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CHARLYS MILA TEIXEIRA VIEIRA

HOMEM, TRABALHO E CENA

Pesquisa sobre como a relação homem e trabalho é desenvolvida na


dramaturgia

Projeto realizado com recursos do Prêmio Nelson Seixas 2021


Lei Municipal nº 9.440, de 09 de maio de 2005
HOMEM, TRABALHO E CENA: COMO A RELAÇÃO HOMEM E TRABALHO
É DESENVOLVIDA NA DRAMATURGIA

Charlys Mila Teixeira Vieira

Resumo da Pesquisa: Tendo como pontos de partida as questões sociais


abordadas na obra “Dois perdidos numa noite suja” (Plinio Marcos, 1966) e as
teorias político filosóficas contidas nos ensaios “Manuscritos econômico-
filosóficos” (Karl Marx, 1932) esse artigo pretende pesquisar a relação das
teorias políticas de Marx sobre homem/trabalho vistas na dramaturgia de Plinio
Marcos e evidenciar a influência do sistema capitalista na relação das
personagens de “Dois perdidos numa noite suja” (Plinio Marcos, 1966) que por
sua vez são atingidas na sua individualidade humana, criatividade, senso crítico
e tomada de decisões.

Palavras-chave: Plinio Marcos; trabalho; dramaturgia; Karl Marx;


individualidade.
SOBRE KARL MARX
KARL MARX BIOGRAFIA
https://www.infoescola.com/biografias/karl-marx/

( ) Karl Marx nasceu em Trier, Alemanha, em 5 de maio de 1818.


Descendente de judeus, seu avô paterno, Meier Halevi Marx, foi rabino de
Trier e sua mãe, Henrietta Presburg, também judia. Porém, seu pai, Heinrich
Marx, se converteu ao cristianismo, não por acreditar na religião, mas para
continuar a exercer sua profissão, já que nessa época os judeus não tinham
liberdade para exercer todas as profissões e realizar transações comerciais.

É interessante pensar que o principal autor da causa operária nasceu em uma


família judia de classe média. A região da Alemanha em que Marx nasceu e
o contexto histórico são fundamentais para compreender sua biografia e seu
pensamento. O fato de seu pai ter que se converter ao cristianismo, as
dificuldades que os judeus viviam apenas por serem judeus, o contexto
político pré revolução e as questões filosóficas de seu tempo são aspectos
cruciais para compreender sua obra.

Em outubro de 1835, Marx entrou para a Universidade de Bonn para cursar


Direito, com 17 anos. Em 1836, o pai de Marx o transferiu para a Universidade
de Berlim. Neste mesmo ano Marx e Jenny se tornaram noivos. Tanto a
família de Jenny quanto a de Marx não foram entusiastas do casal, o que fez
com que os dois demorassem 7 anos para finalmente se casarem. A vida dos
dois foi marcada pela parceria, já que Jenny transcrevia e traduzia as obras
do marido. Os dois tiveram 7 filhos, dos quais dois faleceram de doenças
relacionadas à pobreza em que viviam.
A principal obra de Karl Marx, intitulada “O Capital” (Das Kapital), demorou
16 anos para ser finalizada. Durante este período ele e sua família viveram
períodos de grande necessidade e quase sempre foi apoiada por seu principal
amigo e colaborador, Friedrich Engels. A esposa, embora filha de um barão,
não conseguiu sustentar a numerosa família por muito tempo. E, apesar do
reconhecimento que o autor teve após sua morte, seus livros não chegaram
a fazer grande alvoroço durante a publicação.

Marx é conhecido como o fundador de uma área de conhecimento dentro das


ciências humanas. Seus trabalhos versam sobre história, filosofia, economia
e sociologia. É inegável a contribuição de Marx para a economia,
principalmente sobre a teoria do valor econômico e com o desenvolvimento
do conceitos como o de mais-valia e do fetiche da mercadoria. Para a história
a concepção materialista é considerada um divisor de águas. Pensar uma
saída para o capitalismo, buscando novas formas de produção e distribuição
econômica que igualasse os homens em suas condições materiais e sociais,
liberando-os da alienação, foi um dos maiores esforços da teoria de Marx.

(...) Karl Marx morreu em 14 de março de 1883 em Londres.

Meu primeiro contato com Marx foi no curso de Filosofia, mas outros meios
vieram a enriquecer meu conhecimento sobre o assunto. Então deixo aqui
como referência:

 Os textos e livros do Professor José Paulo Netto


 Os livros de Jorge Grespan
 E dois canais no youtube que abordam o marxismo “TEMPERO DRAG” e
“TEZE ONZE”

SOBRE PLÍNIO MARCOS

Biografia de Plínio Marcos


https://www.ebiografia.com/plinio_marcos/
Plínio Marcos (1935-1999) foi um escritor, ator e teatrólogo brasileiro. Suas
obras se destacavam pela denúncia e protesto contra as formas de
organizações sociais. Suas principais peças são "Dois Perdidos numa Noite
Suja" (1966), "Navalha na Carne" (1967), "Balbina de Iansã" (1971) e "Abajur
Lilás" (1976).

Plínio Marcos (1935-1999) nasceu em Santos, São Paulo, no dia 29 de


setembro de 1935. Filho do bancário Armando de Barros e da dona de casa
Hermínia. Completou o curso primário, mas não gostava de estudar. Era
canhoto mas foi forçado a usar a mão direita. Jogou futebol no juvenil da
Associação Atlética Portuguesa Santista. Aos 16 anos entrou para o circo para
namorar uma artista, por quem havia se apaixonado. Exerceu diversas
atividades, foi palhaço de circo, serviu a Aeronáutica e se apresentava como
humorista em programas da Rádio Atlântico e Rádio Cacique, de Santos.

Iniciou-se no teatro fazendo pequenos papéis no Teatro da Liberdade. Em


1958, foi levado por Patrícia Galvão para substituir um ator na peça Pluf, o
Fantasminha. Entrou para o Clube da Poesia do Jornal O Diário, de Santos,
onde publicava suas poesias. Assumiu a direção de várias peças. Sua primeira
peça "Barrela", apresentada em 1959, foi proibida pela censura, assim ficando
durante 21 anos.

Em 1960 foi para a cidade de São Paulo. Entrou para a Companhia Cacilda
Becker, montou várias peças. Seus personagens, quase invariavelmente, eram
mendigos, vagabundos, delinquentes, e prostitutas. Plínio usava uma
linguagem característica do submundo. Durante o regime militar, implantado
em 1964, suas obras foram muito censuradas.

Plínio Marcos participou da novela Beto Rockfeller, escreveu para os jornais


Folha de São Paulo, Última hora, Folha da Tarde e para as revistas Veja,
Pasquim, Opinião, entre outras. Escreveu vários livros. Suas obras foram
publicadas e encenadas em vários países.

Plínio Marcos de Barros morreu em São Paulo, no dia 29 de novembro de


1999.

Embora nascidos em épocas distintas, os dois autores, Marx e Plinio, já nos


mostram em seus trabalhos e sua história de vida a preocupação com as
questões sociais e o sujeito político X sujeito alienado. Podemos perceber
características semelhantes em suas filosofias de vida e nas temáticas
escolhidas em suas obras, a fim de discutir e repensar as condições humanas
renegadas socialmente, marginalizadas pelo estado e que se formos analisar
nada mais são que resultado de um capitalismo áspero e doutrinante. Questões
muito presentes na dramaturgia de Plinio em forma de acusação social.
Exposição escrachada dos problemas daqueles tidos como marginalizados. Isto
é visto na obra escolhida para a base analítica desta pesquisa: Dois perdidos
numa noite suja (1966).

Dois Perdidos Numa Noite Suja

“(...) A primeira montagem de Dois Perdidos Numa Noite Suja,

ocorre no Bar Ponto de Encontro, da Galeria Metrópole, em São

Paulo. O impacto vem, inicialmente, de sua forma

extremamente despojada: apenas dois homens conversam,

Paco (Plínio Marcos) e Tonho (Ademir Rocha), num paupérrimo

quarto de pensão, sobre a dura sobrevivência. A aspereza do

diálogo vai atingindo contornos grotescos e absurdos,

perceptíveis na briga desencadeada em torno de um par de


sapatos; o clima de desamparo e desespero crescentes levará à

agressão física e ao assassinato de Tonho. O ponto de partida

para a construção do texto veio de um conto de Alberto

Moravia, O Terror de Roma.

Defendendo sua própria criação, Plínio atinge como ator todas

as nuanças exigidas pela personagem Paco. A direção de

Benjamin Cattan é discreta, apenas um amparo para o texto

evidenciar toda a sua potência. A boa acolhida junto aos

críticos leva a montagem a ser transferida para o Teatro de

Arena, logo ganhando a adesão do público.

"Há no conflito de Dois Perdidos uma evolução crítica sobre a

dissolução das classes (...) uma linguagem emocionante,

despojada, termostática nas graduações da temperatura social

e dramática, em que a palavra sobe e desce para determinar as

situações humanas, levadas de limite em limite até o extremo

fatal e inexorável de uma realidade que condena. (...) O final da

peça é a hemorragia do câncer. Impiedoso. Cruel. Anti-

romântico.", salienta o crítico Alberto D'Aversa num de seus

comentários sobre a realização paulista". 1

Em 1967, um ano após a montagem original, uma outra

encenação, agora dirigida no Rio de Janeiro por Fauzi

Arap (1938-2013) e protagonizada por ele e Nelson

Xavier (1941), é aclamada por público e crítica. O texto é

transportado para as telas, em filme realizado por Braz Chediak

em 1970, ganhando várias remontagens no decorrer das

décadas seguintes. Em 2003, José Joffily filma um adaptação


de Paulo Halm para o texto, na qual Paco (Débora Falabella) e

Tonho (Roberto Bontempo) são dois imigrantes ilegais em Nova

York”

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento399237/dois-perdidos-numa-
noite-suja

(Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural)

Dois perdidos numa noite suja é uma obra sobre o ter, nesse caso o dinheiro.
Quem tem posses tem mais oportunidades e relações sociais pois nesse sistema
o dinheiro é determinante. A obra é de um dramaturgo que sabia o que estava
falando, falava com propriedade, Plinio conhecia bem os malandros desse
mundaréu e as figuras marginalizadas do submundo de Santos. Figuras que ele
evidenciou e expôs para nós de forma pungente e impossível de não ficar em
nossas mentes nos fazendo pensar a nossa realidade, e a realidade dessas
personagens, que sofrem com a mão pesada do sistema.

TRABALHO E CENA

A dramaturgia há muito tempo nos traz o cenário sociológico e histórico a


respeito do trabalho e da classe operaria em obras como: “ Eles não usam Black
Tie”, “ A Classe operaria vai ao Paraíso”; “Tempos modernos”; “Estou me
Guardando para Quando o Carnaval Chegar”; Obras que mostram desde o
sentimento do trabalhador fazendo parte desse sistema sócio-político-
econômico e os efeitos da exploração de sua força de trabalho que acontece de
uma forma conspícua ou extremamente velada, camuflada, a como se dão as
relações entre esses operários com suas famílias, amigos e com o mundo.

Visto isso, pretendo aqui voltar nossos olhos e nossa reflexão mais
especificamente na obra “Dois perdidos numa noite suja” onde as duas
personagens Tonho e Paco, mostram como são atingidas pelo sistema e então
marginalizadas.

A história se passa em um quarto de hospedagem de “última categoria”, com


diálogos curtos e propositalmente repetitivos e confusos mostrando um pouco
da psique das personagens e como esse sistema confunde as ideias do ser, do
indivíduo. Paco representa no texto o homem sem origem, sem raízes e
referências, ele se confunde entre maldade e insanidade e nos deixa claro a
ideia de embrutecimento e aviltamento do ser humano pelo sistema capitalista,
esse sistema que que tira a sanidade e nos faz regredir aos instintos mais
primitivos do homem. Já Tonho a segunda personagem dessa obra é um
homem do interior com raízes e referências, isso é mostrado nas falas a
respeito da casa, da mãe e do pai, ele acredita que pode sair da miséria
através do trabalho, mas que para conseguir um emprego melhor do que o
informal no mercado onde trabalha esporadicamente, ele precisa de uma
aparência melhor, de um novo par de sapatos por exemplo.

Logo no começo da história é nítida a condição dos personagens quando


nos diálogos é colocado as expectativas delas para uma vida melhor em
objetos. Paco acredita que se tivesse uma flauta nova conseguiria fazer
uns trocados e Tonho põe a necessidade de ter um par de “pisantes”
novos (sapatos), para que consiga ter mais dignidade e candidatar-se a
um emprego mais decente.

PACO: Se eu tivesse minha flauta, me mandava agora mesmo. Não ia te aturar nem
mais um pouco. Você é chato paca.

TONHO: Você pensa que eu te adoro? Se tivesse sapato já tinha me mandado.

(PACO COMEÇA A TOCAR)

TONHO: Poxa, você precisa mesmo da flauta. Na gaita, você é uma desgraça.

PACO: Sem sapatos, você não vai longe. Não vai fugir do negrão. Só vai entrar bem.
(MARCOS, 79, p.46)

Marx vai falar em suas obras sobre o fetiche da mercadoria isto é o poder que
a mercadoria tem enquanto representação, tornando se um ponto de partida
para definir o homem enquanto ser social e fazendo com que o mesmo se
movimente e se oriente pela vontade do ter, do possuir, isso no sistema
capitalista. Como esse fetiche faz o homem viver em função da mercadoria,
entramos em outro fetiche que seria uma força motora ainda maior, conhecido
como fetiche do dinheiro.

O fetiche do dinheiro seria a relação estabelecida entre o homem e seu poder


aquisitivo no mercado, ou seja, só é reconhecido como indivíduo aquele que
pode comprar. Como podemos ver acima no caso das duas personagens como
não podem comprar estão fora da sociedade, excluídos, marginalizados.
O materialismo tosco dos economistas, de considerar como qualidades naturais das coisas as
relações sociais de produção dos seres humanos e as determinações que as coisas recebem,
enquanto subsumidas a tais relações, é um idealismo igualmente tosco, um fetichismo que
atribui às coisas relações sociais como determinações que lhe são imanentes e, assim, as
mistifica. (Marx, 2011, 575)

O que podemos observar ao longo do texto é que as personagens não só estão


fora da sociedade de consumo, como pessoas com poder de compra, mas que
cada vez mais aparecem confusas e embrutecidas. Os diálogos mostram toda
essa confusão das personagens que já não se reconhecem mais como
humanas e que a medida que se passa a história elas são tomadas por raiva e
vontades como dois animais irracionais, chegando a barbárie de Tonho matar
Paco ao final do segundo ato, o fuzilando com um revolver.

TONHO: (Frio). Vou acabar com você. Mas te dou uma chance. Prefere um tiro nos cornos ou
um beliscão? Só que o beliscão vai ser no seu saco com o alicate. E, enquanto eu
aperto, você vai ter que tocar gaita. (PAUSA)

TONHO: Anda, escolhe logo. (Paco cai de joelhos)

PACO: Pelo amor de Deus, não faz isso comigo. Pelo amor de Deus... Juro... Eu juro... eu não
te encho mais o saco... Nunca mais... Pelo amor de Deus, deixa eu me arrancar... Eu... eu
juro...

TONHO: Cala a boca! Você me dá nojo

(Tonho cospe na cara de Paco. Encosta o revolver na cara de Paco e fuzila.)

TONHO: Se acabo, malandro. Se apagou. Foi pras picas.

(MARCOS, 79, p.71)


A morte de Paco não é diferente do que vemos hoje na vida real, cada vez
mais é comum em noticiários nos depararmos com barbáries do tipo. Barbáries
advindas do embrutecimento e insanidade no caso das personagens e em
muitos dos casos reais isso se deve ao medo, medo provocado nesse caso das
personagens pelo próprio sistema, pelo próprio meio que estavam inseridas.
Tonho mata Paco como um animal que mata o outro sem sentir pena ou
remorso, mostrando a condição animalesca do homem em situação de perigo
seja ele real ou não.

(Paco vai caindo devagar. Tonho fica algum tempo em silencio, depois começa a rir e vai
pegando as coisas de Paco)

TONHO: Por que você não ri agora, paspalho? Por que não ri? Eu estou estourando de rir
(toca a gaita e dança.) Até danço de alegria! Eu sou mau! Eu sou o Tonho Maluco, o Perigoso!
Mau pacas!

(pega as bugigangas e sai dançando)

(MARCOS, 79, p.71)

A brutalidade desse acontecimento final na história mostra como também


nesse sistema o valor da vida se torna insignificante. Quanto vale a vida? Uma
gaita? Um par de Sapatos? Um emprego? Nos acostumamos tanto a colocar
preço em coisas, colocar valores em meros objetos que quase sem perceber
fizemos isso também com nós mesmos e com outras pessoas. Como cita José
Arthur Giannotti no prefacio do livro Marx, na coletânea os pensadores “ (...) se
antes Ricardo era censurado como um Cínico, porque confundia homens com
chapéus, agora Marx reconhecia que tal confusão não reside na cabeça do
economista, mas provem da própria ordem das coisas do sistema capitalista”

Um fenômeno que é importante evidenciarmos aqui também é o conceito de


alienação, nos manuscritos filosóficos de 44 o Marx vai colocar o trabalho como
uma ferramenta essencial na sociabilidade do indivíduo. Para existir antes eu
preciso trabalhar, isso quando falamos de sociedade. Mas o que difere essa
capacidade no homem sendo que o animal também consegue reproduzir e
produzir seus meios de existência é que o ser humano antes de exercer tal
atividade ele vai laborar em seu pensamento como realiza-la. Um exemplo são
as abelhas que fazem suas colmeias bem planejadas porem por extinto e não
por um processo de laboração. Só que no sistema em que estamos inseridos,
o Capitalismo, faz com que essa ferramenta do homem não só produza o
essencial para a vida e existência mas produza também mercadoria para o
enriquecimento, essas mercadorias vão gerar lucro e assim enriquecer os
detentores dos meios de produção. Já o trabalhador se aparta desse produto,
do que ele mesmo produziu, ele não usa e nem consome aquilo que produz e
vai para além disso o próprio processo de produção o aliena, desumanizando o
trabalhador, tirando dessa qualquer vitalidade.

TONHO: Eu só queria um par de sapatos. Eu, às vezes, fico morto de vergonha


quando na rua olho para os pés das pessoas que passam. Todos calçam um pisante
legal. Só eu que uso essa porcaria toda furada. Isso me deixa na fossa. Chego até
pensar em me matar.

(MARCOS, 79, p.30)


A alienação é descrita por Marx sob quatro aspectos:

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/capital-trabalho-alienacao-
segundo-karl-marx.htm Capital, Trabalho e Alienação, segundo Karl
Marx

(...) 1. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que


pertence a outro. Isto tem como consequência que o produto se
consolida, perante o trabalhador, como um “poder independente”,
e que, “quanto mais o operário se esgota no trabalho, tanto mais
poderoso se torna o mundo estranho, objetivo, que ele cria
perante si, mais ele se torna pobre e menos o mundo interior lhe
pertence”;

2. A alienação do trabalhador relativamente ao produto da sua


atividade surge, ao mesmo tempo, vista do lado da atividade do
trabalhador, como alienação da atividade produtiva. Esta deixa de
ser uma manifestação essencial do homem, para ser um “trabalho
forçado”, não voluntário, mas determinado pela necessidade
externa. Por isso, o trabalho deixa de ser a “satisfação de uma
necessidade, mas apenas um meio para satisfazer necessidades
externas a ele”. O trabalho não é uma feliz confirmação de si e
desenvolvimento de uma livre energia física e espiritual, mas
antes sacrifício de si e mortificação. A consequência é uma
profunda degeneração dos modos do comportamento humano;

3. Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador aliena-


se também do gênero humano. A perversão que separa as funções
animais do resto da atividade humana e faz delas a finalidade da
vida, implica a perda completa da humanidade. A livre atividade
consciente é o caráter específico do homem; a vida produtiva é
vida “genérica”. Mas a própria vida surge no trabalho alienado
apenas como meio de vida. Além disso, a vantagem do homem
sobre o animal – isto é, o fato de o homem poder fazer de toda
natureza extra-humana o seu “corpo inorgânico” – transforma-se,
devido a esta alienação, numa desvantagem, uma vez que escapa
cada vez mais ao homem, ao operário, o seu “corpo inorgânico”,
quer como alimento do trabalho, quer como alimento imediato,
físico;

4. A consequência imediata desta alienação do trabalhador da


vida genérica, da humanidade, é a alienação do homem pelo
homem. “Em geral, a proposição de que o homem se tornou
estranho ao seu ser, enquanto pertencente a um gênero, significa
que um homem permaneceu estranho a outro homem e que,
igualmente, cada um deles se tornou estranho ao ser do homem”.
Esta alienação recíproca dos homens tem a manifestação mais
tangível na relação operário-capitalista.

E a partir dessas características e similaridades conseguimos perceber a


relação entre homem e trabalho nas obras de Plinio Marcos, e principalmente os
conceitos de fetichismo e alienação dos Manuscritos de Marx na peça Dois
Perdidos numa noite suja de Plinio. Identificando assim a relação evidenciada
por Marx entre o indivíduo e seu trabalho e todas as suas consequências sócio
políticas, tudo que é causado no homem, através da dramaturgia tão bem
elaborada por Plinio. Possível de se perceber na dramaturgia de Plinio também
como o indivíduo se torna embrutecido e o que essa relação entre o homem e o
trabalho falada por Marx causa nas suas relações interpessoais através da cena
explorada na obra de Plinio Marcos.
Considerações

Estamos perdendo assim como as personagens Paco e Tonho nossas


identidades e nossas necessidades mais profundas, o que não nos é alienado
ou estranhado é privado pelo próprio sistema de produção e pela necessidade
de poder de compra, esse fantasiosamente necessário para existir no mundo.
São perguntas importantes a se fazer para si. Eu quero? Eu preciso? Para não
cair nessa armadilha de consumismo desenfreado que nos faz cada vez mais ter
que produzir e produzir para o enriquecimento de quem já tem muito.

Através do meu oficio no teatro tenho pesquisado muito sobre o trabalho,


comecei com a fabula clássica de Esopo: A cigarra e a Formiga e passei por
muitas outras até chegar aos mundáreis de Plinio Marcos e ele escancara e
desnuda toda essa podridão de um sistema de desigualdades onde alguns tem
muito e outros o nada, a escassez. E pelo incômodo desse entendimento senti
vontade e a necessidade de compartilhar esse pensamento de alguma forma.

Espero que essa pesquisa seja só o começo de um caminho de estudos e um


olhar voltado para o assunto do homem com relação ao trabalho e tentar através
do teatro evidenciar cada vez mais essas questões que nos oprime as vezes
silenciosamente, nos causando uma enorme angustia, muitas das vezes
inominadas.
Referências, links utilizados e acessos...

KARL MARX BIOGRAFIA


https://www.infoescola.com/biografias/karl-marx/

BIOGRAFIA DE PLÍNIO MARCOS

https://www.ebiografia.com/plinio_marcos/

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento399237/dois-perdidos-numa-
noite-suja

CAPITAL, TRABALHO E ALIENAÇÃO, SEGUNDO KARL MARX

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/capital-trabalho-alienacao-
segundo-karl-marx.htm

MARCOS, Plínio. 1935-1999. Melhor Teatro - Plínio Marcos. Seleção e prefácio


Ilka Marinho Zanotto. 1 Ed. São Paulo: Global, 2003 (Coleção Melhor Teatro.
Direção Sábato Magaldi)

MARX, Karl. 1818-1883. Manuscritos econômico-filosófico e outros textos


escolhidos. Karl Marx: seleção de José Arthur Giannotti; tradução de José Carlos
Bruni . . . ( et al.) 2 Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)

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