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1 INTRODUÇÃO
No final da década de 1980, com avanços na modelagem incorporando pressupostos
de concorrência imperfeita e sua extensão para estudos realizados no campo da
economia internacional, começa a surgir uma literatura que passa a analisar
a distribuição no espaço das atividades econômicas. Este ramo da economia,
denominado Nova Geografia Econômica (NGE), entrou, nas últimas duas décadas,
por um período bastante profícuo e produtivo, com diversos resultados e pesquisas
de fôlego. Vários livros e artigos-síntese são lançados, e esta linha de pesquisa
obtém reconhecimento externo, culminando com o prêmio Nobel concedido a
Paul Krugman por sua contribuição à teoria da localização e a publicação pelo
Banco Mundial do Relatório Mundial de Desenvolvimento intitulado A Geografia
Econômica em Transformação, fortemente embasado em conclusões dos modelos
da Nova Geografia Econômica.1 A importância da pesquisa realizada e a crescente
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* Agradeço o auxílio de Pedro Henrique Albuquerque na elaboraçã o de mapas, Franklin Gamboa nas discussõ es dos
modelos da NGE e do Teorema da Impossibilidade Espacial, em especial no modelo de Starrett e aos demais colegas
da diretoria de estudos regionais, urbanos e ambientais, que participaram de debates e discussõ es ao longo do ano de
2009 e 2010. Obviamente que todos os erros e as omissõ es sã o de responsabilidade do autor.
1. Em dezembro de 2008, em seminá rio organizado pelo Ipea, Ministé rio da Integraçã o Nacional e Uniã o Europeia,
denominado Congresso Internacional de Gestã o de Políticas Regionais no Mercosul e na Uniã o Europeia, houve o
lançamento desse relató rio. Está no prelo o lançamento dos resultados desse congresso.
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críticas a esta abordagem? Ainda que existam diversas revisões de literatura sobre
o tema,2 este capítulo faz uma breve apresentação de algumas contribuições
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2. O texto de Ottaviano e Thisse (2004) é uma excelente apresentaçã o desta literatura, algumas boas revisõ es sã o
Krugman (1998; 1996), Fujita e Thisse (1996); para discussõ es recentes e uma avaliaçã o da situaçã o atual da NGE:
Thisse (2010), Krugman (2010), Behrens e Robert-Nicoud (2009), Fujita e Thisse (2009); Behrens e Thisse (2007).
Para uma visã o crítica, Neary (2001) e Martin (1999). Algumas revisõ es críticas da literatura em portuguê s estã o dispo-
níveis em Ruiz (2003) e Vieira (2008). Veja també m a seçã o deste capítulo com um apanhado de tais críticas. Existem
ainda bons livros didá ticos como Brakman, Garretsen e Marrewijk (2003; 2009) e Combes, Mayer e Thisse (2008).
Indica-se també m v. 50, n.1, em comemoraçã o aos 50 anos da revista e da associaçã o.
3. Para maiores detalhes sobre as teorias de localizaçã o, ver o capítulo 2 deste livro.
4. Para alguns autores, como Krugman (1996), a ausê ncia da aná lise espacial no da teoria econô mica
deve-se à dificuldade de se modelar retornos crescentes à escala e concorrê ncia imperfeita em um contexto de
equilíbrio geral. Krugman (1996) chega a fazer uma analogia entre o conhecimento sobre a economia regional e a
cartografia na Á frica no início das navegaçõ es naquele continente. Num primeiro momento, uma sé rie de desbravadores
fizeram diversas descriçõ es, ainda que imprecisas sobre o interior do continente. Durante anos, contudo, a cartografia
concentrou-se no litoral da Á frica, e o conhecimento sobre o interior do continente continuou praticamente estagnado.
A analogia do autor com a economia regional seria o pequeno avanço no campo da economia regional na corrente
principal da economia.
Uma Breve Incursão em Aspectos Regionais da nova Geografia Econômica 143
5. Para maiores detalhes do conceito e aplicaçã o deste indicador de mercado potencial, ver capítulo 10 deste livro.
6. A distribuiçã o das classes foi realizada pelo mé todo de quebras naturais, pelo mecanismo de otimizaçã o Jenks, que
assegura grupos homogê neos internamente e heterogê neos entre as classes. Observa-se uma notá vel estabilidade
deste indicador ao longo tempo, ou seja, em termos relativos, há pouca alteraçã o da distribuiçã o das atividades eco-
nô micas no Brasil. Algumas pequenas alteraçõ es sã o a consolidaçã o de Brasília, a partir de 1975.
7. A esse respeito, veja, por exemplo, Relató rio de Desenvolvimento do Banco Mundial (2009).
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MAPA 1
Mercado Potencial PIB 1939
MAPA 2
Mercado Potencial PIB 1959
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MAPA 3
Mercado Potencial PIB 1975
MAPA 4
Mercado Potencial PIB 1996
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MAPA 5
Mercado Potencial PIB 2006
8. No capítulo 7, sobre economia urbana, destacam-se alguns modelos como o de Ogawa e Fujita (1980), que tentam
explicar como a concorrê ncia imperfeita e retornos crescentes podem afetar a distribuiçã o das atividades em torno do
centro de negó cios (CBD)
9. Para maiores detalhes, ver figura 1.
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FIGURA 1
Divisão esquemática proposta por Otaviano e Thisse (2004)
10. Existem modelos da chamada segunda geraçã o que tentam integrar crescimento econô mico agregado e distri-
buiçã o das atividades econô micas no espaço. Por uma opçã o metodoló gica e por limitaçã o de espaço, estes modelos
serã o mencionados ao longo texto, mas o foco será dado aos modelos canô nicos da NGE. Para o leitor interessado,
sugere-se a leitura de Baldwin e Martin (2004) e o livro Baldwin (2005). Outro ramo bastante interessante é o
que enfatiza a interaçã o estraté gica seguindo a tradiçã o de Hotelling.