ò πίυων). Literalmente, todo o que bebe. Como na tb .
14. Aquele que beber (δς δ ’ αυ πίτ)). A nvi trad u z as duas e x p r e ssõ e s da
m esm a m an eira, m as há um a d iferen ça n o s p ro n o m es indicada, em bora m u ito
93
JoAo - Cap. 4
vagamente, pelo qualquer que e aquele que, além de uma diferença mais evi
dente no verbo beber. No primeiro caso, o artigo com o particípio indica algo
habitual·, todos que bebem continuamente, como os homens, em geral, fazem
de acordo com sua sede. No versículo 14, o tempo aoristo definitivo expres
sa um ato único —algo feito uma vez por todas. Literalmente, ele que pode ter
bebido.
Nunca terá sede (ού μή διψήσει c-ίς τον αιώνα). A dupla negação, ού μή,
é uma declaração muito forte equivalente a de maneira alguma ou de modo ne
nhum. Contudo, não deve ser entendido que a recepção da vida divina pelo
cristão acabe com todo desejo futuro. Ao contrário, ela gera novos desejos. O
ato de beber da água viva é apresentado como um ato único a fim de indicar o
princípio divino de vida como contendo só em si mesmo a satisfação de todo san
to desejo conforme eles surgem sucessivamente; em contraposição às fontes
humanas, que logo se exaurem e levam o indivíduo a procurar outras fontes. O
desejo santo, independentemente de quão grande ou variado ele seja, sempre
busca e encontra sua satisfação em Cristo, e só em Cristo. A sede deve ser en
tendida no mesmo sentido nas duas frases, referindo-se ao desejo natural que
o mundo não pode satisfazer e que, por isso, está sempre vivo. Drusius, crítico
flamengo citado por Trench, diz: “Quem bebe a água da sabedoria tem desejo,
e não tem sede. Ele tem desejo, ou seja, ele deseja cada vez mais o que bebe. Ele
não tem sede porque está tão repleto que não deseja outra bebida”60. O forte
contraste dessa declaração de nosso Senhor com o sentimento pagão é ilustra
do pela seguinte passagem de Platão:
Sócrates·. Deixe-me pedir-lhe para considerar até que ponto você aceitaria isso como
uma explicação das duas vidas, a moderada e a imoderada: existem dois homens, am
bos tinham uma quantidade de barris; um dos homens tem seus barris seguros e
cheios, um cheio de vinho, outro de mel, um terceiro de leite, além de outros cheios
com outros líquidos, e as fontes que os enchem são poucas e reduzidas, e o homem só
as consegue com uma boa dose de labuta e dificuldade; mas quando seus barris são
enchidos uma vez, ele não precisa enchê-los mais e não tem mais problema com eles
nem tem de se preocupar mais com eles. O outro homem também consegue fontes,
embora não sem dificuldade, mas seus barris estão furados e não são seguros, e ele é
obrigado a enchê-los dia e noite sem parar, e ele, se parar um pouco, agoniza de dor.
Essa é a respectiva vida deles; e, agora, você diria que a vida do imoderado é mais feliz
que a do moderado? Não o convencí de que o contrário é verdade?
Cálicles. Você não me convenceu, Sócrates, pois o primeiro homem que se completou
não tem mais nenhum prazer; e essa vida, como acabo de dizer, é a de uma pedra; ele
não tem alegria nem tristeza depois de estar repleto de uma vez por todas; mas a vida
de prazer está no derramamento da fonte.
Sócrates·. E se a fonte estiver sempre jorrando não deve haver um riacho sempre cor
rendo e buracos grandes o bastante para acolher a descarga?
Cálicles. Com certeza que sim.
Sócrates. Então, a vida de que você fala agora não é a de um homem morto nem de uma
pedra, mas de um glutão; você quer dizer que ele tem de estar com fome e comendo?
Cálicles Sim, é isso mesmo que quero dizer.
Sócrates E ele tem de estar com sede e bebendo?
Cálicles Sim, é isso que quero dizer, ele tem de ter todos seus desejos em relação a si
mesmo e poder viver alegremente na gratificação deles01.
Nele. Suprimento que tem sua principal fonte no próprio ser do homem, e não
em algo exterior a ele.
O filósofo imperial de Roma proferiu uma grande verdade, mas imperfeita; viu muito, mas
não viu tudo; não viu que essa fonte de água deve ser alimentada, e alimentada ainda mais
pelas ‘fontes superiores’ se for para realmente não falhar no presente, ao escrever: O lhe no
interior; no interior está a fonte do bem e sempre pode jorrar se sempre estiver cavando’62.
Para a vida eterna. Cristo no cristão é vida. Essa vida sempre tende em dire
ção a sua fonte divina e jorra na vida eterna.
15. Venha aqui (φχωμοα ένθάδί). Os melhores textos trazem a leitura διέρχωμαι,
com a preposição δ tá tendo a força de por meio da intervenção direta.
17. Bem (καλώς). Apropriadamente, corretamente. Compare com 8.48; Mt 15.7; Lc 20.39.
95
JoAo - Cap. 4
19. Vejo (θεωρώ). Vide nota sobre 1.18. Não a percepção imediata, mas, antes,
percebo ao observá-lo mais longamente e com mais atenção.
20. Nossos pais. Provavelmente, referindo-se aos ancestrais dos samaritanos tão
antigos quanto a construção do templo no monte Gerizim na época de Neemias.
Esse templo foi destruído por João Hircano, em 129 a.C., mas o lugar permaneceu
santo e, até hoje, todos os anos, os samaritanos celebram lá sua festa de Páscoa. Ob
serve a vivida descrição do Deão Stanley, que esteve presente nessa celebração63.
Neste monte. Gerizim, aos pés do qual está o poço. Aqui, de acordo com a tradi
ção samaritana, Abraão sacrificou Isaque e encontrou-se com Melquisedeque. Por
alguma convulsão da natureza, a principal cadeia de montanhas correndo de norte
a sul tem uma fissura aberta em toda sua extensão, em sua base em ângulos exatos,
e uma profunda fissura que forma o vale de Nablus, quando ele aparece subindo a
planície de El Mukuwhna de Jerusalém. O vale fica, no mínimo, a 548 metros acima
do nível do mar, e as montanhas em cada lado do vale elevam-se até cerca de mais
305 metros de altura. O monte Ebal fica no norte; o Gerizim, no sul; e a cidade,
entre os dois. Perto da ponta oriental, o vale não tem mais que 301 metros de lar
gura; e, suponho, que as tribos se reuniam lá para ouvir as “bênçãos e maldições”
lidas pelos levitas (Dt 27-28). O panorama visto do topo do Gerizim talvez seja o
mais extenso e impressionante de toda a Palestina. O pico é um pequeno platô. No
meio da extremidade sul fica uma rocha inclinada, que os samaritanos dizem ser
o lugar do altar do templo deles, e eles tiram os sapatos ao se aproximar dela. No
limite leste do platô, uma pequena cavidade na rocha é mostrada como o lugar em
que Abraão ofereceu Isaque. O monte Ebal fica a 938 metros acima do nível do mar
e é mais de setenta metros mais alto que o Gerizim64·.
21. A hora vem (ερχεται ώρα). Mais propriamente, uma hora. Não tem artigo.
Está chegando, está até agora a caminho.
Adoreis (προσκυνήσετε). Vide nota sobre At 10.25. A palavra foi usada de for
ma indefinida no versículo 20. Aqui é usada com o Pai, definindo, assim, a ver
dadeira adoração.
96
J oão —C ap. 4
O Pai. Esse uso absoluto do título o Pai é característico de João. Ele fala de
Deus como o Pai e meu Pai, a primeira forma é a mais comum. A respeito da dis
tinção entre os dois, o Cônego Westcott observa: “Geralmente, pode-se dizer que
o primeiro título expressa a relação original de Deus com o ser e, sobretudo, com
a humanidade, em virtude da criação do homem à imagem divina; e o último tí
tulo fala mais particularmente da relação do Pai com o Filho encarnado e, assim,
indiretamente com o homem em virtude da encarnação. O primeiro sugere os
pensamentos que nascem da avaliação da absoluta ligação moral do homem com
Deus; a última dos pensamentos que nascem do que nos é revelado por meio da
revelação, da ligação do Filho encarnado com Deus e com o homem”. Vide 6.45;
10.30; 20.21; 8.18-19; 14.6-10; 15.8. João nunca usa nosso Pai, usa só uma vez seu
Pai (20.17) e nunca Pai sem o artigo, exceto quando se dirige a Ele.
traduz corretamente o que não conheceis. Compare com At 17.23, em que a leitura
correta é 8, que, em vez de ou, quem: “Esse, pois, que vós honrais não o conhecen
do”. Essa adoração do desconhecido é comum à ignorância comum e à cultura
filosófica; para a mulher samaritana e para os filósofos atenienses. Compare com
7.28; 8.19,27. O neutro expressa o caráter irreal e impessoal da adoração sama
ritana. Como os samaritanos só receberam o Pentateuco, eles ignoravam a reve
lação posterior e mais abrangente de Deus, conforme contida especialmente nos
escritos dos profetas, e da esperança messiânica, conforme desenvolvida entre os
judeus. Eles só preservaram a noção abstrata de Deus.
Vem dos judeus. A a r c traduz corretamente: vem dos judeus (έκ). Por isso,
não pertence a, mas procede de. Vide Gn 12; Is 2.3; Mq 4.2. Até mesmo a idéia de
salvação do Antigo Testamento está presa a Cristo. Vide Rm 9.4-5. A salvação é
97
JoÂo —Cap. 4
dosjudeus até mesmo daqueles que a rejeitaram. Vide nota sobre 1.19. Acerca do
característico vem de, vide nota sobre 1.46. A passagem ilustra o hábito de João de
confirmar a autoridade divina da revelação do Antigo Testamento e de mostrar
seu cumprimento em Cristo.
23. E agora é. Isso não podería ser acrescentado no versículo 21, porque a ado
ração local não fora ainda abolida, mas era verdade em relação à verdadeira ado
ração do Pai por seus verdadeiros adoradores, pois Jesus já estava rodeado por
um pequeno bando deles, e logo seriam acrescentados mais ao grupo (vv. 39-42).
Bengel diz que as palavras e agora ê foram adicionadas para que a mulher não
pensasse que devia procurar moradia na Judeia.
25. Messias £...)] vem. A mulher usa o nome judaico, bem conhecido em Sama
ria. Os samaritanos também esperavam o Messias, baseando sua esperança em
textos das Escrituras como Gn 3.15; 49.10; Nm 24.17; Dt 18.15. Eles procura-
vam-no para restaurar o reino de Israel e restabelecer a adoração no Gerizim,
onde eles supunham que o tabernáculo estava escondido. Eles chamavam-no de
hushab ou hathab, cujo sentido é o conversor ou, de acordo com alguns, o que retor
nará. A noção samaritana do Messias era menos mundial e política que a judaica.
Que se chama o Cristo. Frase acrescentada pelo evangelista. Compare com 1.41.
Ele vier (εκείνος). Enfático, aponta para o Messias em contraposição com to
dos os outros mestres.
Com Nicodemos, Ele começou a partir da ideia que ocupava todo coração fariseu em
relação ao reino de Deus e, a partir dessas, deduzia as consequências práticas mais
rigorosas. Ele sabia o que tinha de fazer com um homem acostumado à disciplina da
lei. A seguir, Ele revelou a Nicodemos as verdades mais elevadas do reino do céu,
ligando-as ao tipo impressionante do Antigo Testamento e contrastando-as com as
características correspondentes do programa farisaico. Aqui, ao contrário, com a mu
lher destituída de todo treinamento escriturai, Ele pega seu ponto de partida da coisa
mais comum imaginável: a água do poço. D e repente, ele, por meio de uma antítese ar
rojada, exalta a água à ideia dessa vida eterna que mata para sempre a sede do coração
humano. Assim, a aspiração espiritual despertada nela torna-se a profecia interior à
qual Ele liga suas novas revelações e, por isso, alcança o ensinamento sobre a verda
deira adoração que corresponde tanto diretamente à predisposição peculiar da mulher
quanto à revelação das coisas celestiais correspondiam aos pensamentos mais íntimos
de Nicodemos. Diante do último, Ele revela-se como o Filho unigênito, mas faz isso
enquanto evita o título de “Cristo". Com a mulher, Ele usa claramente esse termo, mas
não sonha em iniciar, nos mistérios da encarnação e da redenção, uma alma que ainda
está nos primórdios da vida e do conhecimento religiosos65.
vam que estava abaixo da dignidade do homem conversar com mulheres. Essa
era uma das seis coisas que um rabi não devia fazer. “Que ninguém”, está escrito,
“converse com uma mulher na rua, nem mesmo com a própria esposa.” Esses
escritos também sustentavam que a mulher era incapaz de instrução religiosa
profunda. “Antes queimar os ditos da lei que os ensinar às mulheres.”
29. Tudo. A percepção de Jesus naquele caso convenceu-a de que Ele sabia tudo
e, para a consciência despertada dela, parecia que Ele contara tudo.
Não é este o Cristo (μήτι àm v)? Mais propriamente, como na rv, pode este
ser. Na t b , Será este, porventura-, na b j e t e b , Não seria ele. A partícula sugere uma
resposta negativa. Com certeza, esse não pode ser, contudo há nessa expressão al
guma esperança.
Saíram - foram te r com ele (έξήλθον - ηρχοντο προς αυτόν). Saíram é o tem
po aoristo, denotando sair da cidade como um ato único em um ponto do tempo.
Foram, quer dizer iam, é o tempo imperfeito, denotando ação em progresso. A
observância da distinção torna a narrativa mais vivida. Eles estavam vindo. Para
poderia ser na direção de (προς). O tempo imperfeito também é exigido pelas se
guintes palavras: “No meio tempo” (enquanto a mulher ainda estava ausente e
os samaritanos estavam indo em direção a Ele), “os discípulos estavam rogando’ que
Ele comesse. Esse último tempo imperfeito é negligenciado pela r v .
32. Comida (βρώσιν). Originalmente, o ato de comer (Cl 2.16), mas, com frequência,
em relação ao que é comido. Encontra-se um paralelo na frase comum: uma coisa é
boa ou ruim para comer. Paulo sempre usa a palavra em seu sentido original.
Não conheceis (ούκ οΐδατε). Ou seja, vocês não conhecem sua virtude. Na k jv ,
inadequadamente, de que não sabeis.
Fazer (ινα ποιώ). Literalmente, afim de que eufaça. Enfatizando ofim, e não o
processo. Com frequência, é usada com esse sentido em João. Vide nota sobre 3.19.
Realizar (τελειώσω). Melhor, como na tb, completar, na nvi, concluir. Não meramen
te levar a um fim, mas aperfeiçoar. De τέλειοζ,perfeito. O verbo é característico de João
e da epístola aos Hebreus. Vide versículo 36; 17.4; 19.28; lJo 2.5; 4.12; Hb 2.10; 5.9 etc.
35. Não dizeis vós. No que é apresentado a seguir, Jesus contrasta o tempo natu
ral da colheita com a colheita espiritual, a qual devia acontecer imediatamente na
reunião dos samaritanos. O vós é enfático, marcando o que os discípulos esperam
de acordo com a ordem da natureza. Enquanto olham para esses campos verdes
entre o Ebal e Gerizim, vós dizeis, ainda faltam quatro meses para a colheita.
Para a vida eterna. Isso é explicado como aquele que nãoperece, masperseverapara
a vida eterna ou na vida eterna, como em um celeiro. Compare com o versículo 14.
Ambos (όμοΟ). A construção é peculiar: que ambos, o que semeia possa se regozijar
junto com o que colhe. Ambos não quer dizer em comum, mas simultaneamente. A co
lheita segue tão rapidamente a disseminação do evangelho entre os samaritanos,
a ponto de o que semeia e o que colhe se regozijarem juntos.
37. Nisso (εν τούτω). Literalmente. Nessa relação entre o que semeia e o que colhe.
38. Eu £...J enviei (έγώ άπέστ^ιλα). Esse eu é enfático. O tempo aoristo aponta a
missão dos discípulos como envolvida no chamado original deles.
Outros. Jesus mesmo e todos os que tinham preparado o caminho para Ele,
como João Batista.
39. Pela palavra (tòv λόγον). Melhor tradução que a da kjv, dito. Na n v i , teste
munho. Não se refere apenas à declaração da mulher: Disse-me etc., mas também
a todo o testemunho (μαρτυρούσης) dela concernente a Cristo.
41. Muitos mais (πολλώ πλείους). Literalmente, mais por meio de muitos, ou seja,
muitos mais, com referência ao simples πολλοί, muitos, do versículo 39.
42. Diziam (’έλεγον). O tempo imperfeito: diziam para a mulher à medida que
sucessivamente a encontravam.
O Salvador (ό σωτήρ). João só usa a palavra aqui e em lJo 4.14. Vide nota so
bre Jesus, Mt 1.21. É relevante que essa concepção de Cristo tenha sido expressa
pela primeira vez por um samaritano.
103
J oão - C ap. 4
44. Porque - na sua própria pátria (γάρ - ev τή ίδια πατρίδι.). Porque desig
na o motivo por que Jesus foi à Galileia. Parece que com a expressão sua pró
pria pátria pretende-se dizer a Judeia, embora quase a mesma frase, seu p a íf6,
seja usada pelos três Sinópticos para referir-se à Nazaré, na Galileia. Contudo,
o Evangelho de João lida com o ministério de Jesus na Judeia, em vez de na
Galileia, e a expressão na sua própria pátria é apropriada para a Judeia, como
“o verdadeiro lar e terra natal dos profetas, a terra em que ficava a cidade de
nascimento do Messias, a cidade associada com ele tanto na antiga profecia
como na expectativa popular”. Por essa razão, em Jerusalém, o povo disse: “Não
diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e de Belém, da aldeia
de onde era Davi” (7.42)? Os versículos 1-3 afirmam que Jesus deixou a Judeia
por causa de uma controvérsia incitada pelos fariseus, os quais João sempre
aponta como os líderes da oposição a Jesus. Além disso, somos informados de
que em Jerusalém, embora muitos cressem no nome dele, Jesus, ainda assim,
não confiava neles (2.23-24). De acordo com essa explicação, o termo γάρ, por
que, é usado em seu sentido natural e mais óbvio, determinando o motivo da
partida de Jesus para a Galileia. Naturalmente, o provérbio é sugerido pela
referência à Galileia, onde Jesus usou-o em Nazaré (vide M t 13.57). O termo
o t e οΰν, quando, pois (cp. n t i a ; pois indicando sequência lógica, e não tempo),
do versículo 45, segue naturalmente a citação do provérbio, representando a
correspondência entre o caráter da recepção dele na Galileia e o motivo de sua
ida para lá. Por fim, se entendermos por sua própria pátria, Nazaré, somos com
pelidos a explicar ο γάρ, porque, a partir do versículo 46; Jesus foi para Caná (a
norte de Nazaré) sem atravessar sua terra natal, pelo motivo mencionado. Isso
parece forçado e arbitrário67.
Caná (την Κανά). Observe o artigo a Caná, e vide nota sobre 2.1. O artigo
define a Caná previamente mencionada.
66. Em M t 13.57, Tischendorf lê como aqui, kv τη ιδία πατρίδι, em seu pró p rio país. W estcott e
Hort, 4v τη πατρίδι αύτοΰ.
67. Fornecí o que parece ser, no todo, a explicação mais simples e natural, embora contrarie uma
multidão de altas autoridades. As várias interpretações formam um emaranhamento descon
certante. Todas elas estão abertas à objeção. Uma das discussões mais claras e simples da
passagem é encontrada em Schaff, P o pu lar C om m entary on the G ospel o f John, editada pelos Pro
fessores Milligan e Moulton, em que essa explicação é adotada, embora o Professor Schaff (em
L a n g e ’s Com m entary ) a chame de “absurda”. Essa também é a percepção do Cônego Westcott.
Outras explicações são: Galileia em geral; Nazaré; Baixa Galileia, em que Nazaré estava situa
da, como distinta da Alta Galileia, em que ficava Cafarnaum.
104
J oão - C ap. 4
47. Foi ter (άπήλθεν). Literalmente, afastou-se (άπό). Deixou o filho sozinho por
um tempo.
48. Lhe disse: Se não virdes. Dirigindo-se ao oficial do rei (lhe), mas tendo em
mente a população da Galileia, a qual ele representa (vós).
Sinais e milagres (σημεία καί τέρατα). Vide nota sobre Mt 24.24. Σημεία,
sinais, e έργα, obras, são palavras características de João para milagres. Vide ver
sículo 20; 7.21; 14.10; 2.23; 6.2 etc.
£Vós(] não (ού μη). A dupla negativa é corretamente apresentada pela ara,
50. Foi-se (επορεύετο). Porém, assim perde-se a força do tempo imperfeito, que
se harmoniza com a sentença seguinte: ele estava prosseguindo em seu caminho, e
conforme agora estava descendo etc.
51. Servos (δούλοι). É apropriado o uso de serviçal ou servos. Vide nota sobre
Mt 20.26; Mc 9.35, respectivamente.
Teu filho vive (ò υ'ιός σοΰ ζη). Os melhores textos, no entanto, trazem αυτού,
seu. Como na n t l h , seufilho está vivo. Cristo usa υιός, filho, em vez de ιταιδίον,
menino ( n v i ), expressando o valor da criança como representante da família. Vide
nota sobre 1.12.
105
JoAo - Cap. 5
52. Pois (οΰν). Não uma partícula de tempo, mas de sequência. Na n v i, quando
perguntou.
A que hora se achara m elhor (κομψότεροι» έσχεν). Frase peculiar que ocor
re somente aqui no texto do Novo Testamento. Literalmente, tinha melhorado.
Κομψότεροι» deriva de κομψός, bem vestido, bem cuidado, elegante-, e essa palavra
deriva de κομεω, cuidar de. A ideia da frase é transmitida na expressão familiar:
ele está indo bem, ou lindamente, ou ainda bravamente. Os comentaristas citam um
paralelo a partir de Arriano: “Quando o médico entra, você não deve ter medo
do que ele dirá; nem se ele disser: ‘Está se comportando bravamente’ (κόμψως
εχεις), você deve dar vazão a muito alegria”.
Às sete horas (ώραν έβδόμηι»). O caso acusativo não denota um ponto no tem
po, mas a duração: durante a sétima hora.
Febre (πυρετός). Derivado de πυρ, fogo. Como a palavra latina febris, que está
para ferbris, de ferveo, arder ou brilhar por causa do calor.
54. Este segundo milagre etc. Literalmente, Jesusfe z isso de novo como um se
gundo sinal. O pleonasmo em “de novo £../] segundo’ é apenas aparente. Outros
milagres, na verdade, foram realizados entre esses dois; mas João enfatiza esses
dois como marcando a vinda de Jesus da Judeia para a Galileia. A cura do filho do
oficial do rei foi o segundo milagre, apenas no que diz respeito a acontecer quando
Jesus se retirou da Judeia para a Galileia. Daí o segundo, de novo. Ele realizou mais
um milagre quando foi de novo para a Galileia, e esse milagre foi o segundo, como
marcando a segunda vinda dele.
C apítulo 5
5. E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
Literalmente, tendo uma enfermidade de trinta e oito anos.
6. Havia muito tempo (πολύν ήδη χρόνον έχει). Literalmente, elejá estava havia
muito tempo.
Queres (θέλεις). Não apenas você quer, mas você está determinado? Vide nota sobre
Mt 1.19. Jesus recorre à energia de sua vontade. Não é improvável que ele tivesse
caído em apatia por causa de sua longa enfermidade. Compare com At 3.4; Jo 7.17.
68. Vide Thomson, The h a n d and the Book: Southern Palestine and Jerusalem, p. 458-461.
107
J oão —Cap. 5
8. Cama (κράββατον). Usado por Marcos e Lucas. Vide nota sobre Mc 2.4, e com
pare com At 5.15; 9.33.
Levar (αροα). A t e b traduz com mais correção por carregar. E a própria pala
vra de Jesus do versículo 8.
Quem é o homem etc. “Observe a astúcia maliciosa. Eles não dizem: ‘Quem é
aquele que o curou?’, mas: ‘Quem disse para pegar tua cama?’”69
13. E o que fora curado (LaOelç). Compare com o versículo 10, e observe a pa
lavra diferente para cura. Vide referências ali.
14. Encontrou - disse. Observe a dinâmica troca dos tempos, como no versículo 13.
Não peques mais (μηκέτι άμάρταν^). Não continue a pecar. Vide nota sobre
Mt 1.21. Assim, Jesus mostra seu conhecimento de que a doença é resultado do
pecado.
Alguma coisa pior. Pior até mesmo que trinta e oito anos de sofrimento.
15. Anunciou (άνήγγειλεν). Vide nota sobre 4.25. Contudo, os m elhores textos
trazem εΐπεν, disse.
Se o não vir. Referindo-se a não podefazer coisa alguma, não por si mesmo. Jesus,
sendo um com Deus, não pode fazer à parte dele.
Ele lhe mostrará maiores obras. Quando Jesus faz o que vê o Pai fazer (v.
o mostrar obras maiores é o sinal para Jesus fazê-las. Acerca de obras, como
19),
palavra característica de João, vide nota sobre 4.47.
110
J oão - Cap. 5
Para que vos maravilheis. O vos é enfático (òpelç), e é dirigido àqueles que
questionavam sua autoridade, cujo espanto, por essa razão, seria de perplexida
de, mais do que de fé admirada, mas que pode levar à fé. Platão diz: “Espanto é
o sentimento do filósofo, e filosofia começa com espanto”72; e Clemente da Ale
xandria, citado por Westcott: “Aquele que se maravilha devia reinar, e aquele que
reina devia descansar”. Compare com At 4.13.
2 2 . Também o Pai (oòôè γάρ ò πατήρ). A a r c e a k j v (que traz: pois o Pai) não
captam o ponto alto em oüôè: nem mesmo o Pai, que seria esperado que fosse o juiz.
111
J oão —C ap. 5
Deu (εδωκεν). Esse é o sentido mais estrito, o tempo aoristo aponta para o
passado eterno.
29. Fizeram o bem - fizeram o mal. Observe mais uma vez o uso de verbos
diferentes para fazer com beme mal. Vide nota sobre 3.21. Acerca da palavra para
mal (φαύλα), vide nota sobre 3.20.
34. Eu, porém (εγώ δε). O eu é enfático em contraste com o vós (v. 33).
112
J oão - C ap . 5
Vos salveis. O vos (ύμεις) marca-os como aqueles que podem ser influenciados
pelo testemunho humano e inferior, embora não tenham apreendido o testemu
nho divino.
36. Maior testemunho (την μαρτυρίαν μείζω). O artigo, omitido na arc, tem a
força de meu, como no versículo 34. Na tb, o testemunho que eu tenho, é maior.
37. Ele mesmo (αύτός). Os melhores textos substituem por 4κά.νος, ele, tradu
zindo: “O Pai que me enviou, ele prestou testemunho”. Como na rv. Na teb , O
Pai, que me enviou, deu elepróprio testemunho.
38. Sua palavra. Enfático, começando a sentença. Compare com 17.6ss.;lJo 1.10;
2.14.
39. Examinais (èpeuuâtc). A arc traz corretamente \^vó.<Q estudam. Jesus recor
re a uma prática familiar na qual porque vós cuidais ter nelas é explicativo. Vide
lPe 1.11; Rm 8.27; lCo 2.10; Ap 2.23.
40. E. Mais que uma simples partícula de ligação. Antes, e ainda. Vide nota sobre
Lc 18.7.
Não quereis (ού GéÃexe). Indicando determinação obstinada. Vide nota sobre
Mt 1.19.
41. Eu não recebo glória dos homens. A ordem grega é: glória dos homens
eu não recebo. Compare com o versículo 34. Sua glória consiste em sua comu
nhão amorosa com Deus. Os homens que não amam a Deus não têm simpatia
por ele.
O amor de Deus. Amor por Deus. Esse era o resumo da própria lei deles. A
única outra passagem do Evangelho em que a expressão ocorre é Lc 11.42.
44. Vós crer. Mais uma vez, o vós é enfático, a oração seguinte fornece o motivo
para a ênfase.
Não buscando a honra que vem só de Deus (και την δόξαν την παρά του
μόνου Θεού ού ζητείτε). A rv apresenta a frase de forma excelente, seguindo a
ordem grega: e a glória que vem do Deus único vós não buscais. Não só de Deus, o
que omite totalmente a força do artigo definido, mas do Deus único. Compare com
lTm 6 .1 5 -1 6 ; Jo 17.3; Rm 1 6 .2 7 .
Em quem vós esperais (είς ôv ύμεις ήλπίκατε). Uma expressão forte. Lite
ralmente, em que vós tendes esperado. A nvi traduz admiravelmente por em quem
estão as suas esperanças.
é descrito como έπιστάμενος γράμματα, familiarizado com as letras. Uma vez que
o termo é usado coletivamente para as sagradas letras - as Escrituras (2Tm 3.15),
como também para a própria Escritura. Entre os gregos alexandrinos, o termo
não está confinado à instrução elementar, mas inclui exposição, baseada, todavia, em
estudo crítico do texto. A tendência dessa exegese, com frequência, era em direção
à interpretação mística e alegórica, degenerando em uma ingenuidade trivial de
fixar sentidos novos e secretos em formas antigas e familiares. Isso foi ilustrado
pelas exposições neoplatônicas de Homero e pela exegese rabínica. Homens não
familiarizados com esses estudos, sobretudo se eles apareciam como professores
públicos, seriam considerados ignorantes pelos judeus da época de Cristo e dos
apóstolos. Daí a pergunta a respeito de nosso Senhor mesmo: “Como sabe este
letras” (γράμματα, Jo 7.15)? Também o comentário sobre Pedro e João (At 4.13)
de que eram indoutos (αγράμματοι). Como também aqueles que descobriam nas
Escrituras do Antigo Testamento referências a Cristo seriam estigmatizados pelos
pagãos como seguidores do método engenhoso e fantasioso dos intérpretes judeus,
que eles desprezavam. Talvez alguns desses sentimentos tenham provocado as
palavras de Festo para Paulo: As muitas letras (πολλά γράμματα) tefazem delirar (At
26.24). E conhecido o cuidado minucioso com que a transcrição literal dos escritos
sagrados foi guardada. Os escribas (γραμματείς) eram responsáveis pela produção
de cópias de acordo com a letra (κατά το γράμμα).
Uma única passagem de 2 Timóteo não pode ser determinante em favor do
uso geral do termo para as Escrituras, sobretudo uma vez que os melhores textos
rejeitam o artigo antes de ιερά γράμματα, de forma que o sentido, aparentemen
te, é mais genérico: “Sabes as sagradas letras”. A fórmula familiar para as Escri
turas era ai γραφαι άγίαι. Um único livro da coleção de escritos era conhecido
como βιβλίον (Lc 4.17) ou βίβλος (Lc 20.42); nunca como γραφή, que era o termo
para uma passagem em particular. Vide nota sobre Mc 12.107S.
Assim, parece-me que a antítese entre os escritos de Moisés, supersticiosamente,
reverenciados na letra e, minuciosa e criticamente, examinados e expostos pelos ju
deus, e as palavras vivas (ρήμασιν, vide nota sobre Lc 1.37) tem de ser reconhecida.
Contudo, isso não precisa excluir a outra antítese entre Moisés e Jesus pessoalmente.
C apítulo 6
3. Ao monte (το όρος). O sentido estrito é o monte. O escritor fala como alguém
familiarizado com a região.
4. A festa (ή εορτή). Com o artigo definido, a festa; apontando para algo bem
conhecido.
5. Vinha (ερχεται). A tradução está vindo é melhor. Ter com ele (πρός) é mais pro
priamente em direção a.
117
João - C ap . 6
Mas que é isso para tantos? Frase peculiar a João, embora a ideia esteja
implícita em Lc 9.13.
Relva (χόρτος). Originalmente, uma área delimitada. Por isso, Homero fala de Pe-
leu oferecer sacrifício, αυλής kv χόρτω, no paço11. Daí um lugar de alimentação e, assim,
relva, feno. O sentido é meramente de nossa pastagem abstrata. Mateus e Marcos
mencionam a erva, Marcos com a qualificação verde. A nvi menciona grama.
11. Dado graças. Todos os Sinópticos relatam seu ato de levantar os olhos ao céu
e abençoar. Talvez ele tenha usado a fórmula familiar: “Abençoado sejas, Jeová,
nosso Deus, Rei do mundo, que produz o pão da terra”.
75. Edersheim (Life o f Jesus) diz que o Talmude fornece o nome de determinados tipos de peixes,
especialmente designados como peixinhos, que podem ser comidos sem cozinhar, e esses peixi
nhos eram recomendados para a saúde, e o mar da Galileia era particularmente rico nesse tipo
de peixe, a salga e a conserva dele era uma indústria especial entre os pescadores.
76. Homero, Ilíada, xi, 6SS.
77. Ibid., xi, 774·.
118
J oão - C a p . 6
14. Que devia vir ( ò ερχόμενος). Literalmente, aquele vindo. Na t e b , que deve vir.
Ele só (αυτός μόνος). Mateus usa κατ’ ιδίαν, à parte, e tanto Mateus quanto
Marcos acrescentam para orar.
16. A tarde (όψία). Adjetivo. ’Όψιος, tarde, com ώρα, hora, subentendido.
17. Barco (πλοΐον). Na tb, barca. Vide nota sobre Lc 5.2. Os melhores textos
omitem o artigo.
18. Levantou (διηγάρρυο). É lamentável como a k j v perde a força vivida desses im
perfeitos. Na r v , corretamente, estava levantando-se, na n t l h , começou a soprar. Literal
mente, estava sendo despertado. Os imperfeitos transmitem o sentido de perigo sendo
reunido, e realçam com mais força o fato do aparecimento de Jesus. Eles estavam indo,
a escuridão já tinha caído, o mar estava levantando-se, e Jesus ainda não tinha vindo.
Vinte e cinco etc. O lago tinha cerca de qu aren ta estádios, 9,6 quilômetros,
em sua parte mais larga, eles tinham navegado pouco mais que a metade do
caminho.
Logo (ευθέως). Quer Jesus tenha, de fato, entrado no barco quer não, João não
nos diz. A inferência mais natural é que ele entrou. Mateus e Marcos dizem isso.
A imediata e milagrosa chegada deles à praia foi simultânea ao fato de o deseja
rem receber ou sua verdadeira subida a bordo. Só João menciona esse incidente.
Mateus e Marcos dizem que o vento cessou.
22. Que estava (ò έστηκώς). Permaneceu durante a noite perto do lugar do mi
lagre e ainda estava lá.
120
J oão - Cap. 6
Barquinho (πλοιάριον). Diminutivo, como na arc.
27. Comida (βρώσίρ). Vide nota sobre 4.32. Em Mt 6.19-20 e só lá é usado no sen
tido deferrugem, que come ou corrói. De forma semelhante, corroer é de girar, roer.
29. Creiais. A fé é apresentada como um ato moral ou obra moral. Tem-se que
acreditar na obra de Deus. A fé inclui todas as obras que Deus exige. A pergunta
dos judeus contempla inúmeras obras. A resposta de Jesus os conduz para uma
obra. O Cônego Westcott observa, com acerto, que “essa fórmula simples con
tém a solução completa para a relação de fé e obras”.
30. Pois. Uma vez que ele afirma ser o enviado de Deus.
32. Moisés não vos deu (ού Μωσής ÔéÔcoicev ύμιν). A antítese é entre Moisés
e meu Pai. Por isso, a nvi está correta ao traduzir por “não foi Moisés quem lhes
deu” etc., - “mas é meu Pai quem lhes dá” etc. Alguns editores mudam o tempo
perfeito, ôéôtOKCV, tem dado, para o aoristo, ’éôooicev, deu.
33. Aquele que desce (ò καταβαίνων). Pode ser traduzido assim, em aquele que
refere-se a άρτος, pão-, por isso, a tradução da a r c é a melhor, uma vez que Jesus
só se identifica com o pão no versículo 35.
35. Eu sou o pão da vida. Forma de expressão peculiar a João. Vide versícu
los 41,48,51; 8.12; 10.7,9,11,14; 11.25; 14.6; 15.1,5.
36. Mas. Embora você tenha visto quando pediu, repito o que lhe disse - que
você viu e não creu.
37. Tudo o que (παν δ). O singular neutro do adjetivo e do pronome. Todos os
cristãos são considerados com um todo completo. Compare com 17.24, de acordo
com a leitura correta: “Aqueles que me deste”.
38. Do céu (ck τού ούρανοΰ). Porém, os melhores textos trazem άπό, a partir de,
em vez de è«, de dentro de, sendo a ideia, antes, de ponto de partida (eu descí) do que
de origem. Descí deveria ser traduzido como na r v (sou ou tenho descido). O tempo
é o perfeito.
122
J oão - Cap. 6
39. A vontade do Pai. Omita do Pai, e traduza: a vontade dele etc.
De todos aqueles que me deu (ίοα παν δ δέδωκέ μοι). A construção é pecu
liar e interrompida. Todos aqueles que me deu destaca-se sozinho como nominativo
absoluto; um modo muito enfático e impressionante de anunciar. Literalmente,
é: não devo perder nenhum de todos aqueles que ele me deu.
40. Porquanto (δέ). A arc traduz a leitura dos melhores textos, que trazem
γάρ, pois, em lugar de δέ, mantido pela kjv. Há uma ligação lógica entre a última
sentença e a seguinte. A vontade do Pai de preservar e alçar aqueles que deu ao
Filho, incluindo em seu cumprimento a contemplação de fé no Filho e sua missão
na vida eterna.
Daquele que me enviou. Os melhores textos substituem πατρός μου, de meu Pai
41. Pois (οΰν). Melhor tradução que a da teb, a partir de então. Na rv, portanto-, na
com isso: por causa de suas palavras.
n v i,
Murmuravam (έγγόγυ(ον). Tide nota sobre Jd 16, e compare com lCo 10.10;
Fp 2.14. A palavra é usada constantemente na lxx em relação à murmuração
de Israel no deserto. Na teb, murmurar a seu respeito-, na n v i , criticar Jesus. Como
Chaucer: “Judas criticou ativamente Madalena, quando ela ungiu o nosso Se
nhor”78; e Shakespeare: “Lembra-te que te prestei serviços importantes nunca
menti, não descuidei de nada nem me mostrei queixoso ou rabugento”79.
Dele (π€ρ'ι αύτοΰ). Indicando que eles dirigiram suas objeções a Ele. Toda
via, Trept quer dizer a respeito de ou concernente a. Daí a tradução correta da teb,
a seu respeito.
42. Conhecemos. Não indicando necessariamente que José ainda estava vivo,
mas apenas o fato de que José era reconhecido como pai de Jesus.
123
JoÂo - Cap. 6
44. Trouxer (ελκύση). Encontramos duas palavras para trazer no texto do Novo
Testamento, σύρω e ελκύω. A distinção entre elas não é comumente observada; e
o sentido, com frequência, é sobreposto. Σύρω, originalmente, significa puxar ou
arrastar como uma roupa ou chinelos rasgados. As duas palavras são usadas para
empurrar ou arrastar para o tribunal. (Vide At 8.3; 17.6; 16.19.) Em At 14.19,
σύρω, o arrastar do corpo inconsciente de Paulo para fora da cidade de Listra.
Em 21.6,8,11, as duas palavras são usadas para puxar a rede. Em 18.10, ελκύω, o
ato de Pedro de puxar a espada. Contudo, uma distinção é observada: a palavra
σύρω nunca é usada para se referir ao fato de Cristo atrair os homens. Vide 6.44;
12.32. Só há uma ocorrência de ελκύω fora dos escritos de João (At 16.19). Lutero
disse a respeito dessa passagem: “O puxar não é como o do carrasco, que puxa o
ladrão de cima da escada para a forca; mas é a atração graciosa como a do homem
que todos amam e a quem todos vão de boa vontade”.
45. Ensinados por Deus (διδακτοί τού Θεοϋ). A ideia é lançada em um adjetivo
composto, θεοδίδακτοι., em lTs 4.9.
46. Visse. Em contraposição a ouvir e aprender (v. 45). O Pai não é visto imediata
mente, mas por intermédio do Filho. Compare com 1.18; 14.9; lJo 3.2; Mt 11.27.
De Deus (παρά τού Θεού). Essa é a forma mais correta, de, com a ideia de
associação com ele: de com Deus. Παρά é usado para cortejo de um objeto pessoal,
em geral, indicando o ponto de partida.
49. Morreram (άπεθανοη). O aoristo não aponta a condição atual deles, mas o
fato histórico; eles morreram. Como na arc.
51. Pão vivo (ò άρτος ò ζώη). Literalmente, o pão o vivo {pão). Na wycliffe , pão
fermentado.
Que eu darei. Os melhores textos omitem. Leia, como na bj: minha carne para
a vida do mundo. Na tb , e opão que eu darei pela vida do mundo ê a minha carne.
Não tereis vida em vós mesmos (ούκ έχετε ζωήν εν έαυτοϊς). Essa tradução
está correta e harmoniza com o texto grego. A kjv só traz: em vós·, a ntlh sequer
traz esse acréscimo. Toda verdadeira vida está em Cristo. Compare com Cl 3.3.
54. Come (τρώγων). É usado outro verbo para comer. Com exceção de Mt 24.38,
ele só é encontrado em João e sempre em conexão com Cristo. Nenhuma relevân
cia especial pode ser justamente ligada ao seu uso aqui. Parece ser tomado como
uma palavra corrente e εφαγον é retomado no versículo 58.
56. Permanece (μένει). A ntlh traduz: vive. A palavra está entre as favoritas de
João, ocorrendo mais frequentemente no Evangelho dele que em todo o resto do
Novo Testamento.
57. O Pai, que vive (ò ζών πατήρ). A frase é encontrada somente aqui no texto
do Novo Testamento. Acerca de que vive e vida, vide nota sobre 1.4.
Pelo Pai (διά τον πατέρα). Inadequado. Traduza: por causa do, como na nvi.
Porque o Pai é quem está vivo. Daí por causa de mim, em vez de por mim.
59. Na sinagoga (εν συναγωγή). Porém, falta o artigo definido; por isso, deve
mos entender em uma sinagoga ou em uma assembléia. Vide nota sobre Tg 2.2.
Entre as ruínas de Tell Hum, provável local de Cafarnaum, foi encontrado entre
os restos de uma sinagoga um bloco de pedra, talvez o lintel, no qual havia um
pote de maná esculpido e um padrão de folhas de vinha e cachos de uva80.
60. Duro (σκληρός). Vide nota sobre Mt 25.24; Jd 14. De acordo com a ordem
grega, duro é este discurso.
O [../] ouvir (αυτού ακούε ιν). O termo αυτού pode ser traduzido por ele, mas
não é provável aqui. Ouvir representa um ouvir dócil com vistas a receber o que
éouvido. Compare com 10.3,16,27; 12.47; 18.37.
80. Vide o relato completo dessas ruínas em Thomson, The Land and the Book·. Central Palestina
and Phoenicia, p. 417-419.
125
J oão - Cap. 6
61. Escandaliza (σκανδαλίζει). Na rv, causa de tropeço. V ide nota sobre Mt 5.29.
Na w y c l i f f e , vos injuria.
62. Que seria, pois, se visseis (εάν ούν θεωρήτε). A pergunta é marcada por
uma aposiopese, ou seja, interromper a sentença e deixar o ouvinte completá-la
por si mesmo. Literalmente, se, então, observásseis etc. - o complemento poderia
ser: isso não mais osfaria tropeçar?
64. Havia de entregar (παραδώσων). Vide nota sobre Mt 4.12; Mc 4.29. O Novo
Testamento designa Judas uma vez pelo substantivo προδότης, traidor, Lc 6.16.
66. Desde então (εκ τούτου). A nvi traduz: daquela hora em diante. Como resul
tado do então (εκ), procedendo deste. Compare com 19.12.
Tomaram para trás (άπήλθον εις τα όπίσω). Ο grego expressa mais que o
português. Eles afastaram-se (άπό) de Cristo; literalmente, para as coisas anteriores,
para o que eles tinham deixado a fim de seguir o Senhor.
67. Aos doze. João presume que o número seja conhecido. Ele é sugerido nos
doze cestos de restos. Como também em muitas outras circunstâncias desse
Evangelho, fatos da narrativa dos Sinópticos são tomados com a certeza de que
são familiares.
Quereis vós também retirar-vos? (μή και υμείς θελετε ύπάγειν). A partícula
interrogativa μή mostra que é esperada uma resposta negativa. Seguramente não
quereis. Na rv, retirar-vos-íeis; na ntlh , Será que vocês também querem ir embora.
Acerca do verbo retirar, vide nota sobre iam (v. 21).
As palavras da vida eterna (ρήματα ζωής αιωνίου). Não tem artigo. Tu tens
palavras. Palavras da vida são palavras que carregam vida nelas. Compare com a
expressão pão da vida, luz da vida, água da vida, árvore da vida.
69. Temos crido (έγνώκαμεν). Literalmente, temos vindo a conhecer. A ordem das
palavras crer e conhecer é inversa em 17.8; lJo 4.16. No caso dos primeiros discí
pulos, f i produzida pela impressão predominante de que as obras e a pessoa de
Jesus precediam a convicção intelectual.
70. Um diabo (διάβολος). Vide nota sobre Mt 4.1. A palavra é um adjetivo com
o sentido de calunioso, mas é quase invariavelmente usada no texto do Novo
Testamento como substantivo e com o artigo. O artigo está faltando apenas em
lPe 5.8; At 13.10; Ap 12.9 e talvez Ap 20.2. A essência mesma da natureza dia
bólica é opor-se a Cristo. Compare com M t 16.23.
C apítulo 7
127
J oão —Cap. 7
tabernáculos. Daí o nome Festa dos Tabernáculos ou das Cabanas. A associação do
evento posterior com a colheita era destinada a lembrar o povo, em sua pros
peridade, dos seus dias de errância em que não tinham casa, de fato de que seu
coração não deve ser elevado e se esquecer de Deus, que os libertou da escravidão
(Dt 8.12-17). Portanto, eles receberam a ordem de deixar sua casa permanente
e morar em barracas na época da colheita. A festa também era conhecida como
a Festa de Jeová ou, simplesmente, como a Festa (Lv 23.39; lRs 8.2) por causa de
sua importância e de ser a mais alegre de todas as festas. Na celebração da festa
em Jerusalém, eram montadas barracas nas ruas, praças e telhados das casas81.
A palavra grega para essa festa, σκηνοπηγία, construção de tabernáculos, ocorre
somente aqui no texto do Novo Testamento.
6. Tempo (καιρός). Vide nota sobre Mt 12.1; Lc 1.20; At 12.1. A estação, ou jun
ção, apropriada.
8. Esta festa. Por esta, leia a, a primeira vez, mas não a segunda.
128
João - Cap. 7
Está cumprido (πεπλήρωται). Literalmente, tem estado cumprido. Por isso, a
arctraduz ainda o meu tempo não está cumprido.
11. Ora (ούν). Seria melhor, por isso; porque Ele não apareceu com os galileus.
13. Abertamente (παρρησία). A palavra pode ter o sentido de sem reserva (10.24;
11.14) ou semtemor( 11.54).
14. No meio da festa (τής εορτής μεσούσης). Forma de expressão peculiar en
contrada somente aqui. O meio é expresso por um particípio do verbo μεσόω, estar
no meio. Literalmente, afesta estando na metade.
17. Quiser fazer a vontade dele (θελη το θέλημα αύτοΰ ποιειν). A k jv traduz
equivocadamente o verbo θέλω, querer ou determinar, como um mero auxiliar. Ao
negligenciar o sentido distinto do verbo querer e reduzir quererfazer em fará,
sacrifica a verdadeira força da passagem. Jesus diz: Se alguém quiserfazer, se seu
propósito moral está em concordância com a vontade divina.
18. Sua própria glória (την δόξαν την ίδιαν). Literalmente, a glória que é dele
mesmo-, o segundo artigo lança dele mesmo em contundente contraste com da
quele que o enviou. Acerca de dele mesmo, vide nota sobre At 1.7; Mt 22.5; 25.15.
19. Deu (δεδωκεν). Alguns textos apresentam o tempo aoristo εδωκεν, caso em
que essa tradução é correta. Se, como outros, lemos o tempo perfeito, deveriamos
traduzir: não lhes tem dado Moisés a lei, que vocês ainda professam observar.
De todo (δλον υγιή). O sentido estrito é tornei um homem todo são, em con
trapartida ao ritual da circuncisão, que afeta um único membro, mas que, não
obstante, eles praticavam no sábado.
130
João - Cap. 7
24. Aparência (δψιν). Originalmente, vendo ou vista. Em 11.44; Ap 1.16, rosto,
daí aparência externa. A palavra ocorre somente nas três passagens mencionadas.
27. Todavia (άλλα). Mas, não pode ser que os príncipes tenham feito essa desco
berta, pois sabemos de onde esse homem é.
28. Pois (οΰν). A TB usa corretamente então, dando o motivo para as palavras
subsequentes na emoção despertada em Jesus pela concepção errônea do povo.
31. Fará (μήτι ποίησα). Literalmente, certamente ele nãofará de maneira alguma.
34. Vós me buscareis. Não como agora, para debates ou violência, mas para ajuda.
35. Irá este (ούτος μέλλει πορεύεσθαι). Literalmente, aonde este homem pretende
ir, ou aonde ele está pensando em ir? Como na kjv, a bj {irá ele) perde a insinuação
desdenhosa de este homem (n v i ; ara , teb , entre outras, este).
36. Que palavra é esta (τις εστιν ουτος ό λόγος)? Essa é a tradução mais sim
ples e literal. Como a k j v , Q ue tip o d e declaração é esta, outras versões fogem a esse
critério ( a r a , b j , t e b , b p ).
Essa palavra (τον λόγον). Os melhores textos substituem por τών λόγων
τούτων, essas palavras. Como na ara , estas palavras.
134
João - Cap. 7
O Profeta. Vide nota sobre 1.21.
41. Vem, pois, o Cristo etc. (μή γάρ ò Χριστός). A a r c apresenta melhor a força
da partícula interrogativa com γάρ, pois. Na r v , Pois que, o Cristo vem etc. A ideia
completa é: “Você não pode (μή) dizer aquilo, pois (γάρ), o Cristo etc.”.
44. Queriam prendê-lo (ήθελον πιάσαι). Vide nota sobre 7.17. Estavam dispos
tos ou queriam levá-lo. A arc traduz m ais apropriadam ente que a k j v , que traz:
teriam levado.
47. Enganados (πεπλάνησθε). Na rv, desviados. Vide nota sobre o versículo 12.
48. Dos principais ou dos fariseus. A ordem grega, seguida pela a r c , é mais
sugestiva: Creu nele, porventura, algum dos principais ou dosfariseus (a fim de recor
rer a um círculo mais abrangente)?
49. Esta multidão (ò όχλος ουτος). E ssa é a m elhor tradução, multidão, quando
Vide n ota sobre 1.19.
contrastada com o s ju d eu s ortod oxos.
50. O que de noite fora ter com Jesus (ò έλθών νυκτος προς αύτόν). Os tex
tos variam, quer substituindo πρότερον, antes, primeiro, por νυκτος, de noite, quer
omitindo a oração toda e apresentando: Nicodemos, que era um deles, disse-lhes.
Sem primeiro o ouvir (εάν μή άκούση παρ’ αύτοϋ). A nvi traduz mais correta
mente: semprimeiro ouvi-lo. Ouvi-lo é uma tradução inadequada para παρ’ αύτοδ,
135
João - Cap. 7
Essa palavra (tòv λόγον). Os melhores textos substituem por των λόγων
τούτων, essas palavras. Como na ara , estas palavras.
134
João - C ap. 7
41. Vem, pois, o Cristo etc. (μη γάρ ò Χριστός). A a r c apresenta melhor a força
da partícula interrogativa com γάρ, pois. Na r v , Pois que, o Cristo vem etc. A ideia
completa é: “Você não pode (μή) dizer aquilo, pois (γάρ), o Cristo etc.”.
43. Havia dissensão (σχίσμα έ γ έΐΐτ ο ). A b j traduz m ais corretam ente: “Produ
ziu-se uma cisão”; na rv, “levantou-se uma divisão”. Vide nota sobre 1.3.
44. Queriam prendê-lo (ήθελον πιάσαι). Vide nota sobre 7.17. Estavam dispos
tos ou queriam levá-lo. A a r c traduz m ais apropriadam ente que a k j v , que traz:
teriam levado.
47. Enganados (ττεπλάνησθε). N a rv, desviados. Vide nota sobre o versículo 12.
48. Dos principais ou dos fariseus. A ordem g rega, seguida pela a r c , é m ais
sugestiva: Creu nele, porventura, algum dosprincipais ou dosfariseus (a fim de recor
rer a um círculo m ais abrangente) ?
49. Esta multidão (ò όχλος ουτος). E ssa é a m elhor tradução, multidão, quando
Vide n o ta sob re 1.19.
contrastada com o s ju d eu s o rtod oxos.
50. O que de noite fora ter com Jesus (ò έλθών νυκτός προς αυτόν). O s te x
tos variam , quer su b stitu in d o π ρ ό τ φ ο ν , antes, primeiro, por νυκτός, de noite, quer
om itindo a oração toda e apresentando: Nicodemos, que era um deles, disse-lhes.
135
J oão - Cap. 7
a palavra ventre tem o sentido do recôndito do coração do crente, que derrama
refrigério espiritual. Compare com lCo 10.4; Jo 4.14.
Essa palavra (tòv λόγον). Os melhores textos substituem por των λόγων
τούτων, essas palavras. Como na a r a , estas palavras.
134
João - Cap. 7
O Profeta. Vide nota sobre 1.21.
41. Vem, pois, o Cristo etc. (μή γάρ ò Χριστός). A arc apresenta melhor a força
da partícula interrogativa com γάρ ,pois. Na rv, Pois que, o Cristo vem etc. A ideia
completa é: "Você não pode (μή) dizer aquilo, pois (γάρ), o Cristo etc.”.
44. Queriam prendê-lo (ήθ€λον ττιάσαι). Vide nota sobre 7.17. Estavam dispos
tos ou queriam levá-lo. A arc traduz m ais apropriadam ente que a kjv, que traz:
teriam levado.
47. Enganados (ne· πλάνησθ€). Na r v , desviados. Vide nota sobre o versículo 12.
48. Dos principais ou dos fariseus. A ordem grega, seguida pela arc, é mais
sugestiva: Creu nele, porventura, algum dos principais ou dosfariseus (a fim de recor
rer a um círculo mais abrangente) ?
49. Esta multidão (ô όχλος ούτος). Essa é a melhor tradução, multidão, quando
contrastada com os judeus ortodoxos. Vide nota sobre 1.19.
50. O que de noite fora te r com Jesus (ò έλθών νυκτος προς αυτόν). Os tex
tos variam, quer substituindo πρότφον, antes, primeiro, por νυκτος, de noite, quer
omitindo a oração toda e apresentando: Nicodemos, que era um deles, disse-lhes.
Sem primeiro o ouvir (èàv μή άκοΰστ) παρ’ αύτοΰ). A n v i traduz mais correta
mente: sem primeiro ouvi-lo. Ouvi-lo é uma tradução inadequada para παρ’ αύτοΰ,
135
JoÂo - Cap. 8
que significa, como apresenta a r v , de s i mesmo-, παρά, sugerindo além de, ou seja,
seu lado do caso.
Verás (ΐδε). Essa tradução requer que a palavra seguinte, ou, seja traduzida
por que, em vez de porque. Como na rv ; na kjv, observa. A diferença não é impor
tante.
53. Esse versículo e a porção do capítulo 8, até o versículo 12, são, em geral, jul
gados pelas melhores autoridades críticas como não pertencentes ao Evangelho
de João.
C apítulo 8
12. A luz do mundo (tò φως του κόσμου). Não λύχνος, um a candeia, como João
Batista (5.35). L u z é outro dos termos e idéias característicos de João que de
sempenha um importantíssimo papel em seus escritos enquanto relacionados
com a manifestação de Jesus e sua obra para os homens. Ele vem de Deus, que é
a Luz (1Jo 1.5). “Nele, estava a vida e a vida era a lu z dos homens” (1.4). Antes da
encarnação, o Verbo estava entre os homens como luz (1.9; 9.5), e a luz veio com
a encarnação (3.19-21; 8.12; 12.46). Cristo é luz através da energia iluminadora
do Espírito (14.21,26; 16.13; lJo 2.20,27), recebida por meio do amor (14.22-23).
O objeto da obra de Cristo é transformar os homens em filhos da luz (12.36,46)
e dotá-los com a luz da vida (8.12).
No versículo 20, somos informados que Jesus disse essas palavras no lu g a r do
tesouro. Este ficava no pátio das mulheres, o lugar mais público do templo. Quatro
candelabros de ouro permaneciam lá, cada um com quatro tigelas de ouro, e cada
uma destas era enchida por um jovem descendente sacerdotal que retirava o óleo
de um jarro. Acendiam-nas na primeira noite da Festa dos Tabernáculos. Não é
improvável que eles sugerissem a figura do nosso Senhor, mas a própria figura
era conhecida da profecia e da tradição. De acordo com a tradição, Luz era um
dos nomes do Messias. Vide Is 9.1; 42.6; 49.6; 40.1-3; Mq 4.2; Lc 2.32.
Terá (εξει). Não só a verá, mas também a possuirá. Daí os discípulos de Cris
to serem a lu z d o m u n do (Mt 5.14). Compare com lu zes, ou propriamente
a stro s (φωστήρες), um nome aplicado aos crentes em Fp 2.15.
136
J oão - Cap. 8
13. Tu testificas de ti mesmo. Uma objeção técnica, evitando o verdadeiro
propósito da declaração de Jesus. Os escritos rabínicos declaravam que nenhum
homem podia testemunhar por si mesmo.
Sei (οίδα). Com clara consciência interior. Vide nota sobre 2.24.
De onde vim e para onde vou. Dois fatos essenciais do testemunho, a saber,
origem e destino. Conforme Lange: “A questão era sobre sua própria consciência
pessoal, da qual só ele mesmo podia testemunhar”. “Se o sol, ou o dia, pudesse
falar e dissesse: ‘Sou o sol!’; e recebesse a réplica: ‘Não, sua majestade é a noite,
pois você testemunha de si mesmo!’, como isso soaria? Argumente contra isto,
se puder82.
Nem para onde vou. Conforme os melhores textos, que trazem ή, ou, em lugar
de καί (“e para onde vou”).
17. Na vossa lei (ev tq> νόμω τω ύμετερορ). Literalmente, na lei, aquela que é vossa.
Vossa tem força enfática: da qual vocês alegam monopólio. Vide 7.49.
E stá [(...3 escrito (γεγραπται,). O tempo perfeito: tem sido escrito, e per
manece escrito. A forma comum de citações em outras passagens, mas usada
por João em relação às Escrituras do Antigo Testamento somente aqui. Sua
forma usual é γεγραμμένον έστίν, o particípio com o verbo no infinito, lite
ralmente, está sendo escrito.
19. Onde. O testemunho de uma testemunha não vista e não ouvida não os satisfaria.
20. O tesouro (γαζοφυλακ ίφ). De γάζα, tesouro, palavra persa de que há ape
nas uma ocorrência no texto do Novo Testamento (At 8.27), e φυλακή, guar-
137
J oão - Cap. 8
da. João só a usa aqui. O tesouro ficava no pátio das mulheres que não era
chamado assim por ser apropriado exclusivamente para a adoração das mu
lheres, mas porque elas não tinham permissão para passar dali, exceto por
propósitos sacrificais. O pátio cobria um espaço superior de 18,58 metros
quadrados e havia treze baús em formato de trombeta contra as paredes,
rodeados por uma colunata, chamados de “trombetas” por causa do formato,
e os quais serviam para pôr contribuições de caridade. Esse pátio era a parte
mais pública do templo.
21. Pois (οΰν). É uma tradução apropriada, ligando o fato de Jesus continuar a
falar em liberdade, sem ser preso.
No vosso pecado (èv xf| αμαρτία υμών). Vide nota sobre Mt 1.21. Observe
o singular, pecado, não pecados. Ele é usado coletivamente para expressar toda a
condição de alienação de Deus.
138
João - Cap. 8
22. Matar-se a si mesmo (μήτι άποκτενει εαυτόν»)? A zombaria dessas palavras
é igualmente sutil e mordaz. A partícula interrogativa, μήτι, quer dizer com cer
teza ele, de maneira alguma, matará a si mesma, e o sentido da oração toda é: ele,
com certeza, não irá onde nós não o possamos alcançar, a menos que, por acaso,
ele mate a si mesmo; e como isso garantiría sua ida para o Geena, claro que nós
não poderiamos segui-lo até lá. A declaração demonstra escárnio e farisaísmo
dos falantes.
23. Vós sois de baixo (εκ των κάτω έστε). Expressão peculiar a João e seu Evan
gelho. Jesus afirma o antagonismo radical entre seus oponentes e Ele mesmo
como baseado em diferença de origem e natureza. Eles vêm da economia baixa,
sensual e terrena, e Ele, da celestial. Compare com Tg 3.15ss.
De cima (εκ των άνω). Também peculiar ao Evangelho de João. Compare com
Cl 3.1. Acerca da expressão ser de (είναι έκ), vide nota sobre 1.46.
Vós sois deste mundo (εκ του κόσμου τούτου εστε). Peculiar a João e ocorre
na primeira epístola dele. Acerca de κόσμος, mundo, vide nota sobre 1.9. Vocês são
desta ordem, ou economia, terrena.
24. Eu sou (εγώ είμι). Algumas versões incluem ele, mas não consta do texto.
Ao reter isso, temos, sou o Messias. Mas as palavras, no entanto, são a expressão
de seu ser divino absoluto, como no versículo 58: “Se não crerdes que eu sou.
Vide Dt 32.39; Is 43.10; e compare com os versículos 28 e 58 deste capítulo e
com 13.19.
25. Isso mesmo que já desde o princípio vos disse (την αρχήν ó τι καί λαλώ
ύμιν). Passagem muito difícil em relação à qual os comentaristas são quase ir
remediavelmente divididos. Há duas categorias principais de interpretação. De
acordo com uma delas, deve-se entender como uma interrogação-, segundo a ou
tra, como uma afirmação. Os dois representantes principais da primeira categoria
são Meyer, que traduz: “Vocês perguntam o que estou dizendo a vocês o tempo
todo (την αρχήν)?”; e Westcott: “Como é que tenho dito a vocês o tempo todo (τήν
άρχήν)”? Também Milligan e Moulton. A tradução desse último exige a mudan
ça de ó τι, o relativo, o que, para a conjunção ότι, que.
A segunda categoria de intérpretes, que constrói a passagem de forma afir
mativa, varia em sua explicação de τήν άρχήν, traduzindo essa expressão di
versamente: tudo, em essência, acima de tudo, no início. Há uma terceira categoria
que considera τήν άρχήν como substantivo e explica segundo Ap 21.6: “Eu sou
o Princípio, o que estou dizendo a vocês”. Esse ponto de vista é representado prin-
139
JoAo - Cap. 8
cipalmente pelos comentaristas mais antigos, Agostinho, Bede, Lampe e, depois,
Wordsworth.
Adoto o ponto de vista de Alford, que traduz por essencialmente, explicando
como em g e ra l ou traçado a té seu p rin cíp io (άρχή). Matizadas a partir dessa estão
Godet, absolutamente, Winer, do começo ao fim , Thayer, totalm ente ou precisam ente.
Traduzo: S ou essencialmente aquele que a in d a f a l a a vocês. Se aceitarmos a explica
ção de sou, no versículo 24, como uma declaração do ser divino absoluto de Jesus,
essa ideia prepara o caminho para esta interpretação da resposta do Senhor para
a pergunta: Q uem és tu? Suas palavras são a revelação dele mesmo. Segundo Go
det: “Ele recorre ao seu próprio testemunho como a expressão adequada de sua
natureza. Eles têm apenas de entender a fundo as séries de afirmações que ele
faz a respeito de si mesmo e, dessa maneira, descobrirão uma análise completa
de sua missão e essência"8'1'.
26. Muito tenho etc. A ligação do pensamento parece ser como segue:
Falo ao mundo (λέγω εις τον κοσμόν). Os melhores textos trazem λαλώ, que
não enfatiza o que Cristo diz (o que seria λέγω), mas o f a to d e Ele falar. Vide nota
sobre Mt 28.18. O uso da preposição elç, aqui, é peculiar. Literalmente, “Falo
dentro do mundo”; portanto, minhas palavras podem alcançar o mundo e se es
palhar por ele. Para uma construção semelhante, vid e lTs 2.9; 4.8; Hb 2.3. Como
Sófocles, quando Electra diz: κήρυσσέ μ’ elç απαντας, anuncie-m e a todos, para que
meu relato possa alcançar todos os ouvidos85.
84. Estou consciente da objeção dessa tradução baseada no cânon de que την αρχήν temesse
sentido apenas emsentenças negativas, objeçãoessaque, semdúvida, nãoéevitada pelaten
tativa deGodet de explicar essapassagemcomo essencialm ente negativa. Mas essa regra não
éabsolutamente universal ( v id e Thayer, Lexicon, άρχή, 1, b.), e essaexplicaçãoparece-me, no
todo, concordarmelhorquequalqueroutracomosentidogeral dapassagemcomoaentendo.
SemprerelutoemdiferirdoCônegoWestcott, massemchegarapontodedizer, comoAlford,
que sua interpretaçãoé não gram atical; devoconfessar que ela me pareceartificial e forçada,
comotambématraduçãodeMeyer, queestáabertaasériascríticasemrelaçãoaofundamento
nagramática. O estudanteencontraráasdiferentesinterpretaçõesbemresumidaseclassifica
das emSchaflf, Lange’s Commentary, eaindamais resumidana“Nota Adicional” deWestcott
sobreocapítulo 8. Vide tambémMeyer.
85. Sófocles, Electro, 606.
140
J oão - Cap. 8
Ele [...] falava. O imperfeito. Estavafalando seria muito melhor.
Falo (ταϋτα λαλώ). Não equivale a. portanto falo (ou seja, como o Pai me ensi
nou), mas a uma declaração absoluta em relação a essas revelações que apresenta
aqui.
O que lhe agrada (xà àpeoxà αύχώ). Literalmente, como na t b , as coisas que
são do seu agrado. Sempre (uávxoxe) encerrando as sentenças, é enfático. A santa
atividade de Jesus é habitual e contínua. Vide 4.34.
30. Creram (emoxeuoau elç). Vide nota sobre 1.12, e compare com criam nele,
versículo 31.
Na minha palavra (év xqj λόγω χφ 4μώ). Literalmente, na palavra que é minha·,
peculiarmente minha, característica de mim. A expressão, de forma intencional, é
mais forte que minha palavra. Compare com meu amor (15.9).
141
J oão - C ap . 8
34. Todo aquele que comete (πας ό ποιων). Tradução mais correta; contra a
kjv , qualquer que comete.
Pecado (την αμαρτίαν). O artigo definido, o pecado, mostra que Jesus não se
refere apenas a um único ato, mas a uma vida de pecado. Compare com lJo 3.4-8,
e pratica a verdade (Jo 3.21); pratica ajustiça (1 Jo 2.29).
Do pecado. Algumas poucas autoridades omitem e leem: todo aquele que comete
pecado é um escravo. Compare com Rm 6.17,20.
35. Não fica para sempre em casa. O escravo não tem lugar permanente na casa.
Ele pode ser vendido, trocado ou expulso. Compare com Gn 2 1.10; G1 4.30. Casa.
VideYib 3.6; Jo 14.2. O filho mais velho da parábola do filho pródigo (Lc 15.29)
nega sua filiação com as palavras: “Eis que te sirvo (δουλεύω) há tantos anos”.
36. Verdadeiramente (όντως). Usado somente aqui por João. Quer dizer essen
cialmente.
142
J oão - C ap . 8
37. Não entra (ού χωρει). Na rv, não tem livre acesso, ou não abre caminho. Esta tradu
ção está em harmonia com os versículos 3 0 e 3 1 , concernentes àqueles que creram,
mas não criam nele, e que, por meio de sua resposta indiganada, no versículo 3 3 ,
demonstraram que a palavra de Jesus não fizera progresso neles. A tradução da kjv,
não tem lugar, não é sustentada pelo uso, embora Field (Otium Norvicense) cite um
exemplo incontestável desse sentido nas epístolas de Alcifron, escritor pós-cristão,
que relata a história de um parasita que retorna depois de se fartar em um banquete
e solicita que um médico administre um emético. O parasita, descrevendo o efeito
do remédio, diz que o médico se perguntava onde tal bagunça tivera lugar (εχώρησε).
Para a tradução da rv, compare com Aristófanes: πώς ούν ού χωρει τούργον; “Como
é isso de o trabalho nãofazer progresso?’*5. Plutarco, εχώρει διά τής πόλεως ό λόγος,
“apalavra (ou relato) anunciada (ou passada adiante) através da cidade”87.
Abraão não fez isso. Nas tradições orientais Abraão é mencionado como
“cheio de bondade amorosa”.
42. Saí - de Deus (εκ του Θεού εξήλθον). Como na t e b . A expressão ocorre
somente aqui e em 16.28. Έξελθεΐν άπό é encontrado em 13.3; 16.30, e enfatiza
a ideia de separação; um vindo do Deus a quem Ele tem de retornar (e que ia para
Deus). Έξελθεΐν παρά (16.27; 17.8), está vindo dejunto de, sugerindo relação pes
soal com Deus. Έξελθεΐν εκ, aqui, enfatiza a ideia de comunidade essencial de ser.
“Saí de dentro de”.
44. Vós (ΰμεις). Enfático, em contraste com ημείς, nós, do versículo 41.
Ao diabo. Vide nota sobre Mt 4.1. João usa Satanás apenas uma vez no Evan
gelho (13.27), com frequência em Apocalipse e nenhuma vez nas epístolas. Al
guns críticos adotam a mesma tradução singular que, em grego, carrega o senti
do: tendes por pai ao diabo, ou o vosso pai é o diabo ( t e b ). Isso é explicado acusando
João de gnosticismo e o fazendo se referir ao Demiurgo, ser misterioso e inferior
descendente de Deus e —de acordo com os gnósticos, por intermédio de quem
Deus criou o universo - que se rebelou contra o Senhor e era pai de Satanás. Só
é necessário declarar com Meyer que essa percepção é não bíblica e não joanina.
Não se firmou (ούκ εστηκεν). Pode-se explicar isso de duas maneiras. O verbo
pode ser tomado como tempo perfeito deioxrpi, a forma para o tempo presente
no português, firmo-me. Nesse caso, descrevería a permanência atual de Satanás
no elemento de falsidade: ~_elej não sefirmou na verdade. Ou pode ser tomado como
144
J oão - Cap. 8
o tempo imperfeito de στήκω, mantenho minhafirmeza, ou simplesmente firmo-me,
caso em que a forma seria εστηκεν e teria o sentido de que, mesmo antes de sua
queda, ele não era verdadeiro, ou não permaneceu verdadeiro para com Deus, mas
caiu. Meyer, que entende no primeiro sentido, observa: “Verdade é o domínio em
que ele não pisa, pois, para ele, essa é uma esfera estranha e heterogênea da vida.
C-d A mentira é a esfera em que ele mantém seu lugar”. Como Mefistófeles:
Sou oespírito
que estorva sempre. E comrazão, pois tudo
quanto nasceu mereceaniquilado;
portanto eramelhor não ter nascido.
Meu elemento éo quechamais vós outros
Destruição, Pecado, oMal, emsuma88.
Quando ele profere mentira (όταν λαλη το ψεύδος). Mais estritamente, sempre que
—a mentira, em contraposição à verdade, considerada como um todo. São fornecidas
duas interpretações. De acordo com uma, o diabo é o sujeito dafala; segundo a outra, o
sujeito é indefinido; “quando alguém profere”, afirmando uma proposição geral.
Lhe é próprio (εκ των ιδίων). Literalmente, das coisas que lhe são próprias.
Segundo Meyer: “Essa é mais peculiarmente sua natureza ética”.
Porque é mentiroso e pai da mentira (ότι ψεύστης έστί καί ò πατήρ αύτοΰ).
São fornecidas três interpretações. 1. A da arc e tb : “ê mentiroso e [(o]] pai da
mentira . 2. “Ele é mentiroso e o pai do mentiroso (uma vez que da mentira tam
bém pode ser traduzido por dele)”. 3. Tornando ò πατήρ αύτοΰ, seu pai, o sujeito
da sentença, e remetendo do que a alguém, o sujeito indefinido do verbo proferir
(“quando alguém profere mentira”). Assim, a tradução deve ser: porque seu pai é
um mentiroso. Quanto ao curso do pensamento de Jesus - se aceitarmos alguma
das duas primeiras traduções -, ele volta-se para o caráter de Satanás. Depois de
afirmar que os judeus são filhos do Diabo, Jesus prossegue e descreve o demônio
como homicida e mentiroso e prolonga-se na última característica dizendo que
a falsidade é seu elemento natural e peculiar. Sempre que mente, ele fala de sua
própria natureza falsa, pois é um mentiroso e pai da mentira e do mentiroso. Se
aceitarmos a terceira tradução, o pensamento, antes, gira em torno do caráter dos
judeus como filhos de Satanás. Ele, primeiro, profere a acusação geral, vós tendes
por pai ao diabo e, como tal, farão as obras dele. Por isso, vocês são homicidas e
mentirosos. Ele é homicida, e vocês tentam me matar. Ele não permanece na ver
se. Goethe, Fausto, tradução AntônioFelicianodeCastilho. Disponível em: <http://www.ebooks-
brasil.org/eLibris/faustogoethe.html>. Acesso em: 28 jun. 2018.
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J oão - C ap. 8
dade nem a pratica; pois, quando fala uma mentira, ele fala de sua própria natu
reza falsa, por meio de falsidade de direito de nascimento, pois seu pai também
é um mentiroso89.
45. Mas porque [eu] digo (εγώ δε ou). Opte pela tradução mas, em vez de e.
Você acreditaria em fa ls id a d e se eu falasse assim, mas, porque falo a verdade, você
não acredita. O eu é enfático (cp. tb ). E u, porque eu lh e digo etc.
Pecado (αμαρτίας). Não éf a l t a nem erro, mas pecado em geral, como em todas
as outras passagens do Novo Testamento.
A verdade (άλήθει,αρ). Sem o artigo, e, por essa razão, não toda a verdade, mas
aquilo que é verdade como qualquer parte da revelação divina.
48. Não dizemos nós bem. Indicando uma abordagem atual. B em (καλώς), no
sentido literal, quer dizer fin am en te, belamente. Às vezes, com sentido irônico,
como em Mc 7.6.
49. Eu não tenho demônio. Ele ignora a acusação de ser samaritano, recusan
do-se a reconhecer a distinção nacional. Por dem ônio, leia diabo.
50. Há quem a busque. Que busca minha honra e julga entre mim e meus
oponentes.
89. Adoto essa tradução, embora comalguma hesitação, como aque melhor representa o que me
parece ser alinha depensamento de toda a passageme aque evita amaioriadas dificuldades
gramaticais. 1.Emboragramaticalmentedefensável, necessitadatraduçãoumtantodesajeitada
deαυτούcomoneutro, por inferênciaouderivaçãodomasculinoψεύστης. E muitomais natural
tomá-lacomomasculino. As traduções 1e2exigemqueò πατήρsejaentendidocomoo predicado,
considerandoque, tendooartigo, serianaturalmentedeseesperarquefosseosujeito. Aprincipal
objeçãoàtradução3éaomissãodosujeitocomλαλη, oqueédifícil. OProfessorKendrick(edição
estado-unidensedeMeyer) citaφησί comoparaleloem2Co 10.10e, commuitajustiça, comenta
que, “seforpossívelfazeralgumaobjeçãocontraessaconstrução, elanãoseaproximaemdificul
dadedaqueéfeitacontraό πατήραυτούcomopredicadonosentidocomumentedesignadopara
essaexpressão. ElaéadotadaporWestcott, MilliganeMoulton.
146
JoAo - Cap. 8
52. Agora. Olhar em retrospectiva para o versículo 48. Se fomos muito preci
pitados na ocasião dizendo que você tem um demônio, agora, suas palavras nos
justificam plenamente. Eles entenderam que Jesus falava da morte natural.
Que morreu (όστις). O pronome composto όστις, que, usado de forma expli
cativa, conforme o uso familiar do Novo Testamento, em vez de pronome rela
tivo simples. O sentido é vendo que ele está morto. O relativo composto indica
apropriadamente a classe ou tipo a que um objeto pertence. Você é maior que
Abraão, que está ele um dos que estão mortos? Como Cl 3.5. “Mortificai, pois,
[j..] a vil concupiscência e a avareza, que é (ήτις εστίο) idolatria.” Vide nota sobre
Mt 13.52; 21.41; Mc 12.18; Lc 12.1; At 7.53; 10.41; lPe 2.11.
147
JoAo —Cap. 9
55. Palavra (λόγον). Essa é a tradução mais apropriada, como no versículo 51.
Como na ara .
56. Exultou (ήγαλλιάσατο). Com alegria exultante. Vide nota sobre lPe 1.6.
Viste (ίνα ϊδη). A construção grega é peculiar. Literalmente, que ele deve ver,
ou seja, no conhecimento, ou antecipação, de que ele deve ver.
57. Ainda não tens cinquenta anos (πεντήκοντα ετη ουπω ’έχεις). Literalmente.
A idade da maturidade completa.
59. Passando pelo meio deles, e assim se retirou. Os melhores textos omitem.
C apítulo 9
2. Nem ele [../], nem seus pais. Era uma percepção judaica comum achar que
os méritos, ou deméritos, dos pais apareceríam nos filhos e que os pensamen
tos da mãe podiam afetar a condição moral de sua descendência por nascer. Na
crença popular, a apostasia de um dos maiores rabis fora causada pelo deleite
pecaminoso de sua mãe em atravessar um bosque de um ídolo.
3. Mas £...^ para que (άλλ’ ΐνα). Há uma elipse: m as [_ele nasceu cegò~\ p a ra que.
4. Convém que eu faça (εμέ δει έργάζεσθαι). Os melhores textos trazem ημάς, nós,
em lugar de εμέ, eu. Literalmente, ê necessário a nós trabalhar, na t e b , é m ister traba
lharmos. Assim, Jesus associa os discípulos com Ele mesmo. Compare com 3.11.
148
J oão —Cap. 9
Me enviou, e não nos enviou. O Filho envia os discípulos, como o Pai envia o
Filho.
5. Enquanto (όταν). A melhor tradução seria quando quer que. Na r v , quando. Seja
em minha encarnação, ou antes de minha encarnação, ou depois dela. Compare
com 1.4,10.
A luz. Vide nota sobre 8.12. O artigo está faltando. Westcott diz: “Cristo é ‘a
luz do mundo’, bem como ‘a única Luz do mundo’. O caráter é imutável, mas a
demonstração do caráter varia conforme a ocasião”.
Untou (επέχρισε). Somente aqui e no versículo 11. Considerava-se que a saliva ti
nha virtudes peculiares não só como remédio para doenças dos olhos, mas, em geral,
como encantamento, por isso, era empregada em encantamentos. Pérsio, ao descre
ver uma mulher idosa lidando com uma criança, escreve: “Ele tira o bebê do berço
e, com o dedo médio, umedece a testa e os lábios dele com saliva para afastar mau
olhado”90. Tácito relata como uma das pessoas comuns da Alexandria importunava
Vespasiano para conseguir remédio para sua cegueira e orava para que ele borrifasse
suas faces e seus globos oculares com a secreção de sua boca91. Plínio disse: “Temos
de acreditar q u e a unção constante a cada manhã com a saliva de jejum (ou seja, pro
duzida antes de c o m e r ) previne a inflamação dos olhos”92. Alguns editores leem aqui
4πέθηκ€ν, aplicar em ( c o m o n a t e b ), em lugar de έιτέχρισεν, untar.
149
J oão —Cap. 9
modo, o menor de todos os tanques de Jerusalém. A água flui no tanque através
de um canal subterrâneo da fonte da Virgem, e as águas são marcadas por fluxo
e refluxo. O Dr. Robinson testemunhou um aumento e queda na água de 30,48
centímetros em dez minutos. O canal foi cruzado por dois exploradores, Dr.
Robinson e o capitão Warren. Vide o relato da exploração de Warren em Thom
son93. Acerca da palavra tanque, vide nota sobre 5.2.
Enviado. A palavra hebraica quer dizer derramamento (de águas); envio, provavel
mente com referência ao fato de que o monte do templo lança suas águas das nascen
tes. Muitos expositores encontram uma relevância característica no fato de a obra de
Cristo ser realizada por meio do tanque que leva esse nome. Dessa forma, Milligan e
Moulton, depois de observarem o fato de que a água era extraída desse tanque para
ser derramada sobre o altar durante a Festa dos Tabernáculos, que esse tanque era
associado com as “fontes da salvação” (Is 12.3), e que, na época do Messias, o derra
mamento da água simbolizava a efusão de bênção espiritual, prosseguem para dizer:
16. Não guarda o sábado. Um preceito rabínico declara: “É proibido até mesmo
aplicar saliva de jejum aos olhos no sábado”. As palavras do versículo 14,fe z o
lodo, também marcam um ponto específico de ofensa.
24. Dá glória a Deus (δός δόξαν τω Θεώ). Compare com Js 7.19; 1Sm 6.5. Essa frase
dirigida a um ofensor sugere que ele, por meio de algum ato ou palavra anterior,
desonrou a Deus e é interpelado para que repare a desonra ao falar a verdade. Nesse
caso, também é um apelo ao homem restaurado para atribuir sua cura diretamente a
Deus, e não a Jesus. Palgrave, diz que a frase árabe, em geral, dirigida a alguém que
disse algo extremamente fora de lugar é istaghfir Allah, peça perdão a DeusH.
29. Falou (λ6λάληκ€ν). Tempo perfeito, tem falado, e, assim, a autoridade das
palavras de Moisés continua até o presente. Assim na rv. Λαλέω significa falar,
familiarmente. Vide Êx 33.11.
Vós não saibais. Vós é enfático; vós que se pode esperar que saibam sobre um
homem que operou tal milagre.
31. Nós sabemos. Aqui o pronome não é expresso e o nós não é enfático, como
o pronome nos versículos 24 e 29, mas expressa a informação comum a todos
ligados ao fato familiar.
152
João - Cap. 9
Temente a Deus (θεοσεβής). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A
palavra relacionada, θεοσφεια, servir a Deus, ocorre somente em lTm 2.10. Com
binado com Θεός, Deus, e σέβομαι, adorar, o mesmo verbo que aparece em ευσεβής,
piedoso (At 10.2,7; 22.12), e ευσέβεια, santidade (At 3.12; lTm 2.2 etc.). Vide nota
sobre 2Pe 1.3. Essas duas últimas palavras, embora possam querer dizer reverên
cia em relação a Deus, também podem indicar o cumprimento devido das relações
humanas; enquanto θεοσεβής, temente a Deus, limita-se à piedade em relação a Deus.
32. Desde o princípio do mundo (εκ του αίώνος). A frase exata ocorre somente
aqui no texto do Novo Testamento. A expressão άπ’ αίώνος é encontrada em
At 3.21; 15.18; από των αιώνων em Cl 1.26.
Ensinas. Enfático. Tu, dessa forma, nasceste em pecados, assume o cargo de mestre?
36. Quem é ele? Os melhores textos inserem καί, e quem é ele? O que transmite
um ar de ansiedade à pergunta.
39. Juízo (κρίμα). Não o ato do julgamento, mas seu resultado. Sua presença mes
ma no mundo constitui uma separação, a ideia primitiva de julgamento entre os
que creem nele e os que o rejeitam. Vide nota sobre 3.17.
153
João - C ap. 10
40. Também nós somos cegos (μή καί ήμ€ΐς τυφλοί eopev)? Ο também pertence
a nós. A partícula interrogativa tem a força de certamente nós não somos, e o nós é
enfático. Também nós somos cegos? Como na arc .
41. Não teríeis pecado (ούκ αν β’ίχβτε αμαρτίαν). Ou: não deverieis ter. A expres
são αμαρτίαν έχα,ν, ter pecado, ocorre somente em João, aqui no Evangelho e na
primeira epístola.
C apítulo i o
Por outra parte (άλλαχόθεν). Literalmente, de algum outro canto. O ladrão não
vem, como o pastor, de algum lugar conhecido, como da sua casa ou do pasto,
mas de um canto desconhecido e por um caminho dele mesmo. Esse por é rele
vante porque Jesus, nos discursos anteriores, enfatizou muito a fonte da qual Ele
procedia e faz a diferença, em caráter, entre Ele mesmo e seus opositores, por se
tratar de diferença de origem. Vide 8.23,42,44. Na última parte desse capítulo, Ele
expõe o mesmo pensamento (w. 30,32-33,36).
154
J oão - C ap . 10
As suas ovelhas (τά ίδια πρόβατα). Os melhores textos trazem πάντα, todas,
para πρόβατα, ovelhas·, todas as suas. Como na b p .
Vai adiante. Como o pastor oriental sempre o faz. Depois de tirá-las para
fora, agora, ele as guia.
E necessário que elas sejamensinadas aseguir eanão sedesviar paraos campos sem
cerca detrigo querepousamtãotentadores dooutro lado. O pastor chama-as detem
pos emtempos paralembrá-las de sua presença. Elas conhecemsuavoz eseguemem
frente; mas se umestranho as chamar, elas param, levantamacabeçaemalarme, e se
o chamado for repetido, elas viram-se efogemdele, pois elas não conhecema voz de
estranhos. Este não éumcostume fantasioso de uma parábola, é umsimples fato. Fiz
o experimento diversas vezes.
7. A porta das ovelhas. Com o sentido de a porta para as ovelhas; não a porta do
aprisco. “O pensamento está ligado à vida, e não simplesmente à organização.”
10. O ladrão (ò κλέπτης). Jesus põe Ele mesmo em contraste com o miserável
criminoso.
155
J oão - Cap. 10
αγαθός, bom, do qual há apenas quatro ocorrências, e três das quatro ocorrências
no gênero neutro, uma coisa boa ou aquilo que é bom. Καλός, em João, aplica-se a
vinho (2.10); nesse capítulo, três vezes a pastor e duas vezes a obras (10.32-33).
No uso clássico, foi usado originalmente como descritivo úaforma exterior, beleza;
da utilidade como um refúgio justo, um vento justo. Auspicioso como sacrifício. Mo
ralmente bonito, nobre, por isso, a virtude é chamada de το καλόν. O uso do Novo
Testamento é similar. Extemamentejusto como as pedras do templo (Lc 21.5); bem
adaptado ao seupropósito como o sal (Mc 9.50); competentepara o cargo como diáconos
(lTm 4.6); como despenseiro (lPe 4.10); soldado (2Tm 2.3); expediente, benéfico (Mc
9.43,45,47); moralmente bom, nobre como obras (Mt 5.16); consciência (Hb 13.18). A
expressão ébom, ou seja, uma coisa boa ou apropriada (Rm 14.21). Na l x x , καλός
é a palavra mais usual para bom como oposto a mau (Gn 2.17; 24.50; Is 5.20). Em
Lc 8.15, encontramos καλός e αγαθός juntos como epítetos de coração; honesto (ou
virtuoso, nobre) e bom. O epíteto καλός, aplicado aqui para o pastor, aponta para a
bondade essencial como realização nobre e que impõe a admiração que traz respei
to e afeto. Como o Cônego Westcott observa: “O bom Pastor, no cumprimento de
seu trabalho, declara a admiração de tudo que é generoso no homem”.
Dá a sua vida (την ψυχήν αυτού τίθησιν). A frase é peculiar a João, ocorrendo
no Evangelho e na primeira epístola. Ela é explicada de duas maneiras: ou (1) de
acordo com o uso clássico da palavra τίθημι, com o sentido de formular como um
rogo, pagar como um preço. Como Demóstenes, pagar lucro ou a taxa estrangeira.
Ou (2) de acordo com 13.4, tirar sua vida como uma veste. A última opção parece
preferível. Τίθημι, no sentido de pagar um preço, não ocorre no texto do Novo
Testamento, a não ser que a frase entregou sua vida seja explicada dessa forma9ií.
Em 13.4, tirou as vestes (τίθησι τα íμάτια) é seguido, no versículo 12, de tomou as
suas vestes (ίλαβί τα 'ιμάτια). Assim, nesse capítulo, dá (τίθησιν) a sua vida (v. 11)
e dou (τίθημι) a minha vida (vv. 17-18) são seguidos de λαβίΐν, “tornar a tomá-la”.
As expressões την ψυχήν 6θηκ6, ele deu a sua vida, e τάς ψυχάς Oeivai, nós devemos
dar a vida, ocorrem em 1Jo 3.16.0 verbo é usado no sentido de deixar de lado nos
clássicos, como deixar de lado a guerra, os escudos etc. Compare com Mt 20.28,
δούναι τήν ψυχήν, dar a sua vida.
12. M ercenário (μισθωτός). De μισθός, contratar. Vide nota sobre 2Pe 2.13. Na
assalariado.
n v i,
95. Huther, sobre lJo 3.16, declara que esse sentido só seria admissível no evento de a frase ser
usada invariavelmente com ímép τίνος, emfa v o r de alguém.
156
Jo ã o - C ap . 10
Ve (θεωρεί). Muito vivido. Seu olhar está fixo pelo fascínio do terror do lobo
que se aproxima. Compare com Dante:
Sobre essa palavra, Westcott menciona Agostinho: fuga animi Timor est, a luta
da mente é covardia; com a qual, mais uma vez, compara com Dante:
Não tem cuidado (ού μέλει αότω). Literalmente, as ovelhas não são uma preo
cupação para ele. Vide nota sobre lPe 5.7. O contraste é sugestivo.
14. Das minhas sou conhecido (γινώσκομαι ύπό τύ ν έμών). Os melhores tex
tos trazem γιηώσκουσί με τά έμά, as minhas me conhecem. Assim na r v . Na n v i e
b p , elas me conhecem, na b j e t e b , as minhas ovelhas me conhecem.
157
JoAo - C ap . 10
15. Assim como o Pai me conhece a mim. Ligue essas palavras com a sentença
anterior: das minhas sou conhecido, assim como o Pai me conhece a mim etc.
16. Aprisco (αυλής). De αω, ventar, daí o sentido estrito ser um lugar ao ar livre;
um espaço não coberto cercado por muros. Como Homero, na caverna de Ciclope:
O prédio baixo na encosta do monte comarcos na frente e sua área cercada protegi
da por um muro de cascalho e rodeada de plantas espinhosas pelo qual acabamos de
passar é umaprisco ou marâh [(...3· Os marâhs, em geral, são construídos em um vale
ou do lado ensolaradode uma colina, em que ficam abrigados dos ventos do inverno.
No clima usual, as ovelhas e os bodes são reunidos à noite em um pátio cercado; mas
quando as noites são frias e tempestuosas, os rebanhos são fechados no marâh. Os
arbustos de espinhos afiados sobre o topo do muro que rodeia o pátio são uma defesa
que o lobo que está à espreita raramente tenta escalar. Contudo, o leopardo e a pantera
desse país, quando pressionados pela fome, às vezes, saltam por cima dessa cerca de
espinho e, em um salto, estão entre o assustado rebanho".
18. T ira (a’ipei). Essa é a forma apresentada por alguns textos. De acordo com
essa leitura, a palavra apontaria de volta para a obra de Jesus conforme concebi
da e realizada no conselho eterno de Deus, em que o sacrifício de si mesmo não
foiforçado, mas foi sua oferta espontânea em concordância com a vontade do Pai.
159
J oão - C ap . 10
entraram e encontraram a cena de caos que a ocupação síria deixara. O s corredores das
câmaras dos sacerdotes, que rodeavam o templo, foram derrubados; as portas viraram
cinzas, o altar foi desfigurado e toda a plataforma estava coberta com o se fosse uma
floresta ou uma clareira. Era um espetáculo de partir o coração. O primeiro im pulso
deles foi se jogar imediatamente no chão e soprar alto as trombetas de chifres que acom
panhavam todas as ocasiões de luto e também as de alegria - todos os sinos e também
os carrilhões da nação. A seguir, enquanto as guarnições estrangeiras eram mantidas
na baía, os guerreiros começaram a elaborar o processo de purificação do lugar poluído.
£...] N o interior do templo, tudo teve de ser reabastecido - vasos, candelabros e altar de
incenso, além das mesas e cortinas. Finalm ente, tudo foi completado, e, no 25.° dia de
kislev (meio de dezembro), o m esm o dia em que, três anos antes, a profanação ocorrera,
o tem plo foi consagrado de novo. [7.7] O que ficou mais vivo na recordação da época foi
que a luz perpétua voltou a brilhar de novo. O castiçal de ouro não estava mais lá. Seu
lugar foi tomado por um candelabro de ferro, emoldurado por madeira102.
160
JoAo - Cap. 10
os mais zelosos acrescentavam uma lâmpada para cada indivíduo, assim, se uma
casa tivesse dez habitantes, ela terminaria com oitenta. Os judeus reuniam-se no
templo ou nas sinagogas dos lugares em que residiam, carregando ramos de pal
ma e entoando salmos de louvor. Não era permitido que se começasse nenhum
jejum nem pesar pelo relato de alguma calamidade ou luto durante o festival.
24. A nossa alma suspensa (την ψυχήν ημών αίρεις). Literalmente, suspendes
nossa alma. Entusiasma-nos e acendes nossa esperança. Na n v i , nos deixará em
suspense.
27. Minhas ovelhas (τα πρόβατα τα εμά). Literalmente, as ovelhas, aquelas que são mi
nhas. Forma de expressão característica de João. Compare com 3.29; 5.30; 14.15 etc.
28. Dou (δίδωμι). Não darei. A dádiva é presente e contínuo. Compare com 3.36.
Arrebatará (άρπάσει). Vide nota sobre o versículo 12. Compare com pode arre
batá-las, do versículo 29. Aqui, Jesus fala dofata, lá, da possibilidade, n v i , arrancar.
29. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos (ò πατήρ μου ός δεδωκε μοι,
μειζων πάντων εστιν). Há considerável confusão aqui em relação à leitura. Wes-
tcott, Hort e Tischendorf leem ò πατήρ μου (Tischendorf rejeita μου) ó δεδωκεν
μοι πάντων μεΐζόν εστιν. Ο que ο Pai (ou meu Pat) me tem dado é maior do que tudo.
A r v traz essa leitura em nota de margem. Na tradução, troque deu por tem dado.
30. Um (εν). O gênero neutro, não o masculino είς, uma pessoa. Sugere unidade de
essência, não apenas de vontade ou poder.
31. Pegaram - outra vez (έβάστασαν πάλιν). Outra vez refere-se a 8.59. Parece
como se um verbo diferente tivesse sido escolhido de propósito aqui (cp. ήραν,
pegaram, de 8.59), uma vez que a conversa aconteceu no alpendre de Salomão, no
qual as pedras não estariam à mão. O verbo aqui pode ter o sentido de levantar.
Como Ajax diz:
161
JoÂo —C ap . 10
Envie alguém como mensageiro para transmitir
A notícia maligna a Teucros, de que ele primeiro
Pode levantar (βαστάση) meu corpo transpassado por essa aliada espada103.
82. Obras boas (καλά). Obras belas, nobres, apropriadas para causar admiração e
respeito. Compare com Mc 14.6, e vide nota sobre o versículo 11.
Por qual dessas obras (διά ποΙον αυτών ’έργον). Literalmente, por qual tipo dessas
obras. Não se deve perder de vista essa força qualitativa de ποιον, embora seja impos
sível traduzi-lo com exatidão sem parafrasear. Jesus não quer dizer, como a a r c e a
n v i sugerem, “por qual dessas obras”, mas “qual ê o caráter dessa obra em particular
34. Não está escrito (ούκ έστιν γ^γραμμένον). Mais estritamente, não permanece
escrito.
85. A Escritura (ή γραφή). A passagem da Escritura. Vide nota sobre 2.22; 5.47.
162
João - C ap. 11
Ex 21.6; 22.8, passagens em que a palavra traduzida por juizes é elohim, deuses.
Em Ex 22.28, aparece deuses na t eb , em nota de rodapé104. A linha de raciocínio
de Jesus é que se esses juizes podem ser chamados deuses, como eu blasfemo ao
me chamar Filho de Deus uma vez que o Pai me consagrou e me enviou ao mun
do em uma missão especial?
40. Além do Jordão (πέραν του Ίορδάνου). Na região chamada Pereia, de πέραν,
além. Era do lado leste do rio e era a antiga posse de Gade e Rúben. Corresponde,
em um sentido mais amplo, à região em torno do Jordão (Mt 3.5; Lc 3.3). Compare
com Mt 19.1; Mc 10.1.
C apítulo 11
163
J oão - Cap. 11
outras instâncias (2Co 1.21) de dotar os cristãos com dons do Espírito Santo.
Assim, a palavra está limitada a unção sagradalü5. A palavra αλείφω é usada
para todas as verdadeiras unções. Vide M t 6.17; Mc 6.13; Lc 7.38; T g 5.14.
Em geral, a l x x mantém a mesma distinção, embora com algumas exceções,
como Nm 3.3.
3. Tu amas (φιλεις). Vide nota sobre 5.20. Segundo Bengel: “Elas não dizem,
vem. Ele que ama só precisa saber”.
Para glória (ύπερ). Aqui, com em outras passagens de João, emfavor de. O Cô
nego Westcott comenta: ‘Ά doença é vista em uma relação tripla; para em relação
com o resultado real; emfavor de quanto ao sofrimento suportado; afim de que em
relação ao propósito divino”.
5. Amava (ήγάπα). Observe o verbo aqui: não é φιλεις, como no versículo 3. Vide
nota sobre 5.20. Lázaro não é mencionado em Lc 10.38ss.
Tom as (υπάγεις). Deixas esse retiro seguro? Vide nota sobre 6.21; 8.21.
caminhar.
11. Dorme (κεκοίμηται). Mais corretamente, como na rv, tem adormecido. Vide
nota sobre At 7.60; 2Pe 3.4.
105. Trench (Synonyms) parece negligenciar a exceção de 2Co, embora cite a passagem. Ele diz que
χρίεiv está absolutamente restrito à unção do Filho pelo Pai, p. 131.
164
João - C ap. 1 1
15. Por amor de vós - para que acrediteis. Essas duas orações, que estão se
paradas na a r c e na nvi, na ordem grega, estão juntas: por amor de vós para que
acrediteis·, sendo a última parte a explicação da primeira.
Isto concorda maravilhosamente com a propriedade divina que lemos de ninguém ter
morrido enquanto o Príncipe da vida estava presente. Se você supõe que, na presença de
Jesus, a morte não podia atacar Lázaro, a linguagem das duas irmãs, versículos 21 e 32,
tem um sentido mais sublime; e explica-se a alegria do Senhor por sua própria ausência.
Com ele (προς αύτόν). Mais tocante. Com ele, como se ele ainda estivesse vivo.
A morte não quebrou o relacionamento pessoal do Senhor com seu amigo.
Morrermos. Westcott comenta: “Ele morrerá pelo amor que tem, mas não
afetará a fé que não tem”.
17. Já havia quatro dias que estava na sepultura (τέσσαρας ημέρας ήδη ’έχοντα
έν τω μνημίίω). Literalmente, verificou que ele já estava no sepulcro havia quatro dias.
19. M uitos dos judeus tinham ido. Sentido correto, tinham ido. O tempo é o
mais-que-perfeito. A amizade de Lázaro com Jesus não o fez ser considerado um
apóstata, em cujo funeral toda indignidade teria sido mostrada; caso em que, até
mesmo, as pessoas se vestiriam de branco, roupa festiva de demonstração de ale
gria. Aqui, ao contrário, parece que foi demonstrado todo sinal de solidariedade
e de respeito.
A M arta e a M aria (προς τάς irtpi Μάρθαν και Μαρίαν). Literalmente, por
aqueles ao redor de Marta e Maria; uma expressão idiomática grega para Marta e
Maria e seus companheiros, ou presentes. Compare com oí περ'ι τον Παύλον, Paulo
e os que estavam com ele (At 13.13). Nossa expressão familiar quando falamos em
visitar uma família é um tanto análoga: Vou aos Ramos ou Silvas, por meio da qual
165
J o â o - C ap. 11
20. Que Jesus vinha (ou 6 ’Ιησούς 6ρχ€ται). Literalmente, está vindo. As pala
vras exatas da mensagem foram: Jesus está vindo.
22. Pedires a Deus (αίτηση τον 0eóv). O verbo αίτέω é usado para o pedido de
um inferior a um superior. O verbo έρωτάω significa pedir em termo de igualdade
e, por isso, é sempre usado por Cristo em relação ao seu próprio pedido para o
Pai, no conhecimento de sua igual dignidade. Por isso, Marta, conforme Trench
observa, “revela claramente sua concepção errônea e inadequada da pessoa dele,
no fato de que ela não reconhece nele nada além de um profeta, quando ela atri
bui o que pediu (αίτεΐσθαι) a Ele, o que Ele nunca atribui a si mesmo”106. Bengel
diz: “Marta não fala em grego, contudo João expressa o comentário inexato dela,
o qual o Senhor gentilmente tolera”. Vide nota sobre Mt 15.23.
Todo crente, na realidade e para sempre, está protegido da morte. Morrer com luz total,
na clara certeza da vida que está em Jesus, morrer só fiara continuar a viver para Ele não é
mais aquele fato que na linguagem do homem é designado pelo nome de morte. É como se
Jesus tivesse dito: ‘Em mim a morte é certeza de viver, e o viver é certeza de nunca morrer”
166
J oão —C ap. 11
Esteja morto (άποθάνη). O aoristo denota um evento, não uma condição. Por
isso, a tradução da a r a , ainda que morra, é muito melhor.
Está aqui (πάρεστιν). Literalmente, está presente. Na t e b , está aí. Na bj, está aqui.
29. Levantou-se £...] e foi (ήγέρθη και ήρχετο). O aoristo, levantou-se, assinala
um ato único e instantâneo de levantar-se. O imperfeito, estava indo, assinala o
progresso em direção a Jesus.
Saíra (υπάγει). Afastara-se da nossa companhia. Vide nota sobre 6.21; 7.21.
Para chorar ("ίνα κλαύστ)). Na t e b , lamentar. A palavra quer dizer chorar alto.
VideMt 2.18; Mc 5.38; e nota sobre Lc 6.21; 7.32.
35. Chorou (èôÓKpuoev). Um verbo diferente daquele do versículo 31. De δάκρυ, lágri
ma, com o sentido de derramar lágrimas, chorar silenciosamente. Ocorre somente aqui no
texto do Novo Testamento. Κλαίω, chorar defir m a audível, é usado uma vez para nosso
Senhor em Lc 19.41. Segundo Godet: “O próprio Evangelho em que a divindade de
Jesus é afirmada com mais clareza também é aquele que nos deixa mais familiarizados
com o lado profundamente humano de sua vida”. Pode-se perceber, até mesmo pelo es
tudo superficial dos clássicos, até que ponto essa concepção de divindade está desligada
no ideal pagão. Os deuses e deusas de Homero choram e urram quando são feridos,
mas não se comovem com o sentimento de insegurança do homem107[vide nota sobre
3.16). Gladstone afirma: “Os deuses, embora distribuam aflições sobre a terra, as quais
não são suavizadas por amor nem suscitadas por um propósito disciplinador distinto,
cuidam de manter-se além de todo toque de pesar ou cuidado”.
107. Talvez a abordagem mais próxima desse sentimento em Homero seja o caso de Tétis, choran
do por seu filho Aquiles e também com ele (Homero, Ilíada, i, 360; xviii, 51, 66).
108. Homero, Ilíada, xxiv, 525.
109. Eurípedes, Hipólito, tradução J. B. de Mello e Souza. Disponível em: < http:// www.ebooksbra-
sil.org/eLibris/hipolito.html>. Acesso em: 28 jun. 2013.
110 . Juvenal, Sátiras, xv, 131-133.
168
João - C ap. 11
36. Amava (εφίλει). Não a palavra do versículo 5. Vide nota sobre 5.20, e com
pare com 20.2.
Fazer também etc. Esse dito dos judeus deve ter sido proferido com ironia, caso
em que lança luz no sentido de moveu-se muito em espírito (v. 33) e de mover-se em si
mesmo no versículo seguinte. Mas as palavras podem ter sido ditas com sinceridade.
38. Posta (επέκει,το). Esse seria o sentido se o sepulcro fosse um buraco vertical;
mas se ele fora escavado horizontalmente na rocha, talvez tivesse o sentido de
posta contra. A tumba tradicional de Lázaro é do primeiro tipo, e descia-se nela
por uma escada.
39. Tirai. A pedra fora colocada sobre a entrada principal para guardar a tumba
contra animais selvagens e podia ser removida com facilidade.
1 1 1 . Como obras por Fra Angélico (Florença), Bonifazio (Louvre) e a soberba pintura de Sebastian
del Piombo, na Galeria Nacional, Londres.
169
J oão — C a p . 11
L e n ç o (σ ο υ δ α ρ ίω ). Vide n o ta sob re Lc 1 9 .2 0 .
Lá, ao menos, tenho esperança de que minha chegada agradará a meu pai, a minha
mãe, e também a ti, meu irmão querido!112
E novamente:
Querida, como sempre fui, por ele, com ele repousarei no túmulo... com alguém
a quem amava; e meu crime será louvado, pois o tempo que terei para agradar
aos mortos, é bem mais longo do que o consagrado aos vivos... Hei-de jazer sob a
terra eternamente!...113
112 . Sófocles, Antigone, tradução J. B. de Mello e Souza. Disponível em: < http://www.ebooksbra-
sil.org/eLibris/antigone.html>. Acesso em: 28 jun. 2013.
1 13. Ibid.
170
J oão - C a p . 11
E novamente:
Ela replica:
Na família de Betânia, o pesar das duas irmãs, ao contrário do pesar das don
zelas gregas, não está misturado com nenhum outro sentimento, salvo talvez o
matiz de um sentimento beirando a reprovação de que Jesus não estava lá para
impedir que a calamidade se abatesse sobre elas. Elas não expressam conforto
pela esperança de se reunir ao morto, e a doutrina de uma futura ressurreição,
dificilmente, está sugerida na declaração delas, doutrina essa que, para elas, é
um assunto genérico, tendo pouco ou nada que ver com pesar pessoal. Nesse
particular, até o ponto em que a expressão indica, a vantagem está do lado da
donzela tibetana. Embora sua esperança seja resultado de seu afeto, em vez de
seu treinamento religioso —um pensamento considerado o filho de um desejo —
ela nunca perde seu entendimento da expectativa de alegria de se juntar ao seu
ente querido morto.
Mas a história do Evangelho contrasta de forma mais forte com a literatura
clássica pela verdade da ressurreição que, na pessoa e energia do Senhor da vida,
171
João — C ap. 11
domina a narrativa. Jesus entra de uma vez por todas como o consolo do amor
enlutado e a solução eterna do problema de vida e morte. A ideia que Electra
despreza como insana é, aqui, um fato realizado. Por mais bonita, maravilhosa que
seja a ação que o drama desenvolve do conflito do amor fraternal com a morte, a
cortina cai sobre a morte como a vitoriosa. Na história do Evangelho, Jesus traz
uma boa ação, uma lição e um triunfo. Sua calorosa solidariedade, suas palavras
reconfortantes, suas lágrimas no túmulo do amigo estão em relevante contraste
com a atitude política, tímida e, às vezes, injuriosa do coro de velhos tebanos em
relação a Antigone. A consumação das duas tragédias é o horror absoluto e não
aplacado. O suicídio resolve o problema para Antigone, e Electra recebe seu irmão
de volta, como se tivesse voltado do mundo dos mortos, uma vez que foi dado como
morto, só para incitá-lo a matar e a exultar com ele sobre as vítimas. É uma bela
característica da narrativa do Evangelho o fato de que ela parece, por assim dizer,
retirar-se com uma delicadeza instintiva da alegria dessa família reunida de novo.
Ela para abruptamente com as palavras: “Desatai-o e deixai-o ir”. Só a imaginação
segue as irmãs com o irmão, possivelmente com Cristo, atrás da porta fechada e
ouve a conversa sagrada dessa maravilhosa comunhão. Tennyson, com uma per
cepção verdadeira e profundamente cristã, descobriu sua tônica.
45. O que Jesus fizera. Os melhores textos omitem Jesus. Alguns registram ó,
aquilo que Ele fez; outros, a, as coisas que.
46. Alguns deles. Não dos judeus que foram até Maria, mas alguns dos judeus,
talvez alguns dos que reuniram a multidão por curiosidade.
172
J oão - C a p . 11
48. O nosso lugar e a nação (τον τόπον καί το έθνος). Lugar, ο templo e a cidade
(At 6.13; 21.28; Mt 24.15). Nação, a organização civil. Vide nota sobre lPe 2.9;
Lc 2.32. No Sinédrio estavam muitos aliados devotados de Roma, e o resto estava
bem consciente da debilidade do poder nacional.
49. Caifás. Saduceu que deteve seu cargo por dezoito anos.
Naquele ano. Isso é mencionado para mostrar que João cometeu um erro histó
rico, uma vez que, de acordo com a lei mosaica, o sumo sacerdócio era mantido pela
vida toda. O fato de haver três ocorrências da expressão (w. 49,51) é relevante e,
longe de indicar um erro, liga o cargo de Caifás com sua participação na execução
da morte de Cristo. O cargo delegava ao sumo sacerdote oferecer todo ano o grande
sacrifício de expiação pelo pecado; e naquele ano, aquele ano memorável, caiu a Caifás
ser o instrumento do sacrifício daquele que afastou o pecado do mundo. Dante põe
Caifás e seu sogro, Anás, bem no fundo do inferno, no fosso dos hipócritas:
173
J oão - C ap. 12
O Deão Plumptre sugere que a punição descrita pelo poeta parece reproduzir
o pensamento de Is 51.23.
50. Povo - nação (του λαοϋ - τό έθνος). O primeiro é a nação teocrática, o povo
de Deus; a segunda é o corpo político. Vide nota sobre lPe 2.9.
52. Nação (έθνους). João não usa a palavra λαός, povo, que Caifás acabou de empregar.
Os judeus não eram mais um povo, mas apenas uma das nações do mundo. Ele quer
estabelecer os gentios em contraposição com os judeus, e essa distinção era nacional.
Além disso, João aponta pelo uso dessa palavra o fato de que a obra de Cristo não foi
para ser de algum povo especialmente escolhido por Deus, mas para todas as nações.
Eíraim. O local é incerto. Comumente tido como Ofra (lSm 13.17) ou Efraim
(2Cr 13.19) e identificado com et-Taiyibeh, a 25,7 quilômetros de Jerusalém e
situada em uma colina que domina o vale do Jordão.
C apítulo 12
174
João —C ap. 12
Os pobres (πτωχοίς). Vide nota sobre Mt 5.3. Sem artigo: para pobres.
6. E tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava (και το γλωσσόκομον eíxe, κα'ι
τα βαλλόμενα έβάσταζεν). Os melhores textos trazem ’έχων, tendo, e omitem o
segundo και, e. Assim, a tradução deveria ser: e tendo a boba etc.
120 . Alguns sustentam o significado de tirar ou carregar para Mt 8.17 e Jo 20.15 (como Thayer,
Lexicon). Penso que o primeiro é mais que duvidoso. Meyer declara que isso é “contrário ao
sentido”. De Wette e Lange traduzem por carregava. O Cônego Cook diz: “As palavras esco
lhidas por Mateus eliminam a suposição de que ele aplica as palavras do profeta, ao contrário
do sentido do original, à mera remoção de doenças ao curá-las”. As palavras em Mateus são
uma citação de Is 53 .4, que Cheyne (Prophecies of Isaiah) traduz: “com certeza, ele levou nossas
doenças, e nossas dores ele as carregou”. A lxx : “Este homem carrega pecados e é afligido por
nós”, símaco : “Sem dúvida, ele carregou nossos pecados e aguentou nossos labores”. Eder-
sheim comenta que “as palavras, conforme apresentadas por Mateus, são mais verdadeiramen
te um targum neotestamentário do original”. Delitzsch, que acha que o significado de tirar está
incluído no sentido da palavra hebraica nãsã’(ityj), admite que seu significado principal é: ele
recolheu, removeu. O significado em Jo 20.25 pode ser explicado como em Jo 12 .6, determinado
pelo contexto, embora possa ser traduzido por: se o tivesses tomado. Field (Otium Norvicense) cita
uma passagem de Diógenes Laércio (iv, 59) em que é dito que Lacides, sempre que tirava algu
ma coisa de sua despensa, costumava, depois de lacrar, jogar o selo, ou anel, no poço, para que
nunca pudesse ser tirado de seu dedo e nenhuma das despensas fossem roubadas (βασταχθ^ίη).
175
J oão —Cap. 12
7. Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto (αφες αυτήν εις την
ημέραν του ενταφιασμού μου τετήρηκεν αυτό). Essa passagem apresenta grande
dificuldade. De acordo com essa leitura, o sentido é que Maria guardara o unguento,
talvez do estoque providenciado para o enterro de Lázaro, em contraste com o dia
da preparação de Cristo para a tumba. A palavra ενταφιασμού é traduzida incorre
tamente por sepultamento. Ela tem o sentido de preparação para sepultamento, a ar
rumação do corpo ou embalsamento. A passagem de 19.40 explica-a como a amarração
em panos de linho com especiarias: “como os judeus costumam fazer para preparar
para o sepultamento (ένταφιάζειν)”, não para sepultar (cp. kjv ). É a expressão em latim,
pollingere, lavar e preparar o corpo para apirafiinebre. Por isso, o nome do servo a quem
essa tarefa era atribuída era polinctor. Ele era um escravo de libitinarius, ou coveiro.
Assim, Maria guardou o unguento a fim de embalsamar Jesus com ele nesse dia,
como se Eleja estivesse morto. Esse é o sentido nos Sinópticos. Mateus (26.12) diz:
fi- lo preparando-me para o meu sepultamento. Marcos: antecipou-se a ungir.
Contudo, a leitura do t r é debatida. Os melhores críticos textuais concordam que
o perfeito, τετήρηκεν, tem guardado, foi substituído pela leitura original τηρήση, o ao-
risto, pode guardar, ou pode ter guardado, por alguns que tentavam harmonizar o texto
com Mc 14.8; sem entender como ela poderia guardar para o enterro dele aquilo
que derramava agora. Contudo, alguns argumentam exatamente o oposto, a saber,
que o perfeito é a leitura original e que o aoristo é a correção feita pelos críticos que
estavam ocupados com a noção de que nenhum homem é embalsamado antes de sua
morte, ou que não entendiam como o unguento já podia ser guardado, como se fosse
possível supor naturalmente que acabara de ser comprado (como Godet e Field).
De acordo com a leitura correta, iva, para, é inserido depois de αφες αύτήν,
deixem -na em p a z , ou permitam-na·, τετήρηκεν, guardou, é mudado para τηρήση,
pode guardar, e o todo é traduzido: perm itam -na g u ardar isto para o dia de meu
sepultamento. Como na rv.
Mas é difícil perceber por que Cristo desejaria que fosse guardado para seu
sepultamento o que já fora derramado sobre Ele. Alguns, como Meyer, assumem
que só uma parte do unguento foi derramada e αύτό, isto, se refere à parte res
tante. “Deixem-na em paz, ela não pode dar para o pobre esse unguento de que já
usou uma porção para ungir meus pés, mas deve guardá-lo para o dia do meu em
balsamento.” O Cônego Westcott inclina-se para essa percepção do uso de só uma
parte. Mas a inferência das narrativas dos Sinópticos pode ser que só o conteúdo
todo do frasco foi usado, e a menção, de João, à libra e à acusação de desperdício
tem o mesmo efeito. Não há nada que justifique uma suposição contrária.
Outros explicam: deixem -na p o r ter guardado isto, ou deixem -na para que possa
guardar isto. Como Westcott, que diz: “A expressão idiomática por meio da qual
o falante se lança no passado e observa o que é feito como ainda um propósito é
comum a todas as línguas”.
176
João - C ap . 12
Outros ainda, mais uma vez, retêm o sentido: deixem-na em paz, e traduzem
ΐνα, para, com uma elipse, deste modo: “Deixem-na em paz; (ela não vendeu seu
tesouro) para que possa guardar isto” etc.
A tradução antiga, como na k j v e a r c , é a mais simples e fornece um sentido
perfeitamente inteligível e consistente. Contudo, se essa tradução deve ser re
jeitada, parece melhor, no todo, adotar a leitura paralela da r v , com 'iva elíptica:
deixem-na empaz; istofoi para que ela pudesse guardá-lo. Assim, preserva-se a força
proibitória de αφες αύτήν, implícita em Mt 26.10 e inquestionável em Mc 14.6.
Compare com Mt 15.14; 19.14; 27.49121.
Observe que a promessa da futura reputação desse ato (Mt 26.13; Mc 14.9)
é omitida pelo único evangelista que registra o nome de Maria em conexão
com ele.
9. Muita gente (όχλος πολύς). Os melhores textos inserem o artigo, o que trans
forma a expressão em uma frase usual, as pessoas comuns. Como na r v .
12. Uma grande multidão (δχλος πολύς). Alguns editores acrescentam o artigo
e traduzem: as pessoas comuns.
13. Ramos de palmeira (τά βαΐα των φοινίκων). A a r c omite os dois artigos:
os ramos das palmeiras. O termo βαΐα ocorre somente aqui no texto do Novo
Testamento e quer dizer ramos de palmeira ou, estritamente, topo da palmeira,
onde o fruto é produzido. De palmeiras pode ter sido acrescentado por João para
leitores não familiarizados com o termo técnico, mas a expressão ramos das
palmeiras é semelhante a chefe da casa (οικοδεσπότης τής οικίας, Lc 22.11). Em
geral, os artigos são explicados como designando as árvores que ficavam nas
laterais da rota da procissão. Alguns acham que eles apontam para os conheci-
121 . Field (Otium Norvicensé), que defende τετήρηκεν, observa que “a conjectura de que o unguento
possa ter sido reservado daquele usado no enterro de Lázaro não é fantasiosa, mas um ex
celente exemplo de coincidência não programada, uma vez que nunca perceberiamos a pro
priedade da expressão podia vender-se, dos dois primeiros Evangelhos, se João não nos tivesse
ajudado com seu τετήρηκευ, guarded’.
177
João - C ap. 12
dos ramos de palmeira que tem conexão com a Festa dos Tabernáculos. Acerca
dos diferentes termos empregados pelos evangelistas para “ramos”, vide nota
sobre Mc 11.8.
19. Vão após ele (όπίσω αύτοΰ άπήλθεν). A expressão ocorre somente aqui.
Literalmente, vão embora.
20. Gregos ("Ελληνες). Gentios, não helênicos. Vide nota sobre At 6.1. Jesus
entrou em contato com o mundo gentio em seu nascimento (os magos) e no fim
de seu ministério.
22. Filipe - André. Eles aparecem juntos em 1.45; 6.7-8. Compare com Mc 3.18.
tam, com o mesmo símbolo empregado por Cristo aqui, o cru conceito pagão
de vida surgindo da morte.
Só (αυτός μόνος). Literalmente, ele mesmo só. Na rv , por si só, na n t l h , apenas um grão.
Neste mundo. Essa economia terrena vista como estranha e hostil por Deus.
As palavras são acrescentadas a fim de explicar a forte expressão aborrece a sua
vida ou alma.
26. Serve (διακονή). Vide nota sobre Mt 20.26; Mc 9.35; lPe 1.12.
Muita da exata força do registro de são João das palavras do Senhor parece depender
de concepções distintas das duas formas sob as quais a paternidade de Deus é descrita.
Diz-se que Deus é como "o Pai” e como “meu Pai”. Em geral, pode-se dizer que o pri
meiro título expressa o relacionamento original de Deus com o ser e, sobretudo, com a
humanidade em virtude da criação do homem à imagem divina; e o segundo expressa
mais particularmente a relação do Pai com o Filho encarnado e, por isso, de forma
indireta com o homem em virtude da encarnação. O primeiro título sugere aqueles
pensamentos que brotam da avaliação da absoluta ligação moral do homem com Deus;
o último, aqueles que surgem do que é se faz conhecido para nós por meio da revelação
da ligação do Filho encarnado com Deus e com o homem. “O Pai”, sob esse aspecto,
corresponde ao grupo de idéias reunidas nos títulos do Senhor, “o Filho”, “o Filho do
homem”; e “meu Pai”, àquelas reunidas nos títulos “o Filho de Deus”, “o Cristo”.
27. Minha alma. Vide referências na nota sobre o versículo 25. A alma, ψυχή,
é a moradia das afeições humanas, o espírito (πνεύμα) é a moradia das afeições
religiosas.
moveu-se em espírito (τώ πνεύματι). Sua agitação interior não surgiu de sofrimento
pessoal nem de empatia, mas do mesmo choque para seu senso moral e espiritual.
Que direi eu? Expressão natural das profundezas da humanidade de nosso Se
nhor: como devo expressar minhas emoções? Alguns comentaristas ligam isso com
a oração seguinte.· devo dizer Pai, salva-me desta hora etc. Mas isso não concorda com
o contexto e representa uma hesitação na mente de Jesus que não tem lugar ali122.
Para isso. Explicado pelo glorifica o teu nome. Para isso, a saber, que o nome do
Pai possa ser glorificado.
30. Por amor de mim. Enfático na ordem grega. Essa voz não veio por amor de mim.
32. For levantado (ύψωθώ). Vide nota sobre 3.14. A referência original é à cruz,
mas foi incluída uma referência à ressurreição e à ascensão. Bengel diz: “Na cruz
mesmo já havia algo tendendo à direção da glória”. Na t e b , elevado.
122. Meyer comenta com agudeza que essa tradução “traz o resultado de uma verdadeira oração
entremeada em monólogos reflexivos e, por isso, é menos adequada a uma estrutura de mente
tão profundamente comovida”.
181
João- C ap. 12
Todos (πάντας). Algumas altas autoridades leem πάι/τα, todas as coisas.
A mim (προς έμαυτόν). Essa forma está correta, a mim, em contraste com o
príncipe deste mundo.
35. Convosco (μ€0’ υμών). Os melhores textos trazem èv ύμιν, entre vós. Como
na teb.
Para que as trevas vos não apanhem (ίνα μή σκοτία ύμάς καταλάβω). Ο texto
da NVi é melhor: para que as trevas não os surpreendam. Acerca de surpreendam, vide
nota sobre apanha, Mc 9.18; e informados, At 4.13.
40. Cegou-lhes os olhos etc. Essas palavras de Isaías são repetidas cinco vezes
no texto do Novo Testamento como a descrição do povo judeu em seu último
estágio de decadência. Mt 13.13; Mc 4.12; Lc 8.10; Jo 12.40; At 28.26.
Dele. Cristo.
42. Até muitos dos principais (κα'ι ék των αρχόντων). Na rv, de forma mais
hábil e acurada, até dos líderes.
182
J oão — C a p . 12
Creram nele (επίστευσαν εις αυτόν). Vide nota sobre 1.12. Deve-se observar
que, aqui, João usa essa fé imperfeita que se recusa a se completar na confissão,
a fórmula para a fé perfeita. Compare com creram no seu nome (2.23), e vide nota
sobre essa passagem.
43. Glória (δόξαν). É uma forma muito melhor porque sugere contraste com a
visão da glória divina mencionada no versículo 41. Compare com o versículo 44.
Do que (ηπερ). A palavra não pode ser traduzida por uma palavra correspon
dente em nossa língua. A força é: “mais do que a glória de Deus, embora Ele seja
muito mais glorioso”. Não encontramos a palavra em nenhuma outra passagem do
Novo Testamento. Algumas autoridades leem υπέρ, acima, do alto.
44. Clamou (εκραξεν). Não se pretende que isso se relacione com um reapareci
mento de Jesus em público. O encerramento de seu ministério público é mencio
nado no versículo 36. Esse clamor dá continuidade aos próprios comentários do
evangelista e introduz um resumo do ensinamento passado de Jesus para os judeus.
Crê - naquele que me enviou (πιστεύει -ε ις τον πέμψαντά με). Esta é a primei
ra e quase a única passagem desse Evangelho em que as palavras crer em são usadas
com referência ao Pai. A tradução no versículo 24 é um erro. Vide 14.1. A frase é
constantemente associada com nosso Senhor. Ao mesmo tempo, é preciso observar
que ela contempla o Pai como a fonte da revelação especial de Cristo e, por isso,
não é absolutamente uma exceção ao uso habitual. O mesmo é verdade para 14.1.
47. Não crer (μή πιστεύστ)). Os melhores textos trazem φυλάξτ), (as) guardar.
Como na t e b .
Vim (ήλθον). O tempo aoristo aponta para o propósito da vinda, como o vim
(v. 46) aponta para o resultado. Compare com 8.14; 9.39; 10.10; 12.27,47; 15.22.
Encontramos os dois tempos em 8.42; 16.28.
49. De mim mesmo (4ξ 4μαυτοϋ). De dentro de mim mesmo. Essa fórmula ocorre
somente aqui. A expressão usual é άπ’ 4μαυτοΰ. A preposição άπό, da parte de,
como distinta de 4k, de dentro de, marca, antes, o ponto de partida como a fonte
viva e convincente daquilo que é apresentado a seguir. Em 7.17 lemos: “Se ela é
de dentro de Deus (4κ του Θεού) ou se eu falo da parte de mim mesmo (απ’ εμαυτοϋ)”.
Deu (εδωκεν). Os melhores textos trazem δεδωκεν, o tempo perfeito, tem dado-,
o resultado do dom continua até agora. Como na r v .
C a pítu lo 13
1 . Antes da festa da Páscoa. Essa oração é para ser interpretada com ήγάπησεν,
amou, no fim desse versículo. Observe que João, ao mencionar a Páscoa aqui,
abandona a frase explicativa dos judeus (11.55). Não é a Páscoa dos judeus que
Jesus está para celebrar, a qual degenerou em uma forma vazia, mas a ordem na-
184
J oão - C ap . 13
Passar (μεταβη). A preposição composta μετά quer dizer passar de uma esfera
para outra.
Os seus (τούς ίδιους). Vide nota sobre At 1.7. Compare com 17.6ss.; At 4.23;
24.23; lTm 5.8; Jo 1.1 1 .
Amou-os (ήγάπησεν). Observe que João usa a palavra indicando o afeto discri
minatório: o amor de escolha e de seleção. Vide nota sobre o versículo 20.
185
João - C ap. 13
Ia (ύπάγβ,). Tempo presente: vai; voltando das cenas da terra. Observe a ordem
original: quefoi de Deus que Ele saiu, epara Deus Ele está indo.
Toalha [Xkvziov). Uma palavra latina, linteum. Um pano de linho. Ocorre so
m e n t e aqui e no versículo 5. Na t e b , pano.
123. Godet, com sua conhecida aversão por afastamentos do t r , sustenta a leitura yevopévou, e
explica γινομένου por quando o repasto começou como repasto, acrescentando que a correção foi
feita a fim de localizar a lavagem de pés no início da refeição, o momento costumeiro para
fazer isso. Porém, a realização do ato durante o curso da refeição é indicado pelas palavras do
versículo 4: Levantou-se da (έκ) ceia.
124. Estou surpreso de descobrir que foi adotado por Milligan e Moulton.
186
Jo â o - C ap. 13
6. Tu lavas (σύ μου νίπτεις)? Os dois pronomes, tu, mim, permanecem juntos no
início da sentença em contraste enfático. Tu a mim lavas os pés?
10. Aquele que está lavado - lavar [(...3 os pés (ό λελουμένος - νίψασθαι). A a r c
elimina a distinção entre λούω, banhar, aplicar água no corpo todo, e νίπτω, lavar
uma parte do corpo. Assim, quando Dorcas morreu (At 9.37), elas banharam seu
corpo (λούσαντες). O provérbio em 2Pe 2.22 é sobre a porca que foi toda banhada
(λουσαμένη). Por outro lado, aquele que jejua deve lavar o rosto (Mt 6.17).
No texto do Novo Testamento, os dois verbos são sempre usados para seres vivos.
A palavra para lavar coisas, como redes, vestes etc., é πλύνω. Vide Lc 3.2. Todos
os três verbos ocorrem em Lv 15.11 (lxx ).
1 1 . Quem [[...3 havia de trair (τον παραδιδόντα). Literalmente, aquele que está train
do. Como em Mt 26.2, o tempo presente é usado, está sendo traído (παραδίδοται). Vide
nota sobre Mt 4.12, e compare com προδότης, traidor, Lc 6.16; At 7.32; 2Tm 3.4.
13. Exemplo (υπόδειγμα). Acerca das três palavras usadas no texto do Novo
Testamento para exemplo, υπόδειγμα, τύπος e δείγμα, vide nota sobre 2Pe 2.6;
lPe 5.3; Jd 7.
17. Bem-aventurados (μακάριοι). Melhor como na nvi, felizes. Vide nota sobre
Mt 5.3.
18. Tenho escolhido (εξελεξάμηη). Tempo aoristo, eu escolhí. Não eleito para a
salvação, mas escolhido como apóstolo.
Que se cumpra a Escritura etc. (ΐνα). Elíptico. Devemos suplentar que essa
escolhafo i feita para que etc.
Pão comigo (μετ’ ψού τον optou). Alguns editores leem μοί) τον άρτον, meupão.
19. Agora (άπ’ άρτι). A arc traz corretamente desde agora. Compare com 1.52;
14.7; Mt 23.39.
Eu sou (4γώ είμι). Na ntlh, E u so u quem sou. Vide nota sobre 8.24.
21. Turbou-se em espírito. Vide nota sobre 11.33; 12.27. A agitação era na re
gião mais elevada da vida espiritual (πνεύμα).
Ele falava (λέγει). O tempo presente, fala, foi introduzido para criar o efeito
de vivacidade.
Peito. Vide nota sobre Lc 6.38. Os Sinópticos não relatam esse incidente.
Para que perguntasse quem era (πυθέσθαι τίς αν £Ϊη). Os melhores textos
trazem καί Ãéyei αύτφ ei/trè τίς έστιν, e disse a ele: Diga-nos quem é.
25. Inclinando-se (έπιπεσών). Esta palavra literalmente quer dizer cair so
bre, e é traduzida dessa maneira em quase todas as ocorrências no texto do
Novo Testamento. Em Mc 3.10, ela aplica-se às multidões, que se arrojavam
sobre Cristo. Contudo, ela não ocorre em nenhuma outra passagem em João,
e, por isso, algumas das melhores autoridades leem αναπνοών, inclinando-se,
verbo que João usa diversas vezes no Evangelho, como no versículo 12128.
Como na r v . Qualquer uma das duas leituras aponta a distinção, perdida
pela kjv ao traduzir deitado, entre ήν άνακ€ΐμενος (v. 23), que descreve a
posição reclinada de João ao longo da refeição, e a repentina mudança de
posição retratada por άναπεσών, inclinando-se. A distinção é reforçada pela
preposição distinta em cada caso: reclinado no (ev) seio de Jesus e inclinan
do-se para trás (άνά). Mais uma vez, as palavras seio e peito representam
palavras distintas no grego: κόλπος representa mais geralmente a curva
formada pela parte dianteira da pessoa reclinada, o regaço, colo, e στήθος, o
peito propriamente dito. No texto do Novo Testamento, o verbo άναπίπτω,
inclinar-se, sempre descreve uma mudança de posição. É usado para a incli
nação para trás do remador para dar uma nova remada. Platão, na conheci
da passagem de Fedro, na qual a alma é descrita sob a figura de dois cavalos
e um charreteiro, diz que o charreteiro tem medo quando contempla a visão
do amor e cai para trás (άν^πβσ^ν), de maneira que faz com que os cavalos
fiquem sobre suas ancas.
128. O afeto de Godet pela “leitura recebida” leva-o umtanto alémdos limites quando diz que
άναπ€σών"pareceabsurdo”.
190
J oão - Cap. 13
[[Como ele estava]] (ούτως). Inserido pelos melhores textos e não encontrado
na arc. Reclinado como ele estava, inclinou-se. Na tb, “aquele discípulo, assim re
clinada, encostou-se”. A atitude geral de reclinação foi mantida. Compare com 4.6:
“Assentou-se assim (ούτως) junto da fonte”. De acordo com a instituição original,
a Páscoa era para ser comida de pé (Ex 12.11). Depois do cativeiro, o costume
mudou, e os convidados passaram a reclinar-se. Os rabinos insistiam que, pelo
menos, parte da ceia de Páscoa devia ser feita naquela posição, porque eram os
escravos que comiam assim de pé, e a posição reclinada mostrava que haviam
sido libertos da escravidão.
Peito (στήθος). De 'ίατνμι,fazer levantar. Daí aquele que se sobressai. Em escritos pos
teriores, João ficou conhecido como ό ςπιστήθιος, aquele sobre o seio ou o amigo dopeito.
191
JoAo —Cap. 13
Quemjá testemunhou adoação emummonastériocatólico ou no pátio dopalácio de
umbispoou arcebispo da Espanha ou Sicilia, onde imensas receitas são injetadas em
quantias insignificantes para rebanhos de mendigos, será que sente aforça do uso de
ψωμίσωumtanto irônico do apóstolo?
27. Após o bocado (tóte). Com ênfase peculiar marcando o ponto decisivo no
qual Judas, finalmente, cometeu sua mais tenebrosa obra. Se o sinal de boa vonta
de que Jesus ofereceu não abrandasse o coração dele, então o endurecería; e Judas
parece tê-lo interpretado como uma confirmação de seu propósito.
Para a festa (elç τήρ έορτήρ). Essa é a melhor tradução. A festa da Páscoa.
A refeição que estiveram compartilhando era a refeição preliminar, no encerra
mento da qual a Páscoa era celebrada; da mesma maneira como, subsequente
mente, a eucaristia era celebrada no encerramento do ágape, ou festa do amor.
Observe a palavra diferente, èopτ\\, festa, em vez de ôclitvop, ceia, e o artigo
usado com festa.
30. Judas (€Κ6Ϊνος). Na kjv , ele. Vide nota sobre o versículo 27.
31. Agora. Marcando uma crise na qual Jesus é liberado da presença do traidor
e aceita as consequências de sua traição.
Em si mesmo (kv έαυτω). Sua glória estará contida na glória divina e será
identificada com ela. Compare com “aquela glória que tinha contigo”, παρά σοί
(17.5). Έν, em, indica unidade de ser, παρά, com, unidade deposição.
Agora (άρτι.). No versículo 31, agora corresponde a νΰν, o que marca de forma
absoluta um ponto no tempo. Já o termo άρτι marca o ponto no tempo enquanto
relacionado com o passado ou com o futuro. Por isso, “desde os dias de João Ba
tista até agora” (άρτι; Mt 11.12). “Ou pensas tu que eu não podería, agora (άρτι),
orar a meu Pai?”, embora a ajuda tenha sido adiada até agora (Mt 26.53). Aqui a
193
Jo ã o - C ap . 13
Que (iva). Com sua usual força télica132; indicando o escopo, e não apenas a for
ma ou natureza do mandamento.
Meus discípulos (έμοί μαθηταί). Vide nota sobre M t 12.49. Literalmente, dis
cípulos para mim. Compare com 15.8.
37. Agora (άρτι). Sem esperar por um tempo futuro. Vide nota sobre o versícu
lo 33, e compare com νϋν, agora, no versículo 36.
38. Tu darás a tua vida? Para uma repetição similar das próprias palavras de
Pedro, vide nota sobre 21.17.
Capítulo 14
Credes - crede também (πιστεύετε κα'ι πιστεύετε). Os verbos podem ser en
tendidos como indicativos ou imperativos. Assim, podemos traduzir: vós credes em
Deus, vós credes também em mim, ou: crede em Deus e credes em mim-, ou: crede em Deus
e crede em mim-, ou, uma vez mais, como na arc. A terceira tradução corresponde
à melhor, com o caráter animador do discurso.
2. Casa (οικία). O lugar de moradia. Usado principalmente para o prédio (Mt 7.24; 8.14;
9.10; At 4.34). Dafamília ou todas aspessoasque habitam na casa (Mt 12.25; Jo 4.53; lCo
14.15; Mt 10.13). De propriedade (Mt 23.14; Mc 12.40). O sentido aqui é céu133.
Vou preparar etc. Muitos intérpretes anteriores atribuem teria lhes dito a es
sas palavras e traduzem por teria lhes dito que vou preparar um lugar para vocês.
196
João- C ap. 14
Mas isso é inadmissível porque Jesus diz (v. 3) que Ele, na verdade, preparará
um lugar. A melhor tradução, se nãofosse assim, eu vo-lo teria dito, é considerada
parentética e conecta a sentença seguinte com há muitas moradas por meio de ότι,
pois ou porque, inserido pelos melhores textos. “Na casa de meu Pai há muitas
moradas (se não fosse assim, eu vo-lo teria dito), pois vou preparar-vos lugar”.
Vou preparar. Compare com Nm 10.33. Também com Hb 6.20: “Onde Jesus,
nosso precursor, entrou por nós”.
Lugar (τόποι/). Vide nota sobre 11.48. Assim, a moradia celestial é descrita por
meio de três palavras: casa, moradia, lugar.
3. Se eu for (èàv πορευθώ). Πορεύομαι, ir, da ida com um objetivo definido. Vide
nota sobre 8.21.
Virei outra vez (πάλιν έρχομαι). O tempo presente: venho, como na rv. Não
está limitado à segunda e gloriosa vinda do Senhor nos últimos dias nem a ne
nhuma vinda especial, como Pentecostes, embora estes estejam todos incluídos na
expressão; é para ser mais propriamente entendido como sua vinda e presença
contínuas por meio do Espírito Santo. Conforme Westcott: “Cristo, na verdade,
está desde o momento de sua ressurreição sempre vindo ao mundo, e à igreja, e
aos homens como o Senhor ressurreto”.
5. E como podemos saber o caminho (καί πώς δυνάμίθα την οδόν elôévoa). Os
melhores textos usam οΐδαμεν, conhecemos, em lugar de δυνάμ^θα, podemos saber,
lendo: como conhecemos o caminho. Como na r v . Alguns também omitem e antes
de como.
Segue-me, eusou o caminho, a verdade eavida (Jo 14.6). Semcaminho não se anda,
semverdadenãoseconhece, semvida nãosevive. Eu souocaminhoquedeves seguir,
averdadequedeves crer, avidaquedeves esperar. Eu souocaminho seguro, averda
deinfalível, avida interminável”131.
137. Thomasà Kempis, Im ita tio n o f Christ, iii, 56. Disponível em: < h ttp ://im ita ca o d ec risto .S O w e b s.
com/III_DA_CONSOLAO_INTERIOR.html>. Acessoem: 28 jun. 2013.
198
João - Cap. 14
7. Conhecésseis (έγνώκειτε). Preferivelmente, tivessem aprendido a conhecer, por
meio de minhas sucessivas revelações de mim mesmo.
10. De mim mesmo (άιτ’ εμαυτού). Na rv, melhor, da parte de mim mesmo. Vide
nota sobre 7.17.
O Pai, que está em mim, é quem faz as obras (ò δε πατήρ ò èv έμοί μενών,
αυτός ποιεί τα έργα). Os melhores textos trazem ό δε πατήρ εν εμο'ι μενών ποιεί
τα έργα αΰτου, ο Pai permanecente em mimfa z suas obras. Filipe duvida se Cristo
está no Pai, e se o Pai está nele. A resposta é dupla, correspondendo às duas par
tes da dúvida. Suas palavras são do Pai, e não faladas dele mesmo, pelo que Ele
as profere a partir do interior do Pai e está Ele mesmo no Pai. Suas obras são as
obras do Pai que vive nele; logo, o Pai está nele.
Por causa das mesmas obras (διά τα έργα αύτα). Literal mente, por conta das
próprias obras, sem considerar meu testemunho oral.
12. Obras £...] maiores. Não milagres mais notáveis, mas referindo-se à
obra mais abrangente do ministério apostólico sob a dispensação do Espírito.
Essa obra era de uma natureza mais elevada que as meras curas do corpo.
Godet diz com verdade: “Aquilo que foi feito por são Pedro no Pentecostes,
por são Paulo em todo o mundo, aquilo que foi feito por um pregador comum,
um único crente, ao trazer o Espírito para o coração, não pôde ser feito por
Jesus durante sua jornada neste mundo”. O ministério pessoal de Jesus na
carne deve ser um ministério local. Apenas sob a dispensação do Espírito ele
pôde ser universal.
13. Em meu nome. Primeira ocorrência da expressão. Vide nota sobre Mt 28.19.
Segundo Meyer, a oração é feita em nome de Jesus,
Westcott cita Agostinho para o efeito de que a oração em nome de Cristo deve
ser consistente com o caráter de Cristo, e de que Ele a cumpre como Salvador e,
por isso, apenas quando ela conduz à salvação.
14. Se perdirdes alguma coisa. Algumas autoridades inserem me. Como na teb.
Isso sugere oração a Cristo.
15. Guardareis (τηρήσετε). Essa é a leitura dos melhores textos. A kjv segue a
leitura τηρήσατε, guardais. Armazene em seu coração e preserve com cuidadosa
vigilância. Videnota sobre guardada, lPe 1.4.
138. O estudante encontrará a questão inteira discutida pelo Bispo Lightfoot (O n a Fresh R evision
o f the N e w Testament, p. 348); Julius Charles Hare (M issio n o f the Com forter, p. 348); e Cônego
Westcott (Introdução ao C om m entary on the G ospel o f John, Speaker’s Commentary, p. 211).
Vide também sua nota sobre lJo 2.1, em seu C om m entary on the E pistles o f John.
201
J oão - Cap. 14
os outros, também por intermédio daqueles a quem Ele o revela; e defende essa
verdade do que a passagem 1.17 chama de a graça e a verdade. £...] A verdade faz
com que todas nossas virtudes sejam verdade. Do contrário, há um tipo de falso
conhecimento, falsa fé, falsa esperança, falso amor; mas não existe nada como
falsa verdade.”
19. Vós vivereis (καί ύμεΐς ζήσεσθε). Pode também ser traduzido: e vós vivereis,
explicando a primeira declaração, vós me vereis. Como na t e b , em nota (Vós me ve
reis; porque eu vivo, vós vivereis também). Esta é melhor. João não está argumentan
do pela dependência da vida deles na de Cristo, mas pela comunhão com Cristo
como o fundamento para a visão espiritual.
D e onde vem (τί yéyovev). Literalmente, o que tem de acontecer. Sugerindo que
Judas achava que houvera alguma mudança nos planos de Jesus. Ele presumiu
que Jesus, como o Messias, revelar-se-ia publicamente.
23. Minha palavra (λόγον μου). Toda a mensagem do evangelho como distinta
de suas partes separadas ou mandamentos.
Morada (μονήν). Vide n o ta sobre o versículo 2. Compare com lJo 2.24; 5.15.
25. Estando convosco (μένων). A rv apresenta, de uma forma mais forte e mais
literal, enquanto a in d a perm anecendo.
[(Ele)] (έκεινος). Conforme a kjv . Na t b e ara , e ste/ esse, omitido na arc . Pon
do o Advogado distinta e contundentemente diante dos ouvintes. O pronome é
usado na primeira epístola de João, caracteristicamente de nosso Senhor. Vide
lJo2.6; 3.3,5,7,16; 4.17.
27. Paz. Lutero comenta: “Essas são as últimas palavras, como as de alguém que
está para se retirar e diz ‘boa noite’ ou dá sua bênção”. P a z era uma saudação
oriental habitual ao partir. Compare com 20.21.
Minha paz vos dou. Compare com 1Jo 3.1. Godet diz: “É dele mesmo que alguém da .
28. Ter dito. Omita, e leia: fic a r ia m contentes porqu e vou p a ra o P a i (cp. nvi).
30. Já não falarei (ούκ eu λαλήσω). A r v apresenta, de forma mais correta: não
f a la r e i mais.
Nada tem em mim. Nenhum direito nem poder sobre Cristo que o pecado
pudesse exercer nele. A ordem grega é: em m im ele não tem nada.
31. Mas é para que o mundo saiba etc. Nesse versículo, a conexão é muito debati
da. Alguns explicam: Levantem-se, vam o-nos daqui p a ra que o mundo saiba que eu amo o
P a i e que como o P a i me ordem , assim, eufaço. Outros explicam assim: A ssim eu faço, p a ra
que o mundo saiba - e como o P a i me mandou etc. Outros ainda, mais uma vez, tomam
a frase inicial como elíptica, fornecendo ou ele vem, ou seja, Satanás, a fim de que o
mundo saiba - e que como o Pai etc.; ou entrego-me ao sofrimento e à morte p a ra que o
mundo saiba etc. Nesse caso, levantem-se etc., forma, como na k j v e rv , uma sentença
independente. Inclino-me a adotar essa interpretação. A expressão άλλ’ ινα, para que,
com uma elipse, é comum em João. Vide 1.8,31; 9.3; 13.18; 15.25; lJo2.19.
C apítulo 15
2. Vara (κλήμα). Ocorre somente nesse capítulo. Essa palavra e κλάδος, rarrw (vide
nota sobre Mt 24.32; Mc 11.8), são derivadas de κλάω, quebrar. A palavra enfatiza
as idéias de delicadeza eflexibilidade.
Assim também vós (ούτως ούδε υμείς). Literalmente, assim tampouco vós.
5. Sem mim (χωρ'ις έμοΰ). Adequadamente, à parte de mim. Como na rv. Com
pare com 1.3; Ef 2.12.
9. No meu amor (kv rf| άγάπη τή èprj). Literalmente, no amor, aquele que é meu.
Não só o amor do discípulo por Cristo, nem o amor de Cristo pelo discípulo,
mas o Cristo-princípio de amor que inclui ambos os amores. Vide a mesma forma
de expressão em a minha alegria, versículo 11; 3.29; 17.13;juízo (5.30; 8.16); os
mandamentos (14.15); paz (14.27).
11. Minha alegria. A alegria que é minha; característica de mim. Vide nota sobre
o versículo 9.
140. Como diz Godet, isso nâo transforma a promessa em “preceito moral”. É um encorajamento
incitativo. Mas a leitura ocorre no Códice a !
206
João - C ap . 15
Seja com pleta (ιτληρωθή). A rv apresenta, de forma mais correta, possa ser
cumprida. A kjv perde a distinção entre a alegria completa, a de Cristo, e a alegria
progressiva, mas finalmente consumada, a do discípulo.
Que vos ameis (iva). Indicando não só a natureza do mandamento, mas tam
bém seu propósito.
13. Ninguém tem maior amor do que este, de (iva). Algumas das fases mais
sutis do pensamento de João não podem ser apreendidas sem um cuidadoso
estudo dessa conjunção muito recorrente. Alguns gramáticos ainda sustentam
que ela é usada para marcar não só desígnio efim, mas também resultado'*'. Mas
pode-se justamente afirmar que seu sentido predominante é intento, propósito,
objetivo ou objeto. Daí de, representando ϊνα, é para ser entendido no sentido
de para o fim ou intento que-, a fim de que. Aqui o uso da palavra é muito sutil
e sugestivo, bem como bonito. Nenhum homem tem amor maior do que este
(amor), que, em sua concepção original, foi destinado e designado para alcançar
até o ato de sacrificar a vida por um amigo. Portanto, Cristo aqui nos fornece
mais que uma mera comparação abstrata e mais que uma mera avaliação hu
mana de amor. Ele mede o amor de acordo com seu intento divino, original e
de longo alcance.
15. Já - não (ούκέτι). Melhor na ntlh, não mais. Não mais servos como vocês
eram sob a dispensação da lei. Compare com G1 4.7.
141. Os termos técnicos são τίλι,κώς (telikõs), do desígnio efim, e έκβατικώς ( ekbatikõs), do resultado.
207
João - C ap . 15
Não sabe (ούκ olôé). Não tem percepção instintiva. Vide nota sobre 2.24.
16. Escolhestes - vós. O pronome é enfático: “Não fostes vós que me escolhestes”.
A fim de que tudo etc. (iva). Coordenado com o precedente 'iva, para que, para
marcar outro resultado da escolha e designação deles por Cristo. Ele designou-os
para que produzissem fruto, e para que obtivessem tais respostas para sua oração
conforme se tornassem frutíferos.
17. Que (iva). Todos os meus ensinamentos são para ofim de que vocês amem
uns aos outros.
18. Se o mundo vos aborrece (el μισό.). Literalmente, odeia. O modo indicativo
com a partícula condicional assume o fato como existente: se o mundo vos abor
rece, como ofaz.
Sabei (γινώσκετε). O tempo presente também pode ser traduzido como impe
rativo, como na arc . Na kjv , sabeis.
19. Do mundo (έκ του κόσμου). Levantados de dentro do mundo. Vide nota sobre
da terra, 3 .3 1.
208
J oão- C ap. 15
Amaria (αν εφιλει). Ο verbo para afeto n a tu ra l Vide nota sobre 5.20.
21. Por causa do meu nome (διά το όνομά μου). Literalmente, p o r conta do meu
nome. O nome de Cristo representava a fé, a atitude, as afirmações e o objetivo
dos discípulos. Seu nome era confissão deles. Lutero diz: “O nome de Cristo em
sua boca não será nada para eles além de veneno e morte”.
22. Teriam pecado (αμαρτίαν εΐχον). V ide n ota sobre 9.41; lJo 1.8.
Desculpa (πρόφασιν). De πρό, antes, em fre n te de, e φημι, d iz e r o u afirm ar. Assim,
algo que foi posto em fre n te d a verdadeira causa de uma coisa, um pretexto. Compare
com lTs 2.5; At 27.30. P retexto carrega a mesma ideia do latim, proetextum , algo
tram ado em frente, com vistas a encobrimento ou engano. Na t e b , defesa. A k j v segue
a t y n d a l e : n ada com que encobrir seu pecado. Latimer declara: “Com essa desculpa
caridosa, quando você ofende diante de Cristo apenas uma vez, nisso, acaba por
ofender duas vezes”14®. A palavra aparece no baixo latim, cloca, sino (cp. francês
cloche, e o inglês clock), e esse nome foi dado ao manto do cavaleiro por causa de
sua semelhança com um sino. A palavra a liv ia r deriva do latim, pallium , mascarar.
25. Sem causa (δωρεάν). G ratuitam ente. Relacionado a δίδωμι, dar. O ódio deles
era um dom voluntário.
C apítulo 16
Vem mesmo a hora em que (iva). Literalmente, “vem uma hora a f i m d e que”.
A hora é ordenada com a seguinte finalidade em vista: ela vem repleta de cum
primento de um propósito divino.
3. Vos. Omita.
210
JoAo - C ap . 16
10. Vou (ύπάγω). R etirar-se da visão deles e da irmandade terrena. V ide nota so
bre 8.21 e nota de rodapé.
Agora (άρτι). Vide nota sobre 13.33. Com referência ao tempo futuro, quando
eles conseguirão os suportar.
Em toda a verdade (είς πάσαν την αλήθειαν). Na κν, mais corretamente, a toda
a verdade. A a r c segue a leitura de alguns editores: εν τή άληθεάχ πόση. Outros edi
tores leem είς τήν αλήθειαν πάσαν, juntando πάσαν em um sentido adverbial com
vos guiará-, ou seja, guiará vocês completamente à verdade. O Espírito não revela toda
a verdade aos homens, mas Ele os guia para a verdade conforme ela está em Cristo.
Tiver ouvido (fiv άκούση). Alguns leem άκούει, ouvir, com a omissão de dv, a
partícula condicional. A leitura do t r , όσα α ν άκούση, é, estritamente: quaisquer
coisas que ele tenha ouvido.
211
J oão - Cap. 16
15. Tudo quanto (πάντα δσα). Literalmente, todas as coisas tantas quantas sejam.
Na r v , todas as coisas quaisquer que sejam.
16. Não me vereis (οΰ θεωρείτε). O tempo presente: “não me vês mais”. Como na rv .
Um pouco (το μικρόν). Nos versículos 16 e 17, sem o artigo. Aqui o artigo um
ou esse pouco, como na t e b , esse um, enquanto define o ponto especial da dificul
dade deles; esse “um pouco” do que Ele fala.
212
João - Cap. 16
Não sabemos (ούκ ο ΐδ α μ ε ν ) . Tradução mais simples e literal. Na teb, não
compreendemos. Ao passo que a k j v traz·, não podem os distinguir.
19. Conheceu (εγνω). A forma da nvi é melhor: percebeu. V ide nota sobre 2.24.
O verbo ocorre em Mt 11.17; Lc 7.32; 23.27. Κλαίω quer dizer choro audível,
o choro de crianças, como distinto de δακρύω, derram ar lágrim as, chorar silenciosa
mente, o qual ocorre apenas uma vez no texto do Novo Testamento, no choro de
Jesus (Jo 11.35). V ide nota sobre Lc 7.32.
22. Tendes tristeza (λύπην έχετε). Essa forma de expressão ocorre com
frequência no texto do Novo Testamento para denotar a posse de virtudes,
25. Parábolas (παροιμίαις). Vide nota sobre parábolas, Mt 13.3. Ele falava usando
imagens, como a videira e a mulher em trabalho de parto.
214
J oão - C a p . 16
26. Pedireis —rogarei. Observe mais uma vez o uso dos dois verbos para
pedireis (αίτήσεσθε); eu rogarei (ερωτήσω). V id e n o t a sobre o ver
p e d ir . Vós
sículo 23.
27. Ama (φιλεΐ). Como filhos, com o amor de afeição natural. V ide nota sobre
5.20. O mesmo verbo na oração seguinte sobre o amor dos discípulos por
Cristo.
28. Do Pai (παρά). Os melhores textos trazem εκ, de den tro de.
Por isso (4v τούτω). Literalmente, nisso. Compare com lJo 2.3,5; 3.16,19,24;
4.9-10,13,17; 5.2.
31. Agora (άρτι). Vide nota sobre 13.33. Com referência à vinda do tempo de
grande provação.
32. Que (iv a ). Vide nota sobre o versículo 2 e 15.12. No conselho divino é chega
da a hora em que podeis ser dispersos e deixados etc.
Para sua (εις τα ΐδι,α). Para sua própria casa. Vide nota sobre 1.11.
C a p ít u l o 1 7
Segundo Lange:
Emerge, como de um oceano, da vida de oração divinamente rica de Cristo as pérolas das
orações simples feitas por Ele e que foram preservadas para nós: a oração feita no Sermão
do Monte para o uso de seu povo —Pai nossa, o relato do louvor a Deus na partida da Gali-
leia (Mt 11.25); as orações no túmulo de Lázaro e no recinto do templo; nossa oração sumo
sacerdotal; a súplica no Getsêmani e as palavras-oração do Crucificado - Pai, perdoa-lhes, EU,
EU, e a oração final: Pai nas tuas mãos etc., à qual se liga o exultante clamor: Está consumado,
porquanto, de um ponto de vista, pode ser considerado uma palavra de oração. Acrescente-
-se a essas as menções de orações, de ação de graças, os suspiros de Cristo dirigidos ao céu,
bem como suas convocações e encorajamentos para orar, e Ele aparece como o Príncipe da
humanidade até mesmo no reino da oração; da mesma forma, na maneira como Ele escondia
sua vida de oração, exibindo-a apenas quando havia necessidade disso. Se considerarmos sua
obra como uma árvore que sobe para o céu e eclipsa o mundo, sua vida de oração é a raiz des
sa árvore; sua oonquista do mundo repousa na profundeza infinita da sua apresentação de si
mesmo diante de Deus, de sua devoção de si mesmo a Deus, de sua imersão de si mesmo em
Deus, de sua certeza de si mesmo e poder de Deus. Em sua vida de oração a verdade perfeita
de sua natureza humana também se aprovou. Aquele mesmo que, como Filho de Deus, é
revelação completa, como Filho do homem, é religião completa.
No “Pai Nosso” (Mt 6), Cristo expõe o que seus discípulos devem desejar para
si mesmos. Nessa oração, Ele indica o que deseja para eles. E interessante estu
dar as formas em que as idéias do Pai Nosso são reproduzidas e desenvolvidas na
oração sumo sacerdotal.
Falou. Em nenhuma passagem João diz que Jesus orou, como fazem os outros
evangelistas.
Teu Filho - teu Filho (σοϋ τον ulòv - ό υ'ιός). Mais propriamente, teu
Filho - o Filho. Como na a r a e a 2 1. A segunda frase marca a mudança do
216
J oão - C ap. 17
2. Poder (εξουσίαν). A nvi apresenta, com acerto, autoridade. Vide nota sobre 1.12.
Para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste (ίνα παν δ δέδωκας
αύτω δώση αύτοΐς ζωήν αιώνιον). Literalmente, que a todos que deste a Ele, a eles
Ele dê vida eterna. Todos (παν), número singular, considera o corpo de discípulos
cristãos coletivamente·, a eles, individualmente.
217
João- C ap. 17
Verdadeiro (άληθινόν). Vide nota sobre 1.9. Compare com lCo8.4; lTm6.15.
9. Eu rogo (ερωτώ). Mais estritamente, faço pedido. Vide nota sobre 16.23. Esse
eu é enfático, como ao longo da oração.
10. Todas as minhas (τα εμά πάντα). Todas as coisas que são minhas. Como na rv.
Na a2 1, todas as coisas que me pertencem.
11. Eu vou («Ερχομαι.). Estou indo. Fala a respeito de sua partida para o Pai.
Santo (άγιε). Vide nota sobre santos, At 26.10; também sobre lPe 1.15. Com
pare com lJo 2.20, e com Pai justo (δίκαιε), versículo 25. Esse epíteto aplicado
agora, pela primeira vez, ao Pai, contempla Deus, o santo, como o agente do que
Cristo deseja para seus discípulos —santidade de coração e vida; ser guardado do
mal do mundo.
Aqueles que (οΰς). A leitura correta é ώ, referindo-se ao nome. Teu nome, que
tu me deste (cp. teb ). Como no versículo 12. Compare com Fp 2.9-10; Ap 2.17;
19.12; 22.4.
15. Do mal (τού πονηρού). Ou do m aligno. Essa tradução está de acordo com o
uso de João. Vide lJo 2.13-14; 3.12; 5.18-19; e compare com 12.31; 14.30; 16.11.
D e («k), literalmente, fo r a de, quer dizer f o r a das m ãos do.
Pela sua palavra, hão de crer em mim. A ordem grega é: creem p e la sua p a
A expressão “creem pela sua palavra” forma uma ideia composta.
lavra em m im .
C apítulo 18
Cedrom (Κέδρων). Que também pode ser traduzido por dos cedros , forma pre
ferida por alguns editores. Há alguma incerteza quanto ao exato sentido da pa
lavra cedro , que ocorre com bastante frequência, e alguns supõem que é o nome
genérico da família das pináceas. Uma árvore de folhagem escura é mencionada
no Talmude pelo nome de cedrus . A torrente do Cedrom separava o monte das
Oliveiras do monte do templo. Westcott cita, de Derenbourg, uma passagem do
Talmude para o fato de que havia dois cedros no monte das Oliveiras, e sob um
deles ficavam quatro lojas para a venda de objetos puros do ponto de vista da
lei; e de que em uma delas eram vendidos pombos suficientes para os sacrifícios
de toda a Israel. Ele acrescenta: “Até mesmo a menção do Cedrom por meio do
nome popular e secundário ‘a ravina dos cedros’ pode conter uma alusão ao es
cândalo sentido como um pesado fardo na época em que os sacerdotes ficaram
ricos com a venda de vítimas pelos dots cedros ”150. O Cedrom é o ribeiro no qual
Davi passou, descalço e chorando, quando fugiu de Absalão (2Sm 15.23-30). Lá,
o rei Asa queimou o ídolo obsceno que pertencia a sua mãe (lRs 15.13). Era o
receptáculo das impurezas e abominações da adoração de ídolo quando foi re-
149. Godet diz que essa expressão "não é encontrada emnenhuma outra passagemna boca de
Jesus”. Porém, vid e Mt 8.S; Mc 14.36; Jo 21.22.
150. Derenbourg apudWestcott, On the H isto ry a n d G eography o f Palestine.
220
J oão — C ap . 18
3. Uma coorte (την σπείραν). Mais propriamente, a coorte. Vide nota sobre
Mc 15.16; também sobre centurião, Lc 7.2; e At 21.31. A coorte, ou gru po, era da
guarnição romana na torre de Antônia.
4. Que £..(] haviam de vir (τα ερχόμενα). Literalmente, que estão vindo. Os deta
lhes nos versículos 4-9 são peculiares a João.
8. Estes. Os discípulos.
Espada. Atitude contrária à regra que proibia carregar armas em dia de festa.
Orelha direita. Lucas e João. Os outros não especificam que orelha foi cor
tada. Para orelha, João e Marcos usam ώτάριον, um diminutivo; Lucas usa
ούς; e Mateus, ώτίον, diminutivo na forma, mas não na força. Vide nota sobre
Mt 26.51.
O utro discípulo. Conforme a leitura correta, que omite o artigo. O utro, pro
vavelmente o próprio João.
222
João — C ap. 18
Sala (αυλήν). Não palácio (t e b ), mas pátio, como na n v i. Vide nota sobre
Mt 26.3; Lc 11.21.
18. Estavam. E desanimador ver como comumente se ignora e mal traduz o tem
po imperfeito, prejudicando, com isso, a vivacidade da narrativa. Compare com a
kjv , arc , entre outras. Traduza, como na rv : estavam postando-se, no n tia , estavam
postados (campo interlinear).
22. Deu uma bofetada (eôcoxe ράπισμα). Literalmente, deu um golpe. Os intér
pretes diferem quanto ao fato de se o golpe foi com uma vara ou com a mão. O
verbo relacionado ραπίζω, de ραπίς, uma vara, está etimologicamente relaciona
do com ραβδίζω, de ράβδος, uma vara, e ocorre em Mt 5.39, na expressão bater na
face, e em Mt 26.67, onde se estabelece uma distinção de κολαφίζω, golpear com
a mãofechada. Contudo, essa última passagem deixa a questão em aberto, uma
vez que, se o sentido de golpear com uma vara pode ser defendido, não há nada
que impeça que ele seja entendido ali nesse sentido. O sentido anterior da pala
vra, sem dúvida, de acordo com sua etimologia, era golpear com uma vara. Como
Heródoto, a respeito de Xerxes. “É certo que ele ordenou que aqueles que bate
ram (ραπίζοντας) as águas (do Helesponto) para proferir, enquanto as chicotea
vam, essas palavras bárbaras e perversas.”151 E mais uma vez: “O capitão coríntio
Adeimantus observou: ‘Temístocles, nos jogos em que aqueles que começaram
cedo demais foram espancados (ραπίζονται)’”152. No grego clássico, passa desse
sentido para o de uma leve bofetada. O gramático Frínico (180 d.C.) condena o uso
da palavra com o sentido de bater com a mão ou esbofetear por considerar que não
está de acordo com o bom uso ático e diz que a expressão adequada para bofeta
da é έπί κόρρης πατάξαι. Isso demonstra que a expressão não ática já estava em
uso. Na lxx , a palavra é claramente usada com o sentido de bofetada. Vide Is 50.6:
“Ofereço minhas faces aos golpes (elç ραπίσματα)”. Os 11.4: "Como um homem
que golpeia (ραπίζων) suas faces” (na arc , tiram ojugo de sobre as suas queixadas-,
na a r a , alivia ojugo etc.). Em lRs 22.24 temos: “Zedequias £...] feriu a Micaías
no queixo (έπάταξε 4π'ι την σιαγόνα)”. Por essa razão é que a palavra em 18.23,
ôépeiç, literalmente, esfolar, traduzida por ferir ou bater (cp. Lc 12.47), parece se
adequar melhor ao sentido de bater com uma vara; contudo, em 2Co 11.20, esse
verbo é usado para bater naface (elç πρόσωπον ôépei), e em lCo 9.26, passagem
em que Paulo usa a imagem de um boxeador, ele diz: “assim luto (πυκτίύω, de
boxear ou lutar com as mãosfechadas), não como desferindo golpes (ôepoov) no ar”.
Esses exemplos praticamente destroem a força do argumento a partir de ôépeiç.
É impossível estabelecer o ponto de forma conclusiva, mas, em geral, parece bem
manter a tradução da a r c 153.
224
Jo ã o - C ap . 18
37. O galo cantou. O grego não tem o artigo definido. Vide nota sobre Mt 26.34.
O uso do artigo parece marcar a hora, a hora do canto do galo, em vez de o in
cidente.
Manhã (πρωί). Termo usado tecnicamente para a quarta vigília, das 3 horas às
6. Vide Mc 13.35. O Sinédrio não podia presidir uma reunião legal, sobretudo em
casos de pena capital, antes do nascer do sol; e, nesses casos, os procedimentos
judiciais tinham de ser conduzidos e encerrados durante o dia. A condenação
à morte dada à noite era tecnicamente ilegal. Em casos capitais, a sentença de
condenação não podia ser legalmente pronunciada no dia do julgamento. Se os
procedimentos noturnos foram apenas preliminares para o julgamento formal,
eles não teriam validade; se fossem formais, eles eram, ipsofacto, ilegais. Em um
ou em outro caso, a lei foi observada em relação ao segundo conselho. De acordo
com a contagem hebraica do tempo, a reunião aconteceu no mesmo dia.
225
J oão - C ap . 18
um sentido ruim, como μολύνω, contaminar ou manchar cora sujeira (lCo 8.7; Ap
3.4). No grego clássico, μιαίνω, o verbo usado aqui, é o termo usual para profanar
ou desconsagrar. Por isso, Sófocles diz:
29. Pilatos. Observe a brusquidão com que ele é introduzido como alguém bem
conhecido. São dadas duas derivações do nome. Pilatus, alguém armado com o
pilo ou lança, como Torquato, alguém adornado com um colar {torques). Ou uma
contração de Pileatus, usando o píleo ou barrete, o sinal dos escravos libertados.
Tácito refere-se a ele como ligado à morte de Cristo. “O autor desse nome (cris
tão), ou seita, foi Cristo, punido com pena capital no reinado de Tibério por Pôn-
cio Pilatos”158. Ele foi o sexto procurador romano na Judeia.
31 . Levai-o vós (λάβετε αύτόν ύμεις). A kjv obscurece a força enfática de υμείς,
vós. As palavras de Pilatos demonstram grande sagacidade prática em forçar os
judeus a se comprometerem em admitir que desejavam a morte de Cristo. “Levai-
-o vós mesmos (como na rv ), e julgai-o de acordo com a vossa lei.” “Segundo a
nossa lei”, replicam os judeus, “ele deve morrer’. Mas eles não podiam infligir
essa penalidade. “Isto não é lícito” etc.
226
J oão - C ap. 18
32. De que morte (ιτοίφ θανάτψ). Mais corretamente, por qual tipo de morte.
Como na rv ; na n v i , a espécie de morte. Compare com 12.32; Mt 20.19. A crucifi
cação não era uma punição judaica.
Rei dos judeus. O título civil. O título teocrático, rei de Israel (1.40; 12.13), é
dirigido a Jesus na cruz (Mt 27.42; Mc 15.32) em zombaria.
35. Sou eu judeu? Como se a pergunta de Jesus indicasse que Pilatos se acon
selhara com os judeus.
Aquele, para se dirigir aos judeus, está enquadrado na linguagem de profecia; o outro,
para se dirigir a um romano, apela para o testemunho universal da consciência. Um
fala de uma futura manifestação de glória, o outro fala de manifestação atual de verda
de. Um olha à frente para o retorno, outro rememora a encarnação.
Da verdade (έκ τής άληθείας). Literalmente, fora da: brotado da, cuja vida e
palavras provêm da verdade. Vide nota sobre 14.6, e compare com 8.47.
39. Vós tendes por costume. O sentido original da palavra συνήθεια, costume,
é intimidade, ligação habitual, e daí passa naturalmente para o sentido de hábito
ou costume. Só João põe a declaração desse costume na boca de Pilatos. Mateus e
Marcos relatam o costume como um fato.
Da Páscoa (έν τω πάσχα). Mais específico que Mateus e Marcos, nos quais a
expressão é genérica, κατά εορτήν, em época defesta.
159. Platão, Diálogos III: República, tradução Leonel Vallandro, Rio de Janeiro, Editora Globo,
1964, p. 303.
228
João — C ap. 19
C apítulo 19
229
JoÂo - Cap . 19
am plo p eito de D e u s(f) foi rasgado com chicotadas. A posição de pé é a aceita, mas
ocorrem instâncias em que o Salvador está no chão amarrado à coluna por uma
das mãos. Esse é o comovente e, ao mesmo tempo, revoltante quadro de L. Ca-
racci na galeria de Bolonha, no qual o soldado agarra Jesus pelo cabelo enquanto
chicoteia o corpo com um maço de galhos. Em um saltério do século Χλζ o Salva
dor está de pé, em frente à coluna, cobrindo o rosto com as mãos.
De acordo com a representação posterior, o momento escolhido é quando a
execução da sentença está apenas começando. Um homem está amarrando as
mãos no pilar, outro está amarrando um maço de gravetos soltos. As repre
sentações alemãs são mais grosseiras que as italianas, mas com mais inciden
tes. Falta-lhes o sentimento espiritual que aparece nos melhores exemplos
italianos.
Um campo para sentimentos mais elevados e tratamento mais sutil é aberto
nos momentos subsequentes ao açoitamento. Um dos exemplos mais excelentes
é o quadro de Velásquez, “Cristo na coluna”, exposto na Galeria Nacional de
Londres. A verdadeira grandeza e p á th o s da concepção expressam-se acima de
determinados detalhes prosaicos e realistas. O Salvador está sentado no chão, os
braços estendidos e inclinado para trás na extensão toda da corda que amarra
suas mãos cruzadas. O rosto está voltado sobre o ombro esquerdo, totalmente
voltado para o espectador. Varas, cordas e galhos quebrados estão sobre o chão,
e finos fios de sangue aparecem sob o corpo. Um anjo guardião atrás da figura
do Senhor inclina-se levemente sobre uma criança ajoelhada com as mãos entre
laçadas apontando para o sofredor de cuja cabeça sai um raio de luz que chega
até o coração da criança. O anjo é uma ama-seca espanhola com asas, e o rosto da
criança é do tipo espanhol mais do sul e contrasta de forma contundente com o
delicado semblante de Cristo, semelhante ao de uma criança, conforme retratado
por Murillo, que está pendurado ao lado desse quadro, um dos mais doces tipos
de beleza andaluza. O rosto do Salvador, na verdade, é totalmente másculo, do
tipo robusto, expressando intenso sofrimento, mas sem contorção da fisionomia.
Os grandes olhos escuros estão indescritivelmente tristonhos. A forte luz sobre
o braço direito funde-se na profunda sombra das mãos amarradas, e a mesma
sombra cai com efeito impressionante através da luz direta sobre o braço esquer
do, marcada no pulso por uma leve linha de sangue.
No retrato da coroação com espinhos, em alguns exemplos, o momento esco
lhido é após a coroação acontecer, e a ação retrata a adoração para zombaria; mas
a concepção predominante é a do ato da coroação, que consiste em pressionar a
coroa sobre a fronte por meio de duas longas varas finas. Um exemplar magnífi
co é o afresco de Luini, exposto na Biblioteca Ambrosiana de Milão. Cristo está
assentado sobre uma tribuna, coberto com um manto vermelho, o semblante com
uma expressão de infinita doçura e dignidade, enquanto um soldado, rodeado
230
João - C ap. 19
Tomai-o (λάβετε αύτον ύμεΐς). De acordo com a ordem grega: “tomai-o vós”.
Na r v , to m a i-o vós mesmos; na n v i , levem -no vocês. Vide n o ta sobre 18.31.
7. Nós temos uma lei. N ó s é enfático. Independentemente de qual seja sua deci
são, nós temos uma lei etc.
231
J oão- C ap. 19
Segundo a nossa lei. Os melhores textos omitem nossa. Leia: d e acordo com
na nvi.
essa lei, como
Essas palavras dos judeus produziram um efeito em Pilatos para o qual eles não es
tavam preparados. A fala deu força para um terrível pressentimento que se formava
gradualmente em sua mente. Tudo que ele ouvira relacionado aos milagres de Jesus,
ao misterioso caráter de sua pessoa, de suas palavras e de sua conduta, à estranha
mensagem que acabara de receber de sua esposa - de repente, tudo isso é explicado
pelo termo ‘Filho de D eus’. Esse homem extraordinário seria mesmo um ser divino
que tinha aparecido na terra? Naturalmente, a verdade apresenta-se a sua mente na
forma de superstições pagãs e lendas mitológicas.
13. Esse dito (τούτον τον λόγον). Os melhores textos trazem των λόγων τούτων,
essas palavras. Como na teb. Ele temia uma acusação em Roma diante de Tibério,
a qual podería ser justificada por seu desgoverno.
232
JoAo-C ap. 19
Tribunal (βήματος). Vide nota sobre At 7.5. Os melhores textos omitem o ar
tigo, o que pode indicar que o tribunal era improvisado.
Gabatá. Do hebraico gab (aa), “atrás”, e daí o sentido de lugar elevado. Assim,
o termo aramaico não é uma tradução do termo grego, o que indica que o lugar,
independentemente de onde fosse, era distinguido por um pavimento em mosai
co ou xadrez. Suetônio relata que Júlio César, em suas expedições, costumava
carregar com ele um pavimento em mosaico portátil como seu tribunal. Contu
do, não é provável que, aqui, haja alguma alusão a essa prática. Westcott explica
Gabatá como o topo da casa.
15. Eles (oi). Os melhores textos trazem ckcI voi, aqueles (aquelas pesssoas). O
pronome de referência remota isola e faz uma distinção contundente entre eles e
Jesus. Vide nota sobre 13.27.
Não temos rei, senão o César. Essas palavras, pronunciadas pelos princi
pais dos sacerdotes, eram muito relevantes. Esses principais representantes do
governo teocrático de Israel renunciaram, assim, formal e expressamente a essa
função e declararam sua submissão a um poder temporal e pagão. Esse pronun
ciamento é “a abdicação formal da esperança messiânica”.
16. Entregou. Lucas diz entregou Jesus à vontade deles (23.25). Pilatos não pro
nunciou a sentença, mas negou toda responsabilidade pelo ato e entregou Cristo
para eles (αύτοΐς), tendo eles invocado a responsabilidade para eles mesmos. Vide
Mt 27.24-25.
Sua cruz (τον σταυρόν αΰτοΰ). Os melhores textos trazem αύτώ ou ίαυτω,
“carregando a cruz por si mesmo". João não menciona o recrutamento forçado de
Simão Cireneu para esse serviço. Compare com Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23.26.
233
João - Cap. 19
18. No meio. Todos os escritores dos Sinópticos descrevem o caráter dos dois
que foram crucificados com Jesus. Mateus e Marcos dizem que eram salteado
res·, Lucas, m alfeitores (κακούργους). Os três Sinópticos (Mt 27.38; Lc 23.33; Mc
15.27) usam a expressão um, à direita, e outro, à esquerda; e, por isso, João apresen
ta essencialmente um de cada lado. João não diz nada sobre o caráter desses dois,
apenas descreve-os como outros dois.
Na percepção do homem Pilatos, o dito quer dizer: Jesus, o Rei dos judeus fanáti
cos, crucificado no m eio de judeus, que deviam todos ser executados dessa forma.
Na percepção dos judeus: Jesus, o incitador, o Rei dos rebeldes. Na percepção do
juiz político: Jesus, por cuja acusação os judeus, com sua acusação ambígua, podem
vir a responder. Na percepção da ironia divina que governava a expressão: Jesus,
o M essias, pela crucificação transformou-se verdadeiramente no Rei do povo de
Deus.
234
J oão - C ap. 19
20. Hebraico, grego e latim. Alguns editores variam a ordem. Na nvi, aram aico,
la tim e grego; na t e b , hebraico, la tim eg reg o . Essas inscrições em diferentes línguas
não eram incomuns. Júlio Capitolino, biógrafo (320 d.C.), em sua obra sobre a
vida do terceiro górdio diz que os soldados erigiram sua tumba na fronteira per
sa e puseram um epitáfio (titu lu m ) em latim, persa, hebraico e egípcio, a fim de
que pudesse ser lido por todos. O hebraico era o dialeto nacional; o latim, o oficial;
e o grego, o comum. Como o hebraico era a língua nacional, Rei dos judeus foi
traduzido para o latim e o grego, assim, a inscrição era profética de que Cristo
devia ingressar na administração civil e na fala comum; que o Messias hebraico
devia se tornar igualmente o libertador de gregos e romanos; que, por Cristo ser
o verdadeiro centro da civilização religiosa do judaísmo, Ele também devia ser o
verdadeiro cerne do movimento intelectual do mundo representado pela Grécia
e de sua civilização legal e m a teria l representadas por Roma. As três civilizações
que tinham preparado o caminho para Cristo estavam, desse modo, reunidas na
cruz. A cruz é o verdadeiro cerne da história do mundo.
23. Quatro partes. Todos os Sinópticos relatam a partilha das vestes. As quatro
partes a serem divididas seriam a cobertura para a cabeça, as sandálias, o cinto e
o ta lit ou a roupa externa com franjas, em forma de quadrado. Delitzsch descreve
assim a roupa do Senhor:
Sobre a cabeça, Ele usava um sudário branco, preso sob o queijo, e descendo por trás
dos ombros. Sobre a túnica que cobria o corpo, até os pés e as mãos, usava um talit
azul com franja azul e branca nas quatro pontas, assim, com esse manto jogado so
bre a roupa de baixo, cinza com listras vermelhas, por uma parte estar bem junto da
outra, a roupa de baixo mal era perceptível, a não ser quando os pés com sandálias
apareciam161.
Não tinha costura (άρραφος ou άραφος). Somente aqui no texto do Novo Tes
tamento. De ά, não, e ράπτω, costurar ju n to . Como a túnica do sumo sacerdote. Só
João registra esse detalhe.
235
Jo ã o - C ap . 19
Eis. O Cônego Westcott comenta a respeito das quatro exclamações desse ca
pítulo - E is aqu i o homem ! E is aqui o vosso rei. E is a í o teufilhol E is a í tua mãe\ - como
uma imagem notável do que Cristo é e do que Ele revela sobre que são os homens.
32. Quebraram as pernas. Detalhe registrado apenas em João. Esse cru rifra-
giu m , quebrar as pernas, consistia em bater nas pernas com um martelo de ma
deira pesado a fim de apressar a morte. As vezes, essa prática era infligida como
punição em escravos. Suetônio fornece algumas ilustrações horríveis em suas
obras sobre a vida de Augusto e Tibério.
34. Com uma lança (λόγχη). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Pro
priamente, a p o n ta de uma lança. Daí Heródoto dizer dos árabes: “Eles também
tinham lanças (αίχμάς) com chifre afiado de antílope na ponta como uma p o n ta de
lança (λόγχης)”1® 2. Usada também, como aqui, para lança mesmo.
Furou (β'υξβ'). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Foi levantada a questão
sobre se o evangelista quer descrever um corteprojundo ou uma picada. Outro verbo, no
versículo 37, é traduzido por tmspassar, citação de Zc 12.10, έξβκέντησαν, que também
ocorre em Ap 1.7, com referência à crucificação de Cristo, e é usado no grego clássico
para arrancar os olhos ou punhalada e, na l x x , para o pedido de Saul para seu escudeiro:
‘Arranca a tua espada e atravessa-me com ela” (1Cr 10.4). Contudo, o verbo usado aqui,
νύσσω, também é usado para descrever as feridas sérias e mortais, como em Homero:
Sugere-se que o corpo foi apenas espetado com a lança para verificar se ainda
estava vivo. Em geral, parece não haver motivo para abandonar o entendimento
comum da narrativa de que o soldado infligiu um golpe profu n do no lado de Jesus
(cp. 20.25,27); não fica bem aparente, como sustenta o Sr. Field, por que se deve
manter uma distinção entre os dois verbos, o do versículo 34 e o do 37164·.
237
J oão - Cap. 19
Sangue e água. Argumenta-se de maneira muito plausível que esse foi um
fenômeno natural, o resultado de uma ruptura do coração que, conforme se pre
sume, foi a causa imediata da morte, seguida de uma efusão de sangue no pe-
ricárdio. Esse sangue, separado em suas partes, a mais densa e a mais líquida,
fluiu quando o pericárdio foi furado pela lança165. Contudo, penso, como Meyer,
que está evidente que João pretende descrever o incidente como algo totalmente
inesperado e maravilhoso, e essa é a explicação que melhor se ajusta à solene
afirmação do versículo 35. Que o fato tinha um sentido simbólico para o evange
lista fica claro a partir de lJo 5.6.
38. Discípulo de Jesus. Mateus chama-o de hom em rico-, Marcos, senador honra
do, ou seja, membro do Sinédrio; e Lucas, senador, homem de hem e ju sto.
238
J oão - C ap. 19
O corpo daqueles que recebempunição capital não pode ser negado a seus parentes.
Contudo, nessedia, ocorpodos quesãoexecutados sãosepultados sóemcasosemque
foi pedidapermissão; eesta, concedida; e, às vezes, nãoédadapermissão, especialmen
tenos casos daqueles quesãopunidos por alta traição. O corpo do executado deve ser
dado para sepultamento para qualquer umque opedir.
Contudo, amorte é o fim. Não deverá ser assim. A crueldade pode ir adiante? Uma
forma deve ser encontrada. Pois os corpos dos decapitados deverão ser jogados
aos animais. Se isso é doloroso para os pais, eles podemcomprar a liberdade para
sepultar1”6.
Libras. Libras romanas, quase 340 gramas. A grande quantidade pode ser
explicada pela intenção de cobrir todo o corpo com o preparado e pelo fato de
que uma porção estava destina para a cama do corpo no sepulcro. Compare com
o relato do enterro de Asa, 2Cr 16.14. Conforme Meyer: “Reverência extraordi
nária em seu doloroso enlevo não se satisfaz facilmente”.
40. Lençóis (όθονίοις). Usado só por João, se Lc 24.12 for rejeitado, como o é
por alguns editores. Todos os escritores dos Sinópticos trazem σινδών, lençol
fino. Vide nota sobre Mc 14.51. Mateus e Lucas trazem έντύλιξΐν, envolveu ou
enrolou ( n t l h ), e Marcos, hví ίληθ6θ, envolveu ou enrolou ( n t l h ), em vez do εδησαο,
envolveram ou enrolaram ( n t l h ), de João.
239
J oão - C ap. 2 0
Novo (καιηόη). Vide n o ta sobre Mt 26.29. João omite o detalhe de a tumba ser
talhada na pedra, ao qual se referem todos os escritores dos Sinópticos.
C apítulo 2 0
240
João - C ap. 2 0
2. Amava (έφίλει). Palavra para afeto pessoal. Em 13.23; 21.7,20, usa-se ήγάπα.
V ide nota sobre 5.20.
Não sabemos. O plural indica que Maria não estava sozinha, embora
só ela seja mencionada como vindo do sepulcro. Ela pode ter precedido as
outras.
5. Abaixando-se (παρακύψας). V ide nota sobre T g 1.25, e compare com lPe 1.12.
Vide também Ct 2.9 ( l x x ): “Ele olha (παρακύπτων) pelas janelas”.
Viu (βλέπει). Simples visão. Compare com o olh a r atento de Pedro (θεωρεί),
versículo 6, que descobriu o lenço não visto por João.
241
João - Cap. 2 0
8. Creu. Essa palavra é explicada pelo que se segue. Ele creu (finalmente) que Je
sus ressuscitara; pois até esse momento (ούδεπω, v. 9) ele e seu discípulo-compa-
nheiro (plural, ήδεισαν) não sabiam etc. O singular, creu, conforme Meyer observa
com profundidade, "só satisfaz a experiência^moa/inesquecível desse momento,
embora não exclua também a fé contemporânea de Pedro”. Acerca de sabiam
(ήδεισαν), vid e nota sobre 2.24.
13. Ela [../] disse. Ela está tão absorta em sua dor e amor que não fica ate
morizada com a manifestação sobrenatural que, em circunstâncias normais,
poderiam a ter aterrorizado; ao contrário, conversa com eles como se fossem
seres humanos.
14. Voltou-se para trás. O Cônego Westcott, com aquela bela e sutil percepção
que o caracteriza tanto, comenta:
Também conseguimos imaginar que ela toma consciência da outra presença, como,
muitas vezes, sentimos a aproximação de um visitante sem o ver nem o ouvir dis
tintamente. Também pode ser que os anjos, olhando em direção ao Senhor, tenham
mostrado algum sinal da vinda dele.
Viu (θεωρεί). Tempo presente. Na rv, contemplou. Ela olha com firmeza e intri
gada para ele como olharia para um estranho. Guardar essas distinções entre os
verbos para ver é muito importante para a percepção das nuanças mais delicadas
da narrativa.
242
João — C ap . 2 0
17. Não me detenhas (μή μου απτού). O sentido original do verbo é segurar-se em.
Assim, aqui não está sugerido um mero toque momentâneo, mas um agarrar-se a.
Maria pensou que a antiga relação entre ela e seu Senhor seria renovada; a antiga
relação com vista, som e toque continuaria como antes. Cristo diz: O tempo para esse
tipo de relacionamento acabou. Daqui em diante, sua comunhão comigo será pela fé
por meio do Espírito. Essa comunhão será possível pela minha ascensão para o Pai.
21. Enviou (άπέσταλκΐν). Observe a distinção entre esse verbo e aquele usado
para o envio dos discípulos (πέμπω). V ide nota sobre 1.6.
22. Assoprou sobre eles (έν€φύσησ€ν). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento. O ato foi simbólico, segundo a maneira dos profetas hebreus. Compare
com Ez 37.5.
O Espírito Santo. Sem o artigo. O dom concedido não era do Espírito Santo
pessoal, mas, antes, um sin a l desse dom, uma efusão do Espírito.
243
João - Cap. 21
23. Perdoardes (άφήτε). Somente aqui nesse Evangelho em conexão com peca
dos. Aparece com frequência nos Sinópticos (Mt 6.12; 9.5; Mc 2.5; Lc 5.23 etc.).
Puser - puser (βάλω). O mesmo verbo nos dois casos. Por isso, é melhor a
apresentação da arc. Na ntlh , tocar-puser.
De maneira nenhuma (ού μή). Negativa dupla: não crerei de maneira nenhuma.
26. Chegou Jesus. Não há partícula de conexão, então, e o verbo está no tempo
presente. A teb descreve de forma mais vivida a entrada abrupta de Jesus: Jesus veio.
27. Não sejas (μή γίνου). Literalmente, não se torne. Tomé estava no caminho
claro para se tornar descrente, por meio de sua dúvida quanto à ressurreição.
31. Foram escritos (γέγραπται). Têm sido, ou permanecem, escritos. O tempo per
feito. A intenção de João era escrever um evangelho, não uma biografia.
C apítulo 2 1
Deus; da pessoa ou obra de Cristo; do caráter ou das obras dos homens, com
vistas à revelação da qualidade deles e de produzir uma impressão moral. Na
n v i , apareceu.
Logo. Omita.
Naquela noite. O pronome enfático aquela (εκείνη) pode indicar que o insu
cesso deles era incomum.
Na praia (εί,ς τον αίγιαλόν). Vide nota sobre Mt 13.2. A preposição εις, para,
torna a frase equivalente a: “Jesus foi para a praia e permaneceu lá”.
5. Filhos (ποαδια). Ou jühinhos. Também usada duas vezes por João na saudação
da primeira epístola (2.13,18), onde, contudo, a palavra mais comum é τεκνία,
filhinhos.
sobretudo peixe. Vide nota sobre 6.9. Ocorre somente aqui no texto do Novo
Testamento. Na t e b , um pouco de peixe'10.
Não Q...]] podiam (ουκ ΐσχυσαν). Vide nota sobre Lc 14.30; 16.3; Tg 5.16.
Tirar (ελκΰσαι). Puxar para o barco. Compare com σύροντες, versículo 8, ar
rastando a rede atrás do barco.
7. Túnica (επενδυτήν). Uma veste, ou blusa, para a parte superior. Somente aqui
no texto do Novo Testamento. Na l x x , em lSm 18.4, a capa que Jônatas deu a
Davi. Em 2Sm 13.18, a roupa real de virgem de Tamar. Há duas ocorrências do
verbo relacionado, επενδύομαι (2Co 5.2,4), com o sentido de “ser revestidos” com
nossa habitação, que é do céu, ou seja, ser vestidos com traje para a parte supe
rior. Vide nota sobre essa passagem.
Nu. Não completamente, mas vestido apenas com a roupa de baixo ou calção.
Cheia d e p eix es (των ιχθύων). Ou, como na wycuffe , a rede dos peixes. Ao
contrário, a b j traz: a rede com ospeixes.
9. Saltaram em terra (άπεβησαν εις την γην). Refere-se não à chegada do barco,
mas à ida dos barqueiros para a praia. Por isso, a rv, corretamente, traduz: eles
saíram para a praia.
170. A pergunta usual que um observador faz a alguém ocupado em pescar ou catar ave é: εχεις τι,
tens algum a coisa. Equivale a: você se d ivertiu ? Vide Aristófanes, A s N u vens, 731.
246
J oão - C ap. 21
10. Dos peixes (των όψαρίων). Como no versículo 9. Enfatiza o peixe como
alimento.
Apanhastes (εττιάσατε). Vide nota sobre o versículo 3. Bengel diz: “Por meio
do dom de Cristo, eles os tinham pegado, contudo Ele diz cordialmente que eles
os tinham pegado”.
12. Jantai (άριστήσατε). Antes, cafi da manhã. No grego ático, αριστόν refere-se
à refeição do meio-dia; a refeição da noite é conhecida como δείπνον. A hora normal
para a αρ ιστόν não pode ser fixada com precisão. A tendência de peso entre os
escritores gregos parece ser em favor do meio-dia. Contudo, a refeição descrita
aqui evidentemente aconteceu em uma hora bem mais matutina e podería pare
cer corresponder mais de perto ao άκρατίσμα, ou café da manhã dos gregos, o qual
era tomado logo após se levantar. Todavia, Plutarco afirma expressamente que
ambos os nomes eram aplicados para a refeição matinal e diz de Alexandre: “Ele
estava acostumado a tomar o cafi da manhã (ήρίστα) logo ao alvorecer, sentado,
e a jantar (εδείπνει) tarde da noite”. Em Mt 22.4, os convidados do rei para o
casamento são convidados para um αρ ιστόν.
IS. Pão —peixe. Os dois têm artigo - o pão, o peixe —aparentemente, apontando
para a provisão que Jesus mesmo fizera.
15. Simão, filho de Jonas. Compare com a primeira fala de Cristo a Pedro, 1.43.
Ele nunca o tratou pelo nome de Pedro, embora esse nome seja usado normal
mente, sozinho ou com Simão, nas narrativas dos Evangelhos e na forma grega
Pedro, e não na aramaica Cefas, que, por sua vez, é sempre empregada por Paulo.
Quanto ao termo Jonas, leia, como na nvi, João.
Amas (αγαπάς). Jesus usa a palavra mais dignificante, realmente a mais nobre,
mas ela parece a Pedro, no ardor de seu afeto, a mais fria palavra para amor. Vide
nota sobre 5.20.
Mais do que estes. Mais que esses discípulos me amam. Compare com 13.37;
Mt 26.33. A pergunta transmite uma repreensão gentil por suas extravagantes
confissões anteriores.
Amo (φιλώ). Pedro substitui a palavra mais calorosa, mais afetiva, e omite
toda comparação com seus irmãos discípulos.
Há uma notável semelhança entre a situação atual e a das duas cenas anteriores na
vida de Pedro com as quais a situação atual se relaciona. Ele foi chamado por Jesus
para o ministério depois de uma pesca milagrosa de peixes; é depois de uma pesca
semelhante que o ministério é restaurado a ele. Ele perdera seu cargo por meio da
negação ao lado das brasas; é ao lado de brasas que ele a recupera.
16. Amas (αγαπάς). Novamente a palavra mais fria, mas a expressão mais do que
estes é omitida.
Amo (φιλώ). Pedro reitera sua palavra anterior para expressar seu afeto
pessoal.
248
JoAo - C ap. 21
Apascenta (ποιμαίνω). Uma palavra diferente: cuide, como na rv. Na n v i , pas
toreie. Vide nota sobre lPe5.2.
17. Amas (φιλεΐς). Aqui Jesus adota a palavra de Pedro. Contudo, o Cônego
Westcott atribui o uso de φιλέω por Pedro a sua humildade e sua hesitação em
afirmar esse amor mais elevado que está implícito em άγαπφς. Essa me parece ser
a interpretação menos natural, por procurar refinar demais a situação.
Para onde tu não queiras. De acordo com a tradição, Pedro sofreu martírio
em Roma e foi crucificado com a cabeça virada para baixo.
19. Com que morte (ποίω). Propriamente, por qual tipo de morte. Como na r v .
20. Recostara (άηέπεσει>). Na r v , se inclinara para trás. Vide nota sobre 13.25. A
referência é ao ato especial de João de se reclinar para sussurrar para Jesus, e não
a sua posição na mesa.
22. Até que eu venha (εως έρχομαι) Preferivelmente, enquanto eu estou vindo.
Compare com 9.4; 12.35-36; lTm 4.13.
24-25. Muitos intérpretes acham que esses dois versículos foram escritos por
alguma outra mão que não a de João. Alguns atribuem os versículos 24 e 25 a
dois escritores distintos. E provável que todo o capítulo, embora carregando
marcas inconfundíveis da autoria de João em seu estilo e linguagem, tenha sido
composto subsequentemente à conclusão do Evangelho.
250
1 João
Capítulo l
1. Cerca de 5 5 0 d.C., em geral, acredita-se que foi um bispo. O autor de uma obra intitulada De
Partibus Divinae Legis, um tipo de introdução aos escritos sagrados.
1 João — C ap . l
O que (o). Debate-se se João usa isso em um sentido pessoal como equivalente
a Aquele que, ou em seu significado estritamente neutro, como querendo dizer algo
relativo à pessoa e revelação de Cristo. Em geral, o termo TtepC, com respeito a (na
a r c , da; na t e b , em nota, a respeito de), parece ir contra o sentido pessoal. As su
cessivas orações, o que era desde oprincípio etc., não expressam o Verbo Eterno em si
mesmo, mas algo relacionado com Ele ou um predicado que diz respeito a (írepí) Ele. O
indefinido o que, aparentemente, é definido por essas orações, o que apela à vista,
ao ouvido, ao toque2. No sentido estrito, é verdade, o vocábulo nepí é apropriado
só com ouvimos, mas é usado com outras orações em um sentido amplo e flexível
(cp. Jo 16.8). Westcott afirma: “O assunto não é apenas uma mensagem, mas tudo
que se tornou claro por meio da múltipla experiência que diz respeito a ela”.
Era (ήν). Não έγένετο, veio a ser. Vide nota sobre Jo 1.3; 7.34; 8.58. Era já exis
tente quando a sucessão da vida começou.
252
1 João - C ap . 1
Da vida (τής ζωής). Literalmente, a vida. Vide nota sobre Jo 1.4. A expressão
ό λόγος τής ζωής, a Palavra da vida, não ocorre em nenhuma outra passagem do
Novo Testamento. O mais próximo dela ocorre em Fp 2.16; mas nessa perícope
nenhuma das palavras tem o artigo. Na expressão palavras da vida eterna (Jo 6.68)
e em At 5.20, todas as palavras desta vida, usa-se o termo ρήματα. A questão é se
λόγος é usado aqui para a Palavra pessoal, como em Jo 1.1, ou para a mensagem
ou revelação divina. Nas quatro passagens do Evangelho onde λόγος é usado no
sentido pessoal (Jo 1.1,14), o vocábulo é usado de forma absoluta, o Verbo (cp. Ap
19.13). Por sua vez, ele é usado muitas vezes de forma relativa no texto do Novo
Testamento, como: palavra do Reino (Mt 13.19); palavra desta salvação (At 13.26);
palavra da sua graça (At 20.32); palavra da verdade (Tg 1.18). João usa ζωής, da
vida, com frequência, para caracterizar a palavra que acompanha esse termo.
Assim, coroa da vida (Ap 2.10); água da vida (Ap 21.6); livro da vida (Ap 3.5); pão
da vida (Jo 6.35); ou seja, a água que é viva e transmite vida; o livro que contém
a revelação da vida; o pão que transmite vida. No mesmo significado, Jo 6.68;
At 5.20. Compare com T t 1.2-3.
Embora a expressão a Palavra da vida não ocorra em outras passagens com
um sentido pessoal, inclino-me a considerar sua referência primária como pes
soal, como o fazem Alford, Huther e Ebrard, a partir da conexão óbvia do pen
samento com Jo 1.1,4. “No princípio, era o Verbo - nele, estava a vida”. Ebrard
afirma:
Como João não se propõe a dizer que anuncia Cristo como uma simples idéia,abstrata,
mas que declara suas próprias experiências históricas concretas a respeito de Cristo
253
1 J oão - C a p . 1
—também, agora, ele continua, não o Logos (Palavra), mas a respeito da Palavra, anun
ciamos para vocês.
Ao mesmo tempo, concordo com o Cônego Westcott que é mais provável que
as duas interpretações não estejam separadas de forma contundente. “A revela
ção proclama o que ela inclui; ela dá, anuncia a vida. Em Cristo, a vida como o
sujeito, e vida como o caráter da revelação, estão absolutamente unidas.”
A vida (ή ζωή). O Verbo mesmo que é a Vida3. Compare com Jo 14.6; 5.26;
iJo 5.11-12. V ida expressa a natureza do Verbo (Jo 1.4). A expressão a vid a , além
de equivaler à expressão a P alavra, também indica, como a verdade e a lu z, um
aspecto do ser do Senhor.
A realidade da encarnação não seria declarada se fosse dito: “A Palavra foi manifes
tada”; a diversidade das operações da vida ficaria circunscrita se fosse dito: “A vida se
tornou carne”. A manifestação da vida foi uma consequência da encarnação da Pala
vra, mas não é coextensivo com ela.
3. Quanto ao uso do termo vida por João, o estudante deveria consultar a “Nota Adicional” do
Cônego Westcott sobre lJo 5.20 (Commentary on the E p istles o f John, p. 204).
254
1 J oão — C ap . 1
Que (ήτις). Não o relativo simples ή, que, mas definindo a q u alidade da vida e
tendo, ao mesmo tempo, um tipo de força confirmatória e explicativa da palavra
eterna: considerando que era uma vida divina em sua natureza —“com o Pai” —e,
dessa maneira, independente das condições temporais.
Com o Pai (προς τον πατέρα). Vide nota sobre com D eus, Jo 1.1. Na vida, a
ativa relação e comunhão com o Pai. Coleridge afirma: “A preposição de moção
com o verbo de repouso envolve a eternidade do relacionamento com atividade e
vida”. A vida eternamente cuidada para o Pai, apesar de ela emanar dele. Ela saiu
dele e foi manifestada para os homens, mas com a finalidade de que possa levar
os homens para si e os unir ao Pai. A manifestação da vida para os homens foi
uma revelação de vida, como, primeiro e acima de tudo, centrada em Deus. Por
esta razão, embora a vida abstratamente retorne para Deus, da mesma maneira
que procede dele, ela retorna trazendo o mundo redimido em seu âmago. O ideal
completo de vida divina inclui transmissão, mas com vistas ao desenvolvimento
prático de tudo que a recebe com referência a Deus como seu cerne vivificador,
propulsor, regulador e inspirador.
O Pai. V ide nota sobre Jo 12.26. O título “o Pai” ocorre raramente nos Sinóp-
ticos e sempre com referência ao Filho. Em Paulo, só há três ocorrências (Rm
6.4; lCo 8.6; Ef 2.18). Em nenhuma passagem de Pedro, Tiago, Judas nem de
Apocalipse. É frequente no Evangelho e nas epístolas de João, e nesses últimos
textos uniformemente4.
4. Que, de qualquer modo, o estudante consulte a “Nota Adicional” do Cônego Westcott, de seu
Commentary on the Epistles o f John, p. 27.
255
1 J oão - C a p . 1
ver e ouvir, são lançados juntos sem o relativo repetido o que. No versículo 1, o
ponto alto promovido a partir da evidência menor de ouvir para a de ver. Aqui,
na recapitulação, o processo é revertido e a classe mais alta de evidência é posta
em primeiro lugar.
Para que também tenhais (και ύμίν). O tam bém é explicado de diversas ma
neiras. De acordo com alguns, refere-se a um círculo especial de leitores cristãos
além daqueles a quem a conclusão do Evangelho se dirige. Outros, mais uma
vez, acham que se refere aos que não tinham visto e ouvido em contraposição às
testemunhas oculares. Daí Agostinho dizer, de Jo 20.26ss.:
Com o Pai e com seu Filho (μετά του πατρος καί μετά του υιού αυτού). Obser
ve a preposição repetida μετά, com, distingue as duas pessoas e coordena a comu
nhão com o Pai e o Filho indicando, assim, uniformidade de essência. A comunhão
com os dois contempla a união da divindade. Platão diz de alguém que vive em
desejo e roubo desenfreados: “Esse não é amigo de Deus nem do homem, pois ele é
256
1 J oão - C a p . l
incapaz de com ungar (κοινωνΛν αδύνατος), e aquele que é incapaz de ter comunhão
(κοινωνία) também é incapaz de ter amizade”5. Ele define a divinação ou adivinha
ção como “a arte da comunhão (κοινωνία) entre deuses e homens”6.
Vosso gozo (ή χαρά ύμών). Os melhores textos trazem ημών, nosso, embora
ambas as leituras proporcionem um bom sentido.
E Agostinho: “Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles
que te servem por puro amor: essa alegria és tu mesmo. E esta é a felicidade:
alegrar-nos em ti, de ti e por ti. É esta a felicidade, e não outra”7. Alford está cer
to ao comentar que esse versículo fornece um caráter epistolar ao que se segue,
mas, dificilmente, pode-se dizer como ele o fez que isto “ocupa o lugar de χαίρειν,
bendizer, literalmente regozijar, tão comum nas aberturas das epístolas”8.
5. E esta é (κα'ι αϋτη έστ'ιν). Tradução correta e literal. De acordo com a leitura
apropriada, o verbo aparece primeiro na ordem (έστ'ιν αύτη), com ênfase, não só
como um verbo de ligação, mas também no sentido: “existe isso como a mensa
gem”. Para um uso correlato do verbo substantivado, vid e 5 . 16-17; 2.15; Jo 8.50.
257
1 João - C ap. 1
258
1 J oão - C ap. 1
259
1 J oão - C ap . 1
E não há nele treva nenhuma (καί σ κοτία ούκ ’é ouv k v αύτω ούδεμία). É
característico de João expressar a mesma ideia de forma positiva e negativa. Vide
Jo 1.7-8,20; S. 13,17,20; 4.42; 5.24; 8.35; 10.28; lJo 1.6,8; 2.4.27; 5.12. De acordo
com a ordem grega, a tradução é; “E treva não há nele, não, não de maneira al
guma”. Para um acréscimo similar de oòôeíç, nenhuma, a uma sentença completa,
vide Jo 6.63; 12.19; 19.11. Acerca de σκοτία, trevas, vide nota sobre Jo 1.5.
6. Se dissermos (kàv ε’ίπωμ^ν). O modo subjuntivo põe o caso como suposto, não
como assumido.
260
1J oão - Cap. l
Andarmos em trevas. A expressão ocorre somente no Evangelho e na pri
meira epístola de João. Trevas, aqui, é σκότος, em vez de σκοτία (v. 5). Vide nota
sobre Jo 1.5. Andarmos (π€ριπατώμεν) é, literalmente, andarem volta de, indicando
o curso habitual da vida, interno e externo. O verbo, com esse significado moral,
é comum em João e Paulo; e, em outras perícopes, só é encontrado em Mc 7.5 e
At 21.21.
Ele na luz está. Deus está para sempre e imutavelmente na luz perfeita. Com
pare com SI 104.2; lTm 6.16. Andarmos avançando na luz e, através da luz, para
mais luz. “Mas a vereda dos justos ê como a luz da aurora, que vai brilhando mais
e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).
Uns com os outros (per’ άλλήλων). Não, nós com Deus e Deus conosco, mas com
nossos irmãos. A comunhão com Deus revela-se e prova-se pela comunhão com os
cristãos. Vide 4.7,12; 3.11,23.
De Jesus Cristo, seu Filho. Omita Cristo. O nome humano, Jesus, mostra que
seu sangue está disponível para o homem. O nome divino, seu Filho, mostra que
ele é eficaz. Estarei prestando um serviço aos estudantes das epístolas de João
dando, de forma condensada, a observação do Cônego Westcott, classificando os
diversos nomes do Senhor e seus usos nas epístolas.
O nome em João como em outras perícopes da Bíblia tem dois sentidos distin
tos, mas intimamente ligados.
1. A revelação do ser divino por meio de um título especial.
2. A soma total das várias revelações reunidas como para formar uma revela
ção suprema.
O último significado é ilustrado em 3Jo 7, em que “o nome” inclui absoluta
mente os elementos essenciais do credo cristão, a completa revelação da obra de
Cristo em relação a Deus e ao homem. Compare com Jo 20.31; At 5.41.
261
1 J oão - C ap. 1
n o m e s e fe tiv a m e n te u sa d o s
I. Seu Filho Jesus Cristo. Em 1.3; 3.23; 5.20. O antecedente divino é descrito
distintamente em cada caso, e essa diferença colore a frase. Em 1.23, o Pai (com
pare com Jo 3). Em 3.23, Deus. Em 5.20, é o verdadeiro Deus. Assim, a filiação de
Cristo é vista em relação a Deus como Pai, como Deus e como satisfazendo o
ideal divino que o homem é capaz de formar. A expressão toda, Seu Filho Jesus
Cristo, inclui os dois elementos das confissões que João destaca.
1. Jesus é o Filho de Deus (4.15; 5.5).
2. Jesus é o Cristo (2.22; 5.1).
Os elementos constituintes da expressão resumida são todos usados separa
damente por João.
(1) Jesus·. 2.22; 5.1; 4.3 (em que a leitura correta omite Cristo). O pensamento é
do Senhor em sua humanidade histórica.
(2) Cristo·. 2Jo 9. Aponta para a preparação feita sob a antiga aliança.
(3) Jesus Cristo·. 2.1; 5.6; 2Jo 7. Combina as idéias de verdadeira humanidade e
posição messiânica.
Em 4.15, a leitura é duvidosa: Jesus ou Jesus Cristo.
Sobre 4.2, vide nota.
(4) O Filho·. 2.22-24; 4.14; 5.12. A relação absoluta de filiação e paternidade.
(5) 0 Filho de Deus: 3.8; 5.10,12-13,20. Compare com seu Filho (4.10;
5.9), em que o antecedente imediato é 0eóç, Deus-, e com 5.18: aquele que é
nascido de Deus. Combinação das idéias da divina dignidade e divina filiação
de Cristo.
(6) Jesus seu Filho (de Deus): 1.7. Duas verdades. O sangue de Cristo está dis
ponível e é eficaz.
(7) Seu Filho (de Deus), seu Filho unigênito·. 4.9. A singularidade do dom é a
manifestação de amor.
O Filho, em várias formas, é eminentemente característico da primeira e da segun
da epístola, nas quais o nome ocorre mais vezes que em todas as epístolas de Paulo.
Κύριος, Senhor, não é encontrado nas epístolas (omita em 2Jo 3), mas ocorre
no Evangelho e, com frequência, no Apocalipse.
A expressão o sangue de Jesus seu Filho foi escolhida graças a uma percepção
profunda. Embora Inácio use a expressão sangue de Deus, o vocábulo sangue ê ina-
propriado para o Filho concebido em sua natureza divina. O termo Jesus salienta
sua natureza humana, na qual Ele assumiu um corpo real de carne e sangue, cujo
sangue foi derramado por nós.
262
1 João - Cap. 1
Purifica (καθαρίζει). Vide nota sobre Mc 7.19. Não só perdoa, mas remove.
Compare com T t 2.14; Hb 9.ISss.; 22ss.; Ef 5.26ss.; Mt 5.8; lJo 3.3. Compare
também com o versículo 9, em que ocorre perdoar (άφη) e purificar (καθαρίση)
com uma óbvia diferença de sentido. Observe o tempo presente purifica. A pu
rificação é atual e contínua. Alexander (Bispo de Derry) menciona uma passa
gem impressionante de Victor Hugo17. O usurpador Canute, que participou da
morte de seu pai, expirando depois de um reinado virtuoso e glorioso, caminha
em direção à luz do céu. Todavia, primeiro, ele corta com sua espada uma co
bertura de neve do topo do monte Savo. Conforme ele avança em direção ao
céu, forma-se uma nuvem pesada, e, gota a gota, sua mortalha fica ensopada
por uma chuva de sangue.
8. Que não temos pecado. A conjunção ότι, que, pode ser tomada apenas como
um marca de citação: “Se dissermos, não temospecado’. Acerca da expressão temos
pecado, vide nota sobre Jo 16.22, e compare com tenhais comunhão, versículo 3.
Pecado (αμαρτίαν) não deve ser entendido como pecado original nem como pecado
antes da conversão, mas no sentido genérico. Ebrard registra: “É óbvio que esse
exeiv αμαρτίαν {terpecado) está infinitamente diversificado de acordo com a me
dida sucessiva de purificação e desenvolvimento do novo homem. Nem mesmo o
apóstolo João não se exclui do universal se dissermos’.
Autores pagãos falam muito pouco sobre pecado, e o paganismo clássico tem
pouco, ou nenhum, conceito de pecado no sentido do Evangelho. A abordagem
mais próxima disso foi de Platão, de cujas obras foi possível reunir uma declara
ção completa, razoavelmente doutrinai, sobre a origem, a natureza e os efeitos do
pecado. A ideia fundamental de αμαρτία {pecado) entre os gregos é fisica; a perda
de uma marca {videnota sobre Mt 1.21; 6.14); a partir do que se desenvolve em um
significado metafísico, vaguear no entendimento. Este assume o conhecimento como a
base da bondade e, assim, o pecado é principalmente ignorância. No conceito pla
tônico de pecado, o erro intelectual é o elemento proeminente. Daí: “Então, o que
eu disse é o resultado de tudo isso? Esse não é o resultado - aquelas outras coisas
são indiferentes, e essa sabedoria é o único bem; e a ignorância, o único mal?18”
“Portanto - continuei - compete a nós, como fundadores obrigar as melhores
naturezas a que alcancem esse conhecimento que dissemos se o mais elevado
263
1 João - Cap. 1
de todos; não devem renunciar à ascensão enquanto não houverem chegado até
o bem”19. Platão representa o pecado como a predominância dos impulsos mais
baixos da alma, em contraposição à natureza e a Deus20. Ou, mais uma vez, como
uma vontade interior de harmonia.
Que possamos considerar todo ser vivo como umbonecodos deuses, quer apenas seu
brinquedo quer criado com umpropósito - qual dos dois, não podemos saber, com
certeza? Mas isso sabemos que esses afetos emnós são como cordas ebarbantes que
nos puxamparacaminhos distintos eopostos e para ações opostas; e nisto repousa a
diferença entre virtude evício*1.
Ele rastreia a maioria dos pecados como influência do corpo sobre a alma.
Além disso, por todo o tempo que durar nossa vida, estaremos mais próximos
do saber, parece-me, quando nos afastarmos o mais possível da sociedade e união
com o corpo, salvo em situações de necessidade premente, quando, sobretudo, não
estivermos mais contaminados por sua natureza, mas, pelo contrário, nos achar
mos puros de seu contato, e assim até o dia em que o Deus houver desfeito esses
laços. E quando dessa maneira atingirmos a pureza, pois que então teremos sido
separados da demência do corpo, deveremos mui verossimilmente ficar unidos a
seres parecidos conosco; e por nós mesmos, unicamente por nós mesmos, conhe
ceremos sem mistura alguma tudo o que é. E nisso, provavelmente, é que há de
consistir a verdade22.
264
1João - Cap. 1
Enganamo-nos (εαυτούς πλανώμεν). Literalmente, levamo-nos a nos desviar.
Vide nota sobre Mc 12.24; M t 27.63-64; Jd 13. Não só nos enganamos, mas tam
bém somos responsáveis por isso. A expressão ocorre somente aqui no texto do
Novo Testamento. Para o verbo, conforme aplicado para enganadores de vários
tipos, vide Mt 24.4; Ap 2.20; 13.14; 19.20; 12.9; 10.3. Compare com πλάνοι, enga
nadores (2J0 7); πλάνη, engano (Jd l; 1Jo 4.6).
Verdade. O evangelho todo. Toda realidade está em Deus. Ele é o único Deus
verdadeiro (άληθινός, Jo 17.3; vide nota sobre Jo 1.9). Essa realidade está encar
nada em Cristo, a Palavra de Deus, “a exata imagem de sua substância” e em sua
mensagem para os homens. Essa mensagem é a verdade, título não encontrado
nos Sinópticos, Atos nem Apocalipse, mas nas epístolas (Tg 5.19; lPe 1.22; 2Pe
2.2) e em Paulo (2C0 13.8; Ef 1.13 etc.). E, em especial, é característico do Evan
gelho e das epístolas de João.
A verdade é representada por João de forma objetiva e subjetiva.
1. Objetivamente. Na pessoa de Cristo. Ele é a Verdade, a revelação perfeita de
Deus (Jo 1.18; 14.6). Sua humanidade é verdade para a lei absoluta de direito, que
é a lei de amor, e é, por essa razão, nosso padrão perfeito de humanidade.
A verdade, existindo em Deus e identificada com Ele de forma absoluta, tam
bém foi, em alguma medida, difundida no mundo. A Palavra estava no mundo,
antes como depois da encarnação (Jo 1.10). Vide nota sobre Jo 1.4-5. Cristo, com
frequência, trata a verdade como algo a que Ele veio testemunhar, e sua missão
era desenvolvê-la para que fosse reconhecida e expressada de forma mais clara
(Jo 18.37). Ele fez isso ao incorporar a verdade em sua própria pessoa (Jo 1.14,17;
14.6) e por meio de seu ensinamento (Jo 8.40; 17.17); e sua obra é realizada pelo
Espírito da verdade (Jo 16.13), enviado por Deus e por Cristo (Jo 14.26; 16.7).
Assim, o Espírito, mesmo como Cristo, é a Verdade (lJo 5.6). A soma toda do co
nhecimento de Cristo e do Espírito é a Verdade (lJo 2.21; 2J0 l).
Essa verdade pode ser reconhecida, apreendida e apropriada pelo homem e
também pode ser rejeitada por ele (Jo 8.32; lJo 2.21; Jo 8.44).
2. Subjetivamente. A verdade é alojada no homem pelo Espírito e transmitida
ao seu espírito (Jo 14.17; 15.26; 16.13). Ela habita no homem (lJo 1.8; 2.4; 2J0 2)
como revelação, conforto, orientação esclarecimento, convicção, impulso, inspi
ração e conhecimento. É 0 espírito da verdade em contraposição ao espírito de erro
(Do 4.6). Ela traduz-se em ato. Os verdadeiros filhos de Deus praticam a verdade
(Jo 3.21; lJo 1.6). Ela traz santificação e liberdade (Jo 8.32; 17.17). Vide nota
sobre Jo 14.6,17.
9. Confessarmos (όμολογώμεν). D eόμος, ume o mesmo, e λέγω, dizer. Por esta ra
zão, originalmente, dizer a mesma coisa sobre outro e, portanto, admitir a verdade de
265
1João - C ap. l
uma acusação. Compare com SI 51.4. A expressão exata, όμολογεΐν τάς αμαρτίας,
confessar ospecados, não ocorre em outra passagem do Novo Testamento. Compa
re com έξομολογίΐσθα l αμαρτίας (παραπτώματα) em Mt 3.6; Mc 1.5;Tg5.l6. Vide
nota sobre Mt 3.6; 11.25; Lc 22.6; At 91.18; Tg 5.16.
Justo (δίκαιος). De δίκη, justiça. O termo é aplicado para Deus e para Cristo.
Vide Ap 16.5; Jo 17.25; lJo 2.1; 3.7; lPe 3.18. Estes dois vocábulos,^/e justo, um
implica o outro. Eles unem-se em uma verdadeira concepção do caráter de Deus.
O Senhor, que é o justo absoluto, tem de ser fiel a sua própria natureza e a sua
justiça quando trata com os homens, que participam dessa natureza e caminham
em comunhão com Ele, sendo simplesmente fiel a Ele mesmo. Westcott observa:
“Justiça é a verdade em ação”.
Perdoar (ίνα αφή). Vide Jo 20.23; lJo 2.12. O significado principal do termo é
remover, descartar, por conseguinte, cancelar os pecados como se perdoa uma dí-
266
1João - Cap. 1
vida. Purificar (v. 7) contempla o caráter pessoal do pecador; remissão contempla os
atos dele. Vide nota sobre Mt 6.12; Tg 5.15. O sentido literal de perdoar é que ele
seja perdoado. Acerca do uso de 'iva, afim de que, por João, vide nota sobre Jo 15.13;
14.31. O perdão condiz com o propósito essencial de seu ser justo e fiel.
Nossos pecados (τάς αμαρτίας). João define pecado como ανομία, iniquidade.
Compare com Rm 6.19. Segundo a ara, transgressão da lei (lJo 3.4). Pode ser consi
derado como condição ou como ata, ambos com referência ao ideal de humanidade
normal e divino ou a uma lei externa imposta ao homem por Deus. Qualquer afas
tamento do ideal normal de homem como criado à imagem de Deus põe o homem
fora de uma relação e harmonia verdadeiras com seu verdadeiro “eu" e, dessa for
ma, com seus irmãos e com Deus. Assim, ele entra em uma relação falsa e anormal
com o certo, o amor, a verdade e a luz. Ele caminha nas trevas e perde a comunhão
com Deus. A iniquidade é trevas, falta de amor e egoísmo. Esse falso princípio toma
forma no ato. Ele pratica (ποιεί) ou comete pecado. Ele pratica iniquidade (την ανομίαν
ποιεί; lJo 3.4,8 [ποιων την αμαρτίαν]). Ele transgride as palavras(ρέματα, Jo 17.8)
de Deus e seus mandamentos (έντολαί, lJo 2.3) conforme incluídos e expressos em
sua palavra ou mensagem (λόγος, 1Jo 2.7,14). De forma similar, o verbo άμαρτάνειν
(αμαρτάνω), pecar, pode ter o sentido de ser pecaminoso (lJo 3.6) ou de cometer pe
cado (Do 1.10). O pecado, considerado como princípio e ato, é designado por João
pelo termo αμαρτία. O princípio expresso nos atos específicos é ή αμαρτία (Jo
1.29), que ocorre nesse sentido em Paulo, mas não nos Sinópticos nem em Atos.
Muitos dos termos usados para pecado por outros escritores do Novo Testamento
não estão presentes em João, como: ασέβεια, impiedade, (vide nota sobre Jd 14);
άσεβεΐν (άσεβέω), viver impiamente (2Pe 2.6); παραβαίνειν (παραβαίνω), transgredir,
παράβασις, transgressãa, παραβάτης, transgressor {vide nota sobre Mt 6.14; Tg 2.11);
παρανομεΐν (παρανομέω), agir contra a lei, παρανομία, quebra da lei {vide nota sobre
At 23.3; 2Pe 2.16); παράπτωμα, ofensa {vide nota sobre Mt 6.14).
Injustiça (αδικίας). Com referência a δίκαιος,justo. O Justo que nos chama a comun
gar com Ele elimina a injustiça, que é contrária a sua natureza e que torna a comunhão
impossível. O termo ocorre nos escritos de João apenas em Jo 7.18; lJo 5.17.
10. Não pecamos (ούχ ήμαρτήκαμεν). Cometemos pecados. O pecado visto como
um ato. A condição é expressa por αμαρτίαν ούκ έχομεν, não temos pecado (v. 8).
Sua palavra (ò λόγος αύτοΰ). Não a Palavra pessoal, como em Jo 1.1, mas a
mensagem divina do evangelho. Vide Lc 5.1; 8.11; At 4.31; 6.2,7 etc. Compare
com “não há verdade em nós” (v. 8). A verdade é a substância da palavra. O vocá
bulo carrega a verdade. O termo move o homem (Jo 8.31-32) e permanece nele (Jo
5.38; 8.37). O homem também permanece na palavra (Jo 8.31).
Capítulo 2
1. Meus filhinhos (xecvía μου). T ckvÍ ov, filhinhos, diminutivo de τέκνοv, filho,
ocorre em Jo 13.33; iJo 2.12,28; 3.7,18; 4.4; 5.21. Essa expressão, em particular,
só é encontrada aqui (os melhores textos omitem meus, em lJo 3.18, como na
ara e te b ). É usado como termo afetivo ou, possivelmente, com referência à ida
de avançada do escritor. Compare com a palavra usada por Cristo, παιδία, filhos
(Jo 21.5), a qual João também usa (lJo 2.13,18). Na conhecida história de João e
do jovem convertido que se tornou um ladrão, relata-se que o apóstolo, já idoso,
dirigiu-se ao lugar frequentado pelo ladrão, e que o jovem homem, ao vê-lo, fu
giu. João, esquecido de sua idade, correu atrás dele gritando:
O meu filho, porque você foge de mim, seu pai? Você, umhomemarmado - eu, um
velho indefeso! Tenha pena de mim! Meu filho, não tema! Ainda há esperançade vida
para você. Gostaria de eu mesmo levar o fardo de todos diante de Cristo. Se for ne
cessário, morro por você, como Cristo morreu por nós. Pare! Foi Cristo quem me
enviou*6.
Escrevo. Mais pessoal que escrevemos (1.4) e, por isso, ajusta-se melhor à forma
de tratamento, meusfilhinhos.
Com o Pai (προς τον πατέρα). Vide nota acerca da expressão com Deus, em
Jo 1.1. E indicada uma relação ativa. Acerca dos termos o Pai e meu Pai, vid e nota
sobre Jo 4.21.
O Justo. Compare com ju sto , 1.9. Não há artigo no grego: Jesus C risto ju sto . Na
teb,Jesus Cristo, que é ju sto. Vide nota sobre 1.9.
Pelos de todo o mundo (περί όλου του κόσμου). A n v i acrescenta pecados (pelos
pecados de); mas deve ser omitido, como na a r c . Compare com lJo 4.14; Jo 4.42;
269
1 João - C ap. 2
Nele (eu τούτφ). Enfático. Literalmente, nesse a verdade não está. Vide nota
sobre 1.8.
30. Isto é, o caso genitivo, de Deus, do Pai, representa Deus com o sujeito da emoção.
271
1 J oão - C ap. 2
Em harmonia com isso está Jo 15.9: “Como o Pai me amou, também eu vos
amei a vós; permanecei no meu a m o r . M eu am or deve ser explicado pelo eu vos
amei. Essa é a mesma ideia de amor divino na esfera de ser renovado ou com esse
elemento da renovação; e essa ideia é posta, como na perícope que estamos exa
minando, em conexão direta com a observância dos mandamentos divinos. “Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor”.
Essa interpretação não exclui o amor do homem por Deus. Ao contrário,
ela o inclui. O amor que Deus tem é revelado como o a m o r d e D eu s no amor de
seus filhos em relação a Ele, não menos que em suas manifestações de amor
por eles. Assim, a ideia do amor divino é complexa. O amor, em sua essência,
é recíproco. Seu ideal perfeito requer duas partes. Não é suficiente nos dizer,
como uma verdade vazia e abstrata, que Deus é amor. A verdade deve estar
completa e plena para nós pela aplicação notável e perceptível do amor divino
sobre um objeto e pela resposta desse objeto. O amor de Deus é aperfeiçoado,
ou com pletado, pelo perfeito estabelecimento da relação de amor entre Deus e o
homem. Quando o homem ama perfeitamente, seu amor é o amor de Deus der
ramado em abundância em seu coração. Seu amor deve sua natureza e origem
ao amor de Deus.
O termo verd a d eira m en te (αληθώς) nunca é usado por João como uma mera
fórmula de afirmação, mas tem o conceito de advérbio qualitativo, expres
sando não apenas a ex istên cia a tu a l de uma coisa, mas sua existência corres
pondente de maneira absoluta à άλήθ€ΐα, verdade. Compare com Jo 1.48; 8.31.
E s tá aperfeiçoado. João está apresentando o id e a l de vida em Deus. “Este é o
amor de Deus que guardemos os seus mandamentos”. Por isso, quem guarda
a p a la v r a de Deus, sua mensagem em sua totalidade, realiza a perfeita relação
de amor.
6. Aquele que diz que está nele (kv αύτω péueiv). E s ta r ou perm anecer em
D eus é uma expressão mais comum em João que h a b ita r em D eus e marca um
avanço de pensamento. A expressão é uma das favoritas de João. Vide Jo 15.4ss.;
6.56; lJo 2.24,27-28; 3.6,24; 4.12s.,15s. Bengel observa a gradação nas três ex
pressões: conhecer a E le, e sta r nele, perm anecer ou h ab ita r nele —conhecimento, co
munhão, constância.
Deve (όφείλ6ΐ). Uma obrigação, posto como uma d ívid a . V id e h c 17.10 e sobre
d ívid a s, Mt 6.12. O vocábulo expressa uma obrigação pessoal e especial, e não
como óel, deve, uma obrigação na natureza das coisas. V ide Jo 20.9 e compare com
Do 3.16; 4.11; 3jo 8.
272
1J oão - Cap. 2
Ele (ètceivoç). Sempre para Cristo nas epístolas de João. Vide έκείνης, referin
do-se a αμαρτία, pecado, em 1Jo 5.16.
273
1 João - C ap. 2
Nele e em vós. Por vós, leia nós. O fato de o mandamento antigo ser novo é
verdade nele (Cristo), uma vez que Ele o deu como um mandamento novo e é ilus
trado pela palavra e o exemplo dele. Ele é verdade em vós, desde que vocês só o
receberam quando Cristo o deu a vocês e uma vez que a pessoa e a vida de Cristo
os atraem a novas luzes, e com poder renovado, à medida que sua vida cristã se
desenvolve. N ele aponta de volta a quando E le cam inhava.
As trevas (ή σκοτία). Vide nota sobre Jo 1.5. Deus é lu z e, por esta razão, qualquer
um que não está em comunhão com Ele é trevas. Em todos os casos em que o termo
não é usado para treva física, ele tem o significado de insensibilidade moral para a
luz divina; cegueira ou estupidez moral. Compare com Jo 8.12; 12.35,46; lJo 2.9,11.
Alumia (φαίν€ΐ). Vide nota sobre Jo 1.5. Compare com Ap 1.16; 8.12; 21.23;
2Pe 1.19. Vide nota sobre Rm 3.11 ss.; T t 2.11; 3.4.
amor e os que não têm comunhão com Deus e, assim, caminham em trevas e ódio.
“Uma oposição direta”, diz Bengel, onde o amor não está, há ódio. “O coração
não está vazio.” V ide Jo 3.20; 7.7; 15.18ss.; 17.14. O vocábulo ódio é o oposto de
amor de afeto n atu ral (φιλειν [φιλέω]) e do sentimento mais diferenciador —am or
fu n d a m en ta d o na ju s ta estim a (αγαπάν [αγαπάω]). Para o primeiro, vid e também
Jo 12.25; 15.18-19; compare com Lc 14.26. Para o último, vid e também lJo 3.14-
15; 4.20; Mt 5.43; 6.24; Ef 5.28-29. Westcott afirma: “No primeiro caso, ódio,
que pode se tornar uma obrigação moral envolve a sujeição de um instinto. No
segundo caso, expressa uma determinação geral de caráter”.
Seu irmão (τον αδελφόν). Seu companheiro cristão. O singular, irm ão, é ca
racterístico dessa epístola. Vide versículos 10-11; 3.10,15,17; 4.20-21; 5.16. No
texto do Novo Testamento, os cristãos são chamados de cristãos (At 11.26; 26.28;
lPe 4.16), principalmente pelos de fora do círculo cristão. D iscípu lo aplica-se a
todos os seguidores de Cristo (Jo 2.11; 6.61) e estritamente aos Doze (Jo 13.5ss.).
Em At 19.1, discípulo é usado só para aqueles que receberam o batismo de João
Batista. Não é encontrado nas epístolas de João nem no Apocalipse. Irm ão. O pri
meiro título dado ao corpo de crentes depois da ascensão (At 1.15, onde a leitura
correta é αδελφών, irm ão, em lugar de μαθητών, discípulos ). Vide At 9.30; 10.23;
11.29; lTs 4.10; 5.26; lJo 3.14; 3Jo 5,10; Jo 21.23. Pedro apresenta ή αδελφότης,
a fra te rn id a d e (lPe 2.17; 5.9). O s crentes. Sob três formas: os crentes (oi πιστοί; At
10.45; lTm 4.12); aqueles que creem (οι πιστεύοντες; lPe 2.7; lTs 1.7; Ef 1.19);
aqueles que criam (ol πιστεύσαντες; At 2.44; 4.32; Hb 4.3). O s santos (οί άγιοι), ex
pressão característica de Paulo e do Apocalipse. Há quatro ocorrências de santos
em Atos (9.13,32,41; 26.10) e uma em Judas (v. 3). Também em Hb 6.10; 13.24.
Em Paulo, 1C06.I; 14.33; Ef 1.1,15 etc. Em Ap 5.8; 8.3-4; 11.18 etc.
Até agora (εως άρτι). Embora a luz estivesse aumentando e embora ele pu
desse declarar que esteve na luz desde o início. A expressão ocorre em Jo 2.10;
5.17; 16.24; e é usada por Paulo em lCo 4.13; 8.7; 15.6.
10. Está (μένει). Vide nota sobre o versículo 6. Compare com o versículo 9, está em.
11. Está - anda —para onde. A condição daquele que odeia é vista como rela
cionada com ser, ação e tendência.
275
1 João - Cap. 2
Cegaram (έτύφλωσεν). Para essa imagem, vid e Is 6.10. Vide n o ta sobre fechou,
Mt 13.15. Compare com Jo 1.5, e vid e nota sobre καταλάβη, surpreendam , em
Jo 12.35; também sobre Jo 12.40. O tempo aoristo, cegaram, indica um ato passa
do, definido e decisivo. Quando as trevas alcançaram, elas cegaram. A cegueira
não é uma condição nova em que ele entrou.
12. Filhinhos. Vide nota sobre o versículo 1 e Jo 1.12. Não crianças em idade,
mas o tratamento para os leitores em geral.
O maligno (τον πονηρόν). V ide nota sobre m ald a d es, Mc 7.22; Lc 3.19; espí
rito s maus, Lc 7 .2 1 . O príncipe das trevas é intitulado por João de ό διάβολος,
o f a ls o a cu sa d o r ( ίο 8.44; 13.2; lJo 3 .8 ,1 0 ; v id e nota sobre M t 4.1); ό Σατανάς,
S a ta n á s, o a d v e rsá rio (Jo 13.27; compare com ό κατήγωρ, o acu sador, propria
mente, na corte, Ap 12.10); ό πονηρός, o m a lig n o (Jo 17.15; lJo 2 .1 3 -1 4 ; 3.12;
5 .1 8 -1 9 ); ò αρχών του κόσμου τούτου, ο p r ín c ip e deste m u n do ( ί ο 12.31; 14.30;
16.11). Observe a introdução abrupta do termo aqui, como indicando algo
familiar.
Filhos (παιδία). Compare com τεκνία, filh in h os (v. l), que enfatiza a ideia de
parentesco,embora esse termo enfatize a noção de subordinação e consequente d is
ciplina. Daí ele ser o vocábulo mais apropriado quando se fala do ponto de vista
da autoridade, em vez da afeição.
276
1 JoAo —C ap . 2
14. Eu £...]] escrevi έγραψα). Ou, estritamente, tenho escrito. Compare com es
crevo (vv. 12-13) e observe a mudança de tempo. O tempo passado, escrevi, não se
refere a alguma escrita anterior, como o Evangelho, mas à escrita atual para essa
epístola. O tempo presente, escrevo, refere-se ao ato imediato de escrever: o aoris-
to é o ep istolar por meio do qual o escritor se põe no lugar do leitor, observando
a escrita como um ato passado. Vide nota sobre lPe 5.12. Assim, escrevo refere-se
ao ato imediato do apóstolo de escrever; escrevi ou tenho escrito, o ato do leitor de
ler a escrita concluída.
Fortes (ισχυροί). Vide nota sobre não pôde, Lc 14.30; não posso, Lc 16.3.
O amor do Pai (ή αγάπη του πατρός). A frase ocorre somente aqui no texto
do Novo Testamento. Ela quer dizer amor em direção ao Pai, porém, como gerado
pelo amor do Pai pelo homem. Compare com lJo 3.1. Vide nota sobre a m o r de
Deus, versículo 5.
Não está nele. Isso significa mais que ele não amar a Deus; antes, representa
que o amor de Deus não permanece nele como o princípio governante de sua
vida. Westcott cita um paralelo de Filo: “É impossível o amor pelo mundo co
existir com o amor por Deus da mesma maneira como é impossível a luz e as
trevas coexistirem”. Compare com Platão:
É certo, Teodoro. Porém não é possível eliminar os males - forçoso é haver sempre
o que se oponha ao bem —nem mudarem-se eles para o meio dos deuses. É inevitável
circularem nesta região, pelo meio da natureza perecível. Daqui nasce para nós o
dever de procurar fugir quanto antes daqui para o alto. Ora, fugir dessa maneira é
tornar-se o mais possível semelhante a Deus; e tal semelhança consiste em ficar al
guém justo e santo com sabedoria32.
16. Tudo (παν). Não todas as coisas separadamente, mas tudo que está no m undo
visto como uma unidade.
coletivam ente,
32. Platão, Diálogos: Teeteto e C rátilo, tradução Carlos Alberto Nunes, Belém, UFPA Gráfica e
Editora Universitária, 1988, 176, p. 4·9.
277
1 JoÂo - Cap. 2
Da carne. Apetite sensual. O desejo que reside na carne, não o desejo p a ra a car
ne. Para esse uso subjetivo do genitivo com concupiscência, v id e Jo 8.44; Rm 1.24;
Ap 18.14. Compare com lPe 2.11; T t 2.12. A concupiscência da carne envolve a
apropriação do objeto desejado. Acerca de a carne, vid e nota sobre Jo 1.14.
A soberba da vida (ή αλαζονεία του βίου). Na τβ, vaidade. Ο termo ocorre so
mente aqui e em Tg 4.16, a respeito do qual v id e nota. O significado original dele
é co n versafrívola, v a zia , arrogante-, ou dem onstração d e friv o lid a d e , arrogância e fa lta
de inteligência ou sabedoria; daí o sentido de segurança insolente e vã nos próprios
recursos ou na estabilidade das coisas terrenas, que resulta na desobediência das
leis divinas. A vaidade da vid a é a que pertence à vida atual. Acerca de βίος, vida,
como distinto de ζωή, vida, vide nota sobre Jo 1.4.
Do Pai (εκ του πατρός). Não origina do Pai. Acerca da expressão είναι έκ, ser
nota sobre Jo 1.46.
de, vid e
33. Platão, Timeu e Crítias ou a Atlântida, tradução Norberto de Paula Lima, Curitiba, Hemus, 2 0 0 2 ,
90, p. 181-182.
278
1 J oão - Cap. 2
17. Para sempre (εις τον αιώνα). A única forma em que αιών, era, vida, ocorre no
Evangelho e nas epístolas de João, exceto έκ του αΐώνος, desde oprincípio do mundo (Jo
9.32). Algumas versões antigas acrescentam: “como Deus, permanece para sempre”.
A última hora (έσχατη ώρα). A frase ocorre somente aqui no texto do Novo
Testamento. Acerca do uso de ώρα, hora, por João, como marcando um período
crítico, vide Jo 2.4; 4.21,23; 5.25,28; 7.30; 8.20; 12.23,27; 16.2,4;25,32. No texto do
Novo Testamento, o significado predominante da expressão é últimos dias, de um
período de sofrimento e luta precedendo a vitória divina. Vide At 2.17; Tg 5.3;
lPe 1.20. Por esta razão, a frase aqui não se refere ao fim do mundo, mas ao pe
ríodo predecessor de uma crise no avanço do reino de Cristo, um período incerto
e turbulento marcado pelo aparecimento de “muitos anticristos”.
Por onde (όθεν). Literalmente, por que motivo. Somente aqui em João. O termo
é encontrado em Mateus e Lucas e, com frequência, em Hebreus, e não em outras
perícopes.
19. Saíram de nós (Ιξ ημών έξήλθαν). A expressão, sair de, pode ter o significa
do de remoção (Ap 18.4; Jo 8.59) ou origem (Ap 9.3; 14.13,15,17; 19.5,21). Aqui
279
l J oão - C ap . 2
Conosco (μεθ’ ήμών). ’Eu ήμΐν, entre nós, estaria mais de acordo com o uso
habitual de João, mas aqui seu pensamento repousa, antes, na comunhão que na
união dos cristãos como um corpo.
Não são todos (ούκ eioiv πάι/τες). Tradução mais acertada34. Ao passo que
na bj: nem todos eram, a bp diminui a força da negação pela exclusão de todos·, que
não eram dos nossos.
20. A unção (χρίσμα). O termo tem o significado daquilo com que a unção
é realizada - o unguento ou pomada. No texto do Novo Testamento, ocorre
somente aqui e no versículo 27. A t eb , uma unção. A raiz é a mesma para esse
termo e Χριστός, Cristo. Vide nota sobre Mt l . 1. A unção é da parte do Ungido.
Sabeis tudo (οΐδατε πάντα). Os melhores textos trazem πάντες, vós todos co
nheceis-, caso em que a conexão é com a oração seguinte: “Não escrevi a vocês
porque não conhecem a verdade, mas porque a conhecem’.
21. Não [...]] escrevi (ούκ έγραψα). Vide nota sobre o versículo 13.
84. Porque reproduz a separação que ocorre no original entre nãoe todos pelo verbo. N esses casos,
de acordo com o uso no texto do Novo Testamento, a negação é universal. A tradução da kjv e
bj, nem todos, torna-a parcial. Observe, por exemplo, lJo 3.15; M t 24.22.
280
1 J oão - C ap . 2
O Pai. O título o Pai ocorre sempre em sua forma simples nas epístolas. Nun
ca seu ou nosso Pai, nem o Pai no céu.
23. Não tem o Pai (ούδε τον πατέρα έχει). Apropriadamente: “não tem nem o
Pai”, embora ele professe a reverência pelo Pai enquanto rejeita o Filho. Compa
re com Jo 8.42.
Vida eterna (την ζωήν την αίώνιον). Literalmente, a vida, a eterna (vida).
A sua unção (το αύτοΰ χρίσμα). Essa é a leitura dos melhores textos. A kjv
Nele. Cristo.
28. Quando ele se manifestar (όταν φανερωθη). Os melhores textos trazem 4àv, se,
em lugar de quando. Como na rv, que também transmite a força passiva apropriada
de φανερωθη, se elefor manifestado. Não expressa dúvida em relação aofato, mas in
certeza quanto às circunstâncias. Acerca de<t>avepÓG), tomar manifesto, vide nota sobre
Jo 21.1. João nunca usa αποκαλύπτω, revelar, para se referir à revelação de Cristo. Na
verdade, nem o verbo nem o substantivo relacionado, άποκάλυψις, ocorrem em seus
escritos, exceto em Jo 12.38, que é uma citação de Isaías, e em Ap 1.1.
282
1 J oão —C ap. 2
29. Se sabeis - sabeis (εάν είδήτε - γινώσκετε). Se você sabe absolutamente que
Ele é justo, você percebe que todo aquele etc. Vide nota sobre Jo 2.24·. Vocêpercebe
pode ser tomado como imperativo: perceba ou saiba.
Justo (δίκαιος). Usado por João para Deus e para Cristo. Para Deus, lJo 1.9;
Jo 17.25; Ap 16.5; para Cristo, lJo 2.1; 3.7; Compare com At 3.14; 7.52; 22.14.
Quando João pensa em Deus em relação aos homens, ele nunca pensa nele à parte de
Cristo {vide lJo 5.20) e, mais uma vez, ele nunca pensa em Cristo em sua natureza
humana sem acrescentar o pensamento de sua natureza divina. Assim, é possível uma
rápida transição de um aspecto da pessoa humana-divina do Senhor para outro.
283
1 João - Cap. 3
Capítulo 3
Agora somos £...]] e etc. Os dois pensamentos da condição presente e futura dos
filhos de Deus são postos lado a lado com a simples conexão e como partes de um único
pensamento. A condição cristã, agora e eternamente, centra-se no fato de serem filhos
de Deus. Nesse fato repousa o germe de todas as possibilidades de vida eterna.
O que havemos de ser (τί εσόμεθα). Segundo Bengel: “Esse o que sugere algo
indizível contido na semelhança com Deus”.
284
1 J oão - C ap. 3
Nele (επ’ αύτώ). Ambíguo. Melhor, como n a rv, posta sobre ele.
285
1 J oão - C ap. 3
ήλπίκαμεν 4π'ι Θεώ ζώντι, “esperamos sobre ο Deus vivo” (iTm 4.10). Acerca da
força de εχων, vide nota sobre Jo 16.22.
Puro (αγνός). Vide nota acima. Embora marcando pureza moral e espiritual, e
de grande valor, uma vez que, aqui, o vocábulo é aplicado a Cristo, admite, toda
via, o pensamento de possível tentação ou contaminação diferindo, desse modo,
de άγιος, que quer dizer absolutamente santo. Por esse motivo, αγνός não pode ser
adequadamente aplicado a Deus, que é άγιος; mas ambos podem ser usados para
Cristo, Ele em virtude de sua perfeição humana.
Também pratica iniquidade (και την ανομίαν ποιεί). Tradução mais acura
da; contra a kjv , também transgride a lei. Compare com M t 13.41, e com a expres
são οί εργαζόμενοι την ανομίαν, vós que praticais a iniquidade (Mt 7.23).
286
1 J oão —Cap. 3
Ele (εκείνος). Cristo, como sempre nessa epístola. Vide nota sobre Jo 1.18.
Se manifestou. Vide nota sobre Jo 21. l . Incluindo toda a vida de Cristo na terra
e suas consequências. Aqui, a ideia de manifestação assume o fato de uma existência
anterior. João usa vários termos para descrever a encarnação. Ele concebe-a com
referência ao P a i, como um envio, uma missão. Daí ό πέμψας pe, aquele que me enviou
(Jo 4.34; 6.38; 9.4; 12.44 etc.); ό πέμψας με πατήρ, o P a i que me enviou (Jo 5.37; 8.18;
12.49 etc.); com o verbo αποστέλλω, en viar como enviado, com uma comissão; Deus
enviou (άπέστειλεο) seu Filho (Jo 3.17; 10.36; lJo 4.10; compare com Jo 6.57; 7.29;
17.18). Com referência ao Filho, como um vindo, considerado como um fato histórico
e permanente. Como evento histórico, E le veio (ήλθεν, Jo 1.11); este é aquele que veio (ò
ελθών, lJo 5.6). Vim (έξήλθον, Jo 8.42; 16.27-28; 17.8). Como algo perm anente em seus
efeitos, vim , veio, é vindo, marcado pelo tempo perfeito: a lu z é vinda (έλήλυθεν, Jo
3.19). Jesus Cristo ê vindo (εληλυθότα, 1Jo 4.2). Compare com Jo 5.43; 12.46; 18.37.
Em duas ocorrências com ήκω, vim, Jo 8.42; lJo 5.20. Ou com o tempo presente,
como descrevendo a vinda realizada naquele momento, daí vim (έρχομαι, Jo 8.14);
compare com Jo 14.3,18,28; também Jesus C risto veio (ερχόμενον, 2Jo 7). Com refe
rência àform a: na carne (σάρξ). Vide Jo 1.14; lJo 4.2; 2Jo 7. Com referência a homens,
Cristo f o i m an if*estado (lJo 1.2; 3.5,8; Jo 1.31; 21.1,14)*®.
Nossos pecados (τάς αμαρτίας ημών). Omita ημών, nossos. Compare com
Jo 1.29, την αμαρτίαν, o pecado. Aqui, o plural considera tudo que está contido
no termo inclusivo o pecado, todas as manifestações ou realizações de pecado.
Nele não há pecado (αμαρτία έν αύτφ ούκ εστιν). Literalmente. Ele é essen
e p a ra sempre sem pecado. Compare com Jo 7.18.
cialm ente
Não vive pecando. João não ensina que os cristãos não pecam, mas se refere
a um caráter, um hábito. D o começo ao fim da epístola, o apóstolo lida com a rea
se. Estou em dívida com o Cônego Westcott quanto ao conteúdo dessa nota.
287
1JoAo - Cap. 3
lidade ideal da vida em Deus, em que o amor de Deus e o pecado excluem um ao
outro como a luz e as trevas se excluem mutuamente.
Pratica justiça. Vide nota sobre o versículo 4, e compare com 2.29. Observe o
artigo την, a justiça, em sua completude e unidade. Não apenas praticando atos
justos. Platão afirma: “Em sua relação com os outros homens, ele pratica o que é
justo; e em sua relação com os deuses, ele pratica o que é santo; e ele que pratica
a justiça e a santidade não pode ser nada além de justo e santo”.
8. Do diabo. Vide nota sobre 2.13. Compare com Jo 8.44. Agostinho registra:
“O Diabo não fez ninguém, não gerou ninguém, não criou ninguém; mas todo
aquele que imitar o Diabo, supostamente, é filho do Diabo, por meio da imitação,
não por ser nascido dele”.
O Filho de Deus. Pela primeira vez na epístola. Até aqui o título foi o F ilh o
ou seu F ilho. Vide nota sobre 1.7.
A justiça. Na kjv, falta aqui o artigo; compare com o versículo 7. Justiça não
é considerada em sua completude, mas como carregando um caráter particular.
Seria interessante seguir a mesma distinção entre as seguintes palavras com e
sem o artigo: αμαρτία, pecado-, αγάπη, am or, ζωή, vida·, άλήθίΐα, verdade.
12. Caim que era (Κάϊν ήν). Que não aparece no grego. A construção é irregu
lar. Literalmente, como na rv , não como C aim era do m aligno.
Por que causa (χάριν τίνος). Literalmente, p o r conta d e que. Χάριν, p o r causa
de, p o r conta de, em outras passagens, está posto depois do genitivo. Vide Ef 3.1,14;
lTm 5.14; G1 3.19. Na m n , p o r que.
289
1João —Cap. 3
13. Irmãos (άδελφοί). A única ocorrência desse modo de tratamento na epístola.
Para a vida (εις την ζωήν). Na r v , mais literalmente, p a ra dentro da. Compare
com entrar na vida, em Mt 18.8; 19.17.
290
1 J oão - C ap . 3
tudo, não (como podería ser) como um modo falho de atribuir alguma culpa ao réu,
mas como, em geral, uma satisfação justa para os sentimentos feridos dos parentes e
amigos ou como uma compensação real pelos serviços perdidos do homem morto. A
religião da era não toma conhecimento do ato, qualquer que seja ele39.
O amor. A nvi acrescenta: Jesus Cristo-, a t b e ara, Cristo-, a teb e ecp, Jesus.
Omita, como na arc .
Deu a sua vida (την ψυχήν αύτοΰ εθηκεν). Vide nota sobre Jo 10.11.
17. Bens do mundo (τον βίον του κόσμου). Na a r a , recursos deste mundo-, na n v i ,
recursos materiais. Βίος q u e r d iz e r aquilo por meio de que a vida é sustentada, recursos,
riqueza.
19. D iante dele (έμπροσθεν αύτοΰ). Enfático, com a seguinte ordem: diante dele
asseguraremos nosso coração. Deve-se ter em mente essas palavras como a nota-
chave do que se segue.
291
1 J oão — C ap . 3
20. Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus etc. Passagem
muito difícil. Vide a nota crítica, como acima. Traduza, como a rv: asseguraremos
nosso coração dian te dele onde quer que nosso coração nos condene, porqu e D eu s é m a io r
do que nosso coração.
Sabendo que (ότι). Não deve ser traduzido como conjunção {pois Γκ,ιν, bjj ,
ou como na arc, mas como relativo, p o r m ais que,
porqu e Γτεβ ] ) , seja em que fo r,
ou onde quer que.
[Torque]] (ότι). Esse segundo ότι não aparece na arc. É uma conjunção.
M aior (μζίζων). Essa grandeza superior deve ser observada como re
lacionada ao ju lg a m e n to de Deus ou a sua c o m p a ix ã o ? Se for ao ju lg a m e n to
dele, o sentido é: Deus que é maior que nosso coração e sabe todas as
coisas não só deve e n d o ssa r, mas enfatizar nossa autoacusação. Se nosso
coração condena-nos, quanto mais Deus que é maior que nosso coração.
Se for a c o m p a ix ã o dele, o significado é: quando nosso coração nos con
dena devemos o tranquilizar com a certeza de que estamos nas mãos de
um Deus que é maior que nosso coração - que excede o homem em amor
e compaixão e também em conhecimento. Esse último sentido se ajusta
melhor a toda a tendência da discussão. V ide nota crítica. Há um jogo de
vocábulos com γινώσκει, conhecer, e καταγινώσκη, co n d en a r, que não é pos
sível traduzir.
24. Nele está, e ele nele. Bede afirma: “Portanto, deixe Deus ser sua mora
dia e seja a moradia de Deus, permaneça em Deus e deixe que ele permaneça
em você”.
293
1 J oão - C a p . 4
Capítulo 4
1. Amados. Mais uma vez o reconhecimento do perigo dos falsos espíritos pro
voca esse tratamento afetuoso. Compare com 3.21.
2. Nisto (ε ν το ύ τ ω ). Vide n o t a s o b r e 2 .3 .
Que Jesus Cristo veio em carne (Ίησοϋν Χριστόν εν σαρκί έληλυθότα). Li
teralmente, “Jesus Cristo tendo vindo” etc. Na teb , Jesus Cristo vindo. A frase toda
forma o objeto direto do verbo confessar.
3.Veio em carne. Omita. Traduza: não confessa Jesus. Como na n v i . Uma leitura
antiga é: λύει τον Ίησούν, “anula” ou “destrói Jesus”. Compare com a n tlh , quem
nega isso a respeito de Jesus. O simples Jesus enfatiza a humanidade do nosso Se
nhor considerada em si mesma. Vide Rm 3 .2 6 ; 10 .9 ; 2Co 11.4; Ef 4 .2 1 ; Hb 2 .9 .
Este (τούτο). Não esse espírito, mas essa não confissão, resumida em toda sua
manifestação.
294
1 João - Cap. 4
O que está no mundo. Em 5.19, é dito que o mundo está no m aligno. Compare
com Ef 2.2.
5. Do mundo (έκ τού κόσμου). P rocedente do, como sua origem (έκ). Diferente de
έκ τής γης, da terra (Jo 3.31), como marcando toda economia mundana conside
rada moralmente.
Falam do mundo (έκ τοϋ κόσμου λαλοϋσιν). Tradução ambígua que pode fa
cilmente ser interpretada como: “Eles falam concernente ao mundo”. Literalmen
te, é: “Eles falam de dentro do mundo”; ou seja, o caráter de seu pronunciamento
corresponde à origem deles. Na r v , “eles falam como do mundo”. Ao passo que a
n v i traz: o q u e fa la m procede do mundo. A posição de do m undo na sentença é enfá
N isto (έκ τούτου). Não é igual ao comum èv τούτψ (v. 2). Ele ocorre somente
aqui na epístola. A expressão έν τούτψ significa em isto ou nisto, έκ τούτου, de
isto ou disto. O primeiro assinala a perm an ên cia ou consistência da essência ou a
verdade de uma coisa em algo que a apreensão dela nos transmite a natureza
essencial da própria coisa. A segunda marca a inferência ou dedução da verdade
de algo em contrapartida com sua percepção imediata daquele algo. Na r v , p o r
m eio disto.
O espírito do erro (τό πνεύμα τής πλάνης). A expressão não ocorre em ne
nhuma outra perícope do Novo Testamento. Compare com πνεύμασ ι πλάνοις,
espíritos enganadores, em lTm 4.1.
295
1 João - Cap. 4
8. Não conhece (ούκ έγνω). O tempo aoristo: não conheceu, desde o princípio. Ele
nunca conheceu.
E amor (αγάπη έστίν) V ide nota sobre as expressões D eus é lu z (1.5) e a verdade
(1.6); também sobre D eus é espírito (Jo 4.24). E sp írito e lu z são expressões da na
tu reza essencial de Deus. A m o r é a expressão de sua perso n a lid a d e correspondente
a sua natureza. Vide nota sobre am or de D eus (2.5). Verdade e amor permanecem
relacionados um com o outro. O amor é a condição do conhecimento.
Para conosco (εν ήμΐν). Tradução inadequada. Não “entre nós”, como em
Jo 1.14, nem “em nós”, mas, como na margem da rv, em nosso caso*6.
Seu Filho unigênito (τον υιόν αύτοϋ τον μονογενή). Literalmente, seu F ilho, ο
unigênito (Filho). Modo de expressar comum em João, ampliando o significado de
um substantivo pela adição de um adjetivo ou particípio com artigo. Vide 1.2; 2.7-
8,25; 5.4; Jo 6.41,44,50-51; 15.1 etc. Acerca de unigênito, v id e nota sobre Jo 1.14.
12. Deus. Começando a sentença de forma enfática e sem o artigo: Deus como
Deus. “D eus que nenhum homem já viu”. Compare com Jo 1.18.
45. Como Alford e Huther, contra Westcott. Westcott observa, com acerto, que a preposição cv, em,
é usada constantemente no contexto para expressar a presença de Deus no corpo do cristão;
mas é mais comumente usada ali com ykvex, perm anece, versículos 12-1S, 15-16, e a declaração
objetiva: D eus enviou etc., definindo a manifestação do amor de Deus, não se ajusta de forma
natural ao sentido subjetivo sugerido por em nós.
296
1 JoAo —Cap. 4
Dia do Juízo (τή ήμερα τής κρίσεως). Literalmente. A expressão exata ocorre
somente aqui. A expressão ήμερα κρίσεως, d ia de ju íz o , sem os artigos, é encon
trada em Mt 10.15; 11.22,24; 12.36; 2Pe 2.9; 3.7. O dia é chamado o g ra n d e D ia
da sua ira (Ap 6.17); d ia d a ira e da m anifestação do j u í z o de D eus (Rm 2.5); D ia da
visitação (lPe 2.12); ú ltim o D ia (Jo 6.39-40,44,54); naquele D ia (Mt 7.22; Lc 6.23;
10.12). A expressão o J u ízo é encontrada em Mt 12.41-42; Lc 10.14; 11.31-32.
Qual (καθώς). Não no sentido absoluto, mas de acordo com a nossa medida,
como homens neste mundo.
Ele é. O tempo presente é muito relevante. Compare com 3.7: "É justo, assim
como ele é justo”. A essência do nosso ser sendo como Ele é repousa no amor
aperfeiçoado; e Cristo é eternam ente amor. “Quem está em amor está em Deus, e
Deus, nele”. Compare com 3.2.
Neste mundo. Essa economia atual, física e moral. A expressão limita a con
cepção de semelhança.
18. No amor, não há temor (φόβος ούκ εστιν kv τή αγάπη). Literalmente, tem or
não é. Ele não tem existência. O tem or é aquele falado em lPe 1.17; Hb 12.28;
temor santo; respeito filia l, não temor escravizante, como em Rm 8.15. N o am or,
literalmente, o am or, aquele amor aperfeiçoado do qual João tem falado.
Lança fora (εξω βάλλει). Expressão forte: despeja. O temor é lançado fora da
esfera da comunhão de amor. Vide a expressão em Jo 6.37; 9.34-35; 12.31; 15.6.
expressão tem a pen a ( vid e nota sobre Jo 16.22) indica que a punição é inerente
ao temor. O temor carrega sua própria punição. Agostinho, comentando sobre a
expulsão do temor pelo amor, diz:
299
1 J oão - C a p . 5
Vemos, como na costura, o fio passar através da agulha. A agulha é primeiro enfiada
no tecido, mas o fio só pode ser introduzido quando a agulha é tirada. Também o medo
primeiro ocupa a mente, mas não permanece indefinidamente nela porque entrou para
o propósito de introduzir o amor.
E o que teme. A n v i (aquele que tem medo) omite e (5è), que é importante na
conexão íntima dessa oração com: no amor, não há tem or etc. Aquela é uma decla
ração abstrata, esta é pessoal; dois modos de afirmar a mesma verdade.
Não é perfeito. Bengel afirma: “A condição dos homens varia, sem temor e
sem amor; com temor sem amor; com temor e com amor; sem temor com amor”.
20. Quem não ama seu irmão etc. Observe a inversão evidente das orações:
aquele que não am a seu irm ão, a quem tem visto, a D eus, a quem não tem visto, não p o d e
am ar.
21. Que (ϊνα). Não definindo o conteúdo do mandamento, mas expressando sua
intenção. Compare com Jo 13.34, e vid e nota sobre Jo 15.13.
Para o perseguidor Saulo, Cristo disse: ‘‘Saulo, Saulo, por que me persegues? Ascendí
ao céu, mas ainda repouso sobre a terra. Aqui, sento-me à direita do Pai; lá ainda sinto
fome, sede e sou um estrangeiro”
Capítulo 5
1. Todo aquele que crê (πας ò πι,στ^ύων). Literalmente. Para a forma caracte
rística da expressão; vid e nota sobre 3.3.
300
1 João - C ap. 5
2. Nisto ( è v τούτω). Contra a k j v , p o r isto. Não p o r isto, nem a p a r tir de isto, como
uma inferência ( vide nota sobre 4.6), mas no preciso exercício do sentimento em
direção a Deus, nós conhecemos.
Quando (όταν). Sentido mais estrito, sempre que. Nossa percepção da existên
cia do amor por nosso irmão é desenvolvida em toda ocasião quando exercitamos
amor e obediência em relação a Deus.
Guardamos (τηρώμεν). Leia ποί-ώμ^ν, praticam os. Como na a r a . Vide nota so
bre Jo 3.21; Do 3.4. A expressão exata uOLeív τάς έντολάς, p ra tic a r os manda
mentos, ocorre somente aqui. V ide nota sobre Ap 22.14.
Nossa fé (πίστι,ς ημών). Πίστις,^?, somente aqui nas epístolas de João e não
no Evangelho. N o s s a fe é abraçada na confissão de que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus. Acerca da questão do uso subjetivo e objetivo de a fé , vide nota sobre
At 6.7.
6. Este. Jesus.
301
1J oão - Cap. 5
Aquele que veio (ò έλθών). Refere-se ao fato histórico. Vide Mt 11.3; Lc 7.19;
Jo 1.15,27. Compare, para a forma de expressão, com Jo 1.33; 3.13.
Por água e sangue (δι’ ϋδατος καί αίματος). Διά, por, deve ser tomado com ò
έλθών, aquele que veio. Não tem só o sentido de acompanhamento, mas também de
instrumentalidade, ou seja, por meio do qual. Assim, água e sangue são o meio por
intermédio dos quais Jesus, o Mediador, operou e que, sobretudo, caracterizou a
vinda. Vide, em especial, Hb 9.12: “Vindo Cristo nem por sangue (δι’ αίματος)
de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue (διά δί τοΰ Ιδιου α'ίματος)”. Com
pare com: “andamos porf i e não por vista’ (διά πιοτί ως ού διά ίϊδους, 2Co 5.7);
esperamos com (literalmente, por meio de) paciência (δι’ ύπομονής, Rm 8.25).
Água refere-se ao batismo de Cristo no início de sua obra messiânica, por meio
do qual Ele declarou seu propósito para cumprir toda justiça (Mt 3.15). Sangue
refere-se a sua morte sangrenta na cruz pelos pecados do mundo.
Outras explicações são substituídas por essa ou combinadas com ela. Alguns
se referem às palavras água e sangue para o incidente de Jo 19.34. Para esse fim,
é justamente objetado que está evidente que esses termos foram escolhidos para
descrever algo característico do cargo messiânico de Cristo, o que não pode ser
dito a respeito do incidente em questão. Todavia, como Alford observa com acer
to: “negar toda essa alusão parece ir contra a probabilidade. Dificilmente, aqui e
naquela perícope, o apóstolo teria posto essa ênfase evidente na água e no sangue
juntos sem ter em mente algum elo ligando esse lugar e aquele”. Os leitores da
epístola deviam estar familiarizados com o incidente por meio do ensinamento
escrito e oral.
Outros se referem às palavras aos sacramentos cristãos. Contudo, estes, como
Huther observa, são apenas os meios para a apropriação da expiação de Cristo, ao
passo que o assunto aqui é a consumação da própria expiação. Αίμα, sangue, des
tacando-se por si mesmo, nunca representa a Ceia do Senhor no texto do Novo
Testamento.
O verdadeiro princípio de interpretação parece ter sido estabelecido nos dois
cânones de Düsterdieck. (1) Água e sangue devem apontar para alguns fatos pu
ramente históricos da vida de nosso Senhor na terra e para alguns testemunhos
ainda presentes de Cristo. (2) Eles não devem ser interpretados simbolicamente,
mas entendidos como algo tão real e poderoso, como aqueles por meio dos quais
o testemunho de Deus é dado para os cristãos, e a vida eterna é assegurada a
eles. Assim, a referência sacramental, embora secundária, não pode ser excluída.
O Cônego Westcott encontra “uma extensão do sentido” de água e sangue nas
seguintes palavras: “Não só na água, mas na água e no sangue”, seguidas da re
ferência ao testemunho presente do Espírito. Ele argumenta que a mudança das
preposições (ev, em, em lugar de διά, por), o uso do artigo (τφ) e a ênfase sobre a
302
1João - Cap. 5
experiência real (o Espírito ê o que testifica), estes, junto com o fato de que aquilo
que foi falado em sua unidade {por água e sangue) agora é mencionado em suas
partes separadas {na água e no sangue)·.
Tudo mostra que João fala de uma continuação da primeira vinda sob alguma for
ma nova, mas análoga. A primeira prova do messiado de Jesus repousa em seu
completo cumprimento histórico da obra do Messias de uma vez por todas ao
trazer purificação e salvação; essa prova continua na experiência da igreja em
suas duas partes separadas.
Porque (ότι). Alguns traduzem por que, como apresentando o conteúdo do tes
temunho, o que é absurdo: o Espírito testifica que o Espírito é a verdade. O Espírito
é o Espírito Santo, não a vida espiritual no homem.
Em suma, se esse versículo for realmente genuíno, não obstante sua ausência de to
dos os manuscritos gregos conhecidos, exceto de dois (aquele de Dublin e o forjado,
encontrado em Berlim), um dos quais estranhamente traduz o versículo do latim, e o
outro o transcreve de um livro impresso; apesar de sua ausência de todas as versões,
exceto da vulgata, mesmo de muitos dos melhores e mais antigos manuscritos da
vulgata ; porém, o profundo e mortal silêncio de todos os escritores gregos até o sé
culo XIII e da maioria dos latinos até o meio do século VIII; se, apesar de todas essas
objeções, ele ainda for genuíno, não se pode provar que nenhuma parte das Escrituras,
seja qual for ela, é espúria ou genuína; e permitiu-se que, por muitos séculos, Satanás
banisse a “magnífica passagem do Novo Testamento”, como a chamava Martinho, dos
olhos e da lembrança de quase todos os autores, tradutores e copistas cristãos.
8. Concordam num (εί,ς το εν εισιν). Literalmente, são para o um. Eles conver
gem para a única verdade, Jesus Cristo, o Filho de Deus, vindo na carne.
Porque (ott). Explicando, não porque ele é maior, mas porque o princípio da gran
deza superior do testemunho divino deveria ser aplicado e a ele se deveria apelar
neste caso. Complete mentalmente: e isso se aplica ao caso diante de nós, porque etc.
304
1João - Cap. 5
O testemunho de Deus é este, que (rjv). Os melhores textos trazem ότι, que o u
porque.Traduza: que. E ste é o testemunho de D eus, mesmo of a to de que etc.
Deus. Também pessoal. Crer em Deus é crer na mensagem que vem dele. Vide
nota sobre Jo 1.12.
Vida eterna (ζωήν αί,ώνιον). Compare com as expressões την ζωήν τήν
αιώνιον, a vida, a v id a eterna e ή αιώνιος ζωή, a v id a eterna (Jo 17.3). Para a
distinção entre as expressões, v id e n ota sobre 1.2. A expressão aqui, sem nenhum
dos artigos, define apenas o caráter da vida.
12. Tem a vida (εχει τήν ζωήν). Esse é o sentido mais estrito, a vida, ou seja, a
vida que Deus concedeu (v. 11). Vide nota sobre Jo 16.22. Compare com Cristo,
que é a nossa v id a (Cl 3.4).
O Filho de Deus. Tem o F ilh o, não tem o F ilh o de D eus, aponta de volta para
Deus como o doador de vida em seu Filho. Bengel observa: “O versículo tem
duas orações: na primeira, não se acrescenta de Deus, porque os cristãos conhe
cem o F ilh o ; na outra, acrescenta-se que os descrentes talvez saibam muito bem
como é sério não o ter”.
305
1JoÂo —Cap. 5
Não tem a vida. Observe a inversão: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não
tem o Filho de Deus não tem a vid a ”.
Saibais (είδήτε). Não perceber (γινώσκειν), mas saber com conhecimento esta
belecido e absoluto. Vide nota sobre Jo 2.24·.
14·. Confiança (παρρησία). Na n t l h , coragem. V ide nota sobre 2.28; Jo 7.13. Acer
ca de ter confiança, v id e nota sobre Jo 16.22.
Ele nos ouve (άκούει ημών). Compare com Jo 9.31; 11.41-42. Só João usa ouve
nesse sentido.
15. Tudo o que pedimos. A frase toda é regida pelo verbo ouvir. Se sabemos que
Ele ouviu todas nossas petições.
Não é para morte (μή προς θάνατον). Descreve a natureza do pecado. A pre
posição para tem o sentido de tendência em direção a, não necessariamente envol
vendo morte. Vide nota sobre o versículo 17.
Orará (αιτήσει). O tempo futuro não expressa apenas permissão (será permi
tido que ele peça), mas a certeza de que, como um irmão cristão, ele pedirá.
Sugere-se uma injunção para esse efeito.
Deus dará. Na k jv , ele dará, segundo o texto grego. Pode referir-se a Deus
ou ao pedinte, como o meio de conceder vida por intermédio de sua intercessão,
como em T g 5.20. A primeira explicação é a mais natural. Como na a r c , a r a , bj ,
t e b , entre outras.
[Para ele^) (αύτω). A a r c não traz. Refere-se ao irmão por quem é feita a inter
cessão. Na TB e t e b , “lhe dará a vida”; na bj , “dará a vida a este irmão”.
Àqueles que [...]] pecarem (τοίς άμαρτάνουσιν). Em aposição com αύτω, para ele.
Deus dará vida para ele (o irmão que errou), mesmopara aqueles quepecaram. O plural
generaliza o caso particular descrito por άμαρτάνοντα αμαρτίαν, pecando um pecado.
Por esse não digo que ore (ού περί εκείνης λέγω 'ίνα ερώτηση). Literalmen
te, não concernente a isto digo que ele devafazer pedido. Como na r v . Não é proibido
orar nem mesmo para esse pecado para morte, mas João diz que não ordena isso.
Observe a contundente distinção com que esse pecado terrível é lançado fora pelo
uso do pronome de referência remota e sua posição enfática na sentença. Observe
também as palavras fazer pedido (ερώτηση), e compare com αιτήσει, orará. Acerca
da distinção, vide nota sobre Lc 11.9. Αίτέω, orar, é usado para a petição de um
inferior, e nunca é usado em referência aos próprios pedidos de Cristo para Deus.
Por isso, o uso aqui é apropriado para a humilde e afetuosa petição de um cristão
para Deus em favor de um irmão pecador. Έρωτάω é usado para o pedido de um
igual ou de alguém que pede em termos iguais. Assim, ele pode assinalar um pe
dido baseado na comunhão com Deus por intermédio de Cristo ou pode indicar
para um elemento de presunção na oração por um pecado para morte. Westcott
cita uma inscrição muito antiga das catacumbas romanas como uma ilustração
48. Um interessante ensaio sobre “O Pecado para Morte”, do Rev. Samuel Cox, D. D., pode ser
encontrado em The Expositor, 2.“ série, v. 1 , p. 416. Ele sustenta o ponto de vista de Bengel de
um estado, ou condição, pecaminoso.
308
1 JoAo - Cap. 5
do uso de έρωτφν no sentido de cristãos orarem por cristãos: έρωτα υπέρ ημών»,
orem p o r nós.
17. Iniquidade (αδικία). Esse é o caráter de toda ofensa contra o que é certo.
Toda quebra de obrigação é uma manifestação de pecado. Compare com 3.4,
onde pecado é definido como ανομία, in iqu idade, e iniquidade, como pecado.
V ide Rm 6.13.
18. Sabemos (ο’ίδαμεν). João usa esse apelo ao conhecimento de duas formas:
sabemos(3.2,14; 5.18-20); sabeis (2.20; 3.5,15).
Toca (άπτεται). Vide nota sobre Jo 20.17, a única outra perícope dos escritos
de João em que ocorre o verbo. Esse verbo e θιγγάνω (Cl 2.21; Hb 11.28; 12.20)
expressam um toque que exerce uma influência modificadora sobre o objeto to
cado, embora θιγγάνω indique, antes, um toque superficial. Acerca de ψηλαφάω
(At 17.27; Hb 12.18; lJo l.l), vide nota sobre Lc 24.39. Compare com Cl 2.21. A
ideia aqui é: não o agarra.
19. Somos de Deus (εκ του Θεού έσμέν). Para a expressão είναι έκ, ser de, vid e
nota sobre Jo 1.46. Para εσμεν, somos, v id e nota sobre 3.1. João expressa a relação
do cristão com Deus por meio das seguintes palavras: ser nascido ou gerado de
D eus, γεννηθήναι εκ του Θεοΰ (5.1; 2.29; 4.7); denotando a comunicação inicial
da nova vida. S e r de D eus, είναι έκ του Θεοϋ (Jo 8.47; lJo 3.10; 4.6), denota a li
gação essencial em virtude da nova vida. F ilh o de D eus, τέκνον Θεοϋ (Jo 1.12; lJo
3.1,10), denota a relação estabelecida por meio da nova vida.
Está (κεΐται). O termo é mais forte que έστί, está, indicando a condição passiva
e não progressiva na esfera de influência de Satanás. Alford registra: “Embora
sejamos de Deus, sugerindo nascimento e procedência e uma mudança de condição,
ο κόσμος, o mundo, todo o resto da humanidade, permanece nas mãos do maligno”.
309
1 JoÂo —C a p . 5
Deus muito estranha m ente, na verdade, condescende em deixar as coisas claras para
mim, assumindo, de fato, por um tempo, a forma de um homem, para que eu, em minha
modesta esfera, possa vê-lo melhor. Essa é minha oportunidade de conhecê-lo. Essa
encarnação é Deus se fazendo acessível ao pensamento humano —D eus abrindo para
o homem a possibilidade de correspondência por intermédio de Jesus Cristo. E essa
correspondência e esse ambiente são aqueles que busco. Ele mesmo assegura-me: “E
a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo,
a quem enviaste”. Não discirno agora o sentido mais profundo em Jesus Cristo a quem
enviaste? Não entendo melhor com a visão e arrebatamento mais profundo com que os
discípulos exclamam: “O Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conhe
çamos aquele que é o Verdadeiro” Qnvi ] ? 50
21. Guardai-vos (φυλάξατε εαυτά). A frase exata não se encontra em outras pas
sagens do Novo Testamento. Vide 2Pe 3.17. V id e n ota sobre lPe 1.4.
310
Nota C rítica sobre lJo 3.19-22
ídolos (ε’ιδώλων). Estritamente, imagens. Contudo, a ordem tem, aparente
mente, o significado paulino mais amplo: guardar-se contra tudo que ocupa o
lugar devido a Deus.
312
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
temos confiança para com Deus; e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a rece
beremos” etc.; ou:
Persuadimos nosso coração a mostrar amor por meio de nossa vida e ações. Objeção.
Isso não se ajusta à conexão, pois se reconhecemos a nós mesmos por meio do
nosso amor como filhos da fé, então não precisamos mover nosso coração para
amar o que já está lá; ou:
Persuadimos nosso coração que somos da verdade. Objeção. Isso é tautológico. Sa
bemos, ou percebemos, que somos da verdade por meio do fato do nosso amor.
Por isso, rejeitamos o uso absoluto de TOÍoopev.
(b) Ainda traduzindo por persuadir podemos tentar encontrar a substância
da persuasão nas seguintes orações. Aqui entramos na segunda das nossas três
questões, o duplo ότι, pois δτι torna-se o sinal de definição de toίσομαΛ As dife
rentes combinações e traduções propostas centram em duas traduções possíveis
para δτι: porque ou que.
Se traduzirmos por porque, isso deixa-nos com o TOÍoopeu absoluto, que já re
jeitamos. Assim, temos de traduzir: “E nisto conhecemos que somos da verdade e
diante dele asseguraremos nosso coração; porque, se o nosso coração nos condena,
porque (segundo δτι) maior é Deus do que o nosso coração” etc.
Todas as outras traduções, como essa, envolvem o que é chamado de uso de
δτι em epanalepse; o segundo levantando e transportando o sentido do primeiro.
Isso é muito questionável aqui, porque:
1. Não há motivo para isso. O uso de δτι ou de vocábulos correlates só é
apropriado em passagens em que o curso do pensamento é interrompido por
uma sentença —ou parênteses - longa e inserida e na qual a conjunção retoma a
linha do discurso. É totalmente fora de lugar aqui depois da interjeição de apenas
poucas palavras.
2. Não há paralelo para isso nos escritos de João nem em outras perícopes do
Novo Testamento, que eu saiba (mas vide lJo 5.9).
O caso não fica melhor se traduzirmos δτι por que. Aqui, na verdade, livramo-
-nos do TOÍoopev absoluto, mas somos compelidos a concordar com a retomada
de δτι. Por exemplo:
“Devemos nos persuadir de que, se o nosso coração nos condena, que, digo,
Deus é maior do que o nosso coração.”
Além disso, algumas dessas explicações fazem, no mínimo, com que o apóstolo
apresente uma declaração inexata. Suponha, por exemplo, que temos: “Assegurare
mos nosso coração que Deus é maior que nosso coração”; fazemos o apóstolo dizer
que a consciência do amor fraternal e do nosso consequente ser “da verdade” é a base
da nossa convicção da soberana grandiosidade de Deus. Assim: Έ nisto (em nosso
amor fraternal) conhecemos que somos da verdade e Q..J] nisto asseguraremos nosso
coração que maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas”.
313
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
314
N ota C rítica sobre lJo 8.19-22
consciência acusadora não encontra paz”; ou, mais uma vez, ela é popularmente
interpretada:
“Se nosso coração nos condena, então Deus, que é maior que nosso coração
e conhece todas as coisas, não deve só endossar, mas enfatizar nossa autoacusa-
ção.” Se nosso coração condena, quanto mais Deus condena?
Ou: 2.°) Devemos tomar μείζων como a expressão do amor compassivo de Deus
e dizer: “Quando nosso coração nos condena, o tranquilizamos com a segurança
de que somos os filhos provados de Deus e, por isso, estamos em comunhão com
um Deus que é maior que nosso coração, maior em amor e em compaixão não
menos que em conhecimento”?
A escolha entre esses dois deve ser em grande parte determinada pela tendên
cia de toda a discussão e, portanto, aqui deixamos o lado textual e gramatical da
questão e prosseguimos para o aspecto homilético da perícope.
Em geral, observamos que toda a tendência do capítulo é consolar e asse
gurar. O capítulo é introduzido de um entusiasmo repleto de amor. “Vede quão
grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus.”
As sombras mais escuras - a origem e a natureza do pecado; a verdade de que
os pecadores são do maligno, o ódio do mundo brotando dessa oposição radical
entre a origem e o motivo dos filhos de Deus e dos filhos do maligno - são acres
centados para aumentar e enfatizar a posição e o privilégio dos filhos de Deus.
Eles não devem ter dúvidas quanto a sua relação com Deus. Eles são postos para
dar testemunho do supremo amor. Se Deus Pai é amor, e eles são seus filhos, eles
devem compartilhar sua natureza e provar que compartilham ao amar a Ele e
a seus filhos. Por isso, João, em outra passagem, diz: “Amados, amemo-nos uns
aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e
conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
£...] Se nós amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu
amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu
Espírito. £../] E nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é
amor e quem está em amor está em Deus, e Deus, nele” (4.7ss.).
E mais uma vez nesse capítulo: “Nós sabemos que passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos”.
Todo esse testemunho de amor tende a assegurar o coração. Tudo vem à tona
e alcança seu ápice no versículo 19: “Nisto” —no fato do amor e na consciência
dele - “nisto conhecemos que somos da verdade e diante dele asseguraremos
nosso coração; sabendo que, se o nosso coração nos condena”. Em impressio
nante paralelismo com isso está o capítulo recém-mencionado dessa epístola, o
capítulo quatro, sobretudo a forma em que, como nesse capítulo, a evidência do
amor contribui para assegurar. Vide os versículos de 7 a 16 - a dificuldade dos
quais, conforme observamos, é que o amor é a evidência de nossa permanência
315
N ota C rítica so bre lJo 3.19-22
em Deus; e, depois, observe como isso se depara com a segurança nos versículos
17 e 18. “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no Dia do Juízo (com
pare com ‘diante dele’) tenhamos confiança (compare com ‘asseguraremos nosso
coração’); porque, qual ele é, somos nós também neste mundo (como Cristo). No
amor, não há temor; antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor
tem consigo a pena.”
Agora, havia um motivo muito bom e óbvio para enfatizar esse pensamento
de confiança. João conhecia o temor do coração cristão e, além disso, sabia como
eles ficariam conscientes do alto padrão do caráter cristão, estabelecido nesse
capítulo. Observe estas afirmações: “E qualquer que nele tem esta esperança
purifica-se a si mesmo, como também ele é puro”. “Qualquer que permanece
nele não vive pecando; qualquer que vive pecando não o viu nem o conheceu.”
“Quem pratica o pecado é do diabo.” “Qualquer que é nascido de Deus não vive
na prática do pecado.” Não é difícil conceber o efeito dessas declarações sobre
uma consciência sensível. Testemo-nos. Não precisamos assegurar nosso cora
ção? Na consciência da insegurança, com a lembrança do erro, sob a pressão e o
impulso da tentação diária, é estranho o coração nos acusar? É estranho levantar
a questão: sou, de fato, filho de Deus? Esses erros e lapsos não me provam que
sou filho do Diabo?
Agora, penso que, em vista desse fato, todos nós devemos ser levados a anteci
par - como a sequência natural da primeira parte do capítulo - um pensamento,
não de crítica e julgamento severos, baseado no conhecimento infinito de Deus,
mas de compaixão e segurança fraternais com nossas autoacusações e tranquili
zar nossos medos.
A consciência cristã exerce um cargo judicial em nós, acusando ou aprovan
do. Nosso coração julga. Mas o que precisamos lembrar especialmente e o que,
parece-me, é exatamente o cerne do ensinamento dessa passagem é que os decretos
do coração não são decisivos, mas devem ser transportados a um tribunal mais alto para
ratificação. Mesmo nosso coração renovado é ignorante e cego. Deus é maior que
nosso coração e conhece todas as coisas. Qualquer poder de discernimento que a
consciência tenha, ela o recebe de Deus. Por isso, na interpretação da passagem,
deve-se dar mais ênfase que comumente às palavras “diante dele”. “Se recebemos
o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior” (lJo 5.9; vide lJo
5.14, e compare com Hb 4.16). Conforme já indicado, é essencial à ideia da vida
cristã vivida na visão de Deus. O verdadeiro filho de Deus tem sempre o Senhor
diante de sua face. O principal regulador de sua vida é o senso da presença de
Deus. A manifestação de Deus na perfeita obediência de Cristo é seu padrão; a
lei de Deus transmite para sua consciência seu tom de repreensão ou de elogio.
Esse é o resultado natural e necessário da relação assumida na passagem —filhos
de Deus. Como filhos de Deus, na casa de nosso Pai, a vida é regulada pela cons-
316
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
ciência perpétua da presença e do exame de nosso Pai. Nenhuma segurança nem
confiança é possível, se não crescer do correto relacionamento com Ele.
Assim, João, não quer dizer que um filho de Deus não tem pecado em virtude
de sua relação como filho e que sua autoacusação é tranquilizada ao ser pronun
ciada sem fundamento.
Ele não quer dizer que o coração não o pode acusar justamente. O julgamento
de Deus pode confirmar o julgamento do coração.
Ele quer dizer que o coração não é o árbitro supremo e derradeiro.
A interpretação comum apresenta um defeito radical nisso —ela assume a
infalibilidade do coração e introduz Deus para confirmar e enfatizar a decisão
do coração. Se seu coração o condena, então, Deus, que é maior que seu coração,
condena-o mais severamente porque Ele vê seu pecado sob a luz de sua onisci-
ência. Além disso, isso faz nossa confiança em relação a Deus depender princi
palmente do testemunho do nosso coração. Se nosso coração não nos condena,
então podemos ir diante de Deus com confiança e pedir o que quisermos, porque
Deus, sendo maior que nosso coração, confirma o testemunho deste. Em suma,
nessa construção, a voz do coração é a voz de Deus. Conforme interpreto isso,
o ensino de João é o inverso disso. Só Deus conhece todas as coisas. Nenhuma
confiança, nenhuma acusação é para ser recebida como final até ser passada dian
te do Senhor. Devemos procurar fora de nós mesmos os testes mais elevados
do “eu”. Não é diante de nós mesmos que asseguramos ou condenamos a nós
mesmos. A autocondenação não será tranquilizada pela autocomunicação. Não
precisamos estar seguros de nós mesmos, mas ser assegurados por Ele.
E quase desnecessário dizer, mas deve-se ter em mente que esses termos são
dirigidos a cristãos, e isso levanta outra questão interessante - do pecado nos
cristãos. Às vezes, o coração condena de forma injusta e desnecessária. A cons
ciência, às vezes, está doente e é morbidamente exigente, e o coração fica angus
tiado com acusações que são tão fantasiosas quanto dolorosas. Mas a condenação
do coração, conforme já foi comentado, com frequência, é justa. Contudo, isso,
e também outros casos, é coberto pelas palavras do apóstolo: “Diante dele asse
guraremos nosso coração; sabendo que, se o nosso coração nos condena”. Então
seria uma boa pergunta, como, quando Deus endossa a condenação do coração,
asseguramos nosso coração diante dele? E quando o apóstolo mesmo acaba de
nos dizer que “qualquer que é nascido de Deus não vive na prática do pecado”?
- que não pode pecar porque é nascido de Deus? - que aquele que vive pecando
não viu nem conheceu a Deus? Essas declarações, por si mesmas, são terríveis.
Elas destroem toda esperança de segurança. Elas transformam o não ter pecado
no teste de estar em Cristo. Como asseguraremos nosso coração?
Aqui, devemos ser específicos e observar que João - em todo esse capítulo e,
pode-se dizer, em toda a epístola - lida com algo mais abrangente que erros ou
317
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
boas obras específicas. Ele lida com a questão da relação do cristão com Deus.
Observe as classificações contundentes e amplas desse capítulo para esse efeito,
indicando a ordem, ou economia, à qual o homem pertence, em vez de seus atos
específicos.
Quem praticajustiça.
Quem pratica o pecado, em que pecado é uma resposta completa para a justiça
como um todo.
É justo, assim como ele [Deusj éjusto-, é do diabo: em que, em cada caso, é mostra
do que o caráter do homem é um reflexo de seu mestre espiritual.
Assim também as expressões: “filhos de Deus”; “da verdade”; “da morte para
a vida”. E no capítulo 1: “nas trevas”; “na luz”. Mais uma vez no capítulo 4: “está
em Deus”; “do mundo”; “de Deus”. E mais uma vez, o fato de toda a epístola
girar em torno da questão da relação entre o homem e Deus. Sua nota-chave é
comunhão —“o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também te
nhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo”.
Isso sendo verdade, os testes aplicados são dirigidos a essa comunhão. “E nis
to conhecemos que somos da verdade”; que é nossa esfera, nossa origem, nossa
economia. E de acordo com atos específicos são tratados à luz dessa comunhão
geral. Nenhum homem vai sem pecado diante de Deus. Isso é tratado no pri
meiro capítulo com referência a determinadas desilusões atuais nessa matéria.
Aqueles que mantêm que o pecado é um acidente, e não um princípio, um fenô
meno transitório que não leva a questões permanentes, são confrontados com:
“Se dissermos que não temos pecado (αμαρτίαν ούκ εχομεν), enganamo-nos a nós
mesmos, e não há verdade em nós”. Aqueles que negam que pecaram pessoal
mente são confrontados com: “Se dissermos que não pecamos (ούχ ήμαρτήκαμεν),
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. De forma que, repito, o
exame contemplado aqui é um teste de relação, e não de ato específico. Como
Westcott observa, com verdade: “Enquanto a comunhão com Deus é real” (se um
homem é verdadeiramente nascido de Deus), “os atos pecaminosos são apenas
acidentes. Eles não tocam a essência do ser do homem”. (Compare também com
Westcott, sobre lJo 5.16.) Por conseguinte, quando nosso coração nos condena
do pecado, e aparecemos diante de Deus, nosso asseguramento, ou tranquilidade,
de coração vem por intermédio de Deus nos trazer de volta a essa comunhão
com Ele e, da prova que a acompanha, o amor pelo nosso irmão. Deus ensina o
coração a satisfazer sua autoacusação com o fato e a evidência da filiação. Nisto
asseguramos nosso coração diante dele.
É notável a forma como João exalta e enfatiza a suficiência e determinação
desse teste. “Quem está em amor está em Deus, e Deus, nele.” “Nós sabemos que
passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos.” E no capítulo 4, ele
318
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
é ainda mais enfático, afirmando (v. 12) que o amor pelo irmão é a única prova
possível de amor por Deus, pois “ninguém jamais viu a Deus, se nós amamos uns
aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor”.
Então, o homem considera que seu coração o acusa justamente diante de Deus,
e Ele diz: “É verdade, você pecou. Mas você é meu filho, que provou o ser pelo
seu amor. Eu, seu Pai, não o vou perdoar? Você temeu trazer isso para mim? ‘Se
alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo, e ele é
a propiciação pelos fseusj pecados’. Se você confessar os seus pecados, sou fiel e
justo para lhe perdoar os pecados e o purificar de toda injustiça”.
Se o homem caminha sob a acusação de amor imperfeito, ele recebe a garantia
de que sua comunhão com Deus não é determinada nem perpetuada pela escas
sa medida do mais puro amor humano. “Nisto está o amor: não no fato de que
nós tenhamos amado (ήγοπτηκαμεν) a Deus, mas no fato de que Ele nos amou
(ήγάπησβ/, associando seu amor a um ato definido) e enviou seu Filho para pro
piciação pelos nossos pecados.”
Se a autoacusação é mórbida e infundada, uma singularidade de uma doen
ça religiosa fantasiosa, em vez de um veredicto verdadeiro de uma consciência
saudável, o testemunho complexo e confuso de nosso coração ignorante é deter
minado pelo simples testemunho de amor. Sou filho de Deus. Nas mãos de meu
Pai não encontro nenhum encorajamento para continuar em pecado, mas, sim,
o perdão para o meu pecado, com tônicos para minha condição mórbida, com
auxílio para minhas fraquezas. Só por meio dessa sabedoria perfeita, o erro será
convenientemente pesado; só por meio desse amor perfeito, o erro será perdoado;
só por meio dessa força perfeita, a alma será fortalecida para recomeçar sua luta
de uma vida inteira contra o pecado. Se trememos com receio de que as coisas das
quais nosso coração nos acusa sejam a justificativa para sermos deserdados da
nossa posição e privilégio, somos apontados para além de nossos lapsos e erros
passados para o grande e dominante sentimento de nossa comunhão com Deus.
Nós o amamos, amamos nosso irmão, portanto, somos seus filhos; sem dúvida,
filhos falhos, mas ainda seus. Ele deserdará seu filho?
Observe mais uma vez como João encontra conforto no fato da onisciência
do Senhor. Asseguramos nosso coração porque Deus conhece todas as coisas. O
instinto natural de imperfeição é fugir do contato e do exame da perfeição. Mas
esse instinto é falso e equivocado. O evangelho cria um instinto contrário ao
criar uma consciência filial. Se a santidade de Deus envergonha nossa pecami-
nosidade e a sabedoria perfeita de Deus tolhe nossa insensatez, a perfeição, não
obstante, é o único refúgio seguro para o imperfeito. Nenhum homem quer ser
julgado diante de um juiz ignorante ou corrupto. Se esse conhecimento onis
ciente vê mais fundo em nosso pecado que nós mesmos somos capazes de ver,
ele também vê mais fundo em nossa fraqueza. Se ele pesa o ato em uma balança
319
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
escrupulosamente equilibrada, ele pesa as circunstâncias na mesma balança. Se
esse conhecimento infinito conhece nossas faltas secretas, também, da mesma
maneira, conhece nossa estrutura e nossa fragilidade. Se ele discerne agrava
mentos, também distingue paliativos. Se a sabedoria infinita circunda o pecado,
também o amor infinito o faz. Ali, misericórdia e verdade encontram-se, e justiça
e paz tocam-se.
Assim, asseguramos nosso coração diante dele por mais que nosso coração
nos condene. Não com segurança soberba de superioridade moral, não com
percepção intoxicada e embotada pela abjeção do pecado, não com um elixir
que relaxa nossa fibra espiritual e modera nosso entusiasmo pela vitória es
piritual, porém com o pensamento de que somos filhos de Deus, amorosos,
embora falhos, nas mãos do nosso Pai; com nosso irmão mais velho, Cristo,
intercedendo por nós; com o conhecimento de que o elemento judicial em
nossa experiência cristã é transferido do nosso coração para Deus; com o
conhecimento de que, sendo dele: “nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a
altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar
do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Quando li essa
passagem me perguntei se João, enquanto a escrevia, não tinha em mente
aquela conversa de Cristo e Pedro, na praia, após a ressurreição. Lá estava
Pedro com o coração atormentado por causa da autoacusação, como bem
devia está, Pedro que negara a seu Senhor e o abandonara; e, todavia, Cristo
encontra toda essa autoacusação com as palavras: “Amas-me?” E a resposta
de Pedro segue exatamente a veia de nossa passagem: “Senhor, tu sabes tudo;
tu sabes que eu te amo”.
Fundamentada nessa interpretação, o restante da perícope segue simples e
naturalmente. Uma vez assegurados de que somos filhos de Deus, temos con
fiança em relação a Deus. Essa segurança carrega com ela a segurança de perdão
e empatia, é o único meio por intermédio do qual a condenação do coração é
legitimamente apaziguada. Se, sob essa segurança, nosso coração deixar de nos
condenar, então, “temos confiança para com Deus”. E digno de nota como a li
nha de pensamento coincide com a da última parte de Hb 4. Lá também vemos
a onisciência divina enfatizada - o discernimento da palavra viva, “viva, e eficaz,
e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão
da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensa
mentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele;
antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de
tratar” (vv.12-13). Então, vem o sacerdócio e a empatia de Jesus, o grande sumo
sacerdote, que se “compadece £...] das nossas fraquezas”; e, depois, a mesma con
clusão: “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça”.
320
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
Portanto, essa última parte da passagem deve ser interpretada pela anterior.
Aquela de que se o coração não sente nenhum sentimento de condenação não é,
em si mesmo, um fundamento legítimo nem seguro para sentir confiança para
com Deus. Há uma confiança que nasce da presunção, da obtusidade espiritual,
da ignorância do caráter e das declarações de Deus, dos conceitos falsos e super
ficiais de pecado. Uma ausência de condenação válida deve ter um fato definido e
válido, uma evidência substancial por trás dela; e que, de acordo com a interpre
tação que demos, ela tem: “Asseguramos nosso coração diante dele em qualquer
coisa que nosso coração nos condene, por intermédio disso, a saber, que o Deus
onisciente é nosso Pai perdoador, que Cristo é nosso Propiciador e Salvador, e
que o Espírito de amor em nossos corações, com o ministério amoroso de nossas
vidas, testificam que somos filhos de Deus”. Observe, nesse ponto, como João
corresponde a Paulo. Olhe primeiro o capítulo 4 dessa epístola: “Se nós amamos
uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nisto conhe
cemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito”. Agora,
volte-se para o capítulo 8 de Romanos: “Portanto, agora, nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas se
gundo o espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou
da lei do pecado e da morte. Porquanto, o que era impossível à lei, visto como
estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne
do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se
cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os
que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da car
ne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da
carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade,
o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, po
rém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em
vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo
está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito
vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a
Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivifi-
cará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita. De maneira que,
irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne, porque, se
viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras
do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses
são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra
vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual
clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdei-
321
N ota C rítica sobre lJo 3.19-22
ros de Deus e coerdeiros de Cristo”. E, da mesma maneira: “O Espírito ajuda as
nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém,
mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele
que examina os corações (sendo maior que o nosso coração e conhecendo todas
as coisas) sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede
pelos santos”. A saber, pelos santos que amam a Deus, predestinados, chamados,
justificados, glorificados. “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós,
quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes,
o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?
Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifi
ca. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou
dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perse
guição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por
amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas
para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por
aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem
a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”
Finalmente, a perícope inteira carrega um protesto e um antídoto contra um
tipo de piedade introvertida, morbidamente subjetiva, e que examina a si mesma,
que, em geral, estuda o “eu” para a evidência da comunhão e da condição espiri
tuais corretas; que testa crescimento em graça pela tensão de sentimento e avalia
a latitude e longitude espirituais pela disposição e pelo ânimo espiritual. Senti
mento e sensibilidade religiosa têm seu lugar, e é elevado e sagrado, mas seu
lugar não é o trono de julgamento; e o sentimento correto na experiência cristã
fundamenta-se sempre na correta relação com os fatos do plano de redenção. A
consciência cristã não dá testemunho válido, salvo quando ele reflete as grandes
verdades objetivas da fé cristã. Se nosso espírito testemunha com. o Espírito, o
Espírito deve, primeiro, testemunhar para o nosso espírito de que somos filhos
de Deus.
322
2 João
Estará conosco (μεθ’ ημών έσται). Conosco tem a posição enfática na senten
ça: e conosco ela estará. Observe a mudança de está para estará e vide nota sobre
Jo 14.16-17.
3 25
2 João
Segundo os seus mandamentos (κατά τάς εντολάς αύτοΰ). Para andar, com
κατά, segundo, de acordo com, vide Mc 7.5; Rm 8.4; 14.15; lCo 3.3; 2Co 10.2. Com
muita frequência com kv, em. Vide Jo 8.12; 11.9-10; 2Co 4.2; lJo 1.7,11. As duas
construções são encontradas em 2Co 10.2-3.
7. Enganadores (πλάνοι). Vide nota sobre enganamo-nos a nós mesmos, lJo 1.8.
8. Olhai por vós mesmos (βλεπετε εαυτούς ΐνα). A conjunção ΐνα, afim de que,
indica a intenção do aviso. Vide nota sobre Jo 15.13.
10. Se alguém vem (εϊ τις ’έρχεται). O indicativo assume o fato: se alguém vem,
como existem os que vêm. Vem é usado em um sentido oficial, como em referência
a um mestre. Vide nota sobre lJo 3.5.
Traz (φερει). Para o uso do verbo, vide Jo 18.29; At 25.18; 2Pe 2.11; 1.17-18;
lPe 1.13.
2. Lightfoot traduz χαίρετε por despedida, emFp S.i, edescreve otermo comouma bênção de des
pedida em4.4; mas, nos dois casos, dizqueotermoinclui umaexortaçãoaoregozijo. A despedida
édesnecessárianos dois casos.
3. Ensinamento dos Doze Apóstolos, cap. xi.
327
2 JoAo
11. Tem parte (κοινωνεΐ). O verbo não ocorre em nenhuma outra perícope dos
escritos de João. O substantivo relacionado κοινωνία, sociedade, comunhão, é pe
culiar à primeira epístola. Vide nota sobre lJo 1.3; também sobre companheiros
(Lc 5.10); comunhão (At 2.42); participante (1 Pe 5.1).
Boca a boca (στόμα προς στόμα). Literalmente. Compare com πρόσωπον προς
πρόσωπον,/αοε aface, lCo 13.12.
4. Paramais detalhes, v id e o artigo “Papiro”, in: E nciclopédia B ritân ica, 9. ed., v. 18.
5. Vide Edersheim, L ife a n d T im es o f Jesus the M essiah, ii, 270.
328
3 João
Ao amado Gaio. A arc apresenta assim. Na ordem grega, o nome vem pri
meiro. Gaio, o amado.
Alma (ψυχή). Vide nota sobre Mc 12.30; Lc 1.46. A alma (ψυχή) é o princí
pio da individualidade; o alicerce das impressões pessoais. Ela tem um lado em
contato com o elemento material e com o espiritual da humanidade e, por esta
razão, é o órgão mediador entre corpo e espírito. Assim, seu significado levanta-
-se constantemente acima da vida ou da vida individual e assume nuanças de sua
relação com o lado emocional ou com o lado espiritual da vida a partir do fato de
ser o alicerce dos sentimentos, desejos, afeições, aversões e a sustentadora e ma-
nifestadora do princípio divino de vida (πνεύμα). Por conseguinte, o termo ψυχή,
com frequência, é usado em nosso sentido de coração (Lc 1.46; 2.35; Jo 10.24; At
14.2); e os sentidos de ψυχή, alma, e πνεύμα, espírito, ocasionalmente aproximam
muito um do outro. Compare com Jo 12.27 e 11.33; Mt 11.29 e lCo 16.18. Tam
bém com ambas as palavras em Lc 1.47. Nessa perícope, ψυχή, alma, expressa
a alma vista como ser moral designado para a vida eterna .Vide Hb 6.19; 10.39;
13.17; lPe 2.11; 4.19. João, em geral, usa o termo para denotar o princípio da
vida natural. Vide Jo 10.11,15; 13.37; 15.13; lJo 3.16; Ap 8.9; 12.11; 16.3.
Tu andas na verdade. Vide nota sobre lJo 1.8. Para a expressão andas na, vide
nota sobre 2Jo 6. Tu é enfático, sugerindo um contraste com pessoas menos fiéis,
como Diótrefes, versículo 9.
4. Gozo (χαράν). Os textos variam; alguns trazem χάριν, graça oufavor de Deus,
acerca do que vide 2Jo 3. Observe a ordem grega: maior gozo do que este tenho não.
E para com os estranhos (και εις τούς ξένους). Os melhores textos trazem,
em lugar de ε ις τούς, para os (estranhos), τούτο, que-, de modo que o sentido literal
da sentença é: “para aqueles que são irmãos, e que estranhos”. Para a expressão e
que, compare com lCo 6.6; Fp 1.28; Ef 2.8.
Como é digno para com Deus (άξίως τού Θεού). Literalmente, de um modo
digno de Deus. Como na tb. Compare com lTs 2.12; Cl 1.10.
7. Porque pelo seu Nome (ύπερ τού όνόματος). O seu é fornecido pela arc; não
está no texto. Na nvi, corretamente, por causa do Nome. 0 Nome (Jesus Cristo) é
usado assim de forma absoluta em At 5.41; compare com Tg 2.7. Para um uso
absoluto similar de o caminho, vide nota sobre At 9.2. Vide nota sobre lJo 1.7.
Nada tomando dos (μήδεια λαμβάνοντες οπτό). Para a expressão tomando dos,
ou da parte dos, vide nota sobre lJo 1.5.
332
3 João
Os que querem. Os que estão dispostos a receber os estranhos.
Os lança fora. Pela excomunhão, o que, por meio de sua influência, ele tinha
poder para realizar.
11. Sigas (μίμου). Mais corretamente, como na nvi, imite. Em outras passagens,
só em 2Ts 3.7,9; Hb 13.7. O termo relacionado μιμητής, imitador, traduzido uni
formemente por imitador na arc, ocorre em lCo 4.16; 11.1; Ef 5.1. Daí nosso
termo mímica, e também pantomima. Μίμος quer dizer ator e um tipo de prosa
dramática, com o significado de uma representação familiar da vida e do perso
nagem e sem nenhum enredo distinto.
Quem faz mal - quem faz bem (το κακόν - το άγαθόν). Compare com τα
αγαθά, bem, e τα φαΰλα, mal, Jo 5.29.
333
A pocalipse
C apítulo l
(3) Mt 10.26; Lc 2.35; 12.2; 17.30; Rm 1.17-18; 8.18; lCo 3.13; 2Ts 2.3,6,8;
lPe 1.5; 5.1.
A palavra é composta de άπό, de, e καλύπτω, cobrir. Por isso, remover a co
bertura de alguma coisa; desvelar. Como para Balaão: “O Senhor abriu (ou desve
lou-, άπεκάλυψεν τούς οφθαλμούς [Nm 22.31, lxx )]) o s olhos a Balaão”. Como
Boaz para o parente de Noemi: “Resolvi, pois, informar-te”-, na r v : “revelá-lo a ti”
(άποκαλύψω το οΰς σου; Rt 4.4, lxx ). Literalmente, eu descobrirei tua orelha. Como
a nota da t e b .
O substantivo άποκάλυψις, revelação, ocorre somente uma vez na l x x (lSm
20.30), no sentido físico de tirar a cobertura, desvelar, descobrir. O verbo é encon
trado na l x x em Dn 2.19,22,28.
No grego clássico, ele é usado por Heródoto1 para descobrir a cabeça; e por
Platão: assim, “revela-me (άποκαλύψας) o poder da retórica”2; “Descobre seu peito
e costas”3. O verbo e o substantivo ocorrem em Plutarco; o último para despir o
corpo, das águas e de um erro. Contudo, o sentido religioso é desconhecido para
o paganismo.
As seguintes palavras devem ser comparadas com isso: οπτασία, visão (Lc 1.22;
At 26.19; 2Co 12.1); όραμα, visão (Mt 17.9; At 9.10; 16.9); também όρασις, visão
(At 2.17; Ap 9.17; de forma visível, Ap 4.3). Essas três palavras não podem ser
distinguidas de forma acurada. Todas elas denotam a coisa vista ou mostrada, sem
nada para demonstrar se é entendida ou não.
Como distinto desses outros termos, άποκάλυψις inclui, junto com a coisa
mostrada ou vista, sua interpretação ou desvelamento.
Επιφάνια, aparecimento (daí nossa palavra epifaniá), é usada no grego profa
no para o aparecimento de um poder mais alto a fim de auxiliar o homem. No
texto do Novo Testamento, só é usada por Paulo e sempre para a segunda vinda
de Cristo, em glória, exceto em 2Tm 1.10, em que ela se refere ao seu primeiro
aparecimento, em carne. Vide 2Ts 2.8; lTs 6.14; T t 2.13. Diferente desse termo,
άποκάλυψις é mais abrangente. Um apocalipse pode incluir diversos έπιφάνειαι,
aparecimentos. Os aparecimentos são o meio das revelações.
Φανέρωσις, manifestação, ocorre somente duas vezes dentro do Novo Testa
mento, lCo 12.7; 2C0 4.2. O verbo relacionado φανερόω, tornar manifesto, manifes
tar, ocorre com frequência. Vide nota sobre Jo 21.1. Não é fácil, caso seja possível,
mostrar que essa palavra tem um sentido menos dignificante que άποκάλυψις. O
verbo φανερόω é usado para a primeira e a segunda aparição de nosso Senhor
(lTm 3.16; lJo 1.2; lPe 1.20; Cl 3.4; lPe 5.4). Vide também Jo 2.11; 21.1.
1. Heródoto, i, 119.
2. Platão, G órgias, 460.
3. Id., P rotágoras, 352.
336
A p o c a l i p s e - C ap . 1
João. João não fornece seu nome no Evangelho nem nas epístolas. Milligan
declara que aqui, ‘lidamos com profecia, e a profecia exige a garantia do indiví
duo que é inspirado para proclamar”. Compare com Dn 8.1; 9.2.
Palavra de Deus. Não a Palavra pessoal, mas o conteúdo profético desse livro.
Vide 22.6.
E (xe). Omita. A oração de tudo o que tem visto está em aposição com da palavra
de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, essas indicando como vistas por ele. A t b
acrescenta sim.
Tudo o que tem visto (boa elôev). Literalmente, tantas muitas coisas quanto
viu. No Evangelho, João usa a palavra cíóev, viu, só uma vez em referência a seu
próprio testemunho ocular (20.8). Em Apocalipse, ela é usada constantemente
para o ver de visões. Compare com 1.19. Para o verbo denotando a intuição ime
diata do vidente, vide nota sobre Jo 2.24.
4. Tucídides, H istória.
338
A pocalipse —Cap. 1
Que nela estão escritas (τα γ^γραμμένα). Particípio perfeito, têm sido escritas,
e, logo, permanecem escritas.
Sete igrejas. Nem todas as igrejas da Ásia são pretendidas, uma vez que a
lista das igrejas tratadas em Apocalipse não inclui Colossos, Mileto, Hierápolis e
Magnésia. As sete igrejas mencionadas foram escolhidas para simbolizar a igreja
340
A p o c a l ip s e - C ap. 1
toda. Compare com 2.7. Sendo sete o número da aliança, temos nessas sete uma
representação da igreja universal.
Graça —paz. Para graça (χάρις), vide nota sobre Lc 1.30. As duas palavras são
usadas por Paulo na saudação de todas as suas epístolas, exceto nas três epístolas
pastorais.
Da parte daquele que é, e que era, e que há de vir (άπό του ò ών καί ό
ήρ καί ό ερχόμενος). A saudação toda é dada no nome da santa Trindade: o Pai
(aquele que é, e que era, e que há de vir), o Espírito (os sete espíritos) e o Filho
(Jesus Cristo). Vide mais abaixo. Essa porção da saudação não tem paralelo em
Paulo e é distintivamente característica do autor de Apocalipse. É um dos sole-
cismos na construção gramatical que distingue esse livro dos outros escritos de
João. O estudante de grego observará que o pronome que (ó) não faz a construção
com a preposição d a p a r te de (átró), o que exigiría o caso genitivo, mas permanece
no caso nominativo.
Cada um desses três apelos é tratado como um nome próprio. O Pai é
aquele que ê, e que era, e que há de vir. Essa é uma paráfrase de um nome im-
pronunciável de Deus (Ex 3.14), o absoluto e imutável. Ό ών, aquele que é, é
a tradução da l x x de Ex 3.14: “Eu sou ο ό ών (E u sou)”; “ò ών (E u sou ) me
enviou a vós”. A q u ele que era (ò ήν). A língua grega não tem particípio imper
feito, pelo que se usa o verbo finito. Q ue ê e que era formam uma oração para
contrabalançar que há de v ir. Compare com 11.17; 16.5; e “e sta v a (ήν) no prin
cípio com Deus” (Jo 1.2). Q ue h á d e v i r ( ò ερχόμενος). Literalmente, aquele que
está v in d o . Isso não equivale a que será; ou seja, o autor não pretende descrever
a existência abstrata de Deus como cobrindo o futuro não menos que o pas
sado e o presente. Se seu sentido fosse esse, ele teria escrito ό έσόμενος, que
será. A expressão que há d e v i r não expressa a futura eternidade do ser divino.
A concepção predominante no título, antes, é a de im u ta b ilid a d e . Além disso,
o nome não enfatiza tanto a existência abstrata de Deus quanto sua relação
permanente da aliança com seu povo. Por isso, a expressão que há d e v i r tem
de ser explicada de acordo com a nota-chave do livro - a segunda vinda do
Filho (1.7; 22.20).
A expressão que há de vir, com frequência, é aplicada ao Filho (v id e nota sobre
lJo 3.5) e também ao longo desse livro. Aqui ela é predicado do Pai, à parte de
quem o Filho não faz nada. De acordo com Milligan, “o filho nunca está sozinho,
nem mesmo como Redentor”. Compare com “[TNaf) viremos para ele”, Jo 14.23.
Orígenes cita nossa passagem com estas palavras: “Mas você deve perceber que
341
A p o c a l ip s e - C ap. 1
a onipotência do Pai e do Filho é uma e a mesma, ouça João falando segundo essa
maneira em Apocalipse: ‘que ê ”. O Deão Plumptre compara com a inscrição no
templo de ísis, em Saís, Egito: “Sou tudo o que vem a ser, e que é, e que será, e
nenhum homem levanta meu véu”.
0 Espírito é designado pela expressão os sete Espíritos.
5. Jesus Cristo. O Filho. Posto depois do Espírito porque o sucede nos versí
culos 5 a 8 e se relaciona com Ele. Isso está de acordo com a maneira de João
ordenar seu pensamento para que uma nova sentença surja a partir do fim da
sentença precedente. Compare com o prólogo do Evangelho e com os versícu
los 1 e 2 desse capítulo.
342
A pocalipse - Cap. 1
Senhor. V ide nota sobre o versículo 4. A palavra πι αχός, fo i, é usada: (1) Em refe
rência àquele que se m ostra f i e l no desempenho de um a obrigação ou na adm inistração
d e um a verdade (Mt 24.45; Lc 12.42). Por Isso, f i e l { i C o 7.25; 2Tm 2.2). Para coisas
em que se pode confiar (lTm 3.1; 2Tm 2.11). (2) Confiança, certeza-, um crente (G1
3.9; At 16.1; 2Co 6.15; lTm5.16). Vide nota sobre lJo 1.9. A palavra é combinada
com αληθινός, verdade, genuíno, em 3.14; 19.11; 21.5; 22.6. Ricardo de São Victor,
citado por Trench, declara:
O príncipe dos reis da terra (ο αρχών των βασιλέων τής γης). Por meio da
ressurreição, Ele passa para a glória e o domínio (Fp 2.9). A comparação com os
reis da terra é sugerida por SI 2.2. Compare com SI 89.27; Is 52.15; lTm 6.15 e
videAjp 6.15; 17.4; 19.16.
343
A pocalipse —Cap. 1
Àquele que nos ama (τω άγαπώντι). Essa é a leitura corrtea. A kjv segue a
leitura τω άγαπήσαντι, “que nos a m o u . O amor de Cristo está sempre presente.
V id e io 13.1.
Lavou (λούσαντι). Leia λύσαντι, libertou. Como na ara . Trench comenta sobre
a variação de leitura como tendo surgido de um jogo com as palavras λουτρόν, um
banho, e λύτρον, um resgate, e esses dois termos expressam os principais benefícios
que resultaram para nós do sacrifício e morte de Cristo. Ele refere-se a esse jogo de
palavras como algo que aconteceu na etimologia do nome Apoio, conforme dado por
Platão; a saber, o lavador (ò άπολούων) e o absolvedor (ò άπολύων) de todas as impu
rezas. Qualquer dessas leituras se ajusta a um belo círculo de imagens. Para lavado,
compare com SI 11.2; Is 1.16,18; Ez 36.25; At 22.16; Ef 5.26; T t 3.5. Para libertou,
compare com Mt 20.28; lTm 2.6; iPe 1.18; Hb 9.12; G1 3.13; 4.5; Ap 5.9; 14.3-4.
Para Deus e seu Pai (τω Θεω καί πατρί αυτού). Literalmente, p a ra ο D eus e
A n v i apresenta corretamente: seu D eu s e P ai. Para a expressão, compare
P a i dele.
com Rm 15.6; 2Co 1.3; Ef 1.3.
344
A pocalipse — C a p . 1
Glória e poder (ή δόξα καί το κράτος). A ntlh traduz com acerto os dois
artigos, “a glória e o poder”. Os artigos expressam universalidade, toda glória;
aquilo que em todo lugar e sob toda forma representa glória e poder. O verbo
ser (a glória) não está no texto. Podemos traduzir como uma atribuição, ser, ou
como uma confissão, é. A glória édele. O sentido original de δόξα, gló ria , é opinião
ou ju lgam en to. A palavra não é usada na Escritura nesse sentido. Nos escritores
sagrados, sempre para uma opinião boa ou fa v o rá v e l, daí louvor, honra, g ló ria (Lc
14.10; Hb 3.3; lPe 5.4). Aplicada a objetos físicos, como luz, os corpos celestiais (At
22.11; lCo 15.40). A lum inosidade v isív e l em manifestações de Deus (Lc 2.9; At
7.55; Lc 9.32; 2Co 3.7). M agnificência, d ig n id a d e (Mt 4.8; Lc 4.6). D iv in a m ajestade
ou excelência perfeita, sobretudo em doxologias, quer de Deus quer de Cristo (lPe
4.11; Jd 25; Ap 4.9,11; Mt 16.27; Mc 10.37; 8.38; Lc 9.26; 2Co 3.18; 4.4). A g ló ria
ou m ajestade da graça d iv in a (Ef 1.6,12,14,18; lTm 1.11). A m ajestade dos anjos (Lc
9.26; Jd 8; 2Pe 2.10). A gloriosa condição de C risto depois d e re a liza r sua obra terrena
e do redim ido que com partilha sua g ló ria eterna (Lc 24.26; Jo 17.5; Fp 3.21; lTm
3.16; Rm 8.18,21; 9.23; 2Co 4.17; Cl 1.27).
Trench comenta sobre a proeminência do elemento doxológico na mais alta
adoração da igreja como em contrapartida com o lugar muito subordinado que,
com frequência, ocupa na nossa adoração:
T alvez possam os levar n ossos pedidos ao conhecim ento de Deus, e isso está bem, pois
é oração; mas dar glória a D eus, à parte de qualquer coisa conseguida diretam ente
para nós m esm os em retorno, é melhor, pois é adoração.
O Dr. John Brown, em suas memórias de seu pai, um dos mais excelentes re
latos biográficos da literatura inglesa, registra uma fórmula usada por ele para
encerrar suas orações em ocasiões especialmente solenes:
E, agora, tu, ó Pai, F ilho e E spírito Santo, o único Jeová e n osso D eus, poderiam os —
com o na maioria das reuniões - com a igreja na terra e a igreja n o céu atribuir toda
honra e glória, poder e majestade, com o era no princípio, é agora e sem pre será, m un
do sem fim, A m ém 8.
Compare com as doxologias em lPe 4.11; G1 1.5; Ap 4.9,11; 5.13; 7.12; Jd 25;
lCr 24.11.
Para todo o sempre (elç τους αιώνας των αΙώνων). Literalmente, p elo s sé
culos dos séculos. Como a teb . Para a expressão, compare com G1 1.5; Hb 13.21;
345
A pocalipse - Cap. 1
7. Eis que vem com as nuvens (ep/etca μετά των νεφβλών). As nuvens são
usadas com frequência nas descrições da segunda vinda do Senhor. Vide Dn 7.13;
Mt 24.30; 26.64; Mc 14.62. Compare com a manifestação de Deus nas nuvens
no Sinai, na coluna de nuvem, a shekiná e na transfiguração e vid e SI 97.2; 18.11;
Na 1.3; Is 19.1.11
Verá (όψεται). O verbo denota o ato físico, mas enfatiza o discernimento men
tal que acompanha o ato físico e aponta para o resultado, não para o ato da visão.
Vide nota sobre Jo 1.18. Apropriado aqui como indicando a rapidez do discerni
mento espiritual, produzido pela aparição do Senhor, naqueles que o rejeitaram
e, agora, lamentam por sua insensatez e pecado.
Tribos (φυλά!). Tradução mais correta; contra a k w ,fa m ília s. A palavra usada
para a verdadeira Israel em 5.5; 7.4-8; 21.12. Como as tribos de Israel são a ima
gem por meio da qual o povo de Deus, judeu ou gentio, é representado, então, os
descrentes estão representados aqui como tribos, “a contraparte desdenhosa da
verdadeira Israel de Deus”. Compare com Mt 24.30-31.
Se lamentarão sobre ele (κόψονται έπ’ αυτόν). Na teb , melhor, estarão de luto.
Literalmente, baterão em seu peito. Vide nota sobre Mt 11.17.
346
A pocalipse —Cap. 1
8. O Alfa e o Ômega (το A καί το Ω). A arc traduz corretamente com o artigo.
As palavras são explicadas pela observação, apropriadamente omitida do texto:
o Princípio e o Fim. Os escritores rabínicos usam a expressão de Ãleph (x) a Tãw
(n) para representar completamente, do princípio aofim. Assim, diz-se: “Adão trans
grediu a lei de ’Ãleph a Tãw’’. Compare com Is 41.4; 43.10; 44.6.
Que é. Vide nota sobre o versículo 4. “Deus, conforme declara uma antiga
tradição, sustenta em sua mão direita o princípio, o meio e o fim de tudo que é.”9
Que também sou vosso irmão (ò και αδελφός υμών). Omita και, também, e
co m o na a r a : João, irmão vosso.
tra d u z a
Aflição (θλίψει). Vide nota sobre Mt 13.21. Perseguição por causa de Cristo e
ilustrada por João por seu próprio banimento.
Reino (βασιλεία). O reino atual. Trench está equivocado ao dizer que, “em
bora a tribulação seja presente, o Reino é apenas esperança”. Ao contrário, é a
certeza de estar agora no reino de Cristo —sob a soberania de Cristo lutando o
bom combate sob sua liderança - que dá esperança, e coragem, e paciência. O
reino de Deus é uma força presente, e é uma peculiaridade de João tratar a vida
eterna como já presente. Vide Jo 3.36; 5.24; 6.47,54; lJo 5.11. “Em todas estas
coisas somos mais do que vencedores” (Rm 8.37ss.). Isso pode explicar a ordem
347
A pocalipse —C ap. 1
peculiar das três palavras: aflição e reino , duas idéias aparentemente antitéticas,
sendo unidas com a verdadeira percepção em sua relação, e paciência, acrescida
como o elemento por meio do qual a aflição é traduzida em soberania. A referên
cia à fu tu ra consumação gloriosa do reino não precisa ser rejeitada. Está, antes,
envolvida no reino atual. Paciência, que liga a vida de aflição com a soberania de
Cristo aqui na terra, também a liga com a consumação do reino de Cristo no céu.
Pela fé e paciência, os súditos desse reino herdam as promessas. Ricardo de São
Victor, citado por Trench: “Corretamente, ele diz ‘na aflição’ e acrescenta ‘no
Reino’ porque, se sofrermos juntos, também reinaremos juntos”. Compare com
At 14.22.
Patmos. Hoje chamada de P a tm o ou P alm osa. No mar Egeu, uma ilha do ar
quipélago de Espórades cerca de 45 quilômetros a sul-sudeste da ilha de Samos.
A ilha tem aproximadamente dezesseis quilômetros de comprimento por nove
de largura. É uma ilha vulcânica e rochosa e sem vegetação; as montanhas, com
altura de quase trezentos metros, dominam uma vista magnífica do mar e ilhas
vizinhos. A baía de La Scala, entrando na terra a leste, divide a ilha em duas par
tes quase iguais, a norte e a sul. A cidade antiga, ruínas da qual ainda podem ser
vistas, ocupava o istmo que separa La Scala da baía de Merika, na costa oeste. A
cidade moderna fica sobre a montanha na metade sul da ilha, agrupada aos pés
do monastério de São João. Há uma gruta chamada “a gruta do Apocalipse” na
qual dizem que o apóstolo recebeu a visão. Stanley registra:
A austera e dura aridez de seus prom ontórios, recortando a costa, se encaixa bem ao
fato histórico do abandono do cristão condenado em suas praias, com o o do condenado
em sua prisão. A vista do pico mais alto ou, na verdade, de toda elevação alta da ilha,
descortina uma amplidão incom um, com o também se tornou a visão de Apocalipse,
o desvelam ento do futuro para os olh os do solitário profeta. Acima, havia sem pre o
amplo céu da Grécia; às vezes, brilhante com sua “nuvem branca” (Ap 14.14), outras
vezes, rasgado por “relâm pagos [...]] e trovões” (Ap 4.5) e escurecido pela “grande
saraiva” (Ap 11.19) ou alegrado com um “arco celeste [...(] sem elhante à esm eralda”
(Ap 4.3). Acima dos altos topos de Icaria, Samos, e N axos, levantam -se as montanhas
348
A pocalipse - C ap. 1
da Ásia Menor; entre as quais repousava, a norte, o círculo das sete igrejas às quais
seus discursos deviam ser enviados. À volta dele, erguiam-se as montanhas e ilhas
do arquipélago (Ap 6 .1 4 ; 2 1 .2 0 ). Quando ele olha emvolta, para cima ou para baixo,
“o mar" sempre ocupava oprimeiro lugar £...]] as vozes do céu eramcomo o somdas
ondas batendo na praia, como a“voz demuitas águas” (Ap 1 4 .2; 19 .6); a“pedra como
uma grande mó” foi lançada no mar (Ap 18.21); o mar “deu [...J os mortos que nele
havia” (Ap 2 0 .1 3 ) 10.
Por causa da palavra de Deus (διά toy λόγον του 0eoô). P o r causa: é em razão
de, como consequência de. A expressão é comumente explicada com referência ao
banimento de João como mártir pela verdade cristã. Contudo, alguns, sobretudo
aqueles que desejam derrubar que a autoria do livro seja de João, explicam que
ele estava em Patmos p a ra p re g a r a p a la v ra lá ou a fim de receber uma comuni
cação da palavra de Deus. Todavia, à parte do tom geral do discurso de João,
que sugere um período de perseguição, a expressão p o r causa d a p a la v ra de D eus
ocorre em duas passagens em que não se pode duvidar do sentido; 6.9 e 20.4.
Assim também na ara .
349
A p o c a l ip s e - C ap. l
Dante diz·.
E mais uma vez, logo antes da consumação da visão beatífica, Dante diz:
351
A p o c a l ip s e - C ap. l
No dia do Senhor (έν κυριακη ημέρα). A frase ocorre somente aqui no texto
do Novo Testamento. O primeiro dia da semana, a festa da ressurreição do Se
nhor. Não, como dizem alguns, o dia do julgamento, uma vez que este, dentro
do Novo Testamento, é expresso por ή ημέρα του Κυρίου, ο D ia do Senhor (2Ts
2.2, ara ); ou ημέρα Κυρίου, o D ia do Senhor, sem artigo no grego (2Pe 3.10); ou
ημέρα Χρίστου, o D ia de C risto (Fp 2.16). A expressão usual no texto do Novo
Testamento para o primeiro dia da semana é ή μία των σαββάτων (Lc 24.1; vid e
nota sobre At 20.7).
11. [[Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.]] Conforme a kjv (cp. tr ).
Omita, como na arc.
Efeso. Cinco das sete cidades mencionadas aqui aparecem em uma passagem
de Tácito17, onde é descrita uma disputa entre onze cidades da Ásia proconsular
pelo privilégio de erigir uma estátua e um templo a Tibério. Laodiceia é igno
rada por ser desigual em riqueza e dignidade para a tarefa. Filadélfia e Tiatira
não são mencionadas. Pérgamo é rejeitada por já ter um templo para Augusto.
Éfeso (com Mileto) já tem atividade suficiente para sua região com as cerimônias
feitas a Diana. Assim, a disputa ficou limita a Sardes e Esmirna; e Esmirna foi a
escolhida com base no fato de que suas autoridades eram amigáveis aos romanos.
352
A pocalipse - Cap. 1
12. Para ver £a v o z ] . Conforme a kjv; a arc não traz a voz. Na teb , para olhar a
voz que mefalava. A voz toma o lugar do orador.
LQue] falava (ήτις). Conforme a kjv ; a arc traz quem. O relativo composto
tem força qualitativa: de que tipo.
Vestido até aos pés (ποδήρη). Compare com Dn 10.5. De πούς, o pé, e αρω,
atar, daí o que liga cabeça e pé. O termo é propriamente um adjetivo, alcançando
o pé, com χίτων, veste, implícito. Xenofonte fala dos soldados persas fortemente
armados, como carregando escudos de madeira que chegavam aos pés (ποδήρεσι
ξυλίνοας άσπίσιν)19. A palavra ocorre somente aqui no texto do Novo Testamen
to, mas há diversas ocorrências na l x x , como em Ez 9.2-3,11, passagem em que a
n v i traz apenas linho-, Ex 28.4, na n v i , m anto da veste do sumo sacerdote; Lv 16.4,
14. Brancos (λ^υκαι). Vide nota sobre Lc 9.29. Compare com Dn 7.9.
354
A p o c a l ip s e - C ap. 1
Muitas águas. Compare com Ez 1.24; 43.2; Is 17.12. Vide também Ap 14.2; 19.6.
16. Uma aguda espada de dois fios (ρομφαία δίστομος όξέΐα). A ordem grega é:
uma espada de dois fios aguda. Para a palavra peculiar para espada, vide nota sobre
Lc 2.35. O sentido literal de doisfios é de duas bocas. Vide nota sobre fio, Lc 21.24.
Homero fala de traves para luta no mar, "cobertas na. ponta (στόμα, boca) com latão”.
Rosto (όψις). Usado só por João e só três vezes: aqui, em Jo 7.24; 11.44. Não
se refere à aparência geral.
355
A pocalipse - Cap. 1
Mas essa mesma fidelidade que apresenta em relação à natureza é sua inimiga
no trato com temas como as visões apocalípticas, investindo-as, como faz, com
um realismo estranho ao espírito e intenção delas. Tome, por exemplo, os quatro
cavaleiros (Ap 6). O poder é sentido de imediato no movimento externo dos três
cavaleiros com arco, espada e balança. O intenso e inexorável propósito com que
eles passam sobre as formas prostradas aos seus pés. Mas o quarto cavaleiro,
a Morte, sobre o cavalo amarelo, seguida pelo Inferno, retratado com as man-
díbulas bem abertas de um monstro em que uma cabeça coroada é depositada,
degenera-se em uma caricatura horripilante do tipo germânico mais ofensivo
- um arlequim ultrapassando muitíssimo em hediondez, o tradicional esqueleto
com foice e ampulheta.
De maneira similar, o anjo com seus pés como colunas de fogo, um sobre o
mar e o outro sobre a terra. Se ficamos solenemente impressionados pelo terrível
rosto do anjo que era como o sol, a solenidade degenera-se em algo parecido com
diversão à visão dos pés como sólidas colunas terminando em chamas na altura
dos joelhos, e do evangelista “que se ajoelha em um promontório com o canto
do grande livro apresentado pelo anjo em sua boca, aparentemente, correndo o
risco de engasgar”.
Em suma, esses símbolos, como o Cordeiro com sete pontas e sete olhos; os
quatro animais, cada um com seis asas e cheios de olhos na parte anterior e na
posterior; a besta que subiu do mar, com dez chifres e sete cabeças e, nos chifres,
dez diademas - não se prestam ao lápis. Uma ilustração de infeliz efeito grotesco
de uma tentativa assim pode ser vista em “Horas apocalíticas”, do Sr. Elliot, em
que é retratado o gafanhoto do capítulo 9 com uma coroa de ouro na cabeça, ca
belos como de mulher, peitoril de ferro e cauda como a de escorpião.
O Arcebispo Trench, com muito talento, delineia a comparação entre os mo
delos que a mente grega e hebraica, respectivamente, lidam com o simbolismo.
Na grega, o elemento estético é predominante tanto que a primeira necessidade
do símbolo é satisfazer o senso de beleza, forma e proporção. Na hebraica, a pri
meira necessidade é
356
A pocalipse —Cap. 1
Mas dizer que esses símbolos chocam o senso estético não é detratar seu valor
como símbolo nem os detrair como violações da conveniência das coisas. Pode-
-se perguntar com justiça se, com toda essa aparente incongruência e até mesmo
monstruosidade, eles, afinal, podem não ser verdade para o cânone mais alto da
congruência. E certo que a grande economia divina visível, da natureza e do
homem, inclui distintamente o grotesco, o monstruoso, o ridículo (ou como os
qualificarmos). Reconhecemos o fato na expressão “caprichos da natureza”. Mas
eles são “caprichos”? Eles são incongruentes? Até termos apreendido na mente
todo o cosmos, não é seguro para nós responder a essa pergunta de forma muito
positiva. A aparente incongruência vista de um plano mais alto, pode fundir-se
em bela congruência. Testada por um sentido mais sutil, admitida em relação
e ligação com toda região do fenômeno mental e espiritual, vista como um fato
desse reino mais amplo que abraça idéias e verdades espirituais junto com o fenô
meno externo; o externamente grotesco pode decompor-se no espiritualmente
belo; a incongruência superficial em harmonia essencial e profunda.
Essa possibilidade emerge, na verdade, em determinados pronunciamentos de
nosso Senhor, notavelmente em suas parábolas. Há muito tempo reconhece-se o
absurdo de tentar fazer uma parábola “descrever alguma proposição justa e bem
fundamentada e forçá-la a se sustentar por si só”; em outras palavras, insistir em
uma correspondência rígida e literal entre os mínimos detalhes do símbolo e da
coisa simbolizada. A exposição sólida avança para um tratamento mais abran
gente e livre, porém mais profundo e mais espiritual, desses pronunciamentos,
compreendendo as meras e subjacentes correspondências de detalhes com a mais
profunda e, segundo Milligan,
357
A pocalipse - Cap. 1
ção divina com o pecado; se, assim, trouxermos as sugestões mais profundas
da humanidade e da natureza exteriores na relação com sua verdadeira cor
respondência no reino espiritual - conseguiremos algo mais profundo que
o apelo pictórico para a imaginação. Apreendemos o que não conseguimos
formular; não obstante, o apreendemos. Deixando de lado a correspondência
exterior, ficamos mais livres para penetrar nas profundezas do simbolismo
e alcançar uma correspondência interior não menos real e não menos com
preensível.
17. Caí. Compare com Êx 23.20; Ez 1.28; Dn 8.17ss.; 10.7SS.; Lc 5.8; Ap 19.10.
A condição do profeta, em espírito, não suplanta a existência no corpo. Compare
com At 9.3-5.
O Primeiro e o Último. Esse epíteto é atribuído três vezes a Jeová por Isaias
(41.4; 44.6; 48.12); três vezes nesse livro (aqui, 2.8; 12.13). Ricardo de São Victor
citado por Trench comenta:
Sou o primeiro e o último. Primeiro, por intermédio da criação, último por inter
médio da retribuição. Primeiro, porque antes de mim um deus não foi formado;
último, porque depois de mim não deve haver outro. Primeiro, porque todas as
coisas são de mim; último, porque todas as coisas são para mim; de mimo princí
pio, para mimo fim. Primeiro, porque sou a causa da origem; último, porque sou
ojuiz e o fim.
18. E o que vive (καί ό ζών). Não é uma sentença nova ligada às palavras se
guintes, como na n t l h , mas conectada com o P rim e iro e o Ú ltim o por καί, e. A a r a
traz: e aquele que vive; e a t e b : o Q ue Vive. Compare com Jo 1.4; 14.6; 5.26.
Amém. Omita.
20.1. O provérbio rabínico diz: “Há quatro chaves alojadas na mão de Deus que
Ele não confia nem ao anjo nem ao serafim; a chave da chuva, a chave do alimen
to, a chave das tumbas e a chave da mulher estéril”.
19. Escreve. Vide nota sobre o versículo 11. Acrescente portan to.
As que são (ã είσιν). Alguns traduzem por o que elas são, ou seja, o que elas
significam. Porém, a referência de μετά ταΰτα, depois destas, d a q u i p o r diante, a a
ú o i v , a s que são, parece ser decisiva em favor da primeira tradução, que, além de
tudo, é a mais natural.
Hão de acontecer (μέλλει γίνεσθαι). Não o futuro do verbo ser, mas estão
p a r a (μέλλει) acontecer (γίρεσθαι). Compare com o versículo 1 , “devem aconte
cer”. Aqui o pensamento não se refere à necessidade profética, mas à sequência
de eventos.
C apítulo 2
Segundo Alford, cada carta para as sete igrejas contém: (l) uma ordem para es
crever ao anjo da igreja específica; (2) um título sublime de nosso Senhor, na maior
parte, da imagem da visão precedente; (3) uma fala para o anjo da igreja, sempre
começando com eu sei, introduzindo uma declaração de suas circunstâncias atuais e
continuando com uma exortação ao arrependimento ou à constância e terminando
com um anúncio profético, principalmente, a respeito de como será 0 retorno do
Senhor; (4) uma promessa para aquele que se submete, geralmente acompanhada
de um chamado solene à atenção cuidadosa: “Quem tem ouvidos ouça” etc.
Em duas igrejas, Esmirna e Filadélfia, o Senhor encontra assunto só para
louvor. Em duas, Sardes e Laodiceia, com uma leve exceção na primeira, só para
360
A pocalipse - Cap. 2
1. Éfeso. Éfeso foi construída perto do mar, no vale do rio Caiste, sob as sombras
dos montes Coressus e Prion. No tempo de Paulo, a cidade era a metrópole da
província da Ásia. Ela foi intitulada por Plínio de a lu z da A sia. Seu porto, em
bora parcialmente ocupado, vivia cheio de navios e ficava na junção de estradas,
e assim, acabava por ter acesso para todo o interior do continente. Seu mercado
era a “Feira da Vaidade” da Ásia. Heródoto diz:
361
A pocalipse - C ap . 2
de Praxiteles, Fídias, Scopas e Policleto. Pinturas dos maiores artistas gregos, das
quais uma - a semelhança de Alexandre, o Grande, de Apeles —foi comprada por
uma elevada soma, em termos de dinheiro moderno, adornavam as paredes internas.
O telhado do templo era de madeira de cedro, sustentado por colunas de jaspe com
base de mármore pariano. Do topo dessas colunas pendiam presentes de valor ines
timável, as ofertas votivas ou comemorativas da gratidão imersa em superstição.
Na parte posterior, destacava-se o grande altar adornado com os baixos-relevos de
Praxiteles, por trás do qual caía a cortina púrpura com vastas dobras. Por trás des
sa cortina, ficava o escuro e terrível santuário no qual permanecia o mais sagrado
ídolo do paganismo clássico, e, mais uma vez, por trás do relicário, ficava a sala que,
inviolável sob a proteção divina, era vista como o banco mais rico e mais seguro do
mundo antigo21.
Éfeso, próxima de Roma, era a principal base do trabalho de Paulo. Ele devo
tou três anos a essa cidade. A tradição comumente recebida apresenta João en
cerrando sua carreira apostólica ali. Nada na história da igreja primitiva é mais
bem atestado que sua estadia e trabalho em Éfeso, o centro do círculo de igrejas
estabelecidas por Paulo na Jônia e Frigia.
Paciência (υπομονήν). Vide nota sobre 2Pe 1.6; Tg 5.7. Compare com a exor
tação de Paulo para Timóteo em Eféso, 2Tm 2.25-26.
Sofrer (βαστάσαι). Vide nota sobre Jo 10.31; 12.6. Compare com G16.2, em que
a palavra é usada para os cristãos levarem as cargas uns dos outros.
não é pouco notável o fato de a graça ou virtude aqui atribuída ao anjo da igreja de
Éfeso (cp. v. 6) tivesse um nome no grego clássico: μισοπονηρία, ódio do mau; e a
362
A pocalipse - Cap . 2
pessoa com quem a graça está relacionada, μ ισ ο π ό ν η ρ ο ς, odiador do mau-, embora ne
nhuma dessas palavras, nem nenhuma equivalente a elas ocorra nas páginas do Novo
Testamento. É o mais estranho, por esse ódio do mau, puramente como mal em si, por
mais que hoje pouco se pense sobre ele ou se admire essa atitude, é eminentemente
uma graça cristã.
Puseste à prova (επειράσω). Na bv, tem exam in ado cuidadosam ente. Vide nota
sobre pro vado, lPe 1.7, e compare com lJo4.l; lCo 12.10.
Deixaste (άφήκας). Tradução mais correta do aoristo; contra a kjv , tens d eix a
do. O sentido original do verbo é a fa sta r ou repudiar. V ide nota sobre Jo 4.3.
Brevemente. Omita.
Seu castiçal, há séculos, foi tirado de seu lugar, a esquálida vila islâmica que fica mais
próxima não tem nenhum cristão em sua insignificante população; seu templo é uma
massa de ruínas disformes; seu porto é um tanque coberto de vegetação; o alcaravão
estrondeia em meio a seus pântanos pestilentos e estagnados; e a malária e o esqueci-
363
A pocalipse —C ap. 2
mento reinam supremos sobre o lugar em que a rica civilização da Antiguidade reunia
as cenas de suas mais ignorantes superstições e seus pecados mais degradantes48.
João emprega o verbo κιν4ω, tirar (ara , mover), só no Apocalipse e, além dessa,
em 6.14, passagem em que, como aqui, ele tem o sentido de mover emjulgamento.
Não há nenhum tipo de motivo para interpretar o nome de outra maneira que não
historicamente. Ele ocorre em uma passagem, indicando simples assunto de fato his
tórico, da mesma maneira que o nome de Antipas o faz no versículo 13.
364
A pocalipse —C ap. 2
Dar-lhe-ei. Esse termo tem lugar em cada uma das cartas. O verbo é uma
palavra habitual de João para os privilégios e funções do Filho, quer como con-
cecido a Ele pelo Pai, quer dispensado por Ele a seus seguidores. V ide Jo 3.35;
5.22,27,36; 6.65; 13.3; 17.6. Compare com Ap 2.23; 3.8; 4.4; 11.3.
D a árvore (έκ ξύλου). Há 127 ocorrências da preposição έκ, de, de dentro de,
em Apocalipse, e seu sentido próprio é quase universalmente de dentro de. Porém,
essa tradução, em muitas passagens, ficaria tão estranha e idiomática ao ponto de
os revisores do Novo Testamento se sentirem autorizados a adotá-la apenas 41
vezes desse total e empregar de, do, pelo, com, sobre, em, p o r causa de, p o r m o tivo de,
dentre. Vide, por exemplo, 2.7,21-22; 4.4,10; 8.11; 9.18; 14.13; 15.2; 16.21.Compa-
recornJo 3.31; 4.13; 6.13,39,51; 8.23,44; 9.6; 11.1; 12.3,27,32; 17.15.
A rvo re, literalmente, m adeira. V ide nota sobre Lc 13.31; iPe 3.24. O Deão
Plumptre observa o fato de que, proeminente como esse símbolo é na história
primordial, permaneceu despercebido no ensinamento no qual mais deveriamos
ter procurado sua presença - no do salmista e dos profetas do Antigo Testamen
to. Só em Provérbios de Salomão ele foi usado, em um sentido meio alegórico e
meio místico (Pv 3.18; 23.12; 11.30; 15.4). O reavivamento do símbolo em Apo
calipse está de acordo com o tema da restituição de todas as coisas. ‘Ά árvore que
desapareceu com o desaparecimento do paraíso terreno reaparece com o reapa
recimento do paraíso celestial”. C om er da árvore da vida expressa participação
na vida eterna. A imagem da árvore da vida aparece em todas as mitologias, da
índia à Escandinávia. Os rabinos e os mulçumanos chamam a videira de a á rvo re
d a provação. O zoroastrismo tem sua árvore da vida e a chama de a destru idora da
morte. Ela cresce ao lado da água da vida e beber sua seiva confere imortalidade.
A árvore da vida hindu é retratada crescendo de uma grande semente no meio de
uma extensão de água. Ela tem três ramos, cada um coroado com um sol, deno
tando os poderes da criação, preservação e renovação após a destruição. Em ou
tra representação, Buda senta-se para meditar debaixo da árvore com três ramos,
cada ramo com três hastes. Um dos cilindros babilônios descobertos por Layard
representa três sacerdotisas catando o fruto do que parece ser uma palmeira
365
A pocalipse - C ap . 2
com três ramos de cada lado. Hathor, a Vênus dos egípcios, aparece meio oculta
nos ramos do pessegueiro sagrado dando o fruto para as almas que partem e a
bebida do céu de um frasco do qual a nascente da vida desce sobre o espírito; e
há uma imagem aos pés da árvore, como um falcão, com cabeça humana e com
mãos estendidas.
Na mitologia escandinava, uma imagem proeminente é a de Yggdrasil, ofreixo
da existência, suas raízes no reino de Hela, ou Morte, seu tronco alcança o céu e
seus galhos se espalham por todo o universo. Aos seus pés, no reino da Morte,
sentam-se três Nornas, ou destinos, o passado, o presente e o futuro, irrigan
do suas raízes com a água do poço sagrado. Compare com 22. 2,14,19. Virgílio,
dirigindo-se a Dante na conclusão da subida ao Monte do Purgatório, diz:
Paraíso. Vide nota sobre Lc 23.48. Omita no meio do. Παράδεισος, paraíso, se
gundo Trench,
passa por uma série de sentidos, cada um mais alto que o anterior. De algum jardim de
deleite, que é seu primeiro sentido, passa a ser predominantemente aplicado ao jardim
do Éden, depois, ao lugar de descanso das almas separadas em alegria e felicidade e,
por fim, ao próprio céu; e,de forma notável, percebemos nele o que vemos, de fato,
em tantas palavras, como a religião revelada as assume em seu culto e as transforma
em veículos de verdades muito mais elevadas que qualquer que tenham conhecido de
início, transformando-as e transfigurando-as, como nesse caso, de glória em glória.
366
A pocalipse - C ap. 2
ja, que sofreu muita perseguição, e diz-se que ele foi martirizado no estádio da
cidade em 166 d.C. Argumenta-se, com alguma plausibilidade, que Policarpo foi
bispo de Esmirna na época da composição do Apocalipse e era a pessoa a quem
se dirige aqui. Contudo, essa questão está associada com a data de composição
(■vide Trench31). A cidade era a sede da adoração de Cybele, a mãe dos deuses, e
de Dionísio ou Baco.
eles foram os primeiros a, ώς έθος αύτοΐς (como era seu hábito), trazer toros para
a pilha e a esforçar-se para impedir que os restos do mártir fossem entregues a
seus companheiros cristãos para sepultamento.
Sinagoga de Satanás. Para sinagoga, vide nota sobre ajuntam ento, Tg 2.2, a
única passagem em que a palavra é usada para a assembléia cristã. Esse fato apoia
a explicação literal do termo ju deu s. Para Satanás, vid e nota sobre Lc 10.18. Para
o uso de João da expressão os ju deu s, vid e nota sobre Jo 1.19. O uso da palavra
aqui é, em um sentido honrável, muito diferente do costume de João, fato esse
usado para argumentar contra a autoria dele de Apocalipse. Mas João aqui só
cita a palavra e, além disso, emprega-a sem o artigo.
10. Nada temas (μηδέν φοβοΰ). Literalmente. Para o verbo, vid e nota sobre
Lc 1.50.
Eis (Ιδού δή). A partícula δή, p o r certo, que não é traduzida, dá qualidade de
certeza à predição. No n t ia , Certo é que; na n v i , S a ib a que.
O diabo (διάβολος). Vide nota sobre Mt 4.1. Assim, a perseguição dos cristãos
é rastreada até o agente direto de Satanás, e não às paixões ofendidas nem aos
preconceitos dos homens. Trench observa·.
Não há nada mais notável nos registros que nos tenha chegado das perseguições nos
primórdios da Igreja que o senso de que confessores e mártires e também aqueles que,
depois, narraram os sofrimentos e os triunfos deles considerem e profiram que essas
grandes lutas de aflição pela qual eles foram chamados a passar, eram obras diretas
do diabo.
Sê (γίνου). Não se pode dar a exata força da palavra por meio de um vocábulo
correspondente em nossa língua. Literalmente, “torne-se t u . Está para acontecer
uma sucessão de provações exigindo um aumento no poder e uma variedade
368
A pocalipse - C ap . 2
Até à m orte (αχρι θανάτου). Não fiel até a hora da morte, mas fiel a ponto de
sofrer a morte por causa de Cristo. “É uma expressão intensiva, não extensiva."
11. Receberá o dano (άδικηθή). Estritamente, sofrerá dano, p re ju ízo (cp. ara , n v i ,
teb); contra a tb, n ada sofrerá d a segunda m orte, e b j , será lesado.
371
A pocalipse - C ap. 2
desaconselha isso com base nas perigosas consequências para a consciência fraca e
também por envolver um reconhecimento formal da falsa adoração, à qual eles re
nunciaram no batismo. Stanley relata:
Plumptre diz:
15. Assim. Da mesma maneira como Balaque tem Balaão por falso mestre, assim
você tem nicolaítas por mestres.
16. Batalharei (πολεμήσω). As palavras guerra efazer ocorrem com mais frequência
em Apocalipse que em qualquer outro livro do Novo Testamento. Segundo Renan:
“Um eterno rufar de trovão do trono”.
Do maná escondido (του μάννα του κεκρυμμενου). A alusão pode ser parcial
mente ao pote de maná que ficava guardado na arca no santuário. VideÊx 16.32-
34; compare com Hb 9.4. O fato de que a imagem da arca era familiar a João fica
patente em 11.19. Contudo, essa alusão é indireta, pois o maná guardado na arca
não era para alimento, mas um memorial do alimento, um dia, desfrutado. Duas
idéias parecem estar combinadas na imagem:
1. Cristo como o pão do céu, a nutrição da vida dos crentes, o verdadeiro maná,
do qual aqueles que comem não morrem nunca (Jo 6.31-33,48-51); escondido, no
fato de que Ele está fora da vista, e a vida do cristão está escondida com Ele em
Deus (Cl 3.3).
2. A satisfação do desejo do cristão quando Cristo for revelado. O maná
escondido não deve permanecer escondido para sempre. Devemos ver Cris
to como Ele é e ser como Ele (lJo 3.2). Cristo dá o maná ao entregar-se.
Trench diz:
O ver a Cristo como Ele é e, por meio dessa visão beatífica, ser mais igual a Ele, é
idêntico acomer o maná escondido, o qual deve, por assimdizer, ser, então, tirado do
santuário, o Santo dos Santos da presença imediata deDeus, onde ficou escondido da
vistapor tantotempo, paraque todos possamparticipar dele; aglória deCristo, agora
escondida evelada, sendo, então, reveladapara seupovo.
Em tal extensão é o caso que é duvidoso se ele contémuma única imagemque não
tenha sido extraída do Antigo Testamento ou uma única sentença completa que não
tenha sido mais oumenos construída de material tirado damesma fonte.
Vide, por exemplo, Balaão (2.14); Jezabel (2.20); Miguel (12.7; cp. Dn 10.13;
12.1); Abadom (Apoliom) (9.11); Jerusalém, monte Sião, Babilônia, o Eufrates,
Sodoma, Egito (21.2; 14.1; 16.19; 9.14; 11.8); Gogue e Magogue (20.8; cp. Ez 38;
39). De maneira semelhante, a árvore da vida, a vara de ferro, os vasos de oleiro,
a estrela da manhã (2.7,17,27-28). O céu é descrito sob a imagem do tabernáculo
no deserto (11.1,19; 6.9; 8.3; 11.19; 4.6). O cântico dos redimidos é o cântico de
Moisés ( 15.3). As pragas do Egito aparecem no sangue, no fogo, no trovão, nas
trevas e nos gafanhotos (cap. 8).
Bem como os detalhes de uma única visão são reunidos de diferentes profe
tas ou de diferentes partes do mesmo profeta. Por exemplo, a visão do Reden
tor glorificado (1.12-20). Os castiçais de ouro são de Êxodo e de Zacarias; a
veste até os pés de Êxodo e de Daniel; o cinto de ouro e cabelo como lã branca
de Isaías e de Daniel; os pés como latão reluzente e a voz que soa como muitas
águas de Ezequiel; a espada de dois fios de Isaías e Salmos; o rosto como o sol
de Êxodo; o cair como morto do profeta de Exodo, Isaías, Ezequiel e Daniel;
a mão direita de Jesus sobre o profeta de Daniel. O Professor Milligan afirma:
Uma pedra branca (ψήφον λαϊκήν). Vide nota sobre f a z e r as contas, Lc 14.28;
e brancas, Lc 9.29. A fundação da figura não é para ser procurada nos costumes
gentios, mas nos judaicos. Trench diz: “Branco, em todos os lugares, é a cor e
a vestimenta do céu”. Vide 1.4; 3.5; 7.9; 14.14; 19.8,11,14; 20.11. É o brilhante e
luminoso branco. Compare com Mt 28.3; Lc 24.4; Jo 20.12; Ap 20.11; Dn 7.9.
É impossível determinar o sentido do símbolo com toda certeza. As seguintes
são as principais percepções: o Urim e Tumim escondidos no peitoril de julga
mento do sumo sacerdote. Isso é defendido por Trench, que supõe que o Urim
era uma pedra peculiarmente rara, e é bem provável que fosse o diamante, e
gravada com o inefável nome de Deus. O novo nome que ele considera como o
novo nome de Deus ou de Cristo (3.12); alguma revelação da glória de Deus que
só pode ser transmitida ao seu povo apenas no mais alto estado de ser e que só
aqueles que realmente receberam conseguem entender.
Milligan supõe que é uma alusão ao prato de ouro que o sumo sacerdote usava
na testa e tinha inscrito as palavras: “Santidade do Senhor”; mas, de forma um tan
to estranha, passa para a imagem da pedra, ou seixo, usado para votar e considera
que a pedra branca carrega a ideia da absolvição do crente nas mãos de Deus.
Contudo, um n o vo nome, uma revelação de seu título eterno como umfilho deDeus
para aglória emCristo, mas consistindo daquelas marcas e sinais pessoais da adoção
peculiar de Deus de s i m esm o e reveladas nelas comque ele e ninguémmais está fa
miliarizado.
Bengel diz: “Você sabe que tipo de novo nome obterá? Sujeite-se. Antes disso,
você pedirá em vão e, depois disso, logo o lerá inscrito na pedra branca”.
18. Tiatira. Situada nos confins de Mísia e Jônia. De acordo com Plínio, ela era
conhecida nos tempos antigos como Pelópia e Euhippia. Sua prosperidade rece
beu novo impulso sob o imperador romano Vespasiano. A cidade continha vários
sindicatos corporativos, como os de oleiros, curtidores, tecelões, produtores de
manto e tintureiros. Foi de Tiatira, que Lídia a vendedora de púrpura de Filipo
veio, a primeira convertida europeia de Paulo. Os numerosos rios do país vizinho
eram cheios de parasitas. A principal deidade da cidade era Apoio, adorado como
o deus sol sob o sobrenome de Tirimaeus. Um santuário fora dos muros da ci
dade era dedicado a Sambate, uma sibila. O lugar nunca teve muita importância
política.
19. E que as tuas últimas obras etc. Em contrapartida, na ara , e as tuas últimas
obras, mais numerosas etc. (cp. bj); na ecp, e as tuas últimas obras, que excedem etc.
Leia como na arc.
20. Tenho Qpoucas coisas]. Conforme a kjv (cp. tr). Omita, como na arc.
376
A pocalipse - Cap. 2
tados na mesa dela. O santuário para Baal, em Samaria, era grande o bastante
para comportar todos os adoradores do Reino do Norte. A equipe desse santu
ário consistia de 450 sacerdotes, e o interior dele continha representações do
rei sol sobre pequenos pilares, enquanto uma grande estátua da mesma deidade
erguia-se na frente. Nesses santuários, Acabe, em pessoa, oferecia sacrifícios.
Os expositores dividem-se quanto ao uso simbólico do nome nessa passagem,
alguns relacionam o nome a uma única pessoa - “alguma mulher solteira perver
sa da igreja de Tiatira que herdou esse nome infame na igreja de Deus”, apresen
tando-se como profetisa e seduzindo os servos de Cristo a cometer fornicação e
a comer coisas oferecidas a ídolos. Outros interpretam o nome como designando
um grupo herético influente da igreja; mas, como Alford comenta, “a verdadeira
solução deve ficar escondida até que o escondido seja conhecido”. Fica claro, de
todo modo, que Tiatira, como a igreja dos tempos antigos, tinha pecado por sua
aliança com uma fé e prática corruptas.
Da sua prostituição (έκ). Literalmente, de dentro de, ou seja, como para sair e
escapar de seu pecado. Vide nota sobre o versículo 7.
Com ela (μετ’ αυτής). Não com ela como o conjux adulterii, mas quem compar
tilha com ela em seus adultérios.
Das suas obras (εκ των έργων αυτών). Leia αυτής, dela (obras). Arrependa-se
de dentro de (εκ), como no versículo 21.
23. De m orte (έν θανάτω). Na kjv , matarei com morte. Essa é uma expressão
muito forte. Compare com Lv 20.10, lxx, θανάτω θανατούσθωσαν, serão postos
para a morte (kjv e rv ). Literalmente, que eles sejam postos para morrer com morte.
Dificilmente a referência é aos setenta filhos de Acabe que foram degolados (2Rs
10.6-7), pois não eram filhos de Jezabel.
Filhos (τέκνα). Enfático. Distinto dos participantes do versículo 22, como seus
próprios seguidores, “que são nascidos dela e a constituem”. Contudo, alguns
negam qualquer distinção (como Milligan), e outros (como Trench) o explicam
como membros menos evidentes e proeminentes da ímpia companhia, enganados
onde os outros eram os enganadores.
Todas as igrejas. Não apenas as sete igrejas, mas as igrejas do mundo inteiro.
Sonda (ερευνών). Vide Jo 5.39; 7.52; Rm 8.27. Compare com Jr 11.20; 17.10;
20.12; lPe 1.11. Denotando uma pesquisa cuidadosa, uma perseguição ou rastro.
Vide Gn 31.35; lRs 20.6; Pv 20.27; lCo 2.10.
24. E aos restantes. Omita e, e traduza, como na rv : digo a vós, aos restantes. Na
ara , digo r...J a vós outros, os demais.
E não conheceram (και οϊτινες). Omita και, e, e acrescente οΐτινες, que. O re
lativo composto, que, classifica: que são daqueles que não conheceram etc.
Como dizem. A nvi traduz; como eles dizem. As questões são: 1. A que a ex
pressão alude? É a fórmula familiar desses heréticos, “as profundezas” ou “as
profundezas de Deus”, as profundezas de Satanás sendo acrescido pelo Senhor
378
A pocalipse - C ap. 2
O utra carga (άλλο βάρος). As palavras para carga no texto do Novo Tes
tamento são: όγκος (só em Hb 12.1), βάρος (Mt 20.12; G1 6.2) βφορτίον (Mt
11.30; 23.4; G1 6.5). O termo όγκος refere-se a volume-, βάρος, a peso-, φορτίον,
a uma carga conforme é carregada (φέρω). Assim, em Hb 12.1: “Deixemos
todo embaraço (όγκος)”, a imagem é de corredores no curso de uma corrida,
e a palavra apropriada denota os pesados mantos e acessórios da vestimenta
comum que impedia a liberdade dos membros. Em Mt 20.12: “Suportamos
o peso (βάρος) do trabalho e o calor do dia” (cp. n v i ), a ideia é que o trabalho
pesado pressiona como um peso. Como G1 6.2: “Levai as cargas uns dos ou
tros”. Mas em G1 6.5 a ênfase está no ato de levar, por isso, φορτίον é usado:
“Cada qual levará a sua própria carga”·, ou seja, cada homem carregará o que
é designado que ele carregue. É provável que a referência na passagem seja
à proibição ordenada pelo conselho apostólico de Jerusalém , concernente
às mesmas coisas que são repreendidas aqui —fornicação e abstinência de
comidas sacrificadas aos ídolos. Na narrativa do conselho a frase é: “Não vos
impor mais encargo algum” (At 15.28). Por conseguinte, o sentido é: Não
impor a vocês mais encargo algum além da abstinência dessas abominações e
do protesto contra elas.
26. Guardar £...] as minhas obras (τηρών τά έργα μου). A frase ocorre somente
aqui no texto do Novo Testamento. As obras são as ordenadas por Cristo, as quais
Ele fa z e são osfrutos de seu Espírito. Vide nota sobre Jo 4.47.
Nações (εθνών). Vide nota sobre Mt 25.32, e sobre nações, Lc 2.32. Aqui, seria
mais apropriado gentios, como na nvi, em contraposição ao verdadeiro Deus de
Israel.
27. Vara (ράβδω). Essa é a maneira como o termo é comumente traduzido; uma
vez por cetro, Hb 1.8. Esse é o sentido aqui.
380
A pocalipse —C ap. 3
Vasos (σκεύη). Vide nota sobre bens, Mt 12.29; vaso, lPe 3.7.
28. A estrela da manhã (τον άστέρα τον πρωινόν). A estrela, aquela da manhã.
Uma das construções características de João. Vide nota sobre lJo 4.9. É mais
provável que a referência seja a Cristo mesmo. Vide 22.16. Ele dará a si mesmo.
Essa interpretação harmoniza com a promessa de poder sobre as nações do ver
sículo 26. A estrela era o antigo emblema de soberania. Vide Nm 24.17; Mt 2.2.
Plumptre diz:
Era o símbolo de soberania em seu lado mais brilhante e benigno e, por isso, era o
complemento adequado e necessário dos temidos atributos que já existiam antes. O rei
não veio só para julgar e punir, mas também para iluminar e encorajar.
C apítulo 3
destino é obscuro. Em 214 a.C., ela foi tomada e saqueada por Antióquio,
o Grande, depois de um cerco de dois anos. A seguir, os reis de Pérgamo
sucederam no domínio, e, das mãos deles, ela passou para as mãos dos ro
manos.
No tempo de Tibério, ela foi arrasada por um terremoto junto com outras
onze ou doze cidades importantes da Ásia, e a calamidade foi ainda maior por
causa de uma peste.
Sardes, em tempos bastante remotos, foi uma importante cidade comercial.
Plínio diz que a arte de tingir lã foi inventada lá e que ela era o entreposto das
indústrias de tecido de lã, carpetes, tingidos, cuja matéria-prima era abastecida
pelos rebanhos da Frigia. Era também o lugar em que o metal eletro era procu
rado. Foi encontrado ouro no leito do Pactolus. Dizia-se que as moedas de ouro
e prata foram cunhadas pela primeira vez lá, e, em determinada época, a cidade
passou a ser conhecida como mercado de escravos. A adoração impura da deusa
Cibele era celebrada na cidade e ainda se podem ver as ruínas maciças de seu
templo. A cidade, agora, é um monte de ruínas. Em 1850, nenhum ser humano
habitava o local.
Confirma (στήριξον). Vide nota sobre lPe 5.10, e compare com Lc 22.32;
Rm 1.11; 2Ts 3.3.
Que estava para m orrer (α εμελλον άποθανειν). Conforme a leitura dos me
lhores textos; a kjv segue a leitura μέλλει, está para·, “coisas restantes que estão
prontas para morrer”.
Não achei as tuas obras (ού ευρηκά σου τα έργα). Alguns textos omitem ο
artigo antes de obras, caso em que devemos traduzir por: não achei nenhumas obras
tuas. Como na r v .
3. Tens recebido e ouvido (εΐληφας καί ήκουσας). O primeiro desses verbos está
no tempo perfeito: tens recebido a verdade como um depósito permanente. Ela
382
A pocalipse - Cap. 3
permanece com você, quer a observe quer não. O último verbo está no tempo ao-
risto, ouvido (como na r v ), denotando apenas o ato de ouvir quando ele acontece.
Não saberás a que hora sobre ti virei. O provérbio grego diz que os pés das
deidades vingativas são calçados com lã. O sentimento é expresso em dos dois
fragmentos seguintes de Esquilo:
Vestes. Vide a mesma imagem em Jd 23. O sentido é não sujar a pureza de sua
vida cristã.
De branco (êv λακοΐς). Com Ιματίοις, vestes, implícito. Vide nota sobre 2.17,
e compare com Zc 3.3,5. Platão diz: “A cor branca é adequada para os deuses”41.
Como Virgílio sobre os inquilinos de Elísio:
384
A pocalipse - C ap. 3
O que é santo (ò άγιος). Vide nota sobre At 26.10. Cristo é chamado santo,
At 2.27; 13.35; Hb 7.26. Todavia, em todas essas passagens, a palavra é δσιος,
que tem o sentido de santo pela santificação, aplicada àquele que observa diligen
temente todas as santidades da religião. Portanto, é apropriada para Cristo como
aquele em quem essas santidades eternas são fundamentadas e residem. O termo
usado aqui, άγιος, refere-se, antes, a separação do mal.
A chave de Davi. Vide nota sobre l . 18, e compare com Is 22.22. Davi é o tipo
de Cristo, o governante supremo do reino do céu. Vide Jr 30.9; Ez 34.23; 37.24. A
casa de Davi é a designação típica do reinado de Jesus Cristo (SI 122.5). Assim, a
propriedade da chave, o símbolo do poder, pertence a Cristo como Senhor do reino
e da igreja de Deus. Vide nota sobre Mt 16.19. Ele admite e exclui ao seu gosto.
Uma porta aberta (θύραν άνεφγμενην). Esse é o sentido mais literal. A ex
pressão é explicada de várias maneiras. Alguns se referem a ela como entrada
para a alegria do Senhor; outros, como iniciação no significado da Escritura;
outros ainda, como a oportunidade para o trabalho missionário da igreja. Nesse
último sentido, a expressão, com frequência, é usada por Paulo. Vide lCo 16.9;
2Co 2.12; Cl 4.3. Compare com At 14.2743. Dei é apropriado, uma vez que todas
as oportunidades de serviço são dádivas de Deus. Videnota sobre 2.7.
43. Essa é a explanação de Trench, Plumptre, Düsterdieck e Alford e parece, em geral, ser a prefe
rível. O Professor Milligan argumenta extensamente pela segunda explicação, a de Bengel.
385
A pocalipse - Cap. 3
Pouca força (μι,κράν δύναμιν). Isso poderia ter o sentido de: tens algum poder,
embora pequeno. Contudo, muitos omitem o artigo indefinido na tradução e ver
tem: tendo poucaforça; ou seja, você é pobre em números e recursos mundanos. Assim
traduzem Alford, Trench e Düsterdieck.
Guardaste a minha palavra (έτήρησάς μου τον λόγοι/). Tradução estrita do ao-
risto; contra a kjv, tens guardado. Para a frase, videio 17.6,8.
10. A palavra da minha paciência (τον λόγον τής ύπομονής μου). Não as pa
lavras que Cristo falou a respeito da paciência, mas a palavra de Cristo que exi
ge paciência para ser observada; o evangelho, que ensina a necessidade de uma
espera paciente por Cristo. Acerca de paciência, vide nota sobre 2Pe 1.6; T g 5.7.
Da hora (4k). A preposição sugere não uma preservação da tentação, mas uma
preservação na tentação, com o resultado de que eles serão libertados de dentro
de seu poder. Compare com Jo 17.15.
386
A pocalipse - C ap. 3
Para que ninguém tome a tua coroa (ίνα μηδείς λάβη τον στέφανον σου).
Leve-a. A ideia não é a do crente entrar no palácio que foi designado para outro,
mas de um inimigo levar de outro a recompensa que ele mesmo perdeu. A ex
pressão é explicada por Cl 2.18. Ela é mencionada por Maomé que, depois de ter
tentado em vão converter um Abdalla para a fé e ter ouvido deste que deveria ir
cuidar dos seus negócios e pregar só para aqueles que viessem a ele, foi, abatido,
para a casa de um amigo. Seu amigo percebendo que estava triste, perguntou-lhe
o motivo e, ao ser informado do insulto de Abdalla, disse: “Trate-o gentilmente,
pois juro que quando Deus enviou você para nós, já tínhamos amarrado pérolas
para coroar a Abdalla, e ele acha que você arrancou o reino de sua mão”. Para
coroa, vide nota sobre 2.10. Tua coroa não é a coroa que tens, mas a coroa que terás
se provar ser fiel.
12. Coluna (στύλον). A palavra ocorre em G1 2.9; lTm 3.15; Ap 10.1. A referên
cia aqui não é a alguma proeminência na igreja terrena, como em G1 2.9, mas à
bem-aventurança no estado futuro. O sentido exato é duvidoso. Alguns explicam
como ele tem um lugar determinado e importante na igreja glorificada. Compare com
Mt 19.28. Outros enfatizam a ideia de estabilidade e encontram um possível local
de referência aos frequentes terremotos que abalavam Filadélfia e que sacudiram
seus templos. Strabo diz:
E Filadélfia não ficou nem mesmo com seus muros intatos, eles, de alguma maneira,
eram sacudidos diariamente e apareciam brechas neles. Mas os habitantes continuam
a ocupar a terra, não obstante, suas dificuldades para construir novas casas.
Outros ainda enfatizam a ideia de beleza. Compare com lPe 2.5, passagem na
qual os santos são descritos como pedras vivas.
Sobre ele. O conquistador, não a coluna. Compare com 7.3; 9.4; 14.1; 22.4. Pro
vavelmente em relação à lâmina de ouro inscrita com o nome de Jeová e usada
pelo sumo sacerdote na testa (Ex 28.36,38). Vide nota sobre 2.17.
387
A pocalipse - C ap. 3
Nova Jerusalém. Vide Ez 48.35. O cristão cuja fronte está adornada com esse
nome tem a liberdade da cidade celestial. Mesmo na terra, sua nação é no céu
(Fp 3.20). Trench afirma: “Contudo, sua cidadania estava latente; ele era um dos
escondidos de Deus, mas, agora, ele é sancionado abertamente e tem o direito
de entrar nela pelas portas da cidade”. A cidade é chamada por João de a grande
cidade, a santa Jerusalém, (21.10); por Mateus, de Cidade Santa (4.5); por Paulo,
de Jerusalém que é de cima (4.26); pelo escritor de Hebreus, de a cidade do Deus
vivo, à Jerusalém celestial (12.22). Platão chama sua cidade Calípolis, cidade bela
e ideal44, e o nome Ouranopolis, cidade celestial, já foi aplicado a Roma e Bizâncio.
Para nova (καινής), vide nota sobre Mt 26.29. A nova Jerusalém não é uma cidade
construída recentemente (νέα), mas é nova (καινή) em contraposição à cidade anti
ga, gasta e pecaminosa. No Evangelho, João costuma usar a forma grega e civil
do nome, 'Ιεροσόλυμα; em Apocalipse, a denominação hebraica e mais sagrada,
Ιερουσαλήμ45.
14. Em Laodiceia (4v Λαοδικεία). Siga essa leitura; contra Λαοδικέων, dos laodi-
censes ( k j v , cp. t r ). Laodiceia quer dizerjustiça dopovo. Como Laódice era um nome
comum entre as senhoras da casa real dos selêucidas, o nome foi dado a diversas
cidades da Síria e da Ásia Menor. A tratada aqui ficava nos confins da Frigia e
Lídia, cerca de 64 quilômetros a leste de Éfeso, e era conhecida como Laodiceia de
Lico. Ela teve sucessivamente os nomes de Dióspolis e Rhoas e recebeu o nome de
Laodiceia quando foi fundada de novo por Antióquio Theos, 261-246 a.C. Ficava
situada em um grupo de colinas entre dois afluentes do rio Lico —o Asôpos e o
Caprus. Em direção ao fim da república romana e sob os primeiros imperadores,
a cidade tornou-se uma das mais importantes e prósperas da Ásia Menor. Um de
seus cidadãos, Hiero, legou toda sua enorme propriedade para o povo e adornou
a cidade com caros presentes. Ela era a sede de transações de grandes somas de
dinheiro e de extenso comércio de madeira. Os cidadãos desenvolveram o gosto
pela arte grega e se destacavam na ciência e na literatura. Laodiceia era a sede de
uma grande escola de medicina. Durante o período romano, ela era a cidade-chefe
388
A pocalipse - C ap. 3
O Amém. Usado somente aqui como nome próprio. Vide Is 65.16, em que a
tradução correta é o Deus do Amém., e não apenas o Amém. O termo aplicado ao
Senhor quer dizer que Ele mesmo é o cumprimento de tudo que Deus fala para
as igrejas.
E sse estado, tanto quanto o estado oposto de fervor espiritual, seria uma condição
inteligível e claramente marcada; em todos os eventos livre do perigo de misturar
motivo e desconsiderar princípio que pertence à condição de morno; à medida que
um homem ardoroso, quer esteja certo quer esteja errado, é sempre melhor que um
homem que confessa o que não sente.
17. Como d izes. Ligado, como na e nvi, com o que vem a seguir, não com
arc
o que precede. Alguns interpretam como: vomitar-te-ei da minha boca porque
dizes.
390
A pocalipse —C ap. 3
18. Aconselho-te (συμβουλεύω). Com certa ironia. Embora possa ordenar, Ele,
todavia, aconselha aqueles que, na avaliação deles mesmos, são supridos com
tudo.
Te vistas (περιβόλη). Esse é o sentido mais literal. Vide nota sobre o versículo 5.
nar pública a vergonha. Vide 2Sm 10.4; Is 20.4; 47.23; Ez 16.37. Compare com
Mt 22.11-13; Cl 3.10-14.
Minha presunção separava-me de ti. Meu rosto, de tão inchado, me fechava os olhos.
£../] Tu te compadeceste da terra e do pó, e quiseste reformar minhas deformidades.
Com um aguilhão secreto provocavas em mim a inquietude, para que eu me manti
vesse insatisfeito, até que te tornasses uma certeza ao meu olhar interior. Meu tumor
diminuía ao contato misterioso de tua mão benfazeja. A vista perturbada e obscure-
cida de minha inteligência melhorava dia a dia, graças ao colírio de dores curativas49.
19. Repreendo (έλέγχω). Vide nota sobre Jo 3.20. Na rv, censuro-, a ntlh traz:
corrijo.
392
A pocalipse - Cap. 4
20. Eis que estou à p o rta e bato. Compare com Ct 5.2. Κρούω, bato, era
considerada uma palavra menos clássica que κόπτω. Κρούω significa bater
com α articulação dos dedos, dar pancadinhas; κόπτω, bater com golpe pesado;
ψοφεΐν refere-se à batida de alguém na porta, avisando a pessoa que está
fora para recuar quando a porta for aberta. Compare com T g 5.9. Segundo
Thench:
Ele, à cuja porta devemos permanecer (pois Ele é a Porta que, como tal, convida-mw a
bater), está contente que toda a relação entre Ele e nós possa ser revertida e, em vez
de permanecermos a sua porta, condescende a Ele mesmo estar à nossa porta.
O grego tem uma palavra para um amante à espera na porta de sua amada.
Trench cita uma passagem de Nicolau Cabasilas, teólogo grego do século 14:
O amor pelos homens “aniquilou” a Deus (Fp 2.7). Pois Ele não permanece em seu
lugar e convoca a Ele mesmo o servo a quem amava; mas vai Ele mesmo e busca-o;
e Ele que é rico vem à moradia do pobre, e revela seu amor, e busca igual retorno;
tampouco, Ele se afasta de quem o repele, nem fica desgostoso com sua insolência;
mas, buscando-o, permanece assentado à sua porta, e para que Ele possa mostrar a ele
quem realmente o ama, Ele faz todas as coisas e sofre, suporta e morre.
Minha voz. Cristo não só bate, mas também fala. Trench afirma: A voz, com
muita frequência, interpreta e torna inteligível o propósito da batida.
Cearei (δειπνήσω). Vide nota sobre Lc 14.12. Para a imagem, compare com
Ct 5.2-6; 4.16; 2.3. Cristo é o Pão da vida e convida para a grande festa. Vide
Mt 8.11; 25-lss. A consumação será no banquete de casamento do Cordeiro (Mc
14.25; Ap 19.7-9).
C a pítulo 4
1. Depois destas coisas (μετά ταϋτα). Literalmente. Não uma indicação de inter
rupção no estado extático do profeta, mas só uma sucessão de visões separadas.
Estava uma porta aberta (θύρα άνεφγμενη). A tb, corretamente, omite esta
va: uma porta aberta no céu. Um porta colocada aberta. A a r c sugere que o profeta
testemunhou a abertura da porta.
No céu. Compare com Ez 1.1; Mt 3.16; At 7.56; 10.11. Em todas essas passa
gens o próprio céu é aberto.
Depois destas (μετά ταΰτα). Alguns editores ligam essas palavras com o ver
sículo seguinte, substituindo-as por και, e, no início desse versículo, e traduzin
do: “Mostrar-te-ei as coisas que devem acontecer. Depois dessas coisas, imediata
mente fui”.
Estava posto (exerço). Denotando apenas posição, não que o profeta viu a co
locação do trono. Compare com Jo 2.6.
Arco celeste (ίρις). Somente aqui e em 10.1. A palavra é idêntica e parece ter
a mesma ligação original com íris, a deidade conhecida como a deusa mensageira
do Olimpo. Em Homero, a palavra é usada em dois sentidos.
395
A pocalipse - C ap. 4
Observa-se, não sem satisfação, que Dante evita o antropomorfismo da arte bizan
tina e ocidental primitiva em que o ancião de dias era representado na forma de um
396
A pocalipse - Cap. 4
venerável idoso. Para ele, como para os artistas mais primitivos, o arco-íris refletindo
arco-íris é o único símbolo adequado do “Deus de Deus, Luz da Luz” do Credo Niceno,
enquanto o amor ardente que sopra dos dois é o do Espírito Santo, procedendo do Pai
e do Filho.
Vi. Omita.
397
A pocalipse —Cap. 4
[■ ··]
Por baixo de tão belo céu seguiam
Vinte e quatro anciões emparelhados:
Brancos lírios as frontes lhes cingiam60.
Tinham. Omita.
Coroas (στεφάνους). Vide nota sobre lPe 5.4; T g 1.12. Στέφανος com o epíteto
de ouro só é encontrado em Apocalipse. Compare com 9.7; 14.14. A conclusão
natural desse epíteto e do fato de que o simbolismo de Apocalipse é hebraico,
além de que os judeus detestavam muito os jogos gregos, seria que στέφανος é
usado aqui para a coroa real, em especial, uma vez que, neste texto, a igreja é
representada como triunfante —reis e sacerdotes. Por sua vez, nas três passagens
de Apocalipse em que João se refere, evidentemente, à cora real, ele usa διάδημα
(12.3; 13.1; cp. 17.9-10; 19.12). Trench afirma que, nessa passagem, a coroa não
é de realeza, mas de glória e imortalidade. A coroa de ouro (στέφανος) do Filho
do Homem (14.14) é a coroa do conquistador61.
Deve-se admitir francamente, entretanto, que o sentido aqui é um tanto duvi
doso e que tais passagens da l x x , como 2Sm 12.30; lCr 20.2; SI 20.3; Ez 21.26;
Zc 6.11,14, fornecem uma certa justificativa para o comentário do Professor
Thayer de que é duvidoso se, de fato, a distinção entre στέφανος e διάδημα (a coroa
deflores do vencedor e a coroa real) era estritamente observada no grego helênico.
A coroa de espinhos (στέφανος) posta na cabeça de nosso Senhor, na verdade, foi
tecida, mas era a caricatura de uma coroa real62.
398
A pocalipse - C ap. 4
em uma coluna de cristal que era escavada para os receber, e descobriu-se cristal em
grande abundância em seu país e de um tipo muito fácil de trabalhar. Você pode ver o
corpo através da coluna no interior da qual ele repousa; e ela não deixa sair nenhum
odor desagradável nem, sob nenhum aspecto, é inadequada; contudo, não há nenhuma
parte que não seja plenamente visível como se o corpo estivesse desnudo63.
Sabe-se que o vidro foi feito no Egito, pelo menos, 3.800 anos atrás. Os mo
numentos mostram que as mesmas garrafas de vidro eram usadas naquela época
como também em tempos posteriores; e o assopramento de vidro está repre
sentado nas pinturas dos túmulos. Os egípcios possuíam a arte de colori-lo e de
introduzir ouro entre duas camadas de vidro. As ruínas de fornos de vidro ainda
são vistas nos lagos de Natron. O vidro do Egito era muitíssimo famoso. Ele foi
usado em larga escala em Roma com propósitos ornamentais, e a janela de vidro
foi descoberta em Pompeia. Plínio fala do vidro como objeto maleável.
399
A pocalipse - C ap. 4
lata a escalada do muro e a travessia do canal, mas só depois de muita luta, “pois
o gelo (κρύσταλλος) neles não estava bastante congelado para aguentar”64. Ori
ginalmente, sustentava-se que o cristal, considerado mineral, era apenas água
congelada por um longo período de tempo, sendo transformada em gelo mais
resistente que o comum. Por isso, acreditava-se que ele só podia ser produzido
em regiões de gelo perpétuo.
Animais (ζώα). Na n v i , seres viventes. Alford comenta com sagacidade que ani
mais é a palavra mais infeliz que podia ser imaginada. Animal é θηρίον. Ζώον
enfatiza o elemento vital, θηρίον, o bestial.
Cheios de olhos por diante e por detrás. Os quatro seres viventes são prin
cipalmente parecidos com os querubins de Ez 1.5-10; 10.5-20; Is 6.2,3; embo
ra com algumas diferenças de detalhes. Por exemplo, os querubins de Ezequiel
têm quatro asas, enquanto as seis descritas aqui pertencem ao serafim de Isaías.
Como também o Trisagion (três vezes santo, triságio) é de Isaías. Na visão de Eze
quiel, cada ser vivente tem quatro rostos, ao passo que aqui, cada um dos quatro
tem um rosto.
400
A pocalipse —Cap. 4
Cada um, respectivamente (èv καθ’ ερ). Ou um a um. Conforme a leitura dos
melhores textos; contra a leitura εν καθ’ «αυτό, literalmente, um por si mesmo.
Compare com Mc 14.19.
Seis asas. Compare com Is 6.2. Dante retrata seu Lúcifer, a encarnação de
animalismo demoníaco, com três cabeças e seis asas.
402
A pocalipse - Cap. 4
De acordo com uma tradição não confiável, essa fórmula foi recebida durante
um terremoto em Constantinopla, no reinado de Teodósio II, por intermédio de
um menino que foi levantado ao céu e ouviu-a dos anjos. Os primeiros testemu
nhos da existência do Trisagion (três vezes santo, triságio) datam do século V ou
da última parte do século IV Depois, as palavras “Que foi crucificado por nós”
foram acrescentadas a fim de se opor à heresia teopasquita (Θεός, Deus; πάσχω,
sofrer), que sustentava que Deus tinha sofrido e sido crucificado. A essas se acres
centaram, depois, as palavras “Cristo, nosso rei”. A fórmula completa ficou as
sim: “Deus santo, santo Todo-poderoso, santo Imortal, Cristo nosso Rei que foi
crucificado por nós, tende misericórdia por nós”. Por isso, a fórmula entrou na
controvérsia com os monofisitas, que declaravam que Cristo tinha apenas uma
natureza composta. Dante introduz isso em seu “Paraíso”.
As interpretações dos símbolos dos quatros seres viventes, claro, são inúme
ras e variadas. Algumas delas são: os quatro evangelistas ou Evangelhos; os
quatro elementos; as quatro virtudes cardeais; as quatro faculdades ou poderes
da alma humana; o Senhor nos quatro grandes eventos da redenção; as quatro
igrejas patriarcais; os quatro grandes apóstolos; os doutores da igreja; os quatro
anjos principais etc. Os melhores intérpretes modernos explicam as quatro for
mas como representantes da natureza animada. Milligan afirma:
67. João Crisóstomo. A Divina Liturgia de São João Crisóstomo. Disponível em: < http://www.ec-
clesia.com.br/biblioteca/liturgia/a_divina_liturgia_de_sao_joao_crisostomo_segunda_parte.
html#I>. Acesso em: 28 jun. 2013.
68. Dante, A Divina Comédia, Paraíso, xiv, 28-33, p. 81.
69. Ibid., Paraíso, xxvi, 67-69, p. 156.
403
A pocalipse - Cap. 4
o homem com seu trem cheio de seres dependentes aproximou-se de Deus e se tornou
participante da redenção, cumprindo, assim, a linguagem de Paulo de que “a mesma
criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos
de Deus” (Rm 8.2 1 ).
9. Quando (όταν). Em qualquer tempo, sempre que, indicando, com o tempo futuro,
a eterna repetição do ato de louvar.
Uma tribuna posta no centro sustentava uma cadeira de autoridade sobre a qual Nero
repousava. Tiridates aproximou-se e, tendo imolado as vítimas da forma apropriada,
levantou a diadema de sua cabeça e colocou-a aos pés da estátua, enquanto todo cora
ção batia com intensa emoção71.
11. Senhor (κύριε). Leia ò κύριος καί ò Θεός ήμών, nosso Senhor e nosso Deus.
Como na n v i . Vide nota sobre Mt 21.3.
De receber (λαβείν). Ou talvez seja melhor pegar, uma vez que a glória, a
honra e o poder são de posse absoluta do Todo-poderoso. Vide nota sobre Jo 3.32.
404
A pocalipse - Cap. 4
Por tua vontade (διά τό θέλημα σου). Literal mente, por causa da tua vontade.
Como na a r a . Alford comenta com acerto:
São (elo lv ). Leia ήσαν, eram, existiram. Um dos grandes manuscritos, b, traz
ούκ ήσαν, não eram-, ou seja, elas foram criadas do nada. Eram não significa vie
ram a ser, mas simplesmente existiram. Vide nota sobre Jo 1.3; 7.34; 8.58. Alguns
explicam que elas existem em contraposição com sua não existência anterior;
caso em que poderia parecer que a ordem das duas orações devia ser invertida;
além do que não é hábito de João aplicar esse verbo para objetos temporários e
passageiros. O Professor Milligan acha que esse termo faz referência ao tipo de
existência eterna na mente divina antes de alguma coisa ser criada e em confor
midade com o que foi feito quando chegou o momento da criação. Compare com
Hb 8.5. Platão registra:
Seja então todo o Céu ou o Mundo, ou se esse ser pode receber algum outro nome
apropriado, demos-lhe esse nome. Estabelecemos desde já, no que lhe diz respeito,
a questão que dizíamos, deve-se estabelecer ao início de qualquer cousa. Existiu
sempre, não teve começo, ou então nasceu, começou a partir de um certo termo
inicial? Nasceu, porque é visível e tangível e tem um corpo. D e fato, tudo que assim
é, é sensível, e tudo o que é sensível e apreendido pela opinião e a sensação, é eviden
temente submetido ao devir e ao nascimento. M as tudo o que nasceu, é necessário,
como dissemos, que tenha nascido pela ação de uma causa determinada. Todavia,
descobrir o autor e o pai deste universo é um grande feito, e quando se o descobriu,
é impossível divulgá-lo a todos. Mas ainda devemos interrogar-nos, a respeito do
Mundo, segundo como aquele que o conforma o realizou. Ora, se o Cosmos é belo
e se o demiurgo é bom, é claro que ele mira o modelo eterno. N o caso contrário, o
que nem é mesmo permitido supor, teria considerado o modelo que nasceu. Ora, é
absolutamente evidente para todos que o demiurgo contemplou o modelo eterno.
405
A pocalipse - Cap. 5
Pois este Cosmos é o mais belo do que já nasceu, e o demiurgo, a mais perfeita das
causas72.
C apítulo 5
Um livro (βιβλίον). Vide nota sobre Mt 19.7; Mc 10.4; Lc 4.17. Compare com
Ez 2.9; Jr 36.2; Zc 5.1-2.
Por dentro e por fora (εσωθ€Ρ καί οπισθίν). Compare com Ez 2.10. Indi
cando a completude dos conselhos divinos contidos no livro. Os rolos escritos
dos dois lados eram chamados de opistográficos. Plínio, o jovem, diz que seu tio,
Plínio, o velho, deixou-lhe 160 comentários, a maioria escrito detalhadamente,
e também no verso, pelo qual o número de comentários deve ser multiplicado.
Juvenal, protestando contra os poetastros que recitavam seu lixo dos dois lados
do rolo, disse:
Então, aquele recitou para mim suas comédias e esse, suas elegias impunemente?
Imenso “Télefo” consumirá impunemente todo um dia; ou —com a margem do fim do
livro já cheia - “Orestes” escreveu atrás mesmo e ainda não concluiu?73
406
A pocalipse - Cap. 5
Olhar (βλέπ€ΐιι). Vide nota sobre Jo 1.29. Dar uma simples olhada no conteúdo.
Desatar. Omita.
6. E olhei. Omita.
Estava (έστηκός). Na tb , com mais acerto, d e pé. Embora m orto, o Cordeiro está
de pé. Cristo, embora morto, é ressuscitado e vive.
No meio do. Não sobre o trono, mas talvez no espaço no centro de que fica o
trono, e que está rodeado por 24 anciãos.
Todos eles harpas (έκαστος κιθάρας). A nvi traz, de forma menos desajeitada:
cada um deles tinha uma harpa. Cada um, isto é, dos anciãos. Κιθάρα, harpa, signi
fica um instrumento distinto da nossa harpa como é comumente construída. E,
antes, um alaúde ou violão, com o qual, mais tarde, a palavra citara se relaciona
etimologicamente. Na Antiguidade, o instrumento tinha uma forma triangular
e sete cordas; depois, as cordas foram aumentadas para onze. Josefo diz que ele
tinha dez cordas e era tocada com um plectro ou uma pequena peça de marfim.
408
A p o c a l ip s e - C ap . 5
Quando o presidente dava a palavra de comando que marcava que “chegara o mo
mento do incenso”, toda a multidão, sem sair da corte interior, prostrava-se diante do
Senhor, espalmando a mão em oração silenciosa. Esse é o período mais solene, quando,
em todo o vasto prédio do templo, o silêncio profundo cai sobre a multidão que está
adorando, enquanto, no próprio santuário, o sacerdote estende o incenso sobre o altar
de ouro, e a nuvem de odores sobe diante do Senhor, o que serve como a imagem das
coisas celestiais no Apocalipse (8.1,3-4). As orações oferecidas pelos sacerdotes e pelo
povo nessa parte do culto estão registradas pela tradição como segue: “É verdade que
és Jeová, nosso Deus, e o Deus de nossos pais; nosso Rei e o Rei de nossos pais; nosso
Salvador e a Rocha da nossa salvação; nossa Ajuda e nosso Libertador. Teu nome é
para sempre e não há outro Deus além de Ti. Eles fizeram um novo cântico que foi
entoado por teu nome na praia. Todos juntos louvam a ti e te reconhecem como Rei e
dizem: Jeová que salvou Israel reinará”.
Compare com o “cântico de Moisés”, 15.3, e com “um novo cântico”, versículo 9.
Com o teu sangue (4v τω αϊματί σου). Literalmente, “em teu sangue”. A
preposição em é usada de forma hebraica para o preço; o valor da coisa comprada
contida no preço.
10. Os (αυτούς). Conforme a melhor leitura; contra a leitura ημάς, nos (cp.
kjv).
Reis (βασιλείς). Leia βασιλείαν, um reino. Como na t e b . Vide nota sobre 1.6.
11. Milhões de milhões (μυριάδες μυριάδων»). Literalmente dez mil de dez mil.
Compare com SI 68.17; Dn 8.10. Μυριάς, daí o nosso termo miríade, que quer
dizer o número dez mil. Portanto, At 19.19, άργυρίου μυριάδας πέντε, cinquenta
mil peças de prata, literalmente cinco dez mil. No plural, usado para se referir a um
número ilimitado. Vide Lc 12.1; At 21.20; Hb 22.22; Jd 14.
Milhões de milhões
Em roupas resplandecentes,
Os exércitos dos santos resgatados
Multidões banhadas de luz;
Está acabado, tudo está acabado,
Sua luta com a morte e o pecado;
Escancarem as portas de ouro
E deixem os vitoriosos entrar.
12. O poder. Compare com a atribuição em 4.11, a respeito do qual vide a nota,
e observe que lá, na n v i , cada aspecto citado tem o artigo, ao passo que aqui ele
aparece apenas no primeiro, o poder, um artigo que abrange todos os particu
lares, como se eles formassem apenas uma palavra. Acerca das doxologias, vide
nota sobre 1.6.
13. Criatura (κτίσμα). Vide lTm 4.4; Tg 1.18. De κτίζω, fundar. Uma coisa fu n
dada ou criada. Na r v , coisa criada. Vide nota sobre Jo 1.3.
No mar (έπ'ι τής θαλάσσης). A tradução mais acurada é “sobre o mar”, como a a r a .
Não barcos, mas criaturas do mar que subiram das profundezas para a superfície.
Honra (τιμή). Originalmente, wafer pelo qual o preço é fixado, daí opreço mes
mo, a coisa valorizada, e assim, em geral, honra. Vide nota sobre At 28.10.
C a pítu lo 6
Olhei. Omita.
2. Cavalo branco. Para branco, vide nota sobre Lc 9.29. Cavalo, vide Zc 1.7-11;
6.1-8. Todas as imagens desse versículo são de vitória. No Antigo Testamento,
o cavalo é emblema de guerra. Vide Jó 39.25; SI 76.6; Pv 21.31; Ez 26.10. Como
em Virgílio:
75. Virgílio, Eneida, iii, 557-561. Disponível em: < http://ww w.unicam p.br/iel/projetos/O dorico-
M en d es/>. Acesso em: 28 jun. 2018.
76. Ibid., xii, 78-81.
411
A pocalipse - C ap . 6
Homero retrata os cavalos de Reso Eiônides como mais alvos que a neve e
rápidos como o vento77; e Heródoto, ao descrever a batalha de Platéias, diz: “A
luta ia mais contra os gregos, onde Mardónio, montado em um cavalo branco e
cercado por todos os mais bravos persas, os mil homens selecionados, lutou em
pessoa"78. Os cavalos dos generais romanos em seus triunfos eram brancos.
3. E vê. Omita.
4. Vermelho (πυρρός). De πυρ,fogo. Cor de chama. Compare com 2Rs 3.22; Zc 1.8.
Somente aqui e em 12.3.
Preto. A cor do luto e da fome. Vide ir 4.28; 8.21; Ml 3.14, passagem em que
pesaroso é, ao pé da letra, de luto.
413
A pocalipse - C ap . 6
diz que o cótilo era cerca de duas polegadas cúbicas de medida de sólidos86.
Também Arnold, que acrescenta que a ração diária de dois cótilos de farinha de
cevada por homem era a ração comum de um espartano na mesa pública87. Vide
Heródoto88.
Poder (έξουσία). Vide nota sobre Mc 2.10; 2Pe 2.11. Na a b a , melhor, autoridade.
Com espada (èv ρομφαία). Outra palavra para espada. Compare com versícu
lo 4, e v id e nota sobre Lc 2.35.
414
A pocalipse - C ap . 6
o elem ento por meio do qual a destruição acontece e dá uma indicação geral
da maneira em que ela era escrita. Compare esses quatro julgamentos com
Ez 14.21.
Almas (ψυχάς). Ou vidas. Vide nota sobre 3Jo 2. Ele só viu sangue, mas sangue
e vida eram termos equivalentes para o hebraico.
Mortos (έσφαγμενων). Vide nota sobre 5.6. A lei ordenava que o sangue dos
animais sacrificados fosse derramado na base do altar de oferta queimada (Lv 4.7).
Deram (είχον). Não g u ardar, mas dar testemunho do que aconteceu com eles.
Ó - Dominador (ò δεσπότης). Vide nota sobre 2Pe 2.1. Somente aqui em Apo
calipse. Dirigido a Deus, e não a Cristo, e soprando, como comenta o Professor
Milligan, “o sentimento do Antigo Testamento, mais do que a relação com o
Novo Testamento”. Compare com At 4.24; Jd 4.
Sobre a terra (έπ'ι τής γης). Terra, em Apocalipse, em geral, é entendida como
a terra ím pia.
11. A cada um foi dada uma comprida veste branca (έδόθη αύτοις έκάστφ
στολή λευκή). Conforme a leitura dos melhores textos; contra a leitura εδόθησαν
έκαστο ις στολαι λευκαι, m an tos brancosfo r a m dados a cada um deles (cp. kjv ). Στολή
significa propriamente um m anto longo, esvoaçante; uma veste fe stiv a . Compare
com Mc 16.5; Lc 15.22; 20.46.
415
A pocalipse - C ap . 6
O Apocalipse é moldado pelo grande discurso de nosso Senhor sobre “as últimas coisas”
que foram preservadas para nós nos três primeiros Evangelhos (Mt 24.4--25; Mc 13.5-37;
Lc 21.8-36; cp. 17.20-37). O paralelismo entre os dois, em determinada extensão, é reco
nhecido pelos inquiridores e, na verdade, em muitos aspectos, é tão óbvio que dificilmente
pode deixar de ser notado até mesmo pelo leitor comum. Se alguém comparar, por exem
plo, o relato da abertura do sexto selo com a descrição do fim (Mt 24.29-30), perceberá que
um é quase uma transcrição do outro. É notável que não encontremos nenhum relato des
se discurso no Evangelho de João; nem parece explicação suficiente para a omissão dizer
que esse evangelista estava satisfeito com os registros já apresentados por predecessores.
do Novo Testamento.
416
A pocalipse - C ap . 7
Todo livre. Omita todo, e leia, como na r v : todo servo e hom em livre. No n t ia ,
todos eles, escravos e livres.
Ira (οργής). Denotando a ira de ra ízes profundas. V ide nota sobre Jo 3.36.
C apítulo 7
417
A pocalipse - C ap. 7
2. Banda do sol nascente (ανατολής ήλιου). Sentido mais literal. Vide nota sobre
Mt 2.2; Lc 1.7. Compare com Ez 43.2.
418
A pocalipse —C ap. 7
Estes que estão. A arc, apropriadamente, segue a ordem grega que põe pri
meiro: “Estes que estão de vestes brancas quem são?”, enfático e indica a ordem
natural do pensamento como se apresenta para o inquiridor. Pará o que, traduzir
por quem, como na nvi.
Senhor (κύρΐ€). Acrescente μου, meu, e traduza, como a ara: meu Senhor. Tra
tamento de respeito para um ser celestial. V ide nota sobre Mt 21.3.
92. Dante, A Divina Comédia, Paraíso, xxv, 88-96, p. ISO. A referência de Dante é a Is 61.7, onde,
contudo, não existe menção a veste, mas unicamente a uma dupla retribuição. O termo “irmão”
refere-se a João.
419
A pocalipse —C ap. 7
420
A pocalipse - C ap . 8
Fontes das águas da vida (ζωής πηγάς ύδάτων). Conforme a leitura dos me
lhores textos, que substituem o particípio ζώσας, vivas, por ζωής, d a vida. Com
pare com SI 23.2. Na ordem grega, d a v id a vem em primeiro lugar como enfático.
C apítulo 8
Quase (ώς). Forma usual de expressão de João. Vide Jo 1.39; 6.19; 11.18.
421
A pocalipse - C ap . 8
Saraiva e fogo misturado com sangue (χάλαζα καί πυρ μεμιγμένα α'ίματι).
Insira έν, e m , antes de α'ίματι, s a n g u e . Em vez de “c o m sangue”, como na arc, nvi,
bj , entre outras, deveriamos traduzir: “e m sangue”. As pedras de saraiva e as bo
las de fogo caíram em uma chuva de sangue. Compare com o relato da praga de
fogo e saraiva no Egito (Êx 9.24), ao qual essa passagem se refere, e que a l x x
traduz como: e h a v ia s a r a iv a e f o g o m is tu r a d o e n tr e a s a r a iv a . Compare com J12.30.
Terra, que foi queimada na sua terça parte. Isso é acrescentado pelos me
lhores textos.
8. E foi (ώς). Não um monte, mas uma massa de fogo tão grande que parecia um
monte.
422
A pocalipse - Cap. 9
13. Um anjo (4νός αγγέλου). Em lugar de anjo, leia aetoC, águia. Literalmente,
um a águia. A águia é um símbolo de vingança em Dt 28.49; Os 8.1; Hc 1.8.
C apítulo 9
especialmente habitado por escorpiões na época do êxodo (Dt 8.15), e até hoje eles
são comuns no mesmo distrito. Uma parte das montanhas limitando a Palestina
ao sul recebeu, por causa deles, o nome Akrabbim , sendo ‘aqrãbh (nnj?») a palavra
hebraica para escorpião.
Fere (παίση). Dr. Thomson diz que o escorpião não pode ferir usando as late
rais. Todos os relatos concordam quanto à terrível dor da ferroada.
Fugirá (φεύξίται). Leia φεύγει, fo g e . Esquilo diz: “Os mortais não odeiam com
justiça a morte, uma vez que ela é a maior libertação de suas muitas desgraças”93.
Heródoto relata o tratamento de Xerxes por Artabano, quando aquele chorou ao
ver seu vasto armamento.
Não há nenhumhomem, quer esteja aqui entre essamultidão quer esteja emoutro
lugar, quer esteja tão feliz a ponto de não ter desejado —não direi uma vez, mas
muitas vezes - estar morto, emvez de vivo. As calamidades caem sobre nós, as
doenças nos atormentamemolestam, efazemavida, curta como é, parecer longa.
Assim, a morte, através da desventura de nossa vida, é o refúgio mais doce de
nossa raça94.
424
A pocalipse - Cap. 9
Coroas. Não coroas de verdade, mas como coroas. Milligan comenta que ne
nhum brilho amarelo perto da cabeça do inseto é fundamento suficiente para essa
imagem.
10. Cauda semelhante à dos escorpiões. A comparação com o inseto como ele
existe na natureza falha aqui, embora o B ible D iction a ry, de Smith, forneça a ima
gem de uma espécie de gafanhoto, o A c rid iu m L in eo la , uma espécie comumente
vendida para alimentação nos mercados de Bagdá, e essa espécie tem um ferrão
na cauda.
Abadom. Quer dizer destruição. Compare com Jó 26.6; 28.22; Pv 15.11. Aqui o
como fica evidente a partir do equivalente grego Άπολλύων, A poliom ,
D estru id o r,
D estru idor. A perdição é personificada. Está de acordo com o estilo de João de
apresentar a palavra hebraica com a grega equivalente. Compare com Jo 1.38,42;
4.25; 9.7; 11.16 etc.
14. Junto ao grande rio (étrt). Tradução mais correta que a da kjv, no. Na bj e
na ecp, à beira do.
teb , sobre-,
426
A pocalipse - Cap. 9
compare com 2Sm 8.3-8; lRs 4.21). Assim, formava a defesa natural do povo es
colhido contra os exércitos assírios. O derretimento da neve da montanha provo
cava uma inundação anual, começando em março e aumentando até maio. Essas
inundações tornaram-se um emblema do julgamento infligido por Deus a Israel
por meio da Babilônia e da Assíria. O ribeiro de Siloé, que cortava Sião e Moriá,
era um tipo do templo e de seu poderoso e gracioso Senhor; e a recusa de obe
diência a Deus pelo povo escolhido é representada como sua rejeição das águas
do Siloé, que flui suavemente, e daí sua punição por meio da vinda das águas do
poderoso e grande rio (Is 8.5-8; cp. Jr 17.13). Para os profetas, o Eufrates era
símbolo de tudo que era desastroso nos julgamentos divinos.
15. Para a hora, e dia, e mês, e ano. Essa tradução está incorreta, uma vez que
ela transmite a ideia de que os quatro períodos mencionados têm de ser com
binados como representando a extensão da preparação ou da continuidade da
praga. Mas deve-se observar que nem o artigo nem a preposição são repetidos
antes de d ia e mês e ano. O sentido é de que os anjos estão preparados para a hora
determinada por Deus, e que essa hora cairá em seu apontado dia, e mês, e ano.
Nesta visão (èv τή òpáoei). Ou “em m inha visão”. Vide nota sobre At 2.17. A
referência à visão pode ser inserida por causa do o u v i do versículo 16.
Quanto à pedra, ela é identifica por alguns com a safira. Quanto à cor, o jacinto
dos gregos parece compreender a íris, o gladíolo e a espora. Daí os diferentes
relatos de sua cor nos escritos clássicos, variando do vermelho ao negro. Aqui
parece tratar-se de um sombrio azul escuro.
De enxofre (θειώδεις). Talvez lu z am arela, como a cor que podería ser produ
zida pela fumaça do enxofre.
19. O poder dos cavalos (εξουσία των ίππων). Conforme melhores textos; con
tra a leitura έξουσίαι αυτών, o poder deles.
20. Não se arrependeram das obras (ούτε μετενόησαν εκ τών έργων). Lite
ralmente, "de dentro das obras”. A preposição έκ, de dentro de, com arrepender-se
denota mudança moral envolvendo abandono de obras malignas. Vide nota sobre
Mt 3.2; 21.29.
Obras de suas mãos. Não o curso de vida deles, mas os ídolos que suas mãos
fizeram. Compare com Dt 4.28; SI 134.15; At 7.4.
Demônios (δαιμόνια). Vide nota sobre Mc 1.34. Compare com lCo 10.2;
lTm4.1.
Há dois tipos de venenos usados entre os homens que não podem ser claramente
distinguidos. Há umtipo de veneno que machuca o corpo pelo uso deoutros corpos
de acordo comalei natural [../] mas há outro tipo que machucapor meio de feitiça
rias e encantamentos e laços mágicos, como eles são chamados, e induz uma classe
de homens a machucar outra o mais que puderem, e persuade outros para que eles,
acima de todas as pessoas, sejampropensos aser machucados pelos poderes dos má
gicos. Bem, não é fácil conhecer a natureza de todas essas coisas; tampouco, se um
homemque conhece pode rapidamente persuadir outros de sua crença. E quando os
homens se perturbamquando veemimagens feitas de cera fixadas emportas ou em
4 29
A pocalipse - C ap . 10
uma encruzilhada de três caminhos, ou no sepulcro dos pais, não adianta tentar os
persuadir adesprezar todas essas coisas, porque não têmdeterminado conhecimen
to delas. Mas devemos ter uma lei emduas partes concernente ao envenenamento
para quaisquer dos dois modos que sefaça atentativa. Devemos tambémimplorar, e
exortar, e aconselhar os homens anão recorrer aessas práticas, por meio das quais
eles amedrontam as multidões tirando-lhes a sanidade, como se fossem crianças,
forçando o legislador eojuiz acurar seus medos despertados pelos feiticeiros elhes
dizer, primeiro, que quemtenta envenenar ou enfeitiçar outros não sabe o que está
fazendo, quer emrelação ao corpo (a menos que tenha conhecimento de medicina)
quer emrelação a seus encantamentos, amenos que aconteça de ser umprofeta ou
vaticinador101.
C apítulo 10
2. Na mão (èv). O liv ro do capítulo 5 estava sobre a destra (èní, vid e 5.l), sendo
também grande demais para caber dentro dela. O livro estava sobre a destra, o
livrinho está na esquerda. V ide nota sobre o versículo 5.
430
A pocalipse - C ap. 11
das; Daubuz, os sete reinos que receberam a Reforma; Elliott, o boi fulminado
contra Lutero da cidade das sete colinas.
6. Jurou por (ώμοσερ év). Literalmente, “jurou em", uma expressão idiomática
hebraica. Na n tlh ,fez umjuramento em nome de Deus.
9. Fui (άπήλθον). A preposição άττό tem a força de parafora, longe. Fui para longe
do lugar onde estava. Na te b , adiantei-me.
C apítulo 11
2. O átrio que está fora do templo. Não só o pátio exterior, ou corte dos gen
tios, mas incluindo tudo que não está no interior do ναός, o Lugar Santo e Santo
dos Santos.
Quarenta e dois meses. Período de tempo que aparece de três formas em Apo
calipse: quarenta e dois meses { 13.5); mil duzentos e sessenta dias (v. 3; 12.6); um tempo, e
tempos, e metade de um tempo ou três anos e meio (12.14; cp. Dn 7.25; 12.7).
3. Poder. Omita.
Que não chova (ΐνα μή βρέχη ύετός). Literalmente, p a ra que a chuva não possa
molhar.
Para ferir (πατάξαι). Usado por João só em Apocalipse, aqui e em 19.15. Com
pare com Mt 26.31; Mc 14.27; Lc 22.49-50; At 12.7,23.
Com toda sorte de pragas (πάση πληγή). Número singular. Na rv, correta
mente, com toda pra g a . Vide nota sobre Mt 3.10. Não apenas com as pragas que
Moisés feriu o Egito.
7. A besta (θηρίον). Besta selvagem. Vide nota sobre 4.6. Uma palavra diferente
daquela incorretamente traduzida por anim al, 4.6,7; 5.6 etc. Compare com 13.1;
17.8 e vid e Dn 7.
Na praça (επ'ι τής πλατείας). Literalmente, “sobre a rua”. V ide nota sobre
Lc 14.21.
Seja posto em sepulcros (τεθηναν ενς μνήματα). Leia μνήμα, sepultura , como
na TB. Compare com Gn 23.4; Is 14.19-20.
Atormentado (βασάνισαν). Vide nota sobre afligia, 2Pe 2.8, e sobre Mt 4.23-24.
11. Espírito de vida (πνεύμα ζώης). Na n v i , sopro. V ide nota sobre Jo 3.8.
Homens (ονόματα ανθρώπων). Literalmente, nomes de homens. Vide nota sobre 3.4.
1 8 . Iraram -se (όργίσθησαν). V ide nota sobre ira , Jo 3.36. Compare com
SI 2.1.
19. No céu. Junte co m tem plo de D eus, c o m o na n v i : f o i aberto o san tu ário d e D eus
lugar de co m abriu-se, co m o na arc.
nos céus-, e m
Relâmpagos, e vozes. “As solenes salvas, por assim dizer, da artilharia do céu
com que cada série de visões é concluída”.
C a pítu lo 12
1. Sinal (σημίΐον). Tradução melhor que a da kjv , m aravilha. V ide nota sobre
Mt 24.24.
A lua debaixo dos pés. Vide Cânticos 6.10. O símbolo, em geral, é entendido
como representando a Igreja.
2. Com dores de parto (ώδίνουσα). Vide nota sobre dores, Mc 13.8, e ânsias, At 2.24.
Com ânsias (βασανιζόμενη). Literalmente, sendo atorm entada. Vide nota sobre
11.10 e referências. Para a imagem, compare com Is 6 6 . 7 , 8 ; Jo 16.21.
Diademas (διαδήματα). A coroa real, não a guirlanda (στέφανος). Vide nota so
bre 2.10.
4. Das estrelas do céu. Alguns expositores encontram aqui uma alusão aos
anjos caídos (Jd 6).
Para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho (ίνα όταν τέκη τό τέκνον
αυτής καταφάγη). Na rv, mais literalmente, para que, quando ela desse à luz, ele
pudesse devorar seufilho. O Professor Milligan comenta:
Temos, nessas palavras, o dragão fazendo o que o faraó fez a Israel (Ex 1 .1 5 -2 2 ) e, vez
ap ó s vez, nos salmos e nos profetas, o faraó é mencionado como dra g ã o (SI 7 4 .1 3 , n v i ;
Is 27.1; 51.9; Ez 29.3). Também é interessante lembrar que a coroa do faraó era deco
rada com umdragão (a víbora ou serpente do Egito) e que, da mesma maneira como a
águia era o emblema de Roma, também o dragão era o do Egito. Por isso, a relevância
da vara de Moisés ter se transformado em serpente.
436
A pocalipse - Cap. 12
6. Por Deus (άττδ του Θεοΰ). Literalmente, de Deus, com a preposição marcando
afionte de que veio a preparação. Para um uso similar, vide Tg 1.13: “De Deus sou
tentado”.
Que engana (ò πλανών). Literalmente, aquele que engana. V ide nota sobre
lJo 1.8.
Mundo (οικουμένην). Vide nota sobre Lc 2.1. O mundo com todos seus habitantes.
10. No céu, que dizia (év τφ οΰρανφ λέγουσαν). Conforme a leitura correta, que
junta no céu com gran de voz·, contra a leitura λέγουσαν έν τφ ούρανφ, d ize n d o no
céu (cp. k jv ).
Pelo sangue do Cordeiro (διά το αιμα του άρνίου). A preposição διά com ο
acusativo indicator causa de. Daí a ara traz, corretamente, p o r causa de. em virtude
438
A pocalipse —Cap. 13
Não amaram a sua vida até à morte. Alford, corretamente, comenta que
“eles carregaram seu não a m o r p e lâ sua própria vida até à morte”.
12. Habitais (σκηνοΰντες). V ide nota sobre Jo 1.14. Compare com 7.15; 13.6; 21.3.
14. Duas asas. O artigo definido a s devia ser acrescentado: “as duas asas”, como
na nvi e teb . Compare com Êx 19.4; D t 3 2 .1 1; SI 36.7.
[Da^ grande águia [(του à e io ü του μεγάλουj . A arc não traz o artigo. Ele não
aponta para a águia de 8.13, mas é genérico.
C apítulo 13
439
A pocalipse - C ap . 13
2. Leopardo (παρδαλά). Parece que os antigos não faziam distinção entre o leo
pardo, a pantera e a onça. A palavra é usada para todos esses animais. L eo p a rd o é
leo-pardo, o leão-pardo, supostamente um cruzamento entre pantera e leoa. Com
pare com Dn 7.6.
Após a besta (όπίσω τοΰ θηρίου). Uma construção criativa para: m aravilh ou -
se na e seguiu após a (besta).
4. Que deu (ός ’έ δωκεν). A le itu r a correta é óu, “porqu e deu”. Como n a tb.
Toda tribo (πάσαν φυλήν). Tradução mais literal e correta; ao passo que a k j v
traz: todas as fa m ília s. Vide nota sobre 1.7; 5.9. Depois de tribo, insira καί λαόν, e
povo. Como na teb e n v i . Vide nota sobre lPe 2.9.
IO. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá (eí τις αιχμαλωσίαν συνάγα,
εις αιχμαλωσίαν ύπάγέΐ). Literalmente, se alguém recolhe em cativeiro (ou seja, reúne
cativos), em cativeiro irá. Os melhores textos inserem elç, para dentro, antes da primeira
ocorrência de cativeiro, e omitem recolhe, ficando assim: se algum homem êpara o cativei
ro, para dentro do cativeiro ele vai. Como na tb . Vide nota sobre dispersos, Jo 7.35 . Compa
re com Jr 15.2; 4 3 .1 . Os perseguidores da igreja sofrerão o que infligirem aos santos.
1
441
A pocalipse - C ap . 13
14. Uma imagem à besta (εικόνα τφ θηριω). Είκών significa um a im agem ou se
melhança. Assim, Mt 22.20, a respeito da semelhança de César na moeda. Rm 1.23,
uma im agem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes. Cl 3.10, “a im a
g e m daquele que o criou”; ou seja, a semelhança moral de homens renovados com
Deus. Cristo é chamado de a im agem de D eus (Cl 1.15; 2Co 4.4). Além da ideia de
semelhança, a palavra envolve a ideia de representação, embora não de represen
tação perfeita. Assim, é dito que o homem é a im agem de Deus (lCo 11.7). Nisso,
lembra χαρακτήρ, im agem , em Hb 1.3. A imagem de César na moeda, o reflexo do
sol na água104, e a estátua ou imagem da besta nessa passagem são είκών.
A palavra também envolve a ideia de m anifestação. Assim, Cl 1.15, em que, na
im agem , há um contraste sugerido com o Deus invisível. Por isso, Filo aplicou o
termo para o Logos. Vide nota sobre Jo 1.1.
A palavra desempenha um papel importante na controvérsia ariana na qual se en
fatizou de forma contundente a distinção entre είκών, imagem, como assumindo um
protótipo, e, por conseguinte, como representando de forma apropriada a relação do
Filho com o Pai, e ομοίωμα, semelhança, sugerindo mera parecença, e não incorporando
a veracidade essencial do protótipo. A imagem envolve a semelhança, mas a semelhança
não envolve a imagem. A última pode indicar só uma parecença acidental, enquanto a
primeira é uma representação verdadeira. Por conseguinte, Cristo é ο είκών de Deus.
Há dez ocorrências de im agem da besta no Apocalipse, quatro delas nesse capí
tulo e em 14.9,1; 15.2; 16.2; 19.20; 20.4.
15. Falasse. Alguns supõem que isso se refere aos truques dos sacerdotes pagãos
em fazer retratos e estátuas que parecem falar.
442
A pocalipse - C ap. 13
pelo número 888:1 = 10; η = 8; σ = 200; ο = 70; υ = 400; ο = 200. A maioria dos
comentaristas usa o alfabeto grego no cálculo. Contudo, outros empregam o he
braico. Ao passo que uma terceira categoria usa os algarismos romanos.
As interpretações dessa forma numérica formam uma selva de que é aparente
mente impossível escapar. Reuss comenta:
Alguns dos nomes favoritos são: ΛατΛνος, L atin o s, que descreve o caráter
comum dos governantes do antigo Império Romano pagão; Nero César; Diocle-
ciano; χς', o nome de Cristo abreviado, e ξ, o emblema da serpente, de modo que
o sentido modificado seja o m essias de Satanás.
Capítulo 14
O Cordeiro. Leitura correta, “o Cordeiro”; contra a kjv, “um cordeiro”. Vide 5.6.
O nome dele e o de seu Pai. Acrescente αυτού καί το δνομα, seu e o nome, e
traduza como a t e b : o nome dele e o nome de seu P ai.
A adoração do Cordeiro é o assunto da peça do grande altar na Igreja de São
Bavo, em Ghent, feita por John e Hubert Van Eyck. A cena passa-se em uma
paisagem. O plano de fundo é formado por uma cidade flamenga, provavelmente
com a intenção de representar Jerusalém, e por igrejas e monastérios no estilo
holandês antigo. O plano do meio, é ocupado por árvores, campinas e encostas
verdejantes. Exatamente no centro da pintura, há um altar quadrado forrado com
tecido adamascado vermelho e coberto com um pano branco. Ali está um cordei
ro, de cujo peito brota um rio de sangue em uma taça de cristal. Anjos ajoelham-
-se em torno do altar com asas parcialmente coloridas e vestes variadas, muitos
deles oram de mãos postas, outros levantam o emblema da paixão, dois, na frente,
balançam incensórios. À direita, atrás do altar, surge um grupo numeroso de
santas, todas em trajes ricos e variados, belos cabelos esvoaçando por cima de
seus ombros e com palmas nas mãos. No primeiro plano, pode-se observar santa
Bárbara e santa Agnes. Da esquerda, avançam papas, cardeais, bispos, monges e
clérigos menores com bastões episcopais, cruzes e palmas. No centro, perto da
base, uma pequena fonte octogonal de pedra projeta uma nascente em um límpi-
444
A pocalipse - C ap. 14
Aqui, aproximando de todos os lados, vê-se aquela grande multidão de “toda nação, e
tribo, elíngua, epovo’’ - os santos guerreiros e os santos peregrinos vindo delonge
emprocissão solene- comoutras multidões quejá chegaramaoplano celestial vesti
das commantos brancos esegurandofolhas depalmanas mãos. A forma deles écomo
anossa; apaisagememvolta deles éumameratranscrição dadoceface denossa natu
reza externa; agraciosafonte emferro trabalhadonomeiopareceque aindaenvia seu
fluxo para a antiga cidade flamenga; contudo, sentimos que essas criaturas são seres
de cujos olhos Deusjá enxugou todas as lágrimas - que não mais sentirão fome nem
sede; nossa imaginação cobre esses campos floridos de paz e brilho dos recintos ce
lestiais, enquanto as correntes das fontes são transformadas emáguas vivas, às quais
o Cordeiro mesmo guiará seus redimidos. Aqui, emsuma, emque tudo é humano e
natural na forma, as profundezas espirituais de nossa natureza são tocadas10".
resgatados.
445
A pocalipse - C ap. 14
6. Pelo meio do céu (èv μεσουρανήματι). Na bj, no meio do céu. Vide nota sobre 8.13.
10. D eitou, não misturado (κεκερασμενου ακράτου). Literalmente, que está m is
turado sem m istura. Do costume universal de misturar vinho com água para beber,
o termo m isturado passou a ser usado no sentido geral de p rep a ro p e la colocação no
cálice. Daí deitar, ou derram ar, como na t e b .
446
A pocalipse - Cap. 14
para purificar, evitando, desse modo, o contágio. Para outros, refere-se a θύω,
queimar, e daí sacrificar.
12. Aqui estão os. Omita aqui estão, e leia, como na rv: a paciência dos santos,
aqueles que guardam.
Desde agora (απ’ άρτι). Vide nota sobre Jo 23.33. A ser juntado, como na
arc ,TB e ara , com morrem, e não com bem-aventurados, nem com a oração se
guinte. Não, desde agora diz o Espírito. O sentido é explicado de várias ma
neiras. Alguns entendem como desde o início da era cristã e até o fim dela;
outros consideram que é desde o momento da morte, ligando desde agora com
bem-aventurados, outros ainda, a partir do tempo em que a colheita da terra
está para ser feita. Sófocles diz: “Demonstrem toda reverência religiosa pelos
deuses, pois todas as outras coisas o pai Zeus considera secundárias; pois a
recompensa da piedade acompanha os homens na morte. Quer eles vivam quer
morram, ela não morre”107.
Para que descansem (ίνα άναπαύσωνται). Vide nota sobre M t 11.28. A con
junção ΐνα, que, fornece o fundamento para o bem-aventurado.
Trabalhos (κόπων). De κόπτω, bater. Daí bater no peito em sinal de pesar. Por
tanto, κόπος é principalmente um golpe como um sinal de pesar e, depois, o pesar
mesmo. Quanto a trabalho, é o trabalho que envolve cansaço e dor.
Os sig a m (ακολουθεί μετ’ αυτών). Antes, acompanhem. Na rv, seguem com eles.
Compare com Mt 4.25; Mc 3.7 etc. Vide nota sobre Jo 1.43.
447
A p o c a l ip s e - C ap. 14
Que tinha poder (εχων εξουσίαν). Literalmente, tendo poder. Alguns textos
acrescentam o artigo ò. Como na r v : “o que tem poder”.
19. Grande lagar (την ληνόν τον μέγαν). Ο estudante grego notará o adjetivo
masculino com o substantivo feminino, possivelmente porque o gênero do subs
tantivo é duvidoso. A rv, por traduzir de forma mais literal, é mais forçada: o
lagar, o grande lagar. Vide nota sobre Mt 21.33.
448
A pocalipse - Cap. 15
C apítulo 15
1. As sete últimas pragas (πληγάς 4πτά τάς έσχάτας). Literalmente, sete pragas,
Como na t e b . Na r v , “que são as últimas”. Vide nota sobre Mc 3.10;
as últim as.
Lc 10.30.
449
A pocalipse - Cap. 15
Rei dos santos (βασιλεύς των άγιων). As leituras diferem. Alguns lêem, em
lugar de santos, εθνών, das nações (cp. a r a ); outros, αιώνων, dos séculos (cp. aec ).
Compare com Jr 10.7.
Todas as nações virão. Compare com SI 86.9; Is 2.2-4; 66.23; Miqueias 4.2.
Juízos (δικαιώματα). Não apenas decisões divinas, mas atos dejustiça em geral.
Como na n v i . O sentido primário da palavra é o que foi considerado certo para ter
força de lei. Daí um preceito (Lc 1.6; Hb 9.1; Rm 1.32). Uma decisãojudicial a favor
ou contra (Rm 5.16). Atos dejustiça, como na a r a .
5. Eis. Omita.
C apítulo 16
2. E foi o primeiro. Cada anjo, quando chega sua vez, retira-se (ύπάγ€Τ€, vide
nota sobre Jo 6.21; 8.21) do cenário celestial.
Chaga (έλκος). Vide nota sobre Lc 16.20. Compare com a sexta praga egípcia
(Êx 9.8-12), onde a l x x usa a palavra 'έλκος, furúnculo. Também em referência à
úlcera ou casca deferida da lepra, Lv 13.18; à chaga do rei Ezequias, 2Rs 20.7; às
úlceras do Egito, D t 28.27,35. Em Jó 2.7 ( l x x ) , a ferida é descrita, como aqui, por
chaga (maligna, πονηρός).
Alma vivente (ψυχή (ώσα). Os melhores textos trazem ψυχή ζωής, alma de
vida. Na teb , sopro de vida.
5. O anjo das águas. Nomeado comandante das águas como outros anjos foram
sobre os ventos (7.l) e sobre o fogo (14.18).
451
A pocalipse - C ap . 16
Ó Senhor. Omita.
Santo és. Segundo leitura ò οσιος, traduza: o Santo (cp. tb, a r a , teb, entre
outras); na bj, ó Santo. A k j v segue a leitura ò έσομ^νος, (que) serás.
7. Outro do altar. Omita o u tro do, e leia, como a n v i : ouvi o altar. O altar perso
nificado. Compare com 6.9, em que as almas dos mártires são vistas sob o altar
e clamor: a té qu ando.
Com fogo (èv ττυρί). Literalmente, “no fogo”. O elemento em que o abrasa-
mento acontece.
De dor (έκ του πόνου). Estritamente, de sua dor. Sua, a força do artigo του.
N aquele grande Dia (εκείνης). Omita. Leia, como na nvi e teb : “do gran
de Dia”.
Como ladrão. Compare com Mt 24.4*3; Lc 12.39; lTs 5.2,4; 2Pe 3.10.
Durante a noite o capitão do templo fazia suas rondas. Quando ele se aproximava,
os guardas tinham que se levantar e o saudar de uma maneira particular. Qualquer
guarda encontrado dormindo em serviço era surrado ou suas roupas eram jogadas
no fogo. Há registro da confissão de um dos rabis de que em determinada ocasião seu
próprio tio materno tinha, de fato, passado pela punição de ter as roupas queimadas
pelo capitão do templo108.
Cercada como é pelas colinas da Palestina a norte e a sul, seria natural o lugar se tor
nar a arena de guerra entre os habitantes da planície, que confiamem seus carros, e os
israelitas das terras das altas vizinhanças. Por isso, principalmente, deve sua celebri
dade, como campo de batalha do mundo, que, por meio de sua adoção na linguagem do
livro de Apocalipse, passou a ser umprovérbio universal. Se esse livro misterioso pro
cede da mão de um pescador galileu, é mais fácil entender por que razão este homem,
com as cenas daquelas muitas batalhas constantemente diante dele, extrairía o nome
453
A pocalipse - C ap. 17
figurativo do conflito final entre as hostes do bem e do mal do “lugar que é chamado
na língua hebraica de Harmagedon”109.
lugar escolhido para acampamento em toda peleja realizada na Palestina desde os dias
de Nabucodonosor, rei da Assíria, até a desastrosa marcha de Napoleão Bonaparte do
Egito para a Síria. Judeus, gentios, sarracenos, cruzados cristãos e franceses anticris-
tãos; egípcios, persas, drusos, turcos e árabes, guerreiros de toda nação sob o céu já
montaram sua barraca na planície de Esdraelon e já contemplaram a bandeira de sua
pátria umedecida pelo orvalho do Tabor e do Hermom110.
Capítulo 17
Uma besta de cor escarlate. A mesma coisa que em 13.1. Depois, essa besta
é sempre mencionada como το θηρίον, a besta. Para escarlate, vide nota sobre
M t 27.6.
5. Na sua testa, estava escrito o nome. Como era costume com prostitutas,
que tinham o nome inscrito em uma etiqueta. Sêneca, dirigindo-se a uma sacer
dotisa devassa, diz: Nomen tuumpependit afronte, teu nome pende de tua testa. Vide
Juvenal, falando de a depravada Messalina “ter assumido falsamente a identidade
de Licisca”112.
Mistério. Alguns entendem que a palavra faz parte do nome, outros enten
dem como uma sugestão de que o nome deve ser interpretado simbolicamente.
455
A pocalipse - C ap. 17
Babilônia. Vide nota sobre lPe 5.13. Tertuliano, Irineu e Jerônimo usam a pa
lavra Babilônia como representando o Império Romano. Na Idade Média, Roma
foi frequentemente intitulada de a B abilôn ia O cidental. A seita dos Fraticelli, or
ganização eremita dos franciscanos do século XIV, que levou o voto de pobreza
ao extremo e ensinava que eram possuídos pelo Espírito Santo e isentos de pe
cado, primeiro familiarizou a mente comum com a noção de que Roma era a Ba
bilônia, a grande prostituta do Apocalipse113. Sobre a passagem citada de Dante
(em 17.1, “Inferno”, xix, 111), o Deão Plumptre comenta:
Mas que virá (καί πάρεσται). E virá. Contra a leitura καίπερ εστίυ, e contudo ê
Literalmente, estará presente. Na a r a , aparecerá-, na bj, reaparecerá.
(cp. k jv ).
456
A pocalipse - Cap. 17
Sobre os quais. A expressão causa redundância com onde (δπου; não traduzi
do na a r c ), por comunicar a mesma ideia: “sete monte, onde sobre eles”. Trata-se
de um hebraísmo.
12. Reis, que (ο'ίτι.νες). O relativo composto qualificando: “do tipo que".
Poder e autoridade (δύναμιν καί εξουσίαν). Para a distinção, vid e nota sobre
2Pe 2.11.
457
A pocalipse - C ap. 18
15. As águas. A explicação do símbolo dado aqui está de acordo com Is 8.7;
SI 18.4,16; 124.14.
16. Na besta (επί). Leia καί, e·. “os dez chifres £../] e a besta”. Como no ntia.
17. Tem posto (εδωκεν). Na nvi, com o sentido mais estrito do aoristo, colocou.
Na teb e ara, incutiu. Literalmente, deu.
Cumpram o seu intento (ποιήσαι την γνώμην αότοϋ). V ide nota sobre o
versículo 13. Na rv, mais literalmente, executar o seu propósito; na bj, r e a liz a r o seu
desígnio.
C a pítu lo 18
Abrigo (φυλακή). V ide nota sobre lPe 3.19 e At 5.21. Na r v , em nota de mar
gem, prisão; na tb, gu arida.
3. Beberam ou π έ π ω κ α ν ). Na
(π έπ ω κ ε ν tb, têm bebido. Todavia, alguns leem
π έ π τ ω κ α ν , têm caído. Como na rv .
Do vinho (εκ του οίνου). Dessa forma, se lermos têm bebido. Se adotarmos
πέπτωκαν, têm caído, εκ é instrum ental, pelo. Como na rv .
459
A pocalipse - C ap . 18
Estou assentada como rainha, não sou viúva. Vide Is 47.8; Sf 2.15.
Duzentos anos depois da era de Plínio o uso de seda pura ou até mesmo mista ficou
confinado aosexo feminino, até os opulentos cidadãos de Roma e das províncias fica
reminconscientementefamiliarizados comoexemplodeHeliogábalo, oprimeiroque,
por esse hábitoefeminado, deslustrou a dignidade de umimperadore de umhomem.
Aureliano reclamou que, em Roma, 4 5 0 gramas de seda eramvendidos a por 3S6
gramas deouro116.
Vaso (σκεύος). Vide nota sobre lPe 3.7 e At 9.15. Também sobre bens, M t 12.29;
Mc 3.27; e sobre am ain adas as velas, At 27.17.
461
A pocalipse - C ap. 18
Bemalimentados, aproximou-se
Telêmaco do filho deNestor. Falou-lhe aopé
doouvido umsegredo queexcluía os demais:
“Tesouro domeupeito, estou deslumbrado. Que
Espetáculo! Pela sala vibramfulgurações de bronze
ede ouro ede âmbar edeprata edemarfim!
Imaginas assimo palácio olímpico de Zeus?117
Carros (ρεδών). Palavra latina, embora de origem gaulesa, rheda. O carro ti
nha quatro rodas.
14.0 fruto (ή οπώρα). Originalmente, dofim do verão ou início do outono, por isso,
em geral, usado para ofruto maduro das árvores. Ocorre somente aqui no texto do
Novo Testamento. Compare com o composto φθινοπωρινά, outono (árvores). Vide
nota sobre infrutíferas, Jd 12, e compare com frutas de verão, Jr 40.10.
Todo o que navega em naus (πας επί τών πλοίων ò όμιλός). Os melhores
textos substituem por: ό επί τόπον πλέων, que navega em qualquer lugar, lite
ralmente, navega para um lugar. Como na r v . Na t b , todos os que navegam para
qualquer porto.
19. Lançaram pó sobre a cabeça. Compare com Ez 27.30. Vide nota sobre
Lc 10.13.
20. Julgou a vossa causa quanto a ela (εκρινεν το κρίμα υμών εξ αυτής). Na
r v , mais literalmente, julgou seu julgamento sobre ela, ou a partir dela. A ideia é
465
A p o c a l ip s e — C a p. 19
Pelas tuas feitiçarias (4v τη φαρμακεία σου). Vide nota sobre 9.21. Na rv,
C a pítu lo 19
Honra. Omita. Acerca das doxologias em Apocalipse, vide nota sobre 1.6.
Das mãos dela (ac). Literalmente, “desde as mãos dela”. Vide nota sobre 2.7; 18.20.
5. Vós, todos os seus servos —tanto pequenos como grandes. Compare com
SI 114.13; 134.1.
8. Linho fino (βύσσινου). Vide nota sobre Lc 16.19. As quatro vestimentas do sa
cerdote judeu comum eram feitas de linho ou bisso. Seu sentido simbólico depen
de, em parte, da brancura e do brilho de sua substância (καθαρόν κα'ι λαμπρόν,
puro e brilhante).
10. Olha, não faças tal (όρα μή). Veja não (fazer isso).
466
A pocalipse - C ap. 19
A Palavra de Deus (ò Λόγος του 0eob). Esse nome para nosso Senhor
é encontrado dentro do Novo Testamento só nos escritos de João. Ele é um
dos elos que conecta o Apocalipse aos outros escritos de João. Compare com
Jo 1.1-14; Uo 1.1. Alguns objetam a isso com base no fato de que a expressão,
no Evangelho de João, é usada de forma absoluta, o Verbo, ao passo que aqui
ela é qualificada, a P a la v r a de D eu s, a qual o evangelista não emprega em ne
nhuma outra passagem-, e, em lJo 1.1, P a la v r a d a v id a . Porém, como observa
Alford:
16. Na sua coxa. Alguns explicam sobre a veste no lugar em que ela cobre a coxa
à qual a espada está presa. Compare com SI 44.3. Outros explicam em parte sobre a
veste, em parte sobre a própria coxa em que, em uma imagem equestre, o manto cai
da coxa. De acordo com a primeira explicação, και, e, tem que ser tomado como ex
plicativo ou determinativo das palavras na veste. Outros ainda supõem uma espada
sobre o punho da qual está escrito o nome. Os expositores referem-se ao costume
de gravar o nome do artista sobre a coxa da estátua. Por isso, Cícero diz: “Uma das
mais belas estátuas de Apoio, sobre a coxa da qual foi gravado o nome de Myron
em pequenas letras de prata”128. Heródoto descreve uma imagem de Senuseret car
regando, atravessado de ombro a ombro no peito, a inscrição do caráter sagrado
do Egito: “Com meus próprios ombros conquistei essa terra”123. Rawlinson diz que
as imagens assírias são encontradas em inscrições cuneiformes gravadas ao longo
delas e sobre o tecido, como também sobre o corpo.
A ceia do grande Deus (το δείπνου τοϋ μεγάλου Θεοϋ). Em lugar de τοϋ μεγάλου,
leia το μεγα τοϋ, e traduza: a gran de ceia de Deus. Na n v i e teb , g ran de banquete.
468
A p o c a l ip s e — Cap. 2 0
C apítulo 2 0
1. Do abismo. Vide nota sobre 9.1. Esse deve ser distinguido do lago de fogo.
Compare com o versículo 10.
Cadeia (άλυσιν). Vide nota sobre Mc 5.4. Somente aqui nos escritos de João.
O dragão (τον δράκοντα). Vide nota sobre 12.3. A palavra é comumente deri
vada de ’έδρακον, o segundo aoristo de δέρκομαι, v e r claramente, em alusão à vista
aguçada do dragão fictício.
O diabo. Observe os três epítetos: a a n tig a serpente, o diabo, Satanás. Vide nota
sobre Mt 4. 1; Lc 10 . 18 .
Importa (ôei). De acordo com o propósito de Deus. Vide nota sobre Mt 16.21;
Lc 2.49; 24.26.
469
A pocalipse - C ap . 2 0
6. Tem parte (εχων μέρος). Expressão peculiar a João referindo-se a uma pessoa.
Compare com Jo 13.8.
12. Diante do trono. Leitura correta, θρόνου, trono-, contra a leitura Θεοί), D eus
( kjv , cp. t r ).
Os livros (βιβλία). Sem artigo. Leia livros. Como na nvi e teb . Compare com Dn 7.10.
13. O mar. Como é entendido comumente, o mar quer dizer o mar literal. A pas
sagem representa que os mortos que ali se encontram ressuscitarão, como relata
Alford. Outros intérpretes, contudo, dizem que não pode ser o mar literal, como
por exemplo Milligan. Ele argumenta que os símbolos em Apocalipse devem ser
sempre interpretados da mesma maneira. Ele comenta:
470
A pocalipse - Cap. 21
C apítulo 2 1
O mar já não existe (ή θάλασσα ούκ êotiv eti). Literalmente. Aqui como
em 20.13. Alguns explicam o mar como o mundo ímpio. Não posso deixar de
achar essa interpretação forçada. De acordo com essa explicação, a passagem é
extremamente tautologies. A primeira terra passou, e o mundo ímpio não existe mais.
Nova Jerusalém. Outros juntam nova com descia e traduzem por: descendo
nova do céu.
3. Com os homens. Homens de forma geral. Não mais como um povo isolado
como Israel.
Povo (λαο'ι). Observe o plural, povos (como na nvi ), porque muitas nações par
ticipam do cumprimento da promessa. Compare com o versículo 24.
E o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus. E será foi inserido. No
grego, está: estará com eles seu Deus.
471
A pocalipse - C ap . 21
Não haverá mais morte (ò θάνατος ούκ εσται exi). Traduza, como a rv : a
morte não existirá mais.
Pranto (πένθος). Melhor, como na teb , luto, uma vez que a palavra tem o sen
tido de pesar manifestado. Vide nota sobre M t 5.4; T g 4.9. Compare com Is 65.19.
Sócrates observa:
Suponhamos que seja pura a alma que se separa do corpo £...]. Ora se tal é o seu es
tado, é para o que se assemelha que ela se dirige, para o que é invisível, para o que é
divino, imortal e sábio; é para o lugar onde sua chegada importa na posse da felicidade,
onde divagação, irracionalidade, terrores, amores tirânicos e todos os outros males da
condição humana cessam de lhe estar ligado, e onde, como se diz dos que receberam a
iniciação, ela passa na companhia dos deuses o resto do seu tempo!'30
Também Sófocles:
“Como são felizes os mortais que, tendo esses fins em vista, partem para o
Hades, pois só a eles é dado viver lá, mas para os outros, todas as coisas lá são
malignas.”132 E Euripides:
472
A p o c a l ip s e - C a p. 21
7. Todas as coisas (πάντα). A leitura correta é ταϋτα, estas coisas. Como n a ara .
Meu filho (μοι ò υιός). Literalmente, ofilho para mim. Vide nota sobre Jo 1.12.
Essa é a única passagem dos escritos de João onde a palavra υιός, filh o, é usada
para a relação do homem com Deus.
8. Tímidos (δειλοΐς). O caso dativo. Por isso, como na a r c , quanto aos tímidos. Na
bj e teb , quanto aos covardes. Somente aqui, em Mt 8.26 e Mc 4.40.
A sua parte será (το μέρος αύτών). Literalmente, a passagem toda diz: quanto
aos tímidos r...j sua parte. Será foi suprido.
11. Glória de Deus. Não apenas esplendor divino, mas a presença do próprio
Deus da glória. Compare com Ex 60.34.
Luz (φωστηρ). Estritamente, corpo luminosa, aquele com que a cidade é iluminada,
o Cordeiro celestial. Vide o versículo 23. A palavra ocorre somente aqui e em Fp 2.15.
473
A pocalipse - C ap . 21
13. Levante (ανατολής). Vide nota sobre M t 2.2, e sobre oriente do alto, Lc 1.78.
Vide as tribos arranjadas pelas portas em Ez 68.31-34.
Neles, os nomes (έν αύτοις όνόματα). A leitura correta é: επ’ αύτών δώδεκα
ονόματα, sobre eles doze nomes. Na tb e t e b , os doze nomes.
15. Cana de ouro. Acrescente μέτρον, como medida. Vide 11 . 1. Compare com
Ez 40.5. Na t e b , uma medida, uma cana de ouro.
134. Essa planta cúbica não se aplica só ao tabernáculo, mas também à arca do dilúvio, ao templo
de Salomão e à “casa do rei”, e é minuciosamente desenvolvida em The Holy Houses, pelo Dr.
Timothy Otis Paine. Esse livro, cheio de erudição curiosa, trata o tabernáculo, a arca de Noé, o
templo e o capitólio, ou casa do rei, como desenvolvidos a partir de um tipo em comum; mas que
prossegue até a totalmente indefensável hipótese de que o templo da visão de Ezequiel era o de
Salomão, e que, por conseguinte, todos os dados dos dois livros de Reis e das profecias de Jere
mias e Ezequiel são fornecidos para uma completa restauração do templo, com a visão profética
de Ezequiel fornecendo os detalhes omitidos no registro histórico dos livros de Reis.
474
A pocalipse - C ap. 21
quanto a se os doze mil estádios são a medida dos quatro lados da cidade juntos
ou se representam o comprimento de cada lado da cidade. A primeira explicação
é estimulada pelo desejo de reduzir a vasta dimensão da cidade. Outra dificulda
de é levantada quanto à altura. Düsterdieck, por exemplo, sustenta que as casas
tinham três mil estádios de altura. Levanta-se a questão se a superfície vertical
do cubo inclui a colina ou rocha sobre a qual a cidade está colocada, percepção
essa à qual Alford se inclina. Essas coisas são suficientes para mostrar como são
totalmente fúteis as tentativas de reduzir essas visões simbólicas em afirmações
matemáticas. O Professor Milligan comenta habilmente: “Tampouco, não tem a
menor relevância reduzir as enormes dimensões mencionadas. Nenhuma redu
ção as traz aos limites da verossimilhança, e não se exige nenhum esforço nesse
sentido. A ideia é só para ser imaginada”.
creve a σάπφειρος como opaca e salpicada com partículas de ouro, além de afirmar
que ela veio da Média (ou seja, Pérsia e Bokhara), de onde o suprimento é trazido
até hoje. King, citado por Lee, diz:
20. Sardônica (σαρδόνυξ). A mais bela e mais rara variedade de ônix. Plínio
define-a como originalmente significando um a m arca branca em um sárdio, como
a unha hum ana (δνυξ) p o sta sobre a carne, e am bos transparentes. O ônix recebe esse
nome por causa da parecença de seus veios brancos e amarelos com as sombras
na unha humana. Os gregos primitivos não faziam distinção entre o ônix e a
sardônica.
Berilo (βήρυλλος). Plínio diz que ele lembra o verdor do mar puro. Supõe-se
que é da mesma natureza da esmeralda, ou similar a ela.
Topázio (τοπάζιον). Compare com Jó 28.19. O nome foi derivado de uma ilha
do mar Vermelho onde a gema foi descoberta. A pedra é o nosso perid o to . Os lapi-
dários romanos distinguiam as duas variedades, a chrysopteron, nossa crisólita, e a
prasoides, n o s s o peridoto. A primeira é muito mais dura e a cor amarela predomina
sobre a verde. O topázio moderno era totalmente desconhecido na Antiguidade.
21. Pérolas (μαργαρίται). A pérola parece ser conhecida desde os tempos mais
remotos pelos gregos asiáticos em consequência das relações deles com os per
sas. Entre os motivos que impeliram César a tentar a conquista da Grã-Bretanha
estava o da fama de suas áreas de pesca de ostra. As pérolas detinham a clas
sificação mais alta entre as pedras preciosas. O termo latino unio (u nidade ) era
aplicado à pérola porque não se encontrava duas pérolas exatamente iguais; mas,
com o tempo, a palavra ficou restrita às pérolas finas, esféricas, enquanto o nome
genérico passou a ser m argarita. Shakespeare usa union para se referir à pérola
em H am let:
Cada uma das portas (άνά εις 'έκαστος των πυλώνων). Na rv, cada um a das
salientando, assim, a força do genitivo πυλώνων, d e p o rta s. A ideia
d iversa s p o rta s,
de diversas é transmitida por άνά, como: Lc 9.3, άνά δύο χιτώνας, “duas túnicas
cada u n i’ (cp. teb ); e Jo 2.6, άνά μετρητάς δύο η τρεις, “em cada um a cabiam duas
ou três metretas”.
22. Não vi templo. Agora, a cidade toda é um templo santo de Deus. Vide nota
sobre 1.6.
A sua lâmpada (ό λύχνος). Tradução melhor que a da e c p , luz. Vide nota sobre
Jo 5.35.
2 4 . [Daqueles que estão salvos.] Conforme a kjv (cp. t r ). Omita, como na arc.
À sua luz (διά τού φωτός). “No meio da luz”, ou “mediante a luz”. Contra a lei
tura: év τω φωτί, na luz (cp. nvi).
Além disso, por todo o tempo que durar nossa vida, estaremos mais próximos do
saber, parece-me, quando nos afastarmos o mais possível da sociedade e união como
corpo, salvo emsituações de necessidade premente, quando, sobretudo, não estiver
mos mais contaminados por sua natureza, mas, pelo contrário, nos acharmos puros
de seucontato, eassimatéo diaemque oDeus houver desfeitoesses laços. E quando
dessamaneira atingirmos apureza, pois queentãoteremos sidoseparados dademên
cia docorpo, deveremos mui verossimilmente ficar unidos aseres parecidos conosco;
epor nós mesmos, unicamente por nós mesmos, conheceremos semmistura alguma
tudoo queé. E nisso, provavelmente, éque hádeconsistir averdade. Comefeito, élí
cito admitirquenãosejapermitido apossar-sedoqueépuro, quandonão seépuro!137
C apítulo 22
1. Puro. Omita.
478
A pocalipse - C ap. 22
2. No meio da sua praça. Alguns ligam essas palavras às precedentes. Como na nvi.
D e uma e da outra banda (εντεύθεν και έκεΐθεν). Na rv, neste lado e naquele,
no ntia, daqui e dali (campo interlinear). Contra a leitura εντεύθεν και έντεϋθεν,
que a kjv traduz: em cada lado; cp. teb, dos dois braços.
4. Verão o seu rosto. Compare com lJo 3.2; M t 5.8; Êx 33.20; SI 17.15.
5. Ali (εκεί). Substitua por ετι, m ais nenhuma. Na nvi, não haverá m a is noite.
Dos santos profetas (των άγιων προφητών). Substitua αγίων, santos, por
πνευμάτων, espíritos, e traduza, como na nvi: o D eu s dos espíritos dos profetas. Tex
tos melhores registram: των πνευμάτων των προφητών.
7. Guarda (τηρών). Uma das palavras favoritas de João, ocorrendo em seus es
critos com mais frequência que em todo o resto do Novo Testamento junto. Vide
nota sobre guardada, em lPe 1.4.
8. Eu, João, sou aquele que vi (εγώ ’Ιωάννης ό βλεπων). A kjv desconsidera ο
artigo com o particípio - o vendo, o que vê. Textos melhores registram ò άκούων
479
A pocalipse - Cap. 22
κ α ί βλέπω ν, m as a arcinverte os verbos. Por isso, a tb traduz: Eu, João, sou o que
ouvi e vi. Contudo, o n tia observa o particípio presente: o que ouve e que vê (campo
interlinear).
12. Meu galardão está comigo (ò μισθός μου μετ’ εμού). Μισθός, galardão,
recompensa, refere-se estritamente a salário. Compare com Is 40.10; 42.11. Vide
nota sobre 2Pe 2.13.
([Será] (εσται). Conforme a kjv e ntia (cp. tr e tm); a arc não traz. Leia εστιν,
é. segundo sua obra é (cp. rv).
14. Aqueles que lavam as suas vestiduras (oi πλύνοντες τάς σχολάς αυτών).
Conforme a melhor leitura; contra a leitura oi ποιοΰντες τάς εντολάς αύτοϋ,
aqueles que p ra tica m os seus m andam entos (cp. kjv e ntia). Compare com 7.14.
Para que tenham direito à árvore da vida (ίνα εσται ή εξουσία αυτών επί
το ξύλον τής ζωής). Literalmente, a f im de que deles seja a a u to rid a d e sobre a árvore
da vid a . Para εξουσία, direito, autoridade, vid e nota sobre Jo 1.12. A preposição επί
pode ser a de direção: “para que tenham o direito de se chegarem a (como na tb),
ou pode ser traduzida por sobre.
15. Os cães (oi κύνες). A kjv omite o artigo em “os cães”. Compare com Fp 3.2.
Este era o termo de reprovação com que os judaizantes estigmatizavam, como
impuros, os gentios. Na lei mosaica a palavra é usada para denunciar as devas
sidões da adoração pagã (Dt 23.18). Compare com Mt 15.26. Aqui a palavra é
usada para aqueles cuja impureza moral os exclui da nova Jerusalém. Lightfoot,
sobre Fp 3.2, comenta:
Comete (ποιων). Ou p ra tica (cp. tb). Compare com p ra tic a a verdade, Jo 3.21;
Do 1.6. V ide nota sobre Jo 3.21.
481
A pocalipse —Cap. 22
16. A Raiz. Compare com Is 11.1,10. V ide nota sobre N a za ren o , Mt 2.23.
A esposa. A igreja.
20. Ora (vai). Palavra de afirmação, sim. Omita, como na t b , n v i , b j, entre outras.
Com todos vós (μετά ιτάντων υμών). As leituras diferem. Alguns leem: μετά
πάντων, com todos, omitindo vós. Outros: μετά τών αγίων, com todos os santos.
482
L ista de P alavras e E xpressões G regas
E mpregadas somente por J oão
487
Lista de Palavras e E xpressões G regas Empregadas somente por João
488
L ista de Palavras e E xpressões G regas E mpregadas somente por J oão
490
L ista de Palavras e E xpressões G regas E mpregadas somente por J oão
491
R eferências
E m adição às referências dadas no volume I
Trench, Richard C. Commentary on the Epistles to the Seven Churches in Asia. New
York, 1864.
Vaughan, Robert Alfred. Hours with the Mystics. London. 3. ed. 2 vols. 1879.
Westcott, Brooke Foss. Commentary on the Gospel o f John. Speaker’s Commentary.
New York, 1880.
Wetstein, John J. Novum Testamentum Graecum·. with various readings and
commentary. 2 vols. Amsterdam, 1751.
495
Índice T emático
499
Índice T em ático
J u sto , 269 M ã e , 64
M a g o g u e , 470
L ã , 354 M a l, 82, 112, 219, 333
L ad rão, 154, 155, 383, 453 M a lfe ito r , 2 2 6
L agar, 448, 468 Maligno, 276, 309, 310
L a g o , 469 M a n á , 1 2 1 , 372
L á g r im a , 421, 472 M a n d a m e n to , 159, 194, 207, 273,
L â m p a d a , 478; -s , 399 274; -s, 200, 270, 326
L a n ça , 237 M a n h ã , 225
L a n te r n a s , 2 2 1 M ã o , 431; -s, 249, 429
L a o d ic e ia ,388 M a r, 117, 245, 410, 449, 464, 470,
L a r g u r a , 470 471
L atão, 355 M aravilha, 152
502
Índice T emático
M a r fim , 4 6 2 M u n d o , 11, 1 6 , 3 6 , 3 7 , 5 4 , 8 1 , 8 2 ,
M a r ia , 1 6 5 139, 140, 153, 180, 202, 204,
M a r ia M a d a le n a , 2 3 6 208, 218, 269, 277, 291, 295,
M a r id o , 9 5 297, 299, 309, 387, 438, 452, 453
M árm ore, 4 6 2 M urmuração, 129
M a r ta , 1 6 5 Músicos, 464
M a u s, 3 6 2
M e d id a (u n id a d e ), 4 1 3 N ação, 173, 174, 4 0 9 , 441; -õ e s,
M e d id a d e h o m e m , 4 7 5 380, 432, 450
M e io , 1 4 8 N ardo, 1 7 4
M e io d o céu, 423, 446, 468 N a sc e n te , 4 1 8
M e n s a g e m , 258 N a ta n a e l, 6 0
M e n te , 378 N au s, 4 2 3 , 4 6 4
M e n tir a , 145, 282 N azaré, 6 0
M e n tir o s o , 1 4 5 , 2 8 0 N a z a r e n o , 22 1
M ercad ores, 4 5 9 , 4 6 0 N eve, 3 5 4
M e r c e n á r io , 1 5 6 , 1 5 7 N ic o d e m o s , 7 2 , 2 3 9
M ês, 4 2 7 ; -e s, 1 0 2 , 4 3 2 , 4 4 0 N ic o la ita s, 3 6 4 , 3 7 2
M e sa s, 68 N o it e , 2 4 5
M e s s ia s , 5 9 , 9 9 N om e, 16, S 3, 4 0 , 7 0 , 181, 2 0 0 , 2 0 3 ,
M e s tr e , 7 2 , 7 7 , 1 6 7 , 1 8 7 209, 214, 276, 293, 306, 331,
M e s tr e -s a la , 65 3 7 0 , 3 7 5 , 4 4 0 , 4 4 4 , 45 5 ; -s, 4 7 4
M e ta d e , 4 3 9 N o v a J e r u sa lé m , 3 8 8 , 4 7 1
M e tr e ta s , 65 N úm ero, 4 4 3
M ig u e l, 4 3 7 N u v e m , 4 3 0 ; -n s , 3 4 6
M ila g r e , 1 0 6 ; -s , 1 0 5
M is e r á v e l, 3 9 1 O bra, 1 3 0 ; -s , 8 2 , 110, 113, 121,
M is e r ic ó r d ia , 3 2 4 162, 199, 200, 362, 367, 376,
M is té r io , 3 5 9 , 4 5 5 378, 380, 382, 429, 449
M ó, 4 6 4 , 4 6 5 O fic ia l, 1 0 5 ; -is, 2 2 1
M o is é s , 6 0 , 1 2 2 O lh o s , 1 8 2 , 2 5 2 , 2 7 8 , 3 7 5 , 3 9 2 , 4 0 0 ,
M o n te , 9 6 , 1 1 7 , 4 7 3 ; -s , 4 1 7 , 4 5 7 407
M o r a d a , 2 0 3 ; -s, 1 9 6 O liv e ir a s, 4 3 3
M o r te , i l l Ô m e g a (títu lo ), 3 4 7 , 3 5 2 , 4 7 2
M o r te , 147, 164, 227, 290, 307, O r a ç õ e s, 4 0 8 , 4 2 1 , 4 2 2
369, 378, 439, 472 Ó r fã o s, 2 0 2
M o r to , 1 6 9 , 4 5 1 ; -s , 1 1 2 Oriente, 452
M u lh e r , 6 4 , 9 2 , 1 0 0 , 2 1 3 , 2 3 6 , 3 7 7 O u ro , 3 5 4 , 3 9 1
M u ltid ã o , 1 0 7 , 1 1 7 , 1 2 9 , 1 3 5 , 1 7 0 , O u v id o s , 3 6 5
1 7 7 ; -õ es, 4 5 8 O v e lh a s, 154, 155, 161, 249
503
Índice T em ático
505
Ín d ic e T e m á t ic o
507
Índice de Palavras G regas
Ερχομαι, 38, 96, 197, 212, 218, 326, 327 θεραπεύω, 108
έρωτάω, 214, 238, 308 θερισμός, 102
εστί, 257 θεωρεω,47,96,120,123, 147,157, 183,291
’έσχατος, 123 θήκη, 222
ΕΟωθΕv, 406 θηρίον, 433
εύαγγελίζω, 431, 446 θλίψις, 213, 347, 367
εύθεως, 120 θρέμμα, 93
εύθύνω, 52 θρηνεω,213
εύλογεω, 178 θρόνος, 370, 397
ευλογία, 410 θύϊνος, 461
εΰοδούμαι, 329 θυμός, 89
ευρίσκω, 58 θύρα, 385
εύχομαι, 329 θυρωρός, 154, 223
εχω, 136, 213, 298, 415 θυσιαστήριον, 415, 421
520
Estudo no V ocabulário
G rego do N ovo T estamento
V olume
II
Em 1863, Marvin R. Vincent publicou a tradução de Gnomon o f the New Testament, uma
das principais obras de Bengel no campo da exegese do Novo Testamento. Desse trabalho,
surgiu o impulso necessário para a produção de um comentário léxico-gramatical do
Novo Testamento, seguindo a mesma linha de pesquisa e método, Trata-se de Estudo
no Vocabulário Grego do Novo Testamento (Word Studies in the New Testament), publicado
a partir de 1886. Em seu estudo do vocabulário neotestamentário, Vincent propõe-se
demonstrar a força e o valor original das palavras gregas, segundo seus significados
lexicais, etimologia, história, flexões, com as particularidades de seu emprego pelos
escritores sagrados,
A obra de Vincent diferencia-se pela abordagem do texto grego a partir de suas palavras
e expressões, antes de sua análise como componentes de construções linguísticas mais
amplas. Esse trabalho específico com as palavras visa a encaminhar o estudante à
compreensão mais completa dos textos, ultrapassando as dificuldades e limitações Impostas
pelo processo de tradução formal. Também inclui uma tarefa prévia de comparação e
seleção dos melhores textos, Ao explorar os potenciais das palavras, individualmente
e nas sentenças, Vincent determina com maior rigor os possíveis sentidos dos textos
e sugere leituras melhores e mais próximas dos originais. Por essas razões, esta obra
constitui uma verdadeira introdução à crítica bíblica textual.
M arvin R. V incent (1884-1922), doutor em teologia pelo Union Theological Seminary (Nova
York), teve carreira eclesiástica e magisterial. Liderou Igrejas no Brooklyn e em Troy. Foi
professor de latim na Troy University (Nova York), e deteve a cadeira Baldwin de literatura
sagrada e exegese do Novo Testamento no Union Theological Seminary (Nova York). Além de
seu Estudo no Vocabulário Grego do Novo Testamento, ele escreveu, nessa mesma área; Siudmfs
New Testament Handbook (1898), That Monster, the Higher Critic (1894), A Critical and Exegetical
Commentary on the Epistles to the Philippians and to Philemon (1897), History of the Textual Criticism
o f the New Testament ( 1899),
ISBN fiSEbBicm-i