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Semelhanças e Diferenças das Crises da Segurança da Oferta de Energia Elétrica

no Brasil em 2001 e 2021

Cleuber Vieira*
cleuber.vieira@unimontes.br

1. Introdução

Este paper trata das semelhanças e diferenças das crises na segurança da oferta de energia
elétrica no Brasil em 2001 e 2021 e está divido em 5 seções, sendo a primeira esta introdução. A
segunda trata da caracterização do problema e, a terceira, versa sobre os drivers que analisarão o
problema das crises da energia elétrica. A quarta busca comparar as semelhanças e diferenças entres
os drivers para a crise da segurança da oferta de energia elétrica no Brasil em 2001 e 2021. A quinta
seção se refere às ações que os governos tomaram em 2001 e estão tomando em 2021, para o
enfrentamento da crise da oferta de energia elétrica. A sexta e última seção, são as conclusões e
recomendações para o Brasil voltar a ter segurança da oferta de energia elétrica. A metodologia é
bibliográfica e documental, utilizando livros fundamentais da economia da energia, relatórios do
setor elétrico e o debate sobre a crise de 2021, nos principais veículos de comunicação do Brasil.

2. O problema da segurança da energia elétrica no Brasil

Vinte anos após o apagão de 2001, o Brasil passa novamente por uma crise na oferta de
energia elétrica, onde a produção de energia térmica, poluente e não renovável, tem aumentado na
matriz elétrica brasileira, devido a escasses hídrica que é recorrente desde a década de 50, opção
também feita em 2001, bem como no incios dos anos 1950.
Anualmente o período seco (sem ocorrência de chuvas), conforme o Gráfico 01, acontece no
Brasil entre os meses de maio e novembro, onde o volume de chuvas é o menor, o que leva a uma
redução na atividade das hidroelétricas e, os períodos de chuvas entre 2001 e 2021, foi o que
adicionou menor volume de águas aos reservatórios desde o início da série histórica, iniciada em
1930, conforme Sales (06/09/21).

Gráfico 01
Média Histórica Anual das Chuvas no Brasil / INPE / em mm

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Inpe.

* PhD student in development studies.


As médias históricas e as expectativas de chuvas, como registra o Gráfico 01, são calculadas
a partir dos dados coletados no país pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE desde
1931 e, o prognóstico é de que a crise hídrica, causa principal da crise elétrica que afeta o país,
continuará presente. A meteorologista Patrícia Madeira alerta que mesmo que 2021 tenha chuvas
acima da média em algumas regiões, a crise hídrica e elétrica deve persistir, pois “para começar a
subir o reservatório, é preciso ter 100 milímetros de chuvas em cinco dias porque antes de encher
os reservatórios é preciso umedecer o solo. Então, mesmo que chova mais do que a média em
outubro, ainda não será o necessário para diminuir o custo da energia” registra Gaglioni
(22/09/21).
É importante considerar que o setor elétrico no Brasil e no mundo, está passando por
importantes transformações e, vários países estão promovendo mudanças nas suas matrizes
energéticas, institucionais e regulatórias para se adaptar às pressões exercidas por avanços
tecnológicos e por fenômenos ambientais, pois existem novas tecnologias na exploração de fontes
renováveis, incluindo geração em pequena escala, em conjunto com os problemas causados pelo
aquecimento global e as restrições ambientais que reforçam a necessidade de mudanças no setor
elétrico, conforme acentua Andrade (05/08/2021).
Mas o que realmente está acontecendo? Existem medidas para solucionar ou amenizar essa
crise?
O Gráfico 02 registra o histórico do nível dos reservatórios brasileiros das regiões Sudeste e
do Centro-Oeste, que juntas, representam cerca de 70% da capacidade de armazenamento de
energia em forma de água do Sistema Interligado Nacional - SIN para o mês de Junho em relação
a Capacidade Máxima de Armazenamento - CMA. Nota-se no gráfico que a partir de 1996 esse
valor era sempre superior à 60% da Capacidade Máxima e, desde 2012, quando houveram as
discussões sobre racionamento/racionalização, os reservatórios não voltaram a patamares
confortáveis como no passado, ressaltando-se que o declínio contínuo dos reservatórios, inicia-se
em 2012 de forma acentuada. Observe que considerando o mês de junho, os reservatórios estão
com o mesmo nível do ocorrido em 2001, ano do racionamento. Às observações do Gráfico
configura uma situação crítica, pois entra-se no período seco, com pouquíssima água nos
reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste.

Gráfico 02
Histórico da Energia Armazenada nos Meses de Junho
nos Reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste

Fonte: ONS
Observe, no Gráfico 03 que, a previsão do Operador Nacional do Sistema – ONS para os
mesmos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, inclusive relacionado com as crises de segurnaça
no fornecimento de energia os anos de 2001, 2014 e 2021 para o mês de novembro, são dramáticas,
tomando como referência o mês de junho.

Gráfico 03
Reservatórios do Sudeste / Centro-Oeste em % de Capacidade Máxima para os anos 2001 –
2014 – 2021

Fonte: ONS

Se em Abril de 2001, os reservatórios começaram o período seco com 32,3% da sua


capacidade máxima, em 30/07/2001 os mesmos reservatórios estavam com 26,8% da sua
capacidade e em 30/11/2001, a realidade dos reservatórios estavam em 23,2% que acabou
ocasionando o racionamento elétrico em 2001/2002. Já 30/04/2014, os reservatórios começaram o
período seco com 38,0% da sua capacidade máxima, em 31/07/2014, os reservatórios estavam com
34,3% da sua CM e em 30/11/2014, a realidade dos reservatórios estavam em 15,8% %, o que
ocasionou uma crise hídrica no país seríssima. Quando se verifica a situação em 2021, o ONS
observa que em 30/04/2021 os reservatórios estão com 35,9 da sua CM, em 31/07/2021 estão com
23,5% da sua CM e projeta para 30/11/2021, uma realidade de 7,9%, se não houver chuva o
suficiente para encher os reservatórios.
Diante desta realidade hídrica que o Brasil está passando, vamos ter apagões, blecautes e
racionamento, como em 2001?
O Setor Elétrico Brasileiro – SEB se modificou desde 2001 e o setor aprendeu com o impacto
hídrico, político e econômico do racionamento em 2001 e, em relação à 2021, pode-se citar os
seguintes avanços: 1. Expansão da oferta de energia; 2. Diversificação da matriz elétrica; 3. Maior
interligação do Sistema Elétrico Nacional, com aproveitamentos hidrelétricos das usinas do Norte
do país, além de todo o potencial eólico do Nordeste; 4. Aumento da oferta de energia térmica, com
combustíveis mais baratos como o gás. Esta expansão fez com que a dependência das fontes
hidroelétricas, que em 2001 era de cerca de 94,1%, reduzisse para 71,1% em termos de capacidade
instalada, melhorando a segurança do sistema, mas não livrando o SIN da dependência das chuvas,
pois 71,1% de energia hidráulica é considerável. Houve expansão em fontes renováveis como solar
e eólica, que apesar de limpas, são intermitentes, dependentes da natureza.
Outro dado importante é contextualizar a crise hídrica que se vivência em 2021 com outras
crises experimentadas pelo Brasil. Se está ocorrendo em 2021 uma crise hídrica, é importante
observar que ela ocorreu em 2001, mas deve-se observar também, como mostra o Gráfico 04, houve
a mesma ocorrência na década de 1970 e na década de 1950. Na década, de 50 também ocorreu um
racionamento, gerenciado por uma Câmara de Gestão da Crise, como registra Castro (1985).
Observe que o gráfico registra a energia associada as vazões dos rios desde 1931.

Gráfico 04
Energias Naturais / Afluência - 1931 a 2018

Instituto Ilumina: https://www.ilumina.org.br/medida-provisoria-mentira-permanente/

A atual crise de 2021 tem levantado comparações com a crise energética de 2001 e 2002,
quando o Brasil vivenciou um grave momento no setor de energia elétrica, que houve falta de
chuvas e que contribuiu para o cenário ruim da geração de energia.
Mas se em 2001/2002, o problema era mais que hídrico, de acordo com pesquisadores do Centro
de Economia Energética e Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, sendo o
principal motivo por trás da crise a ausência de investimento e planejamento na geração e
distribuição de energia, à qual se somou a escassez de chuvas. Entre os problemas estruturais da
área elétrica no Brasil estava a falta de diversificação da matriz energética, pois 90% de toda a
energia elétrica do país era gerada pelas hidroelétricas, ou seja, havia uma dependência muito
grande dessa fonte energética. Por consequência, havia uma vulnerabilidade considerável a
períodos mais longos de estiagem. Atualmente, essa porcentagem é de 63%, e é comum o
acionamento de outras fontes, como a termelétrica, em momentos de seca como registra Roubicek
(31/05/21).
A principal causa da crise foi a ausência de investimento e planejamento na geração e
distribuição de energia, aliada à falta de chuvas para abastecer os reservatórios de hidrelétricas. Na
época, campanhas de conscientização foram adotadas pelo governo para estimular o racionamento
da energia, e estipularam-se benefícios e punições aos consumidores que cumprissem ou não a meta
de economia, de forma a evitar a necessidade de cortes no fornecimento segundo registra Carvalho
et all (31/08/20).
Se em 2021, a maior parte da energia elétrica no Brasil, cerca de 63% é gerada em usinas
hidroelétricas estas estão pressionadas pelo baixo nível das chuvas, pois segundo a Agência
Nacional de Energia Elétrica - Aneel, o período de chuvas entre o final de 2020 e o início de 2021
registrou o pior aporte hidráulico no período úmido da história do Sistema Interligado Nacional -
SIN. Isso quer dizer que as chuvas de 2020-2021 foi o período que adicionou o menor volume de
água aos reservatórios desde 1931, início da série histórica e os reservatórios das regiões Sudeste e
Centro-Oeste, as mais afetadas pela falta de chuvas estão, conjuntamente, em níveis de 32,2% no
final de maio de 2021, sendo o nível mais baixo para o mês desde 2001.
3. Drivers da crise energética brasileira e o seu suporte teórico

Este estudo avalia a crise de segurança no fornecimento de energia elétrica energético


brasileiro, auxiliado por Fatás (202) e Júnior (2016), sob a perspectiva de 5 Drivers: físico, político,
tecnológico, regulatório e econômico, com o objetivo de investigar a relação entre a crise energética
de 2001 e 2021, pelo esgotamento dos reservatórios da hidroelétrica das Regiões Sudeste e Centro
Oeste e a elevação das Bandeiras Tarifárias Amarela e Vermelha, mais caras a partir de julho de
2021.
Ele se justifica, pois a instabilidade na segurança da oferta de energia elétrica no Brasil está
se tornando constante desde 1950/1970/2001/2014/2021 e, apesar de haver investimento no setor,
a insegurança regulatória o inibe, provocando esta instabilidade.
Os drivers que determinam a insegurança no fornecimento energético no Brasil, são o driver
político, relativo à estabilidade ou instabilidade política, suscetível de provocar interrupções no
fornecimento; o driver regulatório, decorrente de mudanças nos marcos regulatórios; o driver
económico, relativo às flutuações de preços e/ou das alterações da estrutura de impostos, que
oneram a energia, o driver físico de fornecimento energético associado à baixa diversificação das
fontes de fornecimento de energia, que no caso do Brasil, está concentrado na fonte hidroelétrica e
o driver tecnológico que avalia e projeta os possíveis despachos das fontes energéticas.
O driver político se sustenta em uma convenção e está relacionado à capacidade do corpo
político sustentar ou não à convenção, gerando uma estabilidade ou uma instabilidade política,
capaz de provocar interrupções no fornecimento energético. O driver regulatório decorre da
convenção em vigor expressa nos marcos regulatórios da indústria elétrica nacional. O driver
Econômico que está fortemente ligado ao regulatório, pois é determinado pela consistência da
regulação do setor; o driver físico que é circunscrito a diversidade de oferta da matriz elétrica, que
é capaz de garantir segurança da oferta e ao mesmo tempo evitar emissão de CO2, com modicidade
tarifária e, por fim o driver tecnológico que se refere aos modelos e programas computacionais que
tem a função de diagnosticar, dentro da séries históricas, as probabilidades de despacho das fontes
energéticas disponíveis para garantir a segurança da oferta de energia elétrica.
A grande questão do setor elétrico Brasileiro, como aponta Júnior (2016), Leite (2014) e
Rockmann (2021) é que a reforma do setor elétrico que aconteceu nos anos de 1990, priorizou a
venda dos seus ativos, sem fazer uma rigorosa discussão sobre os fundamentos do setor que é
hidrotérmico e este, acabou recebendo um formato que priorizou os fundamentos de um sistema
energético térmico (permanente) que não é a característica do brasileiro que é hidráulico
(intermitente), bem como, o setor elétrico, na constituição de 1988, perdeu os seus dispositivos
legais que davam sustentação ao financiamento da indústria energética nacional, ficando à mercê
das tarifas dos consumidores, das taxas de juros praticadas pelo mercado e do imposto sobre
circulação de mercadoria – ICMS para sustentar o investimento, abdicando constitucionalmente da
dimensão estratégica do setor elétrico para o país.

4. Comparativo entre a crise de oferta de energia em 2001 e 2021

4.1. O driver físico

Atualmente, como mostra o Gráfico 05, a matriz elétrica nacional é muito diferente da que
existia em 2001, pois neste ano, ela era pouco diversificada, concentrando-se na geração
hidroelétrica, com 94,1% da potência instalada, seguida pela geração térmica com 15,7%. Em 2001,
não existia geração eólica ou solar no Brasil, digna de nota. Em 2020, o cenário é outro, pois há
26% de fonte Térmica, 10% de fonte Eólica e 2% de Solar e a participação da geração hidroelétrica
caiu para 71% da potência instalada.
A situação do driver físico em 2021 no Brasil está novamente diante de uma grave crise hídrica,
pois entre setembro de 2020 e junho de 2021, teve-se a pior incidência de chuvas dos últimos 91
anos. A seca, em especial nas bacias das regiões Sudeste e Centro-Oeste, tem sido persistentes e
gerado problemas em vários setores da economia. De acordo com os dados do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios das hidroelétricas dessas regiões fecharam junho de
2021 com nível médio de armazenamento muito baixo para o fim do período de chuvas. Esse é o
segundo pior nível de armazenamento da série histórica de medições pelo INPE. O patamar atual
dos reservatórios das duas regiões se encontra abaixo do verificado no em 2020 e eles representam
cerca de 70% da capacidade de armazenamento do país e que são a “caixa d’água” de sistema
elétrico nacional e, se não forem tomadas medidas adequadas na gestão dos recursos hídricos, a
previsão é que 7,9% de energia hidráulica armazenada até o fim do ano de 2021, como demostrado
no Gráfico 05.
Quando observamos o Gráfico 05, os dados de geração por Fonte de Energia em 20 anos –
2000 a 2020, vemos que a Energia Hidráulica que em 2000 participava com 94,01% na Matriz
Elétrica, em 2020 o seu percentual caiu para 71,1%, como, reduzindo nossa dependência da fonte
hidráulica. As Térmicas que tinham uma participação anêmica na Matriz de 4,3%, subiu sua
participação para 15,7%. A Nuclear que ofertava 1,7% em 2000, em passou a participar com 2,4%.
A Eólica e a Solar que não tinham nenhuma participação, em 2001, passaram a contribuir em 2020
com 9,8% e 1%, respectivamente.

Gráfico 05
Geração por Fonte de Energia em 20 anos em %

Fonte: ONS.
Quando verificamos, na Gráfico 06, os dados sobre geração de energia por Região em 20 anos,
com dados de 2020, observa-se que a geração no Sudeste e Centro Oeste, caíram de 66,56% para
57%; o Nordeste subiu de 14% para 17,9%; o Norte saltou de 7,68% para 10,4% e o Sul caiu de
11,76% para 10,4%.

Gráfico 06
Geração por região em 20 anos em %

Fonte: ONS

Observe, no Gráfico 07, que há na matriz elétrica brasileira, uma queda acentuada da fonte
hidráulica e um aumento da participação da fonte térmica a partir de 2012, na oferta da energia
elétrica no país, devido à contínua escassez de oferta de energia elétrica.

Gráfico 07
Peso das Térmica em Relação à Hídrica
Participação na Geração de Energia no Brasil no Mês de Junho

Fonte: ONS
A transmissão é um segundo fator importante na evolução nos últimos 20 anos, pois foi
significativa a expansão das linhas de transmissão que desde o racionamento 2001/2002, mais que
dobraram a sua implantação. Como houve um aumento significativo na integração das linhas de
transmissão que, em 2000 eram de 62,6 mil quilômetros, em 2020, as linhas de transmissão saltaram
para 147,7 mil quilômetros e, esta expansão, contribui fortemente para o equilíbrio da oferta de
energia hidráulica e eólica entre as regiões através da transmissão, mitigando o risco de apagões,
blecautes e racionamento, como registra o Gráfico 08.

Gráfico 08
Evolução das Linhas de Transmissão em Mil Km

Fonte: ONS

Por fim, quando se monitora o nível dos reservatórios por região, observa-se que a região Norte
possui 83,29%, mas sua participação na oferta para o SIN é de 5,2%; o Sul que está com seus
reservatórios com 61,45%, contribui com SIN, com 6,9%; O Nordeste que está com os seus
reservatórios 60,15, participa com uma oferta de 17,8 % para o SIN. Por fim as Regiões Sudeste e
Centro Oeste que estão com 29,83% nos seus reservatórios, participam com a oferta de 70,1 %, para
o SIN, causando preocupação no Organizador Nacional do Sistema – ONS, quanto a garantia de
abastecimento de energia nos meses secos do ano (Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro). Por
isso a Agência Nacional de Energia Elétrica vem sinalização, via preços, o aumento do valor das
bandeiras tarifárias amarela e vermelha, porque o ONS estima que em 30/11/2021, 7,9% será o
nível dos reservatórios da Região Sudeste e Centro Oeste, muito abaixo da crise hídrica de 2001,
quando estes reservatórios estavam, com 23,2 de sua capacidade de armazenamento e, em 2014,
com 15,8 %, demonstrando uma situação de atenção, mesmo com a matriz elétrica nacional, mas
diversificada. Lembrando que as bandeiras tarifárias (Verde, Amarela e Vermelha) que entraram
em vigor em 2015, é um indicador que cumprem a função de sinalizar, através dos preços, a situação
da oferta de energia elétrica aos consumidores, conforme Landau (2018) e que indicam se haverá
ou não acréscimo no valor da energia a ser repassada ao consumidor final, em função das condições
de geração de eletricidade.
Quadro 01
A Situação do Armazenamento dos reservatórios em e o Peso dos Subsistema no Total
Região Situação dos Reservatórios Peso do Subsistema no Total
Sudeste/Centro-Oeste 29,83 % 70,1%
Sul 61,45 % 6,9 %
Nordeste 60,15 % 17,8 %
Norte 83,29 % 5,2
Fonte: ONS/22/06/21

Conclui-se que necessário diversificar a oferta de fontes energéticas na matriz elétrica nacional,
mantendo os esforços para esta diversificação, diminuindo a dependência da geração hidrelétrica e
procurando alternativas com custos competitivos, para além da fonte térmica. No entanto o que está
ocorrendo é um aumento da fonte térmica, para garantir a segurança do fornecimento em 2001 e para
encher os reservatórios em 2022.

Crise do Fornecimento de Energia Elétrica no Brasil


Semelhança e Diferenças entre 2001 e 2021

Driver 2001 2021

1. Dependência da fonte hidráulica 1. Diversificação da matriz elétrica:


de energia; hidráulica, eólica e solar, com
crescimento da fonte térmica;

2. Falta de chuva para abastecer os 4. Falta de chuva para abastecer os


Físico
reservatórios das hidrelétricas; reservatórios das hidrelétricas;

3. Rede de transmissão pequena 2. Expansão da rede de transmissão.


para interligar o Sistema Elétrico
Nacional.

4.2. Driver político

A gestão da crise em 2021, apesar dos avanços na diversificação na geração e na transmissão,


a situação atual do nível dos reservatórios, no início do período seco é crítico e causando
preocupação, sendo necessário aprender com a crise energética de 2001 e, o seu principal
ensinamento está relacionado ao esforço de coordenação, governança e gestão dos problemas, com
vistas mitigação dos seus impactos.
A criação da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), estruturada para administrar a
crise em um ambiente multisetorial, envolvendo vários órgãos do governo e a sociedade civil, foi
uma experiência bem-sucedida em 2001. Outro ensinamento relevante de 2001 foi a transparência
a todo processo de enfrentamento da crise, com um mecanismo hábil de comunicação com a
sociedade das ações propostas pela Câmara da Crise. A transparência permitiu que a sociedade
compreender a gravidade do problema e se engajasse na solução, em especial no que diz respeito
às desagradáveis consequências de um racionamento, que se espera, não seja necessário agora. A
gestão da crise em 2021, através da Medida Provisória editada pelo governo seguiu o exemplo do
passado, criando a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg), através da
Medida Provisória - MP 1.055/2021 e, uma de suas atribuições é definir diretrizes para fixar limites
de uso, armazenamento e vazão das usinas hidroelétricas e está faltando transparência, na condução
do enfrentamento para com a sociedade, pois o governo vem sustentado, que não haverá
racionamento, optando por adicionar energia térmica à matriz, encarecendo o custo da energia
Robson Braga de Andrade (05/08/2021). Já Cortiso (2021) afirma que a crise elétrica não é
consequência de fenômenos naturais periódicos, mas de um grave erro na operação do sistema, que
negligenciou os efeitos das mudanças climáticas associada ao aquecimento global nas vazões dos
rios brasileiros. Em decorrência dessa negligência, os reservatórios das hidrelétricas do sistema
ficaram muito baixos por vários anos e, assim, foi apenas uma questão de tempo até chegar
Zylberstajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural – ANP diz que
os reservatórios têm diminuído desde 2012, quando a Medida Provisória Nº 579/2012, propôs
redução da conta de energia, o que levou ao aumento do uso dos reservatórios e a água que acabou
entrando nos reservatórios desde então, não foi suficiente para recuperar os níveis dos reservatórios
da região Sudeste/Centro-Oeste. Já Rockmann sustenta que a capacidade de gestão do governo em
administrar o uso múltiplo da água (energia, transporte hidroviário, turismo e agronegócio) vai ser
essencial em referência à disputa pelo uso da água, como registra Passarelli (14/07/2021).

Crise do Fornecimento de Energia Elétrica no Brasil


Semelhança e Diferenças entre 2001 e 2021
Driver 2001 2021

1. Câmara de Gestão da Crise de 1. Câmara de Regras Excepcionais


Energia Elétrica – GCE. para Gestão Hidroenergética -
Creg.

2. Transparência em nas fases do 2. Falta de Transparência na


processo de enfrentamento da condução da crise, com uma
crise, com um mecanismo hábil comunicação junto à sociedade
de comunicação à sociedade das das ações propostas.
ações propostas.
Político
3. Bônus para os consumidores que 3. Aumento da fonte térmica na
reduzissem seu consumo de matriz energética e
energia. encarecimento da energia.

4. Desafio da gestão hídrica entre os


múltiplos usos da água: energia,
transporte, turismo e
agronegócio.

4.3. Driver regulatório

Landau (2018), sustenta que a reforma do setor elétrico desenhado nos anos de 1990,
nunca foi concluído, primeiro porque o Governo Federal à época decidiu pela desestatização
dos ativos por meio de sua inclusão no Plano Nacional de Desestatização - PND, antes de
ser definida a reforma institucional que pudesse sustentar o novo modelo e em segundo
lugar, as resistências políticas ao processo de privatização eram grandes, gerando
instabilidade no processo de venda das empresas.
Kelman (2018), aprofunda este debate regulatório afirmando que antes de 1998, a expansão
da geração obedecia a uma lógica de planejamento centralizado e a oferta de energia deveria ser
continuamente aumentada para acompanhar o crescimento da demanda energética, basicamente por
investimentos das empresas estatais com o objetivos de manter com até 5% a probabilidade de
algum racionamento em cada ano, mas que a partir e 1998, com a implementação de uma nova
convenção no setor elétrico brasileiro, a expansão da geração passou a depender principalmente da
celebração de contratos bilaterais de compra e venda de energia entre as empresas distribuidoras
ou os consumidores livres com as empresas geradoras e ele sustenta que a partir de 1999, todos os
contratos ente geradores e distribuidores foram substituídos p por novos contratos que cobriram
praticamente 100% dos requisitos das distribuidoras no período 1999-2001 e como os requisitos
energéticos estavam 100% cobertos por contratos, as distribuidoras não tiveram o incentivos para
promover a expansão da oferta de energia e, as energias asseguradas que respaldaram os contratos
iniciais foram superdimensionada, resultando numa sinalização equivocada para a contratação de
nova geração.
Com o objetivo de incentivar a construção de novas usinas para oferta de energia, a nova
regulamentação a partir de 1988, exigia que a energia e a potência contratada tivessem respaldo de
uma geração física capaz de assegurar ao oferta de energia, mas a exigência deste respaldo físico,
não foi observado impedindo que a energia fosse contrata na transição dentro do novo marco
regulatório setorial, pois a garantia da oferta existente era insuficiente, mas o consumo previsto das
distribuidoras estava integralmente contratado nos três primeiro anos da vigência do novo modelo
setorial.
Portanto, a primeira reforma do setor elétrico dos anos 1990 confiou em um mecanismo para
sua expansão da geração que não funcionou porque os lastros das usinas existentes haviam sido na
partida superavaliados, produzindo mais energia elétrica do que poderia fazê-lo de forma
sustentável e os reservatórios esvaziaram.
A segunda reforma do setor elétrico, realizada em 2004, concebida para corrigir os problemas
que causaram o racionamento de 2001, reestabelecendo o planejamento governamental de longo
prazo, instituindo os leilões de venda de energia a longo prazo, com lastros devidamente certificados
pelo governo, conforme a Lei nº 10.848.2004.
É esta instabilidade na regulação do setor elétrico nacional que desestimula o
investimento no setor.

Crise do Fornecimento de Energia Elétrica no Brasil


Semelhança e Diferenças entre 2001 e 2021
Driver 2001 2021

1. Início do novo marco regulatório 1. Novo marco regulatório a partir


em 1998, com ênfase na de 2004, com ênfase na gestão
privatização não concluído; governamental;

2. Exigência de garantias físicas não 2. Contração da geração de energia


observadas os contratos através de leilões de energia;
Regulatório
bilaterais;

3. Estímulo às novas fontes de 3. Estímulo às novas fontes de


energia: térmica, eólica, solar e energia: térmica, eólica, solar e
biomassa; biomassa;
4. Novo marco regulatório a partir 4. Estímulo à privatização do setor
de 2004, com ênfase na gestão elétrico: empresas de energia
governamental. estaduais e Eletrobras.

4.4. Driver econômico

O driver econômico, principalmente a variável investimento é determinado pelo driver


regulatório, pois o setor elétrico depende muito dos marcos regulatórios, pois este setor é intensivo
em capital e sua maturação e retorno acontece em médio e longo prazo, por isso Sales (2018)
sustenta que o que afugenta os investidores são as incertezas decorrente de indefinições regulatórias.
A reestruturação do setor elétrico dos anos de 1990, que seguiu a orientação da Constituição
de 1988, tinha por objetivo atrair investimento privados e ampliar a proporção da utilização da fonte
térmica na matriz elétrica e este foi uma das variáveis que paralisou o investimento em térmicas
pois, além da definição inapropriada dos lastros de garantia física das hidroelétricas estarem
superestimada, como sustentou Kelman, este fato inibiu os investidores em fonte térmica, bem
como às distribuidoras não terem segurança de repassar os custos desses contratos ás tarifas,
contraindo assim, seus investimentos.
Observe no Gráfico 09, que mostra que a tarifa média de energia residencial em KWh, a partir
de 2005, subiu verticalmente a partir de 2013, quando o KWh era de R$284,76, saltando para R$
579,28 em 2020, dobrando de preço, em oito anos.

Gráfico 09
Evolução da Tarifa Média da Classe Residencial 2005 a 2020 em R$/KWh

Fonte: MME.

O MME (2020) registra que a partir de 2013 a tarifa de energia elétrica em tendência de aumento
considerável e que em 5 anos (2013-2017), o valor cresceu cerca de 78% e esse cenário se explica por
uma conjuntura de três fatores, sendo que o primeiro foi que no início de 2013 houve a publicação da
Lei nº 12.783, que condicionou a renovação das concessões de geração que estariam para vencer nos
próximos anos. Os concessionários que aceitassem a condição de que o valor da energia gerada fosse
estipulado pela Aneel, seus contratos de concessão seriam renovados antecipadamente em 30 anos e, os
que não aceitassem estas condições, permaneceriam com os contratos de concessão vigentes até a data
de vencimento, quando então as concessões seriam relicitadas. Ocorreu que, os contratos de compra e
venda de energia elétrica firmados entre os geradores e as concessionárias de distribuição, em ambiente
regulado, encerravam-se antes do término de vigência dos contratos de concessão de geração e, como
alguns geradores não aceitaram as condições propostas por meio da Lei nº 12.783, parte da energia que
estava contratada no ambiente regulado tornou-se disponível para os geradores contratarem livremente.
Dessa forma, boa parte da energia que estava contratada em ambiente regulado continuou com as
distribuidoras por meio de cotas, mas o montante relativo aos geradores que não aceitaram as condições
gerou uma exposição ao mercado de curto prazo para algumas distribuidoras.
Unido a esse fator, um segundo foi que o Brasil passou por um período de escassez hidrológica, o
que elevou o valor dos preços de curto prazo, fazendo com que as distribuidoras arcassem com valores
altos na aquisição da energia elétrica para atenderem seus mercados e esses valores foram repassados às
tarifas finais.
O terceiro foi o despacho de termelétricas para que houvesse uma economia de água nos
reservatórios das usinas hidroelétricas, sendo necessária uma revisão tarifária extraordinária para que as
distribuidoras pudessem arcar com o elevado valor do custo variável das térmicas e, para fazer frente a
todos esses custos foi criada a Conta ACR, que recebeu desde 2014 recursos arrecadados nas tarifas dos
consumidores para pagar aos empréstimos financeiros tomados pela CCEE nos anos de 2014 e 2015, no
total de 21,75 bilhões de reais e, a última parcela dessa conta foi paga em setembro de 2019.
O quarto fator foi a elevação das despesas da Conta de Desenvolvimento Energético – CDE que só
em 2013, recebeu recursos do Tesouro Nacional para cobrir os custos dos subsídios, mas que a partir de
2015, esses aportes não mais foram alocados à CDE pelo Governo Federal, mas transferiu-se o valor às
tarifas cobradas dos consumidores finais.
Todos estes quatro fatores juntos foram determinantes que fizeram as tarifas de energia
verticalizarem tanto, passando de R$ 284, 67 em 2013 para R$ 579,28 em 2020.
As Bandeiras tarifárias são outra diferença na comparação da crise de 2001 com 2021. A
partir de 2015 foi criado o sistema de cobrança por meio de bandeiras tarifárias, implantado pela
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com o objetivo de repassar ao consumidor de forma
transparente, os custos adicionais causados pela necessidade de acionamento das termelétricas.
Reforçando que as bandeiras tarifárias têm como objetivo emitir um sinal econômico de aumento
de preço nos períodos de crise, visando a diminuição do consumo de energia, com o aumento da
tarifa a cada consumo de 100 kws, nas bandeiras amarela e vermelha, como enfatiza Landau (2018).

Figura 01
Histórico das Bandeiras Tarifáricas de 2015 a 2021

Fonte: Aneel.
Se as cores e os preços das tarifas das bandeiras têm como objetivo emitir um sinal econômico
de aumento de preço nos períodos de crise hídrica, visando a diminuição do consumo de energia,
com o aumento da tarifa a cada 100 khw de consumo de energia, observe pela Figura 01 que os
sinais emitidos pelo órgão responsável é totalmente desconexo do vem que acontecendo no setor
elétrico, tanto no que diz respeitos aos reservatórios cada vez mais baixo, com o preço da energia
elétrica subindo acentuadamente, devido a incorporação à matriz elétrica da fonte termoelétrica,
como sustenta o Ministério de Minas e Energia, que é a mais cara das fontes que alimentam a Matriz
do Sistema Nacional de Energia Elétrica. Observe na Figura 01, no ano que antecede a crise 2021
e que já era de conhecimento dos órgãos governamentais, a bandeira foi toda verde, sinalizando que
a segurança de oferta de energia seria adequada, em 2020/2021.
Por fim, com o aumento do custo de energia, devido a utilização da fonte térmica e o aumento
da bandeira tarifaria vermelha, o custo de energia tem refletido no índice de preço ao Consumidor
Amplo/ IPCA, como mostra a Tabela 01, e o Banco Central do Brasil, passou a acompanhar este
componente da inflação, mais e perto. Na tabela 01, pode-se observar que se em janeiro de 2021 o
peso da inflação de energia era de 2,86% para o índice de 4.56% do IPCA, em Agosto do mesmo
ano o peso da Inflação de Energia é 21,08% do IPCA que registrou 9,68.

Tabela 01
Variação da Energia em Relação ao IPCA Acumulada em 12 Meses, em %

Fonte: IBGE

O próprio Banco Central – BC trabalha com a ocorrência de bandeira vermelha para os anos de
2021/2022 e, no Relatório Trimestral de Inflação de Junho, o BC prevê influência da situação hídrica
no preço da energia com reflexos até 2023, traduzindo a sua preocupação com a inflação uma vez que
o Ministério de Minas e Energia tem sido enfático em rejeitar risco de racionamento, acionando às
termoelétricas para evitar o apagão da energia elétrica.
Devido a este cenário, o BC passou a ser atualizado por representantes do setor elétrico sobre as
implicações da crise hídrica e a atenção dada pela autoridade monetária é devido o efeito inflacionário
provocado pela alta nas contas de luz, com o acionamento à plena carga das termoelétricas. em um
momento em que a trajetória de preços já está fortemente pressionada. O Comitê de Política Monetária
- Copom pontuou, na última ata, que as “implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas
de energia elétrica” têm ajudado a manter “a inflação elevada” no curto prazo, ressaltando no seu
Relatório Trimestral de Inflação - RTI de junho que, os impactos da “situação hídrica” sobre o preço
da energia como risco para a inflação projetada no cenário central, vai até 2023. “Ressalta-se que a
inflação dos anos calendário de 2021, 2022 e 2023 será afetada de forma significativa pela bandeira
de energia elétrica que se verificará em dezembro de cada ano” e concluiu que “eventuais implicações
da crise hídrica” fazem parte dos fatores que “podem atenuar o ritmo de recuperação da atividade”,
como bem registrou Bitencourt;Taiar, (23/07/2021).
Crise do Fornecimento de Energia Elétrica no Brasil
Semelhança e Diferenças entre 2001 e 2021
Driver 2001 2021

1. Falta de investimento devido à 1. Aumento devido a inconsistência


incompletude da reforma do setor da Lei nº 12.783;
elétrico;

2. Fata de investimento, devido às 2. Escassez hidrológica, elevando o


garantias físicas das valor dos preços da energia de
hidroelétricas terem sido curto prazo, com o aumento do
Econômico superestimada. despacho das termoelétrica;

3. Transferência do tesouro nacional


para as tarifas finais das
contribuições a CDE;

4. Aumento da utilização da
Bandeiras Tarifária Vermelha.

4.5. Driver Tecnológico

É unanimidade que o modelo computacional que define o despacho das usinas para o
atendimento à demanda tem uma grande dificuldade de enxergar cenários adversos de chuvas e
rapidamente convergem para projeções dentro da média, o que mostra no gráfico acima. Tanto é
unanimidade, que estão em discussão alterações nos parâmetros e nas metodologias de projeção de
chuvas desses modelos. Já Cortiso (2001) é enfático em registrar que crise atual deixou evidente o
SIN vem sendo operado de forma temerária no seu modelo computacional e que o Ministério de
Minas e Energia publicou a Portaria nº 520/01/06/21, abrindo consulta pública para rever o
planejamento da operação do sistema, visando à elevação do nível de armazenamento dos
reservatórios. Ele afirma ainda que o Newave, precisa de alterações em seus parâmetros técnicos
que o levam às distorções que se encontram na hipótese obsoleta de estacionariedade das vazões
afluentes no sistema, já que as alterações climática alteraram o regime hidrológico nacional, porém
há controvérsia e houve mesmo esta alteração, devido à escassez hídrica brasileira ocorrer
sistematicamente, como mostra o Gráfico 04.
Veiga (2018), alertou o Governo federal de que o esvaziamento acelerado dos reservatórios
em 2012 eram semelhantes à situação em 2010, pois o desempenho real do sistema hidroelétrico
era muito pior do que o representado nos modelos computacionais utilizados pela ONS.
Santana, reforça a tese de Cortiso de que os modelos matemáticos que determinam o
quanto cada usina produzirá avaliou que a situação hídrica confortável e o volume de utilização
das termelétricas para ser despachado era de apenas 6 GW médios, autorizando a retirada de
mais água dos reservatórios do seria recomendado racionalmente, sendo este a raiz do problema
que se repete há 15 anos. Ele registra ainda que pelo fato d’água não ser valorizada
adequadamente, ela é mal utilizada e, esse problema já foi identificado pela Aneel entre 2006 e
2007, onde foi determinado a contratação um novo modelo de otimização que acabou não
acontecendo e em 2021, a situação é a mesma. Ironicamente ele diz que o cidadão comum
reconhece os efeitos da escassez de água, mas o modelo matemático continua a sinalizar um
preço irreal, a desobrigar o despacho de mais térmicas desde de 2007, como sustenta Santana
(02/06/2021).
Como se pode observar no Gráfico 10, houve um deslocamento da linha de produção de
energia Hidráulica em relação a Capacidade Instalada de Geração Hidrelétrica.

Gráfico 10
Geração Hidroelétrica Versus Capacidade Instalada de Geração Hidrelétrica

Fonte:Cortiso. http://www.sergio.cortizo.nom.br/

Como se observa no gráfico 10, a Geração hidrelétrica do SIN, comparada com o aumento da
capacidade instalada de geração hidrelétrica do sistema, verifica-se que a capacidade de geração
hidrelétrica real, linha azul, eixo vertical da esquerda, se descolou da capacidade instalada de geração
hidrelétrica do sistema, linha vermelha, eixo vertical da direita, isto é, houve um aumento significativo
da capacidade instalada de geração hidrelétrica entre 2012 e 2020, com a entrada em operação de novas
usinas, mas esta capacidade instalada não se traduziu em uma maior geração efetiva, como era esperado.
Nesse contexto, o fato de a geração média estar hoje no mesmo patamar de 2012 indica uma redução
progressiva da água que tem chegado às usinas hidrelétricas.
Para Zylberstajn, o distanciamento desta duas variáveis, registrado por Passarelli (14/07/21),
reforçando a tese de Cortiso ocorreu por quatro fatores, sendo o primeiro a falta de chuvas, pois os
reservatórios vêm diminuído desde 2012; o segundo, pela emissão da Medida Provisória Nº 579
decidiu baixar a conta de luz, forçando a utilização dos reservatórios para geração de energia e desde
então, não entrou água nas hidrelétricas o suficiente para recuperar os níveis dos mesmos e, os
reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade de geração de
energia hidrelétrica do país, estão deficitários; o terceiro fator é que cerca de 40% da água disponível
no país é utilizada para a agricultura irrigada e, o quarto, o desmatamento no Cerrado está destruindo
as nascentes que formam a bacia do Rio Paraná, afetando a relação entre meio ambiente e produção
de energia hidráulica.
Crise do Fornecimento de Energia Elétrica no Brasil
Semelhança e Diferenças entre 2001 e 2021
Drivers 2001 2021
1. Início das novas tecnologias 1. Consolidação das tecnologias
geradoras de energia; geradoras de energia;

2. Modelo computacional do ONS 2. Modelo computacional do ONS é


ainda não foi questionado se o questionado se reflete a realidade
Tecnológico mesmo representa adequadamente dos lastros energéticos;
os lastros energéticos disponíveis.
3. Identificação de que o do modelo
computacional do ONS não traduz
os lastros energéticos reais.

5. Ações dos governos para enfrentar a crise em 2001 e 2021

A partir de outubro de 2020, no início do período de chuvas (Dezembro), órgãos técnicos


do governo que já previam uma “degradação dos volumes armazenados” nos reservatórios das
usinas, sobretudo nas regiões sudeste, centro-oeste e Sul do país e, para aliviar a pressão sobre as
hidrelétricas, o autorizaram o acionamento de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes
por operarem com queima de gás e carvão. Desde então, o fornecimento de energia termelétrica
foi ampliado em diversas ocasiões, inclusive com regras mais flexíveis para contratação de usinas
térmicas a partir de maio de 2021 e, a diminuição da vazão de água nas usinas hidrelétricas, é uma
forma aumentar o controle sobre o armazenamento hídrico. A medida foi adotada primeiro na região
do Rio Paraná, uma das mais atingidas pela crise e depois em outras usinas do sistema
Sudeste/Centro-Oeste.
Outra ação governamental é o programa de Redução Voluntária de Demanda de Energia
Elétrica, onde com objetivo nos grandes consumidores de energia, principalmente as empresas, que
se comprometerem a reduzir o consumo de 20 a 35 megawatts por dia, para estimular a adesão ao
racionamento, o governo dará uma compensação financeira às empresas. As companhias devem
informar a quantidade de energia que planejam economizar e quanto querem receber por isso. Além
disso, o Ministério de Minas e Energia anunciou que irá lançar em setembro um programa de
descontos para residências e pequenos comércios que reduzirem o consumo elétrico. A medida não
foi detalhada.
Em outubro de 2020, junto com o acionamento de usinas termelétricas, o governo autorizou
a importação de energia elétrica da Argentina e do Uruguai e a importação de energia destes
parceiros sul americanos foi ampliada a partir de 2021 para garantir o abastecimento no Brasil.
As bandeiras tarifárias, que são sobretaxas cobradas sobre as tarifas em tempos de produção
mais cara de energia, foram acionadas na crise em dezembro de 2020 e novamente a partir do mês
de junho foram reajustadas novamente, encarecendo ainda mais a conta de luz, com a perspectiva
de novos ajustes durante o ano de 2021.
O Governo está estudando a ampliação da migração para o mercado livre (consumidores que
podem escolher a sua distribuidora de energia) para consumidores que atualmente não se enquadram
nesse mercado, pois estão no mercado regulado ou cativo (que são os consumidores que não podem
escolher a sua distribuidora de energia) desde que que estes reduzam o seu consumo diário.
O Governo determinou que os prédios públicos federais economizem entre 10% e 20% de
energia elétrica e esta medida vale entre setembro de 2021 e abril de 2022.
O Governo federal, através do seus órgãos responsáveis pelo setor energético vem
construindo campanhas de redução de consumo e racionalização, mas as entidades que representam
o setor vêm este desenho de racionalização de energia para tentar frear o risco de racionamento,
muito tímido, pois enfatizar o racionamento que consiste na redução compulsória do consumo, pode
causar danos políticos ao governo, por não conseguir gerenciar a entrega de um insumo necessário
a atividade econômica e à vida dos cidadãos.
Apesar das medidas adotadas e descrita acima, o Operador Nacional do Sistema Elétrico -
ONS, do qual participam agentes públicos e privados do setor, mantém os alertas de que sem
maiores reduções de consumo ou aumentos na produção, haverá um déficit de energia elétrica no
Brasil entre outubro e novembro de 2021, ou seja, há risco de falta de oferta de energia, mesmo
com ações desenvolvidas e descritas acima e sustentando que não trabalha com a hipótese de adotar
racionamento.

5. Conclusões sobre e as recomendações para o Brasil voltar a ter segurança no


fornecimento energético.

A crise de energia no Brasil tem como pano de fundo a pior escassez de chuvas no país em
90 anos, onde os reservatórios das usinas hidrelétricas, que são a principal fonte da matriz
energética brasileira estão em níveis historicamente baixos e os reservatórios das regiões Sudeste e
Centro-Oeste, onde ficam as usinas responsáveis pela maior parte da geração hidrelétrica do Brasil,
terminaram o período seco 2021 em níveis críticos.
Como se pode observar ao longo deste paper, a matriz de resolução da crise de oferta de
energia no Brasil em 2021 tem sido aumentar a oferta de energia térmica e portanto, aumentando
custo da energia elétrica no Brasil, em um momento de aumento generalizado de preços, devido
escassez de vários insumos no mercado, contribuindo assim, para impactar na taxa de inflação no
país.
Se há, em comparação a crise de 2001 melhorias no Sistema Elétrico Brasileiro - SEB, como
descrito acima, como a taxa de menor dependência da fonte hídrica, aumento das fontes renováveis
(Eólica, Solar e Biomassa); duplicação das linhas de transmissão para garantir uma maior
sustentabilidade entre as regiões brasileira na oferta de energia, falta dois elementos importantes
planejamento e regulação no sistema elétrico brasileiro.
Por fim, observando as recomendações do relatório de infraestrutura e partindo da
premissa de que o setor de energia elétrica é essencial à atividade e a competitividade da
economia, a disponibilidade de fontes renováveis no Brasil constitui uma enorme vantagem em
termos de custo de sistema e de impacto ambiental da sua operação, mas esta vantagem é
frequentemente desperdiçada por falta de planejamento adequado e por intervenções
discricionárias mal formuladas, levando a um alto custo de energia na ponta que é incompatível
com a dotação natural do país.
O diagnóstico do setor elétrico, elaborado pelo fórum de infraestrutura revela três
problemas principais, sendo o primeiro a excessiva interferência estatal; o segundo, fontes
intermitentes sem alocação de custos, que não são refletidos nos valores da energia e, o terceiro
é o déficit de geração hidrelétrica por usinas antigas.
Portanto o fórum sugere três grandes linhas de ação para solucionar os gargalos do setor
sendo o primeiro, a diminuição da insegurança jurídica no setor, o segundo é o estimulo a
participação privada na cadeia da indústria elétrica combinado com uma regulação de
titularidade nacional. O terceiro é qualificar o debate sobre a matriz elétrica nacional,
considerando todos os seus custos, benefícios e externalidades de cada fonte na expansão do
parque gerador, inclusive a distância entre geração e consumo, avaliando os eventuais
subsídios, de modo a perseguir uma matriz elétrica sustentável e de menor custo de
investimento e de operação, pois os custos da intermitência precisam ser transparentes aos
consumidores e à sociedade como um todo. Por fim, rever as garantias físicas das usinas e,
para que medidas de Estado sejam tomadas, é preciso que as garantias físicas das usinas sejam
revistas de forma a refletir corretamente sua capacidade de geração.
Conclui-se que uma combinação mais efetiva entre sinais de mercado e regulação
efetiva poderia converter o setor elétrico em uma poderosa base para que o Brasil se estabeleça
como potência econômica, melhor aproveitando suas dotações naturais na exploração de
grandes vantagens competitivas.

6. Referências

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05/08/2021
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Cesar Gaglioni. Chuvas de primavera, projeções para a crise hídrica. Nexo: 22/09/21).
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Mercado Brasileiro de Energia Elétrica. São Paulo: CCEE. 1ª Ed. 2019. 236 p. (pags: 160-167).
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