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4 M355t
Autor: Marx. Karl. 1818-1883
Título: Teorias da mais--valia : tooria
lllJll~llf1111~1111111
13852934 A&. 68368
V.2 BEAC
TEORIAS DA MAIS-VALIA -
HISTóRIA CRITICA
DO PENSAMENTO ECONôMICO
- l;t>t'•• .. ...._.
Teorias da mais-valia
Volume II
to
KARL MARX
Teorias da tnais-valia
História Crítica do Pensamento
Econômico
(livro 4 de O CAPITAL)
Volume II
Tradução de
REGINALDO SANT' MINA
Do 01igilial em alemão:
THEORIEN UBER DEN MEHRWERT
(VIERTER BAND DES ..KAPIT ALS")
ZWBITER IBIL
Ai:hte< l>ís achtt<1hnles Kapitel
NEW,26.2
ClP-Bcasil. Catalogaçâo·na-Publi~
Câmarà Biaslleir:a do Livro, SP
...
Marx, Karl.1818-1883.
Teorias da mais-valia : história crítica do
; v.1-2 pensamento econômico : livro 4 de O capital I
! Karl Mao:; tradução de Regina!do Sant'Anna. -
São Paulo : DIFEL, 1980·
17. CDD·335.411' ;
; 83-0253 18. CÓD-335.412 1··
1983
14 13<l> 5~~ 3L.{
Sede:
Av. Vieira de Carvalho, 40
CEP 01210 - São Paulo - SP
Teb.: 223-4619 e 223-6923
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SUMARIO
Volume II
ADENDOS
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média capacita o jornaleiro agrícola (por conseguinte a soma em dinheiro=
IO horas) a ê"ómprar todos os meios de subsistência necessários, produtos
agrícolas e industriais etc., essa quantidade é o. salário médio para o uabalho
simpJes2 Trata-se aí portanto do que lhe tem de caber, do valor de seu pro-
duto diário. Primeiro, esse valor existe na forma da mercadoria que produz,
isto é, em determinada quantidade deltsa. mercadoria, e com essa quantida·
de - depois de deduziÍ'' o que ele mesmo consome (se o faz) - pode obter
para si os meios de subsistência necessários. Assim, na avaliação da renda
que lhe é necessária entram manufatura, agricultura etc., e não apenas o
valor de uso .que ele mesmo produz. Mas isso está implícito no conceito de
mercadoria. Produz mercadoria, não mero produto. Sobre isso portanto nã'o
é mister gastar palavras.
Rodbertus investiga primeiro a situação num país onde não estão se-
paxadas a propriedade da terra e a do capital, e chega à importante con-
clusão de que a renda fundiária (considerada por ele a mai$-valia toda) é
simplesmente igual ao trabalho não pago ou à quantidade de produtos em
que esse trabalho se configura.
2. Ver O Capital, DrFEL,livro 1. vcl. 1, pp. 45, 46, SI, 193, 214, 222 e 223.
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da parte do capital desembolsada em trabalho é grande para o capital to-
do~ ou enfün porque se prolonga em excesso a jornada de trabalho, Este
último é o caso dos países (como a Áustria etc.) onde já existe o modo
de produção capitalista e que têm de concorrer com países muito maís de-
senvolvidos. O salário aí pode ser pequeno tanto porque as necessidades do
trabalhador são menos desenvolvídas, como porque os produtos agrícolas
são maís baratos ou - o que para o capitalista é a mesma coisa - têm me-
nor valor monetário. Por isso, é pequena a quantidade do produto, de 10
horas por exemplo, destinada ao trabalhador, como remuneração necessá·
·ria. Mas, se ele trabalha 17 horas em vez de 12, pode-se lucrar esse acrésci-
mo. De modo nenhum se deve imaginar que - por cair num dado país o
valor relativo do trabalho ao acrescer a produtividade do trabalho - o sa-
lário nos diferentes países se alteia na razão inversa da produtividade do
trabalho. Sucede justamente o contrário. Quanto mais produtivo um país
em relação a outro no mercado mundial, mais elevados são nele os salários,
comparados com os de outro~ países. Na Inglaterra não só o salário nomi·
nal mas o real é mais alto que no Continente. O trabalhador come mais car-
ne, satisfaz mais necessidades. Isso, entretanto, não -se aplica ao trabalhador
agríoob mas apenas ao trabalhador industrial. Mas o salário na Inglaterra
não é mais alto em relação à produtividade dos trabalhadores ingleses.
A renda fundiária em geral - isto é, a moderna forma da proprieda·
de da terra -, a mera existência. dela, já seria possível, abstraindo-se da va·
riação dessa renda em virtude da fertilidade dos solos, porque o salário mé-
dio do trabalhador agrícola é inferior ao do trabalhador industrial. Uma vez
que, desde o início e sobretudo por tradiç!o {quando o veJho arrendatário
vira capitalista, antes de os capitalistas virarem arrendatários), o capitalista
cede parte do lucro ao senhor das terras~ e ressarce-se comprimindo o salá-
rio abaixo do nível. Com o êxodo dos b:abalhadores rurais, os salários te·
riam de subir e subiram. Todavia, mal se toma perceptível essa pressão, in·
troduz-se maquinaria etc., e de novo população supérflua (relativa) se pro-
duz no campo (ver a Inglaterra). A mais-valia pode ser acrescida pela mera
compressão do salário abaixo do nível tradicional, embora não se prolon·
gue a jornada, nem se desenvolva a produtividade do trabalho. Ê o que de
fato sucede em toda parte onde a produção agr:ícola se realiza por méto-
dos capitalistas. Onde não se consegue isso com a máquina, a terra se trans-
forma em pasto de carneiros. Aí já haveria portanto a possibüidade da ren-
da fundiária, porque de fato o salário do trabalhador agrícola nio é igual ao
salário médio. Essa possibilidade da renda ÍWidiária seria de todo indepen·
dente do'preço dos produtos, igual ao valor deles.
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Ricardo conhece também o segundo acréscimo de renda, por corres-
ponder ela a mais produto ao mesmo preço, mas não calcula esse acréscimo,
pois mede a renda por quarter e não por acre. Ele não diria que a renda fun-
diária subiu (e desse modo a renda fundiária pode subir com queda de pre-
ço) por ser 20 quarters X 2 xelins mais que 10 X 2 ou 10 qua.rters X3 xelins.
Aliás, como quer que se explique a'própria renda fundiária, remanesce
a diferença significativa entre a agricultura e a indústria: nesta, excesso de
mais-valia, valor excedente, é gerado por produção mais barata; naquela,
por produção mais cara. Se é 2 xelins o preço médio de uma libra de fio, e
posso produzí-la por 1 xelim, para conquistar mercado tenho de vendê-lo
por 1 1/2 xelins, ou pelo menos abaixo de 2 xelins. E isso é absolutamente
necessário, pois a produção mais barata pressupõe produção em maior es-
cala. Abanoto portanto o mercado relativamente à situação anterior. Te-
nho de vender mais que antes. Uma libra custa l xelim apenas, mas só se
forem produzidas cerca de 1O 000 libras em vez das 8 000 anteriores, O me·
nor custo decorre apenas de o capit.al fixo .se repartir por l O 000 libras. Se
vendesse 8 000 libras somente, o desgaste das máquinas aumentaria de
I/S = 20%, actescendo o preço de cada libra. Assim, vendo abaixo de 2
xelins para poder vender 10 000 libras. Com isso ainda obtenho um lucro
extr_aordinário de 6 pence, ou seja, de 50% sobre o valor de.meu produto,
de 1 xelim, que já inclui o lucro normal. De qualquer modo forço por esse
meio a baixa do preço de mercado, e o resultado é o consumidor conse-
guir mais barato o produto. Mas, se fosse na agricultura, venderia por 2
xelins, porque se tivesse suficiente terra fértil não se cultivaria· a menos f ér-
til. Naturalmente se aumentasse a área fértil ou a fertil~dade da área pobre
de modo que eu pudesse satisfazer a procura, acabaria esse jogo. Ricardo
não nega esse fato; ao contrârío, dá-lhe ênfase.
Por conseguinte, admitindo-se que a fertilidade variante do solo não
explica a própria renda fundiária, mas apenas as diferenças nesse tipo de
renda, remanesce esta lei: enquanto na indústria o lucro extraordinário de-
corre, em média, do barateamento do produto, na ·agricultura a magnitude
relativa da renda provêm não só do encarecimento relativo (elevação do
preço do produto da tena fértil acima do valor), mas também da venda do
produto barato pelo custo do mais caro. Mas isso, conforme já mostrei
(Proudhonf, é mera lei da concorrência, o que não provém da "terra" e
sim da própria "produção capitalista".
3. Ver Misbia da Fik>&ofia de Marx, cap. Il, §IV, "A propriedade ou a1enda da
terra".
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Adernais, Ricardo estaria certo noutro ponto, só que, à maneira dos
economistas, converte um fenômeno histórico numa lei eterna. Esse fenô-
meno histórico é o desenvolvimento relativamente mais rãpido da manufa.
tura (o genuíno setor industrial bur.guês) em contraste com a agricultura.
Esta se tomou mais produtiva, mas não na mesma proporção da indústria.
Quando a produtividade decuplicou na indústria, talvez tenha dobrado na
agricultura. Esta se tomou improdutiva rélawamente, embora positivamen.
te mais produtiva. Isso evidencia apenas a extrema singularidade do desen-
volvimento da produção burguesa e as contradições que lhe ,sio inerentes,
mas não invalida a proposição de se tomar a agricultura relativamente mais
improdutiva, isto é, de o valor do produto agrícola subir em relação ao do
produto industrial e em conseqüência elevar-se a renda fundiária. A circuns-
tância de o trabalho agrícola no nível de desenvolvi,mento da produção ca·
pitalísta se ter tomado relativamente mais improdutivo que o trabalho in-
dustrial significa apenas que a produtividade da agricultura não se desenvol-
veu com a mesma velocidade e na mesma proporção.
Seja de 1 1 a relação entre a indústria A e a B. Na origem, a agricul-
tura é mais produtiva porque nela atua, além de forças naturais, uma máqui·
na organizada pela natureza; de imediato, o trabalhador individual opera
com uma máquina. Por isso, na Antigüidade e na Idade Média, os produtos
agrícolas eram relativamente muito mais buatos· que os industriais, o que
já se infere (ver Mule) da razão entre os dois tipos de produtos no salário
médio.
Ao mesmo tempo admitamos que 1° : 1° indique a produtividade de
ambas as indústrias. Então se na indústria A ela se torna 1Oº, isto é, decupli-
ca, e na B apenas triplica, passando a 3", a razão entre ambas as indústrias
que era antes de 1 : l ·é agora de 10 : 3, ou seja, de 1 : 3/10. Relativamente,
a produtividade da indústria B diminuiu de 7 /10, embora triplicasse em ter-
mos absolutos. Para a renda fundiária mais alta, isso significa que ela - em
relação à indústria ~ teria subido por ter o pior terreno redução de 7/10
na fertilidade.
Agora não se segue daí, como pensa Ricardo, que a taxa de lucro caiu
por ter o salário subido em virtude do encarecimento relativo dos produtos
agrícolas, pois o salário médio é determinado não pelo valor relativo, mas
pelo valor absoluto dos produtos que nele entram. Mas, sem dúvida, daí re.
sulta que a taxa de luci:o (a bem dizer, a taxa de mais-valia) não subiu na
mesma proporção da produtividade da indústria manufatureira, fato decor-
rente de a agricultura (não a terra) ser relativamente menos produtiva. E is-
to é absolutamente certo. Em face do progresso da indústria parece pequena
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a redução do tempo de trabalho necessário. ~o que transparece na circuns-
tância de países como a Rússia etc. baterem a Inglaterra no domínio dos
produtos agrícolas. Nesse caso, não pesa nada na balança o valor menoi do
dinheiro em países mais ricos (isto é, os baixos custos de produção relativos
do dinheiro para países mais ricos). E que se pergunta precisamente: por
que esse valor menor não influi nos produtos industriais, ao concorrerem
esses países com países mais pobres, e sim em seus produtos agrícolas.
(Aliás, isso não prova que países pobres produzem mais barato, que seu tra·
balho agrícola é mais produtivo. Mesmo nos Estados Unidos, conforme de-
monstram recentes infonnações estatísticas, aumentou, a um dado preço, o
volume de trigo. não por ter havido acréscimo de produção por acre, mas
porque mais acres foram cultivados. Não se pode dizer que a terra é mais
produtiva no país onde há imensa extensão territorial e grandes áreas culti-
vadas superficialmente e que proporcionam, com o mesmo trabalho, quanti·
dade absoluta de· produto maior que a obtida em áreas bem menores no pais
mais. adiantado).
A progressão p111a terras menos produtivas não demonstra necessaria-
mente q_ue a agricultura se tomou menos produtiva. Ao revés, pode demons·
trar que se tomou mais produtiva, que - além de o solo improdutivo ser cul-
tivado porque os preços do produto agrícola súbiram o bastante para repor
o emprego de capítal - em sentido oposto, os meios de pi:odução se desen-
volveram tanto que o solo improdutivo se tomou "prqdutivo" e capaz de
pagar o lucro normal e ainda a renda fundiária. O solo, fértil para dado ní-
vel de desenvolvimento da força produtiva, é estéril para nível_ inferior.
Na agricultura, o prolongamento absoluto da jornada de trabalho,
isto é, o acréscimo da mais-valia absoluta, sô ê possível em escala diminuta.
Na agricultura não se pode trabalhar com iluminação' a gás etc. Sem dúvida,
o trabalho pode começar cedo no verão e na primavera. Mas isto se contra-
balança com os dias mais curtos do inverno, quando no final de contas só
se pode realizar quantidade relativamente pequena de trabalho. Sob este as·
pecto, a mais-valia absoluta é portanto maior na indústria, desde que a jor-
nada normal de trabalho não seja regulada mediante coerção legal. O pro·
duto permanece longo período no processo de produção sem nele se aplicar
trabalho, e esta é segunda causa do montante menor .da mais-valia gerada
na agricultura. Com exceção de alg1,ms ramos da agricultura, como pecuária,
criação de carneiros etc., nos quais a população é de todo expulsa da terra,
o número de pessoas empregadas em relação ao capital constante aplicado -
mesmo na mais avançada agricultura em grande escala - é sempre bem
maior q_ue na .indústria, pelo menos nos :ramos industriais dominantes. Em
virtude desse aspecto, embora o montante de mais-valia pelos motivos antes
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mencionados seja relativamente menor do que o seria com o emprego da
mesma quantidade de pessoas na indústria - circunstância por sua vez
em parte compensada pela queda do salário abaixo do nível médio -, a
taxa de lucro pode ser maior que na indústria. Mas, na agricultura, sejam
quais forem as causas (só jndicamos aquelas acima) que elevam a taxa
de lucro (elevação não temporária e sim média, comparada com o nível
da indústria), a mera existência dos donos das terras implicaria que esse
lucro extraordinário - em vez de entrar no nivelamento da taxa geral
de lucro - se consolidaria e caberia ao proprietário da terra.
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lho. A matéria-prima4 do agricultor é a t~rra, a do mineiro é a mina, a
do pescador, a água, e a do caçador, a própria floresta. Na forma de ple-
nitude máxima do capital, porém, aqueles 3 elementos do processo 'de
trabalho existem também como 3 elementos do capital, isto é, todos .os
3 são mercadoria,s, valores de Uso que têm um valor de troca e são produ-
to do trabalho. Nesse caso, todos os 3 elementos entram também no pro-
cesso de formar valor, embora a maquinaria não participe dele com a am·
plitude em que enua no processo de trabalho, mas somente na medida
em que esse processo a consome.
Temos agora a questâ'o: a inexistência de um desses elementos po-
de elevar, no ramo industrial onde se verifica, a taxa de lucro (não a ta-
xa de mais-valia?) De modo geral encontra-se a resposta na própria fór-
mula:
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de 150c a lOOv, teríamos a taxa de lucro 50/150 + 100 = 50/250 = 1/5 =
= 20%. No primeiro caso, a totalidade do capital= v, igual ao capital va-
riável, e por isso a taxa de lucro = taxa de mais-valia. No segundo, a totali-
dade do capital = 2 X v, daí ser a taxa de lucro igual à metade da taxa de
mais-valia. No terceiro caso, a totalidade do capital = 2 1/2 X l 00 =
= 2 1/2 X v = 5/2 X v; v é apenas 2/5 da totalidade do capital. A mais-valia
é igual a 1/2 de v; 1/2 de 100, por conseguinte 1/2 apenas de 2/5 da tota-
lidade do capital = 2/10 da totalidade do capital. 250/10= 25, e 2/10 de
=
250 50. Mas 2/10 = 20%.
Desde logo se verifica portanto: se não varia v nem m/v, não impor·
ta como se constitui a grandeza de e. -Se c tem determinada grandeza, 100
por exemplo, tanto faz que se decomponha em .?O unidades de matéria-
prima e 50 de maquinaria ou em 10 de matéria-prima e 90 de maquinaria
ou em O de matéria-prima e 100 de maquinaria ou vice-versa, pois é a rela-
çlfo m/c + v que determina a taxa de lucro; não interessa aí o valor relativo
de cada um dos elementos de produção oompanentes de e. Por exemplo,
na produção de carvão pode-se considerar a matéria-prlma (deduzido o
próprio carvão que por sua vez serve de matéria auxiliar) igual a zero e
admitir que o capital constante todo consiste em maquinaria (incluídas
construções e instrumentos de trabalho). Em contrapartida, no caso de um
alfaiate, pode-se considerar a maquinaria igual a zero (particularmente quan-
do grandes alfaiates ainda não utilizam máquinas de costura; além disso, co-
mo hoje ocorre às vezes em Londres, fazem economia de instalação, empre-
gando pessoas que trabalham em casa. E algo novo onde a segunda divisão
do trabalho reaparece na forma da primeira5 ), e o capital constante pode
reduzir-se todo ~ matéria-prima. Se o dono da mina de can'li'o emprega
1 000 em maquinaria e 1 000 em trabalho assalariado, e o alfaiate 1 000
em matéria-prima e l 000 em trabalho assalariado, a taxa de lucro nos dois
casos é a mesma para igual taxa de mais-valia. -Admitamos seja a mais.va-
lia = 20%; então, a taxa de lucro seria de 10% nos dois casos, isto é,
200/2 000 = 2/2.0 = 1/10 O 10%. Assim, a razão entre os componentes
de c, matéria·prima e maquinaria, só em dois casos pode exercer influência na
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taxa de lucro: 1) quando mudança nessa razão modificar a grandeza absoluta
de c; 2) quando a razão entre os componentes de c alterar a magnitude de
v. Isso terá de resultar em modificações orgânicas na própria produção, e
nã'.o na mera relação idêntica: se determinada parte de e tem de correspon-
der a fração menor do todo, a outra terá de corresponder a fração maior.
No balanço feito por um arrendatário inglês, salários = 1 690 libras,
adubos = 686, sementes = 150, cereais para o gado =
l 00. Para "matéria-
prlma" portanto 936 li'bras, mais de metade dos salários. (Ver F. W. Newman
LecturesonPol Ec., Londres, 1851,p.166.)
"Em Flandres" (parte belga} "importam-se da Holanda esterco e feno"
(paza a cultura de linho etc.; em compensação, exportam-se fibra e se-
mente de linho etc.). "O lixo das cidade$ holandesas tomou-se por jsso
objeto de comércio e se vende à Bélgica a preços altos. Ce.rca de 20 milhas
de Antuérpia, pelo Escalda acima, podemos ver recipientes para o este.roo
que é transportado da Holanda. O comércio se p.rocessa por intermédio
de uma sociedade de capitalistas e pelos barcos holandeses" etc. (B!!nficld)6
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lucro. Se deduzir de 50 1 /3 para renda fundiária e l /3 para ímpostos (ao to-
do 33 1/3), restam-lhe 16 2/3, isto é, 33 1/3% de 50. Mas na realidade só
obteve 16 2/3% do dispêndio de 100. O carnpones simplesmente calculou
errado e logrou a si mesmo. Erros dessa espécie não sucedem com um arren-
datário capitalista.
Mathieu de Dombasle, em Annales agricoles etc., Paris, 1828, 4!l
edição, diz que no contrato de parceria agrícola, ria província de Berry,
por exemplo,
'•o proprietário das tenas fornece o solo, as construções e de ordinário
todos os animais ou parte deles e os instrumentos necessários à explorà-
ção; o colono, por sua parte, entxa com o trabalho e nada mais ou quase
nada; os produtos da terra se repartem meio a meio" (p. 301). «os meei-
ros f:iío em regra pessoas me.rgulhadas na miséria" (302). "Quando o meei-
ro com uma despesa de 1 000 francos aumenta o produto bruto paxa
l 500" (portanto, ganho bruto de 500), "teci ele de dar a metade ao pro-
prietário, retendo 750, e assim perde 250 do que desembolsou" (p. 304).
"No antigo sistema agrícola, as des.pesas ou os custos de produção eram
quase por completo tirados dos produtos do próprio cultivo, para o.con-
sumo dos animais, do lavrador e de sua familia; quase não se despendia
dinheiro. S6 essa circunstância poderia justificar a c.rença de que o pro-
prieté.rio e o colono poderiam repartir entre si o produto inteiro da co-
lheita que não fosse coruumido na produção; mas esse processo é aplicá-
vel apena$ a essa espécie de agricultura,· isto é, a agricultum miaeráve~·
porque, quando $e quer melhorar o n(vel de~sa agricultura, verifiCJJ·Sf!. que
só é possível por meio de adiantamentos, sendo mister deduzi-los do pro-
duto bruto, para aplicá-los na produção do ano seguinte. Por isso, toda 1e·
partição do produto bruto entre o proprietário e o colono constitui obstá-
culo intransponível a toda melho1ia" (l.c., p. 307).
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quantidades correlatas de tempo de trabalho, encerradas nas diferentes
mercadorias, se configuram em dinheiro ou no que for a medida do valor.
Sem dúvida, isso acontece não por ser o preço de uma mercadoria. em algum
momento dado, igual ou tec de ser igual a seu valor. Segundo Rodbertus,
a coisa se passa assim: por exemplo, o preço da mercadoria A ultrapassa o
valor, isto é, por algum tempo se fixa nesse nível ou mesmo continua a
subir. O lucro de A supera por isso o lucro médio, pois o capitalista aí se
apropria niío só do respectivo tempo de trabaJho "não pago", mas também
de parte do tempo de trabalho não pago que outros capitafütas "produzi-
ram". Isto tem de se revelar na queda de lucro num ou noutro ramo de pro-
dução, desde que não se altere o preço em dinheiro das outras mercadorias.
A mercadoria A, se entrar no consumo dos trabalhadores como meio de sub-
sistência comum, fará cair a taxa de lucro em todos os demais ramos; se en-
trar no capital constante como componente, fará descer a taxa de lucro nos
ramos de produção onde constitui elemento desse capital.
O último caso possível: a mercadoria não entra como componente em
capital constante algum, nem constitui meio de subsistência necessdrio dos
trabalhadores (pois aquelas mercadorias que o trabalhador pode ou não
comprar a seu arbítrio, consome-as como consumidor proptjament~ e não
como trabalhador), mas é artigo de conswno, objeto de con.Sumo individual
em suma. Se a mercadoria, como artigo de consumo, entra no consumo do
próprio capitalista individual, a elevação de seu preço de rnan.eira alguma
atingirá o montante ou a taxa de mais-valia. Mas o capitàlista; se quer man-
ter seu padrão anterior de consumo, aumentará a parte~do lucro (mais-valia)
por ele aplicada em consumo individual, em relação à que emprega em re-
produção industrial. Esta cairá portanto. Assim, num dado período (deter-
minado também pela reprodução), o montante de lucro cairá em B, C etc.,
em virtude da alta dos preyos ou da elevação do lucro de A acima da taxa
média. Se a mercadoria A só entrar no consumo de capitalistas não indus-
triais, consumirão estes, em face da situação anterior, mais da mercadoria A
que da B, C etc. Diminuirá a procura das mercadorias B, C etc.; seu preço cai-
rá e nesse caso a elevação do preço ou a alta do lucro de A acima da taxa
média terá provocado queda do lucro de B, C etc, abaixo da taxa média,
por ter deprimido os preços em dinheiro de B, C (em contraste com os ca-
sos anteriores onde os preços em dinheiro de B, C etc. não se alteraram).
Capitais de B, C etc., onde a taxa de lucro caiu abaixo do nível médio, mi-
460
grarão da própria esfera de produção para a esfera de produção de A; mas
este seria o caso sobretudo com parte do novo capital que de contínuo apa-
rece no mercado e por certo busca particularmente a esfera de A, mais lu·
crativa. Em conseqüên1,,'ia, o preço da mercadoria A cairá após algum tempo
abaixo do valor e continuará a cair por prazo maior ou menor até que se res-
tabeleça o movimento oposto. Nas esferas B, C etc. ocorre o fenômeno con·
trãrio, em parte por causa da oferta reduzida dos artigos B, C etc., decorren-
te do capital emigrado, isto é, das mutações orgâniéas sobrevindas nessas
próprias esferas, e em parte pelas alterações verificadas em A e que atuam
sobre B, C etc., no sentido oposto.
Note-se de passagem; é possível que, no movimento ora descrito, os
preços em dinheiro de B, C etc. (suposto constante o valor do dinheiro) nun-
ca maís alcancem o nível anterior, embora os preços em dinheiro de B, C
etc. subam acima do valor das mercadorias B, C etc., e em conseqüência
também a taxa de lucro de B, C etc. se eleve acima da taxa geral de lrn:ro.
Melhoramentos, invenções, economia maior dos meios de produção etc. não
se empregam nos tempos em que os preços ascendem acima do nível médio,
mas naqueles em que declinam abaixo desse nível, isto é, o lucro cai abaiXo
da taxa -usual. Durante o período da queda de preços de B, C etc., o valor
real deles_ pode portanto cair, ou decrescer o mínimo do-tempo de trabalho
necessário pata produzir essas mercadorias. Nesse caso, a mercadoria s6 pode
voltar a atingir o antigo preço em dinheiro, se o acréscimo do preço sobre o
valor for igual à margem, à diferença entre o preço que expressa o valor no-
vo e o preço que exprimia o valor antigo, mais alto. Aí o preço da mercado-
ria teria a1terado o valor, atuando sobre a oferta, sobre os custos de produção.
Resultado do movimento acima: se tomamos a média das ascensões
e declínios de preço da._mercadoria em relação ao valor ou o período de ni-
velação das altas e baixias - períodos que de contínuo se repetem-, o pre-
ço médio é igual ao valor; assim, o lucro médio de um determinado ramo é
também igual à taxa geral de lucro; é que, embora nesse ramo com a alta
ou baixa dos preyos - ou com o acréscimo ou decréscimo dos custos de pro-
duyão e invariável o preço - o lucro tivesse subido ou caído em relação à
taXa antiga, a mercadoria foi vendida pelo valor na média do período. Por
isso, o lucro obtidó é igual à taxa geral de lucro. Essa é a concepção de A.
Smith e mais ainda de Ricardo, pois este se aferra mais ao conceito real do
valor. Rodbertus recebe-a deles. Essa concepção entretanto é falsa.
Qual o efeito da concorrência entre os capitais? O preço médio das
mercadorias durante um dos períodos de nivelamento é tal que os preços em
cada ramo dão aos produtores de mercadorias a mesma taxa de lucro, diga·
461
mos, 10%. Que mais significa isso? Que o preço de to da mercadoria está 1/1 O
acima dos custos de produção que o capitalista despendeu, gastou para pro-
duzi.la. Dito de modo geral, isso quer dizer apenas que capitais de igual mag..
nítude produzem lucros iguais; que o preço de toda mercadoria é um déci-
mo mais alto que o preço do capital nela desembolsado, consumido ou re.
presentado. Mas é absolutamente falso afirmar que capitais nos diferentes
ramos de produção produzem a mesma mais-valia na razão de sua magnitude
(aí abstraímos por completo da possibilidade de um capitalista estabel~er
jornada de trabalho mais longa que a de outro, e igualamos a jornada absolu-
ta para todos os ramos. A intensidade do trabalho etc. compensa em parte
as diferenças nas jornadas absolutas de uma série de dias, e em parte essas di-
ferenças representam apenas excesso arbitrário de lucros, exceções etc.),
mesmo quando supomos igual em todos os ramos a jornada de trabalho
absoluta, isto é, supomos dada a taxa de mais-valia.
Admitido esse pressuposto, o montante de mais-valia que capitais de
igual magnitude produzem varia, primeiro, de acordo com a proporção dos
componentes orgânicos, a saber, o capital variável e o constante; segUndo;
de acordo com o tempo de circulação, determinado pela razã'o·entre capítal
fixo e circulante e ainda pelos períodos de reprodução diversos das diferentes
espécies de capital fixo, e terceiro, de acordo com a duração do verdadeiro
período de produção, distinto da duração do próprio tempo de trabalho 8 , o
que introduz diferenças substanciais na relaçã'o entre período de produção
e período de circulaçã"o. (A primeira relação mencionada, a i;azão entre ca-
pital constante e variável, pode-originar-se de causas bem diversas; pode, por
exemplo, ser puramente formal e as.sim a matéria-prima transformada num
ramo é mais cara que a transfonnada no outro, ou resultar da produtividade
diversa do trabalho etc.)
Assim, se as mercadorias fossem vendidas por seus valores ou se os pre-
ços mêdios das mercadorías fossem iguais a seus valores, a taxa de lucro teria
de variar muito de um ramo para outro; num caso seria 50 e noutros, 40, 30,
20, 10 etc. Tomando-se, por exemplo, o volume total das mercadorias do
ramo A durante um ano, será seu valor = capital nelas adiantado + trabalho
462
não pago nelas contido. O mesmo nos ramos B, C. Mas, uma vez que A,
B e C contêm quantidades diferentes de trabalho não pago, digamos, A
tem mais do que 8, B mais que C, as mercadorias de A forneceriam, por
exemplo, 3 M (= mais·valia) aos produtores, as de B, 2 Me as de C, M. E
uma vez que a taxa de lucro é determinada pela razão entre a mais.valia
e o capital adiantado, e uma vez que este, segundo o pressuposto, é igual
para A, B, C etc., as díferentes taxas de lucro, se designamos por C o capi·
tal adiantado, seriam 3 M/C para A, 2 M/C para B, M/C para C. A concor-
rência entre os capitais só pode portanto igualar as taxas de lucro, se aí, por
exemplo, fixá-las em 2 M/C, 2 M/C, 2 M/C nos ramos A, B, C. A venderia
sua mercadoria um M abaixo, e C um M acima de seu valor. O preço médio
de A seria menor e o de C maior que o valor das-respectivas mercadorias.
463
capital partiailar produz diretamente trabalho excedente; mas, primeiro, na
proporção em que esse capital particular constitui porção alíquota do capi-
tal global e, segundo, em que o capital global mesmo produz trabalho exce-
dente. Como irmãos e inimigos, os capitalistas repartem entre si o saque do
trabàlho alheio de que se apropriam, de modo que em média um obtém tan-
to trabalho não pago quanto o outro 9
A concorrência efetiva esse nivelamento regulando os preços médios.
Esses próprios preços médios se colocam acima ou abaixo do valor, de modo
que uma mercadotja não obtenha taxa de lucro maior que a de outra. F, por-
tanto en::ado dizer que a concorr~ncia entre os capitais produz taxa de lucro
geral por igualar os preços das mercadorias a seus valores. Gera-a, ao contrá-
rio, porque transfonna os valores das mercadorias em preços médios, e nes-
tes parte da. mais-valia se transfere de uma mercadoria para outra etc. O va•
lor de uma mercadoria = quantidade de trabaJho nela ~ntida, pago e não
pago. O preço médio de uma mercadoria =quantidade de trabalho pago ne-
la eru:errado (materializado ou vivo) + cota média de trabalho não pago. Es-
ta não depende da circunstância de estar ou não de todo contida na própria
mercadoria ou de se encel'rar mais ou menos dela no valor da mercadoria.
9. MtllX expõe esse C()!Dp<>Itamento dúplice doo capitalistas, CQ!IlO irmãos e co-
mo adversários no livro 3 de O Capital.. Ao tratar do nivelamento das taxas de Incro,
destaca ele que "todo c.apitalista individual, como o conjunto dos capitalistas de todo
ramo particulaI de produção, participa da exploração da totalidade da classe trabalha·
dcu:a, e do grau dessa exploração". E escreve: "Temos aí matematicamente demonstra·
do a razão por que os capítallsta&, embora simulem fraternidade no seu logro recípro-
co, constituem verdadeira irmandade maçônica ao se defrontarem com o conjunto da
classe ttabalhado,i:a." {Ver O Capital, DIFEL, livro 3, vol. 4, pp. 222 e 223).
464
dução retirar da mais-valia nele produzida. corno sua propriedade,quantida-
de maior do que a que é permitida pelas leis da concorrência, do que a que
se pode obter na proporção da cota do capital empregado nesse setor?
Se càpitais industriais produzem 10 ou 20 ou 30 por cento mais valor
exc.edente 10 que capitais industriais de igual magnitude em outras esferas de
produção, não temporariamente, mas de acordo com a natureza de seus ra-
mos confrontados com os demais, e se, diga.mos, forem capazes de ·reter,
contra a concorréncia, esse excesso de mais-valia e de-impedir que ele entre
na contabilidade ( distribuiçãb) geral que determina a taxa geral de lucro,
nesse caso poder-se-ia distinguir nos ramos daqueles capitais 2 beneficiários,
um que receberia a taxa geral de lucro e outro que receberia apenas o acrés-.
cimo inerente a esses ramos. Todo capitalista poderia pagar, transferir a esse
prlvilegíado tal acréscimo, a fim de aplicar aí seu capital, e reservaria para si
mesmo a taxa geral de lucro como qualquer outro capitalista e na dependên-
cia das mesmas possibilidades. Se esse for o caso na agricultura etc., a de-
composição da mais-valia em kt.cro e renda fundiárVJ não indicaria absoluta-
mente que o trabalho aí é de per si "mais produtivo" (de mais-valia) que na
manufatura, e não seria mister portanto atdbuir à terra poderes mágicos, o
que aliás é ridículo por natureza, pois, se valor= trabalho, não -pode haver
mais-valia = terra (embora mais-valia possa decor.rer da fertilidade natural
do solo, mas daí de maneira nenhuma poderia resultar preço mai!f alto para
os produtos da terra. Muito pelo contrário). Nem seria necessário ter pro-
curado na teoria de Rícardo o refúgio que por natureza estabelece uma liga-
Ção repulsiva com o lixo maltbusiano, tem conseqüências repugnantes e,
mais especialmente, embora não se oponha no domínio teórico à minha con.
cepçtro da mais-valia relativa, tira-lhe grande parte do significado prático.
465
M_as como é isso possível? A mercadoria trigo, como as demais, é ven-
dida por seu valor, isto é, troca-se por outras mercadorias na proporção do
tempo de trabalho nela contido. (Este é o primeiro pressuposto errôneo, ar-
tifício que já torna o problema mais difícil. Só por exceção as mercadorias
se trocam por seus valores. Seus preços médios são determinados de outra
maneira. (Ver acima.) O arrendatário que cultiva trigo obtém o mesmo lu-
cro dos demais capitalistas. Isso prova que ele, como todos os outros, se·
apropria do tempo de trabalho não pago de seus trabalhadores.. E a renda
fundiária, então, donde provém? Tem de representar tempo de trabalho.
Por que o trabalho excedente na agricultura se repartiria entre lucro e renda
fundiária, quando na indústria corresponde apenas a lucro? E como é isso
possível, se o lucro na agricultura = lucro em qualquer outro ramo de produ-
ção? (As idéias deficientes de Ricardo sobre lucro e a mistura direta que ele faz
de lucro com mais-valia acarretam aí efeitos prejudiciais. Tornam-lhe o pro-
blema mais difícil.)
Ricardo resoJve a dificuldade, supondo-a em princfpw inexistente (e
esta é na realidade a unica maneira de resolver uma dificuldade, na base de
princípios. Mas aí só cabem dois métodos. Ou se mostra que a contradição
com o princípio é aparéncia, aparência que procede do desenvolvimento da
própria coisa. Ou o pesquisador, como o faz. Ricardo, ao negar a díficulda·
de num ponto, daí parte para poder explicar sua existência noutro ponto).
Ricardo supõe um ponto onde o capital do arre!'ldatário, como o de
qualquer outra pessoa, sô paga lucro (configura-se esse capital em aplicação
que não paga renda fundiária ou arrendamento especial, ou em aplicação na
parte do solo de um arrendamento na qual não se paga renda, em suma,
qualquer capital investido na cultura da terra e que não pague renda). Este
é mesmo o ponto de partida e pode ser expresso assim: na origem, o capital
do arrendatário só paga lucro (embora essa forma pseudo-histórica seja irre-
levante e seja comum a todos os economistas burgueses em "outras leis");
não paga nenhuma renda fundiária. Não se distingue de qualquer outro capi~
tal industrial. A renda fundiária só aparece por subir a procura de cereais,
e então, em contraste com outros ramos industriais, é mister recorrer a solo
"menos" produtivo. Com o encarecimento dos meios de subsistência, o
arrendatário sofre (o-hipotético arrendatário primitivo) como qualquer ou-
tro capitalista, ao ter de pagar mais a seus trabalhadores. Mas ganha com a
alta do preço de sua mercadoria acima do valor, primeiro, ao experimenta-
rem outras mercadorias, componentes de seu capital constante, queda no
valor relativo, e assim as compra mais barato; segundo, ao possuir seu valor
excedente na mercadoria mais cara. O lucro desse arrendatário portanto so-
466
be acima da taxa média de lucro, que todavía caiu. Por isso, outro capita·
lista vai para terreno pior, o II, que, com essa taxa menor de lucro,pode for-
necer produto ao preço de I ou talvez algo mais barato. Seja como for, agora
temos de novo em II a situação normal, com a mais-valia reduzida apenas a
lucro; mas temos a renda fundiária explicada para I, pela existência de um
duplo preço de produção, o preço de produção de II, ao mesmo tempo pre-
ço de mercado de 1. Um ganho suplementar temporário, tal como ocorre
com a mercadoria de fábrica, produzida em condições mais favoráveis. Do
trigo, o preço que, além do lucro, contém renda fundiária consiste apenas
em trabalho materializado, é igual ao valor, mas não o nele mesmo encerra-
do e sim o de II. Dois preços de mercado são impossíveis.
(Enquanto Ricardo introduz o arrendatário II por ter caldo a taxa de
lucro, Stirling o faz por ter caído e não por ter subido o salário em conse·
qüência dos preços do trigo. Essa redução do salário permite a II cultivar
uma área n. li, com a antiga taxa de lucro, embora a terra seja menos fér-
til11 Uma vez estabelecida~ a existência da renda fundiária, o restante
vem com facilidade. Sem dúvida continua certa a idéia da diferença entre as
rendas ftmdiário.s segundo a fertilidade diversa etc. Isto não acarreta a neces·
sidade de se cultivarem terras cada vez menos férteis.
Temos aí a teoria de Ricardo. O preço elevado do trigo proporciona a
1 lucro suplementar e a II nem sequer taxa de lucro igual à anterior e sim
menor; por isso, é claro que o produto II contém mais valor que o produto
1, é produto de mais tempo de trabalho, nele se encerra maior quantidade de
trabalho, ou seja, é mister empregar mais tempo de trabalho para se obter o
mesmo produto, digamos, 1 quarter de trigo. E a elevação da renda fundiária
estará na razão dessa_ crescente improdutividade da terra ou do crescimento
da quàntidade de trabalho que tem de ser empregada para produzir, por
exemplo, 1 quarter de trigo. Ricardo por certo nao falaria de "elevação" da
renda se aumentasse apenas o número de quarters com que se paga a renda,
mas somente se o preço da mesma unidade, de um quarter, subisse, digamos,.
de 30 para 60 xelins. Todavia esquece às vezes que a magnitude absoluta do.
rendo. pode crescer com baixa taxa de renda, do memto modo que o mo1Z>-
tante absoluto de lucro pode aumentar com taxa decrescente de lucro.
Outros procuram contornar a dificuldade (Carey, por exemplo) ncgan·
do diretamente a dificuldade de outra mane.ira. A renda fundiária é mero ju·
11. Stirling, The philosophy of trude; or, outlines of a theory of profits and
prices, Edimburgo, 1846. pp. 209-210.
467
ro para o capital antes incorporado à terrall. Assim, também uma forma de
lucro apenas. Nega-~ aí portanto que exista a renda fundiária, realmente
eliminada pela eipücação.
Outros. como Buchann~, consideram-na mera decorrência de monopô-
lio13. Ver tunbémHópkins14 . A renda fundiária para eles é meia robrecarga
sobre o valor.
Para Opdyke 15 , um ianque típico, a propriedade fwidiária ou renda
·fundiária vem a ser "o reflexo legalizado do valor do capital". (Em analogia
com a idéia de Opdike de ser a propriedade "o reflexo legalizado do valor
do capital" o .. capital é o reflexo legalizado do 'trabalho alheio'~)
Em Ricardo, as duas suposições errôneas díf1cultam a pesquisa. Não
foi Ricardo quem criou a teoria da renda. Antes dele, West e Malthus pu-
seram-na em letra de fonna. Mas a fonte original é Ander:ron. Todavia, o que
distingue Ricardo é a conexão que estabelece enue a renda e sua teoria do
valor (embora nlfo' falte de todo em West .a conexão real). Malthus. confor-
me demonstra sua polêmica posterior com Ricardo sobre a renda, não com·
preendera a teoria andersoniana por ele mesmo adotada.) Se partinnos do
princípio correto de ser o valor das mercadorias determinado pelo tempo de
trabalho necessário para produzi-las (e o valor em geral é apenas tempo de
trabalho social materializado), inferiremos que o preço médio das mercado-
rias é determina~o pelo tempo de trabalho necessário pa~ produzi-las. Tal
conclusão seria certa se ficasse demonstrado que preço médio= valor. Ora,
evidencia-se que, justamente porque o valor da mercàdoria é determinado
pelo tempo de trtlbaDw. o preço médio das mercadorias,(exçetuado o caso
úníco da taxa de. lucro por assim dizer individual num ramo particular de
produção, isto é, o lucro determinado pela mais·v~ia nesse próprio ramo
onde essa taxa de lucro individual é igual à taxa de lucro médía da totalida·
de do capital) nu~ 1XJde ser igual ao valor delas, embora essa determina·
ção do preço médio só decorra do valor baseado na determinação pelo tem-
po de trabalho.
Daí inferimos de inído que até mercadorias cujo preço médio (se
abstraímos do valor do capital constante) se reduza apenas a salário e lucro,
enquadrados a?- taxa normal, isto é, salário e lucro. médios, podem ser ven-
didas acima ou abaixo do valor. Por isso, se a circunstância de a mais-valia
12. Ver, neste ".Olume, p. 160 e em O Capital, DlFEL, livro 3, vols. 5 e 6, pp.
680-701e705-717.
13. Ver neste volume pp. 595 e 819.
14. Ver, neste volume, pp. 567-571.
15. Opdyke,A.. tre4tise on polltical economy, Nova Iorqu~ 1851, p. 60.
468
somente se expressar na rubrica de lucro normal não demonstra que a mer-
cadoria se vende pelo valor, também a circunstância de a mercadoria, além
de lucro, proporcionar renda fundiária não prova que a mercadoria se ven-
de acima de seu valor imanente. Se a taxa média de lucro ou taxa geral de
lucro do capital realizada por uma mercadoria pode estar abaixo de sua prô·
pria taxa de lucro determinada por sua mais-valia real, fica evídente que, se
mercadorias de um ramo particular de produção, afora essa taxa média de
lucro, ainda rendem outro montante de maís-valia com denominação espe-
cial, rugamos, renda fundiária, o lucro + a renda funcliária, a soma de lucro
e renda fundiária não é necessariamente maior do que a mai~valla contida
na própria mercadoria, Uma vez que o lucro pode ser menor que a mais-valia
imanente da mercadoria ou que a quantidade de trabalho não pago nela con-
tida, lucro + renda fundiária não .constituem necessariamente montante
maior que a mais-valia imanente da mercadoria.
Resta por certo a explicar por que isso ocorre num ramo particular de
produção, em contraste com os demais ramos. O problema porém já estaria
bastante simplificado. Essa mercadoria se distingue das outras por isto: nu·
ma secção das outras mercadorias, o preço méclio está acima do valor ima-
nente, mas só para elevar a respectiva taxa de lucro ao nível da taxa geral
de lucro; noutra secção dessas outras mercadorias, o preço médio está.abai·
:«> do valor imanente delas, mas só até o ponto necessário para reduzir a
respectiva taxa de lucro à taxa geral de lucro; e por fim, na terceira secção
delas, o preço médio é igual ao valor imanente, mas só porque elas propor-
cionam a taxa geral de lucro quando vendidas pelo valor imarumte. Difere
de todas as mercadorias desses três casos aquela que proporciona renda fun-
diária. Sejam quais forem as circunstâncias, o preço a que é vendida é tal
que ·dá mais que o lucro' médio - determinado pela taxa geral de lucro do
capital.
O que se quer saber agora é: qual ou quantos dos 3 casos podem su-
ceder? A mais-valia todo. contida na mercadoria se realiza no preço? Se se
dá isso, exclui-se o caso 3, isto é, as mercadorias cuja mais-valia toda se rea·
liza em seu preço médio, pois só proporcionam o lucro normal. Esse caso
portanto não interessa. Nem o caso 1, na condição considerada, com a mais-
valia realizada no preço da mercadoria acima de sua mais-valia imanente.
Pois aí supõe-se que "a mais-valia contida na mercadoria se realiza" no pre-
ço. Esse caso tem portanto analogia com o caso 2, onde a mais-valia .ímanen·
te das mercadorias é maior que a mais-valia realizada no respectivo preço
médio. Como sucede com as mercadorias precedentes, o lucro constitui for-
ma dessa mais-valia, que mediante decréscimo se iguala à taxa geral de lucro:
469
aí o lucro do capital aplicado. Todavia,. naquelas mercadorias excepcionais,
realiza-se ainda, ao contrário do que se dá em 2, a sobra, acinw. dessy lucró,
da mais-valia imanente da mercadoria, mas cabe a outro proprietário que
não o do capital, a sab.er, ao dono da terra, do fator natural, mina etc.
Ou se o preço for elev.ado a tal nível que dá mais que a taxa média de
lucro? Este é, por exemplo, o caso dos verdadeiros preços de monopólio.
Essa hipótese - estendida a todo ramo de produção onde se podem aplicar
livremente capítal e traballio e cuja produção, no tocante ao volume do ca-
pital aplicado, está sujeita às leis gerais - seria uma petição de princípio e
ainda contradiria diretamente os fundamentos da ciência econômica e da
produção capíta1ista, e desta é aquela apenas a expressão teórica. É que tal
hipótese supõe justamente o que se deve explicar, isto é, que num_ ramo
particular de produção o preço da mercadoria tem de proporcionar mais que
a taxa gera:l de lucro, mais que o lucro médio, e pa:ra esse fim a mercadoria
tem de ser vendida acima de seu valor. Supõe-se portanto que os produtos
agrícolas escapam às leís gerais do valor da mercadoria e da pwdução capi-
talista. E sem dúvida supõe-se isso porque a presença particular da renda
fundiária junto ao lucro gera à primeira. vista essa aparência. Daí esse absurdo
Assim resta apenas a Wpótese de existirem nessa esfera particular de
~rodução circunstâncias esPeciais, ínfluências que levam as mercadorias a
realizar nos preços a mais-valia global nelas imanent.e, ein vez de, como no
caso 2, só realizarem nos preços tanto de sua m~s-vàlia quanto rende a taxa
geral de lucro e de fazerem os preços médios caír abai.x,o da respectiva mais·
valia, a ponto de só darem a taxa geral de lucro, ou seja, de o lucro médio
delas não ser maior que o vigente em to$s as demais esteras de produção
do capital.
Com isso, o problema já fica bem mais simples. Não se trata mais de
explicar como é que o preço de uma mercadoria, além de lucro, proporcio-
na renda fundiária, parecendo portanto violar a lei geral dos valores, e me-
diante elevação desse preço acima da mai3-valia imanente rende mais que a
taxa geral de lucros para um capital de dad~ magnitude. Trata-se antes de
saber como é que essa mercadoria, no nivelamento das mercadorias aos pl"e'-
ços médios, não tem de ceder às outras mercadorias tanto de seu vakJr ima-
nente que só proporcione o lucro médio, e da própria mais-valia realiza ain·
da wna porção que constitui um excedente sobre o lucro médio; desse mo-
do é possível a um· arrendatário que emprega capital nessa esfera de produ·
ção vender a mercadoria a preços que lhe dêem o lucro normal e ao mesmo
tempo o capacitem a pagar a terceiro, ao dono da terra, o excesso de mais-
valia realizado acima desse lucro.
470
Nessa forma, a. simples formulação do problema já traz implícita a
própria solução.
471
ção mais favoráveis. Está na mesma sitUação do tecedor a mão que concorre
com o tear mecânico. Sem dÚVida, o produto des.se tecelão artesima+ = 12
horas de trabalho, mas só se iguala a 8 ou menos horas de trabalho socíal-
mente necessário, e seu produto por isso tem apenas o valor de 8 horas de
trabalho necessário. Se nesse caso o lavrador paga arrendamento, este é mera
dedução de seu salário necessário e não representa maiHalia, menos ainda
excesso sobre o lucro médio.
Admitamos primeiro que, num pais como os Estados Unidos, seja ain·
da tã'o pequeno o número de agricultores concorrentes, e a apropriação da
terra seja ainda tão reduzida a mera formaJidade, que todo mundo encontre
espaço para empregar seu capital na terra sem permissão de proprietários ou
arrendatários que a tenham até então cultivado. Nessas circunstâncias, é pos-
sível por Jongo período -· excetuadas as tenas cuja situação em regiões po-
pulosas lhes proporciona monopólio - que a mais-valia produzida pelo ar-
rendatário acima do lucro médio não se realize no preço de seu produto,
mas tenha ele de reparti-la com os irmãos capitalistas, como a mais-valia de
todas as mercadorias, a qual, quando realizada no preço, lhes confere um lu-
cro excedente, eleva a respectiva taxa de lucro acima da geral Nesse caso
subiria a taxa geral de lucro porque o trigo etc., como outras mercadorias
manufaturadas, seria vendido abaixo do valor. Essa vendl! abaixo do valor
não constituiria exceção, mas antes evitaria que o trigo configurasse uma
exceção em fac.e de outras mercadorias da mesma categoria.
Segundo, suponhamos um país onde só exista uma. qualidade de ter·
ra, mas tal que, se a mais-valia toda da mercadoria se realízar no preço, esta
só dê ao capital o lucro normal. Nesse caso não se_pagaria renda fundiária.
A ausência dessa renda em nada ínfluiria a taxa geral de lucro, não a elevaria
nem a rebaixaria, nem seria influenciada pela circunstância de outros produ-
tos não agrícolas se encontrarem nessa categoria. Essas mercadorias se en-
contram nessa categoria justamente porque seu valor imanente é igual ao lu-
cro médio, não podem portanto alterar o nível desse lucro, ao contrário com
ele se confonnam e nele nã'o têm a menor influência, embora ele as influencie.
Terceiro, admitamos, para o país, uma espécie de solo tão pobre que o
capital nele empregado seja tão improdutivo que seu produto pertença à
espécie de mercadoria cuja mais-valia fica abaixo do lucro médio. Aí a maís-
vaJia só poderia naturalmente subir (uma vez que o salário se elevaria por
toda a parte em virtude da improdutividade da agricultura) onde se pudesse
prolongar a jomada absoluta, e onde ainda a matéria-prima como ferro etc.
não fosse produto da lavoura, ou como algodão, seda etc. constituísse artigo
de ímportaçã"o e produto de um solo mais fértil. Nesse caso, o preço da mer- ·
472
cadoria agrícola incluiria mais-valia mais alta que a imanente, a fim de pro·
porcionar o lucro nonnal. Por isso, cairia a taxa de lucro, embora não exís-
tisse renda fundiária. Ou admitamos. no caso 2, que o solo é muito improdu-
tivo. EntãO a mais-valia desse produto agrícola, por sua igualdade com o lu-
cro ,médio, mostraria que este é muito baixo, pois das 12 horas de trabaJho
na agricultura talvez 11 sejam necessárias para produzir apenas o salário, sen·
do a mais-valia igual apenas a 1 hora ou menos.
Esses diversos casos ilustram o seguinte:
No primeiro caso, a amêncla ou falta de renda fundiária está ligada ou
coexiste com taxa de lucro elevada., em relação a outros países onde a renda
fundiária se desenvolveu.
No segundo caso, a ausência ou falta da renda fundiária em nada in·
fluencia a taxa dflucro.
No terceiro, comparando-se com outros países onde existe renda fun-
diária, está ligada a uma taxa geral de lucro, ba"fxa, relativamente mais baixa,
indicando-a.
Infere-se daí que a formação de uma renda fundiária particular nada
tem a ver em si com a produtividade do trabalho agri'cola, uma vez que sua
falta ou ausência pode estar associada com taxa de lucro crescente, constan·
te ou decrescente.
A questão aqui não é: por que na agricultura etc. se captura o excesso
de mais-valia sobre o lucro médio? Ao revés, caberia perguntar: por que te-
ria de suceder aí o oposto? Mais-valia nada mais é que trabalho não pago; o
lucro médio ou o lucro norma] é apenas a quantidade de trabalho não pago
que se espera realize cada capital de magnitude dada; quando se diz que o
lucro médio é de 10%, isto significa que a um capital de 100 correspondem
10 de trabalho não pago; ou 100 de trabalho materializado tem comando so-
bre trabalho níio pago equivalente a 1/10 de seu montante. Excesso de mais·
valia sobre o lucro médio significa portanto que numa mercadoria (em seu
preçO ou na parte deste que consiste em mais-valia) se encerra quantidade
de trabalho não pago maior do que a quantidade de trabalho não pago que
constitui o lucro médio, que por isso no preço médio das mercadoriasfonna
o excedente de seu preço sobre o preço dos custos de produção. Em cada
mercadoria isolada, os custos de produção representam o capital adiantado,
e o excedente sobre esses custos de produção, o trabalho níio pago que o ca-
pital adiantado comanda; por isso, a proporção desse excedente no preço
sobre o preço dos custos de produção representa a taxa com que capital de
magnitude dada - aplicado no processo de produção de mercadorias - co-
manda trabalho não pago, e não importa que o trabalho não pago contido
473
na mercadoria do ramo particular de produção seja ou-não igual a essa taxa.
Que é então que força o capitalista' individual a vender, por exemplo,
a mercadoria a um preço médio? (Esse preço médio se estabelece, "lhe é
imposto, de modo nenhum decorre de seu livre arbítrio; ele preferiria vender
a mercadoria acima do valor que só lhe dá o lucro médío e lhe pennite reali-
zar menos trabalho não pago que o que está de fato consumido em sua pró-
pria mercadoria.) A coerção dos outros capitalistas exercida por meío da
conconêncía. Todo capital da mesma magrútude poderia penetrar também
no ramo de produção A, onde a razão do trabalho não pago para o capital
adiantado, digarnoo, de 100 libras é maior que nos ramos B, C etc., cujos
produtos, com seu valor de uso, satisfazem uma necessí9ade social assim co-
mo as mercadorias da esfera de produção de A.
Quando há ramos de produção onde certas condições de produção
tais como terras aráveis, jazidas de carvão, minas de ferro, quedas-d'água
etc. - sem as quais não se pode exercer o processo de produção nem produ-
zir a mercadoria do ramo - encontram-se em mãos diversas das dos proprie-
tários ou possuidores do trabalho materializado, das dos capitalistas, dirâ
ent.ão essa outra espécie de proprietárim; das condições de produção:
Se te ceder o uso dessa condiçãO de produção, obterás teu lucro mé-
dio, apropriar·te-ás da quantidade normal de trabalho não pago. Mas tua
produção te dá um excesso de mais-valia, de trabalho não págo acima da ta-
xa de lucro. Não lanças esse excesso numa conta con:ium, segundo nonna
entre vós capitalistas, e dele me aproprio: pertence.me. A transação te con-
vém, pois teu capita1 te dá nessa esfera de produção tanto quanto em quaJ.
quer outra, e além disso esse ramo de produção é muito sólido. Teu capital
aí te dá os 10% em trabalho não pago os quais constituem o lucro médio,
e mais 20% adicionais em trabalho não pago. Pagar-me-ás estes e, para o fa.
zeres, acrescentarás ao preço da mercadoría 20% em trabalho não pago e
não ajustarás contas disso com os outros capitalistas. Como tua proprieda-
de de uma condição de trabalho - capital, trabalho materializado - te ca-
pacita a te apropriares de determinada quantidade de trabalho não pago dos
trabalhadores, minha propriedade da outra condição de produção, a terra
etc., habilita-me a retirar de ti e de toda a classe capitalista a parte de traba._
lho nãb pago que ultrapassa o lucro médio. Vossa lei estabelece que, em
condições normais, capitais iguais se apropriam de quantidades iguais de
trabalho não pago, e vós capitalistas podeis impor isso uns aos outros por
meio da concorrência. Bem, aplico a lei a tí mesmo. Não te apropriarás do·
trabalho não pago dos teus trabalhadores em quantidade maior que aquela
de que poderias, com o mesmo capital, apropr:iar*te em qualquer outro ra-
mo de produção. Mas a lei nada tem a ver com o excesso de trabalho não
474
pago que "produzíste" acima da cota normal. Quem me impedirá de me
apropriar desse "excesso"? Por que deveria; como sói acontecer entre vós,
lançá-lo, para se repartir pela classe eapitalista, no fundo comum do capital,
a fim de cada wn tirar dele uma parte alíquota correspondente ã cota que
tem na totalidade do capital? Não sou capitalista. A condição de produção
cujo uso te cedo não é trabalho materiaJizado mas um produto da natureza.
Podes fabricar terra, água, minas ou hulheiras? De modo nenhum. Para mim
não existe o meio de coerção que se pode aplicar contra ti, para te fazer vo-
mitar parte do trabalho excedente que tu mesmo capturaste. Dá-me, portan-
to, o que é meu. A única coisa que teus irmãos capitalistas podem fazer é
competir contigo e não comigo. Se me pagares menos lucro suplementar que
a diferença entre o tempo excedente que obtiveste e a cota de trabalho
excedente que te cabe de acordo com a lei do capítaf, teus irmãos capitalis-
tas acudirão e por meio da concorrência te constrangerão a pagar-me leal-
mente a importâncüi inteira que te posso extorquir.
Importaria expor agora: (1) a transição da propriedade feudal para ou-
tra forma, a renda fundiária comercial, regulada pela produção capitalista
ou, de outro ângulo, a conversão dessa propriedade feudal da terra em pro-
priedade camponesa livre; (2) como a renda fundiária surge em países como
os Estados Unidos, onde na origem não houve propriedade das terras e pelo
menos formalmente, desde o início, predomina o modo de produção bur-
guês; (3) as fonnas asiáticas de propriedade fundiária que amda existem. Mas
esses problemas não são pertinentes aqui.
Segundo aquela teoria, portanto, a propriedade privada de objetos da
natureza como terra, água, minas etc., a propriedade dessas condições de
produçio, dessa condição natural da produção, não é uma fonte donde flw
valor, pois valor é apenas trabalho materializado; nem é a fonte donde jorra
mais-valia suplementar, isto é, excesso de trabalho não pago sobre o trabalho
não pago encenado no lucro. Mas essa propriedade é uma fonte de rendi-
mento (revenue). Bum título, um meio que capacita o proprietário da con-
diçlfo de produção, no ramo onde o objeto de sua propriedade faz o papel
de condição de produção, a apropriar-se da parte do trabalho não pago ex-
torquido pelo capitalista, a qual, do contrário, seria lançada na conta co-
mum do capital como excesso sobre o lucro nonnaJ. A propriedade é um
meio de impedir esse processo ocorrente nas demais esferas de produção, e
de reter, nessa esfera particular de produção, a mais-valia nela produzida,
para ser dividida entre o capitalista e o proprietário da terra. Assim, a pro-
priedade da terra, como o capital, se constitui num direito a trabalho não
pago, gratuito. No capital, o trabalho materializado do trabalhador aparece
475
dominando este, e de modo semelhante, na propriedade da terra, a circuns-
tância de esta capacitar o titular a tomar do capitalista parte do trabalho não
pago dá·lhe o aspecto de fonte de valor. ·
lsso explica a moderna renda fundiária, sua existência. A variação da
magnitude da renda fundiária, para igual capital empregado, só pode decor-
rer da diferença da fertilidade da tem. A mesma variação, para igual f erti-
lidade, sô se pode explicar pela difetença na magnitude do capital emprega-
do. No primeiro caso, a renda fundiária cresce, por subir sua taxa em rela·
ção ao capital desembolsado (e também em relação à área da terra). Cresce,
no segundo, por aumentar seu montante, com taxa igual ou até com taxa
diversa (se a segunda dose de capital não tíVer a mesma produtividade).
Com essa teoria não é necessário que o pior solo pague ou não renda.
Demais, não é absolutamente necessário que a fertfüdade da agricultura de-
cline, embora a diferença na produtividade, quando não removida com arti-
fícios (o que é possível), seja maior do que em ramos industriais de produ-
ção análogos. Quando se fala de maior ou menor fertilidade, tem·se em
mira o mesmo produto. Como os vários produtos se comportam entre sí
é outra questão.
476
homem e seu próprio trabalho - a única condição original de produção
não poderia ser alienada nem ser objeto de apropriação e assim não po-
deria contrapor-se ao trabalhador como propriedade alheia e fazer dele
trabalhador assalariado. A produtividade do trabalho no sentido ricardia-
no,isto é, capitalista, a "produção" de trabalho alheio não pago seria por
conseguinte impossível. Com isso. a produção capitalista em geral teria
um fim.
Quanto às forças naturais referidas por Ricardo, podem elas sem
dó.vida ser em parte obtidas de graça e nada custam ao capítaJista. O car-
vão lhe acarreta um custo, mas o vapor nada lhe custa se tem grátis a água.
Vejamos o caso do vapor. Sempre ex.istiram os atributos do vapor. Sua
utilidade industrial é uma nova descoberta científica de que o capitalis·
ta se apropriou. Por causa dela subiu a produtividade do trabalho e, com
essa produtividade, a mais-valia relativa. Isto é, a quantidade de traba-
lho não pago de que o capitalista numa jornada se apropria cresceu por
meio do vapor. A diferença entre a força produtíva·do vapor e a da ter-
ra residt:? apenas em que uma rende trabalho não pago ao capitalista e a
outra ao dono da terra, e este o toma não do operário, mas do capitalis-
ta. Daí o entusiasmo do capitalista pela "inexistência da propriedade"
desse elemento.
O certo aí se reduz a isto: suposto o modo de produção capitalis-
ta, o capitalista nfío é só funcionário imprescindível da produção, mas
o fundonário predominante. O dono da terra, ao revés, é de todo supér·
fluo no _modo capitalista de produção. Este modo de produção precisa
apenas que a terrà não seja propriedade comum, se oponha à classe tra-
balhadora como condição de produção que niio pertence a essa ciaJse,
e se atinge por completo esse objetivo quando a terra se torna propríe.
dade do Estado, isto é, o Estado percebe a renda fundiária. O dono da
terra, funcionário tão essencial da produção no mundo antigo e no me-
dieval, é na era industrial inútíl, excrescência. O burguês radical (cobiçan-
do também a supre~[o de todos os outros tributos) avança no plano teó-
rico para negar a propriedade privada da terra, que desejaria tornar proprie-
dade comum da classe burguesa, do capital, na forma de propriedade do Es-
tado. Na prática, entretanto, falta coragem, poís o ataque a uma forma de
propriedade - uma forma de propriedade privada das condições de tra-
balho - seria muito perigoso para a outra forma. Ademais, o próprio bur-
guês tornou-se dono de terras.
477
4. Tese de Rodbertus: o valor da matéria-prima
não entra nos custos de produção agrícola A
E agora Rodbertus.
Segundo ele, nenhuma matéria-prima entra na contabilidade agrícola.,
porque o camponês alemão, assim nos assegura, não computa para si mesmo
como despesa sementes, forragens etc., não registra esses custos de produ-
ção, erra nas contas portanto. Na Inglaterra, onde o agricultor há mais de
150 anQs faz as contas certo, não deveria por isso existir renda fundiária.
Assim, a conclusão como a formula Rodbertus não seria a de que o anen-
datário paga renda fundiária por ser sua taxa de lucro superíor à da manufa.
tura, mas a de que a paga porque, em virtude de um cálculo errado, está &a·
tisfeito com taxa de lucro mais baixa. Sua idéia seria mal recebida por Dr.
Quesnay, filho que era de um arrendatário e bem familiarizado com o sis-
tema francês de arrendamento. Quesnay contabiliza entre os "adiantamen-
tos" a "matéria·prima" de que precisa o arrendatário, coroo um dos itens
do adiantamento anual de 1 bilhão, embora o arrendatário a reproduza fi-
sícamente.
Se há um setor da manufatura onde quase não aparece capital fixo ou
maquinaria, há outro onde não existe matéria-prima, mas apenas instrumen-
tos de produção - a indústria toda de transporte, indústria que produz mu-
dança de lugar com vagões, ferrovias, navios etc. Dão tais ramos industriais,
além de lucro, renda fundiária? Como se distingue esse ram_o industrial da
míneração, por exemplo? Em ambos só aparecem maquiharia e matéria auxi-
liar, isto é; carvão para navios a vapor, locomotivas e minas, forragens para
animais etc. Por que a taxa de lucro numa forma de.atividade deve ser cal-
culada de maneira diversa da de outra? Sejam os adiantamentos em produtos
feitos pelo camponês à produção = 1/5 do capital todo que ele adiantou,
onde se incluem 4/ 5 dos adiantamentos para as compras de maquinaria e pa·
ra salários, e atinja todo esse dispêndio 150 quarters. Se ele fizer um lucro
de 10%, teremos 15 quarters. O produto bruto será portanto de 165 quar-
ters. Se ele deduzir l / 5, isto é, 30 quarters, e calcular os 1S quarters sobre
120, terá feito um lucro de 12 l /2%.
Alternativamente poderíamos dizer também: o valor do produto ou o
produto= 165 quarters (= 330 libras). Ele computa seus adiantamentos em
120 quarters (= 240 libras), e 10% dão 12 quarters (= 24 libras). Mas o pro-
duto bruto= 165 quarters, e o montante a deduzir dele= 132 quarters,
com o que restam 33. Mas destes saem fisicamente 30 quarters. Sobra por-
tanto o lucro extra de 3 quarters (= 6 libras). O lucro global= 15 quarters
478
(= 30 libras), em vez de 12 (= 24 libras). Ele pode portanto pagar 3 quarters
ou 6 libras de renda e imaginar ter obtido lucro de 10% corno qualquer ou-
tro capit.alista. Mas esses 10% só existem na ímagínação. Na realidade adian-
tou não 120 quarte rs, mas 150, e deste montante l 0% são 15 quarters ou 30
libras. Na verdade recebeu a menos 3 quarters, 1/4 dos 12 quarters que obte-
ve ou 1/5 do lucro global que deveria ter recebido por não ter contabilizado
como adiantamento 1jS dos adiantamentos. Por isso, logo que aprendesse a
calcular à maneira capitalista, deixaria de pagar renda fundiária que seria
apenas a diferença entre sua taxa de lucro e a taxa nonnal.
Noutras palavras, o produto do trabalho não pago inserido nos 165
= =
quarters 15 quarters 30 libras = 30 semanas de trabaJho. Essas 30 sema-
nas de trabaJho ou 15 quarters ou 30 libras, confrontadas com a totalidade
dos adiantamentos de 150 quarters, representariam ·ápenas 10%, confronta-
das somente com 120 quarters, constituiriam mais: l 0% de 120 quarters são
12 quarters, e t 5 quarters não são 10% de 120 quarters, mas 12 1/2%. Dito
de outro modo: o camponês, uma vez que não teria contabilizado como ca-
pitalista parte dos adiantamentos que realmente fez, relacionaria como par-
te menor de seus adiantamentos o trabaJho excedente por ele acumulado, o
qual por isso corresponderia a taxa de lucro maior que a dos outros ramos
industriais e poderia proporcionar uma renda fundiária decorrente apenas
de um erro de cálculo. A brincadeira acabaria se o camponês soubesse que,
para avaliar seu adiantamento em dinheiro e considerá-lo por ísso mercado·
ria, não é absolutamente necessário transformá-lo antes em dinheiro efetivo,
tê-lo vendida.
Sem esse erro de conta {que uma porção de camponeses alemães po-
de cometer, mas não um arrendatário capitalista), a renda fundiária rodber-
tiana seria impossível. Só é possível onde a matéria-prima entra nos custos
de produção, mas não onde não entra. Só é possível onde a matéria-prima
entra, sem ser computada. Mas é impossível onde ela não entra, embora
Rodbertus pretenda derivar a renda fundiária não de um erro de co~ta e
sím da ausência de um item reál dos adiantamentos,
Tomemos a mineração ou a pesca. Aí não entra matéria-prima, exce-
tuada a matéria auxiliar, que podemos omitir, pois emprego de máquína
supõe sempre ao mesmo tempo (com raras exceções) consumo de matérias
auxiliares - os meios de subsistência das máquinas. Seja 10% a taxa geral de
lucro. Despendem-se 100 libras em maquinaria e salários. Por que o lucro
sobre l 00 deveria ultrapassar 1O em virtude de não se terem investido as l 00
libras em matéria-prima, maquinaria e salário, ou em matéria-prima e salã·.
rio? Se deve ocorrer alguma diferença, só pode ela provir de que nos dwer-
479
sos casos difere realmente a relação entre o-. valor do capital constante e o
do capital variável. Essa relação, ao variar, faz variar a mais-valia, meSJl.lO
supondo-5e constante a taxa de mais-valia. E a relação entre quantidades di·
ferentes de mais-valia e capitais de igual magnitude terá naturalmente de
dar lucros desiguais. Aliás, a taxa geral de lucro significa meramente que se
nivelam essas desigualdades e que se abstrai dos componentes orgânicos do
capital e se redistribui a mais-valia, de modo que capitais de magnitude igual
dão lucros iguais.
Que o montante de mais-valia dependa da magnitude do capital apli·
cado - conforme as leis gerais da mais-valia - não é válido para capitais em
diferentes ramos de produçio, mas para diferentes capitais no mesmo ramo,
onde se supõem as mesmas proporções dos componentes orgâniros do capital.
Se digo, por exemplo: o montante de lucro corresponde, naFração, à grande-
za do capital aplicado (o que não é de todo correto, exceto acrescentando:
considerada constante a produtiVidade), na realidade afirmo apenas que,
dada a taxa de exploração dos fiandeiros, a soma da exploração depende do
número dos fiandeiros explorados. Ao revés, se digo que o montante de lu-
cro em diferentes esferas de produção depende da magnitude dos capitaís·
aplicados, isso significa que é li;. mesma a taxa de lucro de todo capital de_
dada grandeza. isto é, o montante de lucro só pode mudar com a magnítu-
de desse capital; em outras palavras, que a taxa de lucro_ não depende da re-
lação orgânica dos componentes de um capital num. ranio de produção par-
ticular; que ela é de todo independente da grandeza. da mais-~valia realizada
nos ramos de produção particulares.
A mineração deve ser de antemão incluída na indústria e não na agri-
cultura. Por quê? Porque nenhum produto dela se emprega fisicamente na
própria produção, não entra no capital constante da mineração tal como saí
da mina (o mesmo se dá na pesca, caça; aí, em grau bem maior, os gastos
se concentram em instrumentos de trabalho e salários ou no próprio traba-
lho).. Em outras palavras, porque todo elemento de produção da mina -
mesmo quando sua matéria-prima dela se obtém - primeiro muda a forma
e se toma mercadoria, tem de ser comprado, e assim volta à mina como ele-
mento de produção. O carvão é a única exceção. Mas· só aparece no papel de
meio de produção num estádio de desenvolvimento em que o explorador da
mina tem forrnaçao capitalista, mantém contabilidade de partidas dobradas,
em que deve a si mesni.o seus adiantamentos, é devedor da sua própria caixa,
e sua caixa é dele mesmo devedora. Assim, justamente aí, onde na realidade
matéria-prima alguma entra nos gastos, tem de prevalecer, de saída, a conta-
bilidade capitalista. impossibilitando a ilusão do camponês.
480
Tomemos agora a própria manufatura e examinemos o setor em que
todos os elementos do processo de trabalho são também elementos do pro-
cesso de criar valor, isto é, todos os elemento!!! da produção constituem gas·
tos de elaboração da nova mercadoria, valores de uso que têm valor, merc.a-
dorio.s. Aí o fabricante que produz o primeiro semimanufaturado d.ífere
essencialmente do segundo e de todos os posteriores da seqüência. A maté·
ria·prima desses é mercadoria, mas já de segunda potência, isto é, mercado-
ria que já recebeu forma diferente da forma natural da primeira, o produto
bruto, já ultrapassou uma segunda fase do processo de produção. Na fiação,
por exemplo: a matéria-prima é algodão, produto bruto que já é mercado·
ria. A matéria-prima da tecelagem porém é fio, produto da fiação; a da es-
tamparia ou da tinturaria é o tecido, produto da tecelagem; e todos esses
produtos que reaparecem em fase ulterior do processo como matéria-prima
são ao mesmo tempo mercadorias.
Está claro que ora voltamos à questão que já nos ocupou duas vezes:
uma vez a propósito de John Stuart Mill 17 , e outra, no exame geral da rela-
ção entre capital constante e renda (revenue) 18 • O ressurgimento constante
da questão evidencia que ainda persiste uma dificuldade. A rigor a matéria
pertence ao capítulo Ili sobre lucro 19 • Mas convém tratá-la aqui.
[Vimos portanto ao exemplo:
4 000 libras-peso de algodão = 100 libras; 4 000 libras-peso de fio =
200 libras;4 000 jardas de tecido= 400 libras.
Segundo esse pressuposto, 1 libra-peso de algodão = 6 pence, 1 libra-
peso de fio = 1 xelim, 1 jarda de tecido = 2 xelíns.
Se a taxa de lucro for de 10%, temos:
(A) algodão, L(lavrador), l;em lOOllbras, o dispêndio é de 90 10/11,
e o lucro= 9 1/11;
(B) fio, F (fiação), Il; em 200 libras, o dispêndio é de 181 9/1 l, e o
lucro= 18 2/11;
(C) tecido, T (tecelagem), ID; em 400 libras, o díspêndioéde363 7/11.
e o lucro= 36 4/11.
Nessa hipótese nã'o importa que os 90 10/11 de A já incluam ou não
um lucro. Não o incluem quando constituem capital constante que se repõe
a si mesmo. Para B também tanto faz que se contenha ou não lucro nas 100
libras, o valor do produto de A, e o mesmo vale para Cem relação a B,
17. Ver vol. 3 desta tradução, cap. XX, 7., b).
18. Vervol 1 desta ttadução, pp. 119-122, 200-202 e 213·232.
19. Marx chama aí de "capítulo lll" a terceira parte de sua pesquisa sobre "O
capital em- geral'\ parte que se transfoonou depois no livro 3 de O Capital
481
.i:..
00
N
Total = 700
Lucro =9 1/11+18 2/11+36 4/11=63 7/11
Capital adiantado em todas as três secções: 90 10/11+181 9/11+363 7/11 = 636 4/11
lll} Dispêndio :::: 200 (li) + 163 7/11 Lucro = 10 + 16 4/11 Soma= 400
l não restitui lucro de ninguém, pois se supõe que seu capital constan-
te de 90 10/11 não encerra lucro, configurando mero capital constante. No
díspêndio de II entra o produto inteiro de 1 como capital constante. A par-
te = 100 do capital constante repõe 9 l / 11, o lucro de 1. O produto inteiro
de II = 200 entra no dispêndio de UI; por isso, este repõe lucro de 18 2/11.
Apesar disso, o lucro de 1 não é em nada maior que o de II e III. pois o ca-
pital que I tem de repor é menor na mesma proporção, e o lucro constitui
relação com a magnitude do capital, não importa qual Seja a composição dele.
Admitamos agora que III sozinho produza tudo. A coisa IJ<lTece mu-
dar, pois os dispêndios se apresentam assim:
90 10/11 para produzir algodão, 181 9/11 para produzir fio e 363 7 /11
para produzir o t,ecido. Comprou todos os 3 ramos de produção e por isso
tem de empregar sempre dada ql1antidade de capital constante em todos
esses 3 ramos. Somando tudo, temos 90 10/11+1819/11+363 7/11 =
6364/11. Desse montante 10% dão 63 7/11, como acima, só que uma úni-
ca pessoa embolsa tudo, quando antes os 63 7 /11 se repartiam por 1, Il e Ill.
Como surgiu há pouco a falsa aparência'!
Antes, parém, outra observação.
Se tirarmos dos 400 o lucro da tecelagem, 36 4/11. teremos
400 - 36 4/11 = 363 7/11, o dispêndio dela. Nesse dispêndio pagam·se 200
por fio. Nesses 200, 18 2/11 constituem o lucro da fiação. Se deduzirmos
esses 18 2/11 do dispêndio de 363 7 /11, ficaremos com 345 5/11. Nos 200
que a fiação reembolsa ainda se encerram 9 1/11, o lucro do lavrador de
algodão. Se os retirannos dos 345 5/11, teremos 336 4/11. Se subtrairmos
esses 336 4/11 dos 400 - o valor total do tecido -, veremos que nele se
contém lucro de 63 7/fl.
Mas lucro de 63 7/1 I sobre 3364/11 corresponde a 18 34/37%.
Pouco antes, esses 63 7/11 foram calculados sobre 636 4/11, o que
representava lucro de 10%. O excesso do valor global de 700 sobre 636 4/11
era assim de 63 7 /11.
O lucro sobre 100 do mesmo capital atingiria 18 34/37% pelo novo
cálculo, enquanto pelo anterior seria de 10% apenas.
Como se explica isso?
Admitamos que 1, li e III sejam o mesmo capitalista que todavia não
aplica os 3 capitais ao mesmo tempo em lavoura de algodão, em fiação e em
tec.elagem. Ao contrário, ao tenninar a lavoura começa a fiar o algodão, e
feito o fio encerra essa atividade para iniciar a terelagem.
483
Os cálculos se apresentariam da seguinte maneira:
Despende ele 90 10/11 libras na lavoura de algodão. Desta obt~
4 000 libras-peso de algodão. Para fiá-lo tem -de despender 81 9/ 11 libras
em maquinaria, matéria auxiliar e salários. Com isso fabrica 4 000 libras-
peso de fio. Por fim faz com o fio 4 000 jardas de tecido, o que lhe custa
dispêndio adicional de 163 7/11 libras. Somados todos os dispêndios, oca-
pital que adiantou;;:; 90 10/11 + 81 9/11 -t- 1637ít1 libras, isto é, 336 4/11
libras. Destas, 1 Oo/o seriam 33 7 /11, pois 336 4fl l : 33 7 /11 = t 00 : 1O. Mas
336 4i11 + 33 7{11 = 370 libras. Venderia portanto as 4 000 jardas não
por 400 libras, mas por 370, 30 libras mais barato, isto é, 7 1/2% mais ba-
rato que antes. Se o valor fo~e realmente de 400, poderia vender com o
lucro normal de 10% e ainda pagar uma renda (rent) de 30 libras, pois a ta-
xa de lucro seria não de 33 7/11, mas de 63 7/11 sobre adiantamentos de
336 4/11, ou seja, 18 34/37%, como acabamos de ver. E esta parece ser na
realidade a maneira como Rodbertus faz seu cálculo da renda fundiária.]
Em que consiste a ilusão? Antes de mais nada é evidente que fiação
e tecelagem, ao se fundirem, teriam segundo Rodbertus de proporcionar
renda fundiária, como a fiação e a agricultura ao se combinarem ou a agri-
cultura numa exploração indepeqdente.
Revelam-se aí dois problemas díferentes,
Primeiro, computamos as 63 7/11 libras sobre um capital de 336 4/11
libras apenas, quando temos de calculá-las sobre 3 capitais no valor global
de 636 4/ 11 libras.
Segundo, no último capital, o de III, atribuímo~lhe o dispêndio de
336 4/11 em vez de 363 7/11.
Examinemos separados esses dois pontos.
Primeiro. Se Ili, II e I sã'o uma só pessoa e fia o produto todo da co·
lheita de algodifo, não emprega ela parte alguma dessa colheita para repor
o capítal agrícola. Em vez de empregar uma parte do capital na lavoura de
algodão - nos dispêndios do cultivo de algodão, sementes, salários, maqui-
naria - e outra parte na fiação, investe fração do capital na lavoura d.e algo-
dão, depois essa fração + segunda na fiação, e em seguida a soma das 2 pri-
meiras frações ora consistentes em fio + a terceira fração, em tecelagem.
Agora que o tecido, as 4 000 jardas estio prontas, como vai repor seus ele-
mentos? Enquanto tecia, não fiava nem tinha matéria-prima para fiar, e
enquanto fiava, não cultivava algodão. Seus elementos de produção não são
portanto substitufveis.. Para facilitar, digamos: bem, o gajo vende as 4 000
jardas e então "corr..pra" fio e os elementos do algodão, com parte das 4 000
libras. Aonde nos lev:a isso? A admitir que de fato 3 capitais estão ao mesmo
484
tempo empregados e comprometidos, adiantados à produção. O fio tem de
existir para ser comprado, e é necessário que exista o algodão para ser adqui·
rido, e a fün de existirem ambos e assim poderem repor o fio tecido e o ai·
godão transfonnado em fio, é mister, empregar, junto com o capital compro·
metido em tecelagem, capitais que ao mesmo tempo se convertam em algo-
dão e fio, enquanto o fio se transforma em tecido.
Os 3 capitais têm de existir ao mesmo tempo. e assim tanto faz que
III unifique os.3 ramos de produção ou que os 3 produtores os dividam. Não
pode Ili explorar fiação e Javoura de algodão com o mesmo capital com que
explorou tecelagem, se quer produzir na mesma escala. Cada um desses ca·
pital.s está comprometido, e a reposição recíproca deles nada tem a ver com
o problema em exame. Os capitais de reposição são o capital constante que
tem de ser emprega~o e tem de operar ao mesmo tempo em cada um dos 3
ramos. Se as 400 libras encerram lucro de 63 7/11 é apena$ por tennor;
admitido que III, além do próprio lucro de 36 4/11, embolsa o lucro que
tem de pagar a II e a I, e que, segundo supomos, se realiza em sua merca40-
ria. O lucro todo não saiu das 363 7/1 J libras de III, mas o lavrador o tirou
de sua parcela de 90 10/ll libras, e a fiação de suas 181 9/l 1. Sem fica
com o lucro todo, tampouco o obteve das 363 7/I1 libras que investiu na
tecelagem, mas desse capital e dos 2 outros que empregou na fiação e na Ja.
voura de algodão.
Segundo: O que nos levou a atribuir a m dispêndio de 336 4/11, em
vez de 363 7/11, foi o seguinte:
Calculamos em 90 10/11 e não em 100 seu dispêndio em lavoura de
algodão. Mas ele precisa do produto inteiro que não é 90 10/11, mas 100.
E aí está o lucro de 9 1/1 L Ou empregaria capit.a.1 de 90 10/11 sem '/uero.
A lavoura de algodão não lhe daria lucro. Reporia somente o dispêndio de
90 10/11. Do mesmo modo, a fiação não proporcionaria lucro, e o produ-
to todo só reporia o dispêndio.
Nesse caso seu dispêndio se reduz na realidade a 90 10/11 + 81 9/Ü +
+ 163 7/11 = 336 4/11. Este seria o capital que adiantou. Desse montante
'10% seriam 33 7 /11 líbras. E o valor do produto = 370. O valor não passa-
ria disso, pois supôs-se não ter havido Jucro em 1 e II. Nessas condições te·
ria sido muito melhor para III não intervir em 1 e ll, e pennanecer no velho
método de produção. E que, em vez dos 63 7 /I l que 1, II e III tinham antes
para sugar, III agora tem apenas 33 7/11 libras, quando anteriormente, com
a particípação dos confrades, tinha 36 4/11 libras. Seria de fato um homem
de negócios incompetente. Em U teria economizado a despesa de 9 1/11 li-
bras apena_s por não ter obtido lucro em 1, e em III teria economizado a des-
485
pesa de 18 2/ 11 por não ter conseguido lucro em II. As 90 10/11 libras na
lavoura algodoeira e as 81 9/11+9010/11 na fiação teriam chegado ape~
para a própria reposição. Só o terceiro capital, empxegado na tecelagem, de
90 10/11 + Sl 9/11 + 163 7 /11 teria proporcionado lucro de 10%. Isto sig·
nificaria portanto que 100 libras na tecelagem dão 10 de lucro, e nada na
fiação e na lavoura algodoeira. Isto seria muito agradável para IU, desde que
outras pessoas e nã"o ele fJZessem o papel de I e II, mas de maneira nenhuma
se ele, para se apropriar dessa. economia de pequenos lucro~ unificasse em
suas honradas mã'os os 3 ramos de negócios. A economia de desembolso pa-
ra lucro (ou a.parte do capital constante de um, a qual é lucro de outros)
seria portanto devida a que na verdade não se conteriam lucros em I e 11,
e estes não teriam realizado trabalho excedente, mas teriam considerado a
si mesmos meros trabalhadores assalariados, só teriam reposto seus custos.
de produç6o, isto é, dispêndio em capital constante e salários. Nesses casos
portanto - a não ser que I e II quisessem trabalhar para III, e na conta d~
te entra.ria o lucro - ter-se-ia enfim trabalhado menos, e para III não impor·
taria que o trabalho que tem de pagar tivesse sido despendido apenas em sa-
lário ou em salário e lucro. Para ele nada se altera, desde que compre e pa-
gue o produto, a mercadoria.
Não tem importância alguma que o capital constan,:te seja reposto
em produto, no todo ou em parte, isto é, pelos produtores dá mercádoría
para a qual serve de capital constante. Antes de mais' nada, todo capital
constante tem no fim de ser reposto em produto, máquina por máquina,
matéria-prima por matéria-prima, matéria auxiliar por matéria auxiliar.
O capital constante também pode entrar na agricultura como. mercadoria,
isto é, ser obtido diretamente por meio de compra e'"venda. O capital cons-
tante, tratando-se de matérias orgânicas que entram na reprodução, tem na·
turalmente de ser reposto por produtos do mesmo ramo. Mas não é mister
que o substituam os produtores desse ramo individualmente considerados.
Quanto mais se desenvolve a agricultura, tanto mais todos os seus elemen-
tos nela entram como mercadoria, nâ'o só fonnal mas realmente; isto é, vêm
de fora, são produtos de outros produtores: sementes, adubos, gado, subs·
tâncias animais etc. Na indústria, por exemplo; o vaiv~m contínuo do ferro
na fábrica de máquinas e o da máquina nas minas de ferro são tão constan-
tes quanto o do trigo, do celeiro para a terra e da terra paia o celeiro do ar·
rendatário. Na agricultura estão os produtos que se repõem diretamente•.
Feno não pode substituir máquinas. Mas feno, no valor da máquina, repõe
a máquina para um e o feno para outro. desde que o valor da própria má-
quina seja reposto por ferro.
486
Não se concebe que diferença faria na taxa de lucro se o lavrador, por
exemplo, no cálculo das 90 10/11 libras que despende no produto de 100,
gastasse 20 em semestres etc., 20 em maquimuia etc. e 50 10/11 em salários.
E sobre o total que ele quer lucro de 10%. As 20 libras do produto, as quais
equipara às sementes, não incluem lucro. Não obstante, são nem mais nem
menos 20 libras como as 20 libras de maquinaria, onde se contém eventual
lucro de 10%, embora possa ser formal apenas. As 20 libras de maquinaria,
como as 20 de sementes, podem não encerrar lucro algum. Ê. o que se dá
quando aquelas 20 libras são mero substituto dos componentes do capital
constante do construtor de máquinas, componentes que ele retira, por exem·
plo, da agricultura.
O erro de afirmar que a totalidade da maquinaria entra na agricul·
tura como capital constante equivále ao de dizer que entra na manufatura
a totalidade da matéria-prima. Parte bem grande desta fica detida na agri-
cultura, é mera reprodução do capital constante. Outra parte, constituin-
do meios de subsistência, entra diretamente na renda (rev~) e parcial·
mente não passa por "processo de fabricação", como frutas, peixes, ga-
do etc. Por conseguinte, não seria correto lançar na conta da indústria
a totalidade da matéria-prima "fabricada" pela agricultura. Nos ramos
da manufatura onde a matéria-prima utilizada constitui adiantamento
junto com salários e maquinaria. o capital adiantado tem por certo de
ser maior que naqueles ramos da agricultura que fornecem a matéria-pri-
ma assim empregada. Poder-se-ia supor que, se os ramos considerados da
manufatura tivessem. ta,xa própria de lucro, t'.!1 taxa seria menor que na
agricultura, em virtude da circunstância de se empregar menos trabalho,
e assim, dada taxa igual de mais-valia, capital constante maior a capital
variável menor dão necessariamente menor taxa de lucro. Mas isso se apli-
ca também a determinados ramos da manufatura em relação a outros e a
determinados ramos da agricultura (no sentido económico) em relação
a outros. E é mais difícil de ocorrer na agricultura propriamente dita, pois,
embora forneça ela matéria-prima à indústria, nas próprias despesas con-
sidera matéria-prima, maquinaria e salários como itens diferentes sem que
a indústria de modo algum lhe pague essa matéria-prima - a parte do ca-
pital constante a qual a agricultura repõe por si mesma e não por meio de
troca com a indústria.
487
5. Suposições erradas da teoria da renda de
Rodbertus
488
A passagem está toda errada..
Rodbertus pergunta então se, além do lucro industrial, do lucro do ca·
pital, "sobra um segmento de renda para o produto bruto" e "quais os mo-
'.tivos" dessa sobra (p. 96).
E supõe
Ricardo concorda sem dúvida com o que diz Rodbertus. Mas está erra-
do, pelo menos à ptimeira vista, uma vez que as mercadorias não se trocam
pelos valores, mas pelos preços médios deles díferentes, e esse fato decorre
de o valor das mercadorías ser determinado pelo "tempo de trabalho", des-
·sa lei de aparência contraditória. Se o produto bruto, além do lucro médio,
contém uma renda fundiária dele diversa, isto só será possível se o produto
bruto não se vender ao preço médio, e ter-se-á de explicar porque. Mas veja-
mos como procede Rodbertus.
489
ras de trabalho = 13 l /3 jornadas. As mais-valias encerradas nas mercadorias
estão na razão de 60 : 60 = 1 l. São iguais, embora os valores guardem a
razão de 3: 1 1/3.
A razão entie as ma~-valias das mercadorias não é a mesma existente
entre os valores delas, sobretudo quando são diferentes as mais-valias abso-
lutas, o prolongamento do tempo de t1abalho além do trabalho necessário,
isto é, as taxas de ~valia.
Segundo, se as taxas de mais-valia forem as mesmas, as mais-valias,
omitindo-se outras circunstâncias relacionadas com a circulação e com o
processo de reprodução, não dependem das quantidades relativas de traba-
lho encenadas em duas mercadorias, mas da relação entre a.parte do capital
despendida em salários e a despendida em capital constante, matérias-primas:
e maquinaria, e essa relação pode variar muito em mercadorias de valores
iguais, sejam essas mercadorias "produtos da agricultura" ou "produtos de-
fabricaçio", o que nada tem a ver com o problema, pelo menos à primeira
vista.
E portanto absolutamente errada a primeira suposição de Rodbertus
de que, se os valores das mercadorias são determinados por tempo de trabll-
lho, resulta que as quantidades de trabalho não pago encenadas nas diferen-.
tes mercadorias - ou suas mais-valias - esttío na razão direta dos valores.
Por conseguinte também é falso que
490-
tes, em todos os setores, agricultura, fabricação de máqtúnas e manufatura,
por igual vigora que a mais·valia só é determinada pela massa de trabalho
empregada, uma vez dada a taxa de mais-valia, e pela taxa de mais.valia,
uma vez dada a massa de trabalho empregada. Rodbertus procura "promo-
ver o ingresso" do desgaste para expulsar a "matéria~prima".
491
q_ue vende e não computasse como ''despesa" o quarter empregado na se-
meadura. Aliás, seria bom Rodbertus "iniciar" àlgures a "produção", por
exemplo, de linho ou seda, sem "produto de produção precedente". Isso é
puro disparate.
E em conseqüência também o são as demais conclusões de Rodbertus:
492
uma taxa geral de lucro e segundo que niio se nivelam as taxas de lucro parti-
ctllares (e em conseqüência também suas diferenças) e assim as mercadoáas
se trocam por seus valores.
Falsa a terceira suposição: O valor dtJ matéria-prima níio entra na agri-
cultu1tl. Nela os adiantamentos de sementes etc. são, pelo contrário, compo-
nentes do capital constante e como tais são computados pelo agricultor. A
agricultura se toma mero ramo industrial - a produção capitalista se instala
no campo -, a agricultura passa a produzir para o mercado, passa a produ-
zir mercadorias, artigos para venda e não para o próprio consumo, e na mes-
ma medida em que isso ocorre computa ela suas despesas e considera cada
item delas mercadoria, compre-o de si mesma (isto é, dtJ produçãn) ou de
terceiros. Na mesma extensão dos produtos, os elementos dtJ produção natu·
ralmente também ~ tomam mercadorias, visto que esses elementos são eles
mesmos produtos. Uma vez que trigo, ferro, gado, sementes de toda espécie
etc: são vendidos como mercadoria - e na verdade o essencial é essa venda
e não a subsistência por meio deles - entram eles na produção como merca-
dorio,s, e o agricultor teria de ser verdadeiro mentecapto se fosse incapaz de
utilizàr o dinheiro como moeda de conta. TodaVia, isto é antes de tudo o as-
pecto fonnal do cálculo. Mas, no mesmo ritmo desenvolve-se este processo:
o agricultor compra suas despeYlls, sementes, gado, adubos, substâncias mi·
nerais etc., enquanto vende suas receitas, e desse modo aqueles adiantamen-
tos constituem para o agricultor individual também adiantamentos no senti-
do formal de serem mercadorias compradíl.s. (Para ele são sempre mercado-
rias componentes de seu capital constante. E na qualidade de produtor con-
sidera-as vendidas a si mesmo, ao restituí-las fisicamente à produção.) E é o
que sucede à medida que a agricultura se desenvolve e o produto final se
obtém cada vez mais -pelos métodos vígentes na índústria e de acordo com o
modo de produção capitalista.
E falso portanto que, do capital, entre na indústria uma parte que
niio entraria na agricultura.
Assim, se de acordo com a suposição errada de Rodbertus as porções
de renda (isto é, as cotas-partes de mais-".alia) correspondentes ao produto
agrícola e ao produto fabricado são dadas, são proporcionais aos valores
do produto agrícola e do fabricado; noutras palavras, se produtos agríco-
las e produtos industriais de valores iguais proporcionam aos respectivos
donos mais-valia da mesma grandeza, isto é,'contêm quantidades iguais de
trabalho não pago, não surge desproporção alguma por entrar na indústria
uma parte do capital (relativa à matéria-prima) a qual não entraria na agrí·
cultura, de. modo que, por exemplo, a mesma mais-valia na indústria seria
493
reduzida em relação a um capital acrescido por aquele componente. E que
esse mesmo item do capital entra na agricultura. Só resta a pergunta, se na.
mesma proporçáb. Mas ai recaímos em mems dife1enças quantitativas, en-
quanto Rodbertus tem em·miJ:a uma diferença "qualitativa". Aquelas dz'fe-
renças quantitativas aparecem nós diversos ramos de produção industriais.
Nivelam-se na taxa geral de lucro. E por que não se nivelam entre a indústria
e a agricultura (se tais diferenças existem)? Uma vez que Rodbertus faz a
agricultura participar da taxa geral de lucro, por que não a faz participar de
sua formação? Mas naturalmente não daria para tanto o seu latim.
Falsa a quarta suposição: Rodbertus faz suposição errada e arbitrária,
ao incluir o desgaste da maquinaria etc., essa parte do capital constante, no
capital variável, isto é, na parte do capital criadora de mais-valia e que espe-
cialmente determina a taxa de mais-valia, e ao excluir a matéria-prima do ca-
pital agrícola. Comete esse erro de conta para chegar ao resultado que de
início desejava atingir.
Falsa a quinta suposição: Se Rodbertus quer distinguir entre agricultu-
ra e indústria, então do capital o elemento consistente em maquinaria, ins-
trumentos, capital fixo, pertence por inteiro à indústria. Esse elemento do
capital, ao fazer parte de um capit.àl, entra sempre no capital constante e em
nada pode aumentar a mais-valià. Além disso, como produto da indústria re-
sulta de determinada esfera de produção. Seu preço, ou à; porção de valor
que forma na totalidade do capital da sociedade, representa .portanto ao
mesmo tempo determinada quantidade de mais-valia (como é o.caso da ma-
téria-prima). Entra então no produto agrícola, mas procede da mdústria. Se
Rbdbertus considera a matéria-prima na indústila parte ,do capital vinda de
fora, terá de computar na agricultura máquinas, instrumentos, recipientes,
construções etc. como a parte do capital oriunda de fora. E assim terá de
dizer que na indústria só entram salário e matéria-prima (pois o capital fixo,
não sendo matéria-prima, é produto da indústria, próprio dela), e na agricul-
tura, ao contrário, só entram salário e maquinaria etc., capital ftxo, pois a
matéria-prima, desde que não se incorpore em instrumentos etc., é produto·
·da agricultura. Importaria então examinar como ficaria a conta com a ausên-
cia daquele "item" na indústria.
494
Mas não menos verdadeiro é que o me9m0 sucede a segmento bem
grande da indústrúl, a indústria de transporte. Nela as despesas consistem
wmente em maquinaria, matérias auxiliares e salário.
Por fün, é certo que noutros ramos da indústria, dentro de certa rela-
tividade, só entram matéria-prima e salário, excluídos maquínaria, capital
fixo etc., como na alfaiataria etc.
Em todos esses casos, a magnitude do lucro, isto é, a razão entre a
mais-valia e o capital adiantado, não dependeria de consistir o capital adian-
tado - depois de se deduzir o capital variável ou a parte do capital aplicada
em salário - em maquinaria ou matéria-prima ou em ambos, mas da grande-
za do capital em relação à parte do capital adiantado despendida em salário.
Nas diferentes esferas de produção existiriam assim (fora as modificações
provocadas pela circulação), diversas taxas de lucro, cujo nivelamento cons-
titui precisamente a taxa geral de lucro.
O que Rodbertus vislumbra é a diferença entre a mais-valia e suas for.
mas especiais, sobretudo o lucro. Mas erra o alvo por começar tratando de
interpretar um fenômeno particular (a renda fundiária) e não de descobrir
a lei geral.
Dá--se reprodução em todos os ramos de produção; só na agricultura
porém sincronizam-se essa reprodução industrial e a reprodução natural.
Isso não ocorre na irulústrúl extrativa. E por isso que nesta o produto não se
torna, na forma natural, elemento da próprta reprodução (exceto na forma
de matéria auxiliar).
O que distingue a agricultura, pecuária etc. das outras indústrias niio é
primeiro a circunstância de um produto tornar-se meio de produção, pois
isso ocorre com todos os produtos industriaís que não possuem a forma defi-
nitiva de meios de subSistência individuais, e mesmo nesta qualidade eles se
tornam meios de produção do produtor que reproduz a sí mesmo ou man-
tém sua força de trabalho, consumindo-os; nem segundo a circunstância de
entrarem na produção como mercadoria, isto é, como componentes do ca-
pital; entram na produção como dela saem; dela provêm como mercadoria
e nela entram como mercadoria; a mercadoria é a precondição e ao mesmo
tempo o resultado da produção capitalista; terceiro, resta asmm apenas o fa-
to de entrarem no processo de pmdução, do qual são os produtos, como
seus próprios meios de produção. Isso também sucede com a maquinaria.
Máquina constrói máquina. Carvão serve para tirar o carvão da mína, para
transportar carvão etc. Isso aparece na agricultura como processo natutal
que o homem dirige, embora o gere "até certo ponto"; nas outras indústrias
aparece como efeito direto da indústria.
495
Mas, se Rodbertus pensa por isso não poderem os produtos agr(colas
entrar na reprodução como "mercadoria", em virtude da forma peculiar em
que nela entram como «valores de uso" (tecnologicamente), está ele por
completo errado e baseia-se; está claro, na reminiscência dos tempos em que
a agricultura ainda não era negócio, e só a sobra de seu produto acima do
consumo do produtor se tornava mercadoria, e esses produtos, uma vez que
entrassem na produção, não configuravam mercadorias. Esta é uma incom-
preensão fundamenta1 a respeito da aplicação do modo capitalista de produ-
ção na indústria. Para esse, todo produto que tem valor - e por isso é em si
mer'cadoria - é também mercadoria no domínio das contas.
Nos ramos manufatureiros (ou também nos agrícolas) onde entra ma-
téria-prima, se for gasto o mesmo capital variável cujo emprego (isto é, a
ocupação de número determinado de trabalhadores) exija maquinaria etc.
no montante de 500 libras, é mister na realidade agregar terceiro elerp.ento,
o valor da matéria-prima, no mesmo montante de SOO libras, digamos. Nes·
se caso temos:
E-sses 200 teiiam de ser então calculados sobre 1 500, o que só daria
13 1/3%. Esse exemplo continuaria válido se o do primeiro caso fosse a
4'96
fudústria de transporte. Em compensação no segundo, a taxa de lucro
ficaria a mesma se à maquinaria correspondessem 100 e à matéria-prima 400.
Rodbertus imagina portanto que, para o dispêndio de 100 em salá-
rio + 100 em maquinaria na agricultura, temos na indústria o dispêndio de
100 para maquinaria, 100 para salário e X para matéria-prima. O esquema
seria este:
1. Agricultura
II. Indústria
497
ent.ão é possível que tal segmento seja tão zedu.zido que, por issó, ·entre
ele e o capital agrícola, embora falte aí o valor da matéria~prima, se pxo·
duza proporção igual à verificada entre o segmento da renda 1elativo ao
pxoduto fabricado e o capital de fabricação, apesar de neste se contei
valo1 da matéria-prima; só nessas circunstâncias, portanto, é possível
que também na agricultuill nio reste renda fundiária alguma além do
ganho de capital. Enquanto, na prática pelo menos, a gravitação de acor-
do com a lei de ser o valor igual ao custo em trabalho constitui a iegra,
a tenda fundiária CQnstituí também a 1egra, e nao couesponde ao esta-
do original das coisas, como quer Ricardo, mas a ~ anomalia, a de
não sobrar renda fundiária e havei apenas ganho de capital (p. 100).
498
1. Agricultura
U.IndlÍstria
...
'
i Capi(llll Capital 1
:' conseante 'IUiável:
. M . alia Tau de TllXll de Valor do
a.IS-V • fMis.yalia Lucro lucro Produto
Maqui· Matéiia· Salário
naria prima
~·· - '
1 ..... i i i
499
100 (soma das taxas de lucro)
5 (número das várias taxas de lucro)
o que dá 20%.
Na realidade verificarr1os que-os 5 000 de capital adiantado nas 5 esfe.
ras dão lucro de 100 + 200 + 300 + 150 + 250 = 1 000. Assim 1 000 sobre
5 000 = 1/5 = 20%. Do mesmo modo, se calculamos o val.or do produto to-
tal, temos 6 000, e o que ultrapassa os 5 000 de capital adiantado é igual a
1 000, a 20%do capital adiantado, ou seja, 1/6 ou 16 2/3% do produto todo.
(Novo cálculo aí). Mas, a fim de que cada um dos capitais adiantados I, II,
III etc. - ou, o que dá no mesmo, capitais de iguo,l magn.itude ou capitais
na proporção apenas de sua magnitude, isto é, na mera proporção em que
representam cotas .do capital adiantado gwbal, participem na mais-valia cor-
respondente à totalidade do capital, só pode cada um deles obter lucro de
20%, e esses 20%.têm de caber a cada um. Para possibilitar isso, os produ-
tos de diferentes esferas têm de ser vend.Jdos ora acima, ora mais ou menos
abaixo do valor. Ou a totalidade da mais-valia tem de se distribuir por eles
não na proporção em que é gerada nas esferas particulares de produçao, mas
na proporção da magnitude dos capitais adiantados. Todos têm de vender
seu prod:uto por l 200 libras, de modo que o excesso do valor do produto
acíma do capital a_diantado seja 1/5 =. 20%.
Com esse rat~io temos (ver quadro na pág. 501 ):
Observamos que só num caso (II) o preço médio = valor da mercado-
ria, pois por casualidade a mais-valia aí é igual ao lucro médio:normal de
200. Nos demais casos quantidade maior ou menoz de mais-vália é tirada
de uma esfera e dada a outra etc.
Se Rodbertus tem alguma coisa a provar é a razão por que na agri-
cultura isso nlio pode ocorrer e por que nela a mercadoria deve ser vendi-
da pelo valor e não pelo preço médio.
A concorrêncfa faz que os lucros se igualem, isto é, que os valores
das mercadorias se reduzam a preços médios. O capitalista individual, con-
forme diz Malthus, espera igual lucro de cada porção de seu capital13 , o que,
noutras palavras significa, apenas que considera - e assim lhe parece - cada
porção do capital (pOf1dO de lado sua função orghnica) fonte autônoma de
23. Ver O Capital, DIFEL, livro 3, vol. 4, p. 39, e voL 4 desta uadução, cap. XIX,
seção_9.
500
lucro. Do mesmo módo cada capitalista, em ~ce da classe dos capitalistas,
vê em seu capital fonte de lucro da mesma magnitude do proveniente de
qualquer outro capital de grandeza igual; isto é, todo capital numa esferá
particular de produção é considerado parte do capital todo adiantado para a
totalidade da produção, e exige participação mi mais-valia global, no total
do trabalho não pago ou dos produtos -do trabalho - na proporção de sua
magnitude, de sua cota - na proporção da parte alíquota que representa
da totalídade do capital. Essa aparência convence o capitalista - para quem
tudo aparece. invertido na concorrência -- e ainda alguns de seus mais devo-
tados fariseus e escribas a que o capital é uma fonte de renda, indepen-
dente do trabalho, pois na realidade o lucro do capital em cada esfera par·
ticular de produção não é de modo algum determinado apenas pela quanti-
dade de trabalho não pago que o próprio capital "produz" e lança no fundo
global dos lucros, donde os capitalistas individuais retiram porções propor-
cionais a sua participação na totalidade do capital.
Evidenciam-se assim os disparates de Rodbertus. De passagem obser-
var ainda que em alguns ramos da agricultura, como na pecuária autônoma,
o capital variável, isto é, aplicado em salário,- é muito reduzido, comparado
com a parte constante do capital.
"Por natureza, o arrendamento pago é sempre renda fum;[ídrla" (p. 113).
Errado. O arrendamento é sempre pago ao dono da terra; eis tudo.
Mas se é, como ororre muitas vezes na prática, em parle ou no todo dedu-
ção do lucro normal ou dedução do salário normal (a mais-valia real, lu-
cro + renda, nunca se deduz do salário, mas daquela parte do produto do
trabalhador a qual resta desse produto após a retirada ,do salário), não é,
sob o aspeeto econômico, renda fundiária, o que na prátiea logo se demons-
tra quando as condições da eoncorrência estabelecem o salário nonnal e o
lucro normal.
Para haver os preços médios a que a eoncorrência procura eonverter
os valores dás mercadorias, ocorre assim - excetuado II no quadro aeima -
éonstante acréscimo de valor do produto de uma esfera de produção e de-
créscimo de valor do produto de outra, a fim de se estabelecer a taxa geral
de lucro. Para as mercadorias da esfera particular de produção onde a rela-
ção do capital variável com o total do capital adiantado (suposta dada e
igual a taxa de trabalho excedente) eorresponde à relação média pertinente
ao capital soeial, o valor é igual ao ?reço médio, e não há acréscimo nem de-
créscimo de- valor. :Mas, se em derermínadas esferas de produção, em virtude
o
de eírcunstâncias especiais que não cabe expor aqui, valor das mereadorlas,
~mbora acima do preço médio, em caráter não transitório e em média não
502
sofre decréscimo, essa captura da mais-yalia inteira numa esfera particular
de produção - apesar de sustentar o valor da mercadoria acima do preço
médio e em conseqüência proporcionar taxa de lucro superior à média - de-
ve ser co~idera4a um prívilégío dessa esfera de'produção. Cabe aqui tratar
como pecÍdiariilo.de, exceção e explicar nãO a circunstância de seu preço
médio ficar abaixo do valor - fenômeno de ordem geral e condição neces-
sária do nivelamento - e sim a razão por que são vendidas justamente pelo
valor acima do peço médio, em contraste com as outras mercadorias.
O preço médio de uma mercadoria é igual a seu custo de produção
(o capital nela adiantado, seja em salário, matéria-prima, maquinaria e o que
mais for)+ lucro médío. Por conseguinte, se o lucro médío, como no caso
acima, for de 20% = 1/5, o preço médio de toda mercadoria= C (o capital
adiantado)+ L/C (a taxa média de lucro). Se C + L/C for igual ao valor des-
sa mercadoria, isto é, a mais-valia produzida nessa esfera de produção for
igual a L, o valor da mercadoria será igual a seu preço médio. Se C + L1C for
menor que o valor da mercadoria, isto é, a mais-valia gerada nesse ramo for
maior que L, o va1or da mercadoria será rebaixado a seu preço médio e par-
te de sua mais-valia acrescerá o valor de outras mercadorias. Por fim, se
C + L/C for maior que o valor da mercadoria, e portanto .M < L, o valor da
mercadoria é alteado a seu preço médio e é-Jhe acrescida mais-valia gerada
em outras esferas de produção.
Finalmente, se ·houver mercadorias que se vendem pelo valor, embora
seu valor > C + L/C, ou eujo valor não é rebaixado a ponto de nivelar-se ao
preço médio nonnal C + L/C, devem atuar circunstâncias que assegurem a
essas mercadorias uma posição excepcional. Nesse caso o lucro realizado
nessas esferas de produção está acima da taxa geral. Se o capitalista aí obtém
a taxa geral de lucro, o senhor da terra pode receber o 1uero excedente na
forma de renda fundiária.
503
das aceita-se um capital de 100 eomo unidade, a medida padrão do nível
a calcul.a1. Assim, quanto maior a proporção do ganho ou do lucro eom o
e.apitai de 100, em outras pala"<'ras, quanto 'maior a percentagem' que um·
capital rende, tanto maiores serio gànho e juros" (pp. 113, 114 ).
"O nível da renda fundiária e do arrettdamento depende da proporção de-
les com determinadi álea~· (p. 114).
Infeliz idéia. Antes de mais nada, a taxa da renda fundiária deve ser
calculada sobre o capital, portanto como o excedente do preço de uma mer-
cadoria acima do preço dos custos de produção e da parte do preço constitu-
tiva do lucro. Rodbertus calcula por acre ou jeira, o que suprime o nexo cau-
sal, e prende-se à forma aparente da coisa, por lhe explicar éla certos fenô·
menos. A renda fundiária que um acre proporciona é o que se paga de arren·
<lamento (rental); o montante absoluto de renda. Poderá crescer se a taxa de
renda ficar a mesma ou até se baixar.
"O nfvel do valor da terra resulta da capitalização da renda fundiária de
determinado terreno. Quanto maior o montante de capital obtido pela ca-
pi talizaçã'o da 1enda fundiw de um terreno de dada área, tanto mais alto
é o valor do solo" (p. 114).
504
"O nível" da renda {rent} - a taJCa da mais-valia -, diz Rodbe1tus, depen·
de da "magnitude dessa parte que sobra para a .renda (rent)" (p. 117),
isto é, depois de se deduzir o salário do produto total, e aC "pode-se omi-
tir aquela porção do produto destinada a repor capita!"••. (p. 117 ).
O final está bom. Mas é falso que, se diminuir o capital variável, o apli·
cado em salário, tem de decrescer o capital constante; em outras palavras,
não é verdade que a taxa de lucro (excluímos por eompleto a referência ína-
dequada à área de terra etc.) tenha de subir porque se eleva a taxa de mais·
valia. O salário cai, por exemplo, porque o traballio se torna mais produtivo,
e em todos os casos esse acréscimo de produtividade se expressa na eircuns-
tância de o mesmo trabalhador transformar no mesmo tempo quantidade
maior de matéria-priína~por conseguinte, essa parte do capital constante
cresce e também a maquinaria e seu valor. A taxa de lucro pode assim cair
com a reduçã'o do salário. A taxa de lucro depende da magnitude àa mais-
valia, roàgnitude que é determinada não só pela taxa de maiHalia, mas
também pelo nómero dos trabalhadores empregados.
Rodbertus define com acerto o salário necessário, igualando.o
505
Em parte a confusão surge porque ele simploriamente toma por medida não
o tempo de trabalho, mas quantidades de produto e faz distinções disparata-.
das entre "nfvel do valor do produto" e "magnitude do valor do produto·:
Esse moço entende por "nfvel do valor do produto" a mera relação
que o produto tem com o tempo de trabalho. Se o mesmo tempo de trabalho
fornece grande quantidade de produto, é baixo o valor do pr9duto, isto é, o
valor de cada porção do produto; caso contrário, o contrário. Se uma jorna-
da de trabalho fornecer 100 libras-peso e mais tarde 200 libras-peso, no se-
gundo caso o valor do fio será a metade do observado no primeiro. No pri-
meiro caso, o valor da libra-peso de fio é de 1/100 da jornada de trabalho;
no segundo, de 1/200. Uma vez que o trabalhador obtém a mesma quantida-
de de produto, seja seu valor alto ou baixo, isto é, contenha essa quantida-
de mais ou menos trabalho, é inversa a razão entre salário e lucro, e o sa1á-
rio retira mais ou menos do produto global conforme a produtívidade do
trabalho. :B o que ele expressa nas seguintes complicadas proposições:
506
b) Segunda tese de Rodbertus
"II. Dado o nível da renda (rent} em geral num dado valor de produto, o
nível da tenda fundiária e o do ganho do capital estão na tazão inversa
um do outto e também na razão inversa da produtívidade do traba-
lho de produção prímária e do trabalho de fabricação respectivamen-
te. Quanto maior ou menor a renda fundiária, tanto menor ou maior
o ganho do capital e vice-versa; quanto maior _ou menor a produtivi-
dade do trabalho de produção primária ou do trabalho de fabricação,
tanto menor ou mairu: a renda fundiária ou o ganho do capital, e po1tan-
to, alternativamente, tanto maior ou menor o ganho do capital ou a ren-
da fundíária" (l .c., p. 116).
507
Admitamos ainda: "o nível da renda" (a taxa de mais-valia) é em geral
dado por deteffilinado valor do produto" (p. 121). O que significa, por.
exemplo: em mercadoria de 100 líbias seja a metade igual a trabalho não
pago, constituindo o fundo- donde se pagam todas as rubricas da mais-va1ía,
renda (rent), lucro etc. Está então bem claro que um participante desse
fundo de 50 libras tanto mais dele percebe quanto menos pe1cebe o outro e
více·versa, ou que lucro e renda fundiária estão em relação inversa. Trata-se
agora de saber o que determina a partilha entre os dois .
. Em todo caso continua certo que a renda (revenue) do empresário
(seja ele agricultor ou fabricante) é igual à mais-valia que ele extrai da venda
de seu produto industrial (e que subtraiu dos trabalhadores de sua esfera de
prndução), e que a renda fundiária (quando não deriva diretamente do
produto fabricado, como no caso da quedà-d'dgua vendida ao industrial e no
da construção de casas etc., pois casas por certo não são produto prlmúrio)
provém do lucro excedente (da mais-valia, a parte que não entra na taxa ge-
ral de lucro) inserido no produto primário e transferido pelo anendatário ao
dono da terra.
E certo que, quando o valor do produto primário sobe ou desce nos
ramos industriais que empregam matéria-prima, a taxa de lucro subirá ou
cairá na razão inversa do valor da matéria-prima. Se dobra o vajor do algo-
dão, dados o salário e a taxa de mais-valia, cairá a taxa de lucro, segundo
mostrei antes em exemplo. 24 O mesmo se aplica à agricultui-a. Se a colheita
for má e o objetivo for manter. a escala de produção (supomos ág~ra que as
mercadorias se vendem pelo valor), porção maior do pro.duto total ou de
seu valor terá de ser devolvida à terra, e após a dedução do salário, suposto
invariável, quantidade menor do produto constituirá a mais-valia do arren-
datário e haverá po1tanto quantidade menor de valor a distribuir entre ele
e o dono da terra. Embora a unidade de produto tenha mais valor que antes,
será menor tanto o volume de produto, quanto a porção de valor remanes·
cente. A coisa muda quando o produto, em virtude da procura, sobe acima
de.seu valor, e tanto que quantidade menor dele tempreço maior que gran-
de quantidade antes. Todavia, isso está contra a suposição de os produtos
serem vendidos pelo valor.
Ao revés, admitamos que dobre a colheita de algodão e que dela a par-
te que se restitui diretamente à terra, por exemplo, adubo e sementes, custa
menos que antes. Nesse caso, do valor a parte que perrnanece par~ o produ-
508
tor de algodão, após a deduçâ'o do salário, será maior que antes. A taxa de
lucro aí subirá como na indústria têxtil algodoeira. Sem a menor sombra
de dúvida, agora numa jarda de tecido a parte do valor a qual constitui a
matéria-prima será menor que antes, e a que forma o valor industrial maior
que antes. Suponha que a jarda de tecido custe 2 xelins, quando o valor do
algodão nele contido= 1 xelim. Se o algodão cair de l xelim para 6 pence
(o que, na lúpótese de o valor ser igual ao preço, só é possível por ter a cul-
tura ficado ma.is produtiva), ao valor da jarda de tecido será igual a 18 pen-
ce. Reduziu-se de 1/4 = 25%. Mas o lavrador de algodão, se vendia 100 li·
bras-peso a l xelim cada, deve agora vender 200 a 6 pence cada. O valor an·
tes era de 100 xelins; agora, também 100 xelins. Embora o algodão consti·
tuísse antes fração maior do valor do produto - e ao mesmo tempo caísse
a taxa de mais-valía na própria cultwa algodoeira -, o lavrador de algodão
recebeu pelos 100 xelins de algodão, com a libra-peso a 1 xelim, 50 jardas
de tecido apenas; recebe agora por seus lOO'xelins, com a libra-peso a 6 pen-
ce, 66 2/3 jardas.
Suposto que as mercadorias se vendam por seus valores é falso que, a
.renda (rwenue) dos produtores que participam na produção do produto de-
penda necessariamente dos componentes de valor constituídos por seus
produtos no val.or total do produto.
Admitamos que o valor do produto total de todas as mercadorias in·
dustriais, inclusive maquinaria, consista em 300 libras, num ramo, em 900,
noutro, e em 1800, num terceiro.
Se for ve1dade que a proporção em que se reparte o valor do produto
total entre o valor da matéria-prima e o valor do produto industrial determi-
na a proporção em q\je a mais-valia - a renda (rent), segundo Rodbertus
se divide em lucro e renda fundiária, terá isso de ser verdade também para
diferentes produtos de diferentes esferas de produção onde matéria·prima
e produto industrial participam em proporções diversas.
Do valor de 900 libras correspondam 300 a produto industrial e 600
a matéria-prima, e seja 1 libra = 1 jornada de trabalho. Admitida ainda a
·taxa de mais-valia, por exemplo, de 2 horas para 10, e jornada nonnal de
trabalho de 12 horns, conter-se-ão nas 300 líbias (produto industrial) 300
jornadas, e o dobro, 2 x 300, 600, nas 600 libras (matéria-prima). Num pro·
duto, a mais-valia soma 600 horas; no outro, 1 200 horas. Isso quer dizer
apenas que, dada a taxa de mais-valia, a magnitude dela depende do número
dos trabalhadores, ou do número dos trabalhadores, simultaneamente ocupa-
dos. Ademais, uma vez que se supôs (não se provou) que da mais-valia que
entra no valor do produto, parte cabe ao dono da tena como renda fundiá-
509
ria, seguir-se-á daí que, na realidade a magnitude da rendafuruiiária cresce na
mesma proporção do valor do produto agrícola com o do "produto fabricado".
No exemplo acima, o produto agrícola está para o ,produto industrial
na razão de 2 1 = 600 : 300. Admitamos a razão de 300 : 600. Uma vez
que a renda fundiária depende da mais-valia inserida no produto agrícola;
ê claro que se esta no primeiro caso atinge 1 200 horas e, no segundo, 600
apenas, a renda fundiária - se constitui porção detenninada dessa rnais-
valia - tem de ser, no primeiro caso, maior que no segundo. Ou, quanto
maior a [X>rçlio de valor do produto agrícola no valor do produto total, tan·
to maior a parte que lhe cabe na mais-vai-ia do produto global, pois em cada
fração do valor do produto se insere determinada porção de mais-valia; e
quanto maior a participação do produto agrícola na mais-valia do produto
global, tanto maior a renda fundiária, uma vez que determinada proporção
da mais-valia do produto agrícola se insere na renda fundiária.
A renda fundiária, na hipótese de ser 1/10 da mais-valia do produto
agrícola, será 120 horas se o valor do produto agrícola for 600 libras, dedu-
zidas das 900, e 60 horas se esse valor for 300 libras. A TTIJlgnitude da renda
fundiária, por isso, variará com a magnitude do valor d.o produto agrícola, e
em conseqüência também com a magnitude relativa do valor do produto agrí-
cola comparado com o produto industrial. Mas o ''nível" da renda fundiária
e o do lucro - suas taxas - nada em absoluto terão a ver <XJ'!' isso. No pri·
meiro caso, o valor do produto = 900 libras, das quais 300 = produto indus-
trial e 600""' produto agrícola. Daí 600 horas de mais-valia para o produto
industrial e l 200 para o produto l!grícola. Ao todo, 1 800- horas. Destas,
120 correspondem a renda fundiária, e 1 680 a lucro. No segundo caso, ova-
lor do produto = 900; 600 para a índüstria e 300 para a ágricultura. Mais-
valia, portanto, 1 200 horas para a indústria e 600 para a agricultura. Ao to-
do, l 800. Saem daí 60 para renda fundiária e 1 200 para o lucro da indús-
tria + 540 para o da agricultura, o que soma l 740. No segundo caso, o pro·
'duto industrial é o dobro do agrícola (segundo o valor); no primeiro, o con-
trário. No segundo caso, a renda fundiária = 60; no primeiro, 120. Cresceu
na mera proporção do valor do produto agrícola. Quando este aumentava,
ela crescia. Se consideramos a mais-valia global = 1 800, a renda fundiária
será 1/1 S no primeiro caso, e 1/30 no segundo.
Aí se aumenta, com a grandeza da porção de valor pertinente ao pro-
duto agrícola, a TTIJlgnitude da renda fundiária e se, com a magnitude des-
ta, a respectiva participação proporcional no valor gwbal - e em consequên-
cia a taxa em que a mais-valia pertence â renda fundiária sobe em relação à
taxa em que pertence ao lucro - é apenas porque Rodbertus supõe que a
510
renda fundiária participa em proporçiio determinada da mais-valia do pro-
duto agrícola. e, o que tem na realidade de suceder, dada ou presruposta
essa circunstân.cia. Mas ela mesma não decorre dos disparates arrumados
por Rodbertus sobre o "valor da matéria-prima" e que mencionei acima
no intcio da página 47625
O nlvel da renda fundiária cresce mas não em proporção com a mais-
valia no produto em que ela participa, pois agora como dantes essa propor-
çã'o é 1/10; a magnitude da renda fundiária cresce porque esse produto cres-
ce, e porque sua magnitude cresce, sem ter subido seu "nível", cresce seu
"nível'' comparado com a quantidade do lucro ou a cota do lucro no valor
desse produto global. Da maís-vaJia a parte transformada.em renda é maior
naturalmente porque se pressupôs que parte maior do valor do produto total
proporciona renda (rent), se tomou conversível em renda (rent) parte maior
da mais-valia. A coisa nada tem a ver com o "valor da matéria-prima". Mas
é absurdo afirmar que
''renda maior" configure ao mesmo tempo renda "de nível mais alto",
"porque a área ou número de acres em que é calculada não variou e em
conseqüência maior soma de valor conesponde a cada acre" (p. 122).
Ptoduto Produto
industriei agrícola
600 libras 300 libras 1 200 horas de mais-valia para indústda, 600 para agri-
cultura e 60 para renda (rent). Ao todo 1 860, das
quais 1 800 para lucro.
11 300 libras 600 libras 600 horas de mais-valia para indústria, l 200 para agri-·
cultura e 120 para renda. Ao todo 1 920, das quais
1 800 para lucro.
511
A renda fundiária do caso I é duas vezes ª'do caso II, porque aumen-
tou, em relação ao produto industrial, o produto agrícola, a parte que ela
suga do valor do produto. O montante de lucro nos dois casos é o mesmo,
l 800. No primeiro caso, a renda fundiária é 1/31; no segundo, 1/16 da
mais-valia global.
Se Rodbertus quer que seja ônus exclusivo da indústria "o valor da
matéria-prima", deve ele antes de mais nada sobrecarregar apenas a agricul·
nua com a parte do capital constante formada por maquinaria etc. Essa par·
te do capital entra na agricultura como produto fornecido pela indústria -
como "produto de fabricação" que constitui meio de produção da "maté·
ria-prima".
No tocante à indústria - e uma vez que se trata aí de contas entre
duas firmas - já se lhe debita na rubrica de "matéria-prima" ou "valor do
material", a parte do valor das máquinas constituídas por "matéria-prima".
Não se pode então computar isso duas vezes. Das máquinas, a outra parte do
valor utilizada na indústria consiste em "trabalho de fábricação" adicionado
(pretérito e present~ ), e este se reduz a salário e lucro (trabalho pago e traba-
lho nao pago). Assim, a parte do capital aí adiantada (fora a contida na ma·
téria-prima das máquinas) consiste sqmente em salário. Daí acrescer a mag-
nitude do capital adiantado e ainda o montante de mais-valia a ser calculado
sobre esse capital adiantado, isto é, o lucro.
[O erro usual nesses cálculos consiste por exemplo em,que o desgaste
da maquinaria ou dos instrumentos, encerrado na própria máqui.il.a, em seu
valor - embora em última análise redutível a trabalho, sej~ trabalho inseri~
do na matéria-prima, seja trabalho que transformou a matéria-prima em má-
quina etc. - esse trabalho pretérito nunca ma.is entra no luéro nem no salá-
rio, mas só atua ainda como condição produzida de produção (no sentido
de que não muda o tempo de trabalho necessário para a reprodução) que figura
no processo de criar mais-valia apenas como valor do capital constante, seja
qual for seu valor de uso no processo de trabalho. Isso é muito importante
e já analisei na pesquisa sobre a troca entre capital constante e renda (reve-
nue)26. Contudo, é mister, além disso, desenvolver ainda o assunto na secção
sobre acumulação de capital.]
Quanto à agricultura, isto é, a mera produção de produtos primários
ou a chamada produção primária - no ajuste das contas entre as firmas de
"produção primária'' e de ·rabricarifu" - a parte do valor do capital a qual
nela participa e representa máquinas, instrumentos etc., essa parte do capital
512
constante, só pode ser considerada uma rubrica que entra no capital da agri-
cultura sem lhe aumentar a mais--wilin. Se o trabalho agrícola adquire maior
produtividade em virtude do emprego de maquinaria etc., a produtividade
cresce tanto menos quanto mais aumenta o preço dessa maquinaria etc. :f o
valor de uso da maquinaria e não seu wilor que acresce a produtividade do
trabalho agrícola ou de qualquer trabalho. Aliás, poder-se-ia dizer também
que a produtividade do trabalho industrial é determinada, antes de tudo, pe-
la existência da matéria-prima e por suas propriedades. Mas por sua vez é o
valor de uso da matéria-prima - não seu valor - que é condição da produ·
çã'o industrial O valor é antes uma desvantagem. Mutatis mutandis aplica-
se portanto à maquinaria etc., o que Rodbertus diz do "valor da matéda-
prima" referindo-se a capital industrial:
27. Marx parodia aí frases de Rodbertus <,,itadas neste volume, pp. 490 e 491. As
palavras introduzidas por Marx estão impressu em letras espaçada!l.
513
ao comprar a máquina, tem de recomprar a inatéria·prima. E portanto co-
mo se não a tivesse mesmo vendido, mas emprestado ao construtor de má-
quinas para este lhe dar a forma de máquina. Assim, do valor da maquinaria
aplicada na agricultura, a parte que se reduz a matéria-prima, embora produ-
to do trabalho agrícola e fração de seu valor, pertence à produção e não ao
produtor e por isso figura nos custos dele como as sementes. Ao revés, a ou-
tra parte que configura o trabalho de fabricação da maquinaria é "produto
fabricado" que entra na agricultura no papel de meio de produção, domes·
mo modo que a matéria-prima entra na indústria como meio de produção.
Por conseguinte, se é certo que a firma "produção primária" fornece
à firma "indllstria"' o ''valor da matéria-prima", item que entra no capital
do fabricante, não é menos certo que a firma "indústria" fornece à firma
"produção primária" o valor das máquinas, o qual entra por inteiro (incluf-
da a parte c.onsistente em ~téria-prima) no capital do agricultor, sem que
esse componente do valor proporcione ao agricultor maís-valia alguma. Essa
é a razã:o por que, na alta agricultura2"', como a chamam os ingleses, a taxa
de lucro se revela menor que na agricultura rudimentar, embora a taxa de
mais-valia seja maior.
Isso ao mesmo tempo propiç.ia a Rodbertus contundente prova de
que, para a natureza de um adiantamento de capital, tanto faz que a parte
do valor do produto despendida em capital constante tenha reposição físi-
ca direta e seja meramente contabilizada como mercadoria, como valor mo·
netário, ou que realmente se tenha alienado e passado pelo processo de- com-
pra e venda. Se o produtor de matérias-primas, por exemplo, desse' grátis ao
construtor de máquinas o ferro, cobre, madeira etc., contidos na máquina
que utíliza, de modo que o construtor ao vender-lhe a máquina, lhe debitas-
se o traballio adicionado e o desgaste da própria maquinaria, tal máquina
custaria ao produtor primário tanto quanto lhe custa atualmente, e a mesma
parte componente do valor figuraria em sua produção como capital constan-
te, como adiantamento. Também tanto faz que um agricultor venda a co-
lheita e com a parte de seu valor representadorn de sementes (matêria-prima),
compre sementes - talvez para efetuar mudança conveniente no tipo de se-
mente e evitar degeneração por cultivo, dentro da mesma espécie -, ou que
.tíre diretamente de seu produto esse componente de valor e o restitua à terra.
Mas Rodbertus para justificar seus cálculos desvirtua a natureza da
parte do capital constante constituída por maquinaria.
514
Segundo aspecto a examinar no tocante à tese li de Rodbertus: ele
fala dos produtos industriais e agrícolas em que consiste a renda (revenue),
o que difere muito dos produtos industriais e agrícolas em que consiste a
totalidade do produflJ anual. Admitamos seja certo, para essa totalidade, di-
zer que - após se descontar, do capital agrícola, a parte toda consistente em
maquinaria etc., e do produto agrícola, a parte restituída diretamente à pro-
dução agrícola - a proporção em que a mais-valia se reparte entre o arrenda-
tário e o industrial, e portanto a proporção em que a recebida pelo arrenda-
tâJio s.e reparte entre este e o dono da terra, tem de ser determinada pela par-
ticipação que indústria e agricultura têm no valor global dos produtos; ainda
assim, é muito discutível que isso seja certo quando s.e fala dos p1odutos
que constituem o fundo comum da renda (rwenue). A renda (revenue) (ex-
cluída aí a parte que se reconverte em novo capital) consiste em produtos
que entram no consumo individual, e agora trata-se de saber quanto os capi·
talistas, arrendatários e donos de terra retiram desse fundo. São essas cotas-
partes determinadas pela participação que indústria e produção pri.má;ia têm
no valor dos produtos que constituem renda (re11e1me)? Ou pelas partes (de
trabalho agrícola e de trabalho industrial) que formam o valor do produto
total que cónfigura renda?
A massa.desses produtos em que consiste a renda exclui, segundo mos-
trei antes 29 , todos os produtos que entJam na produção como instrumento
de trabalho (maquinaria), matéria auxiliar, semimanufaturado e matéria-
prima de semimanufaturado e constituem parte do produto anual do traba·
llio. Exclui não só o capital constante da produção primária, mas também
o capital oonstante do construtor de máquinas e o capital constante todo
dos arrendatários e dos capitalistas, o qual entra no processo de trabalho,
mas não no processo de· criar valor. Ademais, exclui não só capital constan-
te, ma.-. também a parte daqueles produtos não consumíveís que configuram
a renda (revernle) de seus produtores e entram no capital dos produtores dos
produtos consumíveis como renda (rwenue) para repor o capital constan-
te desgastado.
A massa. de produtos em que se gasta a renda (revenue) e que de fato
configura, da riqueza, a parte que forma a renda segundo o valor de uso e o
valor de troca, essa massa de produtos, conforme demonstrei antes, só pode
ser considerada consistente em trabalho de novo adicicmado (durante o
ano), e por isso só se converte em renda (revenue), isto é, salário e lucro
(que por sua vez se reparte em lucro, renda (rent}, impostos etc.), sem par·
515
tícula alguma dela conter valor da maté1ia-prtma que entra na produção,
nem valor do desgaste de mãquinas nesta ocorrido. numa palavra, valor al·
gum dos meios de trabalho. Consideremos essa renda (revenue) (pondo de
lado as formas dela derivadas, pois só mostram que o dono da renda trans-
fere a outro sua parte alíquota dos referidos produtos, por serviços etc. ou
por débito etc.) e admitamos que o salário constitua 1 /3 dela, o lucro l /3 e
a renda fundiária 1/3, e seja o valor do produto= 90 libras. Assim, cada um
retira da massa produtos no montante de 30 libras.
Uma vez que a massa de produtos que fonna a renda configura apenas
trabalho de novo adicionado (adicionado durante o ano), parece muito sim-
ples que se a massa de produtos encerra 2/3 de trabalho agrícola para 1 /3
de trabalho industrial, o valor se repartirá entre industriais e agricultores
nessa proporção. Caberá aos industriais 1/3 do valor, aos agricultores 2/3,
e a magnitude proporcional de maís-valla realizada na indústria e na agricul-
tura (suposta a mesma a taxa de mais-valia em ambas) corresponderá às par·
ticipações que indústria e agricultura têm no valor do produto global; e a
renda fundiária por sua vez crescerá em proporção ao montante do lucro
do arrendatário, pois o suga como parasita. Isso entretanto é falso. E que
do valor parte constituída por tr~balho agrícola forma renda (revenue)
daqueles fabricantes de capital fixo etc. que repõem o desgaste deste capi-
tal na agricultura. A razão entre trabalho agrícola e trabalho industrial nos
componentes do valor dos produtos que configuram a renda (revenue) não
indica portanto a proporção em que se reparte o valor dessa lllassa de pro-
dutos ou essa massa de produtos entre industriais e agricultores, ném a pr<>-
porção em que indústria e agricultura participam na produção global .
.Rodbertus prossegue:
516
ponto arbitrário em que, por exemplo, os valores de cânhamo e de tecido
de linho, isto é, as quantidades correlativas do tempo de trabalho neles con-
tido estão na razão de 1 : 3 Se essa razão se altera, é correto dizer que a pro-
dutividade desses diferentes trabalhos se alterou. _Mas é falso dizer que a
produção de ouro é "menos produtiva"' que a de ferro, por ser de 3 o tem-
po de trabalho exigido para a produção de uma onça de ouro e também de
3 o requerido para a de uma tonelada de ferro.
A relação de valor entre duas mercadorias mostra que uma custa mais
tempo de trabalho que a outra; por isso, não se pode dizer que uma é "mais
produtiva" que a outra. Isso só seria correto se o trabalho nos dois lados
se aplicasse para produzir os mesmos valores de uso.
Não se pode em absoluto dizer que a indústria é 3 vezes mais produ-
tiva que a agricultura, por estar o valor do produto primário para o do in-
dustrial na razão de 3:1. Só quando a razão muda, se toma, digamos, 4:1 ou
3 :2 ou 2:1 etc., poder-se-á dizer que variou a produtividade relativa nos dois.
ramós. Isto é, ao crescer ou decrescer ~queta razão.
III. "O nfvel do gtinho do C(lpital é determinado apenas pelo nível do l'll·
lor do produto em geral e pelo do valor do produto primário e do p.ro-
duto fabricado em particular, ou pela relação entre a produtividade do
trabalho em geral e a do trabalho da produção primária e da fabricação
em particular. O nível da renda fundiária, além disso, depende da magni·
tude do valor do produto ou da quantidade de /r(lb(IJhO ou de forç(I pro-
duti11(1 que, com ckda reJ(lçâo de produtividade, se aplica na produção"
(pp. 116, 117).
517
parte do capital desembolsada em salário. Não p9de existir mais-valia, abso-
luta ou relativa (e Rodbertus, seguindo Ricardo~ só conhece a últíma), se o
trabalho não é pelo menos tão produtivo que sobre para o trabalhador tem-
po de trabalho excedente acima do necessário para a própria reprodução.
Mas, nessa hipótese, daào um mínimo de produtividade, a taxa de mais-valia
varia com o tempo de trabalho excedente.
Primeiro, é portanto falw que a taxa de lucro seja determinada apenas
pela produtividade do trabalho explorado pelo capital, porque assim o seja
a taxa de mais-valia ou o "nível do ganho do capital". Segundo: supomos
dada a taxa de mais--valia, que, para dada produtividade do trabalho, varia
com a duração da jornada e, para dada jornada normal, com a produtividade
do trabalho. A própria mais-wilia variará então de acordo com o número de
trabalhadores dos quais se extrai em cada jornada detenninada quantidade
de mais-valia; ou de acordo com a magnitude do capital variável, o desem-
bolsado em salário. A taxa de lucro porém depende da proporção entre essa
mats-valüt e o capital variável+ o capital constante. A magnitude da mais-
valia, dada a taxa de mais-valia, depende por certo da magnitude do capital
variável, mas o nível do lucro, a taxa de lucro, depende da proporção entre
essa mais-valia e a totalidade do capital adiantado. Aí a taxa de lucro: será
determinada portanto pelo preço da 'matéria-prima (no ramo industrial on-
de há matéria-prima) e pelo valor da maquinaria de rendimen.to definido.
Por isso está substancialmente errado o que diz Rodberfus:
518
"Po1 isso, a renda fundiária pode subir por um fator vigente no desenvol-
vimento econômico nacional da sociedade em toda parte, o acréscimo do
trabalho empregado na produção, ou seja, a população crescente, sem te1
conseqüência na ascensão do va101 do produto primário, pois a retirada
de renda fundiária de quantidade maior de produto primário já tem ne-
cessariamente aquele efeito" (p. 127).
E porquê?
Para ocorrer esse caso basta o operáóo trabalhar 3/4 da jornada para o
patrão, supondo-se portanto que l /4 dessa jornada lhe seja $uficiente para a
própria reprodução. Sem dúvida, se Rodbertus, em face do valor total do
produto= 300, não o considera pelo que ele excede os custos de produção,
mas diz que esse produto é para dividir entre capitalista e trabalhador, a co-
ta do capitalista só pode importar em fração desse produto, mesmo quando
alcance 999/1000. A maneira de calcular, porém, é incorreta ou pelo menos
inútil em quase todos os aspectos. Quem desembolsa 150 e obtém 300 não
costuma dizer que lucra 50%, calculando os 150 sobre 300 e não sobre 150.
Admitamos, no exemplo acima, trabalhe o operário 12 horas, 3 para
si e 9 para o capitalista. Passe ele agora a trabalhar 15, isto é, 3 para si e 12
para o capitalista. De acordo com a relação de produção antes vigente, o
519
capital constante terá de acrescer em 25 (na realidade menos, pois o dispên-
dio em maquinaria não cresceria na mesma proporção da quantidade de tra-
balho). Assim:
Rodbertus aí, tal como Ricardo, explica uma pela outra, a ascensão
da renda fundiária e a queda da taxa de lucro; a queda de .uma é igual à
ascensão da outra, e a elevação da renda fundiária se explica pela improdu-
520
tividade relativa da agricultura. De maneira até bem explícita diz Ricardo
algures 30 que não se trata de improdutividade absoluta mas "relativa". Ti-
vesse ele porém dito o contrário, sería incoerente com o princípio que de-
fende; o autor original do ponto de vista ricardi.ano, Anderson, sustenta ex-
plicita.mente a capacidade absoluta de melhoramento.de todo solo.
Se a "mais-valia" em geral subiu (lucro e renda fundiária), é possível
que a taxa da renda fundiária total tenha caído em relação ao capital cons-
tante, e ainda ela terá caído por se ter elevado a produtividade. Embora te-
nha aumentado o número dos trabalhadores empregados e a taxa por que
são explorados, o capital desembolsado em salário em geral, apesar de acres-
cido em termos absolutos, terá caído relatlvamente, pois o capital como
adiantamento, produto do passado que é posto em movimento pelos traba·
lhadores e entra na produção como antecedente necessário, constitui parte
sempre crescente da totalidade do capital. Terá por isso caído a taxa conjun-
ta lucro +renda fundiária, embora a soma de ambos tenha crescido (a mag-
nitude absóluta) e ainda a taxa de exploração do trabalho. Rodbertus não
pode ver isso, pois para ele o capital constante é uma invenção industrial e
dela nada sabe a agricultura.
Quanto ã magnitude relativa do lucro e da renda fundiária: da cir·
cunstância de a agricultura ser relativamente menos produtiva que a indús-
tria não resulta que a taxa de lucro caia em tennos absolutos. Se, por exem-
plo, a razão entre lucro e renda fundiária era de 2 : 3 e agora de 1 : 3, constí·
tuía ele antes 2/3 da renda fundiária e agora l /3, ou seja, formava antes 2/5
da mais-valia global e agora somente 1/4, correspondia antes a 8/20 e agora
somente a 5/20; teria portanto ;decrescido de 3/20 ou 15%.
Suponha que o valor da Jibra-peso de algodão era 2 xelins. Cai para l
xelim. l 00 trabalhadores que antes fiavam 100 libras-peso num dia, fiam
agora300.
As despesas para 300 libras-peso eram antes de 600 xelins; agora são
apenas de 300 xelins; admita ainda que a maquinaria nos dois casos seja
1 /10 = 60 xelins. Finalmente, as 300 libras·peso custavam antes 300 xelins
em dispêndio com 300 trabalhadores, mas agora somente 100 xelins com
l 00 trabalhadores. Uma vez que a produtividade dos trabalhadores aumen·
tou, e aqui temos de supor que são pagos com o próprio produto, admita-
mos a mais-valia anterior = 20% do salário, e a atual = 40.
Assim, as 300 libras-peso custam: no caso I, 600 de matéria-prima, 60
de maquinaria, 300 de salário, 60 de mais-valia, ao todo 1 020 xelins; no
521
caso II, 300 de matéria-prima, 60 de maquinaria" 100 de salário, 40 de mais-
valia, ao todo 500 xelins.
No primeiro caso, custos de produção, lucro e taxa de lucro, respecti-
vamente, 960, 60 e 6 1/4%; no segundo caso, respectivamente, 460, 40 e
8 16/23%.
Admitindo-se que a renda fundiária seja 1/3 de libra-peso, no primeíro
caso será ela igual a 200 xelins = 1O libras, e .no segundo caso igual a 100
xelins = 5 libras. A renda caiu aí porque a matéria-prima barateou de 50%.
Mas o produto total barateou de mais de 50%. O trabalho adicionado indus-
trial em 1 está para o valor da matéria-prima na razão de 360 : 600 = 6: 10 =
1:1 2/3; em II, na de 140:300 = 1:21/7. O trabalho industrial tomou-se re-
lativamente mais produtivo que o agrícola; entretanto, no primeiro caso a
taxa de lucro é menor e a renda fundiária maior que no segundo. Nos dois
casos, a renda fundiária representa 1/3 da matéria-prima.
Admitamos que em II dobre a massa de matéria-prima; haveria assim
fiação de 600 libras-peso e a situação seria:
II. 600 libras-peso = 600 xelins de matéria-prima, maquinaria 120 xe-
lins, salário 200, mais-valia 80. Ao todo, custos de produção 92Q xelins, lu-
cro 80, taxa de lucro 8 16/23%.
A taxa de lucro subiu comparada com a de I. A renda fll1ldiária.seria
a mesma de 1. As 600 libras-peso só custariam 1 000, quando antes teriam
custado 2 040.
Do preço relativo alto do produto agrícola não décorre que ele dê
renda fundiária mais alta. Mas, uma vez admitido que renda fundiária é
percentagem que se fixa em toda fração de valor do produto agrícola -
como o faz Rodbertus, pois é tola sua pretensa demonstração - resulta-
rá por certo que a renda sobe com a elevação crescente do preço do pro-
duto agrícola.
522
8. O verdadeiro cerne da lei deformada
por Rodbenus
523
arrendatário calculasse de fato as despesas que faz, o cerne que perdura é
apenas a seguinte asserção:
Se as matéria8'-prirnas são vendidas pelo respectivo valor, esse valor
está acima dos preços médias das outras mercadorias, ou seja, acima do
próprio preço médio, vale dizer, é maior que os custos de produção + o
lucro médio, deixando assim lucro excedente que forma a renda fundiária.
Isso significa também que, em relação ao capital constante, o capital variá·
vel (suposta invariável a taxa de mais-valia) é maior na produção primária
que na média das esferas de produção que pertencem à indústria (o que
não impede que em parte dos ramos da indústria seja maior que na agri·
cultura). Ou de maneira mais geral: a agricultura pertence ao gênero dos
ramos industriais cujo capital variável, em relação ao constante, é maior
que na média dos ramos industriais. Sua mai~-valia calculada sobre os cus-
tos de produção tem por isso de ser mais alta que na média dos ramos in-
4ustríais. Vale dizer, sua taxa particular de Lucro está acima da taxa média
de lucro ou da taxa geral de lucro. O que significa também: a taxa particular
de lucro em cada ramo de produção - invariável a taxa de mais-valia e dada
a própria mais-valia - depende da relação, em cada ramo, entre capital va-
riável e capital constante.
Aí a lei geral por mim desenvo1Vida 31 estaria expressa apenas para um
ramo particular da indústria.
Bm conseqüência:
l) E núster demonstrar que a agricultura pertence aos ramos particula-
res de produção em que os valores das mercadorias estão acima dos preços
médios e cujo lucro portanto, quando esses ramos dele se apropriam e não
cedem para o nivelamento da taxa geral de lucro, está acima óo lucro médio,
isto é, proporciona, além deste, um lucro excedente. Esse ponto parece in-
dubitáveÍ para a média da agricultura, por nela predominar relativamente o
trabalho manual e ser próprio do modo de produção burguês desenvolver a
indústria mais rápido que a agricultura. Alíás isso é uma diferença histón·ca,
suscetível de desaparecer. Isso ao mesmo tempo deriva de cair no conjunto
o valor dos meios de produção fornecidos pela indústria à agricultura, en-
_quanto no conjunto sobe o valor da matéria-prima fornecida pelá agricul-
tura à ind6stria, motivo por que o capital constante em grande parte da in-
dústria tem valor relativo maior que na agricultura. Parece que isso nã'o se
estende, de ordinário, à indústria extrativa.
524
2) Não cabe dizer corno faz Rodbertus: o produto agrícola, se se ven-
de em média, de acordo com a lei geral, pelo valor, tem de fornecer -um lu-
cro excedente, aliás renda fundiária. Como se essa venda pelo valor da mer-
cadoria acima do preço médio fosse a lei geral da produção capitalista. Ao
revés, importa demonstrar porque na produção prímária - por exceção e em
constraste com o gênero dos produtos industriais cujo valor também está
acima do preço médio - os valores não se rebaixam aos preços médios e por
isso fornecem lucro excedente, ou seja, renda fundiária: Isto se explica sim-
plesmente pela propriedade da terra. O nivelamento só ocorre entre capitais,
pois só capital tem poder sobre capital para executar as leis imanentes doca-
pital. Até aí têm razão os que derivam a renda fundiária do monopólio: do
mesmo modo que só o monopólio do capital capacita o capitalísta a extor·
quir trabalho excedente do trabalhador, o monopólio da propriedade fun-
diária éapacita o dono da terra a extorquir do capitalista a parte de trabalho
excedente que constituiria lucro suplement(11' permanente. Os que derivam
a renda fundiária do monopólio erram ao acreditar que o monopólio capa·
cite o dono da terra a impelír o preço da mercadoria acima do valor. Ao re-
vés, o monopólio consiste em manter o valor da mercadoria acima do preçá
médio; em-vender a mercadoria não acima do valor mas pelo valor.
Assím modificada, a coisa fica certa. Explica a existencia da renda
fundiária, enquanto Ricardo só explica a existência das rendas fundiárias
dz'ferendais e na realidade deixa a propriedade da terra sem efeito econ6mi-
co. Além disso, elimina a superestrutura aliás apenas arbitrária no próprio
sistema de Ricardo, desnecessária para sua exposição, e consistente em que
a indústria agricola se torna progressivamente menos produtiva; permite,
ao contrário, que se torne mais produtiva. Só que, na base burguesa, é rela.-
tivamente menos produtiva ou mais lenta que a indústria para desenvolver
as forças produtivas. Ric~rdo acerta ao derivar sua ''mais-valia excedente"
não de maior e sim de menor produtividade.
525
em particular e antes de tudo para os produtos que fornecem o pão, o ali-
mento principal; para solos de área. e fertilidade iguais, provém de investi-
mento desigual de capita! A primeira diferença natural gera diferença no
montante e ainda no nível Oú taxa da renda fundiária, em confronto com o
capital despendido; a segunda, diferença industrial, apenas gera renda fun-
diária maior, proporcional à magnitude do capital adiantado. Pode ocorrer
também diferença de resultado· por sucessivos investimentos de capital no
mesmo solo. A existência dos diferentes lucros suplementares ou das dife-
rentes rendas fundidrias em terras de fertilidade diversa não distingue a agri-
cultura da indústria. O que a distingue é a fixação desses lucros suplemen-
tares, por repousarem numa base natural (que por certo 110de ser mais ou
menos nivelada), enquanto os lucros suplementares na indústria - dado
igual lucro médio - só emergem para desaptJTecer e só surgem porque se
empregam máquinas e combinações de trabalho mais produtivas. Na indús-
tria é sempre o capital que chega por último, o mais produtivo, o que pro-
picia um lucro suplementar rebaixando os preços médios. Na agricultura
esse lucro suplementar pode e com freqüência. tem de resultar não do acrés-
cimo absoluto mas do relativo da fertilidade das melhores áreas, por se cul-
tivar terra menos produtiva. Na in~ústria a produtividade relativa maior,
o lucro suplementar evanescente tem de provir sempre do acréscimo abso-
luto da rentabilidade, da produtividade do novo capital aplicado, em con-
fronto com o antigo. Na indústria nenhum capital pode propiciar lucro su-
plementar (estamos excluindo alta momentânea da procura) em·vittude da
entrada recente no ramo industrial de capitais menos produtivos.
526
Segundo essa teoria não é necessário. que o pior terreno pague renda
fundiária nem que não pague. E também possível que, onde não se obtém
renda fundiária mas apenas o lucro nonnal ou nem mesmo este, se pague
arrendamento, o proprietário emboJse uma renda iundiária embora nenhu-
ma exista economicamente.
Primeiro. Só se paga renda fundiária (lucro supT.ementar) pelo terrenD
melhor (mais fértil). A renda fundiária "como tal" não existe aí. Nesses casos,
o lucro suplementar - como o lucro suplementar da indústria - rarament.c
aparece fixo na configuração de renda fundiária (como no Oeste dos Estados
Unidos da América do Norte).
Esse é o caso onde relativamente grande quantidade de terra disponí-
vel nãó é objeto de propriedade privada e ainda a fertilidade natural tem
magnitude tal que, apesar do pequeno desenvolvimento da produçã'o capita-
lista, isto é, da gránde proporção do capital variável com o constante, os
valores dos produtos agrícolas são iguais (freqüentes vezes inferiores) aos
preços médios. Se os valores forem mais altos, a concorrência os rebaixará
a esse nível. E absurdo contestar essa ausência da renda fundiária, como faz
por exemplo Rodbertus, dizendo que o Estado cobra um dólar mais ou
menos por acre, um preço pequeno, quase nominal. Se1ia equivalente a ale-
gar que o Estado cobra um "imposto de indústria e profissões" sobre a
atividade de todo ramo industrial. 32 Nesse caso existe alei de Ricardo. A
renda fundiária existe - embora não em estado sólido mas fluido como o
lucro suplementar na indústria - só para teuas relativamente mais férteis,
O solo que nenhuma renda fundiária paga, deixa de pagá-la não por falta
de fertilidade, mas antes em JJirtude de rua fertilidade. Às melhores espécies
pagam potque possuem mais que a fertilidade média, em virtude de sua
fertilidade relativamente mais alta.
Por motivos op0stos, em países onde existe propriedade o mesmo
caso seria possível, a saber, que a terra cultivada por último não pague
renda fundiária. Seja o valor do trigo, por exemplo, tão baixo (e essa bai-
xa nada teria a ver com a circunstância de se pagar renda fundiária) que,
em virtude da fertilidade relativamente diminuta do solo cultivado por
último, apenas se iguale ao [JTeço médio: assim, se aí se aplica a mesma
quantidade de trabalho empregada no solo que dá renda, o número de
quorters, por exemplo, seria tão pequeno (para o capital desembolsado)
que, com o valor médio dos cereais panificáveis, só se obteria, digamos,
o preço médio do trigo.
527
Admitamos. por exemplo, que o último solo que dá renda (e o solo
que dá a menor renda representa a renda pura; os outros, renda diferen-
cial) produza com um investimento de 100 libras um produto de 120 libras
ou 360 quarteis de trigo, o quarter por lí3 de libra. Nesse caso 3 quar-
ters = 1 libra, Seja 1 libra= 1 semána de trabalho. 100 libras= 100 sema-
nas de trabalho e 120 libras = 120 semanas de trabalho. 1 quarter = 1 /3
de semana= 2 dias, e desses 2 dias ou 24 horas (se a jornada normal de traba·
lho = 12 horas) 1/5 ou 4 4/5 horas sejam trabalho não pago= mais-valia
contida no quarter. l quarter = 1/3 libra= 6 213 xelins ou 6 6/9.
Se o quarter se vende pelo valor e o lucro médio= 10%, o preço mê·
dio dos 360 quarters = 110 libras ou o preço médio do quarter = 6 1J9
xelins. O valor estaria 10 libras acima do preço médio. E uma vez que o
lucro médio = 10%, seria a renda fundiária = metade da mais-valia = 1O
libras ou S/9 de xelím por 1 quarter. Tipos melhores de terra que, para o
mesmo dispêndio de 120 semanas de trabalho (das quais só 100 corres-
pondem a trabalho pago, seja materializado ou vivo), fornecessem mais
quartets, dariam, ao preço de 6 6J9 xelins por quarter, uma renda maior.
Mas a pior terra cultivada daria uma renda de 1O libras para l 00 de capi·
tal ou de 5/9 de xelim para o quarter de trigo.
Admitamos se cultive novo solo que só dê 330 quarters C9m. 120
semanas de trabalho. Se o valor de 3 quarters = l libra, o de '330 quar-
ters ;: 11 O libras. Mas agora o quarter = 2 dias e 2 2/ 11 horas. quando an-
tes era igual a 2 dias. Antes 1 quarter = 6 6/9 xelins ou 1 quarter = 6 xe-
lins e 8 pence; agora, uma vez que 1 libra= 6 dias, 1 quarter. = _7 xelins,
3 pence e l 1/11 farthing. O quarter agora terá de ser vendido mais caro
de 7 pence e l l /11 farthing, para ser vendido pelo vafor,,ao qual também
proporcionaria a renda de 5/9 de xelim por quarter. O valor do trigo produ-
zido no melhor solo está então abaixo do valor do obtido no pior solo~ se
esse solo pior vende ao preço do quarter do solo que é imediatamente
.melhor ou fornecedor de renda, estará vendendo abaixo do seu valor, mas
a seu preço médio, isto é, ao preço em que tem o lucro norma) de 10%. Pode
portanto ser cultivado e propiciar ao capitalista o lucro médio nonnal.
Em dois casos, o pior solo daria então, além de lucro, renda.
Primeiro: o valor do quarter de trigo ultrapassaria 6 6/9 xelins (seu
preço poderia ultrapassar 6 619 xelins, isto é, seu valor, em virtude da pro-
cura, mas aqui não investigamos esse ponto; os 6 6/9 xelins, o preço do
quarter, davam uma renda de 10 libras ao pior solo antes cultivado e eram
o valor do trigo cultivado nesse solo que proporcionava uma renda não
diferencial), isto é, o pior solo antes cultivado e todos os outros seriam re-
528
!ativamente menos férteis, para darem a mesma renda, de modo que seu va.
lor estivesse mais acima de seu preço médio e do preço médio das outras
mercadorias. A circunstância, portanto, de o novo terreno da pior qualida-
de nâ'o proporcionar renda alguma, não decorre de sua baixa fertilidade e
sim da fertilidade relativa dos outros solos. O pior solo cultivado que dá ren-
da r~presenta, ante o novo tipo de solo com o novo investimento de capi·
tal, a rendll em geral, a renda não diferencial. E o que eleva aí a renda não
é a fertilidade desse solo que dá renda.
Admitamos existam três classes acima do último solo que fornece
renda. A classe II (acima de I, o último solo que dá' renda) proporciona ren-
da 1i5 maior, porque o solo é 1í 5 mais fértil que o da classe 1; a classe III,
por sua vez, renda 1/5 maior, por ser 1/5 mais fértil que a II, e a~im a clas-
se IV, por ser 1/5 mais fértil que a III. A renda em libras, uma vez que é
de 10.na classe I, é de 10 + 1/5 =
12 na clas'se II, de
12 + 1/5 = 14 2/5 na
III,e 142/5+ 1/5= 177/25nalV. 33
· Se a fertilidade de IV fosse menor, seria maior a renda de III a 1 in-
clusive e também maior absolutamente a de IV (mas a proporção seria a
mesma?). Podemos encarar a questão de duas m_aneíras. Se I for mais fértil,
a renda de li, III e IV será proporcionalmente menor. Mas 1 está para II,
33. Nesse parágrafo começa Marx a pesquisar como a roma das tendas (a renda
absoluta e a renda düerencial) depende da fertilidade tehtiva da tena, partindo da
hipótese preliminar de ser a soma das rendas diretamente proporeíomtl à fertilidade
do solo (se uma classe de solo é um quinto mais fértil que outra, a respectiva soma
das rendas será um quinto maior que a renda que se obtém da classe do solo menos
fértil). Prosseguindo na pesquisa, Mai:x abandona essa hipótese e formula de manei-
ra mais precisa a dependência que a soma das rendas tem da fertilidade telatil'll do solo.
Se, de acordo com as explicações a seguiJ de Marx, fizermos a soma elas ren-
das de cada uma das classes de solo - H, lll e IV -, considerando o número de quar-
ters obtido em cada uma delas e vendido por todas as chsses a pieço de l /3 de libra
por quartcr, teremos para a classe li 34 libnu, pata a Ili 62 4/5 e para IV 97 9/25.
O cálculo é feito da seguinte maneira: a classe li, uma vez que é 1/5 mais fértil que
a l, fornece 360 + 72, isto é, 432 quarten, vendidos por 432/3 libras, ou seja, 144
libras. Dessas 144 oorrespondem 110 libras ao custo de produção + lucro médio; pa·
ra a soma das rendas (absoluta ç diferencial) ficam 34 libras. Calcula-se do mesmo
modo para as classes Ili e IV.
Marx aplica à soma da$ rendas no cap. XII ("Quadros e comentários xeferentes
à renda diferencíal") o método preciso de calcular, que todavia já aparece neste
capítulo. Assim, à p. 98 retoma Marx à soma das rendas da classe IV, 17 7 /25, apre-
sentada à p. 92, e refere-se à renda diferencial dessa classe, 7 7/25, ao mesmo tempo
indicando o caminho certo de calcuJar a renda diferencial, a saber, 207 9/25 - 120 =
""' 87 9/25 libras. Se adicionarmos aí as 10 libras da renda absoluta, teremos a soma
das rendas ela classe IV, 97 9/25 libras, o que fica em plena ooncordíincia com as con-
clusões posteriores de Marx.
529
II está para III e IIl para IV, como o novo tipo adicionado de solo que não
dá renda está para 1. O novo tipo de solo não fornece renda porque o valor
do trigo de 1 não está acima do preço médio do novo solo. Estaria acima
se I fosse menos fértil. O novo solo então também daria renda. Mas o mes·
mo sucede com 1. Se II for mais fértil, I não dará renda ou dará renda me-
nor, e do mesmo modo II está para llI e lil está para lV. Por fim, o inver-
so portanto: a fertilidade absoluta de IV determina a renda de III. Se IV
for maís fértil, Ill, II e l darão renda menor ou nenhuma. A renda que 1
dá, a renda não diferenciada, é determinada portanto pela fertilidade de
IV, como a circunstância de o novo solo n:!o dar renda é determinada pela
fertilidade de 1. Aí vige portanto a lei de Storch, a saber: a renda do terre-
no mais fértil determin&. a renda do último solo a dar renda em geral e por
conseguinte também a diferença entre o solo que dá renda não diferencia-
da e o que não dá nenhuma. 34
Por conseguinte, o fato de a quinta classe aí, o novo solo cultivado
I' (em contraste com T), não dar renda é devido não à própria carência de
fertilU:ktde, mas à carência em relação a I, isto é, à fertilidade relativa de 1
em confronto com l'.
Segundo: o valor referente aos tipos de solo 1, li, III e IV que dão
renda, a saber, 6 xelins e 8 pence por quarter (para maior verossimilhança
pode-se dizer bushel em vez de quarter), é igual ao preço médio .de I' e está
abaixo do próprio valor deste. Mas são possíveis muitos estádios interme-
4iârios. Se r, para um investimento de 100 libras, proporcionasse uma quan·
tidade qualquer entre seu rendimento real de 330 bushels e o de l~ de 360,
ou seja, 333, 340, 350 at.é 360 · x, o valor do quarter = 6 xelins e 8 pence
estaria acima do preço médio de I' (por bushel), e esse últ;tno solo cultiva-
do daria uma renda. Que proporcione enfim o lucro médio é devido à ca-
rência relativa de fertilidade de l e portanto de 1 a IV. Que náo porporcio-
ne renda é devido à fertilidade relativa de I e à própria carência de fertili-
dade. O último terreno cultivado I' poderia dar uma renda, se o valor do
34. Em seu Cours d'ér:onomie politique; vol. 2, pp. 78 e 79, São Petersburgo,
1815, escreve Stoich: "A renda das classes de terra mais férteís determina o nível
da renda de todas as outras espécies de terra que conconem com a terra mai.s fértil
Enquanto os produtos das classes de temi mais férteis puderem satisfazer a procura,
as tenas menos férteis que fazem concouência à tena mais fértil nlo podem ser cul-
tivadas ou, pelo menos, não podem proporcionar 1enda. Mas, logo que a procura co-
meça a ultrapassar a quantidade de produto que as elasses de terra mais férteis Podem
fornecer, aumenta o preço do produto e toma.-se possível cultivar as classes de terra
menos férteis e delas obter renda." Marx também fala dessa idéia de· Storch em O Ca-
pital (ver DlFEL, livro 3. vol. 4, pp. 207 e 208, e vol. 6, p. 754).
530
quarter estivesse acima de 6 xelins e 8 pence, isto é, se l, II, III e IV fossem
menos férteis, pois então o valor do trigo seria maior. Mas poderia também
proporcionar uma renda, dado o valor de 6 xelins e 8 pence para o bushel,
isto é, se fosse a mesma a fertilidade de I, II, III e IV. desde que ele mesmo
fosse mais fértil, fornecesse mais de 330 bushels, e por conseguinte o valor
de 6 xelins e 8 pence por quarter estivesse acima de seu preço médio, em
outras palavras, seu preço médio agora estivesse abaixo de 6 xelins e 8 pen-
ce, ou seja, abaixo do valor do trigo cultivado em I, 11,Jll e IV. Se o valor
está acima do preço médio, há um lucro suplementar acima do lucro médio,
e daí a possibilidade de renda.
Vemos então: confrontando-se diferentes ramos de produção - indús-
tria e agricultura por exemplo - a existência de valor acíma do preço mé-
dio indica maior carência de produtividade do ramo de produção que for-
nece o lucro suplementar, o excesso de valor sobre o preço médio. Nomes-
mo ramo, entretanto, indica produtivídade maior do capital em contraste
com outros capitais no mesmo ramo. No exemplo acima, I fornece renda
fundiária porque na agricultura é maior que na indústria a razão entre oca·
pítal variável e o constante, isto é, mais trabalho novo tem de ser adiciona-
do ao materializado, e porque, em virtude da propriedade da terra, esse ex·
cesso de valor sobre o preço médio não é nivelado pela concorrência dos
capitais. Mas l ainda proporciona renda fundiária porque o valor de 6 xelins
e 8 pence por bushel não está abaixo de seu preço médio, pois não é tão
estéril a ponto de seu próprlo valor ultrapassar 6 xelins e 8 pence por bushel,
e não é seu próprio valor que determina seu pre.ço e sim o valor do trigo
cultivado em li, llI e IV ou, de um ângulo estrito, em II. Depende de sua
própria produtividade a circunstância de esse preço de mercado ser então
apenas igual a· seu próprio preço médio ou estar acima dele e a de seu valor
estar acima de seu preço médio.
Por isso, Rodbertus também erra ao sustentar que todo capital que
proporciona lucro médio na agricultura tem de dar renda fundiária. Essa
conclusão falsa decorre de sua premissa errada. Ele raciocina asaim: o capi-
tal na agricultura, por exemplo, rende 1O libras. Mas as 1O libras aí ~- por
não entrar no caso matéria.-prima, ao revés do que sucede na indústria - se·
calculam sobre soma menor. Representam portanto mais de 10%. Todavía,
o busílis é este: náo é a ausência da matéria-prima (a matéria-prima, ao con-
trário, entra na verdadeira agricultura; nlfo importaria que não entrasse se
aumentasse a proporção da maquinaria etc.) que eleva o valor dos produtos
agrícolas acima do preço médio (seu próprio preço médio e o das outras
mercadorias) e sim uma proporção maior do capítal variável com o cons·
531
tante, comparada não com a de ramos industriais particulares mas com a
média da índústria. A magnitude dessa diferença geral determina o montan-
te e a existência da renda fundiária de 1, da renda fundiária absoluta, não
diferencial e por isso a men.or. O preço do trigo em I', do novo solo cultiva-
do que não dá renda fundiária, não é determinado pelo wlor de seu próprio
produto e sim pelo valor de 1, e portanto pelo preço médio de mercado do
trigo fornecido por I, II, III e IV
O privilégio do produto agrícola (em virtude da propriedade da terra)
de se vender não pelo preço médio, mas pelo valor quando esse valor está
acima do preço médio, não víge absoluta e reciproca.mente para os produ-
tos cultivados em diferentes tipos de solo, para os produtos produzidos por
diferentes valores dentro da mesma esfera de produção. Confrontados com
os produtos industriais têm a faculdade exclusiva de ser vendidos pelos res-
pectivos valores. Confrontados com os outros produtos da mesma esfera
são detenninados pelo preço de mercado, e depende da fertilidade de 1 que
o valor - nele igual ao preço médio de mercado - seja bastante alto bu
baixo, isto é, a fertilidade de 1 seja bastante alta ou baixa para 1', ao ser
vendido por esse valor, participar pouco, muito ou em nada mesmo da di-
ferença geral entre o valor e o preço médio do trigo. Mas Rodbertus - uma
vez que de maneira nenhuma distingue valores de preços médios e conside-
ra lei geral de todas as mercadorias e nã'o privilégio dos produtos ·agrícolas
a circunstância de serem vendidas por seus valores - tem sem dúvida de
acreditar que também o produto do pior solo tem de ser vendido por seu
valor individual. Mas esse privilégio desaparece para esse produto naconcor-
rência com produtos do mesmo gênero.
Então é po~ível que o preço médio de r esteja acima do valor de 1,
6 xelins e 8 pence por bushel. Pode-se admitir que (embora isto n5o seja de
todo correto) a procura tem de subir para haver cultivo do solo I'. Por isso,
o preço do trigo de 1 tem de elevar-se acima de seu valor, acima de 6 xelins
e 8 pence, e de maneira persistente. Nesse caso será cultivado o solo I'. Se
ao preço de 6 xelins e 8 pence pode obter o lucro médio, embora seu valor
esteja acima de 6 xelins e 8 pence, e satisfazer a procura, o preço se reduzi-
rá a 6 xelins e 8 pence, pois agora a procura de novo corresponderá à oferta,
e assim I - e também 11, III e IV - tem de ser de novo vendido a 6 xelins.
:e 8 pence; o mesmo se estende portanto a I'. Entretanto, se o preço mMio
de I' importar em 7 xelins e 8 pence, de modo que só a esse preço (muito abai-
xo de seu valor individual) proporcione o lucro normal, terá o valor do
bushel, se não houver outro modo de satisfazer a procura, de se fixarem 7 xe-
lins e 8 pence, e o preço da procura de 1 subirá acima de seu valor. O de II,
532
III e IV já está acima de seu valor indivídual, e subirá mais ainda. Mas, se
fosse prevista a importação de trigo, que de maneira nenhuma permitiria
tal configuração, 1' podería contudo ser cultivado se houvesse pequenos
arrendatários que se contentassem com menos que o lucro médio, Isso ocor-
re constantemente na agrícultura e na indústria. E também nesse caso, quan-
r
do fornece o lucro médio, pode-se pagar renda fundiária que seria apenas
uma dedução do lucro do arrendatário. Se isso também não for exeqüível,
pode o dono da terra arrendá-la a lavradores que se empenhem sobretudo,
como ocorre com o tecellfo manual, em obter o salário e lhe pagar o exce-
dente, grande ou pequeno, na forma de renda. Esse excedente poderia ser
mesmo, como no caso do tecelão manual, mera dedução náo do produto
do trabalho e sim da remuneração do trabalho. Em todos esses casos pode.
ria ser paga renda- fundiária. Num caso, seria dedução do lucro do capita-
lista. No outro, o dono da terra apropriar-se-ia do trabalho excedente do
trabalhador, do qual o capitalista, aliás, se apropria. E no último caso, es-
taria sugando o salário do trabalhador como os capitalistas o fazem fre-
qüentes vezes. Mas produção capitalista em grande escala só é possível
onde o último solo cultivado dá pelo menos o lucro médio, isto é, se o va-
lor de 1 proporciona a I' pelo menos o preço médio.
Vê-se como a distinção entre wz/or e preço médio resolve o problema
de maneira surpreendente e mostra que Ricardo e seus opositores rem ra-
zão. 35
1, o solo que dá renda fundiária absoluta, se fosse o único cultivado,
venderia o bushel de trigo pelo valor, por 6 xelins e 8 pence ou 6 6/9 xelins
e não o rebaixaria ao preço médio de 6 1/9 ou 6 xelins e l 1/3 pence. Se
crescesse a procura, se toda terra do país fosse do mesmo tipo e decuplicas-
se a terra cultivada,·e-uma vez que l dá 10 libras de renda por 100, a renda
aumentaria para 100 libras, embora só existisse um único tipo de terra. Mas
não awnentaria a taxa ou o nível da renda com relação ao capital adianta-
do nem com relação ao solo cultivado. Seriam cultivados 10 vezes mais
acres e adiantado capital 10 vezes maior. Haveria portanto mero acréscimo
do total, da massa da renda, não do seu nível. A taxa de lucro não declina-
ria, pois o valor e preço dos produtos agrícolas não se alterariam. Um capi-
tal 1O vezes maior pode naturalmente dar urna renda 1O vezes maior que a
de um capita] l O vezes menor. Entretanto, se for aplicado capital l O vezes
35. Diz Marx que, na questão do valor de mercado dos produtos agrícolas, Ricardo
e Storch enam e acertam ao mesmo tempo e que ambos omitiram o caso intermédio
(ver O Capiral, DJFEL, livro 3, vol. 4, pp. 207 e 208, nota 30),
maior na mesma área com o mesmo resultado, a taxa de renda, em confron-
to com o capital desembolsado, será a mesma; terá subido em relaçã'o à área,
mas em nada alterará a taxa de lucro.
Admitamos agora se torne o cultivo de 1 mais produtivo não por se
ter modificado a terra.e sim por se ter desembolsado mais capital constan-
te e menos capital variável, mais capítal em maquinaria, cavalos, adubos mi-
nerais etc. e menos em salário; então, o valor do trigo se aproximará de seu
preço médio e do preço médio dos produtos da indústria por se ter reduzi-
do a proporção excessiva de capital variável com o constante. Nesse caso
cairá a renda, e a .taxa de lucro ficará invariável. Se ocorresse tal mudança
no modo de produção, igualando-se com a média da indústria a proporção
entre capital variável e constante, desaparecería o excesso do valor sobre o
preço médio do trigo e portanto a renda {rent), o lucro suplementar. 1 não
pagaria mais renda, e a propriedade da terra se teria tomaçlo nominal (des-
de que ao modo de produção alterado não se juntasse porventura incorpo-
ração adicional de capital ao solo, e assim o proprietário, ao ténnino do
arrendamento, extraísse juro de um capital que nãô adiantou, meio prin-
cipal de enriquecimento do dono da terra e em tomo do qual gira a contro·
vérsía sobre o direito do arrendatário na Irlanda). Se, fora I, exístirem II,
Ili e IV, e em todos estes se tiver aplicado esse modo de produção, darão
eles contudo renda em virtude da fertilidade natural maior.que a de Í e na
medida em que são mais férteis. Nesse caso 1 teria cessado de dar renda fun.
diária, e em correspondência as rendas de II, III e IV teriam :Caído, pois o
nível geral da produtividade na agricultura se teria igualado ao da indústria.
A renda de II, Ili e IV corresponderia à lei ricardiana; seria simplesmente
igual ao lucro suplementar -~ e só como tal existiria - ·<le solo mais fértil
em confronto com solo menos fértil, em analogia com os lucros suplemen·
tares da indústrta, só que a estes falta a base natural para se fixarem.
A lei ricardiana também reinaria mesmo quando não existisse pro-
priedade fu1Ulidria. Abolida a propriedade da terra e mantida a produção
capitalista. remanesceria esse lucro suplementar emergente da diferença de
fertilidade. Se o Estado se apropriasse da terra e prosseguisse a produção
capitalista, a renda de ll, -Ili e IV seria paga ao Estado, a própria Rind~ con-
tinuaria a existir. Se a terra se tomasse propriedade do povo, desapareceria
em geral a base da produção capitalista, o fundamento sobre que se apóia
a autonomia, em face do trabalhador, das condições de trabalho.
Uma questão, a esclarecer mais tarde, relativa à renda fundiária: co-
mo pode ascender o valor e o volume da renda fundiária com agrfoultura
ma.is intensiva, embora decline a taxa dessa renda eqi relação ao capital
S34
adiantado? E claro que isso só é possível porque aumenta o montante do
capital adiantado. Se a renda é 1/5 e se toma 1/10, 20 X 1/5 = 4 e
50 X 1/10 = 5. Esse é o único efeito. Se a agricultura intensiva adquiris·
se as mesmas condições em média prevalecentes na indústria, em vez de
apenas se aproximar delas, desapareceria a renda do terreno menos fértil
e reduzir-se-ia, para o terreno mais fértil, a mera diferença de solo. Deixa-
ria de existir a renda abroluta.
Admitamos agora que, por aumentar a procura; se passe do cultivo
do terreno l para o II. 1 paga a renda absoluta, II pagaria renda diferencial,
mas o preço do trigo (valor para I, valor suplementar para II) ficaria o mes-
mo. A taxa de lucro também não seria alterada. E assim por diante até se
chegar ao solo IV. Por conseguinte, também sobe o nfvel, a taxa da renda
se o câlculo abrange o capital despendido em 1, II,Ilie.IV. Mas a taxamédia-de
lucro de II, III e IV permaneceria a mesma de 1, igual à da indústria, à taxa
geral de lucro. Subindo-se portanto para terras mais férteis, podem crescer
o montante e a taxa de renda, embora não varie a taxa de lucro e perma-
neça constante o preço do trigo. A fecundidade crescente do capital em
U, III e IV, e não a decrescente em 1, teria causado- a alta na taxa e no
montante da renda. A produtividade crescente, ao contrário do que neces-
sariamente sucede na indústria, não aumentaria o lucro nem reduziria o
preço da mercadoria e o salário.
Mas, se ocorrer o processo oposto, indo de IV para III, II e 1, o preço
subirá até 6 xelins e 8 pence, ao qual ainda haverá em 1 renda de 10 libras
para cada 100. Assim, o trigo em IV, para cada 100 libras, dá renda de
17 7 /25, mas destas 7 7/25 são excesso de seu preço sobre o valor de 1.
O solo 1 proporcionou por 100 libras (com renda de 10 libras e o bmhel
no vtµor de 6 xelins e. Jl pence) 360 bushels. O II, 432 bushels; o III, 518
bushels, e o IV, 622 2/25 bushels. Com o bushel ao preço de 6 xelins e
8 pence, IV deu uma renda suplementar de 7 7 /25 para cada 100. IV vende
3 bushels por l libra ou 622 2/25 por 207 9/25 libras. Mas o valor é apenas
de 120 libras, como em I; o excedente é apenas o excesso do preço sobre
o valor. IV venderia o quarter ou melhor o bushel pelo valor se o vendesse
por 3 xelins e 1O 8/27 pence, e por esse preço obteria de 100 libras 1O de
renda. Com o movimento de IV para Ili, de III para II e de II para I sobe
o preço (e com ele-a renda/do bushel até afinal atingir 6 xelins e 8 pence
~m 11 onde o preço proporciona a mesma renda que antes fornecia em IV.
Com a ascensão do preço cairá a taxa de lucro, em parte por subir o valor
dos meios de s.ubsistêncta e das matérias-primas. O movimento de IV para
Iii poderia ooo.rrer desta maneira: em virtude da procura, cí"preço de IV
535
sobe acima do valor, fornecendo, além da renda, renda suplementar. Por
isso cultiva-se Ill, que a esse preço e suposto o lucro médio usual não deve
proporcionar renda. Se com a alta do preço de IV não tiver caído a taxa de
lucro mas o salário, III proporcionará o lucro médio. O salário, porém, de·
ve elevar-se ao nível nonnal em virtude da oferta de III; cairá então a taxa
de lucro em 1ll etc.
Cai portanto a taxa de lucro nesse movimento declinante confonne
os pressupostos estabelecidos: IlI não pode dar renda ao preço de IV, e l i
só pode ser cultivado com a. taxa de lucro antiga por causa da queda mo-
mentânea do nível do salário.
Nessas condições pode vigorar a lei de Ricardo. Mas não necessaria-
mente, nem mesmo em sua concepção. Só pode vigorar em determinadas
conjunturas. Na realidade os mo'<imentos sãü contraditórios.
Isto encerra, na essência, a teoria da renda (rent).
Para Rodbertus a renda fundiária deriva da natureza eterna, pelo me·
nos da produção capitalista, em virtude de sua idéia do "valor da matéria·
prima". Para nós resulta de uma diferença histón"ctz nos componentes orgâ-
nicos do capital, a qual pode em parte eliminar-se e mesmo desaparecer por
completo com o desenvolvimento da agricultura. Sem dúvida, desde que se
origine apenas da variação da fertilídade natural do solo, a difere~ça rema-
nesce, mesmo que tenha desaparecido a renda absoluta. Mas -::" omitindo-se
de todo a possível igualação das diferenças naturais - essa renda 4iferenci.al
se liga à regulação do preço de mercado e por isso desaparece_ com o preço
e com a produção capitalista. Só restaria o fato de o trabalJw Social cultivar
solos de fertilidade diverS11, e então, apesar da quantidade- diferente de tra-
balho aplicado, pode este se tornar mais produtivo em ,todos os tipos de
terrenos. Mas a quantidade maior de trabalho que o terreno pior despende
não teria de redundar em pagamento de má.is trabalho para o terreno me-
lhor, como no sistema burguês. Ao contrário, o trabalho poupado em IV
seria utilizado para melhorar III, o poupado em III para melhorar II, e por
fim o de II para melhorar I; assim, o capital todo devorado pelos donos das
terras serviria para igualar o trabalho da terra e para· reduzir o trabalho em
geral aplicado na agricultura.
(Como vimos 36 , A. Smith primeiro concebe com acerto o valor e are-
lação entre lucro, salário etc., componentes desse valor, mas depois, ao
revés, considera como antecedentes necessários os preços do salário, do
lucro, da renda fundiári~ e procura defmi-los como elementos aut_ônomos,
536
para com eles compor o preço da mercadoria.. Nessa reviravolta procura
de início apreender a coisa em seu nexo causal e depois, na forma inversa,
como ela aparece na concorrência. Comporta-se ingenuamente com ambas
as idéias que nele se entrecruzam, sem perceber a contradição. Rícardo,
ao contrário, de maneira consciente abstrai da forma, da aparência da com-
.petição, para apreender as leis como tais. Cabe criticá-lo, por um lado, por
não avançar nem ser conseqüente bastante na abstração, e assim, por exem-
plo, ao interpretar o valor da mercadoria, logo se deixa íníluenciar por con-
siderações relativas. a condições concretas de toda espécie; p.or outro lado,
por conceber a forma fenomenal, de maneira imediata e direta, como pro-
va ou representação das leis gerais, sem explicd-la. No primeiro caso, sua
abstração é por demais incompleta, e no segundo é abstração formal, falsa
em si mesma.)
537
te), que - dada a taxa de renda fundiária - a re,nda fundiária pode acrescer
sem se alterar o valor dos cereais ou do produto agrícola37 • Esse aumento
também não é problema para ele. O acréscimo do montante de renda, quan-
do a taxa permanece a mesma, não lhe é problema. O problema para ele é
a elevação da taxa de renda, isfo é, a relação entre a renda e o capital agrí-
cola adiantado, e por isso também o acréscimo do valor e não do volu-
me do produto agrícola, mas do valor, por exemplo, de um quarter de
trigo, da mesma quantidade de produto agrfcola, com o que aumenta
o excesso desse valor sobre o preço médio e em conseqüência o exces-
so da renda sobre a taxa de lucro. Rodbertus elimina aí o problema
ricardiano (para não falarmos de seu errôneo "valor da matéria-prl-
ma").
Sem dúvida pode a taxa de renda subir em relação ao capital adian·
tado, isto é, o valor relativo do produto agrícola em confronto com o pro-
duto industrial, embora a agricultura se tome cada vez maia produtiva. E
isso pode ocorrer por dois motivos:
Primeiro: tomemos o exempl.o acima, a passagem de 1para11, III e
IV, isto é para terras cada vez mais férteis (mas sem que a oferta a~cional
seja bastante para lançar 1 fora.de .cultivo ou se reduu a diferença entre
valor e preço médio a ponto de IV, 111 e II pagarem rendas proporcional-
mente mais baixas e I nenhuma). Se em 1 a renda for 10, em JI 20, em III
30 e em IV 40, e forem investidas 100 libras em todos os tipos ,de terras,
a renda em 1 será 1/10 ou 10% do capital adiantado, em II 2/10 Õu 20%, em
III 3/10 ou 30%, e em IV 4/10 ou 40%. Ao todo 100 libras para 400 de ca·
pital adiantado, o que à taxa média de renda dá 100/4 = 25%. Consideran-
do-se o capital todo empregado na agricultura, a renda importa agora em
25%. Se fosse ampliado apenas o cultivo do solo I, a renda importaria em
40/400, 10% corno dantes, e não teria tido os 15% adicionaís. Mas, neste
caso (se 330 bushels correspondem a dispêndio de 100 libras em I) seriam
produzidos somente 1 320 bushels ao preço de 6 xelins e 8 pence; no outro
caso são produzidos 1 518 bushels ao mesmo preço. Nos dois casos adian-
ta-se o mesmo capital.
Mas ai a elevação do m'vel da renda é apenas aparente. 38 E que, se
cakularmos o dispêndio do capital em relação ao· produto, em 1 são neces-
538
sárias 100 libras para se produzirem 330 bushels, e 400 para se produzirem
1 320 bushels. Agora, porém, são necessárias apenas l 00 + 90 + 8J + 70,
isto é, 340 libras, para se produzirem 1 320 bllShels.. Em II 90 libras produ·
zem tanto quanto 100 em I, em III 80 tanto quanto 90 em II, em IV 70
tanto quanto 80 em III. Em II, UI e IV elevou.se a taxa de renda fundiária
em confronto com a de I.
Se considerarmos a sociedade inteira, para produzir o mesmo produ-
to seria aplicado capital de 340 em vez de 400, isto é, 85% do anterior.
Os l 320 bushels apenas se repartem de maneira diversa da do pri·
melro caso. Para 90 de capital, o arrendatário tem de ceder o mesmo que
antes para 100; para 80, o mesmo ciue antes para 90, e para 70, o mesmo
que antes para 80. Mas os dispêndios de capital de 90, 80 e 70 lhe dão o
mesmo produto que o dispêndio anterior de 100. Cede mais não por ter de
empregar capital maior para fomecer o mesmo produto, mas por empre-
gar menos capital, não por se ter tomado o capital menos produtivo e sim
mais produtivo; entretanto, continua a vender ao preço de 1, corno se pre·
cisasse ainda do mesmo capital para produzir a mesma quantidade de p_ro.
duto.
Segundo. Além desse aumento da taxa de renda - o qual coincide
com a elevação desigual do lucro suplementar em ramos isolados da indús-
tria, embora aí não se fixe - só há para taxa de renda wna segunda possi-
bilidade de subir, embora invariável o valor do produto, isto é, o trabalho
nã'o se toma menos produtivo. Isso ocorre quando a produtividade da agri-
cultura permanece a mesma e sobe a da indlistria, e essa elevação se expres-
se na queda da taxa de lucro. Isto é, quando se reduza a proporção do ca-
pital variável com ..o constante. Ou também quando a produtividade sobe
na agricultura, mas não em proporção igual à observada na indústria e sim
menor. Se a produtividade na agricultura aumenta na razão de 1 : 2, e na in-
dústria na razão de 1 : 4, relativamente é o mesmo que tivesse ela continua·
do igual a 1 na agricultura e dobrado na indústria. Nesse caso, o capital
variável em relação ao constante decresceria na indústria duas vezes mais
rápido que na agricultura.
Nos dois casos cairia a taxa de lucro na indústria e, por ter caído, su-
biria a taxa da renda fundiária. Nos demais casos, a taxa de lucro não sofre
queda absoluta (ao contrário, permanece comtante) mas relativa, confron-
tada com a renda fundiária, não por ela mesma cair, mas por subir a renda
fundiária, a taxa da renda fundiária em relação ao capital adiantado.
Ricardo não distingue entre esses casos. Excetuados eles (ísto é, quan-
do varia a proporção geral entre capital constante e capital variável em vir·
539
tude da produtividade acrescida da indústria, e da( aumentar o excesso do
valor sobre o preço médio na agricultura, ou quando a taxa de lucro, embo·
ra constante, experimenta q~da relativa por causa das rendas diferenciais
do capital aplicado em terra& mais férteis), a taxa de renda fundiária só po-
de subir quando a taxa de lucro declina sem tornar-se a indústria mais
produtiva. Mas isso só é possível se o salãrio subir ou a matéria-prima au-
mentar çle valor em virtude da menor produtividade da agricultura. Então,
a queda da taxa de lucro e a elevação da taxa da renda fundiária resultam
da mesma causa - a produtividade decrescente da agricultura, do capital
empregado na agricultura. É o que pensa Ricardo. Inalterado o va1or do di-
nheiro, isso tem de se revelar na alta dos preços das matérias-primas. Se a
alta é relativa, como acima, mudança nenhuma no preço do dinheiro pode
elevar de maneira absoluta os preços em dinheiro dos produtos agrícolas
em confronto com os industriais. Se o dinheiro cair em 50%, l quarter de
trigo que vali a 3 libras passa a valer 6, e uma libra-peso de fio que valia
l xelim sobe para 2. As variações no dinheiro nunca podem portanto ex-
plicar a aJta absoluta dos preços em dinheiro dos produtos agrícolas, ~
parados com os industriais.
Em geraJ pode-se supor que 110 modo de produção rudinientar, pré-
capitalista, a agricultura é mais produtiva que a indústria, pois a ·natureza
na função de máquina e organismo coopera com aquela, enquanto na in-
dústria as forças naturais ainda são quase por completo substituídas pela
força humana (o que se dá na indústria artesanal etc.); na wancia tempes-
tuosa da produção capitalista, a produtMdade da indústria se &senvolve.
rapidamente, confrontada com a agrícola, embora esse desenvolvimento.
pressuponha já ter ocorrido na agricultura variação importante entre capi-
tal constante e capital variável, isto é, o êxodo de grande número de seres
humanos. Mais tarde a produtividade avança em ambas, embora em ritmo
desigual. Mas, ao atingir a indústria certa altitude, a desproporção tem de
decrescer, isto é, a produtividade da agricultura deve ter acréscimo relativo
mais rápido que a industrial. Isso requer: (1) substituição do agricultor
preguiçoso pelo homem de negócios, o arrendatário capitalista, transforma-
ção do lavrador em mero assalariado, agricultura em grande escala, com
capitais concentrados portanto; (2) sobretudo a verdadeira base cientifi-
ca da indústria moderna, a mecânica, que no século XVlll atingira certo
nível de acabamento. Só no século XIX, em particular nas últimas déca·
das, desenvolvem-se as ciências que formam de maneira direta, em grau
mais alto, as bases específicas da agricultura como da indústria: a química,
a geologia e a fisiologia.
540
É disparate falar da maior ou menor produtividade de dois ramos
industriais comparando apenas o valor das respectivas mercadorias. Se em
1800 a libra-peso de algodão = 2 xelins e a do fio ""' 4, e em 1830 o valor
do algodão se fixar em 2 xelins ou 18 pence, e o do fio em 3 xelins ou 1
xelim e 8 pence, pode-se comparar a proporção em que cresceu a produ-
tividade nos dois ramos. Mas. sõ porque se toma por ponto de partida o
nível de 1 800. Ao revés, por ser a libra-peso de algocj.ão = 2 xelins e a do
fio""' 3, isto é, o trabalho que produz o algodão o dobro do novo trabalho
adicionado, o de fiar, é tolice dizer que este é duas vezes mais produtivo
que aquele. Tolice tamanha como a de dizer que, por ser o custo de fazer
a tela menor que o da obra do pintor sobre ela, este trabalho é menos pro-
dutivo que aquele.
O correto, embora abranja o sentido capitalista de produtivo - pro-
dutivo de mais-valia ~ consideradas ao mesmo tempo as quantidades rela-
tivas do produto-, é apenas o seguinte:
Se, em média, de acordo com as condições de· produção, são neces-
sárias 500 libras em matéria-prima, maquinaria etc. (dados os respectivos
valores), _para empregar 100 trabalhadores por 100 libras na índústria têX·
til algodoeira, e necessárias 150 libras em matéria-prima e maquinaria pa·
ra empregar l 00 trabalhadores por l 00 libra! na cultura do trígo, então o
capital variável em I representa l /6 do capital total de 600 libras, e l / 5 do
capital constante; em II o capital variável representa 2/5 do capital total
de 250 libras e 2/3 do capital constante. Assim cada 100 libras despendi-
das em I só pode conter 16 2/3 libras de capital variável e tem de conter
83 1/3 de capital constante; em II, entretanto, 40 libras de capital variável
e 60 de capital constante. Bm 1 o capital variável constitui 1/6 ou 16 2/3%
e em 11 40%, Vê-se corno são deploráveis as atuais histórias de preços. E só
podem ser deploráveis até que a teoria lhes mostre o que têm de pesquisar.
Dada a taxa de mais·vaÍia, 20% por exemplo, a niais-valia em I = 3 l /3 libras
(lucro portanto de 3 l /3%). Em II, entretanto, 8 libras (lucro portanto de
8%). O trabalho em 1 não seria tão produtivo quanto em II por s-er mais
produtivo (isto é, não seria tão produtivo de mais-valia por ser mais pro-
dutivo de produto). E claro, diga-se de passagem, que na indústria têxtil
algodoeira, por exemplo, a razão de 1 :1 /6 só é possível quando por ven-
tura se despende capital constante (isso depende das máquínas etc.) no
montante de l O 000 libras, por conseguínte salários no montante de 2 000,
isto é, um capital global de l 2 000. Se fossem despendidas apenas 6 000
libras das quais 1 000 em salários, a maquinaria seria menos produtiva etc.
Com 100 ·essa indústria não teria possibilidade alguma de funcionar. Entre-
541
tanto. é possível que, despendidas 23 000 libras, ocorra acréscimo na efi-
ciência da maquinaria, outras economias etc., de modo tal que as 19 166 2}3
libras talvez não correspondam por inteiro a capital constante, mas que
mais matéria-prima e a mesma quantidade de trabalho exijam menos ma-
quinaria etc. (em valor), nela economizando-se, digamos, 1 000 libras, En-
tão cresce por sua vez a proporção do capital variável com o constante,
mas só por ter crescido o capital absoluto. Isso é um freio à queda da taxa
de lucro. Dois capitais de 12 000 produzirão a mesma quantidade de mer-
cadoria que um de 23 000, mas primeiro as mercadorias serão mais caras,
pois custam mais 1 000 libras de dispêndio, e segundo a taxa de lucro será
menor, pois no capital de 23 000 libras o capital variável> 1/6 do capital
total, maior portanto que na soma dos dois de 12 000.
(Com o progresso da indústria, a maquinaria se torna mais eficaz
e mais barata, e em conseqüência decresce essa parte do capital constante
na agricultura se nela se empregar a mem'la quo.ntidaà.e anterior de maqui-
naria, mas essa quantidade avança mais rápido que o declínio de preço da
maquinaria, pois esse fator aínda está pouco desenvolvido na agricultura.
Ademais, com ·a produtividade da agricultura cai o preço da matéria-prima -
ver algodão -, e desse modo a matéria.prima como componente do proces-
so de fonnar valor não aumenta na mesma proporção em que açresce como
componente do processo de trabalho.) ··
Já Petty dizia que os donos das terras de seu tempo temiam ~s benfei-
torias na agricultura, pois causariam queda do preço dos .produtos agríco-
las e da renda fundiária (quanto ao nível); do mesmo modo, o aumento de
terras e cultivo de terras até então não utili2.adas = ácréscimo do solo.
(Na Holanda pode-se perceber esse acréscimo de terra (propriedade fun-
diária) de maneira ainda mais direta.) Diz ele:
542
"As rendas podem cair em certos lugares e condados, e entretanto terem
melhoria constante as terras da nação" (ele quer dizer o valor das ter·
ns), "por exempfo,.quando desmoitam partes, usurpam e cercam flores-
tas e tenas comuns, drenam pântanos e beneficiam muitas áreas" {do
país) "por meio da indústria e da adubação. Então tem de se depreciar
por certo a terra que foi antes beneficiada por completo e onde não mais
cabe melboria ulterior. Asrim decai a receita em renda fundiária dos par-
ticulares, mas ao mesmo tempo aumenta a renda geral do reino em vir-
tude dessas melhorfas" (pp. 26, 27). "De 1666 a 1668 caíram as rendas.
(renttJ particulares, mas a ascensão na totalidade da renda geral do reino
foi de maior proporção que nos anos anteriores, porque a.~ melhorias da
temi entre aqueles dois limites do tempo foram maírues·e mais general\-.
zadas que em qualquer época a[lterior" (p. 28, D'Avenant,DiscourSe$ on
the l'ublick Revenuet etc.~ Pa.rt Il, Londres, 1698).
543
Capítulo IX
Observações sobre a história da
descoberta da chamada Lei
Ricardiana. Observações complementares
sobre Rodbertus (digressão)
39. Anderson, An inquiry fnto the nature of the com laws, with a vzew to the
new corn bill proposed for Scotland, Edimburgo, 1777.
545
sia de caráter prático e imediato, sem o propósito de tratar da renda (rent),
e que explicava a natureza dela apenas como tema incidental. Nessa obra
tratou Anderson da renda em caráter acidental e não premeditado. Sua teo-
ria sobre ela reaparece, também de passagem, em um ou dois de seus ensaios
da coletânea que ele mesmo publicou em 3 volumes sob o título: Essays.
Relating to Agriculture anà ro.ral Affairs, 3 vol., Edimburgo, 1775-1796.
O mesmo se dá na obra Recreations in Agrirulture, Natural History, Arts
etc., Londres {consultá-la no British Museum40 ), publicada de 1799 a 1802;
obras todas destinadas diretamente a arrendatários e agricultores. A coisa
mudaria de figura se Anderson tivesse pressentido a importância do acha-
do e o singularizasse para o público no título "Inquiry into the nature of
rent", ou possuído em grau mínimo, para explorar o comércio das próprias
idéias, o talento que o conterrâneo MacCulloch tinha para explorar o comér-
.cio com as idéias alheias e com tanto sucesso. As reproduções de sua teoria
em 1815 apareceram de imediato como se fossem pesquisas teóricas dele
independentes sobre a natureza da renda, o que já denotam os títulos das
obras de West e Malthus:
Malthus: Inquiry into the Nature and Progress of Rent West: Essay
on the Application of Capital to Land.
Além disso, Malthus utilizou à teoria andersoniana da renda para dar
pela primeira vez fundamento tanto econônúco-nacional quanto real· (his-
tórico-natural) à sua teoria da população, e a progressão geométrica e
aritmética, tolice que tomou de empréstimo a autores precedentes, cons-
tituía hipótese meramente ilusória. Mr. Malthus "tirou partido" imediato
da ocasião. Ricardo até fez daquela doutrina da renda, confÓrme ele mesmo
diz no prefácio 41 , um dos elos mais importantes do sistema global da eco-
nomia política ·e ]he deu - omitindo-se por inteiro o lado prático - um al-
cance teórico inteíramente novo.
Ricardo, pelo visto, não conhecia Anderson, pois no prefácio de sua
Economia política considera West e Malthus os descobridores. West, pela
maneira original como expõe a lei, podia não conhecer Anderson. como
Tooke desconhecia Steuart. A coisa muda com Malthus. Um cotejo cuida-
doso de sua obra evidencia que conhece e utiliza Anderson. Era em subs-
tância plagiário por ofício. Basta confrontar a primeira edição de sua obra
546
sobre população com a anterior do reverendo Townsend 42 por mim cita-
da, para se ter a certeza de que ele, em vez de utilizá-lo à maneira de um
produtor independente, o copía e parafraseia como plagiador servil, embo-
ra nenhures o mencione e lhe oculte a existência.
E característica a maneira como Malthus se serviu de Anderson.
Anderson defendera prêmios de exportação para cereais e tributos sobre
a importação de cereais, não na base do interesse dos donos das terras,
mas por acreditar que esse tipo de legislação "moderasse o preço médio
dos cereais" e assegurass~ desenvolvimento equilibrado das· forças produ-
tivas da agrícultura. Malthus aceitou essa aplicação prática formulada por
Andersen, porque - membro autêntico da Igreja Oficial da lnglaterra -
era sicofanta profissional da aristocracia fundiãria, cujas rendas, sinecuras,
dissipação, desunia.nidade etc. justificava no plano econômico. Malthus só
representa os interesses da burguesia industrial até o ponto em que se iden-
tificam .com os da propriedade fundiária, da aristocracia, isto é, se opõem
à massa do povo, ao proletariado ;mas, quando divergem os interesses daquelas
duas esferas e assumem posições antagônicas, coloca-se ele do lado da aris-
tocracia_ contra a burguesia. Daí sua defesa dos "trabalhadores improdu~
vos", do superconsumo etc.
Anderson, ao revés, explicara a diferença entre solo que paga e o que
não paga renda ou entre terras que pagam rendas de magnitudes desiguais,
por meio da baixa fertilidade relativa da terra que não dá renda ou fornece
renda mencr, em confronto com a terra que dá renda ou renda maior. Mas
dissera de maneira terminante que esses graus de fertilidade relativa em
di/erentes tipos de terra, em conseqüência também a ball:a fertilidade rela-
tiva dos piores tipo_s de solo, comparados com os melhores, nada têm a ver
com a produtividade absoluta da agricultura. Ao contrário, acentuara que
a produtividade absoluta de todos os tipos de solo pode ser sempre aumen-
tada e tende a crescer com o progresso da população; além disso fora mais
adiante e afirmara que as desigualdades na fertilidade dos diferentes tipos
de solo podem ser niveladas de maneira progressiva. Diz que o atual estádio
de desenvolvimento da agricultura na Inglaterra não proporciona uma
idéia do desenvolvimento agrícola posstvel. Por isso dissera que num país
os preços dos cereais podem ser altos e a renda baixa, e noutro, os preços
42. Obra de Joseph Townsend,A diatertation on the poor laws... , citada po1 Marx
no m~uscrito de 1861-1863, caderno m, cap. ''Mais-valia absoluta" (pp. 112 e 113).
Marx repro.;tuz as três citações aí apresentadas em O CtJpital, F..d. DiFEL, livro 1, vol. 2,
p. 750.
547
dos cereais; baixos, e a renda, alta; e isso decorre de seu princípio, pois nos
dois países o que determina o nível e a existência das rendas é a diferença
entre os terrenos mais férteis e os menos férteis e, em nenhum deles, é a
fertilidade absoluta; em cada um, são apenas as gradações na fertilidade dos
típos existentes de terras, e em nenhum é a fertilidade média desses tipos
de terras. Conclui daí que fertilidade absoluta da agricultura nada tem a ver
com a renda. Por isso declarou-se mais tarde, conforme veremos mais adian·
te4~, decidido advers·ário da teoria malthusiana da população, sem pressen-
tir que sua própria teoria da renda ia servir de fundamento a essa monstruo-
sidade. Para Anderson, a alta dos preços dos cereaís na Inglaterra de 1750-
1801 • em confro"nto com 1700-17 50, não era devida ao cultivo de tipos de
tena .cada vez menos férteis, mas à influência da legislação sobre a agricul·
tura.nesses doís períodos.
Que fez então Malthus?
Justificou sua teoria da população com a teoria de Anderson e não
com a sua quimera (também plagiada) da progressão geométrica e arítmé·
tica, a "frase" que manteve. Conservou de Anderson a aplicação prática
da teoria naquilo que era de interesse dos donos das terras - e esse fato por
si só demonstra que, da conexão, dessa teoria com o sistema da economia
burguesa, entendia tão pouco quanto o próprio Anderson; torcia-a contrn.
o proletariado, sem se deter nas provas em contrário aprésentadas pelo
descobridor da teoria. DeiXou para Rieardo o avanço teórico e prático que
se podia fazer a partir dessa teoria - teórico, por detemúnar 9 valor da
mercadoria etc. e penetrar na natureza da propriedade fundiária; prático,
por negar a necessidade da propriedade privada da terra na base da produ-
fiío burguesa e, de maneira circunstanciada, por se op6r a todas as medi·
das governamentais como as leis sobre cereais, as quais fortaletjam a pro·
páedade fundiária. A única utilização prática que Malthus extraiu foi uma
defesa da proteçiío aduaneira que os donos das terras exigiram em 1815:
serviço de sicofanta para a aristocracia e nova j~tificação da miséria dos
produtores de riqueza, nova apologia dos exploradores do trabalho. Por
este aspecto, serviço de sicofanta para os capitalistas industriais.
Baixeza congênita de caráter é o que nele se vê, baixeza que só se
pode permitir um padre' que identifica na miséria humana o castigo pelo
pecado original e sobretudo precisa de "um vale terreal de lágrimas", mas
ao mesmo tempo, em vista da eõngrua que recebe e com a ajuda do dogma
548
da predestinação, acha vantajoso em extremo "dulcificar" a pennanêncía
das elas.ses dominantes nesse mundo de prantos. Essa baixeza se revela
também no domínio científico. Primeiro, em sua atividade cínica de pla-
giador habitual. Segundo, nos resultados que mfere de premissas científi-
cas, prisioneiros e não libertos das reverências.
549
Assim a dureza de Ricardo constituía probidade cientifica e se im-
punha cienlificamente de seu ponto de vist~. Por isso, para ele tanto f:12
que o desenvolvimento ulterior das forças produtivas liquide proprieda-
de .da terra ou trabalha.4ores. Esse progresso, mesmo que desvalorize o
capital da burguesia industrial, é-llte por igual benvindo. Se o desenvolvi-
mento da força produtiva desvaloriza de metade o capital fixo existente,
que importa, diz Ricardo. Duplicou a produtividade do trabalho huma-
no. Há portanto probidade denttfica. Se no todo a concepção de Ricar-
do se ajusta ao interesse da burguesia industrial, isto se dá somente par-
que e até o ponto em que esse interesse coincide com o interesse da pro-
dução ou do desenvolvimento produtivo do trabalho humano. Quando
se opõe a e~te interesse, a impiedade de Ricardo contra a burguesia é a
mesma das outras ocasiões em que ele é contra o proletariado e a aristo-
cracia.
44. Alusão à lei dos cereaís de 1815, lei que proibia. a entrada de trigo na Inglater-
ra enquanto o preço do trigo se mantivesse abaí:xo de 80 xelins por quarter.
550
.nomia política" contra Ricardo tinham, na essência, o objetívo de reduzir
as exigêncías absolutas do "capital industrial" e das leis sob as quais se de-
st!Dvolve sua produtividade, aos "limites vantajosos" e "desejáveis" para os
interesses existentes da aristocracia fundiária, da ..Igreja Oficial" (a que
Malthus pertence), dos pensionistas do governo e consumidores de tribu-
tos. Chamo de ''vil" um homem que procura acomodar a ciência a um
ponto de vista que dela mesma não procede (por mais errônea que seja),
mas de interesse de fora, a ela es'franhos e extTíruecos.
Ricardo não é vil quando equipara os proletários à maquinaria ou à
besta de carga ou à mercadoria, porque (de seu ponto de vista) incentiva
a produção serem eles apenas maquinaria ou besta de carga ou porque
na realidade são meras mercadorias n:i. produção burguesa. Isso é estóioo,
objetivo, científico. Ricardo, desde que atue sem pecar contra sua ciên-
cia, é sempre filantropo, como o era naprdtiaJ.
O reverendo Malthus, ao revés, por amor à produção rebaixa ostra-
balhadores a besta de carga, até os condena à morte pela fome e ao celi-
bato. Mas quando essas mesmas exigências da produção reduzem a renda
do dono da terra ou atingem o "dízímo" da Igreja Oficial ou os interesses
do "consumidor de impostos" ou sacrificam o segmento da burguesia in-
dustrial interessado na paralisia do progresso, ao segmento que represen-
ta o progresso da produção - quando portanto se trata de um interesse
qualquer da aristocracia contra a burguesia ou da burguesia conservadora
e estagnada contra a progressista - em todos esses casos "o reverendo"
Malthus não sacrifica o interesse particular à produção, mas procura no que
dele depende, sacrificar as exigências da produção ao interesse particular
das classes dominantes existentes ou de frações delas. E para esse fim for-
mula conclusões científicas falsas. Esta é sua vilania científica, seu pecado
contra a ciência, para não mencionarmos seu plagiarismo cíníco e habi-
tual. As conclusões científicas de Malthus são "cheias de reverências" pa-
ra as classes dominantes em geral e para os elementos reacionários dessas
classes em particular; isto é, ele falsif'zca a ciência em favor desses interes-
ses. São por ísso brutais com respeito às classes subjugadas. E Malthus não
é só brutal. Ostenta brutalidade, nela se compraz e exagera as conclusões
desde que se dirijam contra os miseráveís, mesmo dlém da medida que, de
seu ponto de vista, se justificaria cientificamente.
Ricardo por exemplo (ver acima), quando sua teoria o convence de
que a ascensão do salário acima do mínimo não aumenta o valor das mer·
cadorias, com toda a franqueza o diz. Malthus quer manter baixo o salário
para que o burguês lucre.
551
O ódio da classe trabalhadora inglesa contra Malthus - o reverendo
charlatão. corno duramente o chama Cobbett (na verdade, o maior escritor
político da Inglaterra neste século; faltava-lhe porém aquela formação do
professor de Leipzig45 , e era adversário direto do "estilo.erudito") - justi-
fica-se assim por completo; e o povo aí pressentia com instinto certeiro
que não defrontava homem de ciéncia algum, mas um advogado compra-
do por seus inimigos, sicofanta cínico das classes dominantes.
O inventor de uma idéía pode exagerá-la de boa-fé; o plagiário que a
exagera sempre faz "um negócio" com esse exagero.
A obra de Malthus On Populatlon - a primeira edição - uma vez
que não contém palavra científica nova, deve ser considerada apenas impor-
tuno sermão de capuchinho, uma versão, no estilo de Abraham a Santa Clara46
das exposições de Townsend, Steuart, Wallace, Herbert etc. Uma vez que
na realidade pretende impor-se apenas pela forma popular, com razão se
volta contra ela o ódio popular.
O único mérito de Malthus, em face dos míseráveis mestres de har-
monia da economia burguesa, é justamente o destaque acentuado das de-
sarmonias, nenhuma delas descoberta por ele, mas as quais em todo caso
apreende, adorna e dl\'ulga com cínica e satisfeita beatice.
Charles Danvin, On the Origfn of spedes by means o/natural selection,
or the preservation of favoured races in the sttuggle for life (5th thousand),
Londres, 1860, diz na introdução:
552
3. Roscher falsifica a história das idéias sobre
renda fundiária. Exemplos de
imparcialidade científica de Ricardo. A
renda fundiária na produção agrícola e na
industrial. Efeito duplo da concorrência.
"A lei de 177 3 ", diz Anderson, "tinha por intenção confessa rebaixar o.
preço dos cereais para nossos indust.riaís, inc~ntívando a importação do
exterior com o fim de proporcionar a nosso povo preço mais baixo"
(p. 50, A calm Invertigation of the circum1tances that have led to the
present SCflrcity ofgrain in Britam, Londres, 1810).
553
"!! notável como uma doutxina qué em 1777 quase ficou despercebida,
em 1815 e nos anos seguintes foi por igual defendida e combatida com o
maior interesse pnrque ela tocava à contradição tão bruscamente for.·
mada enue o juro do capital-dinheiro e o da propriedade fundiária"
(pp. 297, 298, Die Grundlagen der Nationalokonomie, 3;t edição, 185 8).
554
tre si. E mais, Wilhelm Tucídides deveria ver que uma luta entre os capi-
talistas industriais e os donos das terras não era absolutamente wna luta
entre os "capitalistas financeiros" e "os donos das terras". Se Wilhelm
Tucídides conhecesse a lústória da legislaçãó sobre cereais de 1815 e a lu-
ta em torno dela, já saberia de Cobbett que os traficantes dos burgos (os
donos das terras) e os traficantes de empréstimos (capitalistas fmanceiros)
marchavam juntos contra os capitalistas industriais. Mas Cobbett é "cru"
Wilhelm Tucídides deveria ainda saber da história de 1815 a 1847 que, na
luta em torno das leis sobre cereais, a classe financeira na maior parte, e
mesmo a classe mercantil em parte (Liverpool, por exemplo), encontrava·
se entre os aliados dos donos das terras contra a classe industrial.
(Roscher poderia ter no máximo estranhado que a mesmll "doutri·
na"-seivisse em 1777 para defender e em 1815 para combater «os donos
das terras" e só então causasse estrépito. 48
Se pretendesse esclarecer com esses pormenores todas as grosseiras
falsificações desse jaez cometidas por Wilhelm Tucídides em suas notas
histórico-literárias, teria de escrever uma obra t!o volumos3: quanto suas
Grondlagen, e tal obra na realidade "não valeria o papel em que fosse es·
crita": Mas o dano que a ignorância erudita de um W-tlhelm Tucídides pode
causar em pesquísadores de outras ciências vê-se em A. Bastian, que, em sua
obra, Der Mensch in der Geschichte, 1860, vol. 1, p. 374, nota, cita a fr.ase
acima de Wilhelm Tucídides como comprovante de uma proposição "psi-
cológica" De passagem, não se pode dízer de Bastian: "a obra superava a
matéria" 49 Ao contrário, a "obra" aí está aquém do próprio material.
Além disso, por meio das poucas ciências que "conheço", notei que Bastian,
·conhecedor de "todas" as ciências, fia-se com muita freqüência em autori·
dades do nível dê Wilhelm Tucídides, o que é inevitável sobretudo num "sá-
bio enciclopédlco".
Espero não ser acusado de tratar com desamor Wilhelm Tucídides.
Com que desamor esse pedante trata a própria ciência! Em todo caso, para
-falar de suas "inverdades totais" tenho o mesmo direito que ele quando
ousa falar, de maneira arrogante e depreciativa, das "meias verdades" de
Ricardo. Demais, Wilhelm Tucídides não tem "probidade" na seleção de
48. Marx tem aí em Vista a obra de Edward West, ESS/ly on the applicatíón of
capital to Jand. •• , anonimamente publicada em Londres, 1815, e a olua de David Ri-
cardo An ewy on the in,fluence of a low price of com on the profit of stock, publi-
cada em Londres no·mesmo ano.
49. Citação de Ovídio: "materiam superabat opus".
555
seus estudos .. Quem não é "respeitável", não existe nem historicamente
para ele; Rodbertus, por exemplo, não existe para ele como o teórico da
renda fundiária, porque é "comunista". E maís: é inexato quando trata de
"autores respeitáveis". Bailey, por exemplo, marca mesmo urna época para
MacCulloch. Para Wilhelm Tucíd~des, não existe. Para incentivar e popula-
rizar a ci~ncia da economia política na Alemanha, pessoas como Rodbertus
t.eriam de fundar um jornal que ficasse aberto a todos os pesquisadores (que
não fossem pedantes, presunçosos e vulgarizadores) e que tivesse por obje-
tivo principal pôr em evidência a ignorância dos eruditos tanto nessa ciên-
cia quanto em sua história.
Em Anderson não se encontrava pesquisa alguma sobre a relação de
sua teoria da renda com o sistema da economia política, o que não é de sur-
preender considerando-se que seu primeiro livro apareceu um ano depois
de WeaJth of Nations, no momento portanto em que o "sistema da econo-
mia política" mal acabava de se consolidar, pois também o sistema de
Steuart só aparec~ra poucos anos antes. Mas, o ma.teria! de que Anderson
dispunha no campo especial que obsel'llava era sem dúvida mais extenso que
o de Ricardo. Ricardo em sua teoria monetária, reprodução da teoria de
Hume, só atentou para os acontecimentos de 1797 a 1809, e do mesmo
modo na teoria da renda, reprodução da teoria de Anderson, só levou em
conta os fenômenos econômicos da alta dos preços dos cereais de 1800
a 1815.
556
sa felicidade, não deveremos nos queixar da perda de parte de nosso ca·
pita/" (p. 60, On Proteclíon toAgriculture, 4,a ed., Londres, 1822).
50. Hopkins, Economical enquiries relati11e to the laws which regulate rent,
profit, wages, and lhe value of money, Londres, 1822, pp. 37 e 38. Adiante, p. 155,
apresenta Marx a passagem correspondente do referido livro.
557
(Na conconinda cabe distinguir dois· movimentos de nivelação. Os
capitais dentro da mesma esfera de produção nivelam os preços das merc.a-
dorlas produzidas dentro dessa· esfera ao mesmo preço de mercado, qual-
quer que seja a razão entre o valor dessas mercadorias e esse preço. O pre-
ço médio de mercado teria de ser igual ao valor damercadoria, se não houvesse
o nivelamento entre as diferentes esferas de produtos. Entre essas diferentes
esferas, a concorrência iguala os valores aos preços médios, desde que a in-
teração dos capitais não seja obstruída, perturbada por terceiro elemento
- a propriedade fundiária etc.)
558
elido em trabalho aumenta tanto quanto a mais-valia. Na libra-peso de lã
se contém 3 vezes a quantidade de trabalho de l libra-peso de fio. A mais.
valia, se é 3 vezes maior, refere-se a um capital 3 vezes maior despendido
em salário. A proporção permanece portanto a mesma.
Rodbertus aí erra por completo em seu cálculo, ou seja, ao comparar
o capital despendido em sa."14rio com a quantidade maior ou menor de mer-
cadorias em que se realiza esse salário. Essa conta porém é de todo errada
se, como ele supõe, é dado o salário ou a taxa de .mais-valia.. A mesma
quantidade de trabalho, por exemplo, 12 horas, pode configurar-se em x ou
3x de mercadoria. Num caso, lx de mercadoría contém tanto trabalho
e trabalho excedente quanto 3x, no outro; mas em nenhum caso se des-
pendeu mais de uma jornada de trabalho e em nenhum caso a taxa de mais-
valia é, digamos, mais de 1/5. No primeiro caso 1/5 de x está para x, como,
no segundo, 1/5 de 3 x, para 3 x, e se chamamos cada um dos 3 x, x', x",
x"', haverá em x', x", x"', em cada um de per si, 4/5 de trabalho pago e 1/5
de trabalho não pago. Em contrapartida é absolutamente certo que, para
se produzir nas condições improdutivas a mesma quantidade de mercado-
ria obtida nas mais produtivas, ter-se-á na mercadoria mais trabalho e em
conseqüência também mais trabalho excedente. Mas então despende-se
também capital proporcionalmente maior. Para se produzir 3x, será mister
despender·em salário 3 vezes mais capital que para se produzir lx.
Ora, é certo que a indústria não pode transformar mais matéria-prima
que a fornecida pela agricultura, digamos, não pode fiar maís libras-peso de
lã que as produzidas. Assim, se a produtividade. da fiação de lã triplica, é
mister, se as condições de produção de lã não mudaram, o triplo do tempo
antes aplicado, o triplo do capital para o trabalho de produção de lã, en-
quanto na fiação seria necessário apenas o mesmo tempo de trabalho para
fiar essa lã triplicada. Mas a taxa de mais-valia permaneceria a mesma. O
mesmo trabalho de fiação teria o mesmo valor que antes e conteria o mes-
mo valor excedente. O trabalho que produz lã teria valor excedente 3 ve-
zes maior, mas por isso ter-se-ia triplícmlo também o trabalho nela conti-
do ou o capital adiantado em salário. O valor excedente 3 vezes maior seria
portanto calculado sobre capital 3 vezes maior. Não haveria portanto razão
para se dizer que a taxa de mais-valia na fração seria mais baixa que na pro-
dução de lã. Poder-se-ia dizer apenas que o capital despendido em salário numa
é 3 vezes maior que na outra (uma vez que se supõe ai que as modificações
na fiação e na produção de lã não derivam de variaçio no capital constante).
Agora cabe distinguir. O mesmo trabalho+ capital constante dá me-
nos produto em sazão desfavorável que em sazão favorável, em terra me-
559
nos produtiva que em terra mais produtiva e em minas pobres que em mi·
nas ricas. No primeiro caso, o produto é portanto mais caro, encerra mais
trabalho e mais trabalho excedente para a mesma quantidade de produtos;·
mas. no segundo, a quantidade desses produtos ê maior. E mais: isso não
atinge a relação entre trabalho pago e não pago em cada produto individual
de ambas as categorias, pois o produtoindívidual, se encerra menos traba-
lho não pago, contêm, dentro da suposição, menos trabalho pago na mesma
proporção. E que aí não se supôs mudança alguma nas proporções dos oom-
ponentes orgânicos do capítal - o capital variável e o capital constante.
Admitiu-se. que a mesma soma de capital variável e de constante, em condi-
ções diferentes, fornece quantidades diferentes, maiores ou menores, de
produto.
Rodbertus af parece confundir-se sempre e inferir do mero encare·
cimento do produto, como se fosse o óbvio, mais-valia maior. Isso, no to·
cante à taxa, já está errado em face do que se supõe; mas, no tocante à so-
ma, só está certo se num caso se adianta mais capital que no outro, isto é,
se do produto mais caro se produz tanto quanto antes do produto mais ba·
rato ou se a multiplicação do produto mais barato {caso acima da fiação),
supõe multiplicação correspondente do mais caro.
560
todo despendido na sua produção (constante + variável) + tempo de traba-
lho contido no lucro médio, por exemplo, 10%. Assim, se um capital pro-
duzisse, com a participação de um elemento, valor mai.or que o -preço me-
dio justamente por se ttatar de um elemento particular da natureza, a ter-
ra, por exemplo, o valor dessa mercadoria estaria acima de seu valor e esse
valor suplementar se oporia à idéia de ser o valor igual a determinada quan-
tidade de tempo de trabalho. Um elemento natural, algo heterogêneo em
relação ao tempo de trabalho social, criaria valor. E o que não pode ser.
Por isso, a aplicação do capital no terreno puro e simples não deve dar
renda. O pior terreno é o terreno puro e simples. Se o melhor terreno dá
renda, isso apenas demonstra que a diferença entre o trabalho individual-
mente necessário e o trabalho socialmente necessário se fixa na agrícultura
por ter esta uma_ base natural, enquanto na indfistria está sempre desapa-
recendo.
Não se permite a existência da renda fundiária absoluta, mas apenas
a da renda [undúiria diferencial. Pois admitir a renda fundiária absoluta
significaria admitir que a mesma quantidade de trabalho (materializado,
despendido em capital constante e comprado com salário) cria valores
diferent(!s, de acordo com o elemento em que o trabalho se despende ou
com o material que ele transforma. Mas, se se admite essa diversidade no
valor, embora em cada um dos ramos de produção o mesmo tempo de tra-
baJho se materialize no produto, supõe-se que o tempo de trabalho não de-
termina o valor e sim algo heterogêneo. Essa diferença das magnitude& de
valor anularia o conceito de valor, isto é, que sua substância é tempo de
trabaJho social, que suas diferenças portanto só podem ser quantitativas
e essas diférenças quantitativas siio apenas iguais às diferenças nas quanti-
dades do tempo de trabalho social empregado.
A sustentação de;- valor - não só a determinação da magnitude do va·
lor pela variação da magnitude do tempo de trabaJho, mas também da subs-
tância do valor pelo trabalho social - supõe assim a negação da renda fun-
diária absoluta. E a negação da renda fundiária absoluta pode expressar-se
de dois modos.
Primeiro. O_pior terreno niio ttmi a faculdade de dar renda. Nos me-
lhores tipos de terrenos, a renda se explica pelo preço de mercado que é
o mesmo tanto para os produtos de tipos mais favoráveis de terrenos quan-
to para os de tipos menos favoráveis. Mas o pior terreno é o terreno pUl'O e
simples. Em si não é diferenciado. Distingue-se do emprego do capital indus-
trial apenas por ser esfera particular de emprego do-capital. Se desse renda,
decorreri_a ela de a mesma quantidade de trabalho. quando aplicada em df..
561
ferentes esferas de produção, se representar em diferentes valores, vale di-
zer, a própria quantidade de trabalho não determina o valor, e não se igua-
lariam entre si produtos onde se encerram quantidades iguais de trabalho ..
Segundo. Ou também não deve dar renda o terreno primitivamente
cultivado. Então, que é o terreno primitivamente cultivado? O terreno prí·
mitivamente cultivado não é terreno melhor nem pior. :B terra pura e sim-
ples. Não se diferencia, Na orígem, o emprego de capital na agricultura só
pode diferençar-se do da indústria pelas esferas onde esses capitais se apli-
cam. Mas, uma vez que quantidades iguais de trabalho se configuram em
valores iguais, em absoluto não há razão alguma por que o capital aplica-
do em terra, além de lucro, ainda dê renda, a não ser que a mesma quanti-
dade de tr!!balho empregada nessa esfera produza valor maior, de modo que
o excesso desse valor sobre o valor produzido na manufatura proporcione
lucro suplementar = renda. Mas isso significaria dizer que a terra de per si
cria valor, e assim eliminar o próprio conceito de valor.
A terra primitivamente cultivada só terá portanto o poder de dar ren-
da na origem se se lançar por terra toda a teoria do valor. Com isso liga-se
então com muita facilidade (embora não necessariamente, segundo mos·
tra Anderson) a idéia de os homens terem escolhido na origem para o cul-
tivo não o pior mas o melhor terreno. E assim o terreno que na origem
não dá renda alguma, mais tarde a proporciona em virtude da, coer~o pa-
ra a busca de tipos pi.ores de terrenos, e desse modo na descida para o aver-
no, para terra cada vez pior, no avanço da civilização e. da 'população, tem
de subir a renda na terra mais fértil cultivada na origem e, em progressão,
na seguinte, enquanto o pior terreno, que representa 'sempre a"terra pura
e simples - a esfera particular de emprego do capital - nunca proporciona
renda. Tudo isso tem maior ou menor coerênciá lógica. -
Entretanto, sabe-se que não são idênticos preços médios e valores,
que o preço médio de uma mercadoria pode ser igual ao valor, maior ou
menor, e assim desaparece a questão, o próprio problema e com ele tam.
bém as hipóteses para resolvê-lo. Fica apenas a pergunta: por que na agri-
cultura o valor da mercadoria ou em todo o caso o preço não está acima
do valor, mas acima de seu preço médio? Esta pergunta, porém, nada mais
tem em comum com o fundamento da teoria, com a determinação do va-
lor de per si. -
Ricardo sabe sem dúvida que se modificam os "valores relativos"
das mercadorias segundo a proporção mferente entre capital fixo e capi·
tal despendido em salário, aplicados em sua produção {aí nã.o há nenhuma
contradição; capital fJXo e capital circulante se opõem, e capital circulante
562
abrange tanto o salário quanto matérias-primas e matérias auxiliares. Por
exemplo, na indústria mineira e na de pesca existiria entre capital desem-
bolsado em salário e capital fixo despendido uma relação corno a encontra-
da, na alfaiataria, entre capital despendido em salário e o despendido em
matéria-prima). Mas sabe também que esses valores relativos se nivelam pe-
la concorrência. Só deixa mesmo aparecer a diferença, a f.tm de surgir a
mesma taxa média de lucro nessas diferentes aplicações de capital. Isto é,
esses valores relatii10s de que fala são os meros preços médios.. Nem lhe
ocorre a idéia de valor e preço médio serem coisas diferentes. Ocorre-lhe
apenas a ídentidade deles. Mas, uma vez que essa identidade não existe
com a proporção diversa dos componentes orgânicos do capital, admite-a
como fato inexplicado produzido pela concorrência. Não chega por isso
à pergunta: por que os valores dos produtos agrícolas não se nivelam em
preços médios? Ao contrário, admite que o fazem e desse ponto de vista
apresenta o problema.
Não se pode compreender porque tipos como Wilhelm Tucídides
se entusiasmam com a teoria rícardiana da renda fundiária. Pelo seu pris-
ma depreciativo, as "meias verdades" de Ricardo perdem todo valor.
Para Ricardo, o problema só existe porque o valor é determinado
pelo tempo de trabalho. Para aqueles tipos não é o caso. Segundo Roscher,
a nature~a como tal tem valor. Ver mais adiante. 51 Isto é, ele não sabe
absolutamente o que é valor. Que o impede, portanto, de fazer o valor
da terra, na origem, entrar nos custos de produção e formar a renda, e de
supor o valor da terra, isto é, a renda, para explicar a renda?
O termo "custos de produção" nada significa para esses tipos. E o
que vemos em Say. O valor da mercadoria é determinado pelos custos de
produção, por capital, terra, trabalho. Mas estes são determinados pela
oferta e procura. Isto é, não ocorre determinação alguma. Uma vez que
a terra realiza "serviços produtivos" por que não deveria o preço desses
"serviços" ser determinado pela oferta e procura como os serviços que
trabalho ou capital realizam'? E uma vez que os "serviços da terra" estâ'o
na posse de certos vendedores, por que esse artigo não deveria ter um
51. Mux não retoma mais adiante ao exame das idéias de Rosche.r. Entretanto,
empreende Mane uma análise pormenorizada das idéias análogas e vulgues de Mc-
Culloch fw:temenk influenciadas, como as de Rosche1, pela concepção apologética
doll "serviços produtivos" (ver vol. 3 desta tradução, .cap. XX, seçào 4 ). Marx fala tam-
bém sobre Say (ib., b ). Trata ainda das ídéias de Roscher e Say em O Capital (ver Ed.
DIFEL, livro l, vol. 1, pp. 231 e 232, e livro 3, vol. 6, pp. 949 e 965).
563
preço de mercado e existir portanto a ren~ da terra como elemento do
preço?
Vê-se como falta razão a Wilhelm Tucídides para amofinar-se com
a teoria ricardiana, despendendo tanta benevolência.
564
tiveram elevação contínua. Nem se pode explicar íssc;> como oonseqüênda
da queda da taxa de lucro. Essa queda nunca explicaria mudança nos pre-
ços, mas apenas mudança na distribuição do valor ou do preço entre dono
da terra, industrial e trabalhador.
565
1
PREÇOS MEOIOS 00 TRIGO
..----------··-----···-----------
PieÇó m{n;mo
1641-1649 ISc'J xelíM e 5 U3 pence 7S xelin. e 6 pence (Ui4S) 42 xelins e 8 pence (1!>46)
16:50-1659 4Sxelins e 8 9110 penoc 6heliru e 1 peru:e{l6SO) 23 xolíru o l penté (16S O
166().1669 44 l!eliru e 9 P"""" li5 xellru e 9 pence (1662} 32 xelins e Opence {ló66 e 1667)
1671>-16111 44 nlü\s e 8 9/10 pena> 61 ~linse Openc:e (1674) 3:.l xeliN e O pene<> (1676)
Vi3().1689 3S xellns e 1 8/10 pence 41 xelíru e S pene<> {1681) 22xelins e 4 pen"" (1687)
SO_x_e_lins_e_4_/1_0__p_om_c:e____!!.l<elinsto l peooe (1695)
1690-169,_9__ 30.xeliru. 2 pence u._6_91_c..)_ _...
Tolllalldo-1C o periOdo 16SD-1699, o preço médio (anual) nesses SO anos é ile 44 xelins e 2 1/5 pencv.
li
Pl<>Ç(> múilllO no decênio Preço minimo no deaônio
l 70!H 709 15 xelim 1/10 pêJI.! 69 xelins e 9 pence (1709} 2!5 xelins e 4 pene<> (l 707)
1710.1119 43 xolins 6 1/10 pence 69 xelim o 4 pence (1710) 31 xelinse 1 pêni (1719)
1720-1129 37 xelins e 3 7!10 pence 48 xelins e S pen"' (1728) 30 xelins e 10 pence (1723)
• 1730-1739 31 xewe S S/lOpence 58 xelins• 21"'nce(l735} 23 xelins e 8 pence (17'2)
l.Y40-1749 Jl Mlins e 7 9/lO pence ....~xelilu e~. pênl (1740) 22 xelins e 1 pênl (1743 e 1744)
ProÇJ> 111êdio (uwal) dllllll\W Sil anos, de 1700 a 1749, 3S xelins e 9 29/SO pence.
Ili
PieÇó mfoimo no d.ocêllio
36 xelins e 45/101"'"'"'
17SfH 759 S3 xelins e 4 pente (1757) 28 xelins e 10 pence (17SOJ
40 ""lins • 4 9/10 pence
1760-1769 S3 XJOlins o 9 peni:e (1768) 26 xelins e 9 pence (1761)
4S xelins e 3 2/10 pencv
l 77CH 179 S2 xelim e 8 penoc (1174) 33 xelins e 8 pence (1719)
~ xelilue9 2/l01"'noe
1 !?80..1789 52 xelins e 8 pence (1783) 35 xeliru e 8 pen"' (1780)
~79..~~~"<:':i"' e 6 5/10 pence_ _ _7.8 xelins~ 7 pen"' (l 796..;.)_ _4_3_x_elins_·
_•_O.:..pê_N_·-'-(1_7_92_)_ __....
Méd"1 """'1h11>s :SO orrin, de 115011 1799: 45xeffn.re1J1/:SO perrce.
IV
---···
~ mi.lloa anllW
~~=
l'n!ÇO midi<> anml
mâxímos 110 dec*nio
1800-1809 84 ~tllim e 8 S/10 pence U9 xeliru • 6 pen"" (1801) 58 xelins e 10 pence {1803)
llh:eliru e 10 pcn<e (1800)
)810-1819 9 l xelinu 4 8/10 pew:o 126 xelins e 6 peru:e (1812.) 65 xelim e 7 pence {1815)
109 xelim e 9 pence (1813} 74 xeliM • 4 penc:e (1814)
106 xdin• ~ s pence (1810) 74 xclin•e 6 ~ce{1819)
18l0-l829 58 X4lill$ e 9 7/lO pen<e 68 xelim e 6 pence (182$) 44 xelins e 7 pence (1822)
1830-183'9 56 xelins• SSJlOpence 66 i.eliiu e 4 pence (l 831) 39 xeJ.in;," 4 pa>oe (1835)
1840-1849 55 >:elins e 114/10 pence 69 MlinH S pcn.ee (l 84 7) 44 xelim e 6 pence (1849)
18.50-lS.S9 Slxelinse 4 7/JO pence 74 xelÍIQ e 9 pellQl (185.5) 40ulim e4 pence (l8SO)
566
7. Hopkins: a diferença entre renda absoluta e
renda diferencial, e entre tra~,lho
produtivo e improdutivo; renda fundiária
oriunda da propriedade fundiária.
567
tal. Mas nessa transformação do dinheiro em capítal há duas coisas adis-
tinguir. Todas as mercadorias podem converter-se em dinheiro e, como
dinheiro, em capital, porque nessa forma de dinheiro extinguem~se o valor
de uso delas e a forma natural particular deste. São elas traballÍ.o materia-
lizado na forma social em que este é permutável por todo trabalho real,
conversível em toda forma de trabalho real. Entretanto, a possibilidade de
as mercadorias - produto do trabalho - reverterem, tais como são, a ele-
mentos do capital produtivo depende de a natureza de seus valores de uso
lhes permitir voltarem ao processo de produção, seja como eondições obje-
tivas de trabalho (instrumentos e material), seja eoroo condição subjetiva
(meios de subsistência dos trabalhadores) (isto é, elementos do capital
constante ou do variável).
568
Esta é a concepção correta da acumula{i'o do capítol Mas os meios po-
dem acrescer, isto é, a quantidade de produto excedente ou de trabalho exce-
dente, sem aumentar proporcionalmente o volume de trabalho.
569
etc.•.• Os donos atuais de tem1s podem ser considérados os proprietários
de todo o uaba1ho acumulado l{Ue, ao longo dos séculos, vem sendo des-
pendido para colocar o solo no presente estado de produtividade" (1.c.,
p. 35).
570
à possibilidade de o produto ser vendido pelo mesmo preço daquele do
último terreno cultivado - para que esse preço lhe cubra a porção dos
custos de desbravamento, a qual entra nos próprios custos de produção,
mas cessou de integrar os custos da terra antes cultivada, pois neste caso
já se incorporou à fertilidade natural do solo.
571
da de preço, efeito dela, só pode revelar-se depois, uma vez que no pre-
ço dos alimentos recém-produz.idos entra um elemento - dos custos de
produçio ou do preço - o qual se extinguiu há muito tempo nos inves-
timentos mais antigos de capital na terra ou nas porções mais antigas do
solo cultivado. A diferença seria até maior se, em conseqüência da produ-
tívidade acrescida do trabalho, o custo de aproveitar o solo para cultivo
não tivesse caído consideravelmente em relação aos custos de arroteamen-
to de períodos anteriores, passados.
A tarefa de pôr novo solo, de fertilidade maior, igual ou menor que
a da terra antiga, em estado que o capacite para nele se aplicar capital e
trabalho (e esse estado é dado pelo nível geral de adaptação à cultura pre-
dominante na ter.ta existente em cultivo) - nas mesmas condições em que
se empregam capital e trabalho na área média de solo cultivado -, essa
adaptação tem de ser paga pelos custos de converter terta inculta em cul-
tivada. Essa diferença de custo tem de ser coberta pela nova terra cultiva-
da. Se não entra no preço de seu produto, só há dois casos possíveis em
que se pode obter esse resultado, Ou o produto da nova terra cultivada não
é vendido por seu valor real: seu preço está abaixo do valor, como de fato
sucede com a maior parte das terras que não dã'o renda, pois o preço não
é formado por seu próprio valor, mas pelo valor do produto oriundo de
terras mais férteis. Ou a nova terra cultivada tem de ser tllo ftrtil que se o
produto for vendido pelo valor imanente, próprio, de acordo com a quan-
tidade de trabalho nele realizada, será vendido a preço menor que o preço
do produto obtido no solo antes cultivado. ·
Se a diferença entre seu valor inerente e o preço de. mercado estabe-
lecido pelo valor da terra cultivada é tal que se eleva digamos a 5% e se,
ademais, o juro que entra nos custos de produção em virtude do capital
empregado para pôr o solo no nível de capacidade produtiva comum ãs
ten:as 3J1tigas fosse também de 5%, então o novo solo cultivado forneceria
produto capaz de pagar ao preço anterior de mercado os salários, lucros
e rendas usuais. Se o juro do capital empregado fosse de 4% apenas, en-
quanto o grau de fertilidade ultrapassasse a dos solos antigos em 4%, o
preço de mercado, depois de deduzi.do o juro de 4% pelo capital emprega-
do para tomar ..cultivável" o novo solo, deixaria um excedente, ou o pro-
duto poderia vender-se a preço menor que o preço de mercado estabeleci·
do pelo valor do solo menos. fecundo. Em conseqüência, rendas em gerál
baixariam junto com o preço de mercado do produto.
Renda absoluta é o excedente do valor sobre o preço médio do pro-
duto primário. Renda diferencial é o excedente do preço de mercado do
produto fornecido por solos favorecidos sobre o valor desse mesmo produto.
572
Por isso, se o preço do produto primário sobe ou permanece cons-
tante em períodos onde parte relativamente grande dos meios de alimen·
tação adicionais requeridos pelo acréscimo de população é produzi.da em
terra que passou do estado de incultura para o de cultura, essa constância
ou elevação de preços não prova que a fertilidade da terra decresceu, mas
apenas que não cresceu a ponto de contrabalançar o novo elemento dos
custos de produção - formado pelo juro do capital.aplicado com o obje-
tivo de colocar a terra inculta no nível das condições de produção comuns
em que os solos antigos são cultivados conforme dado estágio de desen-
volvimento.
53. Marx fala sobre os cercamentoo {enclosures) das terras comuns na Inglaterra
em O Capital (ver DIFEL, livro l, vol 2, pp. 840 a 84 7).
54. Ver pp. 564 e segs. neste volume.
573
cênios da primeira metade do século XVIII essa descensão se acentua ao
máximo, atinge (o ponto mais baixo).
Do meado do século XVIII em diante, o movimento é ascencional,
tem por ponto de partida um pr(lço (36 xelins e 4 5/10 pence, em 1750-
1759) mais baixo que o preço médio dos 50 anos da segunda metade do
século XVII e quase no nível do preço médio - superando-o por pouco -
dos 50 anos do período 1700-1749(35 xelins e 929/50pence),aprimeira
metade do século XVIII. Esse movimento ascencional continua progressi-
vamente nos dois decênios 1800-1809 e 1810-1819. Neste atinge o ponto
culminante. A partir daí volta a ocorrer com regularidade o movimento des-
cendente. Se consideramos a média c!o período ascendente que vai de 1750
a 1819, o preço médio (pouco acima de 57 xelins por quarter) iguala o pon-
to de partida do período declinante a partir de 1820 (isto é, para o decênio
1820-1829, pouco acima de 58 xelins); do mesmo modo, o ponto de par-
tida da segunda metade do século XVIII iguala o preço médio da primei-
ra metade.
Com um simples exemplo aritmético vê-se como clrcwistâncias espe-
ciais, más colheitas, depreciação monetária etc. podem influir n;i média.
Por exemplo: 30 + 20 + 5 + 5 + 5 = 65. Média= 13, embora os três úl-
timos números sejam sempre 5. Todavia, 12 + 11 + 10 ·+ 9 + 8::, 50, mé-
dia = l O, embora, se cancelarmos os excepcionais 30 e 20 i:ia primeira sé-
rie, a média de quaisquer 3 anos da segunda seja maior.
Se deduzirmos os custos diferenciais decorrentes do capital sucessi-
vamente empregado para arrotear a terra, o qual durante- certo período
constítui item dos custos, os preços de 1820-1859 serão talvez mais baixos
que todos os adteriores. E o que de certo modo parecem-·vislumbrar aque-
les gajos que explícam a renda (rent) pelo juro do capital fixo incorporado
à terra.
574
"De 1700 a 1750, queda constante dos preços, por quarter de trigo, de
2 libras, 18 xelins e 1 pêni pllla 1 libra, 12 xelins e 6 pence; de 1750 a
!SOO, ascensã'o constante, de 1 libra, 12 xelins e 6 pence para 5 libras
e 10 xelins'' (p. 11).
Não tinha ele diante de si o fenômeno excltisivo de uma escala ascen-
dente de preços dos cereais, mas ao contrário o fenômeno duplo, um século
inteiro que na primeira metade revela declínio constante e na segunda, as-
censão constante dos preços dos cereais. Observa de maneira terminante:
"A terra pode tonw:-se cada vez melhor por meio de agentes químicos e
de culfü'o" (l.c., p. 3Bli6).
"Num sistema racional de administração, a produtividade da tena pode
crescer todo ano durante um período para o qual não se pode índicar
limites, com a possibilidade final de chegar a um nível que hoje não es-
tamos talvez em condíç1Jes de imaginar.. (pp. 35, 36).
"Pode-se dizer com certeza que a população atual, em relação à que esta
ilha pode sustentar, é r.ão insignificante que está muito longe de mere-
cer consideração séria" (p. 37).
"Quando a população aumenta, tem de crescer com ela o produto do
país, se não se permitir a uma influência moral qualquer perturbar a
eco1tomia da naturera "(p. 41 }.
A "teoria da população" é "o preconceito mais perigoso" (p. 54 ).
A "produtividade da agricultura", procma ele demonstrar no plano his·
tórico, s.obe eom população crescente e baixa com população decres-
cente (pp. 55·, 56, 60, 61 e segs.).
575
"Não é a .tenda da terra que detennfua o preço de seu pxoduto, mas é
esse pxeço que determina a renda fundiária., embora o preço desse pro-
duto seja com freqüência muito alto nos países onde é muito baixa a·
renda fundiária."
"e uma vez que este" (o lucro) "decresce à medida que s~ reduz a fei:ti-
lidade, chega-se por fim necessariamente ao ponto em que o diçpêndio
do culti110 de vária$ das classes inferiores de terra se iguala ao valor do
produto todo" (pp. 45-48).
A última terra não paga renda. (Citaçã'o apud MacCulloch, The Lite·
rature of [JOlit econ., Londres, 1845. MacCulloch tira de An Enquire into
the Nature of the CVm Laws, ou de Recreations ln Agriculture. Natural
History. Arts etc., Londres, 1799-1802? Verificar no Museu. 5")
O que Anderson chama aí de "valor do produto todo é, sem dúvida,
nada mais que sua concepção de preço de mercado a que se vende o pro-
duto, provenha este de solo bom ou ruim. Para as espécies mais férteis de
terra, esse "preço" (valor) deixa excedente maior ou menor sobre os custos.
Isto não se aplica ao último produto. Neste, o preço médio - o preço for-
mado pelos custos de produçâ'o + o lucro médio· - coincide com preço o
de mercado do produto, e por isso não dá lucro extr:a, o único elemento
que pode constituir a renda. Para Anderson, rend_a (rent) é igual ao excesso
576
do preço de mercado sobre o preço nWlio do produto. (A teoria do valor
aínda não chega a inquietar Anderson). Assim, se em virtude de especial
carência de fertilidade do solo o preço médio do produto dessa terra coín-
cide com o preço de mercadt:> do produto, aquele excesso desaparece, isto
é, nã'o há fundo para formar renda. Anderson não diz que o último t<'lrreno
cultivado 11IÍO pode dar renda. Diz apenas que, se "se chega a esse ponto",
os custos (custos de produção + lucro médio) serão tão grandes que farão
desaparecer a diferença entre o preço de mercado e o preço médio do pro-
duto, desaparecendo também a renda, e assim tem de ser se se desce cada
vez mais na escala. Pressuposto para essa formação de renda, diz expressa-
mente Anderson, é detenninado preço de mercatkJ igual para quantidades
iguais de produtos obtidos em condições de produção mais favorãveís ou
rneril?S favoráveís. ·O lucro suplementar ou sobra do lucro nas melhores es-
pécies de terra sobre o lucro das píores, diz ele, tem de ocorrer necessaria-
mente, ·~e igual quantidade de grão, não importa a origem, pode ser vendida·
pelo mesmo preço". E justo é, se se supõe preço de mercado geral.
Como poderia parecer pela passagem acima, Anderson de maneira
nenhuma admíte, ao contrário da impressão que poderia dar a passagem
acima, que os diferentes graus de fertilidade são mero produto natural.
Ao revés,
58. Sobre trabalho universal ou intelectual ver O Capital, DIFEL, H\ll'o 3, vot. 4,
pp. 92 e 116.
577
"Onde há dois campos cujo produto se enquadra mais ou menos no
exposto acima, isto é, um dá 12 bus.heis que cobrem os curtos, e o ou-
tro 20, sem exigirem dispêndio imediato para a respecti11t1 melhoria.,
o attendatário pagaria pelo segundo campo digamos, mais de 6 busl1e!s
de renda, mas nenhuma pelo primeiro. Se 12 bushels chegam aperuu
para os custos do cultivo, nenhuma espécie de .cenda se pode obter da
tel'ill cultivada qué só dá 12 bushels" (pp. 107 a 109, v-01. IIl, EtSllys
reltztín.g to agriculture and rural affairs, Edimbutgo ·.Londres, l 77S a
1796).
E logo prossegue:
578
natural do solo. O novo solo cultivado, embora dotado da mesma fertilidade
natural do melhor solo cultivado, nenhuma renda portanto poderia pagar:
Contudo, após 1O anos, poderia pagar renda e tanta como a melhor espécie
de solo cultivado antes. Anderson compreende por conseguinte ambos os
fenômenos:
(] ) a renda diferencial dos donos das terras em parte resulta da ferti-
Ii dade que o arrendatário dá ao solo mediante artifício~
(2) essa fertilidade artificial configura-se após certo lapso de tempo na
própria produtividade original do solo, desde que o próprio solo se tenha
transformado e o processo por que se opera a transformação se tenha extin-
guido, não seja mais visível.
Se hoje construo uma fiação por 100 000 libras, disponho de fábrica
mais eficiente que meu predecessor que a montou 10 ·anos antes. Nã:o pago
a diferença entre a produtividade atual de fabricação de máquinas, de cons.
trução em geral etc. e a vigente 10 anos atrás; ao contrário. Ela me coloca
na posição de pagar menos por uma fábrica de eficiência i,gual ou o memw
por uma fábrica de eficiência maior. A coisa é out~a na agricultura. Adi-
ferença entre as fertilidades originais é amplificada por aquele segmento
da chamada fertilidade natural da terra, o qual, na realidade, foi antespro-
duzido por .seres humanos, mas ora incorporou-se ao solo e não mais se po-
de distinguir de sua fertilidade original. A fim de o solo inculto da mesma
.produtividade original atingir essa fertilidade ekvada. não são necessários,
em virtude do desenvolvimento da força produtiva do trabalho universal~
os mesmos custos antes requeridos para converter a fertilidade primitiva
do solo cultivado na fertilidade que ora se aparenta original, mas ainda se
exigem certos custos para se chegar a esse nível. O preço médio do produ-
to novo está assim mais.alto que o do produto do terreno antigo, e a diferença
entre preço de mercado e preço médio é assim menor e pode desaparecer
por completo. Mas, admitamos que no caso acima o novo solo cultivado
.seja tão fértil que após o custo adicional de 40 xelins (lucro inclusive) for·
neça 28 bushels em vez de 20. O arrendatário então poderia pagar de renda
8 bushels ou 2 libras. Mas por quê? Porque o novo solo cultivado dá mais
-8 bushels que o antigo, de modo que, apesar do preço médio maior e igual
p(eÇO de mercado, proporciona o mesmo montante em excedente relativo
a preço. Essa produtividade, se não lhe tivesse custado despesa extra, seria
o dobro da do solo antigo. Com a despesa atinge ela a mesma magnitude.
579
10. Inconsistência· da crítica rodbertiana
à teoria da renda de Ricardo: Rodbertus
não compreende as peculiaridades da
agricultura capitalista.
580
contradições aparentes a partir dessa base ou de expor o desenvolvimento
dessa própria base.
581
produtos de toda espécie, agrícolas ou manufaturados. ~ o que se supõe,
pois os fabricantes produzem mercadorias e não bens para o próprio con-
sumo imediato. Uma vez que o valor a ser repartido, isto é, a parte do valor·
a qual forma renda (revenue) é produzida em cada esfera particular da pro-
dução de mane.ixa independente d.as demais - embora cada esfera pressu-
ponha as demais em virtude d~ divisão do traballio - Rodbertus regride
e gera confusão quando, ao invés de examinar puramente a produção do
valor, logo de início embruJha essa questão ao perguntar que porção no
produto nacional disponível essas partes componentes do valor asseguram
a seus possuidores. Para ele, repartição do valor do produto toma-se de
imediato repartiçi'i?> de valores de uso. Ao impingir essa confusão aos ou-
tros economístas, toma ele necessária sua emenda de considerar em bloco
os produtos industriais e as matérias-primas - modo de ver sem interesse
para a produção do valor e portanto falso se tem por objetivo explicá-la.
Só o capitalista e o trabalhador fJ3Slllariodo participam do valor do
produto industrial, no que esse valor se reduz a renda (revenue} e desde
que o fabricante não pague renda fundiária, seja pelo terreno das edifica-
ções, seja por quedas-d'água etc. Do valor: do produto agrícola em regra
participam três: Rodbertus também admite isso. A maneira como explica
o fenômeno em nada altera esse fa,to. Mas os outros economistas, Ricardo
em particular, ao partirem da repartição entre dois, capitalistas- e assaJa-
,riado, só introduzindo depois, como excrescência especial, o'dono da ter-
ra coletor de renda, estão em concordância total com o ponto de vísta da
produção capitalista. A produção capitalista baseia-se na contraposição
entre dois fatores, o traballio materializado e o trabalho .vivo. O 'capitalis-
ta e o trabalhador assalariado são os únicos funcionários e fatores da pro-
dução cujas relações e antinomia provêm da natureza dó modo capitalis-
ta de produção.
Só em segunda instância vêm as circunstâncias em que o capitalista
por sua vez tem de repartir porção do trabalho excedente ou valor exce- ,...,
dente de que se apoderou, com terceíros que não traballiam. Nessa pioà.u-
çio também se positiva que, excetuada a parte do valor do produto.a qual
paga salário e descontada a parte do valor a qual se iguala a eapital constan-
te, a mais-valia inteira se transfere diretamente da3 mãos do tralmlhador
pll1U as do capitalista. Este, em face do trabalhador, é o dono imediato da
mais-valia toda, não importa como a reparta mais tarde com o presta.mista,
os donos das terras etc. A produção, segundo observa James Mill61 , poderá
582
por isso continuar sem estorvo se o dono das tenas coletor de renda desa-
parecer e for substituído pelo Estado. O proprietário particular da terra
não é agente necessário da produção capitalista, embora esta eJdja que a
terra pertença a alguém, desde que não seja o trabalhador e sim, digamos,
o Estado. Essa redução das classes participantes diretas da produção - e
portanto dos participantes imediatos do valor produzido e, ainda, dos
produtos em que esse valor se realiza - aos capitalistas e aos t:rabalha.dores
tusu.'lariados, excluídos os donos das terras {que só depois aí penetram em
virtude de relações de propriedade sobre forças naturais, relações que não
emergem do modo capitalista de produção, mas The são legadas), funda-
menta-se na natureza do modo capitalista de produção, diferente do feu-
dal e do da Antiguidade, e longe de ser um erro de Ricardo etc., torna-se
a expressão teórica adequada do modo capitalista de produção, mostra
sua diferença específica. Rodbertus ainda encarna demais wn "fazendei-
ro" prussiano da vellia cepa para entender isso. Também a coisa s6 se tor-
na compreensível e por si mesma se impõe quando o capitalista se apode-
ra da agricultura e por toda a parte, como ocorre em geraJ na Inglaterra,
torna-se o dirigente na agricultura conforme o é na indústria, e o proprie-
tário da terra é excluído de toda participação direta no processo de pro-
dução. O que Rodbertus portanto considera aí "desvio" é a senda correta
que não identifica, pois está prisioneiro de idéias originárias do modo pré-
capitalista de produção.
583
capitalista onde é fator e exerce função, o que nã'o vale pará a propriedade
fundiária, Esta se patenteia derivada porque na realidade a moderna pro-
priedade fundiária é a feudal transformada pela ação do capital, por conse-
guinte a forma moderna deriwl, resulta da produção capitalista. A coisa tal
como é e aparece na sociedade moderna, consídei"a·a Ricardo hlstoricamen-'
te original (enquanto vós, ao invés de vos aterdes à forma moderna, nã'o po-
deis vos libertar das reminiscências de fazendeiro), uma quimera que do·
mina os economistas burgueses com relação a todas as leis econômicas bur-
guesas, que para eles configuram "leis naturais" e em conseqüência ''ponto
de partida" histórico.
Mas a circunstância de Ricardo admitir que se reparta o inteiro produ-
to "acabado", quando não se trata do valor do produto e sim do próprio,
produto, é o que Rod~rtus podia ver logo no prbneiro paiágrafo do prefá-
cio de Ricardo :
"Os produtos da terra - tudo o que se obtém de sua superfície pela apjj,.
cação combinada de trabalho. maqui.narla e eapital - se repartem por
três cJmes da socíe&tde, a saber, os proprietários do solo, os proprietá-
rios do equipamento ou do capital necessârio para cultivá-lo, e os traba·
lliadores que o cultivam com sua atividade" (Ricat"do,Princ. of Pol. Ec.,
Prefácio, 3!' ed., Londres, 1821).
E logo prossegue :
584
terras mais férteis e menos férteis, e que hoje, do mesmo modo, as van-
tagens de conseguir renda fundiária junto com o ganho normal do capi-
tal incitariam capitalisr.is a aplicarem capítal para anotear e melhoru
as terras por tanto tempo llté qu.e os preços, por força do resultante abar-
rotamento do mercado, baixassem o ba&tante para fazerem desapuecec
a obtenção de renda nos menos vantajoSÓS empregos de capital. Noutras
paltlvrtn, seria. isso afirmar que a lei do nívelamento dos ganhoa do capi-
tal elimina, no tocante ao produto primdrit>, a outra lei 1egundo a qual
o Wllor dos produtos se govema pelo custo do tra1Mlho, quando o pró-
prio Ricrudo, no primeiro capítulo de sua obra, utiliza a.que!a para pro-
vares~" (l.c., p. 174).
585
sidera sementes etc. como capital adiantado. E um "contra-senso" não de
Ricardo, mas de Rodbertus, se este admite haver capitalistas e trabalhado-
res "antes do cultivo da terra" (1.c., p. 176).
"em lotes só aos agricultores, a preço por certo reduzido, mas que em
todo caso já tem de representar tenda fundiária" (pp. 179, 180).
586
Isso é fa1so. A quantidade de trabalho excedente não pago acresce,
por exemplo, se o operário trabalha 3, 4, 5 horas de tempo de trabalho
excedente, em vez de 2. Com a massa desse trabalho excedente não pago
não aumenta o montante do capital adiantado, antes de mais nada porque
essa sobra ulterior de trabalho excedente não é paga, não causa portanto
dispêndio de capital; segundo porque o dispêndio de capital fixo não au-
menta na mesma proporção quanto acresce aí sua utilização. Não se em-
prega maior quantidade de fusos. Estes, seja como for. se desgastam mais
rapidamente, mas não na mesma proporção em que são mais utilizados.
Assim, inalterada a produtividade, cresce então o lucro não só porque
terá aumentado a mais-valia, mas também a taxa da mais-valia. Na agri-
cultura, isso não é viável em virtude das condições naturais. Ademais, a
produtividade varia facilmente com o aumento do capítal despendido.
Omitindo-se divisao de trabalho e maquinaria, embora o capital adianta-
do seja grande em termos absolutos, em virtude da economia das condi-
ções. de produção fica menor relativamente esse adiantamento. A taxa de
lucro poderá portanto crescer, mesmo quando a mais-valia (e não só sua
taxa) permaneça a mesma.
R~bertus comete erro evidente e se revela típico fazendeiro pome-
rano, ao dizer:
"ê possível que no cu.rso desses 30 ano~" (de 1800 a 1830) "tenham
surgido mais propriedades po.r meio de loteamento ou de desbrava-
mento, e a renda fundiária. acrescida se t(lpalte assim po1 mait proprie-
dades, mas em 183() ela Tilio se repaTda por mais acres que em 1800;
o total de acres dos terrenos desmembrados ou novos cultivados estava
antes compreendido nas propriedades mais antigas, e portanto a renda
fundiária menor de 1800 se repartiu também por eles e contribuiu na-
quela época' para detemünar o nível da renda fundiária ínglesa em ge-
ral, como OCOJ'feu com atenda fundiária. malot de 1830" (p. 186).
587
ver com Ricardo. O solo "mais fértil" é sempre "o mais fértil" nas con·
dições dadas de produção.
Grande parte das objeções feitas por Rodbertus a Ricardo decorre
de aquele identificar de maneira ingênua as condições de produção "po-
meranas" às "inglesas". Ricardo supõe produção capitalista, a que corres-
ponde, onde ela se efetiva como na Inglaterra, a separação entre o arren·
datário capitalista e o dono dá terra. Rodbertus estabelece condições que
em si mesmas são estranhas ao modo capitalista de produção, ãs quais
este se sobrepõe. O que Rodbertus diz, por exemplo, sobre a situação
dos centros econômicos em complexos econômicos ajusta-se como uma
luva à Pomerânia mas não à Inglaterra, onde o modo capitalista de pro-
dução desde o último terço do século XVI, cada vez mais poderoso, assi-
milou a si todas as condições e mandou para o inferno, em diferentes
períodos e progressivamente, os antecedentes históricos, a,ldeias, constru-
ções e seres humanos, a fim de obter a aplicação "mais produtiva" do
capital.
Rodbertus também erra, ao falar sobre a "aplicação do capital".
588
tarde com a "natural'', isto é, faz a renda acrescer. Rodbertus nada sabe
a esse respeito e assim fica a dizer disparates.
Já apresentei definição cabal e correta da moderna propriedade fun.
diária;
..A renda (rent), no sentido de Ricardo, é a propriedade fundiária
em sua configuração burguesa: isto é, a propriedade feudal que se subme-
teu às condições da produção burguesa" (p. 156, Misére de kz PhiL, Paris,
1847).
Também está correta a observação que já fiz:
"Ricardo, que supõe a produção burguesa necessária para determi-
nar a renda (rent), aplica não obstante a concepção de renda fwidiárla
à propriedade da terra de todos os tempos e de todos os países. Este é o
erro de todos os economistas que vêem nas relações de produção burgue-
sa categorias eternas" (l.c., p. J60).
Era também correta a obseIVação que fiz de os "capitais.terras"
poderem aumentar como todos os outros capitais:
"Os capitais-terras podem ser aumentados como os demais meios
de produção. Nada se acrescenta à matéria, para usarmos a linguagem de
ProudhoQ, mas aumentam-se as terras que servem de meios de produção.
Basta aplicar nas áreas de terra já transformadas em meios de produção
investimentos adicionais de capital, para aumentar o· capital-terra, sem
nada acres.centar à matéria-terra, isto é, à extensão do solo,. (1.c., p. 165).
Continua correta a distinção que então acentuei entre indústria e
agricultura:
"Primeiro, não se pode aumentar à vontade, como na indústria ma-
nufatureira, os instrumentos de produção de ;gual produtividaile, isto é,
as terras de igual fertilidade. Então, à medida que cresce a população,
passa-se a cultivar terra ·de qualidade inferior ou a investir na mesma área
capital novo, menos produtivo em relação ao empregado no início" (1.c.,
.p. 157).
Diz Rodbertus:
"Mas tenho de chamar atenção para outra circunstância. que, por cer-
to de maneira bem mais paulatina e ainda bem mais geral, converte má-
quinas agrícolas piores em melhores&. li: o que faz o cultivo continuo
de uma área, simplesmente de acordo com método racional, sem o me-
nor emprego extraordínário de capital" (p, 222).
62. Por máquínas agrícolas entende aí Ro.dbertus as diferentes classes de sol.o se-
:undo a fe1tilidade. Rodbettu.s tomou de empréstimo a Malthus essa equiparação das
·lasses de sol.o a máquinas.
589
Anderson já o dizia. O cultivo melhora o solç.
Prossegue Rodbertus:
Só que essa idéia de "dispêndio" não exige tenha ele sido compra·
do como mercadoria. Se parte do produto, em vez de ser vendida como
mercadoria, volta à produção, nela entra como mercadoria. E é avaliada
antes em "dinheiro", o que se faz tanto mais precisamente quando todos
esses "dispêndios" são mercadorias que ao mesmo tempo estão presen~
tes no mercado: gado, forragem, adubos, grlios para semeadura, toda es-
pécie de semente. Mas na Pomerânia, segundo parece, não são considera-
dos "dispêndios".
590
con\.ersão dele em dinheiro. Essa própria renda (im:ome) particular é
parte da renda social que apenas se gei:a pela ação combinada do traba-
lho da agricultura e da indústria, e cujas ptITtes portanto também só
são geradas por essa ação combinada" (p. 36).
Que posso extrail daí? A realização desse valor só pode ser a reali-
zação em valor de uso. Não é disso que se trata. Além disso, no salário
necessário já entra a quantidade de valor - de produtos agrícolas e indus-
triais - que se configura nos meios necessários à manutenção do traba-
lhador.
Basta.
591
Capítulo X
Teoria de Ricardo e de A. Smith sobre
preço de custo. (Refutação)63
63. Como já vimos (vol. 1 desta tradução, p. 75. nota 29). Marx utiliza o tenno
"preço de custo" em diferentes sentidos: (1) no de custo de produção para o capitali&-
ta (e+ v); (2) no de "custo imanente de produção" da mercadoria (e+ v+ m), o qual
coincide com o valoi, e (3) no de prego de produção lc + v +lucro médio). Neste vo-
lume Marx emprega "preço de custo" no sentido (3), o de preço de produção ou preço
S93
mina a renda fundiária". 64 Assim, o preço do produto agrícola passou a
ser a fonte da renda (rent), ao invés de esse próprio produto ou a terra.
Com isso desmoronou a tese de a renda ser o rebento da produtividade
excepcional da agricultura, a qual por sua vez decorreria da fertilidade
específica da terra. Pois, se a mesma quantidade de traballw exercida num
elemento especialmente produtivo era por isso de produtividade excepcio·
nal, daí só poderia resultar que esse trabalho se configurasse em massa
relativamente grande de produtos e por isso fosse relativamente baixo o
preço do produto individual, e não o oposto, isto é, que o preço do pro-
duto desse trabalho fosse mais alto que o dos outros produtos em que se
realizasse a mesma quantidade de trabalho, e por isso tal preço, desta-
cando-se do dos demais produtos, proporcionasse ainda uma renda além
de lucro e salário. (A. Smith, ao tratar da renda (rent). retrocede em par-
te à concepção ftsiocrática, depois de a ter antes refutado ou pelo menos
contestado com seu conceito inicial da renda (rent) como parte do tra-
balho excedente.)
Buchanan resume esse desmoronamento da concepção fisiocrãtíca
nestas palavras:
médio. No volume 3, Marx utiliza o termo "preço de custo" no sentido (1) (custo de
produção para o capitalista) e no (3) (preço de produção); e no volume 1, no sentido
(2) (custo imanente de produção da mercadoria).
Essa variação no emprego do termo "preço de ~sto" decorre, segundo observa
Marx, dos diferentes sentidos que tem a pa.là111a "CU5to" em economia, a saber: (1)
montante adiantado pelo capitalista; (2) preço do capita! adiantado ma.is lucro médio;
(3) custo real (llllanente) da própria mercadoria.
Além desses três sentidos encontrados nos economistas. clássicos, existe o de
Say: preço de custo é o que se paga pelos serviços produtivos do trabalho, do capital
e da terra. Marx rejeita essa concepção vulgar (ver neste volume pp, 562-564, 645,
6-«í e 905.
64. Ver pp. S75 e 576 neste volume.
65. Adam Smith, An inquiry into the nature and cau11e$ofthe wealth of1111túms.
Wíth notes and an additional volumen, by David Bucha111l!l, vol ll, Edimburgo, 1814,
p. 55. Marx cita Buchanan apud Ricatdo, On the principies ofpolitical economy, and
taxation, 3ít ed., Londres, 1821, p. 66, nota.
594
Refutada essa idéia dos fisiocratas - mas que se justifica plenamente
em seu sentido mais profundo, porque eles consideram a renda (rent) co-
mo o único excedente, e os capitalistas junto com os trabalhadores, como
os assalariados dos donos das terras -, só eram;possíveis os seguintes pon-
tos de vista:
(I) A proposição de a renda (rent) derivar do preço de mono-pálio
dos produtos agrícolas 66 , e o preço de monopó1io, da circunstância de o
proprietário fundiário deter o monopólio da terra. Nessa proposição, o
preço do produto agrícola está sempre acima de seu valor. Ocorre acrés-
cimo de preço, e o moTIDpólio da propriedade fundiária transgride a lei
dos valores das mercadorias.
A renda provém do preço de monopólio dos produtos agrícolas,
porque a oferta está sempre a"bai;xo do nível da procura ou a procura sem-
pre acbtuz do nível da oferta. Mas por que então a oferta nto atinge o
nível da procura? Por que uma oferta adicional não nivela essa relação
e assím, de acordo com essa teoria, extingue toda a renda? Para explicar
essa questão, Malthus recorre à ficção de os produtos agrícolas criarem
para si mesmos consumidores diretos (o que veremos depois, ao tratar
de sua ~ndência com Ricardo) e, ademais, à teoria andersoniana de a
agricultura tomar-se menos produtiva porque a oferta adicional custa mais
trabalho. Por isso, esse modo de ver, até o ponto em que não se baseia
em mera ficção, coincide com a teoria ricardiana. Também aí o preço
está acima do valor, é acrescído de um suplemento.
(II) A teoria ri.cardiana: Não há renda fundiária absoluta, mas apenas
renda diferencial. Também aí o preço dos produtos agrícolas que propor-
cionam renda está acima de seu valor individual, e desde que renda exista,
existe ela por meio P.o excesso do preço dos produtos agrfcolo.s sobre seu
valor. Só que aí ess.e excesso do preço sobre o valor não contradiz a teoria
geral do valor (embora pennaneça o fato), porque dentro de cada ramo
de produção o valor das respectivas mercadorias não se determina pelo
valor individual da mercadoria, mas. pelo valor que ela tem nas condiçôes
gerais do ramo. Aí também o preço dos produtos que dão renda é preço
de monopólio, monopólio como o ocorrente em todos os ramos da indús-
tria, mas que na agócultura se fixa e por isso torna a forma de renda, di-
versa do lucro suplementar. Ainda aí há o exeesso da procura sobre a ofer-
ta ou, o que dâ no mesmo, a circunstância de não se poder satisfazer a
procura adicional com urna oferta adicional aos preços que eram os da ofer·
595
ta original, antes de os preços crescerem em virtude do excesso da procura
sobre a ofertá. Ainda aí a renda (renda diferencial) surge por causa do
excesso do preço sobre o valor - por causa da ascensão dos preços acima
do valor no melhor solo, o que dá origem à oferta adicional.
(III) A renda (rent) é·apeno.s o juro do capital embutúln na terra 67
Esse ponto de vista tem em comum com Ricardo a negação da renda fun-
diória absoluta. Tem de admitir a renda diferencial, quando áreas em que
se empregam a mesma quantidade de capital proporcionam rendas de mag-
nitude diferente. Por isso, na realidade dá na mesma que a teoria de Ri-
cardo: certos solos não dão renda e onde se obtém renda verdadeira, esta
é renda diferencíal. Só não pode absolutamente explicar a renda da terra
em que não se investe capital, a de quedas-d'água, minas etc. De fato, nã'o
passou de uma tentativa, dentro da concepção capitalista, de salvar a ren-
da contra Ricardo, sob o nome de jWYJ.
(IV) Por fim: Ricardo admite que no solo que não dá renda, o pre-
ço é igual ao valor do produto, por nivelar-se ao preço médio, isto é, adian-
tamento + lucro médio. Erra assim ao supor que o valor da mercadoria
é igual ao preço médio da mercadoria. Se cai essa suposição falsa, torna-
s~ possível a renda absoluta, porque o valor dos produtos agrícolas, co-
mo o de todo um vasto elenco de; outras mercadorias, está acima do res-
pectivo preço médio, mas em virtude da propriedade fundi.ária não se ni-
vela ao preço médio como sucede com essas outras mercadorias. Essa idéia
portanto admite, em harmonia com a teoria do monppóiio, que a pro-
priedade fundiária como tal tem algo a ver com a renda; aceita a renda
diferencial, de acordo com Ricardo, e por fim dá por ce.rto que' a renda
absoluta não transgride a lei do valor.
596
corre daí a crítica de. Bailey e também as deficiências de Ricardo. E dei-
xa de pesquisar o caráter desse "tiabaJho". Se duas mercadorias são equi-
valentes - ou equivalentes em determino.da proporção ou, o que dá no
mesmo, divergem na magnitude segundo a quantidade de "trabalho" que
encerram - está claro que são, na qualidade de valores de troca, iguais
pela substância. Sua substância é trabalho. São por ísso "valor". Sua magni-
tude varia conforme contenham mais ou menos dessa substância. Ricar-
do não examina a forma - a propriedade específica do trabalho de gerar
valor de troca ou de representar-se em valores de troca - , o caráter desse
trabalho. Daí não apreender a conexão entre esse tra!Jalho e o dinheiro,
ou a circunstância de ele ter de configurar-se em dinheiro. Por isso não
concebe de maneira alguma o nexo entre a determinação do valor de tro-
ca da mercadoria pelo tempo de trabalho e a necessidade do desenvolvi-
mento que leva as mercadorias a formarem o dinheiro. Daí sua falsa teoria
monetária. Na sua obra, desde o início só se trata da magnitude do valor,
isto é, da circunstância de as magnitudes de valor das mercadorias serem
proporcionais às quantidades de trabalho requeridas para produzi-las. Daí
parte Ricardo. E claro ao qualificar A. Smith de seu predecessor (cap. 1,
secção n:
O método de Ricardo consiste no seguinte: parte da determinação
da magnitude do valor da mercadoria pelo tempo de trabalho e investiga
se as demais condições e categorias econômicas contradizem essa deter-
minação ou até onde a modificam. À primeira vista percebe-se a legítimi·
dade histórica dessa maneira de proceder, sua necessidade científica na
história da economia, mas ao mesmo tempo sua insuficiência científica.
A insuficiência se revela no modo de apresentação (meramente formal)
e, ademais, leva a resultados errôneos, porque omite os necessários elos
intermediários e procura de imediato provar a congruência entre as cate-
gorias econômicas.
Historicamente era legítimo e necessário esse método de pesquisa.
Com A. Smith, a economia política ,atingira certa plenitude, ficara por
assim dizer delimitado o domínio que ela abrange, e assim pôde Say, de
maneira superficial e sistemática, sintetizá-la num compêndio. Entre Smith
e Ricardo só ocorreram investigações de permenores, relativas a trabalho
produtivo e improdutivo, moeda, teoria da população, propriedade da
terra e tributos. O próprio Smith move-se com grande ingenuidade em
contradição contínua. Ora investiga as conexões causais das categorias
econômicas ou a estrutura oculta do sistema econômico burguês. Ora
junta a essa pesquisa as conexões tais como se exteriorizam na aparência
597
dos fenômenos da concorrenc1a, se manifestàm portanto ao observador
não científico e, do mesmo modo, ao que na prática está preso e interes- ·
sado no processo da produção burguesa. Desses dois ângulos, um penetra
no nexo causal, na fisiologia por- assim dizer do sistema burguês; o outro
apenas descreve, cataloga e relata, ajustimdo a definições esquematizantes,
o que se revela externamente no processo vital, tal como se mostra e apa-
rece: ambos, na obra de Smith, alêm de correrem num paralelismo ingê-
nuo, se misturam e se contradi1..em de contínuo._Isso nele se justifica (exce-
tuadas algumas pesquisas especializadas como a do dinheiro), pois na rea-
lidade sua tarefa era dupla. Numa, procura penetrar na fisiologia interna
da sociedade burguesa e, na outra, empreende várias tentativas: descrever,
pela primeira vez, as fonnas vitais aparentes, externas dessa sociedade e
apresentar suas conexões como aparecem exterionnente; achar ainda, pa·
ra esses fenômenos, nomenclatura e as correspondentes idéias abstratas,
e assim pela primeira vez reproduzi-los na linguagem e no processo inte-
lectual. Uma tarefa interessa-o tanto quanto a outra, e uma vez que ambas
marcham independentes uma da outra, daí resultam modos de apresenta-
ção absolutamente contraditórios: um expressa os nexos causais com maior
ou menor acerto, e o outro, com a mesma legitimidade e sem qualquer
relação interna, configura, sem a menor coerência com o pQníeiro .modo
de ver, as conexões aparentes. Os sucessores de A. SrnJ,tli, quando não
representam contra ele a reação de modos de ver mais velhos e arcaicos,
podem prosseguir tranqüilos em suas pesquisas e observações d~,ponneno
res é considerar sempre A Smith o ponto de partida, apóiem-se na parte
esotérica ou exotérica de sua obra ou, o que quase se111pre sucede, bara-
lhem as duas. Mas, por fim, Ricardo entra em cena e dá o brado no campo
da ciência: Basta! O flmdamento, o ponto de partida da fisiologia do siste·
ma burguês - para compreender seus nexos orgânicos internos e processo
vital - é a determinação do vak>r pelo tempo de trabalho. Daí parte Ri-
cardo e leva então a ciência a abandonar a rotina vigente, a verificar até
que ponto as demais categorias por ela desenvolvidas e descritas - rela-
ções de produção e de circulação -, fonnas daquele fundamento, corres-
pondem ao ponto de partida, ou o contradizem; até que ponto a ciência
que espelha e reproduz simplesmente as fonnas aparentes do processo,
e assim esses próprios fenômenos, correspondem ao fundamento sobre
que repousam os nexos internos, a fisiologia verdadeira da sociedade bur-
guesa, ou que constitui seu ponto de partida; e em geral como se com·
porta essa contradição entre o movimento aparente e o real do sistema.
Este é portanto o grande significado histórico de Ricardo para a ciên-
598
eia, e o fútil Say, por lhe ter Ricardo tirado os estribos dos pés, extravasa
seu despeito na frase: "com o pretexto de expandi-la" (a ciência), "lança-
ram·na no vácuo". 6 s Entrosa-se com esse mérito científico de Ricardo a
circunstância de ele descobrir e expressar a contradição econômica entre
as classes - segundo patenteiam os nexos causais; em conseqüência, a eco·
nomia apreende e revela as raízes da luta hlstórica e do processo de de-
senvolvimento. Ouey (ver depois a passagem) denuncia-o por isso como
pai do comunismo.
68. Say, Traíté d'économie poUtique, 5!\ ed., vol 1, Paris, 1826, pp. LXXXllI
e LXXXIV (ou 6!1 ed., Paris, 1841, p. 41).
69. Marx adiciona aos 12 capítulos (Vlll·XV111 e XXIX) que tratam de impostos
em sentido estrito, o cap. XXII ("Pi:êmtos à exportação e proibições de importação")
e o cap. xxm ("Prêmios à pl'Odução.,), que também dizem respeito a questões de tri-
butação. pois prêmios desse gênero saem de fundo fonnado par vári~ tributos pagos
pela população.
pítulos V e VI "Do Salário" e do "Lucro". O capítulo VII "Do Comércio
Exterior" e o XV "Do Comércio Colqnial" são mera aplicação - como os
capítulos sobre impostos - dos princípios antes estabelecidos. O capítulo
XXI '"Efeitos da Acumulação- sobre Lucros e Juros" é um apêndice dos
capítulos sobre a renda fundiária, lucros e salário. O capítulo XXVI "Da
Renda Bruta e Líquida" é um apêndice dos capítulos sobre salário, lu-
cros e renda. Por fim o capítulo XXVII "Da Moeda e dos Bancos" está
de todo isolado .dentro da obra e simplesmente amplia e em parte modí·
fica as idéias sobre dinheiro formuladas nos anteriores escritos ricardianos.
A teoria de Ricardo está portanto toda contida nos 6 primeiros
capítulos da obra. Quando falo de suas falhas arquitetôrúcás, trata-se des-
sa parte. A outra parte consiste em aplicaç5es, esclarecimentos e aditamen-
tos (excetuada a secção sobre moeda) que por sua natureza se baralham
e nada exigem da arquitetôriica. Mas a arquitetôrúca falha da parte teóri-
ca (os .primeiros 6 capítulos) não ê acidental e sim result.ante do método
de pesquisa do próprio Ricardo e dos ?bjetivos determinados que impusera
a sua investigação. Revela as deficiências do próprio método de pesqUisa.
O capítulo Itrata "Do Valor". Subdivide-se em 7 secções. Na primei-
ra secção Ricardo investiga adequadamente se o salário contradiz a deter-
minação dos valores das mercadorias pelo tempo de traba1ho··nelas con-
tido. Na terceira secção demonstra que a entrada do que chamo capital
constante no valor da mercadoria não contradiz a deterniinação do valor
e que a alta ou a queda do salário também não influi nos valore~ <las mer·
cadorlas. Na quarta secção investiga até onde a aplicação de maquinaria
e de outro capital ftxo e durável, desde que varie, nos diferentes ramos de
produção, sua proporção no capital total, altera a detirminação dos valo-
res de troca pelo tempo de trabalho. Na quinta secção investiga até onde
alta ou queda dos salários modifica a determinação dos valores pelo tem·-
po de trabalho, quando se empregam em diferentes ramos de produção
capitais de duração desigual e de tempo de rotação diferente. No capítu-
lo primeiro nota-se portanto que se supõe existirem mercadorias - e nada
mais é mister supor quando se observa o valor em si - e ainda salário, ca-
pital, lucro, mesmo taxa geral de lucro, como veremos, as diferentes formas
do capital segundo emergem do processo de circulação, e também a dife-
rença entre «preço natural e de mercado". Este desempenha papel deci-
sivo nos capítulos seguintes, II e UI: "Da Renda (rent}" e "Da Renda
das Minas". De acordo com o rumo de seu método de pesquisa, o capí-
tulo segundo "Da Renda" - o terceiro "Da Renda das Minas" apenas o
complementa - por sua vez começa acertadamente -com a questão: a pro-
600
príedade fundiária e a renda fundiária contradizem a determinação dos
valores das mercadorias pelo fempo de trabalho?
601
novos desenvolvimentos. Quando e~ prosseguiinento não consiste na apli·
cação monótona e fonn~ dos mesmos princípios a elementos heterogê·
neos e estranhos, ou na defesa polêmica desses ptincípíos, limita-se a·repe-
tir ou reelaborar matérias; no máximo, encontram-se às vezes, nas últimas
secções, conclusões admiráveis.
Na crítica de Ricardo temos de distinguir o que el.e mesmo não díS:.
tinguiu. Primeiro, a teoria, que naturalmente nele se encontra, da ~
valia, embora ele não defina a mais-valia destacando-a de suas formas par-
ticulares, lucro, renda, juro. Segundo, sua teoria do lucro. Começaremos
com esta teoria, embora não pertença ela a este capítulo e sím ao apêndice
histórico do capz'tulo III ':
602
Que varl<lÇão? Maís tarde Ricarcio chama esse ''valor relativo" de "va-
lor comparativo" (pp. 448 e segs.). Queremos saber: em que mercadoria
se deu a variação? Isto é, a variação do "valor", que acima se chamou de
valor relaúvo. Por exemplo, 1 libra-peso de açúcar = 2 de café. Mais tar-
de, l libra-peso de açúcar= 4 de café. Quanto à "variação", o que deseja·
mos saber é se se alterou o "tempo de trabalhe necessário" para o açúcar
ou para o café, se o açúcar custa 2 vezes mais tempo d,e trabalho que antes
ou o cate 2 vezes menos tempo de trabalho que antes, e qual dessas "va-
riações" no tempo de trabalho necessário para a respectiva produç,ão pro·
vocou essa variação na relação de troca. Esse valor "relativo ou compara-
tivo" de açúcar e café -- a proporção em que se trocam - difere portanto
do valor relativo no primeiro sentido. No primeiro sentido, o valor relati-
vo do açúcar é detemlinado pela quantidade de açücar que se pode produ-
zir num determinado tempo de trabalho. No segundo case, o valor relati-
vo do açúcar e do café expressa a razão em que se trocam um pelo outro,
e as mudanças nessa razão podem resultar de variação do "valor relativo"
no primeiro sentido, do café ou do açúcar. A razão em que se trocam po(je
pennaneçer a mesma, embora seus "valores relativos" tenham variado no
primeiro sentido. Pode 1 libra-peso de açúcar continuar igual a 2 de café,
embora o tempo de trabalho para produzir o açúcar e o café tenha dobra-
do ou diminuído de metade. Variações no 11alor comparativo, isto é, quan-
do o valor de troca do açúcar se expressa em café e vice-versa, só se reve·
larão quando suas variações no valor relativo no primeiro sentido, isto é,
nos valores determinados pela quantidade de trabalho, se efetuaram de ma-
neüa desigual, tendo ocorrido assim mudanças comparativas. Mudanças
absolutas - se elas. não alteiam a razão original, se são de igual magnitude
e na mesma direção - não causam variação nos valores comparatívos, nem
nos preços em dinheiro dessas mercadorias, uma vez que o valor do dinhei-
ro, no caso de mudar, muda para ambas por igual. Por conseguinte, expres-
sem-se os valores de duas mercadorias de maneira recíproca nos respectivos
"Va1ores de uso ou em seu preço monetário, representem-se os dois valores
no valor de uso de terceira mercadoria, esses valores rekltivos ou compara-
tivos ou ·preços são os mesmos, e é mister distinguir as mudanças neles ocor·
rentes, dos Yalores re"/ativos no primeiro sentido, isto é, no de expressarem
apenas variação no tempo de trabalho requerido para a próprio. produção e
assim realizado nelos mesmas. Esse valor relativo se patenteia portanto
"valor absoluto", em confronto com os valores relativos no segundo sen·
tido, o da representação real do valor de troca de uma mercadoria no va-
lor de uso de outra ou em dinheiro. Por isso, ocorre a Ricardo o termo
603
"valor absoluto", para expressar ó "valor relativo" no primeiro sentido.
Se, no exemplo acima, l libra-peso de açúcar continua a custar ames·.
ma quantidade de trabalho anterior, não variou seu ..valor relativo" no
primeiro sentido. Mas, se o café custa duas vezes menos trabalho, terá va-
riado o valor do açúcar expresso em café, porque variou o "valor relatívo"
do café no primeiro sentido. Os valores relativos de açúcar 'e café se reve-
lam diferentes de seus ''valores absolutos", e essa diferença se patenteia
porque o valor comparativo do açúcar, por exemplei, não variou em con-
fronto com mercadorias cujos valores absolutos pennaneceram os mesmos.
604
meras expressões rei.ativas do tempo de trabalho social, e a relatividade
delas não cons.iste apenas na razão em que se trocam uma pela outra, mas
também na relação que todas elas guardam com esse trabalho social, sua
substância.
Muito pelo contrário, como veremos, cabe criticar Ricardo por esque-
cer muitas vezes esse "valor real" ou "absoluto" e só se deter "nos valores
relativos" ou "comparativos".
Vejamos:
605
na:o chega à idéia do capital constante, do qual parte consiste em capital
fixo, parte - matéria-prima e matérias auxiliares - em capital circulante,
do mesmo modo que o capital cz'rculante abrange tanto o capital variável,
quanto matéria-prima etc. e todo_s os meios de subsistência que entram
no consumo em geraPo (e nã"o só no consumo dos trabalhadores).
A proporção em que capital constante entra numa mercadoria não
influencia os valores das mercadorias, as quantidades relativas de trabalho
contidas nas mercadorias, mas influi diretamente sobre as diferentes quan-
tidades de mais-valia. ou 'trabalhn excedente encerradas nas mercadorias
que contêm quantidade igual de tempo de trabalho. Por isso a diferença
nessa proporção gera preços médios que divergem dos valores.
No tocante à secção IV e V do capítulo I cabe, de início, observar
que Ricardo, em vez de investigar a diferença na proporção em que capi-
tal constante e capital variável constituem partes componentes do mesmo
montante do capital em ramos diversos de produção (essa diferença é da
maior importância e influencia a produção imedia.ta da mais-valia}, ocupa-
se exclusivamente com as díferentes formas do capital e com as propor-
ções diversas em que o mesmo capital toma essas várias formas, ocupa·
se com diferenças de forma oriundos do processo de circulação do capital:
capital fixo e circulante, capital mais ou menos fixo (ou seja, capital fixo
de duração diversa) e velocidade desigual de circulação ou riUm.ero dife-
rente de rotações do capital. E a maneira como Ricardo conduz a pesqui-
sa é esta: supõe taxa geral de lucro ou lucro médw de igual magnitude pa-
ra diferentes aplicações de capital de grandeza igual ou para- ramos de
produção diversos onde se investem capitais de montante igual, ou, o que
dá no mesmo, lucro na proporção da grandeza dos capitais empregados
nos diferentes ramos de produção. Em vez de pressupor essa taxa geral de
lucro, Ricardo deveria antes ter pesquisado até onde sua existência corres-
ponde efetivamente à deternúnação dos valores pelo tempo de trabalho,
e teria descoberto que, ao ínvés de lhe corresponder, a contradiz à primei-
ra vista, e assim teria primeiro de elucidar sua existência por meio de uma
série de elos intermediários, elucidaçã'o muito diversa da subsunção pura
70. Por "meios de subsiirtênda que entram no consumo em geral" entende Marx
aí: (1) os meios de subsistência que entram no consumo dos trabalhadores e (2) as ma-
térias auxiliares {material acessório ou substâncias auxiliarei1) que são consumidas pelas
máquinas (como carvão, lubrlficantes etc.) no processo de produção. Sobre (2) ver
O Capital, Ed. DIFEL, livro 1, vol. 1, pp. 206, 228, 234, 248; livro 2, vol. 3, pp. 144,
166, 167, 171, 176, 206, 211, 245;livro 3, vol.4,pp. 93, 114, 118, 119, 131.
606
e simples à lei do valor. Com isso teria atingido compreensão de todo di-
versa da natureza do lucro e não o teria identificado de imediato à mais-valia_
Depois de ter feito aquela suposiçifo, Ricardo propõe a si mesmo a
questão: como atuará ,a alta ou a queda do salário sobre os "valores relati-
vos", ao variar a proporção do capital fixo e circulante empregados? Ou
meÍhor, ônugina encaminhar assim a questão, Na verdade trata-a de ma·
neira bem diversa, a saber: pergunta que efeito a alta ou queda de salário,
nos capítais cujo período de circulação difere e qué encerram proporções
diferentes das diversas formas de capital, terá .sobre os lucros que lhes
correspondam? Então acha naturalmente que, segundo seja maíor ou menor
o capital fixo etc., a alta ou queda dos salários tem de influir de modo muito
diferente nos capitais, conforme parte maior ou menor deles consista em capi-
tal variável, isto é, em capital diretamente empregado em salário. Por isso,
para nivelar de novo os lucros nos diferentes ramos de produção, aliás,
restabelecer a taxa geral de lucro, os preços das mercadorias têm de ser
regulados de maneíra diferente, em contraposição a seus valores. Daí con-
chJ.ír ele depois: essas diferenças influenciam os "valores relativos" ao su-
birem ou .caírem os salários. Deveria ter dito o contrário. Essas diferen-
ças, embora em nada alterem os valores em sí, geram, por sua influência
variável ~obre os lucros nos diferentes ramos de produção preços médios
que divergem dos próprios valores ou, digamos, preços de custo que não
são determinados díretamente pelos valores das mercadorias, mas pelo
capital adiantado para produzi-las acrescido do lucro médio. Deveria por-
tanto ter dito: divergem esses preços de custo médios e os valores das mer-
cadorias. Em vez disso, conclui que são idênticos e parte desse pressupos-
to errado para examinar a renda fundiária.
Ricardo erra 'também ao achar que só por meio dos 3 casos que in-
vestiga chega às "variações" dos "valores relativos", independentemente
do tempo de trabalho contido nas mercadorias; de fato, portanto, à dife-
rença entre os preços de custo e os valores das mercadorias. Já supu,sera
essa diferença ao admitir taxa geral de lucro; presumira portanto que, ape-
sar das diferentes relações entre os componentes orgânicos dos capitais,
estes dão lucro proporcionado a sua magnitude, enquanto a mais-valia que
fornecem é por completo determinada pela quantidade de tempo- de traba-
lho não pago que absorvem, e isso, para dado salário, depende totalmente
do montante da parte do capital despendida em salário e não da magnitu-
de absoluta do capital.
O que de fato investiga é: supostos preços de custo diferentes dos
valores das mercadorias - e a admissão de taxa geral de lucro pressupõe
607
tal diferença -. como esses preços de custo (que, para variar, se chamam
de ''valores relativos") se modificam recíproca e proporcionalmente pala
alta ou queda do salário, quando diferem as proporções entre os compo-
nentes orgânicos do capital? Se Ricardo tivesse examinado mais a fundo
a matéria, teria visto que a mera existência de urna taxa geral de lucro -
com as diversidades nos componentes orgârúcos do capitàl as. quais de íni~
cio se configuram, dentro do processo imediato de produção, na diferença
entre capital variável e capital constante, e depois se ampliam palas dife-
renças oriundas do proce~o de circulação - tem por conseqüência: pre-
ços de cu.tio diferentes dos valores - mesmo supondo-se salfirio constan-
te -, uma diferença portanto que em nada depende da alta ou queda do
salário, e nova determinação fonnal. Teria também visto que, para a teoria
global, a compreensão dessa diferença é incomparavelmente mais impor-
tante e mais decisiva que sua observação sobre a variação nos preços de
custo das mercadorias, causada por alta ou queda do salário. O resultado
com que se satisfaz - e essa satisfação corresponde por inteiro à natureza
de sua pesquisa - é este: uma vez admitidas e levadas em conta as varia-
ções nos preços de custo (ou ''valores relativos", como diz ele) das merca-
dorias - desde que, no caso de d~versidade na composição orgânica dos
capitais empregados em diferentes ramos, se realizem ao ocorrere.m altera-
ções de salário, alta ou queda - a lei continua a vigorar, e is.so não contra-
diz a lei de os ''valores relativos" das mercadorias serem determinados por
tempo de trabalho, pois todas as outras variações que não sejam meramen-
te temporárias nos preços de custo das mercadorias só se podem explicar
por modificação no tempo de trabalho necessário .para produzi-las.
Em contrapartida, devemos considerar que Ricardo conquista gran-
de mérito ao associar as diferenças entre capital fixo e círcu1ante com o
tempo de rotação diverso do capital, e ao derivar todas essas diferenças do
tempo de circulação diferente, na realidade, portanto, do tempo de circula.-
ção ou de reprodução do capital.
Primeiro que tudo observaremos essas próprias díferenças conforme
sua exposição inicial na secção IV ( cap. 0 e depois examinaremos o modo
como as vê influir ou causar variações nos "valores relativos".
608
No tocante às "quantidades diferentes de trabalho para sua pro-
dução", pode incluir-se aí a idéia de que os menos duráveis exígem, tan·
to para reparo quanto para reproduçã'o, mais trabalho (trabalho imedia-
to e repetido), e isso parece ser o único ponto de vista de Ricardo; ou in·
cluir-se também a idéia de que maquinaria etc. do mesmo grau de durabf..
lidade pode ser mais ou menos .cara, produto de mais ou menos trabalho.
Este último aspecto, muito importante para a relação entre capital cons-
tànte e variável, nada tem a ver com o exame de Ricardo que nenhures o
considera de maneira autônoma.
609
de novo de seu capital para renovar a o~eração ou iniciar qualquer ou-
tra" (pp. 26, 27).
610
produto com 10% de lucro, isto é, por 2 200 lib:ras. Há aí portanto duas
mercadorias ex.atamente com a mesma quantidade de trab:alho: uma é
vendida por 2 310 libras, e a outra, por 2 200" (p. 34).
611
líns. O primeiro tem de gastar, como dantes, 80 libras em capital constan-
te (uma vez que Ricardo aí omite a matéria-prima, podemos fazer o mesmo)
e com os 20 traba1hadores, fora as 20 libras, mais 80 xelins, ou seja, 4 libras.
Seu capital agora portanto é de 104 libras. E das 110 libras restar-lhe-ão
apenas 6 libras de lucro, uma vez que os trabalhadores passaram a produ-
zir mais-valia menor. Sobre 104 libras, 6 representam 5 I 0/13%. Ao revés,
o segundo empresário, que emprega 80 trabalhadores, terá de pagar mais
320 xelins, isto é, 16 libras. Terá portanto de desembolsar 116 libras. As-
sim, se for vender a 110 libras, terá perda em vez de lucro. Mas esse.caso
só ocorre porque o lucro médio já alterou a relação entre o trabalho por
ele despendido e a mais-valia que ele mesmo obteve.
Por isso, em vez de investigar o fenômeno decisivo - as variações
necessárias a ocorrer para que o primeiro, que despende em salário 80 das
100 libras, não faça lucro 4 vezes maior que o outro que só desembolsa
em salário 20 das 100 libras -, pesquísa Ricardo o problema acessório, a
saber, como é que, depoís de nivelada essa grande diferença, isto é, dada a
taxa de lucro, toda alteração na taxa de lucro em virtude da alta dos salá-
rios, por exemplo, influi no que emprega muitos trabalhadores com as
100 libras, muito mais do que no que emprega poucos traba1hadores com
as IOO libras, e assim, para igual taxa de lucro. os prc;1ços das mercadorias
de um têm de subir e Os do outro, de descer, para continúár a mesma a
taxa de lucro ou os preços de custo.
"Admitamos que de duas pessoas cada uma emprega 100 homens duran·
~e um ano na construção de duas máquinas, e que outra empregue o mes-
mo número na cultura de trigo: no fim do ano, cada uma das máquinas
terá o mesmo valo:r do trigo, pois cada um foi produzJ.do por quantidade
igual de trabalho. Admitamos que um dos proprietários de uma das máqui-
nas a empregue no ano seguinte, com a ajuda de cem homens, para produzir
pano, e o dono da outra máquina utilize também a sua para fabricar,
com a ajuda de cem homens, artigos de algodão, enquanto o arrendatá-
rio prossegue empregando como dantes cem homens para cultivar trigo.
Durante o segundo ano, todos empregam a mesma quantidade de traba.
lho"
612
"todavia, as mercadorias e máquina juntas do fabricante de panos serão,
como acontece com o fabricante de artigos de algodiío, o resultado do
trabalho de duzentos homens, empregados por um ano; ou melhor, do
trablllho de cem homens du1ante dois anos; enquanto o trigo será produ-
:r.ido pelo trabalho de cem homens durante um ano. Em conseqüência,
se o trigo tiver o valor de 500 libras, a máquina e o pano juntos devem
ter o valor de 1 000 libras, e a máquina e os artigos de algodão devem
ter tambAm o dobro do valor do trfgo. Mas terão mais do dobro do va-
lor do trigo, pois o lucro, no primeiro ano, do capital do fabricante de
pano e do fabricante de artigos de algodão se acrescentou a !JeUs capitais,
enquanto o do arrendatário foi despendido e fruído. O valor das merca-
doria' depende poxtanto da duração diversa do re1pectivo cupítal, ou, o
que dá no mesmo, do tempo que tem de deco"er até que se possa levar
um conjunto delas ao mercado, mas sem guardar proporção exata com a
quantidade de trabalho nelas aplicado. A Ia.tão não serâ de dois para um,
mas algo maior para compemar o prazo maior que tem de deco"er até
que se possa Iançll' no mercado as mercadori4s de maior Vtllor. Admita·
mos sejam pagas a cada trabalhador 50 libras por ano, ou se empregue
capital de S 000 libras e os luaos sejam de 10%; então, o valor de cada
uma das duas máquinas, como o do trigo, será, no fim do ano, de 5 500
libras. No segundo ano, cada um dos fal)ricantes e arrendat.áxios emprega-
rá de novo 5 000 hõras para sustentar os trabalhadores e assim cada um
venderá mais uma vez mercadorias por 5 500 libJ:as. Todavia, os fabri-
cantes, a fün de se equipararem ao agricultor, têm de receber - para igual
capital de 5 000 libras empregadas em trabalho - 5 500 e mais uma
soma de 550 libras como lucro sobre as 5 500 Jibras que investiram em
máqu1"'nas, e por isro suas mercadorias" (pois na verdade admitiu-se como
decorrência de necessidade e lei a me3ma taxa. de lucro anual de 10%)
"se 11endem por 6 050 libras."
"O pano e os artigos de algodão têm o mesmo valor por serem produ:r.i-
dos por iguais quantidades de trabalho e iguais quantidades de capital
613
fixo; mas o trigo não tem o mesmo valar" (na verdade, preço de custo}
"de.~sas mercadorias, porque, na tocante ao capital fu:o, foi produzida
noutras condições" (pp. 29-31). ·
614
"essas mercadorias produzidas" (pelo fabricante do ramo algodoeiro e
pelo arrendatário), "em virtude das quantidades diferentes de capital
fixo ou de trabalho acumulado, aplicadas por cada um deles, diferem
em seus valores" (p. 31).
615
o industrial teriam vendido as mercadorias por seus valores, admitindo-se
que os 10% obtidos pelo arrendatário representam trabalho real não pago,
embutido em sua mercadoria. Se venderem suas mercadorias com igual
lucro, será necessária uma das duas ocorrências: ou o industrial a seu arbí-
trio acrescenta 5% a suas mercadorias, e então as mercadorias do industrial
e do arrendatário tomadas em conjunto são vendidas acima de seu valor;
ou a mais-valia real que o arrendatário consegue i:\ digamos, de 15%, e am-
bos adÍcíonam a sua mercadoria a média de 10%. Neste caso, embora· o
preço de custo de cada mercadoria esteja acima ou abaixo do correspon-
dente valor, o total das mercadorias é vendido por seu valor e o próprio
nivelamento dos lucros é determinado pela soma de mais-valia nelas conti-
da. A passagem acima de Ricardo, se for corrigida com acerto, revelará a
verdade: a relação entre capital variável e constante, invariável a magnitu-
de do capital despendído, tem de produzir mercadorias com valores de di-
ferente magnitude e, em conseqüência, lucro diferente; o nivelamento
desses lucros, por isso, tem de gerar preços de custo diferentes dos valores
das mercadorias.
616
compan:r tanto o valor dos artigos de algodão quanto o "valor dos artigos
de algodão e da máquina" com "o valor do trigo".
Bem. O valor do fio de algodão, no fun do segundo ano, tem então
de ser igual a l 000 libras, repartindo-se em 500, valor da máquina, e 500,
valor do novo trabalho adicionado. O valor do trigo, entretanto, é de 500,
e se reparte em 400, o valor do salário, e 100, o trabalho não pago. Até aí,
nada neste caso rontradiz a lei dos valores. O industrial do algodão obtém
lucro de 25%, em igualdade com o empresário do trigo; mas a mercadoria do
primeiro = 1 000, e a do segundo= SOO, porque a do primeiro encena o
trabalho de 200 homens, e a do segundo, cada ano, o de 100 homens ape·
nas~ além disso, as 100 libras de lucro (mais-valia) que o industrial do algo-
dlo obteve com a máquina no primeiro ano - ao incorporar nela, sem pa·
gar, 1/5 do tempo de trabalho dos obreiros que a construíram.:__ só se con-
vertem em dinheiro para ele no segundo ano, pois só entíío, no valor do fio
de algodão, realiza ao mesmo tempo o valor da máquina. Mas chegamos
àgora ao busílis. O industrial do algodão vende o fio por mais de 1 000 li-
bras, isto é, por valor maior que sua mercadoria contém, enquanto o arren-
datárip vende o trigo por SOO, isto é, pelo valor, de acordo com o pressu-
posto. Se só houvesse essas duas pessoas para o intercâmbio, o industrial
para adquirir o tdgo do arrendatário, e o arrendatário, o fio do índustríal,
o resultado seria como se o arrendatário vendesse a mercadoria abaL'(O do
valor e obtivesse lucro ínferior a 25%, e o industrial vendesse o fio adma
do valor. Não precisamos dos dois capitalistas (o fabricante de tecido e o
fabricante de fio), pois os dois figurantes introduzidos por Ricardo são aí
demais: modifiquemos sua proposição para que entre em cena apenas o
fabricante de fio. Para a demonstração, é de todo inútil até aqui tal du-
plicação. Assim:
617
Se o industrial vender a mercadoria por seu valor, véndê-la-á por l 000
libras, o dobro do preço do trigo, por encerrar ela o dobro de trabalho: 500
libras de trabalho acumulado na maquinaria (das quais não pagou 100 libras)
e 500 de trabalho em fio de algodão, das quais também não paga 100. Mas
ele calcula assim: no primeiro ano desembolso400 libras e, mediante explo-
ração dos trabalhadores, construo com elas uma máquina que vale 500 li-
bras. Fiz portanto um lucro de 25%. No segundo ano desembolso 900 libras,
a saber, 500 nessa máquina, e 400 de novo em trabalho. Para obter de novo
25%, tenho de vender o fio por 1 l 25, isto é, 125 libras acima de seu valor.
Pois essas 125 libras não representam trabalho contido no fio de algodão,
nem acumulado no primeiro ano, nem adicionado no segundo. A totalida-
de de trabalho nele encerrada é apenas de l 000 libras. Ademais, admitamos
que as trocas se processam entre os dois, ou seja, metade dos capitalistas
se encontram na situação do industrial do algodão e metade na situação
do arrendatário. Donde a primeira metade obterã o pagamento das 125
libras? De que fundo? Só pode obtê·lo da segunda metade, é óbvio. Ma9
então fka evidente que essa segunda metade não consegue lucro de 25%.
A primeira metade fraudaria a segunda sob o pretexto de uma taxa ge-
ral de lucro, quando na realidade, a taxa de lucro do industrial· estaria em
25% e a do arrendatáóo, abaixo de 25%. As coisas têm portantQ de ocorrer
de outra maneira.
Para uma demonstração mais precisa e mais clara, admitamos que o
arrendatário empregue no segundo ano 900 libras. Obtém assim no. primei-
ro ano, com a taxa de 25%, lucro de 100 libras sobre as 400 que desembol-
sa, e no segundo 225, ao todo 325. Ao revés, o industriàl, no primeiro ano,
consegue 25% sobre as 400 libras, mas, no segundo, apenas 100 sobre 900,
isto é, só 111/9% (pois as 500 em maquinaria nã:o proporcionam mais-valia,
e sim as 400 em salário). Ou adnútamos desembolse o arrendatário de novo
400: assim consegue 25% no primeiro ano e a mesma taxa no segundo; no
conjunto, 25% ou 200 libras sobre um dispêndio de 800 em dois anos.
Em contrapartida, o industrial, 25% no primeiro ano, e 11 1/9 no segun-
=
do; em dois anos, 200 libras sobre desembolso de 1 300 15 5/13%. Com o
nivelamento, tanto o industrial quanto o anendatárío teriam de obter
20 5/26%71 , ou seja, o lucro médio. Isso daria à mercadoria do arrendatá-
rio menos de 500 libras, e à mercadoria do industrial mais de l 000.
71. O lucto médio só atingiria 20 5/26% se fossem iguais os capitais empregados
pelo industxíal e pelo arrendatário. Mas, se considerarmos a diferença de magnitude
dos capitais empregados - 800 libras para o anendatário e l 300 para o industrial (ao
todo, 2 100) - e o lucro global de ambos (400 libras}, teremos: lucro médio ::::
= 400 X 100::::: 19 1/21%/2 100.
618
Em todo caso, o industrial aí desembolsa no primeiro ano 400 libras,
no segundo, 900, enquanto o arrendatário, de cada vez, apenas 400. Se o
industrial, em vez de fiar o algod.ro, construísse uma casa (fosse constru-
tor), a casa inacabada, no fim do primeiro ano, representaria 500 libras, e ele
teria de despender mais 400 libras cm trabalho para conclui-la. O arrenda-
tário, cujo capital completou a rotação durante o ano, pode ainda capita-
lizar em trabalho parte das 100 libras de lucro, 50/por exemplo, o que o
industrial, na suposição feita, não pode. Para ser a mesma, .nos dois casos,
a taxa de lucro, a mercadoria de um deve ser vendida acima e a do outro,
abaixo do correspondente valor. Ê o que se dá, uma vez que a concorrên-
cia opera no sentido de nivelar os valores aos preços de custo.
Mas Ricardo erra ao dizer que aí se produz nos valores relativos
varíação que "depende da duração diversa dos "capitais" ou "do tem-
po que tem de decorrer até que se possa levar um conjunto delas ao
mercado". Ao revés, é a adoção da taxa geral de lu.cro que, apesar dos va-
lores diferentes condícionados pelo processo de circulação, produz preços
de custo iguais, diferentes dos valores determinados apenas pelo tempo
de trabalho.
A demonstração de Ricardo se faz em dois exemplos. Não chega a
entrar no segundo exemplo a duração do capital nem a qualidade de tixo
em que o capital se apresenta. Só se trata de capitaís de magnitude díver-
sa, com o desembolso do mesmo montante em salário, com o desembolso
do mesmo capítal variável, e onde os lucros devem ser .os mesmos, embo·
ra as mais-valias e os valores tenham de divergir.
A duração do capital também não aparece no primeiro exemplo.
Trata-se de proce.sso de trabalho mais longo - permanência mais longa da
mercadoria na esfera de produção, até ficar pronta e poder entrar na cir-
culação. Nele emprega o industrial, no segundo ano, capital maior que o
arrendatário, embora aplique nos dois anos o mesmo capital variável. Mas
o arrendatário, em virtude de sua mercadoria demorar menos no proces·
so de trabalho, de se converter mais cedo em dinheiro, poderá. empregar
capital variável maior no segundo ano. Além disso, a parte do lucro desti-
nada a consumo como renda {revenue) é consumível para o arrendatário
no fim do primeiro ano, e para o industrial só no fim do segundo. O indus-
trial portanto tem de gastar capital extra para stiStentar-se, tem de adian-
tá-lo a si mesmo. Aliás, a possibilidade de haver compensação no caso II
e nivelamento dos lucros depende por inteiro da medida em que os capi-
tais que. efetuam a rotação anual possam ter os lucros reinvestidos, isto é,
619
da verdadeira magnitude dos lucros produzidos. Nada há a nivelar onde na-
da e:xíste. Os capitais também aí não produzem valores e, em conseqüên-
cia, ma.is-valia e lucro na proporção de sua grandeza. Para haver essa pro·
porção, têm de existir preços de custo diferentes dos valores.
Ricardo apresenta uma terceira demonstração que exatamente coin-
cide com o exemplo da primeira e nada de novo expressa.
620
primeira demonstração tinha por fim mostrar que diferenças emergem em
virtude de proporções diferentes de capítal ftxo. Em vez disso, mostra ape·
nas a diferença entre dois capitais de magnitude desigual, embora ambos
apliquem em salário a mesma dose de capital. E por cima o industrial que
opera" sem algodão e fio, e o arrendatário, sem sementes e instrumentos.
A total inconsistência, o absurdo mesmo dessa demonstração decorre ne-
cessariamente da obscuridade que lhe é intrínseca.
"A dífeumça de valor decoue nos dois casos do lucro acumulado em ca-
pital e por isso é uma compensação /u~ta" (como se houvesse aí uma
questão de íustiça) "pelo tempo em que se reteve o lucro" (p. 35).
621
de igual rntlQlitude têm de render em diferentes ramos num determinado
espaço de tempo.
Por conseguinte, para os lucros serem iguais como percentagem so-
bre o capital durante um ano, por exemplo, de modo que capitais de igual
magnitude em periodos iguais dêem lucros iguais, os preços têm de diferir dos
valores das mercadorias. Esses preços de custo de todas as mercadorias,
tomados em conjunto, atingem soma igual ao valor delas. Do mesmo mo-
do, a totalidade do lucro será igual à totalidade da mais-valia que esses
capitais em conjunto proporcionam durante um ano, por exemplo. O lu-
cro médio, e em conseqüência também os preços de custo, ficaria no do-
mínio da pura imaginação e da inconsistência, se não tomássemos por
base a definição do valor. O nivelamento das mais-valias nos diferentes
ramos em nada muda a magnitude absoluta da totalidade da mais-valia,
mas altera sua repartição pelos diferentes ramos. Já a determinação dessa
própria mais-valia tem por única origem a detemúnação do valor pelo
tempo de trabalho. Sem este, o preço médio é preço médio de nada, mera
fantasia. E então poderia ser 1 000% ou l 0%.
Todas as demonstrações de Ricardo servem-lhe apenas para contra·
bandear a suposição de uma taxa geral de lucro, E isso ocorre no capítu-
lo I "On value''. quando era de esperar que só tratasse de salários no capí-
tulo V e de lucro no VI. Como da simples determinação dÓ "valor" das
mercadorias' provêm a mais-valia, o lucro e mesmo uma taxa geral de lucro,
é questão que fica obscura em Ricardo. A única coisa que· de fato prova
nas demonstrações acima é que os preços das mercadorias, no que são de-
tenninados pela taxa geral de lucro, divergem por completo dos valores
das mercadorias. Encontra essa divergência, ao admitié como lei a taxa de
lucro. Embora incriminado de abstrato demais, vemos que lhe seria adequa·
da a censura oposta: carência do poder de abstrair, incapacidade, ao tratar
dos valores das mercadorias, de esquecer os lucros, fato com que se con-
fronta, oriundo da concorrêncía.
Ricardo admite - ao invés de derivar a diferença entre os preços de
custo e os valores da própria determinação do valor - que influências
independentes do tempo de trabalho determinam os próprios "valores"
(aí estaria em posição de apreender a idéia do "valor absoluto" ou "real"
ou "valor" puro e simples) e derrogam por vezes sua lei; por isso, seus
adversários, como Malthus, aí se apoiaram para atacar toda a sua teoria
dos valores. Com razão observa Malthus que as diferenças entre os compo-
nentes orgânicos do capital e os períodos de rotação dos capitais em ra-
mos diversos se desenvolvem e~ simetria com o progresso da produção,
622
-e assim chegar-se-ia ao modo de ver smíthiano de que a determinação do
valor pelo tempo de trabalho não se ajusta mais aos tempos "civilizados''.
(Ver também Torrens.) Ademais, os discípulos de Ricardo, para adequar
esses fenômenos ao prútcípio fundamental (ver James Mill e o mísero Pe-
ter McCulloch ) 72 , recorreram aos mais indigentes embustes escolástícos.
Sem se deter no resultado deoorrente de suas próprias demonstra-
ções - a saber, que, sem se levar em conta a alta ou a queda do salário,
supondo-se constante o salário, os preços de custo das mercadorias têm
de diferir de seus valores, se são detenninados pela mesma percentagem
de lucro - Ricardo, naquela secção, trata da influência que.a ascensão ou
queda do salário exerce sobre os prews de custo aos quais já estão nivela-
dos os valores.
O malabarismo em si mesmo é de extrema simplicidade.
O arrendatário desembolsa 5 000 libras a l 0%; sua mercadoria= 5 500.
Se o lucro diminui de l %, indo de 10% para 9%, por ter subido o salário,
por ter a elevação do salário provocado essa redução, o arrendatário vende
a mercadoria; como dantes (uma vez que se admitiu que desembolsou o
capital todo em salário), por 5 500. Mas dessas 5 500 não lhe pertencem
mais 500 e sim 454 14/109 apenas. O capital do industrial. consiste em
5 500 lib~a.S de maquinaria e S 000 de trabalho. As últimas 5 000 configu-
ram-se, como dantes, em 5 500, só que agora em vez de 5 000 desembolsa
5 045 95/109, e entlfo obtém apenas lucro de 454 14/109, como o arren-
datário. Aliás, não pode mais computar 10% ou 550 sobre o capita1 fixo
de 5 500, mas somente 9% ou 495. Assim venderá sua mercadoria por
5 995 libras, em vez de por 6 050, e assim, em virtude da elevação do sa-
lário, o preço em dinheiro da mercadoria do arrendatário pennaneceu o
mesmo, e portanto ·subiu o valor da mercadoria do arrendatário em com-
paração com o da mercadoria do industrial. Todo o malabarismo se reduz
a que, se o industrial vender a mercadoria pelo mesmo valor de antes, con·
seguirá lucro maior que o médio, porque só a parte do capital desembolsa-
da em salário é diretamente atingida pela alta do salário. Nessa demonstra-
ção já se pressupõem preços de custo regulados por lucro médio de 10%
e diferentes dos valores das mercadorias. O problema é saber como atua
sobre esses preços de custo a elevação ou a queda do lucro, segundo varie
a proporção entre capital fixo e capital circulante. Essa demonstração
(em Rícardo, pp. 31, 32) nada tem a ver com o problema essencial, a trans-
623
formação dos valores em preços de custo. E interessante porque Ricardo
aí mostra na verdade que alta de salário, dada a igualdade na composição.
dbs capitais, só provocaria - contra a idéia vulgar - baixa do lucfo sem
influir nos valores das mercadorias, e dada a desigualdade na composíçã'.o
deles, queda no preço de algumas-mercadorias, ao invés de elevar o preço
de todas as mercadorias, como crê a concepção vulgar. Temos aí queda dos
preços das mercadorias em virtude da queda na taxa de lucro ou, o que dá
no mesmo. elevação do salário. No caso do industrial, grande parte do
preço de custo da mercadoria é determinada pelo lucro médio que ele
computa sobre o capital fixo. Assim, caia ou suba essa taxa de lucro, em
virtude de ascensão ou queda do salário, baixará ou elevar-se-á, em corres-
pondência, o preço dessas mercadorias (de acordo com a parte do preço
oriunda do lucro computado sobre o capital fixo). O mesmo vale para
"capitais circulantes que refluem em períodos mais extensos e vice-versa"
(MacCultoch, p. 300). Se os capitalistas que empn:gam menos capítal va-
riável continuassem debitando no preço da mercadoria o capital fixo na
base da mesma taxa de lucro, sua taxa de lucro subiria, e na mesma propor-
ção em que empregam mais capital fixo em confronto com aqueles cujo
capital tem parte maior de capital variável. A concorrência nivelaria isso.
"Ricafdo", diz Peter Mac, "foi o prírneiro que investigou es efeitos das
flutuações do salário sobre o valor das mercadorÍ11$, quando os capitais
empregados para produzi-las não têm a mesma duração" (pp. 298, 299).
"Rieardo mostrou que é impossível uma alta de salário elevar o preço
de todas as mereadorias, e ainda que em muitos casos ascensão.dos salif.
rim conduz necessariamente a queda dos preços e quedá dos salários
a ascentão dos preços"· (p. 299, MacCuUoch, The-Princíples of Political
Economy, Edimburgo, 1825}- · •
Ricardo demonstra seu ponto de vista, primeiro, ao pressupor preços
de custo regulados por taxa geral de luêl'O.
Segundo: "O valnr do trabalho não pode subir sem cair o lucro" (p. 31).
Assim, no capítulo 1 ''On Value" já pressupõe as leis que nos capítu·
los V e VI "On Wa~s" e "Profits" devem ser inferidas do capítulo "On Vaw
lue''. Aliás, Ricardo erra por completo ao concluir que, uma vez que "ova-
lor do trabalho nã"o pode subir sem cair o lucro", o lucro não pode subir
sem cair o valor do trabalho, A primeíra lei refere-se à mais-valia. Mas, uma
vez que lucro = proporção de mais-valia com a totalidade do capital adian-
tado, o lucro pode subír, dado o mesmo valor do trabalho, se cair o valor
do capital constante. Ricardo em suma confunde mais-valia e lucro. Daí
leis falsas sobre o lucro e a taxa de lucro.
Conclusão geral da última demonstração:
624
-.. O g1au da alteração no valor relativo das mercadoria.~, causada pm alta
ou baixa de tr&balho" (ou, o que dá no mesmo, por alta ou queda da
taxa de lucro), "depende da proporção de capital fixo na totalidade do
éapital aplicado. Todas as mercadorias que se produzem com máquinas
de grande valor ou em edifícios de g1ande valor, ou que requerem tempo
considerável para chegar ao mercado, terão decréscimo de valor relativo,
enquanto te1ão acréscimo de valor relativo todas as que são produzidas
príncipalmente pelo trabalho ou são logo levadas ao mercado" (p. 32).
"Todavia eonvém que o leitor observe que essa causa da va.ríação das
mercado das" (isto á, variação dos preços de custo ou, como lhe parece.
no& valores relativos das mercadorias) ''tem efeitos relativamente muito
redu'làdos ... Atua de maneira diferente a outra eausa da variação do va.
625
lor das mercadorias, isto é, o acréscimo ou decréscimo da quantidade de
trabalho necessário para produ:r.Has... Alteração de eerta magnitude na
taxa permanente de lucro é o efeito de causas que só atuam no decurso
de anos; ao revés, oeorrem diariamente modificacões na quantidade de
trabalho necessári() fÍ,ara produzir mercador.ias. Toda melhora nas máqui·
na.s, instnimentos, rias edificações e na obtençã~ de matérias-primas eco-
nomiza trabalho e possibilita-nos produzir, com mais facilidade, a merca-
doria a que se aplica a melhoria, e em conseqilência altera-se-lhe o 1111lor.
Ao apreciar as causas do valor das mercadorias seria enado omitir por
completo o efeito causado por alta ou baixa do trabalho, mas seria por
igUal incorreto atribuir-lhe importiincia demasiada" (pp. 32, 33).
626
"Ficou demonstrado nesta secção que, sem se alterar a quantidade de
trabalho, a alta do valor do trabalho causa apenas queda nos valores
de troca das mercadorias em cuja produção se emprega capital fixo;
quanto maior a quantidade de capital. fixo, tanto maíor ser.i a queda"
(p. 35).
627
obtido por qualquer outro fabricante que empregue cir::qüenta homens
p:ua produzir outras mercado.rias e que não empregue maquinaria algu-
ma. Todavta, alta do salário não atingirá por ígUal mercadorias produ-
zidas com maquinaria consumida a curto prazo e mercadotias produzi..
das com maquinaria consumida a longo prazo. Numa hipótese, transfe-
fir-re-4 de contfnúo grande quantidade de trab/Jlho prva a 11um:adoria",
(mas a idéia fixa da taxa geral de lucro leva-o a não ver que, assim, também
se transfere de contínuo, para a mercadoria, grande quantidade relativa
de trabalho excedente),
"Por isso, toda alta de salário ou, o que dá no mesmo, toda queda de
lucro díminuirá o valor relativo daquelas n::iercadorias que forem pro-
duzidas com capital durável, e allIÍ'lentará em correspondêneia o valor
relativo das que siio produzidas por capital mais perecível: Queda de sa-
lário terá efeito diametralmente oposto" (pp. 37, 38).
628
"Vê-5e portanto que nas faseg anteriores de desenvolvimento da socie-
dade, antes de se usa.r muita maquinaria ou capital durável, as merca-
dorias produzidas por capitais iguais têm aproximadamente valor igual,
e só SQbem ou caem em relação umas com as outras, em v.i!tude de mais
ou menos trabalho requerido pata produ?.i·las,"
(a fràse final ruim; nem se refere ao valor, mas às mercadorias, o que ator.
na incompreensível, a não ser que diga respeito a preços; pois afimlar
que os valores caem na proporção do tempo de trabalho é dizer que va-
lores caem ou sobem quando caem ou sobem);
629
por causá da magnitude igual, os preços das mercadorias (desde que de-
tenninados pela tax.a geral de lucro sobre dado desembolso) têm de diyer-
gir muito dos vawres das mercadorias. Não se segue daí 4ue os valores
mudaram de natureza,· mas que os preços diferem dos vawres. Surpreen-
de que Ricardó não tenha chegado a essa conclusão tanto mais que eJe vê
que mesmo os preços de custo, determinados pela taxa de lucro, variam -
supondo-se que variação na taxa de lucro (ou taxa de salário) tem de mo-
dificar esses preços de custo, para a taxa de lucro ficar a mesma nos dife-
rentes ramos. Assim, a formação da taxa geral de lucro teria de alterar
os valores desiguais sobretudo porque essa taxa geral de lucro nada mais
é que nivelamento das diferentes taxas de mais-valia nas diferentes mer-
cadorias produzidas por capitais iguais.
Ricardo, depoís de ter em todo caso constatado de fato a diferen-
ça entre custo e valor, preços de custo e valores das mercadorias, embora
não a tenha desenvolvido e compreendido, finaliza com a frase:
Com essa confusão errônea, contestada por ele mesmo, entre preços
de custo e valores, passa a examinar a renda (rent}.
No tocante à influência das variações do valor do. trabalho sobre o
preço de custo do ouro, diz Ricardo na secção VI do capítulo Í:
630
valores em preços de custo pela taxa média de lucro, daí tira Ricardo im-
portante conclusão e derruba um dos principais erros que se transmitiam
desde A. Smíth, a saber, que alta do salário, em vez de fazer cair o lucro,
eleva os preços das mercadorias. Isso já está implícito no mero conceito
de valores e de maneira alguma se altera por sua conversão em preços de
custo, uma vez que essa metamorfose só atinge propriamente a repartição
da mais-valia que a totalidaile do capital obtém, pelos diferentes ramos
ou pelos diferentes capitais nas diferentes esferas de ,produção, Mas o im-
portante é ter Ricardo acentuado aquele ponto e demonstrado o oposto.
Daí dizer com razão na secção VI, capítulo 1:
"Espero ter conseguido mosuar não haver fundamento para tal opinião,
e que, ao se elevarem os salários, só subirão aquelas mercadorias em que
se aplicou menos eapital fixo que na meti/adoro onde ae exprer;&a o pre-
=
ço" (aí l'alor relativo eKpxessão do valor em dinheiro), "e ainda que
aquelas onde se aplicou mais terão por certo queda de preço, Ao revés,
se os salários caírem, s6 baixario aquelas mercadorias em que se aplica
proporção de capital fixo menor que a empregada na mediadora em
que se estima o preço, enquanto todas aquelas em que se aplica propor-
ção maior terão de fato ascensão de preço" (p. 45).
631
em trigo de maior ''valor relativo" As mercadorias onde entrar mais capítal
fixo expressar-se-ão em quantidade de trigo menor que a anterior, nãq por
seu preço específico ter caído em relação ao trigo, mas por ter caido em.
ger;il. Mercadoria que tenha entre trabalho vivo e trabalho acumulado a
mesma proporção que o trigo, expressará sua ascensão de preço configu-
rando-se em mais trigo que outra cujo preço tenha caído em confronto
com o trigo. Se as mesmas causas que fazem subir o preço do trigo elevam,
por exemp1o, o preço do vestuário, este por certo não se expressa em quan-
tidade de trigo maior que a anterior, mas aquelas mercadorias cujo preço
caiu em relação ao trigo, por exemplo, tecidos, expressam-se em quanti-
dade menor. Tecidos e vestuário revelarão em trigo, o mediador, a difo·
rença entre seus preços.
Mas o que Ricardo pensa é algo diferente. Quer dizer: trigo, em vir-
.tude da alta de salário, terá subido em relação a tecido, mas não em rela-
ção a vestuário. Assim, este trocar-se-á por trigo do preço anterior, e teci-
do por trigo de preço elevado. Em si mesma é absurda ao extremo a supo-
sição de variações no preço do salário na Inglaterra, por exemplo, alterarem
os preços de custo do ouro na Califórn.ía., onde o salário não subiu. O ni-
velamento dos valores pelo tempo de trabalho não existe dessa forma ime-
diata entre diferentes países: e muito menos ainda o nivelamento dos
preços de custo por uma taxa geral de lucro. Co~deremos o próprio
trigo, produto nacional. Suba o preço do trigo de 40 xelins para 50, isto
é, de 25%. Se o vestuário subir de 25%, vale, como daµtes, J quarter de
trigo. Se o tecido cafr de 25%, a mesma quantidade ,de tecido que antes
valia l quarter de trigo, só vale agora 6 bJJSheis. E essa expressão em tri-
go representa exatamente a proporção entre os preços de tecído e vestuá-
rio, por serem ambos mensurados pela mesma medida, l quarter de trigo.
Aliás, aquele ponto de vista é absurdo por outro motivo. O preço
da mercadoria que serve de medida de valores, e portanto de dinheiro,
nlo existe de maneira alguma, pois, do contrário, além da mercadoria
que serve de dinheiro, terei de possuir outra mercadoria que sirva de di-
nheiro - dupla medida dos valores. O valor relativo do dinheiro configura-
se nos preços inumeráveis de todas as mercadorias, pois, em cada um des-
ses preços onde o valor de troca da mercadoria se expressa em dinheiro,
o valor de troca do dinheiro se expressa no valor de uso da mercadoria.
Por isso, não se pode falar de alta ou baixa do preço do dinheiro. Posso
direr: o preço do dinheiro em trigo ou em vestuário não se alterou; seu·
preço em tecido subiu ou, o que dá no mesmo. caiu o preço em dinheiro
do tecido. Mas não posso dizer que o preço do dinheiro subiu ou caiu.
632
Mas Ricardo, na realidade, acha, por exemplo, que o preço do dinheiro
em tecido subiu ou caiu o preço do tecido em dinheiro, por ter o valor
relativo do dinheiro subido em confronto com o tecido, enquanto man-
teve o mesmo valor em confronto com vestuário ou trigo. Ambos são
assim mensurados por medida desigual.
A secção VI "On an invariable measure of value" trata da "medida
dos valores", mas nada contém de ímportante. Não se concebe a conexão
entre valor, sua medida imanente pelo tempo de trabalho, e a necessida-
de de uma medida externa dos valores das mercadorias, nem mesmo se
propõe o problema dessa conexão.
Logo o intróito mostra a maneira superficiaJ de tratar do assunto:
"de ser medida perfeita do valor com que pudé$$Cmos averiguar exa-
tamente as variações de todas as outras coisas" (p. 43). "Seria medida
perfeita do valoi para todas as coisas produzida$ piecisamente nas mes.
mas condições, mas nao paca as demais" (Lc.).
633
mas somente a expressão monetária delas. Se a mesma mercadoria duplica
sua expressão em libras, o mesmo se darâ com a parte dela que se decom~
põe em lucm, salário ou renda. Mas não varia a relação entre os três nem
os valores reais que representam. O mesmo é válido quando o lucro dupli-
ca em libras, e 100 libras se expressam então em 200; assim não se altera a
relação enue lucro e capital, a taxa de lucro. As mudanças da expressão
monetária atingem ao mesmo tempo lucro e capital, e idem lucro, salários,
renda. Para esta, ademais, isso é válido quando o cálculo se faz sobre o capi-
tal adiantado na agricultura etc., e não sobre o acre. Em suma, nesses ca-
sos. a variação não se dá nas mercadorias etc.
"Afta de salários oriunda dessa causa será, sem dúvida, sempre acompa-
nhada de alta no preço das mercadorias; mas então verificar-se-á que tra·
balho e todas as mercadorias não variaram entre si e que a variação se
limitou ao dinheiro" (p. 4 7 ).
634
limites, a ''quantidade requerida" cai com a procura.
A tese acima, de modo geral, pode ser expressa assim: o valor da mer-
cadoria - que é produto de uma esfera particular de produção - é determi·
nado pelo ·trabalho necessário para produzir o volume global, a totalidade
das mercadorias correspondentes a essa esfera de produção, e nlfo pelo
tempo especial de trabalho requerido por cada capitalista individual ou em-
pregador dentro dessa esfera de produção. As condições gerais de ·produ-
ção e a produtividade geral do trabalho nessa esfera ~special de produção,
por exemplo, indústria têxtil algodoeira, são as condições médias de pro·
dução e a produtividade média nessa esfera, a indústria têxtil algodoeira.
A quantidade de trabalho pela qual se determina, por exemplo, o valor de
uma jarda de pano de algodão não é a quantidade de trabalho nela contida
e empregada pelo i'ndustrial, mas a quantidade média com que todos os fa.
bricantes da indústria têxtil algodoeira produzem úma jarda de pano. E as
condições particulares em que os capitalistas individuais produzem na ín·
dústr.ía têxtil algodoeira dividem-se em 3 classes. Uns produze~ em condi-
ções medianas, isto é, as condições de produção individuais em que produ-
zem coincidem com as condições gerais de produção do ramo. As condições
médias 1!50 suas condições reais. A produtividade de seu trabalho situa-se
no nível médio. O valor individual de suas mercadorias coincide com o va·
lor geral dessas mercadorias. Quando, por exemplo, vendem a jarda de teci-
do por 2 xelins - o valor médio - vendem pelo valor que as jardas produ-
zidas materializam. Outra classe produz em (:9ndições melhores que as mé-
dias: o va1or individual de suas mercadorias está abaixo do valor geral de-
las. Se vendê-las por esse valor geral, vendê-las-á acima. de seu valor indivi-
dual. Por fim, a terceira classe produz abaixo das condições médias de pro·
dução.
A "quantidade requerida de mercadoria" dessa esfera particular de
produção não é grandeza fixa. Se o valor das mercadorias ultrapassa certos
limites do valor médio, cai a "quantidade requerida do produto" ou essa
quantidade s6 é procurada a dado preço - ou pelo menos dentro de deter-
minados limites de preço. Também é possível que a ultima classe tenha de
vender suas mercadorias abaixo do valor individual, como a classe melhor
situada vende sempre acima do valor individual. Qual das classes tem efei·
to decisivo sobre o valor médio dependerá sobretudo da razão numérica
ou da magnitude proporcional entre ela5 74 A classe do meio determiná-
635
lo-á quando tiver amplo domínio quantitativo. Quando, em termos quan·
titativos, essa classe é débil, e a classe que traba1ha abatxo das condiçõ.es
médias é forte e predomina, estabelece esta o preço geral do produto desse
ramo, embora nem de longe se pretenda dizer, e seja até muito improvável,
que o capitalista individual situado na última classe, na posição mais desfa-
vorável, tenha papel decisivo (ver Corbert 75 ) •
.Mas ponhamos de lado essa questão. O resultado geral é: o valor ge-
ral dos produtos dessa classe é o memw de todos, não importa a razão exis-
tente entre ele e o valor individual de cada mercadoria em separado. Esse
valor comum é o valor de mercado dessas mercadorias, o valor com que
aparecem no mercado. Expresso em dinheiro, esse valor de mercado é o
preço de mercado, como em geral valor expresso em dinheiro é preço.
O verdadeiro preço de mercado está ora acima ora abaixo desse valor de
mercado e só por acaso com ele coincide. Mas as variações se compensam
no decorrer de certo período, e pode-se dizer que a média dos preços
reais de mercado é o preço de mercado que representa o valor de meren-
do. O preço real de mercado - num dado momento coincida ou não em
grandeza, quantitativamente, com esse valor de mercado - em todo o caso
tem com ele em comum a deteuninação qualitativa: todas as· mercadorias
do mesmo ramo de produção disponíveis no mercado (desde_que, é claro,
sejam da mesma qualidade) têm o mesmo preço ou de fato representam o
valor gerar das mercadorias desse ramo.
Por isso, a tese acima que Ricardo apresenta com v:ístas à teoria da
renda {rent}, na exposição dos discípulos, passou a significar 'que não po-
dem existir no mesmo mercado, ao mesmo t~mpo, dois preços de mercado
diferentes, ou que, ao mesmo tempo, os produtos da mesma espécie dispo-
níveis no mercado têm o mesmo preço ou - uma vez. que aqui podemos
abstrair das eventualidades do preço - o mesmo vak>r de mercado.
Assim, a concorrencia dos capitalistas entre si ou dos compradores
da mercadoria com eles e entre si ocasiona aí que o valor de cada mer-
cadoria em separado num ramo particular de produção é determinado pe.
la soma global do tempo de trabalho soei.ai, exigida pela massa global das
mercadorias de:me ramo particular da produção social, e não pelos valores
individuais das mercadorias separadas- ou pelo tempo de trabalho que a
mercadoria individual custou ao produtor e vendedor particulares_
75, Corbert, An inquily tnto the causes 1111d modes of the wealth of individuais,
Londres, 1841. Nesse livro (pp. 42-44) afirma Corbert que na indústria os preços sã_o re-
gulados pelas mercadorias que se produzem nas melhores condições. Na sua opiníão
constituem elas a maior parte das me.rcadotías de determinada classe.
636
Daí resulta naturalmente que, em quaisquer circunstâncias, os ca-
pitalistas da primeira classe, cujas condições de produção são mais favo-
ráveis que as médias, conseguem lucro suplem~ntar, ou seja, seu lucro está.
acima da taxa geral de lucro desse ramo. Não é portanto pelo nivelamento
dos, lucros dentro de um ramo particular de produção que a concorrência
estabelece o valor de mercado ou preço de mercado. (Essa distinção entre
valor e preço não importa para essa pesquisa, pois continuam as diferen-
ças nas condições de produção do mesmo ramo - e daí as diversas taxas
de lucro para os capitalistas indivíduais - qualquer que sefa a relação en-
tre preço de mercado e valor de mercado.) Ao revés, a concorrência aí ni-
vela os diferentes valores individuais ao mesmo valor de mercado, igual,
indistinto, ao permitir as diferenças no domínio dos lucros individuais,
dos lucros dos capitalistas individuais e seus desvios da taxa média de lu-
cro do ramo. Cria-as até, ao estabelecer o mesmo valor de mercado para
mercadorias produzidas em condições de produção desiguais, por conse.
guinte com. produtividade desigual de trabalho, representando assim quan-
tidades de tempo de trabalho indMduaís desiguais. "A mercadoria produzi-
da em çondíções mais favoráveis contém menos tempo de trabalho que a
produzída em condições mais desfavoráveis, mas se vende ao mesmo preço,
tem o mesmo valor, como se encerrasse o mesmo tempo de trabalho,.o que
não contém.
637
valor üUntico tenha de produzir lucros diferentes; gera portanto o mesmo
valor não obstante taxas diferentes de lucro ou, antes, por meio delas. Copi
a segunda atuação (esta, aliás, se concretiza de outra maneira; é a CQncorrên-
cla dos capitalistas nos diferentes ramos, a qual lança o capital de um ra-
mo para outro, enquanto a outra concorrência, desde que não se conside-
rem os compradores, ocorre entre os capitais do mesmo ramo), a concor·
rência gera o preço de custo, isto é, a mesma taxa de lucro nos diferentes
ramos de produção, embora essa taxa idéntiea _de lucro contradiga a desi-
gualdade dos valores, e assim só se possa impor por meio de preços que se
distinguem dos valores.
Uma vez que Ricardo se serve das duas proposições em sua teoria da
renda - igual valor ou preço com taxa desigual de luao,e taxa igual de lu-
cro com valores desiguais - é estranho que não tenha atinado com essa du-
plicidade e que mesmo no capítulo onde se propõe tratar do preço de mer·
cado, capítulo IV "On Natural and Market Price': de maneira nenhuma se
ocupe com o preço de mercado ou val.or de mercado, embora na passagem
citada acima torne-O por fundamento para explicar a renda diferencial, os
lucros suplementares que se cristalizam em rendas (rents). Ao contrário,
aí só trata da redução dos preço~ nos diferentes ramos de produção apre-
ços de custo ou 'Pfeços médios, isto é, das relações entre os valores de mer·
cado dos diferentes ramos de produção, e não da formação do valor de
mercado em cada ramo, e sem essa formação de modo nenhum existem
valores de mercado.
Os vai.ores de mercado de cada ramo particular, em conseqüência os
preços de mercado de cada ramo particular (se o preço de mercado corres-
ponde ao "preço natural", isto é, representa simplesmente o valor em di-
nheiro) proporcionaríam taxas de lucro muito diferentes, pois capitais
de magnitude igual nos diferentes ramos (omitidas por completo as dife-
renças resultantes de seus diferentes processos de circulação) empregam
capital constante e capital variável em proporções muito desiguais e assim
fornecem montantes muito desiguais de mais-valia e, em conseqüência, de
lucro. Assim, o nivelamento dos diversos valores de mercado, de modo
que se estabeleça a mesma taxa de lucro nos diferentes ramos e que capi-
'tal de magnitude igual proporcione lucros médios iguaís, só é possível por
se converterem os mi.ores de mercado em preços de mercado diferentes
dos valores reais."'
'" g possível que a taxa de maiM'lllía não se nivele em todos os ramos de produ-
ção (por exemplo. em virtude da duração desigual da jomada de trabalho). Isso não é
neces!l4rlo porque as próprias mais-valias se nivelam (Mane).
638
O que a coocorrência efetua no mesmo ramo de produção e a de-
terminação do valor da mercadoria nesse ramo por meio do tempo mé·
dio de trabalho nele requerido, isto é, o estabelecimento do valor de mer·
cado. O que a concorrência efetua entre os diferentes ramos de produção
é a geração da mesma taxa geral de lucro nos diversos ramos, nivelando
os diferentes valores de mercado a preços de mercado que representam os
preços de custo divergentes dos valores de mercado reais. Nesse caso, por·
tanto, a concorrência de modo nenhum tende a assimilar os preços aos va-
lores das mercadorias, mas, ao contrário, a ·reduzir esses valores a preços
de custo diferentes deles, a desvanecer as diferenças que existem entre os
valores e os preços de custo.
:S só este óltimo movimento que Ricardo observa no capítulo IV e,
coisa estranha, considera-o conversão dos preços das mercadorias - pela
concorrência - aos valores, conversão do preço de mercado (preço diver·
so do valor) ao preço natural (o valor expresso em dinheiro). Essa tolice
decorre porém do erro já cometido no capítulo 1 "On Value", de identi·
ficar preço de custo com valor, o que por sua vez originou-se de ele ~ on-
de tinh~ de tratar tão-só do "valor", isto é, tinha diante de si a "merca-
doria" apenas arremessar-se à taxa geral de lucro e a todas as condições
oriundas das relações capitalistas de produção mais desenvolvidas.
Por isso, é também de todo superficial o método que Ricardo segue
no capítulo IV. Parte Ricardo das "variações acidentais e temporárias de
preço" (p. 80) das mercadorias, em virtude das relações variáveis entre
procura e oferta.
639
tro do mesmo ramo converter os preços no valor e o valor no preço de
mercado, mas não pode rebaixar este a preço de custo), desvios, com maior
constância, do preço de mercado em torno do preço de custo,_des.loca-
mentos para cima ou para baixo deste em ramos particulares causam no·
vas migrações e nova distribuição do capital social. A primeira migração
sucede para estabelecer preços de custo diferentes dos vai.ores, a segunda,
para nivelar os preços reais de mercado aos preços de custo, quando aque-
les sobem acíma ou caem abaixo destes. A primeira é conversão dos valo-
res em preços de custo. A segunda é rotação dos preços de mercado reais
e eventuais nos diferentes ramos em tomo do preço de custo, que aparece
como o preço natural, embora seja diferente do valor e resultado exclu·
sivo de ação social. E este movimento mais superficial que Ricardo exa-
mina e em certas ocasiões, sem perceber, confunde com o outro. E sem
dúvida "o mesmo princípío" que dá origem a ambos, a saber, que
"toda pessoa livre para empregar seu capital onde quiser procura:rá,
é claro, o investimento mais vantajoso; ficará por certo descontente com
um lucro de. 10% se, ao deslocar seu capital, pode obter lucro de 15'%,.
Esse afã incessante de t_odos os pri>prietdrios de capital para deixar um
negócio menos lucrative por outro mo.is vantajoso gera forte tendência
para nivelllr a taxa dos lucros de todos, ou a estabelecei_ os lucros em
tais proporções que possam, na estimativa dos partid_pa.ntes, compensar
qualquer vantagem que um tenha ou pareça te1 so~re o outro" (p. 81).
640
seu tempo o sistema de crédíto estava mais desenvolvido que no tempo de
Smith. Diz Ricardo:
"É talvez muito difícil aoompanhar os pass.os por meio dos quais se efe-
tuo essa mudança; é pxovável que um industrial não mude totalmente o
emprego de teu capital, mas apenas reduza a quantidade de capital de
que dispôe nettt emprego. Em todo$ os países riC-OS há certo número de
pessoas que formam a chamada cünse financeira"'; essas pe"°as não se
empenham em indúsrría algum;1, mas vivem do juro do dinheiro empre-
gado no desoonto de letras ou em empréstimo$ à parte. mafi; ativa da c<r
murudade. Também os banqueiros aplicam do mesmo modo grandes
montantes de capital. O capital assim empregado forma capital circulan··
te de grande magnitude, e num país todos os ramos o requerem em
maior ou menor proporção. Talvez não haja industrial, por mais rico,
que limite seu negócio ao montante pennítido por seus fundos apenas:
tem sempre certa porção desse capital tlutuante em acréscimo ou decrés-
cimo de acordo com o desenvolvimento da procw:a por suas mercadorias.
Quando aumenta a procura de artigos de seda e diminui a de tecidos
de algodão, o fabricante destes não de8loc.a. seu capital para a indústria
de seda, mas demite alguns de seus trabalhadores, suspende a procura
de empréstimos junto a banqueiros e a prestaroistas. O caso do indus-
trial da seda é o reverso: toma mait emprútado e assim capital se trans-
fere de um ramo para outro, sem a necesddade de um fabricante inter-
romper sua ocupação u:rual. Quando observamos os mercados de uma
grande cidade e vemos oomo se suprem regulafmente de mercadorias
nacionais e e.strnngeíras, nas quantidades· requeridas, em todas as cir-
cunstánci1u da prooora que varia em virtude de preferências caprichosas
ou po1 causa de mudança no número de habitantes, sem muitas vezes
produzír os efeitos de excesso de uma oferta por demais abundante ou
elevação extrema de p1eço, por não corresponder a oferta à procura,
temos de coniesslll' que o princ(pio que reparte o capital por cada ramo
na exato. quantidade requerida é mais atuante do que em geral se admi-
te" (pp. 81, 82).
* Roscher poderia ter visto aí mais uma vez o que os ingleses entendem por
"'clasre financeira" (mcnkd cla$s). A( a "classe finanreira" é o antipoda da "parte ín-
dustrlosa aa comunidade" (Marx).
641
e) As duas definições ricardianas de "preço natural".
Variações nos preços de custo regidas pelas
variações na produtividade do trabalho.
642
doria porção maior ou menor de capital ftxo. Mais sobre o assunto quando
tratarmos da circulação dos capitais.
Por isso, Ricardo entende por nivelamento decorrente da competi·
ção apenas a rotação dos preços reais ou preços de mercado reais em tor-
no dos preços de custo ou do preço natural diferente do valor, o nivela-
mento do preço de mercado em diferentes ramos a preços de custo gerais,
ou seja. justamente a preços que divergem dos valores reais nos diferentes
ramos:
"O desejo particular de todo capitallsu, de deslocar seus recursos de um
emprego menos hlcrativo para outro mais lucrativo, impede o preço de
mercado das mercadorias de continuar por certo tempo muito acima ou
muito abaixo de seu preço Tliltural. e essa competição que estabelece
paddade entre os WJfores de troca das mercadorias" (também entre os
diferentes valores reais), "de modo que, após serem pagos os salários
pelo trabalho necessiírio pata produzi-las e · todas as demais despesas
requeridas pata pôr o capital empregado no estado original de eiiciên-
cia, o 111Jlor remanescente ou excedente seja em cada ramo proporcional
ao valor do capital aplicado" (p. 84 ). ··
643
Capítulo XXX "On the influence of demand and supply on prices~:
Rícardo aí sustenta que o preço pennanente é determinado pelo pre-
ço de·custo e não por oferta e procura: assim, o preço permanente só é
determinado pelo vrilor das mercadorias até o ponto em que esse valor
determina o preço de custo. Suposto que os preços das mercadoóas se
ajustem de modo que todos dêem 10% de lucro, toda mudança constante
neles será determinada por mudança nos valores delas, no tempo de tra-
balho requerido para prodilzi-las. Como esse valor continua a determinar
a taxa geral de. lucro, suas mudanças prosseguem determinando as varia·
ções nos preços de cµsto, embora não se anule por isso a diferença entre
esses preços de custo e os valores. O que se anula é o que na diferença entre·
valor e preço real ultrapasse a diferença entre preços de custo e valores·
causada pela taxa geral deilucro. Ao mudarem os valores das mercadorias,
seus preços de custo se alteram. Forma-se "novo preço natural" (p. 460).
Por exemplo, o trabalhador pode produzir 20 chapéus no mesmo tempo
em que antes ptoduzia 10 e o salário constituía l /2 do dispêndio com o
chapéu; então, cai à metade o dispêndio,. o custo de produção dos 20
chapéus no tocante a salário. E que agora para a produção de 20 chapéus
se paga o mesmo salário anterior para a produção de l O. Cada chapéu por-
tanto nada mais encerra que 1/2 das despesas de salário. Se o fabricante
de chapéu continuar vendendo o chapéu pelo mesmo preço, vendê-lo-á
acima do preço de custo. Se o lucro era de 10%, será agora (admitindo-
se que o dispêndio para fabricar determinada quantidade de' chapéus se
repartisse antes .em 50 para matérias-primas· etc., e 50 para salário) de
46 2/3%. O dispêndio agora se divide em 50 para m·atérias-primas etc. e
25 para salário. Se a mercadoria for vendida pelo preço antigo, teremos
lucro = 35í75 ou 46 2/3%. Em virtude da queda do valor, o novo preço
natural, portanto, cairá até o ponto em que o preço só dê 10% de lucro.
Á queda no valor ou no tempo de trabalho necessário para produzir a
mercadoria revela-se na circunstância de se despender - para se conseguir
a mesma quantidade de mercadorias - menos tempo de trabalho, em con-
seqüência menos tempo de trabalho pago, menor stilârio, e enfim de cair
a despesa, o salário que e pago (pelo montante; isso não pressupõe queda
na taxa de salário) em relação à produção de cada mercadoria isoladamen-
te considerada. E o que se dá se a mudança no valor sucedeu na própria
fabricação ·do chapéu. Se a mudança ocorresse no material ou nos instru-
mentos de trabalho, também nesses ramos ela se expressaria em decrés-·
cimo de dispêndio de salário para se produz.ir certa quantidade de produ-
644
to, mas para o fabricante de chapéu configurar-se-ia em custo menor do
respectivo capital constante. Os preços de custo ou "preços naturais"
(que nada têm a ver com a "natureza") podem ter duas baixas em virtude
de mudança - queda, no caso - nD valor das mercadorias:
A primeira porque decresce o salário que se despende ao produzir.
se dada quantidade de mercadorias, por ter caído a totalidade do volume
absoluto de trabalho aplicado nessa quantidade, trabalho pago e trabalho
não pago;
A segunda quando, por força da produtividade acrescida ou decres-
cida do trabalho (os dois casos podem ocorrer: um quando o capital variá-
vel diminui em relação ao constante, o outro quando o salário sobe em vir-
tude do encarecimento dos meios de subsistência), muda a proporção
da mais-valia com o valor da mercadoria ou com o valor do trabalho nela
contido, sobe ou desce portanto a taxa de lucro, reparte-se de maneira
diferente o montante de trabalho.
Neste último caso, os preços de produção ou os preços de custo só
poderão variar se atuarem sobre eles variações no valor do trabalho. No
primeíro caso, permanece o mesmo o valor do trabalho. Mas no último
caso, não· se alteram os valores das mercadorias e sim apenas a repartição
entre trabalho necessário e trabalho excedente, Contudo, haveria então
mudança na produtividade, portanto no valor das mercadorias isáladamen·
te consideradas. O mesmo capital, num caso, produzirá mais, no outro,
menos mercadorias que antes. A massa de mercadorias em que se configu-
rar terá o mesmo valor, mas a mercadoria individua~ valor diferente. O va·
lor do salário não determina o valor das mercadorias, mas o valor das mer-
cadorias (que entram no consumo do trabalhador) determina o valor do
salário.
Os preços de rosto das mercadorias nos diferentes ramos, urna vez
dados, sobem ou descem uns em relação aos outros, ao variarem os valo-
res das mercadorias. Se ·sobe a produtividade do trabalho. dímínuí o tem-
po de trabalho requerido para a produção de determinada mercadoria, cai
portanto seu valor, e tanto faz que essa mudança de produtividade ocorra
no trabalho empregado por último ou no capital constante, o preço de
custo dessa mercadoria terá de experimentar queda correspondente. A
quantidade absoluta de trabalho nela aplicado diminui portanto a quan-
tidade de trabalho pago nela contido, o montante de salário nela despen·
dido, embora não varie a taxa de salário. A mercadoria, se for vendida ao
preço de custo anterior, dará lucro mais alto que a taxa geral de lucro, pois
antes esse _lucro era igual a l 0% sobre dispêndio maior. Será agora portan-
645
to mais de 10% sobre o dispêndio diminuído. Ao revés, quando a produ-
tividade do trabalho decresce, sobem os valores reais das mercadorias.
Dada a taxa de lucro - ou, o que dá no mesmo, dados os preços de custo· -
a alta ou baixa rel,tivas deles depende da alta ou baixa, da variação dos
valores reais das mercadorias. Em virtude dessa variação, novos preços
de custo ou, como disse R.íca.rdo em concordância com Snúth, "preços
naturais novos" substituem os antigos.
No capítulo XXX, citado por 6ltimo, Ricardo ainda identifica no-
minalmente o preço natural, isto é, o preço de custo, com o valor natural,
ou seja, com o valor determinado pelo tempo de trabalho.
"O preço" (das mercadorias monopoliza.das) "não tem conexão com seu
valor Mtural.Mas os preços das men::adorias expostos à conC(ITTência....
dependem em última in~t.ância... do respectivo... custo de produção"
(p. 465).
646
B) Teoria de Smith sobre o
preço de custo
"Salário, lucro e renda (rent) sio as três fontes originais de toda renda
(revenue) e também de todo valor de troca (1.1, v.l, cap. Vl, p. l 05).
647
Depois de ter revelado a conexão íntima, de novo o domina de súbi·
to a visão fenomênica, a conexão das coisas tal como ap11Tece na concon'ên-
da. e nesta tudo se configura sempre ao revés, de cabeça para baixo.
E então a partir dessa vi.são invertida que Smith ex.põe a diferença
entre "'preço natural das mercadorias" e seu ''preço de mercado". Ricardo
herda·lhe essa distinção, mas esquece que o "preço natural" de A. Smith,
segundo as premissas deste, é apenas o preço de custo resultante da concor-
rência, e que, para o próprio Smith, esse preço de custo só se identifica
ao ''valor" da mercadoria quando ele olvida sua concepção mais profunda
e se aferra à errônea, oriunda do aspecto superficial, a de que o valor de
troca das mercadorias se forma juntando os valores do salá.Iio, lucro e ren·
da (rent) determinados de maneira independente. Ricardo, enquanto com-
bate essa concepção de modo geral, aceita a confusão nela fundada, ou se-
ja, identifica Valor de troca a preço de custo ou preço natural de A. Smith.
Essa confusão se justifica para Smith, pois toda a sua pesquisa sobre o
preço natural parte de sua segunda concepção errônea do valor. Mas, para
Ricardo não há justificação alguma, pois nenhures aceita ele essa idéia falsa
de Smith, e abertamente a combate por incoerente. Mas Smith consegue
envolvê-lo de novo por meio do preço natura!
o
Depois de ter con.struído valor da mercadoria com os valores do sa-
ltirio, lucro e renda (rent) determinados de maneira separada e independen-
te da mercadoria, Smith se pergunta então como são ·!leterminados esses
valores elementares. E aí parte dos fenômenos tal como a~arecem na con-
coerência.
Capítulo Vil, livro 1, "Des prix nature.l des moichandises, et de leur
prix de marché ". Diz ele aí:
"Em toda sociedade ou região há uma taxa normal ou média· de salário .•.
de lllcro ... e .de renda {rentj" (l.c., v. 1, p. 11 O). Essa "taxa média pode-
se chamar de taxa 11atural de salário, de lucro e de renda, no tempo e
no espaço nos qull.is essa taxa de ordinário domina" (pp. llO, 111).
"Se o preço de uma mercadoria basta para pag-.u renda (rent}, salário
e lucro, segundo taxas na"turàis, vende·se a mercadoria pelo preço natu·
ral" (p. 111). ·
648
"A mercadoria é vendida exatamente pelo que vale" (a mercadoria€ en·
tio vendida pelo valor) "'ou pelo que cu1ta de fato àquele que a leva
ao mercado" (pelo valor ou pelo preço de custo para a pessoa que a
leva ao mercado); "pois, embora na linguagem comum o que se chama
de custo de pr-odução da mercadoria '1Jfo inclU11 o lucro de quem a re-
vende, todavia, esse personagem se a cede por preço que não lhe dtl o
lucro usual na região, perde, é ~taro, no negócio, uma vez que com apli-
cação diferente de $eJJ capital poderia atingir aquele lucro" (p. 11 l ),
"11 indústria toda empregada por ano para abastecer o mercado com qual-
quer mercadoria" corresponde às necessidades da sociedade ou à "pro-
cura efetiva" (p. 117).
650
O que Ricardo conc.ebe como repartição do capital geral pelos dife-.
rentes ramos ainda aparec.e aí na forma mais ingênua da indústria nec.essá•
ria para produzir "uma mercadoria particular". O nivelamento dos preços
em preços de mercado entre os vendedores da mesma mercadoria e o nive-
'/amento dos preços de mercado das diferentes mercadorias em preços de
custo ainda se baralham em confusão total,
Por mero acidente Snúth aí alude à influência que a variação nos
valores reais das mercadorias tem sobre os preços .naturais ou preços de
custo.
Assim, na agricultura,
"a mesma quantidade de trabalho produz em diferentes anos quantida-
des bem diversas de mercadorias, enquanto em outros ramos gera sem-
pre quantidade igual ou quase. O mesmo número de trabalhadores na la-
\'Oura produzirá em diferentes anos quantidades multo diversas de e-0reais,
vinho, azeite, lúpulo ete. Todavia, o mesmo número de fiandeiros e. te-'.
celões produzirá todo ano a mesma quantidade ou quase a mesma de te-
cido de linho e de algodão ... Nas outras espécies de iRdústria" (não agrí-
colas) "onde o produto de quantidades iguais de trabalho permiinei:e sem-
pre igual ou qúase" (ísto é, desde que nã'o mudem as condições de produ-
ção) "pode a produção adequar-se de maneira mais exata à procura. efe-
tiva" (pp. 117, 118).
651
sua argumentação, um dos elementos desse preço caiu abaixo da taxa
natural. Assim, não é porque os capitais apenas se retiraram ou migraram,
mas porque trabalho, capital ou terra se deslocaram de um ramo para outro.
Nesse ponto sua idéia é mais consistente que a de Ricardo, mas errada.
"Qualquer que seja a parti' desse preço" (natural) "paga abaixo da taxa
natural, aqueles cujos interesses foram prejudícados logo sentirão a per-
da e de imediato retiftll'ão terra ou trabalho ou capital da produção des-
sa mercadoria em quantidade tal que o volume dela levado ao mercado
em breve bastará apenas para suprir a procura efe'tiva. Seu preço de mer-
cado, por isso, subirá rapidamente ao preço natural. Isso ocorrerá pelo
menos onde houver liberdade perfeita" (l.c., p. 125).
"O preço natural varia com a taxa natural de seus componentes, o salá·
río, o lucro e a renda" (1.c .• p. 12·7).
652
"Um homem ·tem sempre de vívet de seu uabalho, e o salárío tem de
bastar pelo menos para $11Stentá·lo. Na maioria dos casos, o salário tem
até de ser algo maior, do contl:ârio não seria possível aos trabalhadores
constituir familia, e a classe desses trabalhadores não poderia durar além
de uma geração" (Lc., p. 136).
"os salários... não variarem com o preço dos víveres" (p. 149) e de "os
salários, de um lugar para outro, se alterarem mais que o preço dos ví-
veres" (1.c., p. 150).
653
natural do trabalho, mas encerra apenas pesquisas sobre a alta dos salários
acima do nível da taxa natural, isto é, na proporção da veloéidade da acumu-
lação do capital, da acumulação progressiva do capital. Investiga então à1J
diversas condições sociais onde isso ocorre e por fim contraria a detenni-
nação do valor da mercadoria pelo salário e a do salário pelo valor das coi-
sas necessárias à vida, ao mostrar que esse não parece ser o caso da Ingla-
terra. De permeio aparece um retalho da teoria malthusiana da população,
pois o salário é determinado pelas coisas necessárias para se manter a vida
e também para se reproduzir a população.
Assim, depois de procurar mostrar que o salário subiu no século
XVIII, em especial na Inglaterra, pergunta se se deve considerar esse fato
''vantajoso ou desvantajoso para a sociedade" (l.c., p. 159). Retorna então
de. passagem a sua concepção mais profunda onde lucro e renda (rent) são
meras frações do produto do trabalhador. Os trabalhadores, diz ele
"A pobreza, embora sem dúvida desencoraje, nem sempre impede o ca-
samento. Parece mesmo favorecer a procriação ... A esterilidade, tão fre-
qüente nas mulheres da alta sociedade, é muito rara nas das camadas infe-
riores ... Mas, embora a pobreza não evite a procriação, é por extremo des-
favorável à criação dos filhos. A planta nasce tenra; mas logo murcha e
morre em terra tão fria e clima tão severo ... Toda espécie animal se mul-
tiplica naturalmente na proporção dos meios de subsistência, e nenhuma
pode jamais se multiplicar além desse limite ... Mas numa sociedade civi-
lizada é só nas camadas inferiores do povo que a carência de meios de
subsistência. pode estabelecer limitações à continuidade da propagação
da· espécie humana ... A procura de trabalhadores, como a de qualquer
outra mercadoria, regula necessariamente a produção deles: quandQ esta
anda por demais lenta, acelera-a e, quancto. está por demitis rápida,
freia-a ... " (l.c., pp. 160-163 passim).
654
"Os salários pagos a jornaleiros e criados de toda espécie têm de ser tais
que os ponham, uns e outros, em condição de manter a rerpectiva classe,
de acordo com o que exija a procura crescente, decrescente ou estacioná-
ria da sociedade" (da sociedade! isto é, do capital)· (1.c., p. 164).
"O trabalho feito por homens livres no fim sai mais barato que o reali-
zado por escravos... 'Por isso, a remuneração liberal do trabalho tanto é
o efeito do aumento da riqueza crescente, quanto a causa do aumento
da população. Queixar-se disso é lamentar-se da causa e efeito necessá-
rios da maior prosperidade pública" (1.c., p. 165).
655
"'Os trabalhadores, quando obtêm pagamento liberal por peça, são
muito propensos a se esforçar demais e a anuinar a saúde e a consti·
tuição física em poueos anos'"' (pp. 166, 16n "Os empresários, se ou-
vissem sempre os ditames da 1azão e da humanidade, teriam r;:om mais
freqüência de moderar que de incitar os esforços de muitos de seus tra-
balhadores" (p. 16 8).
656
"O acréscimo do salário aumenta necessariamente o preço de muitas
mercadorias ao acrescer aquela parte do preço a qual rereduz a salário,
e com isso leva a decréscimo do consumo delas no país e no exterior.
Todavia, a mesma causa que eleva o salário, a saber, o ac1éscirno do ca-
pital, tende a aumentar as aptidões produtivas do 4aballio e capacita
quantidade menor dele a produzir quantidade maior de pmduto." Isso
decorre da divisão do trabalho, do emprego de maquinaria, de inven-
ções etc... "Há por isso inuitas mercadorias que, em conseqüência dessas
melhorias, se produzem com muito menos trabalho, que antes, e assim
o preço elemdo do trabalho é mais do que compensado pela redução
de sua quantidade" (pp. 177, 17 8).
Mas pode-se formar uma idéia dos "lucros médios do capital" "a
partir do juro do dinheiro":
657
"PÓde..se estabelecer a max1ma: onde é possível obter muito com a
aplicaçaõ do dinheiro, muito se dará em
regra po1 seu uso, e onde pou-
co se pode obter com essa aplicação, de ordinário pouco se dara por
ele" (pp. 180, 181).
Smith não diz que a taxa de juro determina a taxa de lucro. Diz ex-
pressamente o contrário. Mas, para taxa de juro em diferentes épocas há
registros que faltam para taxa de lucro. As taxas de juro são portanto
indicadores pelos quais se pode estimar o nível aproxímado da taxa de
lucro. Mas a tarefa não era comparar o nível de taxas de lucro diferentes,
dadas, e sim determinar o nível natural da taxa de lucro. Smith desvia-
se para urna pesquisa acessória sobre o nível da taxa de juro em diferen·
tes épocas, o que não interessa ao problema que se propôs tratar. Exami-
na, grosso modo, diferentes épocas na lnglateua, compara-as com dados
da Escócia, França, Holanda e descobre que - excetuadas as colônias
americanas -
"é raro alguma vez se combinarem S11l4rios altos e taxas altal de lucro.
exceto nas circunstâncias ~eculiares das novas colônill!!" (p. 187).
"Colônias novas devem sempre tet, por algum tempo, maior carência
de capital em relação à extensão do território e ser mais despovoadas
em relação ao montante do capital, quando compà.radas com a maioria
dos outros países. Têm maís terra que capital pa:ra cultivá-las. Por isso,
o que dispõem 9l:J se aplica ao cultil'O da te"a maú flrtil e melhor si-
tuada nas proximidades da costa e ao longo das margens dos rios nave-
gáveis. Essa terra também é comprada, com freqüência, a preço abaixo
mesmo do valor de seu ptoduto natural." (De fato, nada custam por-
tanto.) "Capital empregado na compra e melhoria dessas terras tem de
dru: lue;ro muito grande e, e(ll conseqüência, permitir o pagamento de
juro muito alto. A acumulação rápida de capital numa empresa tão
lucrativa capacita o plantadOJ: a aumentu os braços com 1apídez maior
que os que pode encontrar numa colônia nova.· Os.que pode encontrru:
são por im temunerados de maneira muito liberal. A medida que a co-
lónÍil se dese11VQ/ve, reduzem-se gradativamente 011 lucros do capim/.
Quando estiverem por completo ocupadas as terras mais férteis e melhor
situadas, menor lucro se pode obter pelo cultivo das que são inferiores
em fertilidade e localização, e menos juro se pode conceder ao capital
assim aplicado. Por isso na maioria de noS$3$ colônias ... houve no de·
curso do século atual redução considerável na taxa de lucro" (pp. 187-
189).
658
Ai está, embora com argumentação dife1ente, uma das bases da ex-
plicação ricardiana sobre a queda do lucro. Em suma, Smith aí explica
tudo pela concorrência entre os capitais: com o acréscimo destes, o lucro
cai; com o decréscimo, sobe; em conseqül!ncia; o salário sobe ou desce,
inversamente.
Fala Smith então sobre a taxa mais alta possível e a mais baixa pos-
sível.
"A taxa mais alta" é a que "do preço da maior parte das mercadorias
absorve tudo o que deveria cabeJ à renda da terra, e deixa apenas o bas-
tante para pagar o trabalho de p1epa.rá-las e levá-las ao mercado, de acor-
do com a taxa mais baixa a que, s~ja onde for, se possa pagu o t1aba-
lho, isto é, no nível da nma subsistência do trabalhador" (pp. 197, 198).
"A mais ball:a taxa usual de lucro tem sempre de ser algo mais que o
suficiente para compensar as perdas eventuais a que se expõe todo em-
prego de capital. Esse excedente apenas é que representa lucro puro ou
líquido" (p. 196).
659
Lucro baíxo e salário alto não estão àí em oposição recíproca, mas
a mesma causa - o incremento rápído ou acumulação de capital - gera
ambos. Os dois entram no preço, constituem-no. Por isso, se um é alto, e
o outro baixo, o preço permanece o mesmo etc.
Smith aí considera o lucro mera sobrecarga, pois diz no fim do ca-
pítulo:
No fim desse capítulo, Smith nos diz de quem obteve a noção comple-
ta de ser o preço da mercadoria - ou seu valor - formado ·pelos valores do
salário e do lucro: dos amigos do comércio 79 , os crentes praticantes da con-
corrência.
660
'~A loteria do advogado está muito longe de ter eqüidade perfeita. E, co-
mo muitas outras profissões liberais e honrosas, é sem dúvida mal re-
compensada do ponto de vista do ganho pecuniário" (t. l, l.I, cap. X,
pp. 216, 217).
"O soldo está abaixo do salário do trabalhador comum, embora suas fa.
digas no serviço diário sejam muito maiores" (t. I, U, cap. X, p. 223).
Irônico:
661
seqüência, a acumulação anual nunca podem set muito grandes. Ao re-
vés, nas gi.1mdes cidades, o comércio pode crescei à medida que se ex-
pande o capital, e o credito de um homem parcimonioso e bem sucedi·
do aumentar muito mais rapidamente que seu capital. Seu comércio se
expande na razãO do .montante dos dois" (l .c., p. 2n).
80. Sir Jamc~ Stcuart, An inquiry into the princíples of politú:al economy, Du-
blín, 1770, voL 1, p. l 71. Ver Marx. Grundrisse der Kritik der politischen Okanomil:.
Berlim. 1953. p. 742.
662
mesmo,. como se diz. No comércio entre os diferentes grupos dentro
da cidade, nenhum deles perdia com esses regulamentos. Mas todos
eles eram grandes ganhadores nos negócios que faziam com o campo.
E nesses negócios consiste o comércio todo que sustenta e enriquece
toda cidade. Toda cidade retira do campo a subsistência inteira e to-
dos os materiais pua pxodução urbana. Paga por essas coisas de duas
maneiras p:ríncipais: primeiro, retorno ao campo de parte das maté-
riat-primas, beneficiadas e manufaturadas, quando o preço delas actes·
ce doa SDlários dos tTabalhadorea e dos lucros dQS me1tre1 ou emprega-
dcwes imediatos; segundo. ren.tessa para o campo de parte dos produtos
primários e manufaturados que a cidade recebeu de oul:Ias regiões ou
de lugares mais dístantes da mesma regíão, com que, de maneira seme-
lhante, o preço original dessas mercadorias acresce dos salários dos
transportadores ou marinheiros e dos lucros dos comerciantes que em-
pregam e1se11 trabalhadores. O que rende o primeiro dos dois ramos
de atividade é o ganho que a cidade obtém com suas manufaturas. O que
rende o . segundo representa o ganho do comércío íntemo e externo. Os
salários dos trabalhadores e os luctos dos diversos empregadores formam
a soma global que os dois ramos ganham. Po1 isso, todas as regulamen-
tações que conl:Iibuam para elevar os soJdl'ios e lucros acimo do ntvel
que de ordinário preJ11Jleceria, capacitam a cidade a comprar com quan-
tidade menor de trabalho o produto de quantidade maior de trabalho
do campo."
663
to anual do trabalho da $Clc/edade se reparte todo ano entre esses dois
setores da população. Por meio dessas regulamentações" (urbanas), "os
habitantes da cidade retiram dele mais do que lhes caberia normalmente,
e a população do campo, menos. O preço que a cidade realmente paga
pelos alimentos e matérias-primas importados por ano é a quantidade
anual que expoi:ta, das manufaturas e de outras mercadorias. Quanto mais
catO Pendê-la, tanto mais barato pagará pelo que importar. A ativídade
urbana toma-se mais vantajosa, e a do campo, menos" (pp. 258-260).
"Os habítantes da cidade, uma vez que estão juntar num lugar .1'6, podem
associar-se com facilidade. Em conseqüência, as atividades mais insigni-
ficantes em cidades organizaram-se em corporações, neste_ ou naquele
local" (p. 261}. "Os habitantes do campo, dispersos em lugares distan-
tes, não podem associar-se com facilidade. Nunca se organizaram em cor-
porações, e entre eles nunca se impôs o espúito corporativo. Nunca se
consídcrou necessário um tempo de apiendizado cori\ o fim de preparar
alguém para a agricultw:a, a atividade principal do campc" (p. 262}.
664
"A superioridade que a atividade manufatureira das cidades tem por
toda parte na Europa sobre a ativídade dos ca.rnpos, não decorre por
inteiro das corporações e de suas leis. Apóia-se em muitos outtos regu-
iamentos. Visam o mesmo propósito os altol: direitos sobre os produtos
da manufatura estrangeira e sobre todas as mercadorias importadas por
comerciantes estiangelros" (p. 265). Esses "regulamentos assegu1am-
nas" (as cidades) "contra a conconência de estrangeiros" (l.c.).
665
No capftulo XI, livro I procura então Smith determinar a taxa natural
da renda (rent), o terceiro elemento constitutivo do valor da mercadoria ..
Trataremos dessa matéria mais tarde, e antes retornaremos a Ricardo.
De acordo com o ci.ue precedeu ficou evidente; A. Smith identifica o
preço natural ou preço de custo da mercadoria com o valor dela, depois de
abandonar a concepção correta de val.or e de a substituir pela ci.ue emana
e provém irresistível das aparências da competição. O que aparece na con-
corrência regulando os preços de merc:ado não é o val.or, é o preço de custo,
na qualidade por assim dizer de preço imanente, valor das mercadorias. Mas
esse próprio preço de custo nela aparece configurado pela taxa média dad<!-
do salário, do lucro e da renda (rent). Por isso, procura Smith estabelecer
essa taxa de maneira autônoma, sem depender do valor da mercadoría, ou
melhor, como se fo~e fator do preço natural. Ricardo, cujo interesse prin-
cipal era refutar essa aberração smithiana, aceita-lhe o result.ado necessário -
a identidade dos vak>res com os preços de custo -, embora impossível para
ele no plano lógico.
666
Capítulo XI
Teoria da renda de Ricardo
667
portava acentuar que a 1ei da renda fundíária entregue a si mesma - dentro
de determinado território - tinha de motivar recurso a terras menos férteis,
portanto, encarecimento dos produtos agrícolas, crescimento da re[lda às
custas da indústria e da massa da população. E aí Ricardo tinha razão prá-
tica e historicamente. Anderson, ao contrário, sustentava que as leis dos
cereais (também defende o imposto de importação) têm de incentivar o
desenvo1vimento regular da agrícultura dentro de determina.do território,
que é mister garantia para e~e desenvolvimento regular e que assim essé
desenvolvimento progressivo por si mesmo, em virtude da lei que descobriu
da re-nda fundíária, tem de gerar acréscimo da produtividade da agricultura
e, por isso, queda dos preços médios do prnduto agrícola.
Mas ambos partem da concepção que soa tão estranha na Europa Con-
tinental: (1) não existe propriedade fundiária que impeça o investimento
desejado do capital em terra; (2) vai-se das melhores para as piores terras
(para Ricardo, isso ê absoluto, excetuadas as interrupções decorrentes da
atuação em contrário da ciência e da indústria; para Anderson, relativo, o
pior terreno transforma-se por sua vez em melhor; (3) existe sempre capi-
t~, massa bastante de capital, para se aplicar na agricultura.
No tocante a (l) e (2) deve parecer muito estranho aos europeus do,·
Continente que no país onde jmaginam que a propriedade feudal.. se mante·
ve de maneira mais obstinada, partam os economistas, e tanfo Anderson.
quanto Ricardo, da idéia de não existir proprieda~e fundiária. E isso tem.
expliçação:
primeiro: a peculiaridade da "lei inglesa de cercamento das·terras co-
muns", a qual não tem analogia alguma com ~ distríbuiÇão das terras co-
muns no Continente;
segwulo: nenhures no mundo, a produção capitalista, desde Henri-
que VII, amoldou tão brutalmente as relações tradicionais da agricultura,
adaptou e subordinou as condições desta a suas exigências. Nesse domínio,
a Inglaterra é o país mais revolucionário do mundo. Foram implacavelmen-
te liquidadas todas as condições historicamente transmitidas que contrarias-.
sem os requisitos da produção capitalista no país ou nfo lhes correspondes-
sem - a saber, a situação das comunidades rurais, as próptj.as comunidades
rurais, os locais habitados pela população agrícola, essa própria população,
os centros originais das culturas, as próprías culturas. Para os alemães, por
exemplo, as condições econômicas se apresentam determinadas por cir-
cunstâncias tradicionais referentes a limites territoriais, locais dos centros
econômicos, aglomerados fixos de população. Para os ingleses, o capital
criou progressivamente as condições históricas da agricultura, a partir do
668
fim do século XV. "Esvaziar as terras" ("deuring of e:~tates"), ex.pressão
técnica usual no Reino Unido, 1:1ão se encontra em nenhum país da Europa
Continental. Mas que significa esse "esvaziar as terras."? Que não há a me-
nor consideração pela população estabelecida, que é enxotada; pelas aldeias
existentes, que são arrazadas; por edifícios rurais, que são demolidos; por
espé-eíe alguma de agricultura, que é transformada de um golpe, converten-
do-se, por exemplo, lavoui:a em pastagem. E que, assim, não se aceita ne-
nhuma das condições econômicas como são tradicionalmente; todas são
historicamente produzidas de modo que tenham de servir ao emprego
mais rentável do capital. Até aí mio existe portanto propriedade fundiá-
ria, que deixa com o capital - o arrendatário - a iniciativa de administrá-
la, urna vez que só lhe importa o rendimento em dinheiro. Um proprietá-
rio de terras pomerano; com a mente condicionada· pelos limites ancestrais
de suas terras, com os centros econômicos e conselhos agrícolas etc., pode,
por isso, assombrar-se ao ve1 a concepção "não-histórica" sustentada por
Ricardo a respeito do desenvolvimento das condições agrícolas. Com isso
mostra apenas que sua ingenuidade confunde as condições pomeranas
com as jnglesas. Mas não se pode dizer que Ricardo, que parte das condi·
ções inglesa.">, seja tão limitado quanto o fazendeiro pomerano que racio·
cina dentx.o das condições pomeranas. As condições inglesas são as únicas
onde a moderna propriedade fundiária, isto é, a propriedade das terras mo-
dificada pela produção capitalista, teve desenvolvimento adeqúado. Aí a
concepção inglesa é a clássica para o modo de produção moderno, capi-
talista. A concepção pomerana, ao contrário, julga as relações desenvolvi-
das segundo forma historicamente inferior, ainda inadequada.
E mais: a maioria dos censores continentais de Ricardo partem mes-
mo de condições em· que o modo capistalista de produção, de maneira ade-
quada ou inadequada, ainda não existe. E como se um mestre de uma
corporação medieval quisesse aplicar em sua economia corporativa, com
casca e tudo, as leis de Smith, que pressupõem a livre concorrência.
O pressuposto da marcha dos melhores para os piores solos - de
caxáter relativo, conforme o nível eventual de desenvolvimento da produ-
tividade do trabalho, como quer Anderson, e não absoluto como quer
Ricardo - só podia surgir num país como a Inglaterra onde o capítal, num
território relativamente pequeno, já tinha operado de maneira tão impla-
cável e procurado há séculos adequar, sem compaixão, a suas necessida-
des, todas as condições tradícíonais da agricultura. Só podia surgir portan·
to onde a produção capitalista na agricultura não é de origem recente e
nem luta contra nenhuma tradição antiga, como sucede na Europa Con-
tinental.
669
A visão que os ingleses adquiriram das colônias foi outro fator. Já
vimos que 81 já se encontra na obra de Smith - com referência direta às
colônias - a base de toda a concepção ricardiana. Nessas colônias - e em.
especial nas que só produziam artigos para o comércio como fumo, algo-
dão, açúcar etc. e não os produtos comuns para alimentação - onde os
colonos, de antemão, não procuravam subsistência, mas estabeleciam um
negócio, o que decidia, dada a localizaç.ãi> geogrdfica, era a fertilidade da
terra, e dada a fertilidade, a localização geográfica. Não procediam como
os germanos que se estabeleceram na Alemanha para nela construir o lar,
mas como pessoas que, detenninadas pelos motivos da produção burgue·
sa, queriam produzir mercadorias por critérios determinados, antes de
mais nada, não pelo produto e sim pela venda do produto: A circunstân-
cia de Ricardo e outros escritores ingleses transferirem esses critérios - pro-
cedentes de homens que já eram eles mesmos o produto do modo de pro-
dução capitalista - das colônias para o palco da história mundial e c.onsi-
derarem o modo capitalista de produção condição prévia da agricultura
em geral, como o era para aqueles colonos, explica-se pelo fato de reen-
contrarem nessas colôrúas e de maneíra mais evidente, sem luta contra
refações tradicionais e em toda pµreza portanto, o mesmo domínio da
produção capitalista na agricultura, domínio que salta aos olho~ por toda
parte no próprio país. Por isso, é bem compreensível que um ãlemão, pro-
fessor ou fazendeiro - pertencente a um país que se distingue dos outros
pela falta absoluta de colônias - ache ••errada,. tal concepção ..
Por fim, o pressuposto do fluxo contínuo do cap~tal de -um ramo
para outro. esse pressuposto fundamental de Ricardo, significa nada mais
que o pressuposto do domínio da produção capitalista desenvolvida. Onde
esta ainda não se estabeleceu, não existe esse pressuposto. Um fazendeiro
pomerano achará, por exemplo, estranho que Ricardo nunca tenha suspei-
tado, nem qualquer escritor inglês, da pOSSibilidade de faltar capital na agri·
cultura. Os ingleses queixam-se, por certo, da carência de terra em relação
ao capital, mas nunca da carência de capital em relação à terra. Apoiados
na primeira circunstância procuram Wakefield, Chalmers etc. explicar
a queda da taxa de lucro. À segunda nenhum escritor inglês faz referência;
Corbet observa, como fato evidente por si mesmo, que sempre sobra capi-
tal em todos os ramos. Ao revés, se pens<trmos rtas condiÇêíes alemãs, nas
dificuldades dos fazendeiros para arranjar dinheiro emprestado - pois em
regra é o próprio dono e não uma classe capitalista de todo independente
670
dele, quem cultiva a terra, toma-se compreensível, por exemplo, o espanto
de Rodbertus sobre "a ficção ricardiana de que o suprimento de capital é
regulado pelo desejo de investi-lo" (p. 211). Os ingleses sentem a falta de
"campo de ação", oportunidade de investir a reserva existente de capital.
Mas, na Inglaterra, "desejo de encontrar capital" para "investir" não existe
para a única classe que tem capital para empregar - a classe capitalista.
Esses "desejos de capital" são pomeranos.
O que os autores ingleses objetavam a Rícardo não era que não exis·
tisse capital na quantidade desejada para investimentos particulares e sim
que o refluxo do capital da agricultura encontrasse obstáculos técnicos
específicos etc.
Assim, a censura crítico-continental a Ricardo é de espécie que só
mostra o nível inferior das condições de produção donde partem aqueles
sábios.
671
Por isso; abstrair dessa renda diferencial, mas observar que ela tanto é
possível com o movimento dos melhores para os piores solos, como com o
movímento dos piores para os melhores. A única suposição que se fa:. nos
dois casos é a de a nova terra cultivada ser necessária, mas apenas suficien·
te para satisfazer a procura adicional. Se a nova terra de melhor qualidade
for mais que suficiente para essa procwa adicional, parte ou totalidade
da terra inferior, conforme o volume da procura adicional, será posta fo-
ra de cultivo, pelo menos do cultivo do produto que constitui a base da
renda (rent) agrícola, caso do trigo na Inglaterra e do arroz na fodia. A ren-
da diferencial não pressupõe .portanto piora progressiva da agricultura, mas
pode originar-se t<ttnbêm de melhora progressiva. Mesmo onde pressupõe
o declínio para tipos piores de terra, pode esse declfnio, primeiro, resultar
de melhora das forças produtivas, quando só a produtividade mais alta pos-
sibilita o cultivo do solo inferior ao preço que a procura permite. Segun-
do, o solo inferior pode ser melhorado; contudo, as diferenças permane·
cem, embora fiquem mais próximas do nivelamento, e assJm o resultado é
apenas o decréscimo relativo, comparativo da produtividade, enquanto
acresce a produtividade absoluta. Este é, aliás, o pressuposto de Anderson,
o primitivo autor da lei ricardiana.
Ademais, passando à .segunda instância, só temos de considerar aqui
a renda agrícola em sentido estrito, isto é, a renda da terra que fornece os
principais alimentos vegetais. Já Smith explicara que essa nmda determina
as rendas da terra que fornece outros produtos como gado etc., as quais
portanto já são derivadas, determinadas pela lei da renda e nífo ,detenní-
nantes dela. Assim, consideradas em si, não proporcionam material para
se apreender a lei da renda nas condições puras- e ori~ais. Nada têm de
primordial.
Estabelecidos esses antecedentes, o problema se reduz à pergunta:
existe renda absoluta? Isto é, renda oriunda de se empregar o capital na
agricultura, em vez de na manufatura, e que é por completo independente
da renda diferencial ou dos lucros suplementares fornecidos pelo capital
aplicado em melhor terra?
E claro que Rkardo naturalmente diz não a essa pergunta, pois par·
tiu do falso pressuposto .de valores e preços médios das- mercadorias serem
idênticos. Se essa suposição fosse verdadeira, teríamos a tautologia: o pre·
ço dos produtos agrícolas está acima do preço de custo - se o preço cons-
tante dos produtos agrícolas ainda fornece, além do lucro médio, renda
extra, uma sobra permanente acima desse lucro médio -, pois esse preço
de custo é igual a adiantamentos acrescidos do lucro médio e de nada mais.
672
Os preços dos produtos agrícolas, por estarem al'ima dos preços de custo,
dariam necessariamente lucro suplementar, estariam acima do valor. Resta~
ria somente aceitar que são sempre vendidos acima do valor, o que é o
mesmo que supor que todos os demais produtos se vendem abaixo do va-
lor, ou que o valor em geral é algo por completo diferente do que necessa-
riamente se concebe na teoria. A mesma ql.lllntidade de trabalho (imediato
e acumulado) - levadas em conta todas as compensações que se dão entre
os diversos capitais em \'Írtude de diferenças emergentes do processo de
circulação - produziria na agricultura valor maior que na· manufatura.
O valor da mercadoria não seria portanto detennínado pela quantidade
de trabalho nela contida. Assim, o fWldamento todo da economia se dis-
solveria. Daí a conclusão lógica de Ricardo: não há renda absoluta. Só a
renda diferencial é-possível; isto ê, o valor do produto agrícola obtido no
pior solo é igual a seu preço de custo, que é igual ao valor, como é o caso
de qualquer outra mercadoria. O capital investido no pior solo é capital
que só se distingue do empregado na manufatura pelo tipo de aplicação,
como espécie particular de investimento_ Aí transparece portanto a valida-
de universal da lei dos valores. A renda difer.encial - e esta é a renda em me·
lhor solo -única e exclusiva - nada mais é que o lucro suplementar que,
em virtude de um Vf!:lor idêntico de mercado em cada ramo de produção,
proporcionam os capitais operantes em condições melhores que as médias.
Esse lucro suplementar só se fixa na agricultura graças à base natural dela
e, além disso, por ser o dono da terra o representante dessa base natural,
para ele flui e não para o capitalista.
O raciocínio todo se desmorona com o pressuposto de Ricardo, de
ser preço de custo igual a valor. Esgota-se o interesse teórico que o força
a negar a renda fund~rla ,absoluta. Se o valor das mercadorias se distingue
do preço de custo, repartem-se elas necessariamente em 3 categorias: nu-
ma, o preço de custo é igual ao valor, noutra, o valor está abaixo do preço
de custo, e na terceira, o valor está acima do preço de custo. O ünico pro-
blema ainda pendente de solução seria: por que, em contraste com as ou-
tras mercadorias cujo valor também está acima do preço de custo, o valor
dos produtos agrícolas não é rebaixado ao preço de custo pela concorrên·
cia dos capitais? A pergunta já traz implícita a resposta. Porque, segundo
o pressuposto, isto s6 ocone até o ponto em que a concorrência entre os
capitais pode realizar esse nivelameQto, o que por sua vez só pode suceder
até o ponto em que todas as condições de produção ou são criaturas do
próprio capítal ou, do mesmo modo que estas. estão primariamente à d.is·
posição del~. Isto não se dá no caso da terra porque existe a pro~riedade
673
fundiária e o modo de produção capitalista inicia seu curso com o pressu-
posto da propriedade fundiária que dele não deriva, mas existia antes. Por
isso, a mera existência da propriedade da terra responde ã pergunta. Tudo'
o que o capital pode fazer. é sujeitar a agricultura às condições da produ-
ção capitalista. Mas não pode privar a propriedade furuiitiria de apreender
a parte do produto agrícola, da qual só .poderia apropriar-se, não por meio
de ação direta, mas depois de estabelecida a não existência da propriedade
funiliária. Pressuposta essa prc;>priedade, tem o capital, ao contrário, de dei-
xar para o dono da terra o excesso do valor sobre o preço de custo. Essa.
própria diferença, porém, decorre apenas de diversidade na combinação
dos componentes orgânicos do capital. Todas as mercadorias cujo valor,
conforme essa composição orgânica, está acima do preço de custo, mostram
por isso que são relativamente mais improdutivas que aquelas cujo valor
é igual ao preço de custo, e ainda mais que aquelas cujo valor está abaixo
do preço de custo, pois exigem quantidade maior de trabalho imediato
em relação ao trabalhe pretérito contido-em capital constante, mais traba·
lho para pôr em atividade detemúnado capital. Essa diferença é histórica.
e pode portanto desaparecer. A mesma argumentação que mostra a possi-
bilidade de existir a renda fundiária absoluta, demonstra que esta é real,
existe na qualidade de mero fato histórico, próprio de certo estádio de de-
senvolvimento da agricultura, e pode desaparecer em estádio superior.
Para Ricardo, a renda diferencial é devida ao decréscimo absoluto
da produtividade da agricultura, o qual ela absolutamente não pressupõe,
nem Anderson estabeleceu essa condição prévia. Ricard.o; em êontrapar-
tida, nega a renda fundiária absoluta porque presume a composição orgd-
r.ica do capital da indústria igual à da agricultura, e assim nega a existên-
cia apenas histórica do desenvolvimento inferior da produtivldade do tra-
balho na agricultura, comparado com o da manufatura. Incide por isso
em duplo erro histórico: de um lado, nivela absolutamente a produtivi-
dade do trabalho agrícola à do trabalho industrial, nega mera diferença
histórica no nível dado de desenvolvimento de lUQ.bos; do outro, admite
decréscimo absoluto na produtividade agrícola e toma-0 a lei da agricul-
tura. Com a primeira idéia pretende igualar ao valor o preço de custo no
pior terreno, e com a outra, explicar as diferenças entre os preços de custo
e o valor dos produtos das terras melhores. O erro todo provém da confu-
são de preço de custo com VDlcr.
674
3. Deficiência da definição ri01rdiana de
renda.
"Adam Smith... não pode estar certo ao supor que a regra original que
regula a valor de troca dat mercadoriat, isto é, a quantidade relativa de
trabalho que as produz, pode ser de algum modo alterada: peút apropria-
ção da temi e pelo pagamento de renda" (p. 67).
675
Primeiro, o solo nã'o tem "forças indestrutíveis'.'' (Fazer nota sobre o
assunto no fim deste capítulo.) Segundo, o solo nã'.o tem forças "originais"
até onde não é nada original e sim o produto de um processo histórico-
na tur.tl. Mas abstraiamos disso. Aqui entendemos por forças "originais" do
solo as que este possui, sem depender da ação da indústria humana, embo-
ra as forças a ele dadas pela indústria humana se tomem forças originais
inteiramente dele como as que lhe deu o processo natural. Quanto ao mais,
pennanece correto dizer que se paga a renda pelo "uso" de coisas naturais,
e tanto faz que se trate daquelas "forças originais" do solo ou da força
da queda-d'água ou da área para construir ou dos tesouros a serem utili-
zados, contidos na água ou nas entranhas da terra.
Em contraposição à renda agricola propriamente, fala A. Smith (diz
Ricardo) da renda paga por madeira de florestas virgens, da renda de mi-
nas e de pedreiras. .E um tanto estranha a maneira como Ricardo se desem-
baraça disso.
Com~a afirmando que não se deve confundir com a renda da terra
o juro e lucro do capital, a saber, do
•'
"Mas não é evidente que &,pessoa que pagou o que" (Smith) "chama de
xe.nda, o fez considerando a mercadoria valiosa que e.ntão havia no solo,
e na 1ealidade se reembolsa com lucro, ao vender a madeira?
676
retirar madeira ou ao proprietário das pedreiras ou das minas de carvão pelo
direito de retirar pedras e carvão, não é renda (rent). pois nã'o é paga pelo
"uso das forças originais e indestrutíveis do solo". Muito bem. Mas Ricar~
do raciocina como se "essa compensação" fosse o mesmo que o lucro e o
juro pagos por aplicação de capital para melhorar a terra. Está errado. Terá
o dono da floresta empregado capital para ela dar madejra, ou o proprie-
tário das pedreiras e minas investido para elas conterem pedras e carvão?
Donde vem pois a compensação de Ricardo? De nenhum modo é lucro ou
juro do capital, como Ricardo quer insinuar. E portanto "rendp." e nada
mais, embora não seja renda segundo a define Ricardo. Isto apenas mostra
que sua definição de renda exclui formas em que se paga "compensação"
por meras coisas naturais em que não se realiza nenhum trabalho humano,
e se paga ao proprietário dessas coisas naturais só porque é "proprietário"',
proprietário de terra, consista essa terra em solo, floresta, águas piscosas,
quedas~'água, local para construção etc. Mas, diz Ricardo. a pessoa que
paga pelo direito de cortar madeira na floresta faz isso "considerando a
mercadoria valfosa que então havUz no so'/o, e na realidade se reembolsa com
lucro, ao vender a madeira". Basta. Se Ricardo chama aí de "mercadoria
valiosa" a madeira que "há no solo" e faz parte da floresta virgem, essa ma-
deira é valor de uso virtual. E esse valor está expresso aí na palavra "valío-
so ". Mas não é "mercadoria''. Pois para isso teria de ser também valor de
·troca, isto é, materializar certa quantidade de trabalho nela despendida.
Só se torna mercadoria por ser destacada da floresta, cortada, removida,
transportada, convertida de tronco em madeira. Ou se toma mercadoria
apenas por ter sido vendida? Então, a terra arável toma-se mercadoria pelo
mero ato de venda?
Teríamos portanto de dizer: renda é o preço pago ao dono de forças
naturais ou de meros produtos da natureza pelo direito de usar aquelas
forças ou de apropriar-se (pelo trabalho) daqueles produtos. Esta é na ver·
dade a forma em que toda renda (rent) ap<ll'ece na origem. Mas o que fica
então é justamente a questão a resolver: como têm preço coisas que não
têm 11a'/or e como compatibilizar isso com a teoria geral dos va'/ores. Nada
tem a ver com a questão real a pergunta: com que objetivo se paga "com-
pensação" pelo direito de tirar madeira da terra onde ela está? A pergunta
pertinente é: com que fundo se paga? Diz Ricardo, "com a venda da ma-
deira". Isto é, com o preço da madeira. E precisamente esse preço era tal
que, d!z Ricardo, a pessoa "na realidade se reembolsa oom lucro". Sabemos
agora onde estamos. Em todo caso, o preço da madeira tem de ser igual
à soma em dinheiro que represente a quantidade de trabalho necessária pa-
677
ra cortá-la, deslocá-la, transportá-la, levá-la aq mercado. Ê entã'o o lucro
com que a pessoa se "reembolsa", acréscimo sobre esse valor, o valor de
troca outorgado à madeira justamente pelo trabalho nela despendido? Ri·
cardo, se afirmasse isso, incidiria na concepção mais grosseira, bem infe-
rior à própria doutrina. Não. Supondo-se seja o herói de sua história um
capitalista, o lucro é a parte que não pagou do trabalho por ele empregado
pata produz.ir a madeira, e ele teria, digamos, o mesmo lucro se tivesse
Posto em movimento a mesma massa de trabalho em fiação de algodão.
(Se nosso herói não é capitalista, é o lucro igual àquela quantidade de
seu trabalho a qual excede seu salário e teria constituído o lucro do capi-
talista se um capitalista o tivesse empregado; mas agora constitui seu pró-
prio lucro porque ele reúne na mesma figura as qualidades de assalariado
e de capitalista.) Mas o madeireiro - aí surge a expressão vil - "na realida-
de se reembolsa com lucro,; Isso dá à transação toda aspecto muito vul-
gar e corresponde à maneira crua como esse capitalista que extrai madeira
pode entender a fonte de seu lucro. Primeiro, paga ao dono da floresta
pelo valor de uso da madeira, que entretanto não tem ''valor" (valor de
troca) e, enquanto "está no solo", não tem valor de uso algum. Paga-lhe,
digamos, 5 libras por tonelada. E então vende ao público a mesma madei-
ra (se abstraímos dos outros curtos) por 6 libras e assim reembolsa as 5 li-
bras com lucro de 20%. "Na realidade se reembolsa com luc_ro". Se o do..
no da floresta só tives.se "compensação" de 2 libras ( 40 :Xelins), o madei-
reiro teria vendido a tonelada por 2 libras e 8 xelins 'e não por 6 libras.
Uma vez que sempre acrescenta a mesma taxa de lucro, o preço da ma-
deira subira ou descerá por subir ou descer a renda. Está entraria no pre-
ço como elemento constitutivo, mas não seria resultado do preço. A cir-
cunstância de se pagar "renda" - compensação - ao proprietário da terra,
pelo uso das "forças" da terra ou pelo uso de seus "produtos naturais",
em nada altera a relação econômica, em nada altera o pagamento que se
faz por "coisa natural" (força ou produto da terra) onde não se aplicou
antes trabalho humano. E assim Ricardo, na segunda página de seu capí-
tulo "On Rent", lançaria por terra sua teoria inteira para escapar de uma
dificuldade. Parece que aí A. Smith foi muito mais perspicaz.
Ricardo procede do mesmo modo com as pedreiras e as minas de
carvão.
678
Não! Todavia, conexão muito significativa com os "produtos ori-
ginais e destrutíveis do solo". A expressão "valor" aí é tão vil quanto a
anterior "reembolsa-se com 1ucro ".
Ricardo nunca emprega a palavra wilor no sentido de utilidade, ser-
ventia ou «valor de uso". Quererá então díz.er que a "compensação" é pa-
ga ao proprietário das pedreiras e minas de carvão pelo "valor" que têm
as pedras e o caivão antes de serem retirados da pedreira e da mina - no
estado original? Assim. e]imina toda a sua teoria do valor. Ou valor aí síg-
nifica, corno deve, o valor de uso possível e em conseqüência o valor de
troca prospectivo do carvão e das pedras? Então apenas se quer dizer que
se paga ao proprietário renda (rent) pela permissão de utilizar a "compo-
sição original do solo" para a produção de carvão e pedras. E é de todo
incompreensível que não se chame isso de renda como no caso da pennis-
são dada para utilizar as "forças" da terra na produÇão de trigo. Do con-
trário. reincidimos na eli.mínação, analisada no caso da madeira, de toda
a teoria da renda. De acordo com a teoria correta, o problema não apre-
senta dificuldade alguma. O trabalho - ou capital - empregado na "pro-
dução" (nã'o reprodução) de madeira, carvão, pedras (sem dúvida, esse tra•
balho não .cria esses produtos naturais e sim os separa de seu nexo elemen-
tar com a terra e os produz na qualidade de madeira, carvão ou pedras uti-
lizáveis) pertence de certo aos ramos de produção onde a parte do capital
empregada em salário é maior que a empregada em capital constante, o tra-
balho imediato é maior que o ..pretérito" cujo resultado serve de meio
de produção. Por isso, se a mercadoria aí for vendida pelo valor, esse valor
estará acima do preço de custo, isto é, do desgaste dos instrumentos de tra·
balho, do salário e do lucro médio. A sobra pode assim, a título de renda
(rent), ser paga ao donl'.) da floresta, da pedreira ou da mina de carvão.
Mas, por que essas manobras grosseiras de Ricardo. o emprego erra-
do de valor etc.? Por que se agarra ele à explicação de ser a renda pagamen-
to pelo uso das "forças originais e indestrutíveis da terra"? A resposta tal-
vez surja mais tarde. Em todo caso quer ele distinguir a renda agrícola pro-
priamente, especificá-la e ao mesmo tempo já abrir caminho para a renda
diferencial, afirmando que só se pode pagar essa força elementar na medi-
da em que ela se desenvolve em diferentes graus.
679
Capítulo XII
Quadros e Comentários
Referentes à Renda Diferencial
681
trabalho; a tonelagem total, entretanto, encerra a mesma quantidade de
trabalho ou até mais se as novas minas e pedreiras, além da procura supri·
da pelas velhas, satisfaiem procura adicional, aliás, procura adicional maior
do que a diferença entre a abundância das velhas e a das novas minas e pe-
dreíras. Mas a composiçiib orgânica do capital aplicada não se alteraria
por isso. Seria verdadeiro dizer que o preço de uma tonelada, de uma to-
nelada isolada, conteria renda menor, mas só porque ela encerra menos
trabalho e em conseqüência menos salário e menos lucro. Isso, contudo,
não influenciaria a re/a.çiío entre a taxa da renda e o lucro. Podemos por-
tanto dizer apenas:
Se não variar' a procura, se a quantidade de carvão e de pedras a pro-
duzir for a mesma anterior, aplicar-se-á então, nas novas minas e pedreí-
ras mais ricas, menos capital que antes nas antigas, para a produção do
mesmo volume de mercadorias. O valor global delas cairá portanto e em
conseqüência também o montante global de renda (rent), de lucro, de
salário e de capital constante aplicado. Mas as relações entre renda e lu-
cro mudam tão pouco quanto as relações entre lucro e salário ou entre
lucro e capital despendido, porque não se deu variação orgânica no capi·
tal empregado. Só mudou a magnitude do capital aplicado e não a com-
posição, nem o método de produção portanto.
Se há procura adiciotfl11 a satisfazer, mas procura adicional-igual à
diferença entre a abundâncía das novas e a das velhas minas e pedreiras;
aplicar-se-á capital dtJ memw. grandeza anterior. Cairá o valor da tonelada
isolada. Mas o total de toneladas tem o mesmo valor de antes. Conside-
rando-se uma tonelada de per sí, diminlli, junto com o valor nela conti-
do, a magnitude das partes do valor correspondentes a lucro e renda. Mas,
uma vez que não variou a magnitude do capital nem se álterou com isso
o valor global do respectivo produto e tampouco sucedeu mudança orgâ-
nica na sua composição, permanece o mesmo o montrmte absoluto de
renda e lucro.
Se a procrua adicional é tão grande que não a satisfaz a diferença de
abundância entre as novas e as velhas minas e pedreiras, setâ .mister por-
tanto empregar capital adicional nas novas .minas. Nessa hipótese - caso
não se altere, ao crescer a totalidade do capital empregado, a repartição
do trabalho, o emprego da maquinaria, nem portanto a composição orgâ-
nica do capital - aumenta o montante de renda e lucro por ter aumenta-
do o valor do produto global, o valor da totalidade das toneladas, embora
o valor da tonelada isolada tenha caído e por conseguinte a parte do valor
dela a qual se reduz a renda e lucro.
684
Em todos esses casos não ae altera a taxa de renda, por não haver
mudança na compoaição orgdnica do capital aplicado (não importa a V4"'
riaçíio de magnitude). Em contrapartida, se a alteração decorrer desse tipo
de mudança, de decréscimo do capital desembolsado em salário em con-
fronto com o despendido em maquinaria etc., de modo portanto a se alte-
rar o próprio método de produção, cairá a taxa de renda, porque terá di·
minufdo a diferença entre o preço de custo e o valor da mercadoria. Essa
taxa não diminui nos três casos observados acima. E que, se neles cai o
valor, também cai por igual o preço de custo de cada mer~doria isolada,
pois nesta se aplicou menos trabalho, menos trabalho pago e não pago.
683
2. Combinações diferentes da renda
diferencial e da absoluta. Quadrt:>s A, B, C,
D, E.
684
renda para dada taxa -, o sentido é o seguinte: o valor (individual) do car-
vão de l é mais alto que o de II, e o de II mais alto que o de III, pois numa
tonelada de carvão de l 8e contém mais traball:to que numa de II, e numa
de II mais que numa de III. Mas, uma vez que a composição orgânica do
capitã! é a mesma em todos os 3 casos, aquela diferença não influencia a
renda individual absoluta que I, II e III proporcionam. E que, se é maior
o valor da tonelada de 1, também o é o preço de custo; e esse valor s6 é
maior na proporção em que se aplica em I, para produzir uma tonelada,
capital - com a mesma composição orgânica - maior que:em II, e em
II maior que em III. Por isso, a diferença entre seus valores é a rigor igual
à diferença entre os preços de custo, entre os capitais relativos despendi·
dos para produzir urna tonelada de carvão em I, II e Ili. A diferença entre
as magnitudes de valor nas três classes não influencfa portanto a difere11-
ça entre valor e preço de custo nas dive,rsas classes. Se o valor é maior, é
o preço de custo mailJr na mesma proporçiío, pois o valor só é maior na
proporção em que se aplica mais capital ou trabalho. Por isso, não varia a
relação entre ·v-.tlor e preço de custo, e a renda absoluta é portanto a mesma.
685
O mesmo número anterior de toneladas, ,200, continua a ser produ-
zido por II, III e IV, pois 32 1/2 + 75 + 92 1/2 = 200.
Mas que sucede agora com o valor de mercado e as rendas diferen-
ciais? Para responder à questã~>, temos de ver a quanto importa a renda
absoluta individual de II. Admitimos que a diferença absoluta entre preço
de custo e valor nessa esfera de produção é de 1O libras, renda que a pior
mina proporcionou, embora isso não seja necessário, exceto quando 1
com seu valor determinava absolutamente o valor de mercado. Se isso
ocorrer na realidade, a renda de 1 (se o carvão de 1 se vender por seu va-
lor) representará em geral a sobra do valor acima do próprio preço de cus-
to e do preço de custo geral das mercadorias nessa esfera de produção.
II vende portanto seus produtos pelo valor, ao vender o total de tonela-
das por 120 libras (as 65 toneladas), e portanto cada tonelada por 1 11/13
libra. A circunstância de, em vez disso, tê-la vendido por 2 libras originou-
se apenas da sobra do valor de mercado - determinado por 1 - acima de
seu valor individual, e não da sobra de seu valor, mas da de seu valor de
mercado sobre seu preço de custo.
Além disso, conforme pressupomos, II só vende 32 1/2 toneladas,
em vez das 65, empregando na mina capital de 50 apenas, em vez de 100.
Assim II vende agora 32 1/2 toneladas por 60 libras, e 1,0 libras são
20% de 50. Das 60 libras, 5 são lucro e 5 renda.
Para II temos portanto: valor do produto, da tonelada= 1 11/13 li-
bra; número de toneladas = 32 1/2; valor global do produto= ?O libras;
renda = 5 libras. A renda caiu de 20 para 5. Só teria caído para,10 se ainda
fosse aplicado o mesmo montante anterior de ·capital. A taxa, portanto,
só diminuiu de metade. Ist9 é, reduziu-se de toda a diferença entre o valor
de mercado - determinado por 1 - e o valor do produto de 11, excedente
que se adicionava à diferença que existia entre esse valor e o corresponden-
te preço de custo. A renda diferencial de II era 10; agora, essa renda é 10,
igual à renda absoluta. Em II, portanto, ao reduzir-se o valor de mercado.
ao valor (do carvão de II), desaparece a renda diferencial, em conseqüência,
a taxa de renda acrescida, duplicada por essa renda diferencial. A renda
diminuiu assim de 20 p;i.ra 10; mas, com essa dada taxa de renda, a seguir
decresce de 10 para 5, por ter caído à metade o capital aplicado em 11.
Uma vez que o valor de mercado - 1 11/13 libra a tonelada - é de-
terminado agora por II, o valor de mercado das 75 toneladas produzidas
por III será então de 138 6/13, das quais 28 6/13 libras de renda. A renda
antes era de 40 libras. Caiu portanto de 11 7/13 libras. Sua diferença da
renda absoluta importava em 30. Agora importa apenas em 18 6/13 (pois
686
18 6/13 + 10 = 28 6/13). Antes era 4R. Agora é apenas 2R + 8 6/13 li-
bras. Uma vez que não variou a magnitude do capital empregado em 111,
esse caso tem origem exclusiva na queda da taxa de renda diferencial, isto
é, na redução da sobra do valor de mercado de III sobre seu valor indivi-
dual. Antes, o montante todo da renda em III era igual ao excesso do va-
lor de mercado maior sobre o preço de produção, mas agora é apenas igual
ao excesso do valor de mercado mais baixo sobre o preço de custo 83 ; a
diferença vai-se aproximando portanto da renda absolúta de III. Com 100
de capital, III produz 75 toneladas com valor de 120 libras; 1 tonelada,
portanto, igual a 1 3/5 libra. Entretanto, III vendia antes pelo preço de mer-
cado de 2 libras, isto é, 2/5 de libra mais caro por tonelada. Para 75 tonela-
das, temos 2/5 X 75 = 30 libras, e isto era na realidade a renda diferencial
da renda em III; pois esta renda era 40 (10 de renda-absoluta e 30 de renda
diferencial). Agora III vende a tonelada pelo novo valor de mercado, por
1 11 /13 libra apenas. Quanto acima de seu valor individual? 3/5 = 39/65
e 11/13 = 55/65. Vende assim a tonelada 16/65 acima desse valor 64 • Assim
consegue, em 75 toneladas, 18 6/13 libras e essa quantia é a rigor a renda
diferencial, que portanto é sempre igual ao número de toneladas multipli-
cado pelcr que o valor de mercado excede o valor individual da tonelada.
·Falta ainda calcular como se dá a queda de 11 7/13 na renda. O excesso
do valor de mercado sobre o valor de III reduziu-se de 2/5 de libra por to-
nelada (quando esta se vendia por 2 libras) para 16/65 por tonelada
(a 1 11/13 libra), isto é, de 2/5 = 26/65 para 16/65, decrescendo de 10/65.
Isto dá, para 75 toneladas, 750/65 = 150/13 = 11 7/13, a rigor o montan-
te da queda ocorrida na renda de III.
As 92 1/2 toneladas de IV, a 1 11/13 por tonelada, custam 170 10/13
libras. A renda aí é de· 60.10/13 e a renda diferencial= 50 10/13.
Se as 92 1/2 toneladas fossem vendidas por seu valor, 120 libras, 1 to-
nelada custaria 1 11/37 libra. Em vez disso, vende-se a tonelada por 1 11/13.
Mas 11/13 = 407 /481 e 11 /37 = 143/481. O valor de mercado de IV exce-
de seu valor, de 264/481. Isto a rigor dá, para 92 1/2 toneladas, 50 10/13
libras, a renda diferencial de IV.
Cotejemos agora os dois casos sob os títulos de A e B.
687
A
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li ~ s ~:a: 1/2 l 11/ll 11 líll 60 o
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O v~to~! •~ U>Oteindadil.$ c:liu di.::400 para 369 3fl3.
68$
contrapartida. 1612/13 xelins= 16 36/39, isto é, a mais, 10/39dexelim.
Esta seria a renda por tonelada para o novo valor de mercado e daria, para
60 toneladas, uma renda global de 15 5/13 xelins. A renda não chega por-
tanto a 1% do capital de 100. Para 1 A não dar rerida, o valor de mercado
terá. de cair a seu preço de custo, por conseguinte a 1 libra e 16 2/3 xelins
ou 1 5/6 libra (ou 1 10/12 libra). Nesse caso terá desaparecidQ a renda de
1 A. Mas a mina 1 A poderá ser explorada com o lucro anterior de 10%.
Só deixaria de haver essa possibilidade se sobreviesse queda do valor de
mercado abaixo do preço de custo de l 5/6 libra.
No tocante a II B, supôs·se no quadro B a retirada de metade do ca-
pital. Mas, o valor de mercado de 1 11 / l 3 libra, uma vez que proporciona
uma renda de 10%, proporciona-a tanto para 100 q~to para 50. Por isso,
se .se admitiu a rétirada de metade do capital foi apenas porque, nas cir-
cunstâncias, II B ainda fornece a renda absoluta de 10%. Pois, se II B ti-
ve;'!:e. continuado a produzir 65 toneladas, em vez de 32 1/2, o mercado
ficaria abarrotado e o valor de mercado de IV, que domina o mercado,
cairia tanto que o capital empregado em II B teria de ser reduzido para
dar a renda absoluta. Contudo, é claro que o capital todo de 100 com ren-
da (rent) de 9% dá montante maior que o capital de 50 que proporcione
renda de 10%. Assim, se de acordo com a situação do mercado só é mister
cal'.'ital de 50 em II para satisfazer a procura, a renda terá de se reduzir a
5 libras. Mas na realidade cairá mais se se admite que as 32 l /2 toneladas
excedentes não podem mais ser vendidas de maneira constante, isto é, se-
riam lançadas fora do mercado. O valor de mercado cairá tanto que não
só desaparece'rá a renda de II B, mas também o lucro será atingido. Ocor-
rerá então retirada de capital para diminuir a oferta até chegar ao exato
montante de 50, e Ó valor de mercado se fixará então em 1 11/13 libra,
quando voltará a dar a renda absoluta de II B, mas só para a metade do
capital nele aplicado antes. Também nesse caso, a ação provi~ de IV e III,
que dominam o mercado.
Mas não se disse que o mercado, se absorve 200 toneladas a 1 11/13
libra por tonelada, não absorve 32 1/2 toneladas adicionais se o valor de
mercado cair, se portanto a pressão das 32 1/2 toneladas suplementares
sobre o mercado rebaixa o valor de mt;rcado de 232 1/2 toneladas. O pre-
ço de custo em II B é l 9/13 libra ou 1 libra e 13 11/13 xelins. Mas ova·
lorde mercado é 111/13Iibraou llibrae 1612/13xelins.Seovalordemerca-
do cair a ponto de 1 A não dar mais renda, cair ao preço de custo de 1 A,
a 1 libra e 16 2/3 xelins ou l 5/6 libra ou 1 10/12, a procura já terá de
crescer bastante, para II B empregar seu capital todo; pois a mina I A p~
689
deria continuar. a ser explorada uma vez que dá o lucro normal. O merca·
do teria de absorver adicionalmente 921/2 toneladrurem vez de 32 1/2,
de adquirir 292 1/2 toneladas em vez de 200, quase a metade a mais, por·
tanto. Acréscimo de magnitude bem considerável. Para ser moderado o
acréscimo a ocorrer, o valor de ·mercado terá de cair tanto que I A será
expulso do me~cado. Isto é, o preço de mercado terá de cair abaixo do
preço de custo de IA, portanto abaixo de. l 10/12 libra, digamos, a l 9/12
libra ou 1 libra e 15 xelins. Continuaria a estar significativamente acima do
preço de custo de II B.
Em face d.essas considerações., acrescentaremos aos quadros A e B
mais três quadros, C, D e E. Em C admitiremos que a procura cresce, que
todas as classes de A e B podem prosseguir produzindo, mas ao vaiar de
mercado de B, quando 1 A ainda dá renda. Em D admitiremos que a pro-
cura ainda basta para 1 A dar o lucro normal, mas sem dar renda. Em E
suporemos que o preço cai a ponto de excluir 1 A do mercado, e que essa
queda ao mesmo tempo leva à absorção das 32 1 /2 toneladas excedentes
de II B.
Ê possível o que se admitiu em A e B. ~ possível que 1 A, ao redu-
zir-se a renda de 1O libras para quase 16 xelins apenas, retire a terra dessa
exploração e a arrende a outro ramo de produção onde obtenha renda fun-
diária mais alta. Mas nesse caso, II B seria forçado a retirar 1/2 de·seu ca·
pital pelo processo antes descrito, se o mercado nã:o se dilatasse com a in·
tradução do novo valor de mercado. ·
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86. Por wilor diferencial entende Marx a diferença entre valor de mercado e va-
lor individual (ver pp. 699 e 7 00 nes.te volume). Marx determina o valor diferencial por
unidade do produto, e calcula arenda dife1encíal pelo total pi:oduzido na classe considera-
da. Quando o valo1 de mercado da unidade produzida é maior que o respectivo valor indi·
vidual, a diferença constituí gxandeza positiva; quando esse valor de mercado é menor,
constitui essa diferença magnitude negativa. Daí o uso dos sinais + e • na coluna valor
diferencial dos quadros A a E, apresentados na p. 692 deste volume.
Nos quadros C, D e E da p. 692 põe Marx os sinais+ e - antes dos números que
expressam a renda diferencial em libras. No quadro C, por exemplo, na coluna "renda
diferencial" temos a grandeza negativa"· 9 3/13 libras". lsso quer dizei: que, nesse ca-
so, a produtividade do solo da classe I é tio baixa que, ao dado valor de mercado, além
de não se obter nele renda diferencial, a pxópria renda absoluta cai muito abaixo da
magnitude normal. No caso IC, a tenda absoluta Importa apenas em 10/ 13 de libra, esti
abaixo da magnitude normal (que, no exemplo dado, é de 10 libras) por 9 3/13 libras.
Nos quadros A a E da p. 692 deste vol., Marx expressa o mesmo fenôme-
no da renda diferencial negativa por meio do valor diferencial negativo e nesse caso
coloca na coluna "'renda diferencial" simplesmente O (zero), que então indica a fal-
ta da renda diferencial positiva (a renda diferencial negativa reVel.a-se na redução
couespondente da renda absoluta, apresentada na coluna "renda absoluta"). A
transferência. das grandezas negativas para i coluna "valor díferencíal" elimina o incon•
veniente que surgia no quadro C da p. 690, quando se tinha de adíciolll!l' as rendas di-
ferenciais das diversas clao;.ses: na soma só entravam as rendas diferenciais precedidas do
&.inal +, enquanto se considerava nula a grmdeza negativa"· 9 3/13 Ubras", para se evi·
tar computação dobrada. Por isso, com o fim de calcular as rerufas diferenciais negati-
vas, introduziu Marx nos quadros maís amplos da p. 692 o título "valor diferencial
por tonelada", que também abrange os valares diferenciais negativos.
691
(CONVENÇÕES UTILIZADAS PELO TRADUTOR NA APRESENTAÇÃO
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----·----
l9 1/6 ó7 l/12 15 10/11 36 H/22 96 1/4 Sl 112
694
Esse valor das toneladas como unidades, o qual varia conforme o capital
de 100 libras se aplique em mina.~ abundantes ou escassas, de acordo, por-
tanto, com a produtividade diferente do trabalho, é o que figura no qua-
dro como o valor individual da tonelada de cada mina.
Por isso, nada mais falso que a idéia de que, ao cair o valor da mer-
cadoria isoladamente considerada, com a produtividade ascendente do
trabalho, sobe o val.or global do produto gerado por um capital determi-
nado, digamos, de 100, em virtude do volume acrescido de mercadorias
no qual se configura. O valor da mercadoria isoladamente considerada 'Cai
apenas por se representar o valor global - o total de trabalho despendi-
do - em quantidade maior de valores de uso, de produtos, por incidir
assim sobre a unidade produzida parte alíquota menor do valor global ou
do trabalho gasto, aliás, por só incidir sobre essa _unidade na medida da
quantidade menor ..de trabalho que ela absorve ou da quota menor que lhe
cabe do valor global.
Na origem víamos na mercadoria isoladamente considerada r~sulta
do e produto direto de determinada quantidade de trabalho. Agora quan-
do a mercadoria se apresenta como produto da produção capitalista, há
esta mudança de forma: o volwne produzido de valores de uso representa
quantidade de tempo de trabalho = quantidade de tempo de trabalho
contida no" capital (constante e variável) consumido para produzi-los+ tem-
po de trabalho não pago de que se apropria o capitalista. Se o tempo de
trabalho contido no capital expresso em dinheiro = l 00 libras, se essas
100 libras de capital incluem 40 libras de capital desembolsado em salá-
rios e se o tempo de trabalho excedente monta a 50% do capital variável,
isto é, se a taxa de mais-valia é de 50%, então o valor da massa global de
mercadorias produzidas pelo capital de 100 é igual a 120 libras. Para as
mercadorias circularem, seu valor de troca, como vimos na primeira par-
te desta obra 87 , tem de se transformar antes em preço, isto é, de se expres-
sar em dinheiro. Assim, o capitalista, antes de lançar as mercadorias no
mercado, tem de calcular o preço da unidade, desde que o produto glo-
bal não seja uma coisa única, indivisível, como por exemplo uma casa
onde se configura o capital todo, mercadoria única cujo preço, segundo
o pressuposto, seria então igual a l 20 libras, o valor global expresso em
dinheiro. Aqui, preço = expressão monetária do valor.
De acordo com a variação da produtividade do trabalho, o valor
global de 120 libras se repartirá por mais ou menos produtos, e em con·
87. Marx, Zur Kritlk der Polirischen Oekonomie, MEW, Band 13, p. 51.
69.5
cordância o valor da unidade - na proporção - será igual a maior ou me-
nor fração alíquota de 120 libras. A operação é muito simples. Se o pro·.
duto global = 60 toneladas de carvão por exemplo, 60 toneladas = 120
libras e 1 tonelada = 120/60 libras = 2 libras; se o produto = 65 tonela-
das, o valor da tonelada = 120/65 libras = l ll/13 libra ou 1 libra e
16 12/13 xelins(= 1 libra, 16 xelins e 11 l /13 pence); para o produto= 75
toneladas, o valor da tonelada= 120/75 = 1 libra e 12 xelins; para o pro-
duto = 92 1/2 toneladas, o valor da tónel~da = 1 l 1/37 libra = l libra e
5 35/37 xelins. O valor (preço) de cada unidade de mercadoria é portan-
to igual ao valor global d.o produto dividido pelo número total ci.osprodu-
tos, mensurados de acordo com as medidas - a tonelada mesmo, o quar·
ter, a jarda etc. - apropriadas a eles como valores de uso.
Assim, se o preço da unidade é igual ao valor global do volume de
mercadorias produzidas por capital de 100, dividido pelo 11úmero total das
mercadorias, o valor global= preço da unidade x número total das unida-
des, ou é igual ao preço de determinada medida dessa unidade x número glo·
bal da massa de mercadorias, mensurada por essa medida. E mais; o valor
global consiste no valor do capital adiantado na produção + mais-valia;
no tempo de trabalho contido no ;capital adiantado + tempo de trabalho
excedente ou não pago de que se apropria o capital. Cada parte alíquota
da massa de mercadorias contém mais-valia na mesma proporção em que
encerra valor. As 120 libras se distribuem por 60, 65, 75 ou 92 1/2 tone·
ladas, e da mesma maneira se repartem por elas as 20 libras dé mais-valia.
Se o número de toneladas = 60, o valor de cada tonelada = 120{60 = 2 li·
bras ou 40 xelins, I /6 desses 40 xelins ou de 2 libras é· a quota de mais-
valia - 6 2/3 xelins - a qual cabe a cada tonelada; a proporção de mais-
valia na tonelada que custa 2 libras é a mesma nas 60 que ·custam 120 li-
bras. A proporção da mais-valia com o valor no preço de cada unidade de
mercadoria é a mesma que se observa quando se trata do valor global da
massa de mercadorias. No caso acima, a mais-valia global em cada tonela-
da= 20/60 = 2/6 ou 1/3 de 20 = 1/6 de 40 como vimos. A mais-valia de
uma tonelada x 60 é por isso igual à mais-valia global que o capital produ-
ziu. Se do valor a parte que cabe à unidade - a parte alíquota do valor
global - é menor em virtude do número maior de pródufos, isto é, em
virtude da maior produtividade do trabalho, também será menor a parte
de mais-valia que 'toca a essa unidade, a parte alíquota - que nela se inse-
re - da mals-valia global. Mas isso não influencia a proporção da mais-va·
lia, do valor novo criado com o valor adiantado e apenas reproduzido. Vi-
696
moss!! entretanto que a produtíVidade do trabalho, embora não altere o
valor global do produto, pode acrescer a mais-valia quando o produto entra no
consumo do trabalhador, e portanto se reduz o salú:rio normal ou, o que
dá no mesmo, o valor da força de trabalho, em virtude da queda do pre-
ço das mercadorias singularmente consideradas ou, o que é o mesmo, de
dada quantidade de mercadorias. A produtividade maior do trabalho, ao
criar a mais.valia relativa, não acresce o valor global do produto, mas sim
a parte desse valor global configuradora de mais-valia, isto é, de trabalho
não pago. Assim, 'se com maior produtividade do trabalho cabe à unidade
de produto parte menor do valor por ter aumentado a massa global das
mercadorias onde o valor se configura, e em conseqüência caí o preço da
unidade, sobe= contudo, nas condições mencionadas acima, a fração des-
se preço a qual representa mais-valia, terá crescido· portanto a proporção
da mais-valia com o valor reproduzido (na realidade importa referir-se ainda
ao capital variável, pois aqui não se trata ainda de lucro). Mas isso apenas
ocorre porque no valor global do produto aumentou a mais-valia em con-
seqüência da produtividade acrescida do trabalho. A mesma causa, a pr~
dutividade acrescida do trabalho, que faz a mesma quantidade de trabalho
expressai-se em maior volume de produtos, baixa por isso o valor da parte
alíquota desse volume ou o preço da unidade, reduz o valor da força de
trabalho e, em conseqüência, acresce o trabalho excedente ou trabalho
não pago contido no valor do produto global e portanto no preço da mer·
cadoria singularmente considerada. Por isso, embora o preço da unidade
de mercadoria caia, embora diminua a quantidade globalde trabalhe nela
contida e por conseguinte o valor dela, cresce, desse valor, a proporção da
parte consistente em mais-valia; ou seja, o total menor da quantidade de
trabalho inserida em ·cada unidade de mercadoria contém quantidade de
trabalhe nlío pago mawr que o anterior, quando o trabalho era mais im-
produtivo, em conseqüência era maior o preço da unidade e maior a quan-
tidade global de trabalho nela encerrado. Nesse caso, 1 tonelada, embora
encerre menos trabalho e seja mais barata por isso, contém mais trabalho
excedente e por isso dá quantidade maior de mais-valia.
Uma vez que na concorrência tudo aparece numa configuração falsa,
invertida, imagina o capitalista individual (1) que baixa o lucro sobre a uni·
d.ade de mercadoria ao reduzir-lhe o preço, mas que obtém lucro maior em
virtude do volume maior (aí ainda gera confusão o montante maior de lu-
697
cro proveniente do acréscimo do capital aplicado, mesmo com taxa mais
baixa de lucro); (2) que estabelece o preço da unidade de mercadoria e de-
te:rmina por multiplicação o valor global do produto, quando o processo
original ê a divisão, e a multiplicação só é correta em segunda instância,
que pressupõe aquela divisão. O economista vulgar apenas traduz em lin-
guagem mais teórica na aparência as estranhas noções dos capitalistas pri·
sioneiros da concorrência e procura forjar a justeza dessas noções.
Voltemos aos quadros.
698
Mas, além disso, há no mercado disponibilidades de carvão proceden-
tes de minas com produtividade diversa, designadas - a começar pelo grau
mais baixo de produtividade - por I, II, III e IV. Assim, por exemplo, com
um capital de 100, a classe I produz 60 toneladas, a II 65 etc. Capitais de
igual magnitude, 100 libras, com a mesma composição orgânica, no mes-
mo ramo de produç!o, têm produtividade desigual por divergir o grau de
produtividade do trabalho de acordo com o grau de fertilidade da mina,
do tipo de terra, em suma, do agente natural. Mas a concorrência estabe-
lece val.or de mercado para esses produtos que divergem no val.or irulivi-
dua~. Esse próprio valor de mercado nunca pode ser maior que o valor in-
dividual do produto da classe menos fértil. Se fosse maior, apenas mostra-
ria que o preço de mercado está acima do valor de mercado. Mas o valor
de mercado tem de representar valor real. Ora; é possível que, se consíde-
ramos os produtos das classes particulares, esteja seu valnr acima ou abai-
xo do valor de mercado. Se estiver admtJ do valor de mercado, a diferença
entre' ,este e seu preço de custo será menor que a diferença entre seu valor-
individual e esse preço de custo. Mas, uma vez que a renda absoluta é igual
à diferença entre seu valor individual e seu preço de custo, o valor de merca-
do, nesse caso, não pode proporcionar a tais produtos a renda absoluta in-
teira. E se for reduzido ao preço de custo deles, não lhes proporcionará
renda alguma. Não poderão eles pagar renda, pois a renda (ren.t) é apenas a
diferença entre valor e pfeço de custo, mas para eles individualmente essa
diferença terá desaparecido por ter caído o valor de mercado. Nesse caso, é
negativa a diferença entre seu valor individual e o valor de mercado. Isto é,
o valor de mercado diverge, por magnitude negativa, do valor individual
deles. Chamo de val.or àiferencfal a diferença entre valor de mercado e va-
lor individual em geral. Çoloquei sinal menos (·) diante do valor diferencial
das mercadorias que se encontram na situação referida.
Em contrapartida, se o valnr individual dos produtos de uma classe
de mina (classe de terra) está abaixo do valor de mercado, o val.or de merca-
do estará então acima desse valor individual. O valor, ou valor de mercado,
vigente nesse ramo de produção dará portanto sobra acima do valor indivi-
dual deles. Se o valor de mercado da tonelada, por exemplo, for 2 libras,
o valor diferencial da tonelada, com valor individual = 1 libra e 12 xelins,
será de 8 xelins. E uma vez que o capital de 100 libras produz 75 toneladas
na classe onde o valor individual da tonelada = 1 libra e 12 xelins, o valor
diferencial global, para essas 75 toneladas, é de 8 xelins e 75 = 30 libras.
Para o produto todo dessa classe, essa sobra do valor de mercado acima
do valor ,individual desse produto, a qual decorre da fertilidade relativa
699
maior da terra ou da mina, constitui a renda diferencial, uma vez que para
o capital o preço de custo permanece o mesmo. Essa renda diferencial é
maior ou menor, segundo a maior ou menor sobra do valor de mercado
sobre o valor tnih'viduat sobra que por sua vez é maior ou menor de- acor-
do com a fertilidade relatir>a maior ou menor da classe de mina ou de solo
à qual pertence o produto, comparada com a classe menos fértil cujo pro-
duto determina o valor de mercado.
Por fim cabe ainda observar que diverge o preço de custo individual
dos produtos das diferentes classes. Por exemplo, para a classe onde o
capital de 100 libras fornece 75 toneladas com valor global = 120 libras
e preço de custo = 110 libras, o preço de custo da mercadoria individual
será de 1 libra e 9 1/3 xelins; e se o valor de mercado for igual ao valor
individual nessa classe, isto é, a 1 libra e 12 xelins, as 75 toneladas vendi-
das por 120 libras darão renda de 10 libras, enquanto 110 libras represen-
tarão seu preço de custo.
Mas o preço de custo individual de cada tonelada varia naturalmen-
te de acordo com o número de toneladas em que se configura o capital
de 100 ou de acordo com o valor individual do produto particular das di·
ferentes classes. Por exemplo, se o capital de ·100 produz 60 toneladas, o
valor da tonelada será igual a 2 libras e seu preço de custo= 1 libra 16 2/3
xelins; 55 toneladas serão iguais a 110 libras ou ao preço de custo do -pro-
duto global. Em contrapartida, se o capital de 100 produz-_ 75 toneladas,
o valor da tonelada = 1 libra e 12 xelins, e seu preço cte· custo = 1 libra e
9 1/3 xelins, e do produto global 68 3/4 tonelada$ custariam l_lO libras
ou reporiam o preço de custo. Nas diferentes classes, o preÇo de custo in·
dividual, isto é, o preço de custo de uma unidade, de cadfZ tonelada, varia
na mesma proporção do va'/or individual.
Em todos os 5 quadros evidencia-se que a renda absoluta é sempre
igual à sobra do valor da mercadoria acima do próprio preço de custo;
em contrapartida, a renda diferencial = sobra do valor de mercado acima
do valor individual da mercadoria, e a renda total, se existe a diferencial
(além da renda absoluta) = sobra do valor de mercado acima do valor
individual + sobra do valor individual acima do preço de custo = sobra
do valor de mercado acima_ do preço de custo individual.
Uma vez que o objetivo aqui é expor a lei geral da renda para ilustrar
minha teoria sobre valores e preços de custo, e como só examinarei em
pormenor a renda fundiária quando trataI especificamente da proprieda·
de fundiária, afastei todas as circunstâncias que complicam a questão: a
saber, influêndtz da. localização das minas ou tipos de solo; grau variável
700
de produtividade das doses de capital aplicadas na mesma mina ou no
mesmo tipo de solo; relação entre as rendas obtidas de variedades dife-
rentes do mesmo ramo 4e produção, digamos, por diferentes atividades
agrícolas; relaçlfo entre as rendas obtidas de ramos de produção diferentes,
mas intermutáveis como, por exemplo, quando se retira terra da agricul-
tura para a construção de imóveis etc. Nada disw cabe aqui.
701
das demais mércadorias produzidas no mesmo ramo, e assim não se ínfrin·
ge a lei do valor. Em contrapartida, o valor de mercado só poderá estar
acima do valor da tonelada em I se o produto de 1 for vendido acima de
seu valor, sem consideração alguma pelo valor de mercado. Diferença entre
valor de mercado e valor ocorre em geral não porque se vendem produtos
absolutamente acima de seu valor, mas só porque o valor que tem o pro-
duto de um ramo inteiro pode divergir do valor do produto individual, isto
é, porque o tempo de trabalho necessário para fornecer o produto global -
no caso 200 toneladas - pode diferir do tempo de trabalho que produz
parte das toneladas, aqui as de II e III, numa palavra, porque o produto
global fornecido resultou de trabalhos com diferentes graus de produti-
vidade. A diferença entre valor de mercado e valor individual de um pro-
duto só pode por isso relacionar-se com os diferentes graus de produtivi-
dade com que detenninada quantídade de trabalho gera porções diferentes
do produto global. Nunca pode relacionar-se com a circunstância de o valor
ser determinado de maneira independente da quantidade de trabalho apli-
cada em geral nesse ramo. O valor de mercado da tonelada só poderá estar
acima de 2 libras se 1, postas de lado suas relações com II e III, em geral
·vender seu produto acima do valor, dele. Nesse caso, em virtude da situa-
ção do mercado, do nível da oferta e da procura, o preço de mercado es-
tará acima do valor de mercado. Mas, o valor de mercado de-que estamos
tratando -- ao qual aqui se pressupõe igual o preço de mercado - não pode
estar acima de si mesmo.
O valor de mercado aqui é igual ao valor de I, que aliás fornece 3/10
de todo o produto disponível no mercado, pois II e III só fornecem o sufi.
ciente para se chegar à satisfação da procura global, para.suprir a procura
adicional que não é atendida por 1. II e III não têm portanto motivo para
vender abaixo de 2 libras, uma vez que o produto todo pode ser vendido
a 2 libras. Não podem vender acima de 2 libras porque 1 vende a tonelada
por 2 libras.
Esta: lei pela qual o valor de mercado não pode ser gerado acima do
valor individual do produto obtido nas piores condições de produção e
que fornece parte da oferta necessária, desfigura-a Rícardo sustentando
que o valor de mercado nunca pode cair abaixD do valor daquele produto
e portanto tem sempre de ser por ele deternúnado. Veremos adiante o
erro dessa aiirmaçfo.
Em I, por coincidirem valor de mercado e valor individual da tonela-
da, a renda obtida, a sobra absoluta do valor sobre o preço de custo, repre-
senta a renda absoluta = 10 libras. II fornece uma: renda diferencial de 1O
702
libras e III uma de 30 libras porque o valor de mercado determinado por I
proporciona a II uma sobra de 1O libras e a III de 30 libras sobre o respec-
ti\'o valor individual e, em conseqüência, acima da renda absoluta de 10 li-
bras,que representa o excesso do valor individual sobre o preço de custo.
Por isso, II fornece renda global de 20 e III de 40, pois o valor de mercado
configura excesso de 20 e de 40 acima do preço de custo deles.
Supomos que se marcha de 1, a mina menos fértil, para II, mais fér-
til, e desta para III, mais fértil ainda. Sem dúvida II e III são mais férteis
que I, mas só satisfazem 7/10 da procura total e por isso podem, como
acabamos de expor, vender seu produto por 2 libras, embora o valor dele
seja respectivamente de 1 libra e 16 12/13 xelins e 1 libra e 12 xelins ape-
nas. Quando se fornece a quantidade requerida para satisfazer a procura e
ocorre gradação na produtividade. do trabalho que satisfaz às diferentes
porções dessa procura - conforme a transição se opere num ou noutro sen·
tido -, é claro que, nos dois casos, o valor de mercado das classes mais fér-
teis sobe acima de seu valor individual; num caso, porque acham o valor
de mercado determinado pela classe menos fértil e a oferta adicional que
suprem não basta para alterar o valor de mercado determinado pela classe
I; no outro, porque o valor de mercado que originahnente determinavam,
que era estabelecido pela classe III ou II, passa a ser determinado pela clas-
se 1, que proporciona a oferta adicional exigida pelo mercado, e s6 pode
proporcioná·la por valor mais· alto - que ora deternúna o valor de mercado.
703
libras, embora o valor individual d.e seu produto seja apenas de l libra e
16 12/13 xelins, então só pode continuar o suprimento necessário de 125
toneladas se 1 fornecer as 60 toneladas pelo valor de 2 libras. Do mesmo
modo, se é necessária nova oferta adicional de 75 toneladas, mas III só
fornece 75 toneladas, provê apenas a procura adicional, 1 terá de conti-
nuar suprindo as 60 toneladas por 2 libras. Se I tivesse provido a procura
toda de 200 toneladas, teriam sido elas vendidas por 400 libras. E assim
são vendidas agora porque II e IIl não vendem pelo preço a que podem
satisfazer a procura adicional de 140 toneladas e sim pelo preço a que 1,
que somente ·supre 3/10 do produto, poderá satisfazê-la. O volume do pro-
duto requerido = 200 toneladas é vendído então a 2 libras a ·tonelada por-
que 3/10 dele sô podem ser fornecidos pelo valor de 2 libras a tonelada,
e tanto faz que o suprimento das porções adicionais da procura apareça
na seqüência ID, Il e 1 ou na I, II e III.
Diz Ricardo: se IIl e II sã'o os pontos de partida, seu valor de mer-
cado tem de subir para o valor de 1 (preço de custo para ele) por serem os
3/10, que 1 fornece, necessários à procura e estar em jogo portanto o volu·
me requerido de produtos e não o valor índívidual de porções particula·
res. Mas é correto também afirmar que, se o ponto de partida é 1, e II e
Ili apenas fornecem a procura adiciooal, os 3/10 de 1 continuam .por igual
necessários; se este determinou o valor de mercado na seqüência descen·
dente, pelas mesmas razões determina-0 na seqüência ascendente. O qua-
dro A portanto mostra-nos o erro da concepção rícardiana de a renda di-
ferencial supor a transição das minas e terras mais férteis para .a8 menos
férteis, a produtividade decrescente do trabalhQ. Ela .também é de todo
compatível com a seqüência inversa e portanto com a pródutividade cres-
cente do trabalho. A efetivação de uma ou de outra seqüência nada tem a
ver com a natureza e a existência da renda diferencial: é um problema
histórico. Na realidade, as seqüências ascendentes e descendentes se cru·
zam, e a procura adicional é suprida por transição para tipo de terra, mi-
na, fator natural, ora mais fértil ora menos fértil. Sempre se supõe ai que
a oferta suprida pelo agente natural de classe nova e diferente - seja mais
fértil ou menos - apenas iguala a procura adicional e assim não altera a
relação entre procura e oferta; só causará, portanto, mudança no prôprio
valor de mercado no ponto em que a oferta só possa ser suprida não a
custos mais baratos e sim a custos mais caros.
Assim, o quadro A logo patenteia a falsidade daquela fundamental
suposição ricardiana, que, segundo mostra Anderson, nlfo era necessária
mesmo no caso de uma concepção errônea da rendll absoluta.
704
Se a transição se faz na seqüência descendente, de III para II e de
II para 1, com emprego de fatores naturais cuja fertilidade decresce gra·
dualmente, é III, onde se aplica capital de 100, quem primeiro vende suas
mercadorias pelo valor delas, por 120 libras. Isso dá l libra e 12 xelins por
tonelada, uma vez que III produz 75 toneladas. Se for necessária oferta
adicional de 65 toneladas, II, que investe capital de 100, também vende
seu produto por 120. Isso dá 1 libra e 16 12/13 xelins por tonelada. Se
por fim for necessária oferta adicional de 60 toneladas, que só 1 pode
fornecer, venderá este seu produto também pelo respectivo valor de 120
libras, o que dá 2 libras por tonelada. Com esse processo, III darã renda
diferencial de 18 6/13 libras logo que II chegue ao mercado, quando antes
só proporcionava a renda absoluta de l O libras. II dará renda diferencial
de 10 libras assim que 1 entre no jogo, e a renda diferencial de III subirá
para 30 libras.
Ricardo, ao descer de m para I, não acha mais renda em I por ter
partido em III da idéia de não existir renda absoluta.
Sem dú'Vida há diferença entre a seqüência ascendente e a descenden-
te. Quando se vai de I para III, de modo que Il e III apenas suprem a ofer-
ta adicional, o valor de mercado permanece igual ao valor individual de
1 = 2 libras. E quando o lucro médio, conforme se pressupõe aquí, é de
10%, pode.se admitir que em seu cômputo terá entrado o preço do carvão
(ou o preço do trigo; é sempre possível substituir 1 quarter de trigo etc.
por l tonelada de carvão), uma vez que carvão tanto entra no consumo
dos trabalhadores na qualidade de meio de subsistência, quanto no capi·
tal constante na função de importante matéria auxiliar. Por isso, pode-se
admitir ainda que a taxa de mais-valia teria sido mais alta, portanto maior
a própria mais-valia e também mais de 10% a taxa de lucro, se 1 tivesse si·
do mais produtivo ou o valor da tonelada se fixado abaixo de 2 libras. E o
que sucederá se III for o ponto de partida. O valor de mercado da tonela-
da de carvão será então de 1 libra e 12 xelins; sobe, quando entra II, para
1 libra e 16 12/ 13 xelins e, por fim, para 2 libras, aÕ entrar I. Pode-se por-
tanto admitir que - supostas constantes e inalteradas todas as demais cir·
constâncias, duração do trabalho excedente, outras condições de produ-
ção etc. - a taxa de lucro era mais alta (e também a taxa de ma.is-valia por·
que mais barato um elemento do salário; já em 'Virtude da taxa mais alta
de mais-valia, mais elevada a massa de mais-valia e em conseqüência tam-
bém a taxa de lucro; mas, além disso - com a mais-valia assim modifica-
da - a taxa de lucro fica mais elevada por ser menor um elemento de cus-
to do capital constante) quando se explorava apenas III, diminuí ao entrar
705
em cena II e por fim cai nível mais baixo, 10%, com I. Caberá então su·
por que, por exemplo (não importam os dados), a taxa de lucro era de 12%
quando apenas se eiplorava IH; caí para 11 % quando II entra em cena, e
em deturitivo para 10% quando I aparece. Nesse caso, a renda absoluta de
III teria sido de 8 libras porque o preço de custo = 112 libras; teria ido
para 9 libras após a entrada de II em cena, porque então o preço de cus-
to = 111 libras. e por fim se teria elevado a 1O libras por causa da queda
do preço de custo para 11 O libras. Por isso, variaria a taxii da própria ren-
da absoluta e na razão inversa da variação da taxa de lucro. Haveria cresci·
mento progressivo da taxa de renda por ocorrer declínio progressivo da ta·
xa de lucro. Esta teria caído em virtude da produtividade decrescente do
trabalho nas minas, na agricultura etc. e do correspondente encarecimen-
to dos meios de subsistência e das matérias auxiliares.
No caso considerado, a taxa de renda subiu por ter caído a taxa de lu-
cro. Caiu esta por ter mudado a constituição orgânica do capital? Se a cons-
tituição média do capital era 80c + 20v, ficou ela invariável? Supõe-se que
não varia a jomada normal de trabalho. Do contrário, a influência do enca-
recimento dos meios de subsistência pode ser neutralizada,.Há aí duas coi-
sas a distinguir. Primeiro, encarecimento dos meios de subsistência, em con·
seqüência redução do trabalho excedente e do valor excedente. Segundo,
encarecimento do capital constante por se elevar, como no caso do carvão,
o va1or da matéria auxiliar, ou de outro elemento do capital constante, a
semente no caso do trigo, ou ainda por poder subir, em virtude do encare-
cimento do trigo, o preço do produto broto (matéria-prima). Por fim, se o
produto for ferro, cobre etc., subirá a matéria-prima de certos ramos indus-
triais e a matéria-prima da maquinaria (inclusive recipientes) de todos os
ramos de produção.
Supõe-se que não houve, sob um aspecto, mudança alguma na cons-
tituição orgânica do capital; isto é, não houve mudança no método de pro·
dução a qual aumentasse ou diminuísse a quantidade a aplicar de trabalho
vivo em relação à massa do capital constante empregado. Continua a ser
706
requerido o mesmo número de trabalhadores (não mudam os linútes da
jornada normal de trabalho) para transformar a mesma massa de matéria-
prima com a mesma massa de maquinaria etc., ou pra movimentar a mesma
maSs:a de maquinaria, instrumentos etc., onde não há. matéria-prima. Mas,
além desse aspecto a consíderar na composição orgânica do capital, há
ainda outro, a saber, a variação no valor dos elementos do capital, embora
e.orno valores de. uso continuem e1es a ser empregados nas mesmas porções.
Aí cabe distinguir:
Primeiro: a variação do valor influencia por igual ambos os elemen-
tos - o constante e o variável. Isso nunca deverá ocorrer na prática. Alta
de certos produtos agrícolas, como trigo etc., encarece o salário (necessá-
rio) e a matéria-prima (a semente, por exemplo). Alta do caJVão encarece
o salário e a matéría auxiliar da maioria das indústrias. Todavia, no primei-
ro caso, a alta de salário sucede em todos os ramos industriais, e a de ma-
téria-primas só se dá em algumas. Para o carvão, a proporção em que en-
tra no salário é menor que aquela em que entra na produção. Para a tota-
lidade do capital portanto, não é de se esperar que a variação no valqr do
algodão e no do trigo influenciem por igual ambos os elementos do capi-
tal. Mas·admitamos que isso ocorra.
Seja igual a 120 o valor do produto do capital 80c + 20v. Para a to·
talidade do capita~ o valor e o preço de custo do produto coincidem. E
que a diferença se nivela para essa totalidade. A elevação do valor de um
artigo como carvão, que, segundo o pressuposto, entra em proporção si·
métrica nos dois componentes do capital, gera, para os dois elementos,
elevação, dígamos, de 1/10 no custo. Assim, com 80c só se poderá com-
prar quantidade aproximada à que se obtinha antes com 70c, e com 20v
sõ se poderá pagat a quantidade aproximada de trabalhadores que antes
se conseguia com 18v. Ou, para prosseguir a produção na mesma escala
anterior, será mister desembolsar agora cerca de 90c e 22v. O valor do
produto continua a ser 120, mas o respectivo dispêndio = 112 (90 de ca-
pital constante e 22 de variável). Assim, o lucro = 8, o que corresponde
a 1/14 = 71/7% de 112. Por ísso, o valor do produto para o capital de-
sembolsado de l 00 será agora de 107 1/7.
Em que proporção entram agora e e v no novo capítal? Antes a ra-
zão v e = 20 80 = l 4, agora é 22 : 90 = 11 : 45. 1/4 = 45/180;
11/45 = 44/180. Isto é, o capital variável decresceu de l /180 em relação
ao constante. Para continuar vâlída a hipótese de a alta do carvão etc. ter
o mesmo efeito proporcional sobre ambas as partes do capital, temos de
adnútir 88c + 22v- Para o valor do produto = 120, deduzimos o dispên.
707
dio de 8S + 22 ;;::: 110, e fica o lucro de 10. 22 : 88 = 20 : 80. Entre e e v
terá permanecido a mesma proporçiio do capital anterior. Continua a ra-
=
zão v : e= 1 : 4. Mas, o lucro de 10/110 = l/l l 9 1/11%. Por isso, se o
objetivo é manter a produçiio na mesma escala, é mister investir capital
de 110 onde antes se empregava 100, e o va1or do produto continua a ser
de 12089 • Mas, para um capital de l 00, a composição seria 80c + 20v, com
produto no valor de 109 1/11.
Segundo: se, no caso acima, ficasse inalterado o valor de 80c e ape-.-
nas variasse o de v, a razlio anterlçir 20 : 80 ou 1O : 40 seria agora 22 80
ou 11 : 40. Se ocorresse essa variação, o capital ascenderia a 80c + 22v
e o valor do produto a 120; portanto, desembolso de 102 e lucro de 18,
isto é, de 17 33/51%. Mas 22 18 = 21 29/51 .17 33/51. Se é mister
desembolsar em salário capital de 22y para movimentar capital constante
no valor de 80, precisa-se então de 21 29/51 para movimentar capital cons-
tante no valor de 78 22/5L De acordo com essa proporção, do capital
de 100 apenas 78 22/51 podem corresponder a dispêndio com maquinaria
e matéria·prima; 21 29/51 terão de ir para salário, quando antes eram 80
para matéria-prima etc., e apenas 20 para salário. Valor atual do produ-
to = 117 33/51. E a composíção do capital: 78 22/Slc + 21 29/Slv. Mas
são 21 29/51 + 17 33/51 = 39 lJ/5!. Na composição anterior, o total
do trabalho adicionado = 40; agora é 39 11/51 ou menos 40/Sl não por
se ter alterado o valor do capital constante e sim por haver .menos capital
constante para transformar, e assim pode o capital de- 100 m.ovimentar
trabalho em quantidade pouco menor que antes, ~mbora, tràbajho pago
m•~-
Se, por isso, variação num elemento de ctisto - aqui encarecimen-
-
to, elevação do valor - altera apenas o salário (necessário), ocorrerá o se-
guinte: primeiro, cai a taxa de mais-valia; segwi.do, para um dado capital,
89. No exemplo referido por Marx, o produto cuja produção depende da proprie-
dade fundiária entra, em proporção invariável, nos dois componentes do capital adian-
tado. Marx admite que, apesar do encarecimento do capital constante (88c em vez de
80c, em virtude do preço maior da matéria·prima) e da alta do sal.á:do (22v em vez de
20v, em virtude do preço mais alto dos meios de subsistência dos trabalhadores), o va-
lor do produto total contínua a ser 120 como dantes. Só pôde ocorrer ísso porque a
mais-valia de que se apropriou o capitalista caiu de 20 para 10. Tal redução da mais--
valia tem origem no acréscimo da renda diferencial em 10 unidades nos solos mais
produtivos, relacionado eom a entrada em exploração de solos menos produtivos. Esse
acréscimo da renda diferencial se realiza por meio do acréscimo do valor do capital
constante em 8 unidades e do valor 4o capital variável em 2 unidades.
Ver caso semelhante neste volume pp. 890·893.
708
pode-se empregar menos capital constante, menos matéria-prima e maquinaria.
O montante absoluto dessa parte do capital reduz-se em relação ao variável e,
não se alterando as demais condições, tem sempre de provocar alta na taxa de
lucro (se o valor do capital constante não varia). Seu volume diminui, embora
seu valor continue o mesmo. Mas a taxa de maiS>valia decai e a própria
mal$-valia decresce, uma vez que, ao cair a taxa, não cresce o número dos
trabalhadores empregados. A taxa de mais-valia - de trabalho exceden·
te - cai mais que a proporção do capital variável com o constante. S mis-
ter portanto continuar a empregar o mesnw número anterior de trabalha-
dores, isto é, a mesma quantidade absoluta de trabalho para movimentar·
a mesma massa de capital constante. Só que essa quantidade absoluta de
trabalho encerra mais trabalho necessário e menos trabalho excedente. S m.is--
ter portanto pagar mais caro pela mesma quantidade de trabalho. Do mesnw
capital - 100 por exemplo - pode-se investir menos em capital constante,
uma vez que se tem de desembolsar mais em capital variável para movi-
mentar capital constante menor. A queda da taxa de mais-valia neste caso
não está ligada a acréscimo na quantidade absoluta de trabalho que deter~
minado capital aplica ou a actéscimo do número dos trabalhadores que em·
prega. A~im, a própria mais-valia aqui não pode elevar-se, embora caia a
taxa de mais-valia.
Se a composição orgânica do capital, portanto, permanece a mesma
no tocante ao aspecto material dos componentes como valores de uso,
isto é, se a mudança dessa composição não deoorre de mudança no méto-
do de produção no ramo onde se emprega o capital, mas apenas de eleva·
ção no valor da força de trabalho e, em conseqüência, de alta do salário
necessário, o que é igual a decréscimo do tempo de trabalho excedente
ou da taxa de m~valia, decréscimn impossível de ser neutralizado no
todo ou em parte por acréscimo do número de trabalhadores empregados
por capital de dada magnitude - 100 por exemplo -, então, a queda da
taxa de lucro tem origem pura e simples na queda da própria mais-valia..
Se não se altera o método de produção nem a razão entre as quantidades
de· trabalho imediato e de trabalho acumulado, então a mudança na com-
posição orgânica do capital provém dessa mesma causa, tem odgem apenas
na circunstância de se ter modificado o valor (o valor proporcional) das
quantidades empregadas. O mesmo capital emprega, sem mudar a propor-
ção, quantidade menor de trabalho ime.diato e quantidade menor de capi-
tal constante, mas paga mais caro por essa quantidade menor de trabalho.
Só pode por isso empregar menos capital constante porque a menor quan·
tidade de trabalho, que movimenta esse capital constante, absorve parte
maior do capital todo. Para movimentar 78 de capital constante, tem de
709
despénder, .por exemplo, 22 de capital variável, quando antes 20v basta-
vam p~ pôr em marcha 80c.
E o que se dá quando o encarecimento do produto sujeito à proprie-
dade fundiâria influencia apenas o salário. Ocorrerá o resultado oposto
ao baratear esse produto.
Mas tratemos do caso que supusemos acima. O encarecimento do
produto agrícola atinge em pro(JOTfÕO 'igual capital constante e capital
variável. De acordo com o pressuposto, também não ocorre aqui mudan-
ça na Cl)mposição orgânic.a do capital. Primeiro, nenhuma mudança no
método de produção. A mesma quantidade absoluta de trabalho imedia·
to continua a movimentar a mesma quantídade de trabalho acumulado.
A razão entre as quantidades não se altera. Segundo, não varia a propor-
ção do vakJr do trabalho acumulado com o do trabalho imediato. Se sobe
ou desce o valor de um, o mesmo se dá com o outro e.m proporção igual a
sua magnitude relativa, que portanto permanece inalterada. Mas, antes
80c + 20v- valor do produto = 120. Agora 88c + 2;, valor do produ·
to = 120. lsso dá 1O para 11 O, ou seja, 9 l /11 %, isto é, valor de 109 1/11
para soe+ 20v. .,
Tínhamos antes:
Agora temos:
710
o valor do capital variável e o do capital constante. A taxa de mais-valia,
porém, não pennaneceu a mesma; ao contrário, variou na mesma propor·
ção em que cresceu o valor do capital variãvel
Vejamos outro exemplo.
O valor da libra-peso de algodão subiu de 1 xelim para 2. Antes po-
diam ser compradas 1 600 libras-peso com 80 libras (façamos aqui a má-
quina etc. =
O). Agora, com 80 libras só podem ser compradas 800 libras-
peso. Antes, para fiar 1 600 libras-peso eram necessárias 20 horas de salá-
rio que correspondiam, digamos, a 20 trabalhadores: Para fiar 800 libras-
peso bastam 10, uma vez que o método de produção não mudou. Os 10
trabalhadores custavam antes 1O libras, custam agora 20, do mesmo modo
que as 800 libras-peso custavam antes 40 libras e ora custam 80. Admita-
mos que o lucro anterior era de 20%. Aí supomos:
"fuada. ~ntcJ
711
Nesse caso, nã:o se dá variação de valor no capital vuriáve~ mantém-
se portanto a mesma taxa de mais-valia, e daí;
Em 1 o capital variável está para o constante na razão de 20 ;80 = 1 :4.
Em III, a razão é 11 1/9 : 88 8/9 = 1 : 8, isto é, o capital variável reduziu·
se relativamente de metade por ter duplicado o valor do capital constante.
O mesmo m'.tmero de trabalhadores fia a mesma massa de algodão, mas ago-
ra, com 100 libras, só 11 l /9 trabalhadores podem ser empregados, enquan-
to as libras restantes - 88 8/9 - só compram 888 8/9 Ubras·peso, em vez
de 1 600 como em 1. A taxa de mais-valia nã'o se alterou. Mas, em virtude
da mudança no valor do capital constante, não é mais possível empregar
o mesmo número de trabalhadores para um capital de 100; variou a pro-
porção do capital variável com o constante. Daí reduzir-se o montante da
mais-valia e em conseqfiência o lucro, pois se computa essa mais-valia so-
bre o mesmo dispêndio anterior de capital. No primeiro caso, o capital va·
riável era 1}4 do constante (20 : 80) e 1/5 do capital todo("" 20). Agora é
apenas 1/8 do capital constante (111/9 88 8/9) e 1/9 (111/9) de 100,
do capital todo. Mas 100% de 100/5 ou 20 é 20, e 100% de 100/9 ou
111/9 é somente 11 1/9. Não se alterando aí o salário ou valor do capi·
tal variável, cai sua grandeza absoluta por ter subido o valor do capital
constante. Por isso, decresce a percentagem do capital variáyel, em conse-
qfiência a própria mais-valia, sua grandeza absoluta e pottanto a taxa de
lucro.
Mudança no valor do capital constante - i'fW.lterados valor do capi-
tal variável e método de produção, proporções iguais portanto das quan-
tidades empregadas de trabalho, matéria-prima e maquinaria - gera na
composição do capital a mesma variação que haveria se o valor do capital
constante nã'o variasse e se aplicasse, do capital de valor inalterado, masrJa
maior (portanto, também maior soma de valor) em relação ao capital des-
pendido em salário. A conseqüência necessária é queda do lucro. (Ao con-
trário, quando cai o valor do capital constante.)
Ao revés, mudança no va'/or do capital variável (aqui elevação) au-
menta a proporção do capital variável com o constante. em conseqüência,
a percentagem do capital variável sobre o capita! todo ou -a cota propor-
cional que nele possui. Contudo, aqui a taxa de lucro cai em vez de subir.
Pois o método de produção não mudou. Continua-se a aplicar a mesma
massa de trabalho vivo para transfonnar em produto a mesma massa de
matérias-primas, maquinaria etc. Agora, como no caso anterj_or, com o mes-
mo capital de 100 só se pode movimentar volume global menor de trabalho
712
imediato e de trabalho acumulado; mas a quantidade menor de trabalho
custa mais. O salário necessário subiu. Fração maior dessa quantidade me-
nor de trabalho corresponde a trabalho necessário, e, em conseqüência,
fração menor constitui trabalho excedente. A taxa de mais-valia cai enquan-
to ao mesmo tempo diminui o número dos trabalhadores ou a quantidade
total de trabalho comandada pelo mesmo capital. O capital variável aumen-
tou em relação ao capital constante e por isso em relação ao capital todo,
embora a quantidade de trabalho tenha diminuído em relação à massa do
capital constante. Assim, cai a mais-valia e com ela a taxa de lucro. Antes
a taxa de lucro caiu porque, inalterada a taxa de maú-valia, o capital variá-
vel diminuiu em relação ao constante e por conseguinte em relação ao ca-
pital todo, ou a mais-valia decresceu porque, inalterada a taxa. se reduzira
o número de trabalhadores, minguara seu multiplicador. Desta vez cai a
taxa de lucro porque o capital variável sobe em relação ao constante e por-
tanto em relação ao capital todo; essa alta do capital variável é acompanha-
da de queda da quantidade de trabalho aplicado (trabalho empregado pelo
mesmo capital); ou a mais-valia cai por sua taxa decrer;cente estar ligada a
número decrescente de trabalhadores empregados. O trabalho pago aumen·
tou em relação ao capital constante, mas diminuiu a quantidade total de
trabalho.
Essas variações do valor sempre atuam portanto sobre a própria
mais-valia, cujo montante absoluto decresce em ambos os casos porque
diminui um dos dois ou os dois fatores que a determinam; ora decresce
por diminuir o número de trabalhadores, inalterada a taxa de mais-valia, ora
decresce por diminuirem a taxa e o número de trabalhadores empregados
para 100 de capital.
Chegamos por fün ao caso IT: aí a mudança do valor de um produ-
to agrícola tem proporcionalmente efeito igual sobre as duas partes do ca-
pital e, em conseqüência, essa mudança de valor não é acompanhada por
mudança na composição orgânica do capital.
A libra-peso de fio nesse caso (ver p. 58490 ) sobe de l xelim e 6
pence para 2 xelins e 9 pence por ser produto de tempo de trabalho maior
que o anterior. Cont.ém sem dúvida a mesma quantidade anterior de tra-
balho imediato (embora mais trabalho pago e menos não pago), porém
mais trabalho acumulado. A mudança do valor do algodão de 1 para 2 xe-
lins insere no valor do fio 2 xelins em vez de 1.
713
O exemplo II da p. 584, entretanto, não está conetamente apresen-
tado. Tínhamos:
714
No preço de 1 xelim e l O pence, 1 xelim e 4 pence para algodão e
6 pence para trabalho.
O produto encarece porque o algodão ficou mais caro de 1/3. Mas
o produto não ficou mais caro de 1/3. Antes era em 1 18 pence; se portan-
to tivesse encarecido de I/3, seria agora 18 + 6 pence= 24 pence, mas ago.
ra é 22 pence apenas. Antes inseriam-se em 1 600 libras-peso de fio 40 li-
bras de trabalho, portanto 1 libra-peso corresponde a 1/40 de libra ou
20/40 xelins ou 1 /2 xelim = 6 pence de trabalho. Agora l 200 libras-peso
de fio eneerram 30 libras de trabalho e, em conseqüência, 1líbra-peso=1/40
de libra = 1/2 xelim ou 6 pence. Embora o trabalho tenha encarecido na
mesma proporção que a matéria-prima, permaneceu a mesma a quantida·
de de trabalho imediato que se insere em 1 libra-peso de fio, conquanto
seja maior o trabalho pago e menor o não pago.- Essa mudança do valor
do salário em nada altera o valor da libra-peso de fio, do produto. Conti-
nua a inserir-se aí, como dantes, 6 pence para trabalho, quando para algo-
dão figuram agora 1 xelim e 4 penee em vez de 1 xelim de antes. E assim,
quàndo a mercadoria se vende por seu valbi, a mudança de valor do salá-
rio não pode em suma fazer variar o preço do produto. Mas antes, dos 6
pence, 3 eram salário e 3 mais-valia. Agora, dos 6 pence, 4 são salário e 2
mais-valia. Na realidade, 3 pence de salário por libra-peso de fio dão, para
1 600 libras-peso, 3 x l 600 = 20 libras. E 4 pence por libra·peso dão, pa-
ra l 200 libras-peso, 4 x 1 200 = 20 libras. E 3 pence para 15 pence (1 xe-
lím de algodão + 3 pence de salário) correspondem, no primeiro caso, a
lucro de 1/5 ::: 20%. Em contrapartida, 2 pence para 20 (16 pence de al·
godão + 4 pence de salário) correspondem a 1/10 ou 10%.
Se no exemplo acima o preço de algodão não tivesse variado, tería-
mos chegado ao seguinte: 1 trabalhador fia &O líbras-peso de algodão, uma
vez que o método de produção é o mesmo em todos os exemplos, e a líbra-
peso equivale de novo a 1 xelim.
Decomposição atual do capital:
i C.pAltoNWtlti -·--~~
715
Essa co~ta é impossível, pois, se 1 trabalhador fia 80 libras-peso, 20
fiam 1 600 e não 1 466 2/3, dado o pressupoSto de não variar o mêtodo
de produção, Isto em nada se pode alterar por se modificar o pagamento
do trabalhador. O exemplo tem de ser formulado de outra maneira.
.-··----··-------
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'l'md• "1'14<110 .. "!>O ..."".... 1
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a~hlt.(6n,1Anlt Cii~W'll»titti MaU-_,lJ T......_.4., TtMÜ ........ , f'I~ dl IJbn.·~IO
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716
Quando apenas subiu o salárío (II), o lucro diminuiu de 20% para
12 1/2%, isto é, de 7 1/2%. Quando só o capital constante subiu (III), re-
duziu-se o lucro de 20% para 15 15/19%, portanto de 4 4/19%. Uma vez
que ambos sobem na mesma proporção (IV), o lucro decresce de 20% pa-
ra 1Q%, isto é, de 10%. Mas, por que a redução do lucro não chega a
7 1/2 + 4 4/19 por cento ou a 11 27/38, a soma das diferenças de II e Im
Ê mister achar a razão dessas 1 27/38 libras; de acordo com elas, o lucro
(IV) deveria ter caido a 8 11/38% e não a 10%. O montante de lucro é
determinado pelo montante da mais-valia, e esta, dada a taxa de trabalho
excedente, pelo nómero dos trabalhadores. Em 1, não se paga metade do
trabalho dos 20 trabalhadores. Em 11, só não se paga 1/3 do trabalho to-
tal, isto é, há queda da taxa de mais-valia; além disso, empregam-se menos
1 1/4 trabalhadores, decréscimo portanto do número de trabalhadores
ou do trabalho total. Em III, a taxa de mais-valia é de novo a mesma de 1,
não se paga metade da jornada de trabalho, mas, em virtude da alta do ca-
pital constante, o número dos trabalhadores cai de 20 para 15 15/19, ou
seja, decréscimo de 4 4/19. Em IV, o número de trabalhadores decresce
de 5 {depois de a taxa de mais-valia ter caído tanto quanto em II, isto é,
a 1/3 da jornada de trabalho), ou seja, de 20 para 15. Em cotejo com I,
o número de trabalhadores de IV diminuí de 5; em cotejo com II, de 3 3 /4,
e em cotejo com lll, de 15/19; não decresce, em cotejo com I, de 1 1/4 +
4 4/19, isto é, de 5 35/76. Se assim fora, o número de trabalhadores em-
pregados em IV= 14 41/76.
Daí resulta que variações do valor das mercadorias que entram no ca-
pital constante ou variável - inalterado o método de produção ou a com-
posição j(sica do capital (isto é, dada a mesma relação entre o trabalho
imediato e o acumulàdo . aplicados) - não modificam a composição orgâ-
nica do capital quando têm o mel)1'YI() efeito proporcional sobre o capital
variável e o constante como em IV (onde a alta do algodão, por exemplo,
ocorre na mesma proporção da do trigo consunúdo pelos trabalhadores).
Aí a taxa de lucro cai (ao subir o valor do capital constante e do variável)
primeiro por decrescer â taxa de mais-valia em virtude da elevação do salá-
rio e, segundo, por minguar o número de trabalhadores.
A variação do valor - quando sucede apenas no capital constante ou
apenas no capital variável - tem o efeito de uma variação na composição
orgânica do capital e faz variar o valor relativo das partes componentes do
capital, embora o método de produção continue o mesmo. O capital variâ·
vel, se é o úníco atingido, sobe em relação ao constante e ao capital todo,
mas cai a t!l.){a de maís·valia e também o número dos trabalhadores emprega·
717
dos. Por ísso, também se aplica menos capital constante (11), que mantém
valor inalterado,
Se a variação do valor só atinge o capital constante, o capital variável
decresce em refação ao constante e ao capital todo. Embora a taxa de mais-
valia não varie, o montante dé mais·valia decresce.por diminuir o número
dos trabalhadores ocupados (Ill).
Finalmente, é possível que a variação do valor se dê nos dois, capital
constante e capital variável, mas em proporção desigual. Cabe apenas en-
quadrar esse caso entre os anteriores. Por exemplo, admitamos que o capi-
tal constante e o variável foram atingidos de maneira que o valor do primei-
ro subiu de 10"~, e o do segundo de 5%. Verificar-se-á então o caso IV, des-
de que ambos se elevem de 5 por cento, um de 5 t 5 e o outro de 5. Mas,
se o capital constante se mover para novo adicional de 5%, teremos o
caso III.
Acima supusemos apenas alta do valor. No caso de queda, o efeito
oposto. Por exemplo, de IV para I observar-se-ia a queda que na mesma
proporção se efetiva em ambos os componentes. Seria mister modificar
II e III para se observar o efeito da queda pura e simples de um compo-
nente.
* * *
No tocante à influência da variação do valor sobre a'composíção or-
gânica do capital, acrescentar ainda: para capitais em diferentes ramos de
produção -·porém de composição física igual - o valor maior ~a maquina-
ria ou material empregados pode gerar diferença. Por exernpló, se as indús-
trias de algodão, seda, linho e lã tivessem a rigor a mesma composição fí.
sica, a mera diferença no custo do material empregado~ criaria essa variação.
718
o:nde é 10%) pode ser corretà, a saber, se ocorreu na realidade a seqüência
descendente~ mas que essa suposição não é decorrência necessária da gra-
dação das rendas, da mera existência das rendas diferenciais, e que, com
seqüência ascendente, essa gradação das rendas pressupõe, ao contrário, a
continuidade de taxa de lucro inalterada.
Quadro B. Aí, conforme já se analisou acima92 , a concorrência de I1I
e IV força o explorador de II a retirar metade de seu capítal. Na seqüência
descendente parecerá, ao contrário, que se requer oferta adicional de 32 l /2
toneladas e, em conseqüência, é mister investir em II apenas capital de 50.
Mas vejamos o aspecto mais interessante do quadro: antes, emprega-
vam-se 300 libras e agora somente 250, 1/6 menos portanto. Assim elevou-
se a produtividade do trabalho, caiu o valor da unidade de mercadoria. Do
mesmo modo o valor global das mercadorias caiu de 400 para 369 3/13 li-
bras. Em comparação com A, baixou o valor de mercado da tonelada de 2
libras para 1 libra e 16 12/13 xelins, ao ser o novo valor de mercado deter-
rninado pelo valor individual de II, em vez de o ser pelo anterior mais alto
de 1. Apesar de todas essas circunstâncias - decréscimo do capital aplicado,
decréscimo do valor global do produto sem se alterar o volume da produção,
queda nq valor de mercado, exploração de classes mais férteis - a renda
(rent} de B, comparada com a de A, teve acréscimo absoluto de 24 3/13 li·
bras (94 3/13 contra 70). Se observarmos até onde as distintas classes con-
tribuem para o aumento da renda global, veremos que na classe II não se
alterou a renda absoluta no tocante à taxa, pois 5 libras sobre 50 = 10%;
mas seu montante se reduziu à metade, de 10 para 5, pois o emprego de
capítal em II B decresceu de metade, de 100 para 50. Em vez de acrescer
a renda global (rental}, a classe II B a fez decrescer de 5 libras. Além disso,
desapareceu por completo a renda diferencial de II B porque agora o valor
de mercado é igual ao valor individual de II; daí advém decréscimo de 10
libras, a segunda perda. Assim, ao todo, o decréscimo da renda da classe II
é de 15 libras.
Em Ili, o montante da renda absoluta é o mesmo; mas. em virtude
da baixa do valor de mercado, caiu-lhe o valor diferencial e, em conseqüên·
eia, a renda diferencial. Esta atingia 30 libras. Agora monta apenas a 18 6/13.
Perda de 11 7 /13. Para II e III juntos, a renda caiu portanto de 26 7 /13. Fal-
ta portanto prestar contas de um acréscimo não de 24 3/13, como parece à
primeira vista, e sim de 50 10/13. Mas, fora isso, para B, em comparação
719
com A, d~sapareceu, com a classe I, a renda absoluta de I A. Em conse-
qüência, há mais perda de 1O libras. Assim cabe prestar contas do total
das somas, de 60 10/13 libras. Mas esta é a renda global da nova cWse
IV de B. O acréscimo da renda global de B só pode ser explicado' pela ren-
da de IV B. A renda absoluta de lV B, como a de todas as demais classes,
é igual a 1O libras. Mas a renda diferencial de SO 10/13 decorre da circuns-
tância de o valor diferencial de IV importar em 10 470/481 xelins por tone-
lada, a serem multiplicados por 92 1/2, o número das toneladas. A fertilida-
de de II e a de III não variaram; a classe r,nenos fértil foi de todo afastada,
e não obstante sobe a renda global porque só a renda diferencial de IV,
em virtude da grande fertilidade relativa é maior do que era a renda dife-
rencial toda de A. A renda diferencial não depende da fecundidade abso-
luta das classes cultivadas, pois I /2 II, III, IV B são mais férteis que 1, II,
III A, e contudo a renda diferencial de 1/2 II, Ili, IV B é maior que a ante-
rior de I, ll, III A porque a maior parte do produto fornecido - 92 l /2
toneladas - é obtido de uma classe com valor diferencial maior que o atin-
gido, afinal de contas, em I, II, III A. Dado o valor diferencial para uma
classe, o montante absoluto de sua renda diferencial depende naturalmen-
te do volume de seu produto. Mas esse volume já foi levado em conta no
cálculo e na formação do valor diferencial. Por produzir IV com l 00 libras
92 1/2 toneladas, nem mais nem menos, seu valor diferencial ·em B, onde
o valor de mercado é de I libra e 16 12/13 xelins por tonelada, monta a
10 xelins etc. por tonelada. .
A renda global {tentai} em A atinge 70 para capital de.300. isto é,
23 1/3%. Em contrapartida em B, pondo-se de lado os 3/Ú, 94 sobre
250 = 37 3/5%,
Quadro C. Admite-se aí que, depois de a classé IV ter entrado em
cena e a II ter determinado o valor de mercado, a procura, em vez de ficar
inalterada como no quadro B, acresce com a baixa de preço, de modo que
o me1-cado absorve o volume inteiro de 92 l /2 toneladas, adicionado por
IV. A 2 libras por tonelada eram adquiridas apenas 200 toneladas~ a 1 11/13
libra a procura cresce para 292 1/2 toneladas.Berrado supor que, a 1 11/13 li-
bra por tonelada, mantenha o mercado necessariamente o limite que tinha
a 2 libras por tonelada. Pelo contrârio, o mercado se expande até certo
ponto com a queda de preço, mesmo no caso de um meio de subsistência
geral como o trigo.
Este é, por ora, o único ponto que desejamos destacar no quadro e.
Quadro D. Admite-se aí que o mercado só absorve as 292 1/2 tone·
ladas quando o valor de mercado cai para l 5/6 libra, o preço de custo
da tonelada para a classe 1, que portanto não dá renda e sim o lucro usual
720
de 10% apenas. Este é o caso que, para Ricardo, é o normal e por isso é
mister examiná-lo detidamente.
Como nos quadros acima, de início supomos aqui a seqüência ascen-
dente; depois, observaremos o mesmo processo na seqüência decrescente.
Se II, III e IV só fornecessem oferta adicional de 140, isto é, oferta
adiêional que o mercado absorve a 2 libras por tonelada, 1 continuada a
determinar o valor de mercado.
Mas isso não ocorre. Há no mercado uma sobrá de 92 1/2 toneladas
produzidas pela classe IV. Se isso for mesmo superprodução que exceda
em absoluto as necessidades do mercado, 1 por inteiro será jogado fora de-
le e II terá de retirar metade de seu capital como faz em B. II detemtinará o
valor de mercado como em B. Mas admite-se que, se for maior a queda
do valor de mercado, o mercado pode absorver as ,92 l /2 toneladas. Como
se efetuará então o processo? IV, III e 1/2 li têm o domínio absoluto do
mercado, isto é, lançarão l fora do mercado se este só puder absorver200 to-
neladas.
Mas comecemos pelos fatos. Há no mercado 292 l/2 toneladas, quan-
do antes só havia 200. II venderá por seu valor individual, a 1 11/13 libra,
para abrir caminho e do mercado expulsar I cujo valor individual = 2 li-
bras. M3!0,. ·uma vez que, para esse valor de mercado, não há lugar para
292 1/2 toneladas, IV e III pressionam sobre II até o preço de mercado
cair a 1 5/6 libra, e a esse preço as classes IV, III, li e 1 encontram coloca-
ção para seu produto no mercado que absorve a totalidade do produto
a esse preço de mercado. Com essa queda de preço, oferta e procura se ni-
veiaro. Logo que a oferta adicional ultrapassa os limites do mercado - de
acordo com o velho valor de mercado - cada classe se empenha natural-
mente para pôr no mercado seu produto todo, com exclusão do produto
o
das demais classes. E que só pode ocorrer mediante reduç!o de preço,
isto é, redução até o ponto em que toá.os os produtos se coloquem. Se essa
reduyão de preço for tão grande que as classes 1, II etc. tenham de vender
a°fJaixo do custo de produção 93 , terão elas naturalmente de retirar seu capital
da produção. Mas, se se verifica que a redução não tem de ir tão longe pa-
ra adequar o produto ao mercado, pode o capital total prosseguir atuando
nessa esfera de produção com esse novo valor de mercado.
93. Aí e noutras passagens mais adiante emprega Marx o termo cu~tó de produ-
ção no ~ntido de custo de produção acrescido do lucro médio. Ver O Capital, DIFEL,
livro 3, vol. 6, pp. 748, 771, 772, 847, &50 e 851.
721
Contudo, ainda é evidente que, nessas circunstâncias, não são os pio-
res solos, l e II, que determinam o valor de mercado, e sim os melhores,
III e IV, e por isso a renda dos melhores tipos de solo determina a dos
piores, como viu Storch com acerto no tocante a esse caso.*
IV vende ao preço com que pode impor a colocação total de seu
produto no mercado e anula a reação das outras classes. Esse preço é 1 5/6
libras. Se vender por mais, contrair-se-ão os limites do mercado e recome-
ça o processo da exclusão reciproca.
1 só determina o valor de mercado na hipótese de a oferta adicional
de II etc. igualar apenas a ofert.a adicional que o mercado absorve nos li-
mites do valor de mercado de 1. Se for maior, I fica em passívidade total
e em virtude do espaço que ocupa provoca apenas a reação de Il, III e IV
até que o preço se contraia a tal ponto que o mercado tenha amplitude
suficiente para o produto todo. Vê-se então que, a esse valor de mercado
determinado de fato por IV, IV mesmo, além da renda absolut.a, propor-
ciona renda diferencial de 49 7/12 libras, e III, além da renda absoluta, ren-
da diferencial de 17 1/2 libras; II, em contrapartida, não proporciona renda
diferencial mas apenas parte da renda absoluta, 9 1 /6 hõras em vez de 10.
sem atingir portanto o total da renda absoluta. Por quê? O novo valor de
mercado de 1 5/6 libra está por çerto acima de seu preço de custo, porém
abaixo de seu valor individual. Se fosse igual a seu valor individual, daria
a renda absoluta de 10 libras, a diferença entre o valor individual e o pre-
ço de custo. Mas, uma vez que está abaixo dele - a renda real que II propor-
ciona é a diferença entre o valor de mercado e o preço de custo, e essa di-
ferença é menor que a existente entre seu valor individ.ual e seu preço de
custo - , U só proporciona parte da renda absoluta, 9 l /6 libras em vez de 1O.
(Renda real= diferença entre valor de mercado e preço de custo.)
Renda absoluta = diferença entre valor individual e preço de custo.
Renda diferencial = diferença entre valor de mercado e valor indivi-
dual.
Renda real ou global = renda absoluta + renda diferencial, ou seja,
é igual a excesso do valor de mercado sobre valor individual + exce.sso do
valor individual sobre preço de custo, ou é igual à diferença entre valor
de mercado e preço de custo.
Se o valor de mercado for igual ao valor individual, a renda diferen-
cial =O, e a renda global= diferença entre valor individual e preço de custo.
722
Se o valor de mercado é maior do que o valor individual, a renda di-
ferencial é igual ao excesso do valor de mercado sobre o valor individual.
mas a renda global é igual a essa renda diferencial acrescida da renda abso-
luta.
Se o valor de mercado é menor do que o valor individual, porém maior
que o preço de custo, a renda diferencial é magnitude negativa e, por isso,
a renda global = renda absoluta + essa renda diferencial negativa, o exce-
dente do valor índividual sobre o valor de mercado.
Se o valor de mercado for ígual ao preço de custo, a renda afinal de
contas é igual a zero.
Para apresentar o assunto em forma de equações chamaremos a renda
absoluta de RA, a renda diferencial de RD, a renda global de RG, o valor
de mercado de VM, o valor individual de VI e o preço de custo de PC. Te-
mos então as seguintes equações:
l.RA=VI-PC=+y
2, RD = VM - VI = x
3. RG = RA+ RD= VM - VI+ VI ·PC= y+x=VM-PC
Se VM >VI, VM ·VI= + x. Daí: RD positiva e RG = y + x.
E VM. - PC = y + x. Ou VM - y • x =PC ou VM = y + x +PC.
Se VM < VI, então V:M - VI =.x. Daí, RD negativa e RG = y - x.
B VM ·PC = y • x. Ou VM + x = VI. Ou VM + x _. y =PC.
Ou VM = y - x +PC.
Se VM = VI, então RD = O, x = O porque VM - VI = O. Portanto,
RG = RA + RD = RA + O = VM • VI + VI ·PC = O+ VI - PC = VI ·PC =
=VM-PC ""'VM-FC =+ y.
Se VM =PC, ~G ou VM - PC= O.
Nas circunstãncia.S admitidas, l não paga renda. Por quê? Porque a
renda absoluta é .igual à diferença entre o valor individual e o preço de cus-
to. Mas a renda diferencia! é igual à diferença entre o valor de mercado e o
valor individual. E agora o valor de mercado é igual ao preço de custo de 1.
O valor individual = 2 libras por tonelada, o valor de mercado = 1 5/6 li-
bras. Assim, a renda diferencial de 1 = 1 5 /6 · 2 = · 1/6 de libra. Mas a ren-
da absoluta= 2 libras - 1 5/6 libra, isto é, a diferença entre o valor indivi-
dual e o preço de custo = + l /6. Por conseguinte, a renda real de t, por ser
igual à renda absoluta (1/6 de libra) mais a renda diferencial(· 1/6 de libra),
é igual a+ 1/6 • 1/6=O.1 não paga portanto a renda diferencial nem a ren·
da absoluta e sim o preço de custo apenas. O valor de seu produto = 2 li-
bras; vende-o por l 5/6 libra, isto é, 1/12 abaixo do valor, ou seja, 8 1/3%-
723
abaixo desse valor. 1 não pode vendê-lo por mais, pois não é ele quem de-
termina o mercado e sim IV, III e II contra ele. Só lhe cabe oferecer uma
oferta adicional ao preço de 1 5/6 libra.
1 não paga renda porque o valor de mercado é igual a seu preço de
custo.
Este fato porém decorre do seguinte:
Primeiro, a menor fertilidade relativa de L O que 1 tem para forne-
cer são 60 toneladas adicionais a 1 5/6 libra. Admita-se que 1, em vez de
60 toneladas por 100, forneça 64 por 100, 1 tonelada menos que a classe
II. Assim, bastaria o emprego de 93 3/4 libras de capital para 1 fornecer
60 toneladas. O valor individual da tonelada de 1 seria então 1 7/8 libra
ou 1 libra e 17 1/2 xelins, e seu preço de custo, 1 libra e 14 3/8 xelins~
E uma vez que o valor de mercado= 1 5/6 libra:::: 1 libra e 16 2/3 xelins,
a diferença entre preço de custo e valor de mercado = 2 7 /24 xelins. E is-
to formaria, para 60 toneladas, uma renda de 6 libras e 17 1/2 xelins.
Assim, se todas as circunstâncias não variassem e I fosse 1/15 mais
produtivo do que é (pois 60/15 = 4), pagaria ele ainda parte da renda
absoluta, pois existiria diferença entre o valor de mercado e seu preço
de custo, embora menor que a diferença entre seu valor individual e seu
preço de custo. Então o pior terreno ainda daria renda se fosse mais f ér~
til do que é. Se I fosse em absoluto mais fértil do que é,JI; III ;e lV se-
riam, comparados com ele, relativamente menos fúteii Seria menor a
díferença entre o valer individual destes e o daquele. A circ.unstância de I
não dar renda decorre tanto de rn!o ser mais fértil em absoluto quanto de
II, UI e IV não serem relativamente menos férteis.
Mas, segwulo: dada a fertilidade de l, ·60 tonel.a.das para 100 libras.
Se II, III e IV, e em especial IV, novo concorrente que entra no merca-
do, ficarem menos .férteis em relação a I e ainda e.m absoluto, poderá I dar
uma renda, embora esta consista apenas em fração da renda absoluta. Pois
o mercado, uma vez que adquire 292 1/2 toneladas a 1 5/6 libra, absor·
verá número menor de toneladas, digamos, 280 a valor de mercado maior
que 1 5/6 libra. Mas todo valor de mercado superior a 1 5/6 libra, isto é,
aos custos de produção de I, dá renda = valor .de mercado - preço de cus-
to de I,
Pode-se dizer também que é por causa da fertilidade de IV que I não
dá renda, pois, enquanto os concorrentes no mercado eram apenas II e III,
dava ele renda: e continuaria a dá-la, embora menor, apesar do apareci-
mento de IV, apesar da oferta adicional, se IV com o dispêndio de 100
libras de capital produzisse 80 toneladas em vez de 92 1/2.
724
Terceiro: admitimos que a renda absoluta para dispêndio de capital
de 100 libras fosse de l O libras = 10% sobre o capital ou 1/11 do preço
de custo, e que por isso o valor do produto de 100 libras de capital na
agricultura = 120 libras onde 1O libras são lucro.
E não se imagine que, se dizemos terem sido gastas 100 libras de
capital na agricultura e se uma jornada de trabalho = l libra, foram então
empregadas 100 jornadas. Em geral, se um capital de 100 libras = 100
jornadas, o novo valor resultante nunca é igual a 100 jornadas, não impor-
ta o ramo de produção onde se despenda esse capital. Seja 1-libra de ou-
ro = 1 jornada de 12 horas, e esta seja a jornada normal; então, a primei-
ra pergunta a fazer é: a que taxa se explora o trabalho? Isto é, quantas
horas das 12 o obreiro trabalha para sí, para reproduzir o salário (o equi-
valente), e quantas· grátis para o capital? Isto é, qual é a quantidade de
tempo de trabalho que o capitalista vende sem a ter pago e que constitui
a fonte da mais-valia, do acréscimo do capital? Se a taxa é 50%, o obrei-
ro trabalha 8 horas para si e 4 grátis para o capitalista. O produto = 12
horas = 1 libra (urna vez que 12 horas de tempo de trabalho contêm, se-
gundo o pressuposto, l líbra de ouro). Dessas 12 horas= 1libra,8 repõem
o salário para o capitalista, 4 formam sua mais.valia. Para um salário de
13 1/3, a qia.Ís-valia ê igual a 6 2/3 xelins, ou para um desembolso de ca·
pital de 1 libra, 10 xelins, e de l 00 libras, 50. Então, o valor da mercado-
ria produzida com as l 00 libras de capital seria de 150 libras. O lucro do
capitalista consiste, de resto, na venda do trabalho nã'o pago inserido no
produto. O lucro normal provém da venda desse elemento não pago.
A segunda pergunta é: qual é a composição orgânica do capital?
A parte do valor do capital constituída por maquinaria etc. e matéria·
prima simplesmente 'se .reproduz no produto, reaparece e não varia.
O capitalista tem de pagar essa parte do capital pelo valor que ela tem.
Ela entra no produto como valor preestabelecido, dado. Só o tra-
balho que o capitalista emprega, entra por inteiro no valor do pro-
duto e o capitalista o compra por inteiro, embora só pague fração dele.
Admitida a taxa mencionada de exploração do traba1ho, a quantidade da
mais-valia para capita1 de magnitude igual dependerá portanto de sua com-
posição orgânica. Se o capital a é 80c + 2Dy, o valor do produto = 110,
e o lucro = 10 (embora não se paguem aí 50% do trabalho). Se o capital
b = 40c + 60v, o valor do produto = 120, e o lucro= 20, embora tam·
bém não se paguem aí 50% do trabalho. Se o capital e= 60c + 40V' o valor
do produto = 120, e o lucro = 20%, embora se eleve a 50% a percentagem
de trabalho não pago. Assim, temos para os 3 capitais = 300, lucro to-
725
tal = 1O + 30 + 20 = 60. Isso dá média, na base de 100, de 20%. E cada
um dos capitais faz essa média, se vende a mercadoria que produzi!-! por
120 libras. Assim, o capital a, SOc + 20v, vende o produto 10 libras acima
do valor, o capital b, 40c + 60v, 10 libras abaixo, e o capital e 60c + 40V'
pelo valor. Em conjunto, as mercadorias se vendem pelo valor: 120 + 120 +
+ 120 = 360. Na realidade, o valor de a+ b +e== 110+ 130 + 120 = 360
libras. Mas os preços das distintas categorías estão ora acima, ora abatxo,
ora no nível do valor, a fim de cada uma delas proporcjonar lucro de 20%.
Os valores assim modificados das mercadorias são os preços de custo de-
las, os centros de gravitação constante que a concorrência estabelece para
os preços de mercado.
Para as 100 libras agora aplicadas na agricultura admitamos que, se
a composição é 60c + 40v (v aí talvez ainda esteja subestimado demais),
o valor do produto = 120. Isso, porém, estaria igual ao preço de custo da
indústria. Por isso, no caso acima suporemos que o preço médio, para
produto de capital de 100, seja 110 libras. Dizemos então que, se o pro-
duto agrícola é vendido por seu valor, estará este 10 libras adma do pre-
ço de custo do produto, Dá então uma renda de 10%, e consíderaremos
que o normal na produção capitalista é o produto agrícola, em contraste
com os demais, vender-se, eni virtude da propriedade fundiária, não pelo
preço àe custo e sim pelo valor. A composição da totalidade do capital
é 80c + 20v se o lucro médio é 10%. Admitimos que: a do capital agríco-
la = 60c + 40v, ou que, em sua composição, se desembolsa .proporção
maior em salário - trabalho imediato - que no montante -global do ca-
pital despendido nos demais ramos industriais. Isso indica desenvolvimen-
to rei.ativo inferior da produtividade do tràbalho naquele setor. Sem dúvi-
da, em alguns ramiJs agrícolas, na pecuária por exemplo, a composição
pode ser 90f; + 10.,., isto é, a razã'o- v : e menor que na totalidade do capí·
tal industrial. Mas não é esse ramo que determina a renda e sim a agrícul·
tura no sentido estrito e precisamente aquele segmento que produz o
principal meio de subsistência, o trigo etc. A renda nos outros ramos não
é determinada pela composição do capital neles aplicado, mas pela com-
pos.íção do capital empregado na produção do meio de subsistência prin·
cipaJ. A mera existência da produção capitalista pressupõe que a alimen-
tação vegetal em vez da animal seja o elemento de maior peso dos meios
de subsístência. A inter-relação das rendas dos diferentes ramos é questão
secundária que aqui não nos interessa nem é objeto de exame.
Assím, para a renda absoluta ser igual a 10%, pressupõe-se que a
composição média geral do capital não agrícola seja ígua1 a 80c + 2f\ e
a do capital agrícola= 60c + 40v·
726
Pergunta-se agora se teria influencia no caso da classe I que não
paga renda, admitido em D, a circunstância de o capital agrícola se com-
por de outra maneira, por exemplo, 50 + !{lv ou 70c + 30v. Na primeira
hipótese, o valor do produto seria iguaf a 125 libras, na segunda, 115. Na
primeira hipótese, a diferença oriunda da composição diversa do capital
não agrícola seria igual a 15 libras e, na segunda, 5. Isto é, a diferença
entre o valor do produto agrícola e o preço de custo seria, na primeira
hipótese, 50% superior à da suposição acima, e na segúnda hipótese, 50%
inferior.
Concretizada a primeira hipótese, o valor do produto de 100 libras
seria igual a 125 libras, e assim no quadro A o valor da tonelada de 1 seria
igual a 2 1i12 libras. E este seria o valor de mercado de A, uma vez que l
o determina aí. Em contrapartida, o preço de custo de I A continuaria a
ser de 1 5/6 libra. Uma vez que, segundo Sé pressupôs, as 292 1/2 tonela·
das_ só poderiam ser vendidas a 1 5/6 libra, não proviria alteração daquele
fato nem da composição do capital agrícola de 70c + 30v, ou seja, da cir-
cunstânda de a diferença entre o valor do produto agrícola e o preço de
custo ser apenas 5 libras, metade do que se admitiu. Suposto constante o
preço de custo e portanto a composição orgânica média do capital não
agrícola = 80c + 20v a do capital agrícola, superior ou inferior, n:ro faria
diferença para esse casb (I D), embora trouxesse alteração considerável
para o quadro A, implicando diferença de 50% na renda absoluta.
Mas, ao revés, admitamos: a composição do capital agrícola continua
a ser 60c + 40v e a do capital não agrícola varia. Em vez de 80c + 20v pas-
sa a ser 70c + 30 v ou 90c + lOv. Na primeira hipótese, o lucro = 1S libras
ou 50% além da suposição anterior; na segunda, seria ígual a 5 ou 50% abai-
xo. Na primeira, a renda,_absoluta = 5 libras. Mais uma vez, i~o nã'o alte-
raria o caso l D. No segundo caso, a renda absoluta = 15, o que também
não modificaria o caso I D. Nada disso portanto altera esse caso, embora
tudo isso seja importante para os quadros A, B, C e E, isto é, para a deter-
minação absoluta da renda absoluta e diferencial, sempre que a nova clas-
se - seja a seqüência ascendente ou decrescente - só forneça a procura
adicional necessária ao antigo valor de mercado.
Surge agora a seguinte pergunta;
Esse caso D pode ocorrer na prática? E antes disso: é o caso normal,
como supõe Ricardo? Só pode ser o caso nonnal numa de duas situações
alternativas:
Ou se o capital agrícola fosse 80c + 20v, ·com a mesma composição
média do capital nlfo agrícola, de modo que o val.or do produto agrícola
727
fosse igual ao preço de custo do produto hão agrícola. Isso por enquanto.
é um erro estatístico. A suposição da produtividade relativamente in~erior
da agricultura em todo caso é mais objetiva que o postulado ricardiano
de decréscimo absoluto progressivo de sua produtividade. ·
No capítulo I "On Value" admite Ricardo que em minas de ouro
e prata vigora a composição média do capital (se bem que fale aí apenas
de capital fixo e capital circulante; mas é o que vamos "corrigir"). Com
esse pressuposto, essas minas só poderão dar renda diferencial e nunca
renda. absoluta. O próprio pressuposto fundamenta-se por sua vez noutro,
o de que a oferta adicional fornecida pelas minas mais ricas é sempre maior
que a oferta adicional exigida ao velho preço de mercado. Mas é de todo
inconcebível o motivo por que o oposto não poderá por igual suceder.
A mera existência da renda diferencial já mostra que é possível oferta adi-
cional sell) se alterar o valor de mercado dado. Pois N ou Ili ou II não
forneceriam rendas diferenciais se não vendessem pelo valor de mercado
de I - não importa como seja determinado -, isto é, por preço de merca-
do determinado sem deperuitncía da grandeza absoluta da oferta deles.
Ou na outra situação: o caso D terá de ser sempre o nonnal se as
condições nele supostas forem sempre as normais; isto é, se I pela con-
corrência de IV, III e I, em especial de IV, for sempre forçado a vender
seu produto abaixo do valor - deduzido o montante :da renda absolu-
ta -, pelo preço de custo. A mera existência da renda diferencial em IV,
III'e II demonstra que eles vendem por valor de mercado superior a seu
valor individual. Se Ricardo adnlite que isso não pode ocorrer com 1 é ape-
nas porque pressupõe a ímpossibilidade da renda absoluta, e isto porque
supõe a identidade entre valor e preço de custo.
Tomemos o caso C onde as 292 l/2 toneladas se escoam ao valor
de mercado de 1 libra e 16 12/13 xelins. Como Ricardo, partamos de IV.
Enquanto só forem necessárias 92 1/2 toneladas, N vende a tonelada por
1 libra e 5 35/37 xelins, portanto mercadoria produzida com 100 libras
de capital por seu valor de 120 libras, o que proporciona a renda absolu-
ta de 10 libras. Por .que precisa IV vender sua mercadoria abaixo do valor
e ao preço de custo dela? Enquanto estiver sozinho, Ili, II e 1 não lhe
podem fazer concorrência. O mero preço de custo de III está acima do va-
lor que pennite a IV renda de 1O libras, e mais acima ainda o preço de
custo de II e o de I. Estes e III não poderiam portanto concorrer mesmo
vendendo essas toneladas pelo preço de custo puro e simples.
Admitamos que exista uma classe única - o melhor ou o pior tipo
de solo, IV óu I, III ou II, o que em nada altera a teoria - comn dádiva
728
elementar, isto é, como dádiva elementar em relação à quantidade do ca-
pital dado e do trabalho, a qual está em geral disponível e pode ser absor-
vida por esse ramo de produção, de modo que essa classe n!o estabeleça
portanto limites e seja um campo de ação ilimitado para a massa existen-
te de capital e de trabalho; admitamos por isro que não exista renda di-
ferencial porque os solos cultivados não diferem na fertilidade natural,
não havendo portanto renda díferencial (mesmo evanescente); admitamos
ainda que não exista propriedade da temz; então, é evidente que não há
renda absoluta e portanto nenhuma renda em geral (uma vez pressuposta
a inexistência de renda díferencial). Isto é tautologia, pois a existência
da renda fundiária absoluta, além de pressupor a propriedade da terra, é
a propriedade fundiária pressuposta, isto ê, a propriedade fundiária con-
dicionada e modificada pela ação da produção capitalista. Essa tautologia
em nada resolve o problema, uma vez que explicamos a formação da ren-
da fundiária absoluta justamente pela resisttncia que a propriedade da ter-
ra na agricultura opõe ao nivelamento capitalista dos valores das merca-
dorias a preços médios. Se supriminnos essa ação da propriedade da ter-
ra - essa resistência, a resistência específica contra a qual se choca a con-
corrênciã d.os capitais nesse campo de atividade - suprimiremos sem dú-
vida a condição prévia para a existência da renda fundiária. Aliás•.. a supo-
sição se contradiz: de um lado, produção capitalista desenvolvida (como
vê muito bem Wakefield em sua teoria colonial~); do outro, a não exis-
tência da propriedade da terra. Donde poderão vir nesse caso os trabalha·
dores assalariados?
Algo aproximado ocorre em colônias, mesmo quando existe pro-
priedade da terra legalmente, no sentido de ser a terra dada grátis pelo go-
verno como de iníê:io aconteceu na colonização tnglesa, e mesmo quando
o governo institui na realidade a propriedade fundiária, ao vender a terra,
embora a preço msignificante, como nos Estados. Unidos, a l dólar mais
ou menos por acre.
Há aí duas coisas a distinguir:
Primeil'o: trata-se de verdadeiras colônías como nos Estados Unidos,
Austrália etc. Aí a massa dos colonos agricultores, embora traga da terra
natal montante maior ou menor de capital, não constitui classe capitalis-
ta, nem sua produção é a capitalista. São mais ou menos camponeses que
trabalham autonomamente, para os quais o fundamental, antes de tudo,
729
é prodU?ir o préJprio sustento, os meios <J,e subsistência, e cujo produto
principal portanto não se torna mercadoria e não se destina ao comér~io.
Vendem, trocam o que de seus produtos excede o próprio consumo por
manufaturas importadas etc. A outra parte dos colonos, menor, estabele-
cida ·em zonas marítimas ou â margem dos rios navegáveis forma cidades
comerciais. Ainda não se pode falar af de produção capitalista. Mesmo que
esta se desenvolva gradualmente, de modo a se tornarem decisivos para o
agricultor - que é trabalhador autônomo e dono da terra - a venda de
seus produtos e o ganho que obtém com essa venda. ainda assim a pri-
meira forma de colonização se efetiva e prossegue enquanto a terra exfa·
tir em abundância elementar em face do capital e do trabalho e na práti·
ca permanecer portanto campo ilimitado de ação; por isso, a produção
nwica será regulada de acordo com as necessidades do mercado, a dado
valor de mercado. Tudo o que os colonos da primeira espécie produzem
acima do consumo direto, lançam no mercado e vendem a qualquer pre-
ço que lhes dê mais que o saláóo. São e permanecem por muito tempo
concorrentes dos arrendatários que produzem ma.is ou menos segwido
o modo capitalista, e por isso mantêm sempre o preço de mercado do
produto agrícola abaixo do respectivo valor, O arrendatário que assim
cultiva terreno da pior espécie 'ficará muito satisfeito se obtiver o lucro
médio na venda de sua empresa agrícola, quando recupera' o capital em·
pregado, o que não se dá em grande número de casos. Competem aí por-
tanto duas circunstâncias essenciais: primeiro, a produção capitalista ainda
não predonúna na agricultura; segundo, embora legal, a propriedade da
terra tem existência real apenas esporádica e no sentido estrito há apenas
posse da terra. Ou a propriedade da terra, embora exista legalmente, ain-
da é incapaz, em face da abundância elementar do solo em relação a tra-
balho e capital, de oferecer resistência ao capital, de transfonnar a agri-
cultura num campo de ação que opõe ao emprego de capital resistência
especlÍlca em contraste com a indústria não agrícola.
Na segunda espécie de colônias - as grandes fazendas (plantations)
- destinadas desde o início ã especulação comercial e com a produção
voltada para o mercado mundial, verifica-se produção capitalista, embora
fomtalmente apenas, uma vez que a escravatura negra exclui o assalaria-
do livre, portanto o fundamento da produção capitalista. Mas são os ca·
pitalistas que fazem o tráfico negreiro. O modo de produção que intro-
duzem não provém da escravatura, mas nela se enxerta. Nesse caso, capi·
talista e proprietário da terra são a mesma pessoa. E a existência da terra
como elemento abundante em relação ao capital e ao trabalho não opõe
730
ao emprego de capital e, por conseguinte, à concorrência entre os capi-
tais, resistência alguma. Não se desenvolve aí nenhuma classe de agricul-
tores que se distinga dos donos das terras. Enquanto durar essa situação,
nada impede que o preço de custo regule o valor de mercado.
Todas essas precondíções nada têm a ver com aquelas em que exis-
te renda fundiária absoluta: isto é, produção capitalista desenvolvida, de
um lado; do outro, propriedade fundiária que, além de existir legalmen-
te, ainda resiste ao capital, defende contra ele o campo de atuação e só
lhe cede caminho sob certas condições.
Nessas circunstâncias, mesmo quando só se cultiva IV, ou lII ou II
ou 1, exjstlrá renda fundiária absoluta. O capital só pode conquistar no-
vo espaço na classe única existente pagando a renda fundiária, isto é, ven-
dendo o produto· agrícola pelo respectivo valor. Também só nessas circuns·
tâncias pode-se falar de comparação e diferença entre o capital empregado
na agricultura (isto é, num elemento natura1 como tal da produção primá·
ria) e o empregado na indústria não agrícola.
A questão agora é esta:
Se 1 é o ponto de partida, é claro que II, III e IV geram apenas a ofer-
ta adicional permitida pelo velho valor de mercado, venderão pelo valor
de mercado detenninado por 1 e, por isso, fornecerão, além da renda abso·
luta, renda diferencial na razão da fertilidade relativa. Ao revés, se o pon-
to de partida é IV, algumas objeções parecem possíveis.
:E que vimos que II obtém a renda absoluta se vende o produto pelo
respectivo valor, l 11/13 libra ou 1libra16 12/13 xelins.
No quadro D, o preço de custo de III, da classe seguinte na ordem
decrescente, está maís alto que o valor de IV que dá renda de 1O libras.
Aí não pode haver· problema de concorrência ou de guerra de preços,
mesmo quando III venda ao preço de custo. Mas se IV não satisfaz mais
a procura e o mercado exige quantidade superior a 92 l /2 toneladas, subi·
rá seu preço. Nesse caso já terá de subir de 3 43/111 xelins por tonelada,
para 111 poder concorrer mesmo a seu preço de custo. Pergunta-se: nessa
situação concorrerá UI? Reformulemos o caso. A procura não precisa ter
acréscimo de 75 toneladas para o preço de IV subir para 1 libra e 12 xe-
lins, o valor individual de UI, pelo menos no caso de produto agrícola do-
minante, quando insuficiência da oferta causa alta de preço bem maior
que a correspondente à queda aritmética da oferta. Mas, se IV tiver subi·
do para 1 libra e I2 xelins, III proporcionará a esse valor de mercado, igual
a seu valor individual, renda absoluta, e IV, renda diferencial. Desde que
se verifique uma procura adicional, III pode vender a seu valor indívidua1
731
pois então óomina o vaiar de mercado e em absoluto nã"o haveria motivo
:<ara que o proprietário da ten-a renunciasse à renda.
Mas admitamos suba o preço de mercado de IV apenas a 1 libra e
9 1/3 xelins, o preço de cus/o d.e UI. Ou para tomar o caso mais contun-
dente: seja o preço de custo .de III somente 1 libra e 5 xelins, isto é, a ri-
gor 1 8/37 xelins mais aJto que o preço de custo de IV. Tem de ser mais
àlto por ter fertilidade inferior à de IV. Agora, pode III entrar no empreen-
dimento e concorrer com IV que vende acima do preço de custo de III,
a saber, a 1 libra e 5 3$/37 xelins? Ou sucede procura adicional ou não.
No primeiro caso, IV terá o preço de mercado acima de seu valor, acima
de l líbra e 5 35/37 xelins. E III então, não importam -as circunstâncias,
venderá acima de seu preço de custo, ainda que não chegue ao montante
global de sua renda absoluta.
Ou não há procura adicional. Aí são possíveis dois casos. Só pode
entrar em cena a concorrência de III se o arrendatário de III for seu pró-
prio senhorio e se a propriedade da terra não opuser a ele como capitalis-
ta obstáculo algum, resistência alguma, pois ele a tem sob seu domínio,
não na qualidade de capitalista e sim na de proprietário. Sua concorrên·
eia forçará IV a vender abaixo do preço até então vigente de 1 libra e
5 35/37 xelins e mesmo abaixo •do preço de 1 libra e 5 xelins. Com isso,
III será posto fora de campo. E IV poderá sempre expuJsar · III. Bastará
reduzjr o preço aos próprios custos de produção inferiores aos de III. Mas,
se o mercado se expandir em virtude da rebaixa de preço provocada por
III, que sucederá? Ou o mercado se expande de modo que'IV·pode conti-
nuar colocando suas 92 1/2 ton~ladas apesar das 75 novas toneladas adi·
cionadas, ou não vai a tanto, de modo que sóbra parte do produto de IV
e IlI. Nesse caso, IV manterá redução de preço, uma vez que domina o
mercado, até que o capital em III se reduza ao montante adequado, isto
é, nele só se empregue a quantidade de capital a rigor suficiente para per-
mitir a absorção do produto todo de IV. Mas a 1 libra e 5 xelins poder-
se-á vender a totalidade do produto, e uma vez que III vende parte do pro-
duto a esse preço, IV não poderá vender acima dele. Este porém seria o
único caso possível, superprodução momentânea que não deriva de uma
procura adicional e que leva a uma expansão do mercado; E este caso só
é possível quando capitalista e proprietário da terra são idênticos em III -
isto é, de novo se admite que a propriedade fundiária não existe como
poder em oposição ao capital, por ser o próprio capitalista proprietário
da terra e sacrificar o proprietário da terra ao capitalista. Mas, se a pro-
priedade fundiária como tal se contrapõe ao capital em III, não haverá
732
motivo para que o proprietário da tena ceda seus acres à agricultura sem
obter Ultlll renda, para que os ceda, portanto, antes de o preço de IV ter
subido pelo menos acima do preço de custo de UI. Sempre que a alta
seja diminuta, III deixará de ser campo de ação do capital em todo pais
de produção capitalista, exceto se não tiver outra forma de obter renda.
Mas nunca será cultivado antes de dar uma renda, de o preço de IV ficar
acima do preço de custo de III, portanto, antes de IV dar uma renda di-
ferencial além de sua renda anterior. Com o crescimento posterior da
procura, o preço de III subirá até seu valor, uma vez que o preço de cus-
to de II está acima do valor individual de III. II será cultivado logo que o
preço de III ultrapasse 1 libra e 13 11/13 xelins, dê portanto a li uma
renda qualquer.
Mas em D supõe-se que I niio dá renda. E isto só porque se admítiu
que I era terra já cultivada, sendo forçado, pela mudança no valor de· mer·
cado oriunda da entrada de IV, a vender abaixo de seu valor, a seu preço
de custo, Só continuará a ser assim explorado se o proprietário mesmo
for o arrendatário, isto é, se nesse caso lndividw.zl a propriedade da ter·
ra desaparece em face do capital, ou quando o arrendatário for um pe-
queno capitalista que se contenta com menos de 10%, ou um trabalha-
dor que quer apenas conseguir o salário ou algo mais e paga seu trabalho
excedente, 10 ou 9 ou menos de 10 libras, ao dono da terra e não ao ca·
pitalista. Nos dois últimos casos paga-se de fato arrendamento, mas sem
haver a figurn econômica da renda, a matéria que nos interessa aqui. Num
caso, o arrendatário é mero trabalhador; no outro, um ser híbrido entre
traballiador e capitalista.
Nada mais absurdo que sustentar não poder o dono da terra retirtn
seus acres do mercado com a mesma facilidade com que o capitalista re-
tira seu capital de um ramo de produção. O que melhor evidencia esse
absurdo é a quantidade de terra fértil que não é cultivada nos países mats
desenvolvidos da Europa como a Inglaterra, é a terra que se transfere da
agricultura para a construção de vias férreas ou de moradias ou se reserva
para esse fim, ou que o dono dela destina a clubes de atiradores ou a ca-
ça como nas terras altas da Escócia etc. O que melhor evidencia o absur-
do é a luta vã dos trabalhadores íngleses para se apossarem dos terrenos
baldios.
Note-se: em todos os casos em que a renda absoluta cai abaixo de
seu montante - o que se dá em II D porque aí o valor de mercado está
abaixo do valor individual da classe, ou em II B onde parte do capital,
em virtude da concorrência do melhor solo, tem de ser retirada do pior,
ou em I D onde a renda desaparece de todo temos por pressuposto:
733
(l) onde ela desaparece de todo, o dono da terra e o capitalista
constituem a mesma pessoa, e assim aí se desfaz, em caráter individµal
e excepcional, a resistência da propriedade fundiária contra o ~pital e a
limitação do campo de ·ação deste por aquela. A condição prévia da pro-
priedade fundiária desaparece como nas colônias, só que de maneira in-
dividualizada;
(2) a concorrência das melhores terras gera superprodução - tam-
bém a das piores (na seqüência decrescente) - e força a expansão do mer-
cado, cria procura adicional por meio de redução violenta do preço. Mas
este é a rigor o caso que Ricardo não pressupõe, pois raciocina sempre na
base do postulado de só ser provida a procura adicional necessária;
(3) II e I - em B, C, D - nã'o pagam nenhuma renda absoluta ou
não pagam o montante global dela porque são forçados. pela concorrên-
cia das melhores terras a vender seu produto abaixo do, valor dele. Ricardo,
ao contrario, supõe que eles vendem seu produto pelo respectivo valor e
que o pior solo sempre determína o valor de mercado, quando no caso I
D que ele considera o normal ocorre justamente o oposto. Ademais, seu
raciocínio pressupõe a seqüência decrescente da produção.
Admitamos que a composição média do capital não agrícola= 80c +
+ 20v, taxa de mais-valia = 50% e a composição do capital agrícola =
= 90c + l Ov, isto é, superior à do capital industrial, o que· é historicamen-
te falso para a produção capitalista; então, não have·rá renda fundiária
absob.Jta; se a composição do capital agrícoia = soe + 2Qv• ~ que até ho-
je não ocorreu, não haverá renda absoluta; se inferior, <por exemplo,
60c + 40v, haverá renda furuliária absoluta. ·.
De acordo com a posíção das diferentes classeS em sua relação com
o mercado, isto é, a proporção em que esta ou aquela classe domina ;
mercado, e pressuposta a teoria, podem surgir:
A. A última classe paga renda absoluta. Determina o valor de mer*
cado porque todas as classes a esse valor de mercado só fornecem a ofer-
ta necessária.
B. A última classe determina o valor de mercado; paga renda abso-
luta, a taxa inteira desta, mas não a totalidade do montante anterior, por-
que a concorrência de l!I e IV a força a retirar da produção parte do ca-
pital.
C. A oferta excedente que as classes I. II, III e IV proporcionam ao
antigo valor de mercado força a baixa deste, mas esta - regulada pelas
classes superiores - expande o mercado. I só paga parte da renda absolu-
ta e U apenas a renda absoluta.
734
D. O mesmo domfuio do valor de mercado pelas melhores classes
ou domínio das piores classes por oferta excedente destrói por completo
a renda de 1 e red.uz a de II abaixo de seu montante absoluto; por fim, em:
E. Mediante queda do valor de mercado abaixo do preço de custo
de 1, as melhores classes o expulsam do mercado. Então II regula o valor
de mercado porque, a esse novo valor de mercado, todas as 3 classes só
proporcionam a oferta nece$árla.
Voltemos a Ricardo.
737
lista desenvolvida, e é por igual errado considerá-la o caminho histórico
na velha Europa.)
738
cardo, só se pode pagar renda diferencial. Ricardo, contudo, em vez de
se cingir a isso, de imediato concluí - sem levar em conta sua suposição
da inexistência da propriedade fundiária - que nunca se paga renda abso-
luta pelo uso da tena, mas apenas renda diferencial,,
Tudo, portanto, se reduz a isto: se existe em excesso terra inculta
em face do capital, este se move na agricultura da mesmo. maneíra como
em qualquer outro ramo industrial, Então não exisj:e propriedade da tf!f'·
ra, nem renda. No máxímo, quando uma área é mais fértil que a outra,
podem existir lucros suplementares como na indústria. Nesse caso, fixar-
se-ão como renda diferencial em virtude da base natural que têm nos di-
ferentes graus de fertilidade do solo.
Ao revês, se a terra ê (1) limitada e (2) objeto de propriedade, o ca-
pital encontra á propriedade da terra ·como condição prévia, e é o q_ue
sucede onde se desenvolve a produção capitali.Sta; onde o capital não en-
contra essa precondição existente na velha Europa, ele mesmo a cria co-
mo nos Estados Unidos, e desse modo a terra não é a priori um campo
elementar de ação do capital. Daí a renda absoluta, além da renda dife-
rencial. E as transições de uma classe de terra para outra, sejam as ascen-
dentes,- I, II, III, IV, ou descendentes, IV, III, li e I, se processam de ma-
neira diferente da suposição de Ricardo. l! que o emprego de capital en·
contra resistência da propriedade fundiária tanto em 1 quanto em II, III
e IV e o mesmo se dá quando se passa de IV para III etc. Não basta, quan-
do se transita de IV para III, que o preço de IV esteja suficientemente
alto para se poder aplicar o capital em III com lucro médio. E mister que
esteja tão alto que se possa pagar renda em ll1. Se a transição se faz de I
para II etc., já está evidente que o preço que pagava renda a 1 paga a II
não só essa rendâ, ·porém mais ainda renda diferencial. Ao supor a ine-
xistência da propriedade da terra, Ricardo, sem dúvida, não eliminou a
lei estabeleci.da pela existência e com a existência da propriedade da terra_
Logo depois de mostrar como pode surgir renda diferencial com
sua suposição, prossegue Ricardo;
739
(com isso de modo nenhum se diz que cada passo no desenvolvimento da
popu1ação forçará um paz's a reco"er a terra de pior qualidade),
Não diz nem pode dizer "se fossem ricas e fért~.is", pois essa condi-
ção nada teria absolutamente a ver com a lei. Se as tenas, em vez de ri·
cas e férteis, fossem pobres e estéreis, cada colono teria de cultivar pro-
porção maior da totalidade das terras, e assim chegariam elas mais depres-
sa, com o crescimento da população, ao ponto onde o excesso prático de
terra deixaria de ser efetivamente ilimitado em relação à população e ao
capital.
Não há aí a menor dúvida de que os colonos não escolherão as ter-
ras menos férteis e sim as mais férteis, isto é, as terras mais férteis para
os meios de cultivo a seu dispor. Mas este não é o único limite à sua es-
colha. Para eles, o que é decisivo, primeiro, é a situação, a localização nas
regiões marítimas, nas margens dos grandes rios etc. Não importa a ferti·
lidade do oeste americano etc. Os colonos se estabelecem naturalmente
em Nova Inglaterra, Pensilvânia, Carolina do Norte, Virgínía etc., em su-
740
ma, na costa oriental do Atlântico. Se escolhem a terra mais fértil, só es·
colhem a terra maf.s fértl1 nessas áreas. Isso não os impediu de cultivarem
depois terras mais férteis no Oeste, logo que o crescimento da população,
a formação de capital, o desenvolvimento das eomunicações e a constru·
ção de cidades lhes tomaram acessíveis as terras mais férteis nessa região
num distante. Não procuram a região mais fértil, mas a melhor situada
e dentro dela naturalmente - iguais as demais condições de situação - a
terra mais fértil. Mas isso por certo não prova que passam das terras mais
férteis para as menos férteis, e sim que, na mesma região, suposta igual.
dade de situação, a terra mais fértil é cultivada antes da menos fértil.
Mas Ricardo, depois de substituir, com acerto, "abundância de ter·
ras ricas e férteis" por "terras de propriedades iguais, quantidade ilímita·
da e qualidade igual", formula o exemplo e daí retrocede pulando para
a primeira suposição que é falsa.
741
preço que faz declinar de novo a renda 9.a região 1 (para o mesmo produ-
to), e que a II com o tempo se revela no mercado o solo mais fértil à me-
dida que desaparece a desvantagem da situação. ·
E portanto evidente;
que, na condição prévia que o próprio Ricardo expressa, de ma-
neira correta e geral, para surgir a renda diferencial - "todas as terras...
com os mesmos atributos. .. ilimitadas em quantidade ... iguais em quali-
dade" -, não se inclui a circunstância da transição de terras mais férteis
para menos férteis;
que essa transição também não corresponde aos fatos da histó·
ria da colonização dos Estados Unidos, a qual ele tinha e:m vista como
Smith, e daí se justificarem nesse ponto as objeções de Carey;
que o próprio Ricardo transtorna de novo o problema ao acres-
centar o fator "situação": ..cultiva-se primeiro a terra mais fértil e me-
lhor situada':·
que Ricardo demonstra seu pressuposto arbitrário com um exem-
plo onde se pressupõe a proposição a demonstrar, a saber, a transição das
melhores terras para terras cada vez piores;
que por fim (com vistas, por certo, à explicação da tendência a
cair da taxa geral de lucro) e'stabelece ele esse pressuposto por não poder
encontrar outras explicações para a renda díferencit1!. embora esta em na-
da dependesse da circunstância de a seqüência ser I, II, III, IV ou IV, Ill,
ll, I.
742
capitalista. Mas talvez o colono chegado da '\relha pátria" veja a coisa
assim. Se a população cresce a ponto de se ter de cultivar o tipo 2, o 1 da·
rá uma renda de 1O quarters. Supõe-se aí naturalmente que "ninguém se
apropriou" das áreas do tipo 2 e 3 e que elas continuam na prática "ili·
mitadas" em relação à população e capital. Do contrário, as coisas pode·
riam as.sumir outro curso. De acordo com aquela suposição, portanto, o
tipo 1 dará uma renda de 10 quarters:
743
(1) "Renda (rent) é sempre a diferença no produto obtido pelo empre-
go de duas quantidades iguais de capital e de trabalho" (p. 59).
(2) "não pode haver duas taxas de lucro" (p. 59). "Jl; certo que se obte-
tá na melhor terra o mesmo produto com o mesmo trabalho anterior,
mas seu valor subíni em vitÇude dos resultados reduzidos que obtêm
aqueles que empregam tlabalho e capital novos em teua menos fértil.
Por isso, as vantagens das terras férteis sobre as inferiores, embora em
nenhum caso se percam, mas :e transfiram do agricultor ou do consumi·
dor para o dono da teua, todavia - uma vez que é mister mais txabalho
nas terras inferiores, e só e&SIJB terras nos podem prover com a ofertlJ
adiclonal de produtos agrícolas -, o valor relativo desses produtos per-
manecerá acima do nível anteriot e se trocará por mais chapéus, rou-
pas, sapatos etc. em cuja produção não se exige aquela quantidade adi-
cional de trabalho" (pp. 62, 63).
"A tazão para o acréscimo do valor relativo dos produtos agrícolas é
o emprego de mais trabalha para produzir a última porção obtida, e
níio a circunstância de ae pagar remio ao proprietârio da terra. O vakJr
do trigo é determinado pela quantidade de trabalho aplicada para pro-
duzi-lo em terra daquela qualidade - ou com a porção. do capital - a
qual não dá renda. O· preço do trigo é alto não porque se paga renda,
mas paga.se renda porque o preço do trigo é alto. Com acerto já se ob-
servou que nenhuma redução ocorreria no preço dq. trigo, se os donos
das terrai:. renuncíassem à totalidade da renda. Tal medida apenas pos-
sibilitaria a alguns agricultores viverem como fidalgos, ma§ não dimi-
nuiria a quantidade de trabalho necessária pua se. obterem produtos
agrícolas na terra cultivada menos produtiva" (p. 63)."
744
Mas, além disso, no trecho acima citado há várias asserções erradas
ou unilaterais. Outras causas, além da mencionada, podem aumentar o va-
lor comparativo - aqui no sentido apenas de valor de mercado - do pro-
duto agrícola: primeiro, se até então se vendia esse produto abaixo do va-
lor, talvez abaixo do preço de custo, o que sempre ocorre em certo está-
dio da sociedade no qual a produção do produto agrícola ainda se desti·
na na maior parte à subsístência do agricultor (o que também se dava na
Idade Média, quando se assegurava ao produto urbano preço de monopó-
lio); segundo, quando o produto agrícola ainda não se vende pelo valor,
em contraste com as demais mercadorias, que se vendem ao preço de custo.
Por fnn, é correto dizer que pa,ra o preço do trigo nada se altera se
o dono da terra renuncia à renda diferencial e o agricultor a embolsa. Isto
não se estende à renda absoluta. -E errado dizer que a propriedade fundiá-
ria não eleva o preço do produto agrícola. Ao revés, isso se dã porque a
intervenção da proprieda& privada faz o produto agrícola ser vendido
pelo valor que excede o preço de custo. Suposto, como acima, o capítal
médio não agrícola = 80c + 20v, a mais-valia = 50%, a t~a de lucro seria
igual a 10 e o valor do produto a 110. Em contrapartida, o capital agríco-
la = 60c + 40v, valor = 120. O produto agrícola se vende a esse valor. Se
a propriedade da terra não existe de direito nem de fato, em virtude da
abundância relativa de terra como nas colônias, vender-se-ia o produto
por 115. E que o lucro global do primeiro capital e do segundo (de 200)
= 30, e assim o lucro médio = 15. O produto não agrícola seria vendido
por 115 e não por 11 O; o produto agrícola, a 115 e não por 120. Por con-
seguinte, o valor relativo do produto agrícola cairia de 1/12 em confron-
to com o produto não agrícola; mas, para ambos os capitais - ou para a
totalidade do capital - o agrícola e o industrial, o lucro médio subiria
de 50%, de 10 para 15.
Diz Ricardo de sua própria concepção de renda:
745
mais baratas, porque há sempte uma parte dessas mercadorias a qual
nenhuma rendo paga ou pode pagai', pois o produto excedente só dá
para pagar o lucro do capital" (Rica.rdo,Princ., 1.c., pp. 332, 333).
* * *
"A elevação da renda é 11empre o resultado da riqueza crescente do país
e da dificuldade de proverdealimentosapopulaçãoacrescida" (pp. 65, 66}.
"A riqueza aesc.e mais rápida naqueles países onde a terra disponível
é mais fértil e a importação menos limítada, onde a produção sem acrés~
cimo proporcional da quantidade de trabalho pode .ser multiplicada
por meio de melhoramentos da exploração agrícola e o~e por .itso é
lento o progresso da renda" (pp. 66, 67).
746
da seria parte componente do preço. Mas o trigo produzido com a maior
quantidade de trabalho é o regulador do preço do trigo, e a renda de ma-
neü:a nenhuma entra nem pode entear nele como componente... .Maté-
ria-prima entra na composição da maioria das mercadorias, mas o valor
da matéria-prima é determinado, como o do trigo, pela produtMdade
da última porção de capital empregada na terra e que não dá renda. Por
i&so, a renda não é parte componente do preço das mercadorias" (p. 67).
747
mente lhe parece, formar o preço natural da mercadoria, adicionando
partes componentes ou reunindo-as. A circunstância ,de ser pago o pre-
ço natural, ou mais ou menos, depende do nível eventual do preço de
mercado. Em contraste com o valor, no preço de custo só entram salário
e lucro; a renda (rent) só entra quando já .incorporada ao preço dos adian-
tamentos de matéria-prima, de maquinaria etc, Por isso, não entra como
renda para o capitalista, para quem, de modo geral, o preço da matéria·
prima, da maquinaria, em suma, do capital constante aparece corno to·
tal preestabelecido.
A renda (rent) não entra no preço de custo como parte componen-
te. Se o produto agrícola em circunstâncias especiais se vende ao preço
de custo, nenhuma renda existe. No plano econômico, então, a proprie-
dade da terra não existe para o capital, isto é, quando o produto da es·
pécie de terra que vende ao preço de custo regula o valor de mercado do
produto do mesmo ramo. (E bem diferente o comportamento de 1 no
quadro D97 .)
A alternativa é a existência de renda (absoluta). Nesse caso, o pro·
duto agrícola se vende acima do preço de custo. Vende-se pelo valor, que,
está acima do preço de custo, Ma.s a renda entra no valor de mercado do
produto ou, antes, constitui parte desse valor. Para o arrendatário, contu-
do, ela representa um dado, como o lucro, para o industri!ll: :E: determi·
nada pelo que o valor do produto agrícola ultrapassa o ;preço de custo.
Mas o arrendatário calcula no mesmo estilo do capitalista: primeiro, os
adiantamentos; segundo, o salário; terceiro, o lucro médio, ~ por fim a
renda, que também lhe parece dada. Isso é pata ele o ·preço natural do
trigo, por exemplo. A circunstância de esse preço lhe Jer pago depende,
de novo, do estado eventual do mercado.
Se se mantém objetivamente a distinção entre preço de custo e va-
lor, a renda nunca pode entrar no preço de custo como elemento consti-
tutivo, e em contraste com o valor da mercadoria só se pode falar de ele·
mentos constitutivos quando se trata de preço de custo. (A renda dife-
rencial, como o lucro suplementar, nunca entra no preço de custo porque
sempre ou é ·excedente do preço de custo do mercado 98 acima do preço
de custo individual, ou excesso do valor de mercado sobre o valor individual.)
97. No capítulo precedente (p, 722) mostrou Marx que a classe l no quadro D
"fica em passividade total». Não é [quem detennína o mercado "e sim IV, lll e II con.·
tra ele" (p. 724 ).
98. Por preço de custo do mercarlo entende Marx. o preço de custo geral que re-
gula os preÇO$ de mercado das mercadorias num determinado ramo de produção (ver
p, 558).
748
Na substância está Ricardo certo ao afirmar contra Smith que a ren-
da nunca entra no preço de custo. Mas reincide em erro porque o demons·
tra não distinguindo preço de custo de valor e sim• os identificando, como
faz Smith, poís renda (rent), lucro e salário não são elementos comtituti-
-vos do valor, embora o valor possa decompor-se em salário, lucro e renda,
e com a mesma legitimidade para todas essas 3 partes, quando todas as 3
existem. Raciocina Ricardo: a renda não é elemento constitutivo do preço
natural do produto agrícola, porque o preço do produtó do pior solo= pre·
ço de custo desse produto = valor desse produto, o qual determina ova-
lor de mercado do produto agrícola. A renda portanto não constitui par-
te do valor por não constituir parte do preço natural e ser este igual ao va-
lor. Mas justamente isso está errado. O preço do produto obtido no pior
solo é igual ao preço de custo, ou porque o produto-se vende abaixo do va-
lor - e não porque, como diz Ricardo, se vende pelo valor -, ou porque
o -produto agrícola pertence ao tipo, à elas.se de mercadorias que por ex-
ceção têm valor e preço de custo idintiros. E o que se dá quando a mais·
valia conseguida numa esfera particular de produção para dado capital, di-
gamos 100, por acaso reproduz a média da mais-valia correspondente à
parte alíquota de igual montante {100) da totalidade do capital. Vê-se aí,
portanto, a confusão de Ricardo.
Quanto a Smith: desde que identifica preço de custo com valor,
tem ele razão de dizer - partindo desse falso pressuposto - que renda
(rent) como lucro e salário são "elementos constitutivos do preço natu·
ral" Revela, antes, incoerência ao reafirmar depois, no decurso do traba-
lho, que a renda não entra no preço natural da mesma maneira que salá-
rio e lucro. Incorre nessa incoerência porque a observação e a análise cor-
reta o levam de novo a _reconhecer que existe diferença entre determina-
ção do preço natural do produto não agrícola e a do valo.r de mercado
do produto agrícola. Pormenores sobre o assunto, quando tratarmos da
teoria da renda de Smith.
749
"Dos mesmos princípios infere-se que, na sociedade, quaiSque1 circuns·
tâncias que tornem desnecessário aplicar na terra o mesmo montante
de capítal e que por isso tomam mais produtiva a última parte, fazem
cair a renda" (p. 6 8).
Sem considerar que, ao cair o preço dos cereais-, surgirá procura adi·
cional de outros produtos agrícolas, legumes, carne etc., e que se pode
fazer aguardente etc. de cereais, Ricardo aí pressÚpõe que a população
ínteira costuma consumir tanto cereal quanto quer. Errado.
"O iugamento de Ricardo", de que renda não pode elevar ,preço, ''re-
pousa na suposição de que o poder de exigjr renda em nenhum caso da
vida real pode dimÍfWv a oferta. Mas por que não? Há áreas bem exten·
sas que $erlam de imediato eultivlldas se para isso não se pudesse exi-
gir renda, mas que medimrte artifício se conservam incultas, seja porque
750
os donos das terras puderam arrendá-Ias com vantagem para caça, seja
porque preferem eles o ermo romântico a uma pequena rernia nomi-
nal, a única coísa que receberiam por permitír o cultivo delas" (p. 159).)]
70 e 100 =30}
70 e 90 = 20 enquanto o produto será
[100
:g
70e80=10 70
- -
60 340
"Caso o produto suba de 100, 90, SO, 70 para 125, 115,105, 95, are.n-
da· montará sempre a 60 ou será ígual à diferença entre
95 e l'.25 =
95 e 115 =
30}
20 enquanto o produto se elevará para
125
[ 115
105
95e105 =10
60
l 95
440
Mas, com esse aumento da ptodução sem acré1cimc dlI procura, não há
motivo pa1a se aplicar tanto capital na terra; parte dele é retirada, e a
751
última po1ção do capital produzirá 105 em vez de'95, e a reruía cairá
para 30 ou será igual à difernnça entre. /
=
l
105 e 125 20 \ enquanto o produto continuará a conesponder: l25
105 e 115 =:_.!.Q_
à neeessidade da população, pois se.rã_
de 345 quarten
;!
115
~
30 - 345
(pp. 71, 72).
Omitida a circunstância de a procura, ao cair o preço, poder subir sem
a população crescer (o próprio Ricardo admite que ela subiu de 5 quarters),
sustenta ele a transição oonstante para solos de fertilidade decrescente,
pois a população cresce todo ano, isto é; a parte que consome trigo, pão,
e essa parte cresce mais rápido que a população toda, porque o pão oons·
tituí para a maior parte o alimento principal. Não é portanto necessdria
a hipótese de a pro.eura não aumentar eom a produtividade do capital e
de cair em conseqüência a renda.. E esta pode subir, quando é desigual a
influência do melhoramento no grau de fertilidade.
Aliás, é certo que (quadros B e E) o acréscimo da fertilidade - inal-
terável a procura - pode pôr fora do mercado o pior terreno e ainda for-
çar que se retire da produção de trigo parte do capital investido em solo
de melhor qualidade (quadro B). Nesse caso cai a renda em trigo se é igual
o acréscimo de produto nos díferentes tipos de terra.
Ricardo passa então à segunda espécie de melhoramentos agrícolas.
"Se se empregam na terra quatro porções de capital, 50, 60, 70, 80, ca-
da um.a das quais dá o mesmo resultado e qualquer mellioramento na
752
formação desse capital me possibilite retú:ar .S de cada uma, e desse mo·
do atinjam elas 45, 55, 65 e 75, nenhuma alteraçãQ se dará na renda em
trigo. Mas, se os rnelhonunentos forem tais que me capacitem a fazer a
poupança toda na porção do capital empregada da maneira menos pro-
dutiva, cairá de únedíato a renda em .trigo, uma vez que se reduz a di·
ferença entre a porção mais produtiva e a menos produtiva do capital;
e é essa diferença que forma a renda" (pp. 73, 74).
Isso está certo para a renda diferencial, a única existente para Ri-
cardo.
Mas Ricardo nem de leve toca na verdadeira questão. Para resolvê·
la não importa que decresça o valor de cada unidade, de cada quarter;
nem que a mesma quantidade de terra, a quantidade anterior dos mesmos
tipos de terra, tenha de ser cultivada, e sim que, em virtude do bamtea-
mento do capital constante - que custa menos -trabalho de acordo eom
o pressuposto - diminua, aumente ou mantenha inalterada a quantidade
de trabalho imediato empregado na agricultura. Em suma, o que importa
é a ocorrência ou não de mudança orgânica no capital.
Tomemos nosso exemplo do quadro A (p. 574, caderno XI) 99 e
substituamos as toneladas por quarters de trigo.
Aqui supõe-se a composição do capital não agrícola = 80c + 20v, a
do agrícola = 60c + 40v, e nos dois a mais-valia = 50%. No capital agrí-
cola, portanto, a renda ou o excedente do valor sobre o preço de custo=
10 libras. Teremos então:
(Convenções utílizadas pelo tradutor no quadro a seguir: L = libra(s);
X:::: xeli(m) (ns)]
753
Renda Renda Renda Renda
Valor diferencia1 Pr~ de custo abso· düe- absolu- dife-·
por quarter por quarter luta rencial fa rencial
[. L L L quar- quar-
ters ters
1 o =
l 5/6 L l L e 16 2/3 X 10 o 5 o
11 2/13 L=3 1/13 X 19/13 L =l Le 13 11/13 X 10 10 5 5
IIl 2/5 L=S X 1 7 /15 L =.1 L e 9 1/3 X 10 30 5 15
30 40 15 20
Renda Renda
global global
L quarters
I 10 5
11 20 10
UI 40 20
70 35
754
to em relação ao capital constante; então, o capital despendido de 90 =
50c t 40v, e na base de 100, a compôsição = 55 5/9c + 44 4/9v.
Vejamos agora como nesses 3 casos se comportam a renda em trl·
go e a renda em dinheiro. No caso B não varia a relação entre e e v, em·
hora o valor de ambos diminua. Em C reduz-se o valor de e, mas em pro-
porção maior que o de v. Em D diminui o valor de e, mas não o de v.
Primeiro, retomemos o quadro que serve de pontode partida e fi·
gura na página anterior: comparemo-lo com os novós quadros B, C e D,
que ilustram os casos referidos acima sobre as variações no valor dos com-
ponentes orgânicos do capital agrícola.
755
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Temos portanto:
Oipitil.I Renda Renda R"1tcla Renda Rerula Randa Renda
abM- ab~o- dife· 3hs.). diCe· global iiobal
lllla luta rencial luta rendai L qu>tlers
% L L quarter> !jllar·
tet$
-·----··
A) 60c-+ 40v 10 30 40 iS 20 70 3S
C} S4e +32"2!5v(62 l/2(; + 37 l/2v) 83/4 22 17/25 341/5 13 5/19 20 56 22/25 33 5f19
Rkardo prossegue:
758
de.iam os proprietário& de terras de Lancashire'1 Nada, absoluta e lite-
ralmente nada; entret.anto, extJ:aíram dela ganhos mais substancia.is
que qualquer uma das outras classes... Por certo, o acréscimo das ren-
das anuais desses grandes proprietários, oriundas dessa única causa. é
imenso, e é provável que essas rendas tenbam nada menos que triplicado."
·•essa renda" (das minas) "como a renda das terras é o efoíto e nunca.
a causa do valor alto de seus produtos" (p. 76).
759
car esse preço de custo com o valor real. E o que também se pode ver no
seguinte tre<:ho:
"O metal extraído da mina explorada mais pobre tem de possuir valor
de troca que pelo menos baste não: só para prover todos que nela tra-
balham e levam o Pioduto ao mexcado, com as roupas, alimentos e
outros meios de subsistencià por eles consumidos, mas também para
proporcionar o lucro geral, usual a quem adiantou o capital necessá-
rio para o empreendimento. A remunexação do capital da mina mais
pobre, que não prnpie.ia 1enda, detenninru:á a renda de todas as outras
minas mais rieas. Admite-se que aquela mina dá o lucto usual do ca.pi·
tal Tudo o que as outras minas proporcionam acimlÍ. disso é renda
que terá de se.r pagaª'" p1oprietários" (pp. 76, 77).
760
5. Critica de Ricardo à teQria Smithiana da renda e a
certas opiniões de Malthus.
"Acredito que até agora em todo país, do mais primitivo ao mais civi-
lizado, há terra de tal qualidade que não pode fornecer produto cujo
valor se/a mais que suficiente para repor o correspondente capital apli-
cado e proporcionar o lucm ordinário e usual nesse país. :!! notório
que isso ocorre na América; contudo, ninguém afuma que os princí-
pios que lá determinam a renda dif!.llem dos vi.gentes na Europa" (pp.
389, 390).
761
trabalho não pago da qual em mêdia se ;ipodera um capital de 100 em
cada ramo. Mas a circunstância de seu valor ser mais alto que seu pr~ço
de custo não depende em nada da grandeza absoluta desse valor e sim
da composição do capital aplicado, confrontada com a composição mé-
dia do capital empregado na indústria não agrícola.
Ricardo admite aí que o pior solo também pode dar tenda. E co-
mo explica isso? Segunda dose de capital, aplicada n~ pior solo para criar
oferta adicional, toma-se necessária em conseqüência de procura ·adicio-
nal e só consegue o preço de custo se subir o preço dos cereais. Assim,
a primeira dose daria então um excedente sobre esse preço de custo, isto
é, renda. Por isso, de fato, antes de se aplicar a segunda dose, a primei-
ra dose dá renda no pior solo porque o valor M mercado fica acima do
preço de custo. A única questão, portanto, é saber se o valor de merca-
do, além disso, tem de estar acima do valor do produto do pior solo, ou
antes se seu valor não está acima de seu preço de custo, e apenas a alta
do preço o capacitou a ser vendido por seu valor.
Ademais; por que o preço deve chegar ao nível do preço de cus·
to = adiantamentos + lucro médio? Por causa da concorrência entre os
capitais nos diferentes ramos, da transferência· do capital de um ramo
para outro. Isto é, em virtude da ação do capital sobre o capital. Mas,
762
por que meio o capital coagirá a propriedade fundiária a fazer o valor
do produto recuar para o preço de custo do produto? Retirada de capi·
tal da agricultura não pode ter esse efeito se não for acompanhada de
queda da procura dos produtos agrícolas. Daria o resultado oposto, fa.
zendo o preço de mercado do produto agrícola ultrapassar o respectivo
valor. Também a transferência de novo capital para a terra não pode ter
aquele efeito. Pois a concorrência dos capita.is entre si é o que capacita
o dono da terra a exigir do capitalista individual que se contente com
"um lucro médio" e lhe pague o excesso do valor sobre o preço que dá
esse lucro.
Mas poder-se-ia perguntar: se a propriedade fundiária dá esse poder
que faz o produto se vender acima. do preço de custo, pelo valor, por que
nãq dá também o poder para ser ele vendido acima do valor, portanto,
a preço arbitrário de monopólio? Numa pequena ilha onde não houvesse
comércio externo de trigo, este produto alimentar poderia sem dúvida
ser vendido, como qualquer outro produto, ao preço de monopólio, isto
é, a preço limitado apenas pelo estado da ·procura, ou seja, da procura
solvi'vel, e essa procura solvível varia muito de importância e amplitude
conformé o nível de preço do produto oferecido.
Excluída essa ~xceção - impossível nos países europeus; mesmo
na Inglaterra há o artiffcio de retirar da agrícultura, do mercado em su-
ma, grande parte da terra fértíl, para aumentar o valor da outra parte -,
a propriedade fundiária só pode influenciar e anular a ação dos capitais,
a concorrência entre eles, no nível em que essa concorrêncía modifica
a determinação dos valores das mercadorias. A conversão dos valores em
preços de custo é apenas conseqüêncía e resultado do desenvolvimento
da produção capitâlista, Na origem, as mercadorias (em média) se ven-
dem pelos valores. A propriedade fWldiária impede aquele desvio dos
valores na agricultura.
Quando um agricultor arrenda terra por 7 ou 14 anos, diz Ricardo,
calcula que, para um capital investido de l O 000, por exemplo, o valor
do t:rigo (valor médio de mercado) lhe permitirá repor adiantamentos
acrescidos de lucro e da renda convencionada. Por ísso, enquanto "ar·
renda" a terra, o que vem primeiro para ele, o primordial, é que o valor
médio de mercado seja igual ao valor do produto; lucro e renda são me-
ras porções a que se reduz esse valor, mas que não o criam. O preço dado
de mercado é para o capitalista o que o valor pressuposto do produto é
para a teoria e para a coerência interna da produção. E agora a conclu-
são que :Ricardo tira daí. Se o arrendatário acrescenta l 000 libras, o que
763
procura é ·apenas o 1ucm usual que elas proporcionarão ao preço dado de
'"".e-reado. Por isso, Ricardo parece pensar que o fator determinante é o pre-
ço de custo, e o iuero entra nesse preço de custo como elemento regula-
dor, mas não a renda.
Primeiro, o lucro também não entra aí como elemento constítuti·
vo. De acordo com o pressuposto, o arrendatário considera primordial
o preço de mercado e calcula se as 1 000 libras lhe proporcionarão o lu·
cro usual com esse preço dado de mercado. Esse lucro portanto não é a
c:ausa e sim efeito desse preço. Mas Ricardo pensa também que o empre-
go das próprias 1 000 libras é determinado pela circunstância de o preço
dar ou não lucro. O lucro, portanto, determina o emprego das 1 000 li·
bras, o preço de produção.
E mais: o capitalista, se achar que as l 000 libras não dão o lucro
usual, não as investirá. Não ocorrerá a produção adicional de alimentos.
Se esta for necessária para a procura adícional, a procura terá de elevar o
preço, isto é, o preço de mercado até que ele proporcione esse lucro. Por
isso, o lucro - em contraste com a renda - entra como elemento cons·
titutivo não porque gera o valor do produto e sim porque o próprio pro-
duto não é gerado se seu preço não sobe para pagar, além dos adianta-
mentos, a taxa usual de lucro. Mas não é mister nesse caso .que suba a
ponto de pagar renda. Daí existir diferença essencial entre ·renda e lucro,
e em certo sentido pode-se dizer que o lucro é um elemento constitutivo
do preço, enquanto a renda não o é, (Sem dúvida, isso também está im-
plícíto no pensamento de A. Smith.)
Nesse caso, a idéia está certa.
Mas por quê?
Porque nesse caso a propriedade fundiária não pode como tal con-
trapor-se ao capital, isto é, não ocorre a combinação em que se forma
renda,. renda absoluta, de acordo com o pressuposto. O trigo adicional
produzido com .a segunda dose, no montante de 1 000 libras - invariá·
vel o vabr de mercado, isto é, para uma procura adicional que só ocorre
na suposição de o preço permanecer o mesmo - tem de ser vendido abai·
xo de seu valor, ao preço de custo. Esse produto adicional das 1 000 li-
bras encontra-se portanto nas mesmas circunstâncias dó caso em que se
cultivasse terra pior, que nilo detennina o valor de mercado e só pode
fornecer a oferta adicional se o fizer pelo valor de mercado antes vigente,
ou seja, por preço que se detennina sem depender dessa produção nova.
Nessas condições, depende por completo da fertilidade relativa dessa ter-
ra adícional, a circunstância de ela dar ou não renda, justamente porque
764
níio detennina o valor de mercado. O mesmo se aplica às 1 000 libras adi·
cionais na terra anterior. E precisamente por isso Ricardo conclui ao re-
vés que o solo adicional ou a dose adicional de capital determina o valor
de mercado, poís o preço do correspondente produto não dá renda e sim
lucro apenas, não cobre o valor e sim o preço de custo somente, para da-
do valor de mercado, detenninado sem depender deles. Temos aí urna
contradíção em termos.
Mas, o produto af se gera sem dar renda. Por certo, Na terra que
o fazendeiro tIFTendou, a propriedade fundiária não existe para ele, para
o capitalista, como elemento autônomo que opõe resistência durante o
período em que ele é de fato o proprietário da terra pelo contrato de
arrendamento. Então, o capital se move nesse elemento sem defrontar
resistências, e ao capital basta o preço de custo. Mesmo após expirado
o arrendamento, o arrendatário naturalmente calculará a renda pelo in-
vestimento de capital na terra para obter produto que se venda pelo vabr,
isto é, dê renda, Aplicação de capital que, para dado valor de mercado,
não dê excesso sobre o preço de custo, se põe fora de cogitação, e tam-
bém o pagamento de renda ou a obrigação de pagá-la, no caso de terra
cuja fertilidade relativa faz que o preço de mercado pague apenas o pre-
ço de custo de seu produto.
Na prática, as coisas nem sempre se comportam segundo a vísão
rícardiana. O arrendatário, se possui capital disponível ou o adquire nos
primeiros anos de um arrendamento de 14 anos, não exigirá então o lu-
ao usual, a não ser quando tenha obtido por empréstimo o capital adi·
cional. Pois, que fará com o capital disponível? Arrendar mais terras?
Para a produção agrícola, emprego mais intensivo de capital é muito mais
vantajoso que o cÚltivo mais extensivo da terra com capital maior. E se
não há terra arrendável na vizinhança imediata da arrendada, o arrenda-
tário com 2 fazendas terá em sua superintendência ruptura maior que um
capitalista que dirija 6 fábricas na ind'Clstria. Ou deixará o dinheiro c.om
o banco, a juros, em títulos públicos, em ações ferroviárias etc.? Então
renuncia de saída a pelo menos metade ou 1/3 do lucro usual. Pode por-
tanto empregá-lo como capital adicional na terra que já cultiva, mesmo
abaixo da taxa de lucro, digamos a 10%, quando seu lucro é de 12%, e
assim ganha 100%, quando a taxa de juro é de 5%. Para ele aínda conti-
nua a ser especulação mais vantajosa empregar as 1 000 libras adicionais
na terra que já cultiva.
Por isso, Ricardo incide em erro total ao identificar esse emprego
de capital adicional à aplicação de capital adicional em novas terras. No
765
primeiro caso não é mister que o produto dê o lucro usual, mesmo na
produção capitalista. Basta que dê, acima da taxa usual de juro, algo mais
que vallia as preocupações e o risco do arrendatário, para preferir o em·
prego industrial ao financeiro do capital disponível.
Mas Ricardo incorre em completo absurdo, conforme se mostrou,
ao concluir daquela observação:
766
Em sua réplica, Ricardo aproxima-se o mais possível do princípio
da renda. Diz:
;<Mas admitamos que niio há te"a (/ue niio dé renda; então, o montan-
te da renda no pior solo regular-se-d pelo excesso do valor do produto
acima do dispêndio e do lucro ordifltirio do capital. O mesmo princí·
pio regerá a renda da terra de qualidade algo melhor ou de situação mais
favorável, e por isso a renda dessa tena excederá a renda da que lhe é
inferior, em virtude das maiores vantagens que· possui. O mesmo se po-
de dli:er da terra que ascende ao terceiro degrau de qualidade, e assim
por diante até à melhor de todas. Por isso, afirmar que a produrfvidade
relativa da terra é o que dete.tmina a parte do produto a ser paga a tí-
tulo de renda da terra é tão certo quanto sustentar que a produtivida-
de relativa das minas é o que determina a parte do produto a ser paga
a título de renda das minas" (pp. 392, 393 ).
767
tiver exigido oferta adicional pelo valor do produto oriundo do pior solo,
cultivado por último. Nesse caso, o valor do pior solo regula o valor d~
mercado. Na seqüência ascendente, isso ocorre somente (mesmo de acor·
do com ele) quando a oferta adicional dos melhores tipos de terra é igual
apenas à procura adicional ao antes vigente valor de mercado. Se a ofer-
ta adicional é maior, admite sempre Ricardo que a terra antiga tem de ser
exclufda do cultivo, embora sô decorra daí que dará renda menor que a
anterior (ou mesmo nenhuma). O mesmo se dá na seqüência descenden-
te. Se a oferta adicional é tal que só possa ser absorvida ao velho valor de
mercado, a circunstância de a terra de pior qualidade dar ou não renda
e - se a dá - o nível desta dependem da magnitude em que esse valor
de mercado ultrapassa o preço de custo do produto da nova terra.de pior
qualidade. Nos dois casos, a fertilidade absoluta - e não a relativa - de-
termina essa renda. Da fertilidade absoluta da nova terra depende atê on-
de o valor de mercado do produto dos melhores. solos está acima do pró-
prio valor real, índívidual.
A. Smith distingue aí com acerto terra e minas, porque no tocante
a estas pressupõe nunca haver a transição .para tipos piores, mas sempre
para melhores, e que sempre fornecem mais que a oferta adícional neces-
sária. A renda do pior solo depende então de sua fertilidade absoluta..
768
baixo a que se pode comprar carvão a longo prazo, como sucede com
todas as ouuas mercadorias, é o preço a rigor suficiente pnra repor,
acrnscido do lucro, o capital que tem de ser empregado para levá·lo ao
mercado. Em geral, tem de estar em torno daquele preço, o preço do
carvão da mina de que o proprietário não pode obter renda, mas que
ele mesmo tem de explorar ou largar de todo"' (pp. 393 a 395).
769
do produto das minas de melhor qualidade, quando - para as piores mi-
nas, exploradas pelos próprios donos - só é necessário que esteja acima
do preço de custo ou mesmo que o pague. Aliás, supõe que "_se aumen-
tar a quantidade" (de carvão) "com novos processos, cairá o preço e al-
gumas minas serão abandonadas"; esta ocorrência, porém, depende da
magnitude da queda do preço e do nível da procura. Se com essa queda
de preço o mercado puder absorver o produto todo, as núnas ruins con-
tinuarão a dar renda se a queda do preço de mercado não extinguir um
excesso do valor de mercado sobre o preço de custo das núnas mais po-
bres, e estas serão exploradas pelos proprietários se o valor de mercado
apenas ~brir esse preço de cus.to, igualá-lo. Mas, nos dois casos, é absur-
do dizer que o preço de custo da pior mina regula o preço de mercado.
Sem dúvida, o preço de custo da pior mina regula a proporção do preço
de seu produto com o preço regulador do mercado, e por isso decide o
problema de ser ou não viável explorá-la. A circunstância de ser exeqüí-
vel, a dado preço de mercado, explorar solo ou minas de determinado
grau de fertilidade nada tem a ver evidentemente com a ocorrência - nem
lhe é idêntica - de o preço de custo dessas minas regular o preço de mer·
cado. Se uma oferta adicional for necessária ou exeqüível a valor de merw
cado acrescido, a pior terra regulará o valor de mercado, m,as então dará
também renda absoluta. Esse é a rigor o contrário do caso suposto por Smith.
Terceiro: Ricardo censura Smith por acreditar (pp. 395 e segs.) que
barateamento dos produtos agrícolas, por exemplo, substítuiÇão de trigo
por batatas, o que faria baixar o salário e decrescer o custo'de produção,
redundaria em participação maior e quantidade maior para o dono da
terra. Ricardo, ao revés:
"nada dessa po1ção adicional se destinará a renda, mas toda ela irá fa-
talmente pai:a lucro... Enquanto se cultivarem terras da mesma quali·
dade e não se alterem sua fertilidade e vantagens relativas, a renda re-
presentará sempre a mesma proporção do produto bruto" (p. 396}.
770
so, queda da renda absoluta e, proporcionalmente, da renda diferencial.
(Ver p. 61 O, quadro C). 163 O fator considerado teria efeito igual sobre o
capital agrícola e o não agrícola. Subiria a taxa geral de lucro e por ísso
caíria a renda.
Capítulo XXVIIL "On the comparative value of gold, com, anà
l/Jbour, in rich anà poor countries. "
"O erro que percorre toda a obra de Smith estí em supor ele que o va·
tordo trigo é eonstante, e que, embora o valai de todas as outras coisas
possa eleVaI·se, o do trigo nunca pode subir. Segundo ele, o trigo tem
sempre o mesmo valor, pois alimenta sempre o mesmo número de pes-
soas. Do mesmo modo poder·se":ia dizer que tecido tem sempre o mesmo
valor, porque sempre se faz com ele o mesmo número de casacos. Que
relação pode ter o V'.ilor com o poder de alimentaI e de vci.1ír1" (pp. 449,
450).
" ..• Dr. Smith.•. sustentou com talento a doutrina - o preço natural
das mercadorias determina em última instância o preço de mercado de·
las" (p. 451).
"... O ouro, expiesso em trigo, pode teI valor bem diferente em dois
países. Esfoicei·me por mostrar que esse valor costuma ser baixo em
países ricos, e alto em países pobres. A. Smith tem outra opinião: pen-
sa que, expiesso em trigo, o valor do ouro atinge o máximo em países
ricos" (p. 454 ).
.
Capftuli'J XXXII. 'Ur. Malthus's Opinions on Rent."
"Renda é criação de valor ... mas não criação de ríqueza" 104 (p. 485}.
"Ao falar da alta de trigo, é evidente que Malthus não tem em vista o
preço por quarter ou bushel, mas antes o ex.cesso do preÇ-O a que se ven-
de o produto total, o excesso acima do custo de produção, sempre
incluídos lucro. e salário no termo 'custo de produção': 150 quarters
de trigo a 3 libras e 1O xelins por quartcr darão ao dono da terra renda
maior que 100 quarters a 4 libras, desde que o cu~to de produção seja
o mesmo nos dois casos'' (p. 481). "Qualquer que seja a qualidade da
terra, renda alta tem de depender do p1eço alto do produto. Mas, da-
771
do o preço alto, a renda tem de ser. alta em proporção com a abundân·
eia e não com a escassez" (p. 492).
"Uma vez que a rerula resulta do alto pr~o do trigo, a perda de renda
é conseqüência de preço baixo. O trigo estrangeiro nunca,. entra em
competição com aquele trigo nacional que dá renda. A influência da
queda de preço sobre o proprietário da teIIa é i.uevit.ivel, indo a ponto
de absorver toda a sua renda; o preço, se cau ainda ma.is, nem mesmo
propo1cionará o lucro ordinário do capital. O capital abandonará en-
tão a tena, em busca de outro emprego, e o tJigo que nela era anterior-
mente cultivado passa em seguida, e nào antes, a ser ímportado. Em
deoonência da perda de 1enda. haverá perda de valor, de valor expres·
so em dinheiro, mas oooireiá acréscimo de riqueza. Aumentará o vo-
lume global dos produtos agrícolas e dQS outros produtos. Em virtude
da maior facilidade de serem produzjdos, embota .cresçam em quanti-
dade, decrescetão em valor" (p. 519).
Capítulo XIV
Teoria da renda de Adam Smith
773
Que é então esse preço pago pelo uso da terra?
"O que do produto ou de seu preço ultrapassa essa cota" {que paga o
capital adiantado, "acrescido dos lucros ordinários"), "o donó da tena
proeura retirar para si mesmo como renda de sua terra."
"Essa parte pode ser considerada renda fundiária natural" (p. 300).
"O proprietário exige renda mesmo quando sua terra não tem melho-
ria alguma" (pp. 300, 301),
"Exige" (o proprietário) "às vezes renda pelo que não pode absoluta-
mente ser objeto de melhoria pelo esforço humano" (p. 301).
"A renda fundiária, considerada preço pago p«lo uso da terra, é por
natureza preço de monopólio" (p. 302).
774
ser levada ao mercado, não tem condições de ~ renda à propriedade
fundiária. A possibilidade de haver ou não aquela alta de preço depen-
de da procura" (t.I, pp. 302, 303).
775
Não .haveria, pois, razão para dizer que a maneira de a renda entrar
no preço dístingue-a do lucro e do salário, massim que, sob esse aspecto,
renda e lucro diferem do salário, uma vez que este sempre entra no preço
e aqueles nem sempre. [)()_nde provém então a diferença?
Ademais, Smith tinha de investigar se era possível que as poucas
mercadorias onde só entra salário fossem vendidas pelo valor, ou se aque-
les pobres que colhem os seixos da Escócia não são antes assalariados dos
lapidadores, que fues pagam pela mercadoria apenas o salário normal; pe-
la jornada de trabalho inteira que lhes pertence na aparência, apenas a
mesma remuneração que o trabalhador recebe nos outros ramos de ativi-
dade, onde parte da jornada forma o lucro de que não ele e sim o capita·
lista se apropria. Smith ou teria de afirmar isso ou de sustentar que, nes-
se caso, aparece apenas o lucro que se confunde com o sa1ário. Ele mesmo diz:
"Num pais civilizado são poucas as mercadorias cujo yq/Qr de troca tem
origem exclusiva no mldrio" (trabalho aí identificado com salário).
"Uma vez que a renda (rent) e o lucro contribuem muito para o valor
de troca da gxande maioria das mercadorias, o produto anual do tra·
balho desse país" (aí igualam-se mercadorias e produto do trabalho,
embora o valor todo desse p.rod\lto não proceda apenas do trabalho)
"bastará sempre para comprar ou comand(ZT' quantidade de trabalho
bem maior que a empregada para produzir, preparar e levar e~$e pro•
duto ao mercado" (1.c., pp. 108, 109).
776
gar valor em trabalho maior que o trabalho nele contido. A proposíção
seria correta reformulada assim:
"É mister observar 1:1ue o valor real de todas as diferentes partes consti-
tutivas do preço se mede pela quantidade de trabalho que cada uma
del4s pode comptar ou co1tt11ndar. Trabalho" (nesse sentído) "não só
mede a parte do preço a qual se reduz a trabalho" (devia dizer: a salá-
rio), "mas também aquela que se reduz a renda e lucro" (t.l, LI, cap.
VI, p. 100).
777
trabalho não pago (lucro e renda). Convertendo-se em salário um segmen-
to da parte do valor, a parte que se reduz a trabalho não pago, pode:se
comprar quantidade de trabalho muito maior que a que se compraria se
se reservasse para adquirir de novo trabalho apenas a parte desse- valor re-
lativa a salário.]
Voltemos atrás.
778
"Salário, lucro e renda (ren t) são as três fontes originais de toda .renda
(revenue) como de todo valor de troca" (t.1, l.l, cap. VI, p. lOS),
779
·ço de mercado subirá mais ou menos. acima do preço natural, segundo
a magnitude da escanez ou a ríqueu e a prodigalidade imoderada dos
compradores tomem mais ou menos intensa a avidez da conconência"
(1, p. 113).
"A quantidade levada ao mercado, caso exceda a procura efetiva, não
pode ser toda vendida àqueles que estio dispostos a pagar o valor total
da rerula, salário e lucro, que têm de ser pagos para se levar a mercado-
ria ao mercado... O preço de mercado cai mais ou menos abaixo do
preço natural, conforme a magnitude do excesso da oferta aguce mais
ou menos a conron:ência entre os vendedores, ou a estes importe mais
ou menos se livrarem logo da mercadoria" (1, p. 114).
.. Quando a quantídade levada ao mercado basta exatamente para pro-
ver a procura efetiva, haverá coincidência perfeita entre o preço de mer·
cado... e o preço 1111tur11T... A concon:ência entre os diferent« comer·
ciantes obriga-os todos a aceitarem esse preço, mas não os obriga a acel·
tarem menos" (1, pp. 114, 115).
780
Depois dessa exposiç!io no cap. Vll, fica difícil de entender como
Smith, ao tratar da renda da terra, no cap. XI, 1.1, pode justificar a propo-
sição de a renda nem sempre entrar no preço quando a terra que entra na
produção tem proprietário; como pode distingujr a maneira como a renda
entra no preço daquela como nele entram o lucro e o salário, depois de,
nos capítulos VI e vn, ter convertido a renda em parte constitutiva do
preço natural, de maneira absolutamente igual como o fez com salário e
lucro. Retomemos agora ao cap. XI (1 J). .
Vimos que nele se determina a renda como o excedente que fica do
preço do produto depois de serem pagos os adiantamentos do capitalista
(arrendatário)+ o lucro médio.
Nesse capítulo XI, Smith muda diametralmente de posição. A ren-
c!a não entra mais no preça naturaL Ou melhor, A. Smith recorre a um
preço órdinário que em regra difere do preço natural, embora tivéssemos
lido no capítulo vn que o preço ordinário nunca pode ficar por muito
tempo abaixo do pxeço natural, nem pode prosseguir pagando por muíto
tempo uma parte componente do preço natural abaixo da respectiva ta-
xa natural, nem pode prosseguir por muito tempo no nível de pagar uma
parte componente do preço natural abaixo da respectiva taxa natural e
menos ainda no de a não pagar de todo, como se afirma agora no tocan-
te à renda. Smith tampouco nos diz se o produto, quando paga renda,
se vende abaixo do valor, ou se, quando a paga, se vende acima.
Antes, o preço natural da mercadoria era:
'(:) valor total de renda, lucro e salá.do, que é mitter pagar PIUtJ levâ·kt
ao mercado" (1, p. 112)
Agora lemos:
781
"Se o preço ordinário ultrapassa o nivel" (de repor o capital acrescido
do lucro 01dinário), "a parte excedente entra naturalmente na renda.
Se uão o ultxapassa, a mercadoria, embora possa ser levada ao mercado;
não tem condições de dar renda ao dono da tena. Depende da proeura,
ir ou não o preço· além desse nível" (1.r, cap. XI, pp. 302, 303).
782
cadorias, o preço suficiente é o que basta para a produção do ponto de
vista do capital, e esse preço suficiente para o capital não inclui renda,
mas, ao contrário, a exclui.
Aliás, esse preço suficiente não basta para alguns produtos da ter-
ra. Para estes, o preço ordinário tem de se elevàr a nível bastante para
proporcionar um excesso sobre o pi:eço suficiente, uma renda para o pro·
prietário da terra. Isso, para outros, depende das circunstâncias. Smith
não se perturba com a contradição de o preço suficiente não ser suficien-
te, de o preço que basta para a colocação do produto no mercado não
bastar para colocá-lo no mercado.
E verdade que - sem dar sequer uma ligeíra olhada retrospectiva
nos capítulos V, VI e VII - reconhece que com o preço suficiente des-
trói toda a sua teoria do preço natural (o que não considera contradição,
mas algo novo que descobre de súbito).
"Por isso cabe observar" (é nesta fonna ingênua ao extremo que Smith
passa de uma afumação para ouúa que se lhe opõe) ..que /1 renda entra
1U1 comporlçlfa do preço da mercadoria, de maneira diferente do $/JM·
rio e do lucro. Salários e lucros altos ou baixos são a causa de preço al-
to ou baixo; rendas altas ou baixas são o efeito do preço. A nece&s:ida.
de de pagar lllkirios e lucros altos ou bai:J:oll para prover o mercado
com detenninada mercadoria constitui a ru.zaõ por que seu preço é
alto ou baixo. Mas seu preço - por ser alto ou baixo, muito mais, pou-
co mai!J ou não mai$ que o w.fidente para pagar eue!J ml.órios e lucros -
ptoporcionará renda alta, baixa ou não dará mesmo nenhuma renda"
(pp. 303, 304).
783
No começo, o trecho ~obre o assuntçi surpreende deveras pela inge-
nuidade. No capítulo VII explica Smith que renda, lucro e salário entram
por igual na romposiçfio do preço natural; transvertera antes a reduÇiio
do valor a renda, lucro e salário em romposiçfio do valor pelo preço natu-
ral da renda, lucro e salário. Agora diz que a renda entra na "composição
do preço das mercadorias", de maneira diferente da do lucro e salário.
E em que difere a maneira de a renda entrar nessa composição? Em não
entrar nela absolutamente. E só agora chega.mos à verdadeira explicação
do preço suficiente. O preço das mercadorias é caro ou barato, alto ou
baixo porque salário e lucro - as respectivas taxas naturais - são altos ou
baixos. A mercadoria não é levada ao mercado, não é produzida se não
forem pagos aqueles lucros e salários, altos ou baixos. Formam o preço
de produção, o preço de custo da mercadoria; são na realidade, portanto,
os elementos constitutivos do valor ou preço dela.. Em contrapartida, a
renda não entra no preço de custo, no preço de produção. ~ão é elemen·
to constitutivo do valor de troca da mercadoria. Só é paga quando o pre-
ço ordindrio da mercadoria está acima do preço suficiente. Lucro e salá-
rio, na qualidade de elementos constitutivos do preço, são causas do pre-
ço; a renda, ao contrário, é efeito, conseqüêndo. dele. Não é, como lu-
cro e saJário, elemento que entrà na sua composição. E a isso chama Smith
de entrar nessa composição de maneira diferente daquela __ do lucro e salá-
rio. E parece não ter a mais leve percepção de ter arruinado sua doutrina
do preço natural. Pois, o que era o preço natural? O centro em tomo do
qual gravita o preço de mercado: o preço si.eficiente, alfabço do qual o
produto não ~de cair, para ser levado ao metcado, produzido, durante
muito tempo.
A renda agora é o excedente sobre o preço natural e antes era ele-
mento constitutivo do preço nDtural; agora, efeito e, antes, causa do preço.
Smith, porém, não se contradiz ao afirmar que para certos produ-
tos da terra as circunstâncias do mercado sempre são tais que o preço or·
dinário tem de estar acima do preço suficiente, noutras palavras, a pro-
priedade da terra tem o poder de forçar o preço a subir além do nível que
bastaria para o capitalista, se a ele não se opusesse uma força contrária.
Assim, no capítulo XI, depois de ter posto abaixo os capítulos V,
VI e VII, prossegue tranqüilo dizendo que terá por tarefa examinar: (1) os
produtos da terra que sempre dão renda; (2) os produtos da terra que às
vezes dão e às vezes não dão renda; por fim (3) as variações que, nos di-
ferentes períodos de desenvolvimento da sociedade, sucedem no valor re·
lativo desses dois tipos de produtos, confrontad<:>s entre si, ou confronta-
dos com as mercadorias manufaturadas.
784
2. Tese de Smith relativa ao caníter específico da
procura de produtos agrícolas. Influência fisiocrática
na teoria Smithiana da renda.
"Seção Primeira. Dos produtos da turra que sempre dão renda. "
Começa com a teoria da população. Os alimentos sempre criam
a própria procura. Se acrescem também acrescem os seres humanos, os
conswnidores dos alimentos. A oferta dessas mercadorias produz portan-
to sua procura.
"Uma ~vez que 03 seres humanot, como todos os outros animais, aumen·
tam na proporção dog meloa de subzistência, há sempre procura maior
ou menor de alimentos. Estes podem sempre comp1ar quantidade maior
ou menor de trabalho, e sempre se encontra alguém disposto a fazer
alguma ooisa pua obtê·lo$" (1.1, cap. XI; l, p. 305).
"Mas a terra produz" (por quên "quase em toda situação quantidade
de alímentor maior que a suficiente para sustentl1!' o total de trabalho
necessário paza levá-los ao mercado, e da maneira mais liberal para esse
sustento. O excedente também é sempre mais que bastante para repor,
com luero, o capital que empregou esse trabalho. Sempre remanesce,
por isso, alguma coisa para dar renda ao proprietâ.rio da terra" (l.c., I,
pp. 305, 306).
"A rerufa da terra varia com a fertilidade, seja qual for a magnitude do
produto, e ainda com a locaJfaação, seja qual for a fertilidade" (l, p. 306).
785
"Por isso, tem de sustentar-se à custa dele 107 quantidade maior de tra-
balho, e tem de ser reduzido o excedente de que se tira o lucro do ª"en-
datário e a renda do dono da te"a" (p. 307).
Por isso, também a cultura de trigo deveria dar lucro maior que pas-
tagem.
"Por isso, suposto que uma libra de carne nunca valesse mais que urna
libra de pão, esse excede,nte maior" (porque área iguaí de terra produz
mais trigo que carne) "possuiria por toda-parte valor maiór" (porque se
admitiu que uma libra de pão, em valor, é igual a· uma.libra de carne, e
que da mesma área de terra sobram mais libras d~ pão que libras de car-
ne, após se alimentarem os trabalhadores) "e éonstituiria fundo maior
tanto para o lucro do arrendatário quanto para a rendà do dono da
terra" (pp. 308, 309).
786
senvolvimento da agricultura, as pastagens naturais se tomam insuficien-
tes para a criação de gado relacionada com a procura de carne. Para esse
fim é mister empregar terra cultivada. O preço da carne tem portanto
de subir até o ponto em que pague o trabalho empregado na pecuária e ainda
"Em todos os grandes países emprega-se a maior parte das terras culti-
vadas, para produzir alimentos destinados aos homens ou aos animais.
A renda e o lucro daí decorrentes determinam a renda e o lucro de to-
das as demais terras cultivadas. Se um produto particular dá menos ren-
da e lucro, a área logo será convertida em terra de trigo e de pastagem.
Mas, se proporciona mais, logo se transfere para esse produto certa por-
ção das terras de trigo e de pastagem" (1, p. 318).
787
·da, ou maiox djspêndio anual de cultivo emboxa sejam muitas vezes
bem superiores aos do trigo e da pastagem - são Illl .realidade determi-
iwios pela renda e lucro daquelas atividades agrícolas corriqueiras, quan-
do compensam apenas esses dispêndios extraordinários" {I, pp. 3.23, 324).
"E assim que a renda da terra cultivada que produi alimentos para seres
humanos determina a renda da maio1 parte das ouhas tenas cultivadas"
(1, p. 331). "Na Europa, o trigo é o produto principal que serve de ime-
diato para a alimentação humana. ·Por isso, excetuadas cizcunstâncías
especiais, a renda das tenas de trigo regula, na Europa, a de todas as
demais terras cultivadas" {l.c., pp. 331, 332).
788
'17 mesmo qllllntidade de urra cultii>ado sufftentará muito nwis iereG
humanos. E uma vez que os trabalhadore.~ em regra se alimentarão com
batatas, haverá excedente maior, depois de ter sido reposto o capital
inteito e sustentado o trabalho todo empregado no cultivo. Ao pro·
prietáóo da terra pertencerá a maior parte desse excedente. A popu-
la~ crescerá, e as rendas elevar-se-ão considezavelmente acima do
nivel atual" (I, p. 335).
789
"Alimentos para o ser humano parecem ser os únicos pxodutos da ter-
til que propoxcionam certa renda ao dono da terra, sempxe e necessa-
riamente." (Não mostrou a razão do "sempre" e "necessariamente".)
"Outi:as espécíes de produtos podem às vezes dar e às vezes não dar
renda, conforme as diferentes circunstâncias" (l .c. 1, p. 337).
"Vestudrio e habitação eonstítuem, depois de nutrição, as duas neces-
sidades principais dos seres humanos" (Lc. p. 338). A terra "no rude
estado origínal" provê materiais de vestuário e habitação a mímero
de pessoas maior "do q11e o q11e ela pode a!imentar". Em virtude da
"111perab11ndância desses materiais" em relação ao número de pessoas
que a terra pode alimentar, em relação portanto à população, esses
materiais "custam" pouco ou nada. Grande parte desses "materiais"
ju desusada e inútil, "e o preço dos materiais que se utilizam consi-
deraose equivalente apenas ao trabalho e dispêndio para adequá-los iJ
utilização" Esse preço, poxém, "nenhuma renda" p.roporciona "ao
dono da terra". Em contraste, no estádio da terra cultivada, o núme-
ro de pessoas que "ela pode alimentar", isto é, a população, é maior
que a quantidade daqueles materiais que ela supre, pelo menos "da
maneira como as pessoas os exigem e estão dispostas a pagá-los". Sur-
ge relativa escassez desses bens, "a qual neeessariamente aumenta o va-
lor deles" "Há com freqüência procura maior do que a quantidade
que pode ser obtida." Paga-se por eles mais do que "o dispêndio de
levá-los ao mercado. Po1 isso, seu preço pode sempre dar certo rendo
ao dono da terra" (1, pp. 338, 339).
790
à madeira. "Num país populoso e bem cultivado" proporcionaiá renda,
mas apodrecerá no chão "em muitas partes da América do Norte". O
proprietário ficará feli:i se pude1 livrar-se dela. "Quando o material de
habitação é tão abundante, a parte utilizada vale apenas o trabalho e o
dispêndio para adequá-la ao uso. Nenhuma renda proporciona ao pro·
prietário, que em geral deixa que a leve qualquer um que se dê ao tra·
ba.1ho de pedi-la. A procura das nações mais ricas, todavia, permite-lhe
às vezes obter daí uma renda"((, pp. 340, 34 l).
Os países povoam-se não na razão do "núme10 de habitantes que a 1es·
pectiva produção pode vestir e a que pode proporcionai teto, e sim na
do número que ela pode alimentar. Provi.da a alimentação, é fácil achar
o vestuádo e a habitação necessários. Mas, embora estes estejam dispo-
níveis, pode muitas vezes ser difícil eneontra.1 alimentos. Em algumas
regiões do Império Biitâníco, um dia de tJabalho de um homem pode
construir o que se chama uma casa." Entre os povos selvagens e bárba-
ros basta 1/l00 do trabalho anual para obterem o que necessitam em
vestuário e habitação. Precisam mu.lw vezes dos outros 99/100 do tra·
balho anual para se p1overem dos alimentos necessários. "Mas quando,
em virtude do melhoramento e do cultivo do solo, o tr11ba/lto de u.mn
fam11ia pode produ.:ir alimento para duas, bastará o trabalho de meta-
de da sociedade pau. alimenta.t todos." A outra metade poderá então
satisfazei as outras necessidades e fanta.~ías dos se1es humanos. Os prin-
cipais objetos dessas necessidades e fantasias são o vestudrio, a habita·
ção, o mobilidrio da casa e o que se chama de fausto ou luxo. A neces·
sidade de alimentos é limitada. As demais necessidades, ilimitadas. Os
donos do excesso de alimentos "estão sempre dispostos a trocar o ex-
cesso". "Os pobres, pua obter alimentos", ocupam-se em dar satisfa·
ção a essas "fantasias" dos Iicos, e nisso, ainda por cima, e-0ncorrem
entre si. O número dos trabalhadores aumenta· com a quantidade dos
alimentos, portanto na razio do progresso da agricultura. Seu "negócio"
permite "a mais extrema subdivisão do trabalho"; a quantidade de ma·
téáas-primas que transformam acresce por isso de maneira ainda mui-
to mais rápida que seu núme10. "Surge daf procura de toda espécie de
material que a invenção humana pode empregiir, com vistas à utilidade
ou à bele~a, em ronstrnções, vestuário, mobiliário, decoração; e também
a procura dos fôsseis e minerais contidos nas entranhas da te1ra, dos
metais preciosos e das pedras preciosas."
"O alimento é, portanto, a fonte original da renda, mas, se outro pro·
duto da terra passa a dar renda, essa adição do valor decone do acrés.ci·
mo da capacidade do trabalho para produzir alimentos por meio d3. me-
lhoria e do cultivo do solo" (1, pp. 342, 345).
791
ProsSegue Smith:
As outras partes do pxodulo da tena (fora alimentos) que dão renda mais
tarde, nem seq1pre a dão. A procura delas, mesmo nos países de maior
desenvolvimento agrícola, nem sempre é suficíente "para estabelecer
preço f!lperior (lo b(lsflmte para pagar o trabalho e repor, acrescido do
lucro 11Cf'nta1, o capital que tem de ser empregado para lellá·lat ao mer·
cado. Se a procura se comportará ou 11ão assim depende de diferentes
cfrcun1tàncw". (1, p. 345).
792
Minas de ctlfViio. Riqueza ou pobreza das minas em geral, observa
Smith com acerto, depende de se poder extrair de díferentes minas, com
a mesma quantidade de trabalho, quantidade maior ou menor de mineral.
A pobre:za pode anular a situação favomel, de modo que as minas pobres
nem mesmo podem ser exploradas. Em contrapartida, a situação desfavo.
rtivel pode anular a riqueza, de modo que as minas ricas não são explorá-
veis apesar de sua fertilidade. f: o que se dá sobretudo quando não há boas
estradas nem navegação (I, pp. 346, 347).
Há minas cujo produto basta apenas para cobrir o preço suficiente.
Por isso pagam o lucro do empresário, mas nenhuma renda fundiária. O
proprietário em pessoa tem de explorá-la. Ganha assim "o lucro ordiná-
rio do capital que emprega". Há muitas minas de carvão desse tipo na Es-
cócia. Não poderiam ser exploradas de outro modo.
793
O que Smith disse sobre a determinação da renda pela mina mais
rica, já comentei a propósito de Ricardo e sua polêmica. 109 Destacar aqui·
apenas a proposição:
"O preço mais baixo" (antes, o preço suficiente) "a que o carvão pode
ser vendido por muito tempo é, roma o de todas as demais mercadorias,
o preço que apenos basta para repor, acrescfdo do lucro ordinário, o Cf!·
pifai que tem de ser empregado para levá-liJa ao mercado" (I;p. 350).
que a renda das minas de carvão é muito menor que a dos produtos
agrícolas: nestes 1/3, e naquelas, 1/5 é renda muito· alta e 1/lo,uo a
renda usual. As minas metalíferas não dependem tanto da situação,
uma vez que seus produtos são mais fáceis de transportar e o mercado
mundial lhes está mais aberto. O valor delas por isso depende mais da
riqueza em metal que da situação, quando sucede o contrário com as
minas de carvão. Concouem entre ~os produtos das minas metalíferas
mais distantes (uma1 das outras). "Por isso, o preço dos metais comuns,
e ainda mais dos metais precíosos, nas minos mais n"cas da terra, tem
nei:essai:iamente de mflulr mais ou menos no preço oco.gente em to-
das as demais minas" (l, pp. 351, 352).
"O preço de todo metal em cada mina, sendo detertninado em certa
medida pelo preço na mina mais rica de fato explorada no mundo, $Ó
pode ultrapa~sar muito pouco, para a rnaioría das minas; as _custos de
exploração e raramente pode proporcionar renda muito altà. Por esse
motivo, a renda parece constituir, na maioria das minas, pequena parte
do preço dos metais comuns e parte ainda menor do preço dos metais
preciosos. Nos dois aisos, trabalho e lucro constitúem a maior parte"
(1, pp. 353, 354).
794
"O preço mais baixo a que os metais preciosos podem ser vendidos por
muito tempo ... é regulado pelos mesmos prindpíos que estabelecem o
e
preço normal mais bahco de todas as outras mercadorias. detennina-
do pelo capital que em regra é mister emp1egar, pelo alimento, roupa e
alojamento que é mister consumir pau· levá-los da mina ao mercado.
Tem pelo menos de repor esse capital acrescido do lucro ordinário"
(I, p. 359).
"Uma vez que o preço, tanto dos metais nobres quanto das pedras pre·
dosas, é detenninado no mundo inteiro pelo respectivo preço na mi·
na mais produtiva, a renda que uma mina pode dar ao proprietário é
proporcional não a sua riqueza absoluta e sim à chamada riq\1eza rela-
tiva ou à ~11perioridade dela em relação às outras minas da mesma es-
pécie. Se forem descobertas novas minas tão superiores às de Potosi
quanto estas eram superiores às da Europa, o valor da pra.ta pode ser
degradado a ponto de não compensar mesmo a exploração das minas
de Potosi" (1, p. 362).
795
é }ustamente saber se ele participa ou não do produto e em que pro-
porção), "da.r-Ihe-á sempre comando correspondente do trabalho da-
quelas pessoas e das mereadodas que esse trabalho lhe pode suprir"
(l, pp. 363, 364).
"O valor das terras .p.ouoo férteis não se reduz com a vmnhança das
mais férteis. Ao contrário, acre$ce com ela. O grande número de pessoas
sustentadas pelas terras fecundas proporciona, a muitot produtos da
terra pouco fértil, mercado que esta nunca teria encontrado nas peswas
que pode sustentar com a própria prnduçlo."
Em tudo isso, o que Smith não explica é a renda absoluta, cuja exis-
tência admite para terra que produz alimentos. Com razão obs~rva não ser
mister que ela exista para outras terras, para minas, por exeµiplo, pois sua
disponibilidade relativa é sempre tão ilirrutada (eill face da procura) que a
propriedade aí não pode opor resistência ao capital, nã0 tem existência
econômica, embora tenha a legal.
(Ver p. 641 m sobre a renda de imóveis.)
"Do aluguel todo de uma ca~a, a parte que ultrapassl11' esse lucro ra·
z.oável" (do construtor) "pertence naturalmente à renda fundiária e es·
ta, quando o dono d.a tena e o dono da casa são duas pessoas díferen·
tes, é totalmente paga ao primeiro, na maioria dos casos. Em casas de
796
campo, a certa distância de alguma g.rande cidade e onde há bastante
disponibilidade de terra, essa renda fundiária tem significação ínfima
ou não é mais do que a que proporcionaria o solo que a casa ocupa se
fosse empreg11do na agticultuta (l,V, cap. li).
"Num país de tena fértil por naturez.a mas totalmente inculta na maior
parte gado, aves, caça de toda espécie etc. só compl'Qráo ou comanda-
rão quontidade dimínuto de trabalho, pois podem ser
obtidos com
quantidade diminuta" (Il, p. 25).
114. As duas últimas citações de Smith .nesta seção ti.rou-<ts Mwc não da tradução
francesa de Garnier, mas das pp. 227, 229 e 230 da obra de RícanJohinciplesofpo·
litÍca! ecoPWmy, 311 ed., Londres, 1821.
115. Mm refere-se aí a reparos feitos por Ricardo na p. 230 de sua obra Principies
of political economy, Jíl ed., Londres, 1821.
797
A maneira singular como Smith baralha a· medida cio valor pela quan-
tidade de trabalho, com o preço do trabalho ou com a quantidade de tra-
balho que uma mercadoria pode comandar, patenteia-se na passagem aci·
ma e sobretudo na seguinte que nos mostra como ele chegou a promover
ocasionalmente o trigo a medida do valor.
"Pode-se dizer que uma mercadoria é CQ/'Q ou barata conforme seja alto
ou baixo o preço abwluto normal, e também c0nfonne esse preço es-
teja mais ou menos acima do preço mais baixo a que é possível levá·la
ao mercado durante um prazo prolongado. Esse preço mais baixo é o
que só basta para repor, acrescido de lucro moderado, o capital que é mis-
ter empregar para levar a mercadoria até lá. E o-pieço que nada propor·
clona ao proprietário da terra; a renda não é parte componente desse
preço, por completo reduzido a salário e lucro~· (li, p. 8l).
"O preço dos diamantes e de outras pedras preciosas, talvez ainda maís
que o próprio preço do ouro, aproxima-se do preço mais baixo a que é
po5Sível levá-los ao mercado" (lI, p. 83).
798
Há (vol. li, p. 89) 3 classes de produtos primários. A primeira, cujo
acréscimo é quase ou por completo independente da indústria humana; a
segwula, que pode aumentar em função da procura; a terceira, sobre cujo
acréscimo a indústria "exerce efeito apenas limitado qu incerto" .
.Primeira dasse: peixes, pássaros raros, diferentes espécies de caça,
aves selvagens, em particular as de arribação etc, A procura deles aumenta
muito com a riqueza e o luxo.
799
Segundo Smith, a ascensão progressiva do preço desses produtos pri·
mários apenas demonstra que se tornam gradualmente produtos da indús"
tria humana, quando antes não passavam de produtos naturais. A transfor-
mação mesma de produtos naturais em produtos da indústria humana re-
sulta do desenvolvimento da agricultura, que subtrai cada vez mais o espa-
ço dos produtos espontâneos da natureza. Ademais, nas condições de pro·
dução menos desenvolvidas, grande parte desses produtos se tem vendido
abaixo do valor. Esses artigos se vendem por seu valor (daí a alta de preços)
logo que de produto acessório se convertem em produto autônomo de um
ramo qualquer da agricultura.
"É claro que as terras de um país nunca serão por inteiro cultivadas
e melhoradas enquanto o preço de todos os produtos - que a indústria
humana é compelida a obter nelas - não tiver subido a ponto de pagar
os custos de melhoramento e cultivo completos. Para se chegar a isso,
é mister que o preço de cada produto particular baste, primeiro, para
pagar a renda de boa terra de trigo, pois é ela que determina a renda
da maior parte da restante terra cultivada, e, segundo, para pagar o tra·
balho e despesas do arrendatário, como são em regra indenizados em
boa terra de trigo, ou seja, para repor, acrescido do lucro ordinário, o
capital por ele empregado. Essa alta do preço de cada produto parti·
cular tem sem dúvida de' preceder o melhoramento e o cultivo da ter-
ra destinada a produzi-lo... Essas diferentes espécies de, produtos pri·
mários valem quantidades maiores que as anteriores, tanto de prata co-
mo de trabalho e de meios de subsistência. Uma vez que levd-las ao mer-
cado custa quantidade maior de trabalho e de meios de subsistência,
ao chegarem ld, representam quantidade maior ou lhe são equivalen·
tes" (11, pp. 113-115).
800
assim contar com mercado em países mais desenvolvidos no domínio indus-
trial, embora a indústria nativa ainda não precise delas.
801
"o pleço real das matérias-primas nio subiu de todo ou não teve ascen-
são extrema" (l.c,, II, p. 149).
Em contrapartida, afirma que o preço real do trabalho, isto é, o sa-
lário, tem subido com o progresso da produção. Por isso, também segun-
do ele, os preços das mercadorias· não sobem necessariamente por subir o
salário ou o preço do trabalho, embora o salário seja "parte constitutiva
do preço natural" e mesmo do "preço suficiente" ou "do preço mais bai-
xo a que as mercadorias podem ser levadas ao mercado". E como explica
ele isso? Pela queda do lucro? Não. Ou da renda? Tampouco. (Embora
admita a queda :ia taxa geral de lucro com o avanço da civilização.) Diz:
"Em vnude de melhores máquínas, de maior destteza e de divisão e
distric· .ição do trabalho maís adequadas - tudo isso efeitos naturais
do progresso -:- torna-se muito menor a quantidade de trabalho neces-
sária paxa produzir qualquer peça porticuku. Embora o preço real do
trabalho experimente ascensão conside.rável por força das condíções
florescentes da sociedade, a grande redução da quantidade de trabalho
mais do que compen11aiá em ge1a1 a maio1 alta possível desse preço"
OI, p. 148).
Assim, o valor das rnercadoáas diminui por cair a quantidade de
trabalho necessária para produzi-Ias, e diminuí apesar de subir o preço re.al
do trabalho. Se ai se entende por preço real do trabalho o valor do traba·
lho, o lucro terá de cair se o preço da mercadoria baixar por lhe diminuir
o valor. Em contrapartida, se por tal se entender a soma dos meios de sub-
s.ístência recebidos pelo trabalhador, está certa a proposição.. de Smith,
mesmo quando o lucro sobe. .
Até onde Smith faz uso da deimição correta de valor, toda vez que
analisa realmente os fatos, evidencia-se ainda no tmal do capítulo, quando
pesquisa a razão por que oo panos de lã eram mais caros no século XVI etc.
802
mento deste" (II, p. 158). A alta "do preço real de detenninados produ·
tos primários, a qual de início resulta de se terem arnpliado os melhora-
mentos e o cultivo do solo e mais tatde é a causa que ainda os amplia
mais", por exemplo, a alta do preço do gado, primeiro eleva o valor
real da cota do dono da terra, e ainda a proporção dessa cota, poís
"obter-te esse produto, após se ter elevado o,preço real, não exige mais
trabalho que antes. Por isso, menor quantídade dele basta para repor
o capital que emprega etse trabalho, acrescido do lucro U$Ual. Em oon-
seq Liéncia, proporção maiox tem de pextencer ao proprletá.río" (li, pp.
158, 159).
"Tudo o que redu:i: o preço real destes 116 eleva o preço daqueles 117 "
(ll, p. 159). Ademais, com todo acréscimo da riqueza real da sociedade
aumenta a população; com a população expande-se a procura dos pro-
dutos agrícolas, em conseqüência, o capital empregado na agricultura,
"e a renda acresce com o produto" (l.c.). Ao revés, atuam no sentido
de diminuir a renda e, por conseguinte, de redu:z:.ír a riqueza dos donos
das terras todas as círcunstâncías opostas que impedem o desenvolvi·
mento da riqueza geral (Lc., p. 160).
Daí concluir Smith que o interesse dos donos das terras (proprietários)
está sempre em harmonia com o "ínteresse geral da sociedade". Estende is-
so aos trabalhadores (II, pp. I 61, 162). Mas não falta a Smith a honestidade
para fazer esta distinção:
"A classe dos proprietáxios pode talvez ganhar mais com a prosperidade
da sociedade que a dos ttabalhadores; mas não há classe que sofra tão
cruelmente com o declínio da sociedade como a trabiilltadôta" (1.c.,
p. 162).
"interesse geral da sociedade" (l.c., p. 163). "O interesse dos que transa·
cionam em qualquer ramo comercial ou manufatureíro, em certos aspec-
tos, sempre difere do interesse público e lhe é mesmo oposto" (U, pp.
803
164, 165). " ... uma classe cujo interesse nunca é a rigor o mesmo da co-
munidade. Em geral tem eJa em mira lograr e até oprimir o públiro, lo-
gro e opressão que tem exercido cm muitas ocasiões" (li, p. 165).118
118. Segue no manuscrito seção em que Man analisa o que Ricardo díz da pró-
pria concepção de renda. Es~a seção, separ.ida por um traçe do tc:tto precedente,
eomplement11. os capítulos em que Marx estuda a teoria da renda de Ricardo. Pelo
conteúdo pei:tence ao capítulo XIII, onde foi incluída (ver neste volume pp. 745 e 746).
Logo depois dela vem entre parênteses um complemento da análise da teoria
J'icardiana dos preyos de custo, análise apresentada no capítulo X. O complemento
figura por isso no mesmo capítulo (ver neste volume p. 646).
804
Capítulo XV
Teoria da mais-valia de Ricardo
805
mais-valia. Mas, em contrapartida, acredita falar do lucro como tal, e sem-
pre se insinuam na realidade pontos de vista oriundos do pressuposto do
lucro e não da mais-valia. Onde apresenta com acerto as leis da mais-valia;
erra ao expressâ-Jas de imediato como leis do lucro. Ademais, procura es-
tabelecer, como leis da mais-valia, as leis do lucro de imediato, sem os elos
intermediários.
Quando tratamos de sua teoria da mais-valia, estamos falando por-
tanto de sua teoria do lucro nos casos em que ele confunde este com a
mais-valia, isto é, só considera o lucro em relação ao capital variável, à par·
te do capital empregada em salârio. Ocupar-nos-emos depois do que ele
diz do lucro como elemento dístinto da mais-valia.
A circunstância de a mais-valia só poder ser tratada em relação ao
capital variável, o capital diretamente empregado em salário, insere-se tan-
to na natureza da questão ~ e sem se conhecer a mais-valia é impossível
teoria do lucro - que Ricardo trata o capital todo como capital variável
e abstrai do capital constante, embora este apareça em certas ocasiões na
forma dé adiantamentos.
Ricardo (cap. XXVI, On Grossand Net Revenue) fala de:
Que significa toda a sua teoria do lucro médio (em :que repousa sua
teoria da renda), se não que os lucros "são proporcionais ao capital e não
à quantidade de trabalhb empregada" Se fossem "pro~rcionais à quanti-
dade de traqalho apJicada", capitais iguais dariam lucros muito desiguais,
porque o lucro seria igual à mais-valia produzida no próprio ramo, e essa
depende não da magnitude do capital em geral e sim da grandeza do capi-
tal variável, igual à quantidade de trabalho empregada. Que sentido tem
ª
então atribuir a um emprego partieular de capital, .. ramos especiais, em
caráter de exceção, a propriedade de os lucros serem neles proporcionais
ao montante de capital e não à quantidade de trabalho empregada? Dada
a taxa de mais-valia, o montante de mais-valia de determinado capital sem-
pre tem de depender não da magnitude absoluta do capital e sim da quan-
tidade de trabalho empregado. Em contrapartida, dada a taxa média de
lucro, o montante de lucro tem de depender sempre- do montante do ca-
pital empregado e não da quantidade de trabalho aplicado. Ricardo fala
expressamente de atividades cómo o
"transporte marítimo, comércio ultramarino e os ramos que exigem
maquinaria dispendiosa" (l.c., p. 418).
806
Isto é, fala de ramos que empregam relativamente muito capital
constante e pouco capital variável. Ao mesmo tempo são ramos onde o
nwntante global de capital adiantado é grande em relação aos demais, ou
que só podem ser explorados por grandes capitais, Dada a taxa de lucro,
o montante de lucro depende precisamente da magnitude dos capitais
adiantados. Mas isso absolutamente não distingue os ramos onde se aplicam
vultosos capitais e muito capital constante (andam sempre juntos), dos
ramos onde se empregam pequenos capitais, e é mera _aplicação do prlncí·
pio - capitais iguais dão lucros iguais; assim, capital maior dá mais lucro
que capital menor. Isso nada tem a ver com a "quantidade de trabalho
empregada". Mas a circunstância de a taxa de lucro em geral ser grande
ou pequena depende na verdade da quantidade total de trabalho emprega-
do pelo capital da classe capitalista toda e da quantidade proporcional de
trabalho não pago empregado; e por fim da proporção entre o capital em-
pregado em trabalho e o capital apenas reproduzido como condição da
produção.
Rícardo se opõe ao ponto de vista smithiano, de taxa de lucro mais
alta do comércio exterior, de
Diz:
"afinnam que a igualdade dos lucros será estabelecida pela alta ge.ral
~doslucros; sou de opinião que os lucros do ramo favorecido baixarão
com rapidez ao nível geral" (pp. 132, 133).
Mais tarde veremos até onde está certa sua idéia de lucros excepcio-
nais (que não decorram da elevação do preço de mercado acima do valor),
apesw do nivelamento, 11ão elevarem a taxa geral de lucro, e também até
onde é válida sua idéia de o comércio exterior e a expansão do mercado
não poderem elevar a taxa de lucro. u 9 Mas, admitido o acerto dessas
idéias, sobre.tudo a "igualdade dos lucros", como pode ele distinguir ra,
mos "onde os lucros são proporcionais ao e.apitar: de outros onde são
"proporcionais à quantidade de trabalho empregado"?
No Cap. XXVI, ''On Gross and Net Revenue", diz Ricardo:
807
"Admito que, em virtude da natureza da renda, dado capital empre-
gado na agricultura, em qualquer terreno exceto o cultivado por últi·
mo, põe em movimento quantidade maior de trabalho que capital igual
aplicado em manufatura ou Comércio" (l.c., p. 419).
808
Riairdo:
lsso vale apenas para a taxa normal de lucro "no mesmo ramo de
produção". Do contrário, estaria em contradição direta com a citação an·
terior 120 :
"Say supõe que 'um p:roprietário de tena por meio de sua a:rriduitJa.
de, parcimôrria e habilidade aumenta sua renda anual de 5 000 francos'.
Mas um pxoprietário de teua não tem possibilidade de empregar sua
ass.W.uidade, parcimônia e habilidade na tena, a menos que a cultive.
E então melhoia a tena na qualidade de capitalista e arrendatário e
não na de proprietário. Não é concebível que possa aumentar o pro-
duto de sua cultura por meio de habilidade peculiar" (a "habilidade"
aí cai mais ou menos no vazio), "sem antes aumentar o capital nela
aplicado" (l.c.., p. 209).
809
o que é o mesmo que entrada do capital no ramo em questão ou salda
dele, em ritmo rápido ou lento. Muitos (Sismóncli etc.) criticaram Ricar-
do a propôs.ito de suas observações, por não levar em conta as dillculda·
des para retirar o capital, encontradas pelo arrendatário que emprega· mui-
to capital fixo etc. (E o que demonstra exaustivamente a história da Ingla-
terra de 1815 a 1830.) Essa crítica, embora correta, de modo algum atin-
ge a teorta, deixando-a intacta por inteiro, pois aí se trata apenas da maior
ou menor velocidade em que se efetiva a lei econômica. Mas, a coisa mu-
da radicalmente no tocante à crítica inversa, referente à aplicação de no-
vo capital a novos solos. Ricardo admite que ela pode ocorrer sem inter-
ven~o do dono da terra e que o capital aí opera nu.m domínio onde se
movimenta sem chocar-se com resistêncfas. O erro aí é fundamental. Para
demonstrar tal pressuposto e que assim ocorre onde se tem desenvolvido
a produção capitalista e a propriedade fundiária, supõe sempre Ricardo
casos em que a propriedade fundiária não existe de fato ou na lei e em
que a produção capitalista ainda não se desenvolvel1, pelo menos no pró-
prio campo.
As passagens a que aludimos acima são as seguintes:
810
que se consomem e se 1eproduzem todo ano, como chapéus, sapatos,
trigo, tecidos; podem ser reduzidas, se necessário, e não é longa a de-
morn de a oferta se contrair em proporção ao encai:go ac1escido de
produzi-los" (1.c., pp. 220, 221 ).
Não nos interessa aqui saber se Ricardo tem razão ao dizer que "o
imposto sobre produto primário da superfície da terra" não recai sobre o
proprietário ou o arrendatário e sim sobre o consumidor. Mas assevero
que, se ele tem razão, esse imposto pode elevar a renda, embora Ricardo
acredite que tal imposto não a influencie, salvo se, por encarecer os meios
de subsistência etc., diminua o capital etc., a população e a procura de tii-
go. Ricardo irnagí.ria · que encarecimento do produto primário só atinge
a taxa de lucro se passa a encarecer os meios de subsisUnda do trabalha-
dor. E então está certo que encarecimento do produto pri~o só nessa
condição pode influenciar a taxa de mais-valia e por isso a mais-valia, em
conseqühlcia também a taxa de lucro. Mas, supondo-se dada a mais-valia,
encarecímento do ••produto primário da superfície da terra" acresceria o
valor do capital constante em relação ao variável, aumentaria a proporção
do capital constante com o variável e reduziria por is&O a taxa de lucro: ele-
varia portanto a renda. Ricardo parte da idéia de alta ou baixa do produto
primário não influenciar o lucro, contanto que não influencie o salário,
pois, segundo raciocina (excetuada passagem a que voltaremos mais tar-
de),121 a taxa não varia, suba ou caia o valor do capital adiantado. Se
121. Ver neste volume pp. 861-863.
811
acresce em valor o capital adiantado, por deco~rência acresce em valor
o produto, e do produto a parte que constitui o produto excedente, isto
é, lucro; ao revés, se cai o valor do capital adiantado. Isso está certo ape·
nas quando, em virtude do encarecimento da matéria-prima ou de impos-
tos etc., o valor do capital variável e- o do constante variam na mesma. pro·
porção. Nesse caso a taxa não varia, por não ter ocorrido mudança na
composição orgânica do capital. E mesmo então temos de supor - o que
se dá em mudanças efêmeras - que, suba ou caia o preço do produto
prm'.mrio, o salário não varia (ou seja, não varia, suba ou desça, para valor
dado, invariável, seu valor de uso).
Existem as posslbilidades seguintes:
Primeiro, as duas distinções principais:
A. Em virtude de mudança no método de f-"Oduçiio altera-se a pro-
porção entre a massa do capital constante e a do capital variável que são
empregados. Aí não se altera a taxa de mais-valia, suposto ínvariável o sa-
lário (segundo o valor, isto é, segwido o tempo de trabalho que represen-
ta). A mais-valia, porém, se altera quando varia o número dos trabalha-
dores empregados pelo mesmo capital, isto é, quando o capital variável
se modifica. Se o capita! constante decresce relativamente por mudar o
método de produção, cresce a mais-vàlia, em conseqüência, a taxa de Ju-
cro. E vice-versa.
Aqui estamos sempre supondo que fica o mesmo o valqr pro tanto,
para 100, por exemplo, de capital constante e variável.
Nesse caso não é possível que a mudança no método de produção
influencie por igual o capital constante e o variável; assím, ·por exemplo,
que capital constante e capital variável - sem variação no valor - tenham
de acrescer ou decrescer por igual. :e que a queda ou a ascensão tem aí
de depender sempre da variação na produtividade do trabalho. E a dife-
rença - e não a ínfluência igual - que efetua mudança no método de
produção; o que, suposta a composição orgânica do capital, nada tem a
ver com a circunstância de se ter de aplicar montante grande ou peque-
no de capital.
B. Inalterável o método de produção. Mudança na. proporção do
capital constante com o variável, invariáveis as respectivas massas relati-
vas (de modo a continuar cada um deles constituindo a mesma parte alí-'
quota do capital total), ocorrida em virtude da variação do valo:r das mer·
cadorias que entram no capital constante ou no varíáveL
Ocorrências aí possíveis:
1. O valor do capital constante contínua o mesmo, o do capital va-
variável sobe ou desce. Isso influenciará sempre a mais-valia e em conse-
qüência a taxa de lucro.
812
2. O valor do capital variável permanece o mesmo, o do capital cons-
tante sobe ou desce. Então a taxa: de lucro cairá com a subida e subirá
com a descida do capital constante.
3. Se ambos caem ao mesmo tempo, mas em proporção diversa, um
sempre terá subido ou caído em relação ao outro.
4. O valor do capital constante e o do capital variável são influen.
ciados por igual, isto é, ambos sobem ou ambos caem. Se ambos sobem,
a taxa de lucro cai, não por subir o capital constante e sim por subir o va.
riável, e assim a mais-valia cai (apenas por subir o valor do variável sobe,
apesar de pôr em r.;ovímento o mesmo número anterior de trabalhadores
ou menos talvez). Se ambos caírem, subirá a taxa de lucro, não por cair
o capital constante e sim por cair o capital variável (em valor) e crescer
em conseqüência a mais-valia.
e.Mudança no método de produção e no valor dos elementos que
compõem o capital constante e o capital variável. Uma mudança aí pode
anular a outra, quando, por exemplo, a massa do capital constante aumen-
ta, enquanto seu valor diminui ou fica o mesmo (isto é, diminuí pro tanto,
para 100), ou quando sua massa diminui, mas seu valor sobe na mesma
proporção ou fica o mesmo (ísto é, sobe [JrO tanto). Não ocorreria então
mudança alguma na composição orgânica. A taxa de lucro ficaria inalte·
rada. Excetuado o capital agrícola, nunca pode suceder que a massa do
capital constante diminua em relação ao variável, enquanto seu valor aumenta.
A anulação considerada é impossível para capital variável ( enquan-
to o salário real permanecer inalterado).
Excetuado esse úníco caso, só é possível portanto que valor e mas-
sa do capital constante simultaneamente diminuam ou aumentem em re.
lação ao capital variável, que seu valor por isso tenha acréscimo ou de-
créscimo absoluto em confronto com o capital variável. Caso esse já exa-
minado. O acréscimo ou decréscimo simultâneo deles, em proporção dí·
ferente, sempre se reduz, segundo o pressuposto, a aumento ou redução
do valor do capital constante em relação ao do capital variável.
Isso abrange ainda o outro caso, pois, se aumenta a massa do capi·
tal constante, a do capital variá11el diminuí relativamente, e ..ice-versa. O
mesmo se estende ao valor.
813
dois lados, a taxa de lucro podería ficar inalt~rada. Por exemplo, se o ca·
pital constante for 60 libras, o salário 40 e a taxa de mais-valia 50%, o
produto será 120. A taxa de lucro será 20%. Se o capital constante, sem·
se alterar sua massa, caísse. a 40, o salário se elevasse a 60 e a mais-valia
caísse de 50% para 33 1/3%, o produto seria 120 e a taxa de lucro, 20.
Isso é falso.
De acordo com o pressuposto, o valor global da quantidade de tra-
balho aplicada = 60 libras. Se o salário portanto subisse para 60, a mais-
valia e em conseqüência a taxa de lucro seriam nulas. Se não subisse tan·
to, causaria sempre, em cada ascensão, decréscimo da mais-valia. Se se
elevasse a 50, a rilais-valia seria 10 libras; se fosse 45, a mais-valia seria 15
etc. Em todas as circunstâncias, portanto, a mais-valia e a taxa de lucro
cairiam em igual medida. E que se mede aqui pelo capital total inaltera-
do. Invariável a magnitude do capital (do capital total), a taxa de lucro
tem de subir e cair não com a taxa de mais-valia, mas com o montante
absoluto da mais-valia. Se, no exemplo acima, a fibra de linho caísse tan-
to que 40 libras pudessem comprar quantidade igual à que fiava o mes-
mo número de trabalhadores, teríamos:
1
40 so 10
................
100 90 111/9%
·······················
E mais:
814
Segundo e suposto, a queda do valor do capital constante neutrali·
za sempre, mas só em parte, a alta do valor do capital variável. De acordo
com o suposto, ounca poderá anulá-la de todo, pois para a taxa de lucro
ser 20, 10 teria de ser I/S do capital total adiantado. Mas é o que só pode
ocorrer, para o capital variável = 50, se o capital constante =O. Em con-
trapartida admitamos que o capital variável se eleve apenas a 45; nesse
caso, a mais.-valia é 15. Suponhamos caia o capital constante a 30; nesse
caso temos:
1
Capital Capítal M.ais-valia 1 Va1otdo Capital 1 Taxa de
i
1
constante variável 1
1
1
1
1
produto adiantado lucro
1
1
30 45 1
1
1
15 1
90 75 1
20%
815
Toma-se muito importante aí a relação entre a taxa de mais-valia
e o número de trabalhadores. Ricardo nunca atenta para isso.
• * *
Sem dúvida, o que se coilsídera aqui variação na composição orgâni·
ca de um capital pode estender-se por igual à díferença de composi{iio
orgânica de capitais dirJersos, de capitais aplicados em ramos diferentes.
Primeiro:· em vez de variação na composição orgânica de wn capi-
tal, diferença na composição orgânica de mpitais diversos.
Segundo; alteração da composição orgânica por lJt1rilJ1' o valor dos
dois segmentos de' um capital é por igual diferença no wzlof das matérias-
.e
primas maquinaria aplicadas por capitais diversos. Isso não se estende
ao capital variável, pois supõe-se salário igual nos diferentes ramos. Adi-
vergência no valor de diferentes jornadas de trabalho em diferentes ra-
mos nada tem a ver com o problema. Se o trabalho de um ourives é mais
caro que o de um trabalhador comum, também o trabalho excedente da-
quele é mais caro que o deste, na mesma proporção.
816
dente sobre fibra de linho ou sobre lã. A fibra do linho sobe de preço.
A empresa de fiação por isso não mai~ pode adquirir a mesma quantida-
de de fibra com capital de 100. Uma vez que não mudou o método de
produção, precisa do mesmo número de trabalhadores para fiar a mesma
quantidade de fibra. Mas a fibra tem mais valor que antes, relativamente
ao capital despendido em salário. Assim cai a taxa de lucro. Nessas con-
dições de nada lhe serve a alta do preço do fio de linho. Em nada lhe im-
porta o nível absoluto desse preço. A única coisa que importa é o exces-
so do preço sobre o preço dos adiantamentos. Se quiser aumentar o pre-
ço do produto global para ajustá-lo ao preço da fibra e para que a mes-
ma quantidade de fibra dê o mesmo lucro anterior, a procura, que já de-
cresce em virtude da alta da matéria~prima do fio, decrescerá ainda mais
em virtude da alta artificial decorrente da elevação do lucro. Embora da-
da em média a taxa de lucro, esse aumento não é possível em semelhan-
tes casos.123
No capítulo XV 'Taxes on Profits" diz Ricardo:
123. No manuJcrito segue urna seção (pp. 642 e 643J que trata das variações, em
sentidos opostos, dos valores do capital constante e do variável, matéria que perten·
ce à ~eção 3 deste capítulo, onde está incluída (ver pp. 813;a.S16 deste volume).
817
O erro está neste último "e" - preços e valor. Essa variação de preços
provaria apenas que, tal como sucede com a diferença da divisão do capi-
tal em fixo e circulante, para se estabelecer a taxa geral de lucro é míster
que os preços ou preços de custo determínados e regulados por tal variação
sejam bem diferentes dos vai.ores das mercadorias. E nenhures em Ricardo
se encontra esse aspecto da questão, o maís importante. No mesmo capí-
tulo diz ele:
"Se num pais não houver tributação e cair o valor do dinheiro, sua abun-
dância em todo mercado (aí a idéia rídícula de a queda no valor do di·
nheko ter por companhia necessá.ria sua abundância em todo merca-
do) gerará efeitos semelhantes. Se a carne subir de 20%, também subi·
1á de 203 pão, cerveja, calçados, trabalho, toda mercadoria enfim; é
necessárío que assim seja para se assegurar a cada ramo a mesma taxa
de luC,ro. Mas isso deixa de ser verdade quando alguma dessas mercado-
rias é tributada; se, então, subirem todas na proporção ,da queda do va·
lor do dinheiro, ocorrerão lucros desiguais. Para as mercadorias tribu·
tadas, os lucros serão elevados acima do nivel geral, e capital ~ deslo·
cará de um emprego para outro até se restaul'fJJ' um equilibrio de lucros,
o que só pode suceder depois de se alterarem ospreçosrelati.-os" (p, 237}.
818
eia não é subir ou cair o preço, mas aexescer ou decrescer a renda. Sob
esse ponto de vista todos os impostos sobre empregados agrícolas, cava-
los ou implementas a,grfoolas são na cealídade íropostos sobre a terra.
O ô11us reC3i sobre o arrendatário enquanto vigora o arrendamento, e
sobre o senhorio quando é mister renovar o arrendamento. De igual
modo todos os implementos da exploração, os quais poupam despesas
ao arrendatário como debulhadoras e colheit~iras, e o que quer
que lhe dê mais fácil acesso ao mereado, como boas estradas, canais
e pontes -, embora reduzam o custo original do trigo, não diminuem
seu preço de mercado. Por isso pertence ao senhorio, como parte de
sua renda, o que quer que se poupa com esses melhoramentos.'
"Desde que aceitemos a base", diz Ricardo, ·"sobre a qual Buchanan
constrói sua argumentação, a saber, que o preço do .trigo sempre dá
renda, é claro que resultam evidentes todas as conclusões por ele sus·
tentadas" (pp. 292, 293}.
De maneira_ alguma está ísso claro. A base sobre que Buchanan cons-
trói _sua argumentação não é a circunstância de todo trigo dar renda, mas
a de ser vendido a preço de monopólio todo trigo que dá renda, e a de o
preço de monopólio ser - no sentido definido por A. Smith e esposado
po1 Ricardo - "o preço mais alto a que os consumidores estão prontos
para comprar a mercadoria". 124
E.aí que está o erro. Trigo que dá renda (abstraindo-se da renda di-
ferencíal) não se vende a preço de monopólio no sentido de Buchanan:
só se vende a preço de monopólio enquanto se vende acima do preço de
custo e pelo valor. Seu preço é determinado pela quantidade de trabalho
nele realizado e não pelas despesas para produzi-lo, e a renda é o excesso
do valor sobre o preço de custo, e assim detenninada por este; quanto maior
a renda, tanto menor o preço de custo em relação ao valor, e quanto me-
nor a renda, tanto maior o preço de custo em relação ao valor. Todos os
melhoramentos requzem o valor do trigo por diminuírem a quantídade
de trabalho necessárÍa -para produzi-lo. Que reduzam ou não a renda de·
pende de circunstâncias diversas. Se o trigo fica mais barato e por isso bai-
xa o salário, eleva-se a taxa de mais-valia. Além disso, cairiam as despe-
sas do arrendatário em sementes, alimentação do gado etc. Assim elevar·
se-ia a taxa de lucro em todos os outros ramos do sej!)t não agríoola e em
conseqüência também na agricultura. Nos ramos não agrícolas não se alte-
rariam as magnitudes relativas de trabalho imediato e acumulado; o nú-
mero de trabalhadores ficaria o mesmo (em relação ao capital constante),
124. Ricardo dá essa definição de preço de monopólio no capítulo XVll de sua obra
On lhe principies of political ecotwmy, and taxatúm, 3!1 ed .. Londres, 1821, pp. 289 e
290. Acima cita Marx definição análoga de preço de monopólio, dada por Adam
Smith (p. 775 deste volume).
8)9
mas cairia o valor do capital variável e subiria portanto a mais-valia e daí
a taxa de lucro. Ambas, em conseqüência, subiriam também no setor agri-
cola. Nessas condições, a renda cai por subir a taxa de lucro. O trigo fica
mais barato, mas seu preço de custo aumenta. Por isso diminui a diferen-
ça entre seu valor e seu preço de custo.
Segundo nosso pressuposto, a composição do capital não agrícola
médio era 80c + 20y, a taxa de mais-valia= 50%, daí, a mais-valia= 10 e
a taxa de lucro = 10%. Por conseguinte, o valor do produto do capital
médio de 100 = 110.
820
Admitamos que o capital não agrícola seja formado pelos seguin-
tes capitais:
······
Produto Valor Diferença entre preço
Suposição para serem de custo e valox
as mercadori11s vendidas
pelo mesmó preço
de custo
--··· '
(1) 80c+ 20v 110 110 o
(2) 60c + 40v 110 120 -10
:(3) 85c + lSv 110 107 1/2 + 21/2
!C4) 95c + Sv 110 1021/2 + 71/2
821
Teremos- portanto:
.--------
.Taxa de 1 .. Produto Valor Diferença
IU:CJO Suposição entre preço de
l
1
1
: para serem
i !lS mercado-
rias vendidas·
custo e valm
! 1
pelo mesmo
preço de
custo
(1) 84 4/l9c + 15 15/19v 15 15/19 i 116 11515/19 +4/19
(2) 66 2/3c + 33 l/3v 33 1/3 1 116 133 1/3 - 17 1/3 1
(3) 88 24/77 e+ 11 53/77v 11 53/77 116 111 53/77 + 4 24/77
(4) 96J~/79,, + 3 63/79v 3 63/79 116 103 63/79 + 1216/79
Total 400 64 (quantia arredÓndada)
Temos aí 16%. Com maior aproximação, algo mais que 16 l/7%. 1?.5
O cálculo é aproximado, pois despreza-se, não se leva em conta fração do lu·
cro médio, e assim a diferença negativa de (2) aparece um pouco aumenta-
da e a positiva de (1), (3) e (4), um pouco diminuída. Mas vê-se que fora
disso anular-se-iam as diferenças positivas e negativas, e que crescerá de
maneira significativa a venda de (2) abaixo de seu valor, e a: de (3) e so-
bretudo de (4) acima de seu valor. Por certo, o acréscimo· ou decréscimo
não .seriam tão grandes para o produto individual, como pod~ parecer
aqui, uma vez que em todas as 4 categorias se aplica mais trabalho e em
conseqüência se converte mais capital constante (matéria-prima e maquina-
ria) em produto, e desse modo o acréscimo ou decréscímo se repartirem
por quantidade maior de mercadorias. Contudo, permaneceriam ainda
significativos.
E assim evidencíou·se que a baixa do salário teria causado alta dos
preços de custo de (1), (3), (4), bastante considerável em (4). E a mesma
lei que Ricardo desenvolveu ao tratar da diferença ~ntre capital fixo e ca-
pital circulante, mas sem ter de maneíra alguma provado ou podido pro-
var que isso é compatível com a lei do valor e que o valor. dos produtos
não varia para a totalidade do capital. 126
125. No manuscrito: mais exatamente 16 libras e 12 1/2 xelins, mas arredondam-
se algumas frações, o que provoca desvio abaixo de 2 pence.
126. Mau: alude ai às seções IV e V do capítulo primeiro do livro de Ricardo On
the principie:; of political economy, and taxation, nas quaís Ricardo investiga se alta
ou baixa do .salário influencia os "valores rela.tives das mercadorias" produzidas por
capitais de composição orgânica difetente. Marx faz uma análise pormenorizada de
ambas as seções neste volume, pp. 607 e seguintes.
822
O cálculo e o nivelamento se tornam muíto maís complicados se le-
vannos ainda em conta as diferenças na composição orgânica do capital,
oriundas do processo de circulação. Pois em nosso cálculo admitimos
que todo o capital constante adiantado entra no produto, isto é, só con-
tém o desgaste de capital fixo durante um ano, digamos (uma vez que te-
mos de calcular o lucro por ano). Do contrário, os valores, das massas de
produtos comportar-se-iam de maneira bem diversa, enquanto aqui só
mudam com o capital varíável. Ademais, com taxa invariável de mais-valia
mas com período de circulação variável, haverá diferenças maiores na
magnitude da mais-val'ia produzido. em relação ao capital adiantado. Omi-
tidas diferenças do capital variável, os montantes de mais.valia estarão em
proporção com os montantes dos diferentes valores criados pelos mesmos
capitais. A taxa de lucro será bem mais baixa quando parte relativamente
grande do capital constante consistir em capital fixo, e bem mais alta,
quando parte relativamente grande do capital consistir em capital circulan-
te. Atingirá a altura máxima quando o capital variável for grande em rela-
ção ao constante e a parte fixa deste for ao mesmo tempo relativamente
pequena. Se fosse igual, para os diferentes capitais, a relação, no capital
constante, entre a parte fixa e a circulante, o fator decisivo seria apenas
a diferença entre capital variável e constante. Se não se alterasse a relação
entre capital variável e constante, o fator decisivo seria apenas a diferença
entre capital fixo e circulante, ou seja, a diferença dentro do próprio ca-
pital constante.
Conforme vimo_s, a taxa de Jucro do arrendatário de qualquer mo-
do subirá se, em virtude da baixa do trigo, aumentar a taxa geral de lucro
do capital não agrícola. A questão é saber se aquela taxa de lucro subirá
diretamente, o que parece depender da natureza dos melhoramentos. Se
estes forem de natureza a reduzir consideravelmente, em relação ao capi·
tal aplicado em maquinaria etc., o capital despendido em salário, a taxa
de lucro do arrendatário não terá de subir de maneíra direta. Se forem
de natureza que o arrendatário necessite de 1/4 a menos de trabalhado-
res, terá ele de despender apenas 30 em salário, em vez das 40 libras ante·
riores. O capital portanto será 60c + 30v ou, na base de 100 horas,
66 2/3c + 33 I/3v. E uma vez que trabalho adquirido por 40 dá 20 de
mais-valia, o obtido por 30 dará 15. O adquirido por 33 1/3 dará 16 2/3.
Assim, a composição orgâníca do capital aproximar-se-á da do capital
823
não agrícola. 'E cairá mesmo abaixo desta, no caso acima, se houver de·
créscimo simultâneo de 1/4 no salário. 111 Neste caso eliminar-se-á a ren-
da (a renda absoluta).
Após o trecho acima referente a Buchanan, prossegue Ricardo:
"Espero ter esclarecido bastante que, até um país ser de todo cultiva·
do e no mais alto grau, haverá sempre, do capital aplicado no solo, par-
te que não dará renda, e" (!) "que essa parte do capital é a que deter-
mina o preço do trigo e seu resultado se dívlde, como na indústria, em
lucro e salário. Sendo o preço do trigo que não dá renda determinado
por seus custos de produção, não podem esses custos ser pagos por
renda. Por isso, a conseqüência de crescerem esses custos é um preço
mais alto e não uma renda mais baixa" (1.c., p. 293). -
127. Marx toma como exemplo uma das direções em que pode ocorrer o pio·
cesso de aproximação entre a composição 01gâníca do capital agi:ícola e a do capi-
tal industrial. Serve-lhe de ponto de partida:
60c + 4-0v para o capital agrícola e
SOc + 20v para o capital não·agrícola.
Mai:x admite que, em virtude da, alta da produtividade do trabalho agrícola,
diminui de 1/4 o númezo de trabalhadores na agricultuta. Muda portanto a compo-
síção orgânica do capital agrícola: o produto que requeria antes o dispêndio de um
capital de 100 unidades (60c + 40v), exige o desembolso de 90 unidades (60c + 30y),
o que, .transposto para 100 unidades, resulta cm 66 2/3c + 33 l/3v.· Assim. a compo-
sição orgânica do capital agrícola aproxima-se da do capital industrial.
Marx supõe ainda que, além de se reduzir o número dos trabalhadores agríco-
~. baixa de l /4 o salário em virtude de baratear o trigo. Nest!l · caso:é necessário
admitir que na indústria o salário também cai na mesma proporção. Mas a queda
do salário tem de repercutir maís no capital agrícola, que te!T\. composiç.ão orgâni-
ca inferior, do que no capital não-agrícola. Isso levaria a que diminuísse de novo a
diferença entre a composição orgânica do capital agrícola e a do capital industrial.
Se o salário diminuir de 1/4, o capital agrícola de 66 2/3c + 33 1/3v conver-
ter-se-á num capital de 66 2/3c + 2Sv, o que dá, par.i. lOOunidades, 72 8/llc + 27 3/llv.
C-om a mesma diminuiç.ão do salázio, o capita! não-agrícola de 8-0c + 20v trans-
fonnar-se-á num capital de 80c + lSv, o que, transposto para 100 unidades, dá
844/19c+15 15/19v.
Com outro decréscimo do número dos trabalhadores agrícolas e com outra
queda do salário, a composição orgânica do capital agrfoola aproximar-se-á ainda
mais da do capital não-agrícola.
a
No estudo desse caso hipotético formulado para explicar influência que o
aumento da produtividade do trabalho na agricultllf3 tem na composição orgânica
do capital agdcola, abstrai Marx do aumento simultâneo, na maioria dos casos ainda
mais rápido, da produtividade do trabalho na indústria, aumento que se expressa em
nova elevação da composição orgânica do capita! industrial em relação à do capital
agrícola. Sobre a 1elação entre a oomposição orgânica do capital industrial e a do
capital agrícola \'er neste volume pp. 453, 454, 524, 539, 540 e 674.
824
Uma vez que a renda absoluta é igual ao excesso do valor do pro-
duto agrícola sobre o preço de produção, 128 é claro que tudo o que di·
minui a quantidade global do trabalho requerido para produzir trigo etc.
dinúnui a renda, por reduzir o valor, isto é, o excesso do valor sobre o
preço de produção. Enquanto o preço de produção consiste em despesas
pagas, sua queda é idêntica ã queda do valor e com ela coincide. Entre-
tanto, enquanto o preço de produção (ou as despesas) é igual ao capital
adiantado acrescido do lucro médio, ocorre justamente o oposto. O va-
lor de mercado do produto cai, mas deste a parte igual ao preço de pro-
dução sobe se a taxa geral de lucro sobe em virtude da queda do valor
de mercado do trigo. A renda portanto cai, por subirem as despesas nes-
se sentido em que Ricardo em geral as vê, ao falar de custo de produção.
Melhoramentos na agricultura, que geram acréscimo no capital constante
em relação ao variável, farão cair ponderavelmente a renda, mesmo se
a quantidade total de trabalho tiver queda reduzida ou tão redui.ida que
não chegue mesmo a influir no salário (diretamente na mais-valia). Se,
em virtude desses melhoramentos, o capital 60c + 40y se converter em
66 2/3 0 + 33 l/3v (por exemplo, por causa do salário ascendente, resul-
tante de· emigração, guerra, descoberta de novos mercados, prosperída·
de da ind(1stria não agrícola, ou por causa da coneorrência de trigo estran-
geiro, poderá o arrendatário se ver forçado a se emepenhar em aplicar
mais capital constante e menos capital variável; as mesmas circunstâncias
podem continuar atuando depois desses melhoramentos e assim não cair
o salário apesar deles), o valor do produto agrícola baixará de 120 para
116 2/3, isto é, diminuirá de 3 1/3. A taxa de lucro continuará a ser 10%.
A renda cairá de 10 para 6 2/3, e essa queda terá ocorrido sem haver qual.
quer redução em salário.
A renda absoluta pode subir, por cair a taxa geral de lucro, em vir·
tude de novos progressos na indústria. A taxa de lucro pode cair, porque
sobe a renda em virtude de aumentar o valor do produto agrícola e, em
conseqüência, a diferença entre seu valor e seu preço de custo. (Ao mes-
mo tempo, a taxa de lucro baixa por subir o salário.)
A renda absoluta pode cair, por cair o valor do produto agrícola
e subir a taxa geral de lucro. Pode cair, por cair o valor do produto agrí·
cola em virtude de se transformar a composição orgânica do capital. sem
que se eleve a taxa de lucro. Pode desaparecer por completo, desde que
o valor do produto agrícola seja igual ao -preço de custo, isto é, o capital
agrícola tenha a mesma composição que o capital médío não agrícola.
128. Preço de produção= e+ v +lucro médio.
825
A proposição de Ricardo só seria correta assim expressa: se o valor
do produto agrícola for igual a seu preço de custo, não existirá renda ab-
soluta. Mas ele está errado porque diz: não há renda absoluta porque va-
lor e preço de custo são em substância idênticos, tanto na indústria quan-
to na agricultura". Ao revés, a agricultura pertenceria a um tipo excepcio·
nal de indústria, se nela valor e preço de custo fossem idênticos.
Ricardo, ao admitir que não existe mesmo terra que não pague ren-
da, acha que é muito importante apoiar-se na circunstância de existirem
pelo menos doses de capital, empregadas na terra e que não pagam renda.
Para a teoria um fato é tão irrelevante quanto o outro. A verdadeira ques-
tão é esta: os produtos dessas terras ou desses capitais determinam o va-
lor de mercado? Ou antes não terão esses produtos de ser vendidos abaixo
de seu valor, porque essa oferta adicional só é vendável por esse valor de
mercado - determinado sem sua interferência - e não acima dele? A coi-
sa é simples para doses de capital, porque então para o arrendatário não
existe propriedade do. teTTa no tocante às doses adicionais, e ele como
capitalista tem apenas em mira o preço de custo e, se dispõe do capital
adicional, continuará empregando capital mesmo. abaixo do lucro médio
mais vantajosamente do que se o emprestasse, isto é, obtivesse meros ju·
ros e não lucro. Quanto às terras que não pagam renda, constituem elas
componentes de conjuntos fundiários que pagam renda, . dcis quais não
se podem separar e com os quais são arrendadas, embora 'não seja possí-
vel arrendá-las isoladas, de per si, a nenhum arrendatário capital~sta {mas
por certo a um pequeno lavrador ou a um pequeno capitalista). Nesses
pedaços de terra volta a desaparecer o confronto entre a _propriedade fun-
diária e o arrendatário. Ou então o proprietário mes.rrío. tem de cultivá·
los. Eles não possibilitam a um arrendatário pagar renda, e o senhorio
não os arrenda de graça, a não ser que por exceção queira por esse meio
arrotear sua terra sem custos.
As condições mudariam num país onde a composição do capítal
agrícola fosse igual à composição médía do capit:µ não agrícola, o que
pressupõe elevado desenvolvimento da agricultura ou baixo desenvolvi·
mento da indústria. Neste caso, o valor do produto agrícola = seu preço
de custo. Então, só se poderia pagar renda diferencial. As terras que não
pudessem proporcionar renda diferencial e .0 pudessem dar renda agrí-
826
cola, não poderiam pagar renda. Pois, se o arrendatário vender o produ-
to agrícola por seu valor, esse produto só cobrirá o preço de custo. O
arrendatário portanto não pagará renda. O proprietárto terá então de cul·
tivá-la ou de arrecadar parte do lucro ou mesmo do salário de seu rendei-
ro, a título de arrendamento. Que suceda isso num país não impede nou·
tro a ocorrência oposta. Mas, onde a indústria - e portanto a produção
capitalista - tem escasso desenvolvimento, não existem arrendatários
capitalistas, que pressupõem a produção capitalista no país. Ai entram
em consideração condições por completo diferentes daquelas da organi-
zação econômica em que a propriedade da terra só tem existência econô-
mica na figura da renda fundiária.
No mesmo capitulo XVII diz Ricardo:
"Produ~o primário não tem preço de monopólio, porque o preço de
mercado da cevada e do trigo é determinado pelo respectivo custo de
produçáo como o dos panos de algodão e de linho. A única diferença
consiste em que, na agricultura, é uma porção do capital empregado
que determina o preço dos cereais, isto é, a porção que ruto paga renda,
enquanto na produção de mercadoriin manufaturadas se emprega com
igual resultado cada porção do capital; não ha~endo porção que dê ren-
®· ca® uma determina por igual o preço" (l.c., pp. 290, 291).
827
No estiló que prevalece ao longo de sua pesquisa, Ricardo começa aí
seu livro dizendo que a dete.tminação do valor das mercadorias pelo tem-
po de trabalho não é incompatível com o salário ou com a recompensa
diferente desse tempo ou dessa quantidade de trabalho. De saída volta-se
contra a confusão que A. Smith faz .entre a <feterminação do valor das mer-
cadorias pela quantidade proporcional de trabalho requerida para produzi·
la e o valor do trabalho (ou a recompensa do trabalho).
É claro que a quantidade proporcional de trabalho contida em duas
mercadorias A e B em nada se altera com a circunstância de os trabalhado-
res que produzíram A e B terem recebido muito ou pouco do produto de
seu trabalho. O valor de A e B é determinado pela quantidade de trabalho
que sua produção custa. e não pelos custos do traballw para os donos de
A e B. Quantidade de trabalho e valor de trabalho são duas coisas diferen·
tes.. A quantidade de trabalho respectivamente contida em A e B nada tem
a ver com a magnitude de trabalho contida em A e B,paga pelos donos de A e B
ou por eles mesmos executada. A e B se trocam não na razão do trabalho
pago neles contido, mas na razão da totalidade, neles encerrada, de traba-
lho pago e não pago.
"A. Smith que definiu com tanto rigor a fonte original do va.)or de tro·
ca e que por coerência estava obrigado a afirmar que tpdas as coisas
têm valor maior ou menor segundo a quantidade maior ou menor de
trabalho empregada pata produzi·las, é quem erige ôuuo padrão de
medida do valo.r e fala de terem coisas valor maior ou menor segundo
se trocarem por mais ou menos daquela medida rn:mnaL. como se se
tratasse de duas expressõet equivalentes e como se alguém, por ter do·
brado a eficácia de seu tiabalho e por isso pudesse p.roduzír o dobro
da quantidade de uma mercadoria, recebesse necessuiamente em tro·
ca duas vezes a quantidade anteríor" (isto é, em troca de seu trabalho).
"Se isso fosse realmente verdade, 1e a recompensa do trabalhador sem·
pre correspondesse ao que ele produz, serfam iguais a quantidade de
trabalho aplicada numa mercadoria e a quantidade de t7abalho que se
pode comprar com e!llXI mercadoria, e uma ou outra quantidade pode-
ria medir precisamente as variações dos ·outros bens: mas não são iguais"
(1.c., p. S).
828
pelo valor do trabalho, pela quantidade de trabalho que posso comprar,
comandar com volume definido de mercadorias. Por essa razão, o valor
do trabalho se torna a medida dos valores, em vez de a quantidade relati-
va de trabalho. Ricardo, com acerto, retruca a A. Smith que a quantidade
relativa de trabalho contida em duas mercadorias, de modo algum se alte-
ra com a porção dela que caberá ao próprio trabalhador, com a forma de
recompensar esse trabalho, e que portanto, se a quantido.de relativa de tra-
balho era a medida dos valores das mercadorias antes de aparecer o salá-
rio (remuneração distinta do valor do próprio produto), não há razão
alguma por que não continue a ser essa medida depois de aparecer o sa-
lário. Com razão argumenta que A. Smith pode utilizar ambas as expres-
sões, colocadas no tempo em que são equivalentes, mas que isso não é
justificativa para· empregar a expressão falsa em lugar da correta, quan-
do deixam de ser equivalentes. Mas com isso Ricardo de modo algum
resolveu o problema que é a causa intrinseca da contradição de A. Smith.
Valor de trabalho e quantidade de trabalho continuam a ser "expressões
equivalentes", desde que se trate de trabalho materializado. Deixam de
ser equivalentes quando se trocam trabalho materializado e· trabalho vivo.
Dúas mercadorias se trocam na razão do trabalho nelas materiali-
zado. Trocam-se entre si quantidades iguais de trabalho materializado.
Seu estalão é o tempo de trabalho, e justamente por isso sã:o "de valor
maior ou menor, segundo se trocarem por mais ou menos daquele esta-
lão". Se a mercadoria A contém uma jornada de trabalho. trocar-se-á por
qualquer quantidade de mercadoria que encerre também uma jornada
de trabalho, e tem "valor maior ou menor" de confonnidade com a quan-
tídade maior ou menor de trabalho materializado em outras mercadorias
pela qual se troca, pois essa relação de troca exprime a quantidade rela-
tiva de trabalho nelas mesmas contida, é-lhe idêntica.
Mas, atualmente, o salário é mercadoria. E mesmo a base em que
se dá a produção dos produtos como mercadorias. Não vigora, para ela,
a lei dos valores. Esta, portanto, de maneira nenhuma domina a produ-
ção capitalista. Há aí uma contradição. Este é o primeiro problema de A.
Smith. O segundo, que mais tarde encontraremos desenvolvido em Mal-
thus: a utilização de urna mercadoria (como capital) não é proporcional
ao trabalho que ela contém, mas ao trabalho alheio que comanda, ao do-
mínio que dá sobre trabalho alheio em quantidade maior que a do traba-
lho nela mesma encerrado. Este é de fato segundo motivo disfarçado para
a afirmação: ao iniciar-se a produção capitalista, o valor das mercadorias
é determjnado não pelo trabalho que elas encerram e sim pelo trabalho
vivo que comandam, isto é, pelo valor do trabalho.
829
Ricardo retruca simplesmente que a coisa é assim na prod~o ca-
pitalista. Além de não resolver o problema, nem sequer o nota na obra
de A. Smith. De acordo com toda a ordenação de sua pesquisa, basta~lhe
provar que o valor variável do trabalho - em suma o salário - não elimi-
na a determinação do valor das mercadorias, distintas do próprio traba-
lho, pela quantidade relativa de trabalho nelas contida. "Não r4o iguais",
a saber, "a quantidade de trabalho aplicada numa mercadoria e a quan-
tidade de trabalho que essa mercadoria pode comprar". Contenta-se em
constatar esse fato. Mas, como se distingue a mercadoria trabalho das ou-
tras mercadorias? Uma é trabalho vivo, as demais, trabalho materializado.
Por conseguinte, apenas duas formas diferentes de trabalho. Por que uma
lei vige para uma e não para as demais, quando a diferença é apenas de
forma? Ricardo não responde, nem sequer propõe o problema.
De nada serve dizer ele:
830
Essa debilidade da exposição de Ricardo contribuiu, como se verá
mais tarde, para que sua escola se dissolvesse e se elaborassem hipóteses
absurdas.
Com razão diz Wakefield:
* * *
Nesta subdivisão 1, observar ainda: capítulo 1, seção 3 traz, a seguin-
te epígrafe:
831
2. Valor da força de trabalho. Valor do trabalho.
"O trabalho tem preço natlllal e preço de me1cado, como todas as de-
mais coisas que' se compram e se vendem e que podem aumentar ou di-
minuir em quantidade" {isto é, como todas as outras mercadorias).
"O preço natural do trabalho é o preço necessário para capacitar os
trabalhadores em geral a subsistir e perpetuar sua raça, sem acréscimo
ou deçiéscimo" (ou melhor, com a taxa de crescimento requerjda pe-
lo progresso médio da produção). "O poder do trabalhador de sustentar
a si e à família que seja necessária para manter o número de trabalha·
dores... depende do preço do& alimento11. do:r ben:r es.rencioí.s e do ccm-
forw material, requeridos para a manutenção do trabalhador e de SUil
famtlia. Com a alta elo pre9o dos alimentos e bens essencíais sobre o
preço natural do trabalho; ao cair aquele preço, decrescerá o preço na-
tural do trabalho" {p. 86).
"Não se eleve supor que o preço natural do trabalho, mes·mo expresso
em alimentos e bens essenciaís, seja absolutamente fixo e constante.
Varia com o tempo no mesmo país e muda muito materialmente de
um país para outro. Depende fundamentalmente dos hábitos. e costu-
mes elo povo" (p. 91).
832
lado". E é algo meramente material, simples elemento do processo de tra-
balho; a partir daí jamais se poderá desenvolver a relação entre trabalha-
dor e capital, salário e lucro.
833
de trigo, subirá ou cairá o valor do trabalho mensal. Mas, o valor do quar·
ter de trigo, não importa quanto suba ou desça (quanto de trabalho se
contenha no quarter de trigo), é sempre igual ao valor de um mês de tra-
balho.
E aí temos a razão oculta. por que A. Smith diz que, ao intervir o
capítal e em conseqüência o trabalho assalariado, o que regula o valor
do produto não é a quantidade de trabalho nele aplicado e sim a quan-
tidade de trabalho que o produto pode comandar. Varia - do trigo e de
outros meios de subsistência - o valor determinado pelo tempo de tra-
balho; mas, enquanto se pagar o preço natural do trabalho, a quantida-
de de trabalho que o quarter de trigo comanda fica invariável. Tem por-
tanto valor relativo pemtdnente, ao se COmptll'0.1' rom o trigo. Eis por que,
também para Smith, valor do trabalho e valor do trigo (no sentido de
alimentos. Ver D. Hume) 130 são medidas-padrão do \llllor, dado que cer·
ta quantidade de trigo, enquanto se pagar o preço natural do trabalho,
comanda certa quantidade de trabalho, qualquer que seja a quantidade
dele empregada num quarter de trigo. A mesma quantidade de trabalho
comanda sempre o mesmo valor de uso, ou antes, o mesmo valor de uso
comanda sempre a mesma quantidad!! de trabalho.
O próprio Ricardo detennina por esse meio o valor do trabalho, o
preço natural deste. Diz Ricardo: o quarter de trigo tem valores diversos,
embora comande sempre a mesma quantidade de trabalho :ou por ela se-
ja comandado. Sim, diz A. Smith: por mais que, do quarter de trigo, va-
rie o valor detenninado pelo tempo de trabalho, o trabalhador, para com-
prá-lo, tem sempre de pagar com a mesma quantidade de trabalho (de sa-
crifício). Assim, o valor do trigo varia, mas não o valor·do trabalho, pois
l mês de trabalho = 1 quarter de trigo. Também o valor do trigo só va-
ria quando consideramos o trabalho exigido para produzi-lo. Ao revés,
se observarmos a quantídade de trabalho por que se troca e que põe em
mm.imento, seu valor não varia. E justamente por isso a quantidade de
trabalho por que se troca 1 quarter de trigo é o estalilo dó valor. Mas os
valores das outras mercadorias estão com o trabalho na mesma relação
em que estão com o trigo. Dada quantidade de trigo comanda dada quan·
tidade de trabalho. Dada quantidade de qualquer outra mercadoria co-
130. Marx ref~ aí ao folheto de Hume, Thoughts on the com law1:..., Londres,
1815, p. 59. Hume, ao analisal' nesse folheto a tese de Adam Smith - "o preço do
trabalho é determinado pelo preço do trigo"-, explica que, quando Smíth "fala de
trigo, é mbter entender que fala de alimentos, pois o valor de todos os produtos
agrícolas ... possui tendência natural a nivelar-se".
834
manda certa quantidade de trígo. Por conseguinte, qualquer outra mer·
cadoria - ou antes o valor de qualqllt)r outra mercadoria se expressa pe·
la quantidade de trabalho que comanda, uma vez que se expressa pela
quantidade de trigo que comanda. e este, pela quantidade de trabalho
que comanda.
Mas como é detenninado o valor das outras mercadorias em rela·
ção ao trigo (meios de subsistência)? Pela quantidade de trabalho que co-
mandam. E como se determina a quantidade de trabalho que comandam?
Pela quantidade de trigo que o trabalho comanda. Dá-se aí a queda irre-
missível de Smith no círculo vicioso. (Embora, diga-se de passagem, nun-
ca empregue e~a medida de valor em análises objetivas.) Além disso con-
funde aí, o que Ricardo também faz muitas vezes, o trabalho, a medida
imanente do valor, com a medida externa, o dinh_eiro, o que pressupõe
já estar determinado o valor; entretanto, como diz ele e Ricardo, o tra-
balho é "o fundamento do valor das mercadorias'', enquanto "a quan-
tidade relativa de trabalho necessária para produzi-las" é "a regra que
determina as quantidades correspondentes de bens que serão dadas em
troca umas pelas outras" (Ricardo, l .c., p. 80).
A.. Smith erra ao extrair da circunstância de se poder trocar deter-
minada quantidade de trabalho por determinada quantídade de valores
de uso, a conclusão de que esta determinada quantidade de trabalho é a
medída do valor, sempre tem o mesmo valor, enquanto a mesma quanti-
dade de valor de uso pode configurar valores de troca diversos. Mas Ri-
cardo erra duas vezes, primeiro por não entender o problema que gera
o erro de Smith, e segundo porque, omitindo de todo a lei dos valores
das mercadorias e refugiando-se na lei da oferta e da procura, determina
ele mesmo o valor do trabalho, não pela quantidade de trabalho aplica-
da para produzu a força de trabalho e sim pela aplicada para produzir
o salário que cabe ao trabalhador. Assim, diz na realidade: o valor do tra·
balho é determinado pelo valor do dinheiro que por ele se paga. E este
valor, que é que o determina? Que determina o montante de dinheiro
que se paga? A quantidade de valores de uso que comanda quantidade
definida de trabalho ou é por ela comandada. Ao dizer isso, Ricardo in-
cide literahnente na incoerência que reprova em A. Smith.
Essa posição ao mesmo tempo o impede, conforme vimos, de apreen-
der a diferença específica entre mercadoria e capital, entre a troca de
mercadoria por mercadoria e a troca de capital por mercadoria - em con-
cordância com a lei da troca de mercadorias.
No exemplo acima, 1 quarter de trigo = 1 mês de trabalho, diga-
mos, 30 jornadas. (Jornada de 12 horas.) Neste caso, o valor de 1 quarter
835
de trigo é inferior a 30 jornadas. Se 1 quarter de trigo fosse o produto
de 30 jornadas, o valor do trabalho seria igual a seu produto. Então, mais-
valia nenhuma e portanto nenhum lucro. Nenhum capital. Por isso, na
realidade, o valor de 1 quartel' de trigo é sempre inferior a 30 jornadas,
se l quarter de trigo representa o salário de 30 jornadas. A mais-valia de-
pende de quanto inferior seja. Por exemplo, 1 quarter de trigo = 25 jor-
nadas. Então, a mais-valia = 5 jornadas o:=: 1/6 do trabalho total. Se 1 quar-
ter (8 bushels) = 25 jornadas, 30 jornadas serão iguais a l quarter l 3/5
bushels. Assim, o valor das 30 jornadas (isto é, o salário) é sempre me-
nor que o valor do produto que contém 30 jornadas. O valor do trigo
não é portanto determinado pelo trabalho que o trigo comanda, que se
troca, e sim pelo trabalho que nele se contém. Em contrapartida, o va-
lor das 30 jornadas, seja qual for, é sempre determinado por 1 quaiter
de trigo.
3. Mais~valia.
Excetuada a confusão entre trabalho e força de trabalho, Ricardo
define com acerto o salário médio ou o valor do trabalho. E· que, diz,
esse valor é detemúnado, não 'pelo dinheiro, nem pelos meio.s ·de subsis-
tência que o trabalhador recebe, e sim pelo tempo de trabalho que custa
produzi-los; pela quantidade de trabalho materializado nos meíos de sub-
sistência do trabalhador. E o que chama de salário real. (Ver in?is tarde.)
Ali.ás, essa definição é uma inferência necessária de sua teoria. Uma
vez que o valor do trabalho é detenninado pelo valor dos meios de rub·
sistênda necessários em que se gasta aquele valor, e o valor desses meios,
como o de todas as outras mercadorias, é determinado pela quantidade
de trabalho neles aplicada, é conseqüência natural que o valor do traba-
lho = valor dos meios de subsistência necessários = quantidade de tra-
balho empregada nesses meios.
Essa fórmula não basta, por mais correta que seja (se abstraímos
da oposição direta entre trabalho e capital). O trabalhador individual, pa-
ra repor seu salário, por certo não produz diretamente 9s produtos de
que vive, mas produz mercadorias no valor de seus meios de subsistên-
cia ou produz o valor de seus meios de subsistência, ou antes, reproduz
esse valor, se consideramos a continuidade desse processo (pode produ-
zir produtos que não têm participação alguma em seu consumo e, mes-
mo quando produz gêneros de primeira necessidade, só o faz, em virtude
da divisão do trabalho, no tocante a um elemento isolado, por exemplo,
836
trigo, e só lhe dá uma forma, digamos, a de grão e não a de farinha). Isso
significa portanto que, ao examinarmos seu consumo diário médio, o
tempo de trabalho que se contém nos seus meios de subsistência de ca·
da dia constitui fração de sua jornada. Trabalha parte do dia para repro.
duzir o valor de seus meios de subsistência; a mercadoria produzida nessa
parte da jornada tem o mesmo valor ou tempo de trabalho da mesma
magnitude de seus meios de subsistência cotidianos. Depende do valor
desses meios de subsistência (isto é, da produtividade social do trabalho
e não da produtividade do ramo particular onde trabalha), o tamanho
que terá o segmento de sua jornada destinado a reproduzir ou produzir
o valor, ou seja, o equivalente de seus meios de subsistência.
Ricardo pressupõe naturalmente que o tempo de trabalho conti-
do nos meios de subsistência cotidianos é igual ao tempo de trabalho diá·
tio que o trabalhador tem de trabalhar para reproduzir o valor desses meios.
Mas intJoduz uma dificuldade e oblitera a compreensão clara dessa refa-
ção, por nã"o mostrar de imediato o destino de uma fração da jornada do
trabalhador, o de reproduzir o vaJor de sua força de trabalho. Daí surge
dupla confusão. Não se esclarece a origem da mais-valia, e assim os suces·
sores de. Ricardo o censuram por não ter apreendido nem explicado a na-
tureza da mais-valia. Esta é uma das razões das tentativas escolásticas de-
les para as explicar. Mas, uma vez que desse modo não se apreende com
clareza a origem e a natureza da mais-valia, considera-se o trabalho exce-
dente + o trabalho necessárío, em suma, a jornada global de trabalho co-
mo grandeza fixa, perdem-se de vista as diferenças na magnitude da mais-
valia, não se toma conhecimento da produtividade do capital, da extra-
ção coercitiva do trabalho excedente, formado pelo trabalho excedente"'
absoluto e ainda pelo impulso endógeno do capital de reduzir o tempo
de trabalho necessário; assim, não se esclarece a razão histórica do capi-
tal. A. Smith, em contrapartida, já ap1esentara a fórmula correta. Tão
importante quanto reduzir o valor a trabaJho era reduzir a mais-valia a
trabalho excedente, e de maneira explícita.
Ricardo parte da realidade presente da produção capitalista. O va-
<
lor do trabalho valór do produto que ele gera. O valor do produto > va-
lor do trabalho que o produz, ou seja, o valor do salário. O excedente do
valor do produto sobre o valor do salário é igual â mais-valia. (Ricardo
erra ao dizer lucro, mas então, como se observou antes, identifica lucro
com mais-valia e é desta que de fato fala.) Para ele, de fato, o valor do
produto > valor do salário. Como esse fato surge, permanece obscuro.
A jornada inteira é maior que o segmento dela requerido para produz.ir
837
o salário. Não se evidencia o porquê. Por isso, erra-se ao se pressupor fi·
xa a magnitude da 'jornada total, e daí deoorrem de imediato conseqüen-
cias falsas. Assim, o acréscimo ou decréscimo da mais.valia só se pode·
explicar pela produtividade crescente ou decrescente do trabalho social
que produz os meios de subsistência. Isto é, só se apreende a mais-valia
relativa.
E claro que, se o trabalhador utilizasse a jornada toda para produ-
zir os próprios meios de subsistência (ísto é, mercadoria igual ao valor
dos próprios meios de subsistência), não poderia haver mais-valia, nem
produção capitalista portanto, nem salário. Para exfatir este, a produtí·
vidade do trabalho social tem de estar desenvolvida bastante para haver
excedente da jornada total sobre o tempo de trabalho necessário à repro-
dução do salário, ou seja, trabaU1.0 excedente, seja qual for sua magnitu-
de. Mas, ainda é claro que tanto a produtividade pode diferir muito para
dado tempo de trabalho (magnitude da jornada), quanto· o tempo de tra-
balho, a magrritude da jornada, para dada produtividade. Ademais, é evi-
dente que, se a existência de trabalho excedente supõe certo desenvolvi-
mento da produtividade do trabalho, a mera possibilidade desse traba-
lho excedente (isto é, a existência daquele mínimo necessááo .de produ-
tívidade do trabalho) ainda não gera sua efetivídoiJe. Para isso, é mister
que o trabalhador seja antes coagi.do a trabalhar além do tempo necessá·
rio, e essa coação exerce-a o capital. E o que falta em Riça.ido e, em con-
seqüência, ignora ele toda a luta pela determinação da jornada normal.
Em nível inferior de desenvolvimento da produtividade. social do
trabalho, quando o trabalho excedente é relativamente exígÚo, a classe
dos que vivem do trabalho alheio será em geral dim~uta em relação ao
número dos trabalhadores. Pode ter crescimento bem considerável (pro-
porcional) à medida que se desenvolve a produtividade, isto é; a mais-
valia relativa.
Admitiu-se ainda que o valor do trabalho varia muito em diferentes
épocas no mesmo país e na mesma época em diferentes países. As zonas
temperadas. porém, são a pátria da produção capitalista. A produtividade
social do trabalho pode estar muito pouco desenvolvida, o que entretan-
to podem compensar, justamente na produção dos meios de subsistência,
a fertilidade dos agentes naturais (como a da terra) e a frugalidade dos
habitantes (em virtude do clima etc.) - duas coisas que sucedem, por
exemplo, na Índia. Em condições rudimentare·s pode o mínimo de salá-
rio (quantitativamente, em valores de uso) ser muito pequeno, ·em virtu-
de de necessidades sociais ainda não desenvolvidas, e contudo custar mui-
838
fo trabalho. Mas. se o trabalho necessário para produzir esse mínimo for
de magnitude mediana, a mais-valia produz.ida, embora se eleve muito
em relação ao salário (tempo de trabalho necessário) e seja alta portanto
a taxa de mais-valia, é tão pobre (considerando-se essa proporção), expres-
sa em valores de uso, quanto o próprio salário.
Seja o tempo de trabalho necessário = 10 horas, o trabalho exce-
dente = 2, a jornada total = 12. Se o tempo de trabalho necessário for
12 horas, o trabalho excedente 2 2/5 e a jornada total 14 2/5, os valores
produzidos diferirão muito: 12 horas, no primeiro caso, e 14 2/5, no se.
gundo. E semelhante o que sucede com as magnitudes-absolutas das mais-
valias. Num caso temos 2 horas, no outro 2 2/5. Não obstante, a taxa de
mais-valia ou de trabalho excedente setá a mesma, pois 2 ·~ 10 = 2 2/5 : 12.
O capital variáve! despendido, no segundo caso, se ê maior, também o é
a mais-valia ou trabalho excedente de que se apropria. Se nesse caso o
trabalho excedente, em vez de aumentar de 2/5 de hora, acrescer de 5/5,
atingindo assim 3 horas e a joroada total 15 horas, subiria a taxa de mo.is-
valia, apesar do acréscimo havido no tempo de trabalho necessário ou no
mínimo de salário, pois 2 10 = l/5, e 3 J2 = 1/4. Poderia haver as
duas oc_orrências, se, em vírtude do encarecimento do trigo etc., o míni·
mo de salârío tivesse crescido ,de 10 para 12 horas. Por conseguinte, mes·
mo então poderia a taxa de mais-valia não variar ou aumentar o montan-
te e a taxa de mais-valia.
Admitamos continue o salário necessário a ser 10, o trabalho exce-
dente 2 e não se alterem as demais condições (aqui está portanto fora de
consideração decréscimo nos custos de pr0dução do capital constante).
Trabalhe o operário entao 2 2/5 horas a mais, apropde-se de 2, ficando
2/5 de trabalho excedente. Nesse caso, salário e mais-valia crescerão na
mesma proporção, mas o primeiro representará mais que o salário neces-
sário ou o tempo de trabalho necessário.
Quando tomamos dada magnitude e a dividimos em duas partes,
é claro que uma parte só pode aumentar se a outra diminuir e vice-versa.
Mas isso de maneíra alguma é verdade para magnitudes crescentes (elâs·
ticas). E ajornada de trabalho tem essa magnitude crescente, enquanto
não se tenha conquistado uma jornada normal de trabalho. Nas magnitu-
des dessa natureza, ambas as partes podem crescer na mesma proporção
ou não. O acréscimo de uma não é regulado pelo decréscimo da outra
e 'ice-versa. Também este é o úníco caso em que salário e mais-valia po·
dem crescer juntos e ainda é possível que, no tocante ao valor de troca,
cresçam na -me:una proporção. E por si mesmo evidente que possam cres-
839
cer em valor de uso; este pode aumentar, embora decresça o valor do tra·
balho, por exemplo. De 1797 a 1815, quando o preço do trigo e o salá-
rio nominal tiveram a1ta considerável na Inglaterra, acresceu muito o nú·
mero de horas de trabalho por dia nas indústrias principais, que ·estavam
então em fase de ímplaciivel desenvolvimento, e acredito que essa circuns·
tância deteve a queda da taxa de lucro (por ter detido a da taxa de mais.
valia). Mas, num caso assim, sejam quais forem as circunstâncias, prolon·
ga-se a jornada normal de trabalho e reduz-se em correspondência a du·
ração normal da vida do trabalhador e por conseguinte a duração nonnal
da força de trabalho. E o que se dá quando esse prolongamento da jorna·
da é permanente. Se é apenas temporário, para compensiµ- encarecimento
temporário do salário, pode ter por conseqúêncía apenas {não se conside·
rando crianças e mulheres) impedir a queda da taxa de lucro nos negócios
cuja natureza possibilita prolongar-se o tempo de trabalho (essa possibili·
dade é mínima na agricultura).
Ricardo omitiu isso por completo, pois não investigou a origem da
mais-valia nem a mais-valia absoluta, e daí considerar a jornada de traba·
lho magnitude dada. No caso em exame está portanto errada sua lei, a de
que mais-valia e salário (lucro e salário, na sua expressão incorreta) só po·
dem crescer ou decrescer em proporção inversa, no tocante ao valor de
troca. Admitamos dois casos: num, o trabalho necessário não. se altera nem
o trabalho excedente. Isto é, 10 horas+ 2 horas;jornada-_de-trabalho = 12;
mais-valia= 2. Taxa de mais-valia= 1/5.
No outro, o tempo de trabalho necessário é invariáve1, e. o trabalho
excedente aumenta de 2 horas para 4. Portanto, 10 + 4 = jornada de tra·
balho de 14 horas; mais-valia = 4 horas. Taxa de mais-valia "" 4 10 =
4/10 = 2/5.
Nos dois casos não varia o tempo de trabalho necessário;· mas num
a mais-valia é duas vezes maior que no outro, e a jornada de trabalho do
segundo caso é 1/6 maior que a do primeiro. Além disso, os valores pro·
duzidos, correspondentes às quantidades de trabalho, serão bem diversos,
embora não varie o salário; no primeiro caso, o .valor será 12 horas, no
segundo 12 + 12/6 = 14. E portanto errado diz.er que, suposto o mesmo
saldrio (segundo o valor, o tempo de trabalho necessário), a mais-valia
contida em 2 mercadorias está na mesma proporção com as quantidades
de trabalho nelas inseridas. Isso só é verdade quando a jornada normal
de trabalho não varia.
Admitainos ainda que, em virtude da ascensão da produtividade do
trabalho, diminua o salário necessário (embora não varie o que este adqui-
840
re em valores de uso) de 10 para 9 horas e também diminuia de 2 para
1 4/5 (ou 9/5) o tempo de trabalho exc.edente. Teremos então 10 : 9 =
2 1 4/5. O tempo de trabalho excedente cairá portanto na mesma pro-
porção do necessário. A taxa de mais-valia é a mesma nos dois casos, pois
2 = 10/5 e 1 4/5 ;;;;: 9/5; l 4/5 : 9 = 2 10. De acordo com o pressuposto,
não variará a quantidade de valores de uso que poderá ser comprada com
a mais-valia. (Contudo, isso só se aplicaria aos valores de uso que são meios
de subsistência necessários.) A jornada de trabalho cairá de 12 para 10 4/5.
O montante dos valores produzidos no segundo caso será menor que no
primeiro. E apesar dessas quantidades desiguais de trabalho, a taxa de
mais-valia será a mesma nos dois casos.
Na mais-valia distinguúnos: mais-valia e taxa de mais-valia. Consi·
derando-se uma jornada de trabalho, a mais-valia é igual ao número abso-
luto de horas de trabalho que ela representa, 2, 3 etc. A taxa é igual à
proporção desse número de horas com o das que constituem o trabalho
necessário. Aquela distinção já é relevante porque indica a duração mutá-
vel da jornada. Se a mais-valia = 2, a taxa é 1 / 5, se o tempo de trabalho
necessário= 10 horas, e 1/6, se o tempo de trabalho necessário= 12. Num
caso, a jomada de trabalho= 12 horas; no outro, é igual a 14. No prúnei-
ro caso, a taxa de mais-valia é maior, e apesar disso o operário trabalha
menor numero de horas por dia. No segundo, a taxa de mais-valia é me-
nor, o valor da força de trabalho maior, e ao mesmo tempo o operário
trabalha durante o dia número maior de horas. Vemos aí que, para mais-
valia invariável, mas com jornada de duração desigual, a taxa de mais-
'Valia pode variar. No caso anterior, 10 : 2 e 9 l 4/5, vimos que, para ta-
xa invariável de mais-valia (mas jornada desigual), a própria mais-valia
pode ser bem diferente (num caso 2, no outro 1 4/5).
Mostrei antes (càp. 2) que, dados a duração da jornada de trabalho,
o tempo de trabalho necessário e portanto a taxa de mais-valia, o mon-
tante de mais-valia depende do número de trabalhadores ao mesmo tem-
po empregados pelo mesmo capital. 131 Era uma afirmação tautológica.
Pois, se 1 jornada me dá 2 horas excedentes, 12 jornadas me darão 24
horas excedentes ou 2 jornadas excedentes. Contudo, a afirmação se tor·
na muito únportante para se determinar o lucro, igual à proporção da
mais-valia com o capital adiantado e por conseguinte dependente da mag-
nitude absoluta da mais-valia. Isso se toma importante porque capitais de
841
grandeza igual mas compostçao orgamca diferente empregam númem
desigual de trabalhadores, têm portant.o de produzir mais-valia desigual.
e em conseqüência gerar lucro desígual Com taxa decrescente· de mais-valia
pode o lucro subir e com ·taxa ascendente cair ou permanecer o mesmo,
quando a alta ou queda na taxa de mais-valia é compensada por m'oví-
mento oposto no número dos trabalhadores empregados. Desde logo ve-
mos aí ser grave erro identificar as leis da alta e queda da mais-valia às
leis da alta e queda do lucro. Se consideramos apenas a simples lei da mais-
valia, parece tautologia dizer que, para dada taxa de mais-valia (e dada
jornada), o montante absoluto da mais-valia depende da. magnitude do
capital empregado. Pois o acréscimo desse montante de capital se iden-
tifica com o acréscimo do número dos trabalhadores ao mesmo tempo
empregados, segundo o suposto, ou ambos são apenas expressões do mes-
mo fato. Mas quando consideramos o lucro nos casos em que o montan-
te do capital aplicado e o número dos trabalhadores empregados diferem
muito para capitais de igual magnitude, apreende-se a importância da lei.
Ricardo parte de mercadorias de valor dado, ísto é, de mercadorias
que representam dada quantidade de trabalho. E mais-valia absoluta e
mais-valia relativa, com esse pontp de partida, parecem coincidir sempre.
(Em todo caso, isso explica a wlilateralidade de seu modo de proceder
e harmoniza-se com todo o seu método de pesquisa: partir do va!Or das
mercadorias detemrlnado pelo tempo de trabalho nelas :contido e então
investigar até onde salário, lucro etc. exercem influência at) Essa apa·
rência contudo engana, uma •.;ez que então se trata nãp da -mercadori!I
e sim da produção capitalista, das mercadorias como produtos do capital.
Empregue um capital detenninada quantidade/de trabalhadores,
digamos 20, e seja o salário = 20 libras. Para simplificar, reduza-se a ze-
ro, isto é, seja excluído, o capital fixo. Admitamos que esses 20 trabalha·
dores transformem 80 libras (esterlinas) de algodão em fio, trabalhan·
do l 2 horas por dia. Se a libra-peso de algodão custa 1 xelim, 20 libras-
peso = 1 libra, e 80 libras = l 600 libras-peso. Se 20 trabalhadores fiam
1 600 libras-peso em 12 ~oras, fiarão em 1 hora 1 600/12 libras-peso =
133 1/3 libras-peso. Por conseguinte, se o tempo de trabalho necessá·
rio = 1O horas, o tempo de trabalho excedente = 2 horas e correspon-
de a 266 2i3 libras-peso de fio. O valor das 1 600 libras-peso de fio se-
rá 104 libras. Pois, se 10 horas de trabalho = 20 libras, 1 hora de tra-
balho = 2 libras, 2 horas = 4 libras; portanto, l2 = 24 libras (80 libras
relativas à matéría-prima + 24 libras= 104 libras).
842
Mas, se os operanos trabalharem 4 horas de trabalho excedente,
o correspondente produto = 8 libras (quer dizer; a mais-valia que produ-
zem; o produto deles será de fato igual a 28 libras132 ). O produto glo·
bal = I 21 1/3 libras 133 • E essas 121 1 /3 libras corresponderão a l 866 2/3
libras-peso de fio. Uma vez que não variaram as condições de produção,
1 libra-peso de fio continuará com o mesmo valor; conterá a mesma quan-
tidade anterior de tempo de trabalho. Segundo o pressuposto, também fi-
cará invariável o salário necessário (seu valor, o tempo de trabalho nele
contido).
As 1 866 2/3 libras-peso, sejam produzidas nas condições do pri-
meiro caso ou nas do segundo, isto é, com 2 ou 4 horas de trabalho ex-
cedente, terão, nos dois casos, o mesmo valor. Vejamos: 13 1/3 libras cor-
respondem às 266 2/3 libras-peso adicionais de algodão fiadas. Com mais
80 libras relativas às 1 600 libras-peso de algodão·, teremos 93 1/3 libras,
e 4 horas de trabalho adicionais dos 20 homens equivalem a 8 libras, nos
dois casos. No global correspondem ao trabalho 28 libras, e assim chegare-
mos a 121 1/3 libras. Em ambos os casos, o salário é o mesmo, e a h'bra-
peso de fio custa l 3{1 O xelim. Uma vez que o valor da libra-peso de algo-
dão é l xelim, ficará, nos dois casos, para o trabalho de novo adí.cionado
em 1 libra-peso de fio, 3/10 de xelim= 3 3/5 pence (ou 18/5).
Entretanto, a relação entre valor e mais-valia em cada libra de fio
muda muito nas circunstâncias estabelecidas. No primeiro caso, uma vez
que o trabalho necessário = 20 libras, o trabalho excedente = 4 libras, ou
seja, 2 horas para este e 1O horas para aquele, o trabalho excedente está
para o necessárío na razão 2 : 10 = 2/10 = 1/5 (do mesmo modo, 4 li-
bras 20 libras = 4/20 = 1 /5). Nos 3 3/5 pence da libra-peso de fio en-
cerra-se 1/5 de trabalho não pago = 18/25 de pêni ou 72/25 = 2 22/25
farthings. No segundo, em contrapartida, o trabalho necessário = 20 li-
bras (10 horas de trabalho), o trabalho excedente = 8 libras (4 horas de
trabalho). O trabalho excedente está para o necessário na raz.ão 8 : 20 =
132. Marx fala aí do novo valor criado pelos 20 trabalhadores: geram em l nora
de ttabalho valor de 2 libras e numa jornada de 14 horas valor de 28 libras. O pro-
duto dos 20 trabalhadores compõe-se de 10 horas de trabalho necessário, equíva·
lentes a 20 libras, e de 4 horas de traballto excedente, ou seja, 8 libra!>.
133. O valor do produto global contém o valor transferido ao produto (e) e o no-
vo valor cliado (v + m). Uma vez que Marx aí absttaí do capital f"ixo, o valor transfe.·
rido consíste no valor da matéria-prima. No exemplo em exame, o valor da matéria·
prima = 93 1/3 libras (em 1 hora serão fiadas 133 113 libras-peso de algodão, em 14
horas 1866 2}3 libras-peso; 1 libra-peso de algodão C\lsta l xelim). Adícionadas ao
novo valor criado (28 libras), temos 121 1}3 libras.
843
8/20 = 4/10 '= 2/5. Assim, nos 3 3/5 pence da libra-peso de fio inserem·
se 2/5 de trabalho totahnente grâfü ou 5 19/25 farthings ou l pêni e
l 19/25 farthings. A mais-valia na libra-peso de fio, embora tenha esta
o mesmo valor nos dois casos e se pague em ambos o mesmo salário, é
num caso o dobro da do outro. A relação entre valor do trabalho e mais-
valia em cada mercadoria individual, considerada parte alíquota do pro-
duto, tem naturalmente de ser a mesma do produto todo.
No primeiro caso, se o capital adiantado fosse 93 1/3 libras para al-
godão, quanto seria para salário? Aí o salário para 1 600 libras-peso= 20
libras, e portanto para as 266 2/3 libras-peso adicionais = 3 1/3 libras.
Desse modo, temos 23 l /3 libras. O dispêndio global = capital 93 l /3 li-
bras + 23 1/3 libras-= ll6 2/3 libras. O produto= 121 1/3 libras. [Ades-
pesa adicional em capital variável de 3 1/3 libras só dará 13 1/3 xelins
(= 2/3 de libra) de mais-valia. 20 libras: 4 libras = 3 1/3 libras 2/3 de
libra.)
No outro caso, porém, o dispêndio de capital só importará em
92 1/3 + 20 libras = 113 l/3 libras, e às 4 libras de mais-valia se acrescen-
tarão 4 libras. Produz.se num caso a mesma quantidade de fio obtida no
outro, e ambas têm o mesmo valor, isto é, confi.guram o mesmo total
de trabalho posto em movimento por capitais de magnitude desigual,
embora o salário não varie; em contrapartida, as jornadas de trabalho
são de magnitude desigual e por isso diferem as quantidades de trabaJho
não pago. Considerada cada libra-peso de fio singularmente, difere o sa-
lário por ela pago ou o trabalho pago nela contido. O mesmo_ salário se
reparte então por maior quantidade de mercadorias, não pot ser o tra-
balho num caso mais produtivo que no outro, e sim pgr ser a massa glo-
bal de trabalho excedente não pago posta em movimento num caso maior
que a· do outro. Por isso, com a mesma quantidade de trabalho pago pro-
duzem-se, num caso, mais libras-peso de fio que no outro, embora nos
dois casos se produzam as mesmas quantidades de fio, que representam
as mesmas quantidades de trabalho total (pago e não pago). Se, ao con-
trário, tiver aumentado a produtividade do trabaJho no segundo, cairá de
quàlquer modo o valor da libra-peso de fio (seja qual for a relação entre
a mais-valia e o capital variável).
Em tal caso, portanto, seria errado dizer que - por ser dado o va!.or
da libra-peso de fio = 1 xelim e 3 3 /5 pence, e também o valor do traba-
lho adicionado = 3 3/5 pence, e por se1 f'rxo, segundo o pressuposto, o
salário, isto é, o te:mpo de trabalho necessário - a mais-valia seria a mes-
ma e que 2 capitais, invariáveis as demais condições, teriam produzido
o fio com igual lucro. Isso estaria certo se se tratasse de 1 libra-peso, mas
af se trata de um capital que produziu 1 866 2/3 libras-peso de fio. Para
saber de quanto é seu lucro (na verdade, a mais-valia) numa libra-peso,
temos de saber qual a duração da jornada de trabalho ou a quantidade
de trabalho não pago (para dada produtividade) ·que o capítal põe em
movimento. Mas não se pode perceber isso na mercadoria singularmen-
te considerada.
A~im, Ricardo oogita apenas do que tenho eh.amado de mais-valia
relativa. Seu ponto de partida, como parece ter sido o de Smith e seus
predecessores, é este: é dada a magnitude da jornada de traballu:J. (No
máximo, Smith menciona diferenças na duração da jornada de trabalho
em ramos de trabalho diversos, as quais se anulam ou oompensam pela
intensidade relativa maior do trabalho, pela dificul4ade, repugnância des-
te etc.) A partir daquele pressuposto, Ricardo explica a mais-valia relati-
.v.a de maneira em geral exata. Antes de apresentar os pontos principais
dessa teoria, ainda algumas citações que elucidem a concepção de Ricardo.
845
cardo e de Smith, sobre o capital da sociedade toda, e que na produção
capitalista, não se verifica em nenhum ramo industrial particular e muito
menos ainda na produção da sociedade como um todo.
D() capital const(IJlte .a parte que entra no processo de trabalho, sem
entrar no processo de formar valor, não ingressa no produto (valor do pro-
duto;, e por isso não nos interessa agora que tratamos do valor do produ·
to anual, por mais importante que seja levar em conta aquela parte doca-
pital constante para a determinação da taxa geral de lucro. Mas a coisa
muda no tocante à porção de capital constante que entra no produto
anual. Vimos que segmento dessa porção do capital constante, ou o que
se reve1a capital constante numa esfera de produção, se patenteia produ·
to imediato do trabalho noutra esfera, durante o mesmo período de pro·
dução de um ano, e que ?Or isso grande parte do capital despendido por
ano, a qual aparece na figura de capital constante, do ângulo do capitalis
ta individual ou do ramo particular de produção, reduz-se a capital varió.-
vel do ponto de vista da sociedade ou da classe capitalista. Esse segmento
está portanto incluído nos SO milhões, na porção dos 50 milhões que cons-
titui o capital variável ou se despende em salário.
Mas o caso é outro com a parte do capital_ constante absorvida para
repor o capítal constante consum'ido na indústria e na agricultura, com a
parte absorvída do capitaJ constante empregado nos ramos_ de prndução
que produzem capital constante, matérià-prima em sua·; piimeira forma,
capital fürn e matérias auxiliares. O valor dessa parte reaparece, reproduz-
se no produto. A proporção em que entra no valor do produto todo de-
pende por completo de sua magnitude efetiva (suposta irivaríável a produ-
tívidade do trabalho; mas, por mais que varie a produtividade, terá aquele
valor magnitude definida). (Em média, descontadas algumas exceções na
agricultura, o volume dos produtos, isto é, a riqueza produzida por l mi·
lhão de homens, a qual Ricardo distingue do i'lfllor, também dependerá
sem dúvida da grandeza desse capital que antecede à produção.) Essa par-
te do valor do produto não existiria sem o novo trabalho anual do mi·
lhão de homens. Em contrapartida, o trabalho do milhão de homens não
daria o mesmo volume de produtos sem esse capital constante cuja exis-
tência não depende da produção anual deles. Esse capital entra no proces-
so de trabalho como condição de produção, mas nem uma hora a mais
se trabalha para se reproduzir seu valor, Por isso, como valor não resulta
do trabalho anual, embora tal valor não se tívesse reproduzido sem esse
trabalho anual. Se a parte do capital constante a qual entra no produto
for 25 milhões, o valor do produto do milhão de homens será 75 milhões,
846
se for 10, esse valor será apenas 60 milhões etc. E uma vez que no curso
do desenvolvimento capitalista aumenta a proporção do capital constante
com o variável, o valor do produto anual do milhão de homens tenderá
a crescer de contínuo na razão do crescimento do trabalho pretérito, fator
que participa da produção anual deles. Já se infere ·aí que Ricardo não po-
dia compreender a essência da acumulação nem a natureza do lucro.
Ao crescer a proporção do capital constante com o variável, cres-
ce também a produtividade do trabalho, as forças produtivas engendra·
das com que opera o trabalho social. Em virtude dessa produtividade cres-
cente do trabalho, por certo se desvaloriza de contínuo parte do capital
constante existente, ao não se regular o valor dele pelo tempo de traba·
lho que originalmente custava e sim pelo tempo de trabalho com que se
pode reproduzir,-tempo esse que diminui de maneira progressiva com a
produtividade crescente do trabalho. Por isso, embora seu valor não cres-
ça na razão de seu volume, não obstante cresce, porque o vo]ume cresce
com mais rapidez do que decresce o valor. Mais tarde, porém, voltare-
mos às idéias de Ricardo sobre a acumulação.
Está claro·aí que, uma vez dada a jornada de trabalho, o valor do
produto· do trabalho anual do milhão de homens variará muito com ava-
riação do volume do capital constante que entra no produto, e que esse
valor, apesar da produtividaàe crescente do trabalho, será maior onde o
capital constante constítui grande parte da totalidade do capital, do que
nas condições sociais onde representa parte relativamente pequena dessa
totalidade. Com o progresso na produtividade do trabalho social, acom-
panhado que é pelo crescimento do capital constante, parte cada vez maior,
relatívarnente, do produto anual do trabalho caberá portanto ao capital
como tal, e por conseqüência o capital na forma de propriedade {renda
à parte) aumentará de contínuo, e a parte do valor a qual cada trabalha·
dor e mesmo a classe trabalhadora criam cairá cada vez mais em relação
ao produto de seu trabalho pretérito que os enfrenta como capital. As·
sim, crescem de maneira inípterrupta a alienação e a oposição entre a for-
ça d.e trabalho e as condições objetivas de trabalho, independentizadas
na forma de capital. (Não estamos considerando o capítal variâvel, a parte
do produto do trabalho anual necessárí.a para que se reproduza a classe
trabalhadora; mas até esses meios de subsistência é capital que a enfrenta.)
Ricardo expressa a idéia de ser a jornada de trabalho .quantidade
dai/a, limitada, fixa. ainda de outras maneicas, por exemplo:
847
noutras palavras, isso quer dizer apenas: o tempo de trabalho (diário), cujo
prnduto se re-{JIIfte entre remuneração do trabalho e lucro do capital, é
sempre o mesmo, é constante. ·
"O trabalhador só recebe preço realmente alto por seu traballlo quarufo
seu salário compra o produto de grande qual).tidade de trabalho" (1.c.,
p. 322).
848
de um só pode crescer ou decrescer na proporção que decresce ou acres·
ce a porção do outro. Uma vez que o valor das mercadorias é devido ao
trabaJho dos trabalhadores, é esse próprio trabalho que, sejam quais fo.
rem as círcunstâncias, constitui a precondição; mas o trabalho é impossí-
vel sem que o traballi.ador viva e se mantenha, receba portanto o salário
necessário (mínimo de salário, salário == valor da força de trabalho), Por
isso, salário e mais-valia - essas duas categorias em que se reparte .o valor
da mercadoria ou o próprio produto - estão entre si em proporção inver-
sa, e o primacial, o detemúnante, é o movímeoto dos salários. A ascensão
ou queda d.estes causa o movimento oposto do lado do lucro (mais-valia).
O salário não sobe ou desce por cair ou se elevar o lucro (mais-valia), e
sim, ao contrário, a mais·valia (lucro) cai ou se eleva por subir ou descer
o salário. O produto excedente (conviria dizer a maiHalia) que resta de-
pois de a classe trabalhadora ter recebido o que lhe cabe de sua própria
produção anual, constitui a substância de que vive a classe capitalista.
Dado que o valor das mercadorias se detennina pela quantidade de
trabalho nelas contido, e que salário e mais-valia (lucro) são apenas pur-
tes, propo1ções em que duas classes de produtores dividem entre si ova-
Io1 da mercadoria, é claro que ascensão ou queda do saláiio, embora de-
termine a taxa da mais-valia (lucro), não influencia o valor da mercado-
ria ou o preço (como expressão monetária desse valor). A proporção em
que um todo se divide entre dois associados não torna o próprio todo
maior nem menor. "E'. portanto errado pressupor que aJcensão dos saltirios
eleva o& preços das mercadorias;. apenas faz o lucro (mais-valia) decrescer.
Mesmo as exceções que Ricardo apresenta, nas quais alta dos salários fa+
ria cair os valores de troca de algumas mercadorias e subir os de outras,
são errôneas quando se trata de valores, e verdadeiras somente para pre-
fXIJ de custo.
Uma vez que a taxa de mais-valia (lucro) é determinada pelo nível
relativo dos salários, como é este detemúnado? Concorrência à parte, pe·
lo preço dos meios de subsistência necessários. Este por sua vez depende
da produtividade do trabalho, a qual acresce com a fertílidade. da terra
(Ricardo supõe produção capitalista). Todo "melhorament<:1" reduz o
preço das mercadorias, dos meios de subsistência. O saláiio ~u o valor
do trabalho sobe e desce portanto em proporção inversa ao desenvolvi
mento da produtividade do trabalho, desde que este produza meios de
subsistência que entrem no consumo médio da classe trabalhadora. A ta-
xa de mais-valia (lucro) cai ou sobe portanto na proporção direta do
desenvolvimento da produtividade do ti:abaiho, pois esse desenvolvimen-
to reduz ou aumenta o salário.
849
A taxa de lucro (mais.valia) não pode cair sem subir o salário, e
não pode subir sem este cair.
O valor do salário tem de ser calculado não de acordo com a quan;
tidade dos meios de subsistência que o trabalhador recebe, e sim pela
quantidade de trabalho que custam esses meios de subsistência (de fato,
pela proporção da jornada de trabalho da qual ele mesmo se apropria),
segundo a participação relativa que o trabalhador tem no produto glo-
bal, ou antes, no valor global desse produto. E possível que, estimado
em valores de uso (quantidade de mercadoria ou dinheiro), o salário su·
ba (com a produtividade crescente), mas caia segundo o valor, e vice-versa.
Um dos grandes méritos de Ricardo é ter exanúnado, fixado como cate-
goria, o salário relativo ou proporcional. Até então, o salário sempre fora
considerado algo simples, e o trabalhador, em conseqüência, um animal.
Mas agora passa a ser visto em sua conexão social. A posição recíproca
das classes depende mais dos salários relativos que do montante absoluto
dos salários.
Apoiar agora as proposições acima em citações de Ricardo.
850
de vinte por cenio e os lucros em conseqüência cair em proporção maior
ou menor, sem causar a menor alteração no valor relativo dessas mer-
cadorias" (l.c., p. 23).
"O wzwr do trabalho não pode subir sem redução do lucro. Quando o
trigo é para ser dividido entre o arrendatário e o uaba.lhador, ficará tan-
to menos para aquele, quanto maior for a cota deste. Também ao se re-
partir pano e artigos de algodão entre o trabalhadoJ e seu empresário,
para este ficará tanto menos quanto tnllior fora cota daquele" (Lc.,p. 31).
"A. Smith e, pelo que sei, todo~ os autores que o seguem, sem exceção,
afinnararn que alta do preço do trabalho tem por conseqüência unifor-
me elevação do preço de todas as mercadorias,,· Espero ter conseguido
mostrar que essa opllúão nio tem fundamento algum" (l.c.• p. 45).
"Alta dos salários, decorrente de melhor remuneração ·do trabalhador
ou da dificuldade de se obterem os bens necessários em que se despen-
dem os salários, não gera, salvo em alguns casos, elevação de preços,
embora concorra muito para a queda do lucro." A coisa é difere-nte
quando a alta do salário provém de "variação no valor do dinheiro".
"Num caso" (isto é, o por último referido) "não se 4estina prop<»çaõ
mJJ.ior do 11aba1ho anual do pais para o sustento dos 'traoofhadores, en·
quanto, no outro, porção maior tem esse destino" (1.c., p. 48).
"O preço natural do trabalho subirá ao elevar-se o preço dos alimentos
e dos meios de subsistência., e baixará, ao cair esse preço" (1.c., p. 86).
"O produto excedente que remanesce, depois da satlsfaçào das neces·
sidades da população existente, tem de estar, por força, na razão da
fQc11idllde de produção, isto é, do número menor de pes$0a5 emprega-
das na produção" {p. 93).
"Nem o arrendatário que cultiva aquela terra que detetJDina o preço,
nem o fabricante que produz mercadorias, renuncia porção do produ-
to em favor da renda. O valor global de suas mercadorias se divide em
duas partes apenas: uma constitui o lucro do capital.. e a outra, a remu-
neração do trabalho,, (l .c., p. 107).
"Admitamos que o preço da seda, do veludo, do mobiliário e de outras
mercadorias que o trabalhador não precisa, suba em conseqüência de
nelas se despender mais tmbalho: não será isso desfavorável ao lucro'!
Por certo que não, pois somente a alta do salário pode prejudicar o lu·
cro; seda e veludo não são consumidos pelo trabalhador e por isso não
podem elevar os salários" {l .c., p. 118).
"Se o trabalho de dez homens obtém, em ten:a de certa qualidade, 1 SO
quarters de trigo, e seu valor for 4 libras por quarter ou 710 libras ... "
{p. 110) " ... em todos os casos tem de se repartir a mesma soma de 710 li·
bras entre sal.ária e lucro ... Suba ou desça o salário ou o lucro, é dessa
soma de 720 que ambos têm de sair. Por um lado, o lucro nunca pode
ascender ao nível de absorver dessas 720 libras porção tão grande que
não reste o suficiente para prover os trabelhadores com os bens de abso·
luta necessidade; por outro lado, os satários nunca podem subir a pon-
to de não deixar porção alguma daquela soma para lucro" (l.c., p. 113).
"Os lucros dependem de Slllários altos ou baixos;. os salmos, do preço
dos bens necessários ao trabalhador, e o preço 'desses bens, do preço
dos alimentos principalmente, uma vez que todos os demais artigos
podem ser acrescidos quase sem limites" (l.c., p. 119).
"Embora se produza valor maior" (ao piorar a tem), ·proporção maior
do que resta desse 1111/or, depois de paga a renda, é consumida pelos pro-
851
dutores" (ele identifica aí ttabalhadores a produtores), "e isso e só
isso - determina o lucro" (l .c., p. J 27}.
"A característica essencial de um melho/'llmento é reduzir a quantida-
de de· irabalho antes neces.~a para produzir urna mercadoria. Mas esse
decréscimo não pode ocorrer sem queda de seu preço ou Jltllor relati·
w" (l.c., p. 70).
"Diminua-se o custo de produção de chapéus, e seu preço acabará baí·
xando a seu novo preço natural, embora a procwa tenha dobrado, tri·
plicado ou quadruplicado. Diminua-se o custo de subsistência dos trll·
balhadores, reduzindo-se o preço natwal dos alimentos e vestuário
que mantêm a vida, e os salários acabarão caindo, mesmo que a pro-
cura de trabalhadores tenha subido muito" (l .c., p. 460).
"Quanto maior- a proporção que vni para salário, tanto menor a que
irá para lucro, e vice-versa" (Lc., p. 500).
"Um dos objetivos dessa obra foi mostrar que, a.cada decréscimo do
valor real dos bens necessârios ao trabalhador, caem os salários e· sobe
o lucro do capital, ou seja, que, para dado wzlor a.nua!, se paga porção
menor à classe trabalhadora e porçio maior àqueles cujos fundos em-
pregam essa classe."
852
••Esforcei-me por mos:trai:, em toda a extensão desta obra, que a taxa
de lucro só pode ctescer com queda de salário, e que só pode haver
redução permanente de salário em C{)n:>eq_üência de baixa dos bens
necessârios em que ele se despende. Por conseguinte, se, por se expan-
dir o comArcéo e~rerior ou se aperfeiçoar a maquinaria, os alimentos
e os bens necessários ao 1rabalhador podem ser levados ao mercado a
preço ieduzido, os lucros subirão. Se, em vez de cultivar nossos pró·
prios cereais ou de produzir as roupas e outros bens necessários do tra·
balhador, descobrirmos novo mercado onde nos possamos suprir des-
sas mercadorias a preço mais barato, os salários caúão e o lucro subi-
rá; mas, se as mercadorias obtidas a preço mais baxato, com a expansão
do comércio exreríor ou com o aperfeiÇCJamento da maquinaria, forem
de consumo exclusivo dos ricos, nenhuma alteração haverá na taxa
de lucro. Embora vinho, veludo, seda e outras mercador.ias díspendio·
sas baixem de :SO por cento, a taxa de salário não se alterará, e a taxa
de lucro, em conseqüência, fica.tá invariável.,
"Assim, o comércio exterior, embora seja -muito vantajoso para um
país - uma vez que aumenta o volume e a variedade dos objetos em
que se pode aplicar a renda, e proporcione estímulo para poupar" (e
por que não incentivos para gastar?) "e para acumular capítal, em vir-
tude da abundância e da barateza das mercadorias -, não prnpende a
eltr1o1u o lucro do capital, a não ser que as mercadorias importadas se.
iam daquelar em que se despendem os saldríos.
"As observações que fiz no tocante ao comércío exterior são também
aplicáveis ao comércio interno. A taxa de lucro nunca acresce"
(mas qual a vantagem para a classe trabalhadora, uma vez que Ricardo
pressupõe que essas mercadorias, se entram no consumo do assalariado,
reduzem o salário, e se não o reduzem ao baratearem, também não entram
nesse consumo?);
853
(Mais uma vez, como é isso possível, dado que Ricardo pressupõe
que o decréscimo salarial, que aumenta o lucro, ocorre justamente. por
ter caído o preço dos bens necessários ao trabalhador, e portanto de mo-
do nenhum "continua tudo com o mesmo preço".)
854
de queda no valor real do salário, di2:em-me que emprego um modo
de expressão novo e inusitado, incompatível com os venladeiros prin-
cípios da ciência" ( l.c., pp. 11, 12).
"Podemos avaliar com acerto a taxa de lucro, 1enda e salário, níio pela
quantidade absoluta de produtos, recebida por cada classe, e sim pela
quantidade de trabalho necessáJ:ia pata p1oduzir aquela quantidade.
O prnduto global pode dobrai: com melhoramentos na maquinaría e na
agricultura; mas, se salário, 1enda (rent) e lucro também dob1a1em, os
três manterão entre si a mesma proporção anterwr e de nenhum deles
se pode dl2er que variou relativamente. Todavia, se o salário não tiver
participação plena nesse acréscimo; se, em vez de dobrar, aumentar
apenas de metade ... creio sei: correto dizer que o salário caiu, o o lucro
subiu. Pois, se tivéssemos um padrão invariável para medir o 1>111Dr dessa
produção, ve1famos que coube à classe trabalhadora menos ... e à classe
capitalista mais valo.r que antes" (Lc., p. 49).
"Não é míster que se dê a menor queda feal, pois o novo salário lhe po-
de proporcionar maior quantidade de mercadorias baratas que o ante-
rior" {l.c., p. 51).
855
imediata neles aplicado. Admitamos seja a composição 80c + 20v e a ta-
xa de" mais-valia = 50%. Se um capítal = SOO e o outro = 300, num caso.
o produto será 5 50 e no outro 330. Um produto estará para o outro a8sim
como S X 20 = 100 (saJário)está para 3 X 20 = 60, ou seja, 100 : 60 =
10 : 6 = 5 : 3. E 550 : 330 "" 55 : 33 ou seja, 55/11 : 33/11 = S : 3, pois
S X 11 = 55 e 3 X 11 "" 33. Mesmo assim, só se saberá a proporção de
um com o outro e não seus verdadeiros valores, uma vez que valores mui-
to diferentes correspondem à razão 5 : 3.)
856
Capítulo XVI
Teoria Ricardiana do lucro
857
com taxá decrescente de mais-valia e número ascendente de trabalhado-
res, e vice-versa etc. .
Terceiro: dada a taxa de mais-valia, a taxa de lucro depende da com-
posição orgânica do capital.
Quarto: dada a mais-valia (com o que se supõe dada, na base de 100,
a composição orgânica do capital), -a taxa de lucro depende do valor rela-
tivo das diferentes partes do capítal que podem ser influenciadas de ma-
neira diversa, seja pela economia de energia etc. no emprego dos meios
de produção, seja por variações de valor que podem atingir uma parte
do capital sem atíngir as outras.
Por fim teriam de ser consideradas as diferenças na composição
do capital oriundas do proçesso de circulação.
Algumas reflexões ocorrentes ao próprio Ricardo eram de molde
a levá-lo a distinguir entre mais-valia e lucro, Por não ter feito essa dis-
tinção, parece ele por vezes esposar - como já referido na análise do ca-
pítulo 1 (On Value) - a idéia vulgar de ser o lucro mero acréscimo sobre
o valor da mercadoria, como sucede ao falar da detenninação do lucro
do capital onde predomina o capital fixo etc. 134 Daí provêm muitos dis-
parates dos sucessores. A idéia· vulgar tem de se introduzir, se a proposi-
ção (correta, na prática) de éapitais de igual magnitude f()rnecerem, em
média, lucros iguuis, ou de o lucro depender da magnitude do capital em-
pregado, não se relaciona, por meio de uma série de elos intermediários,
com as leis gerais do valor etc., em suma, se se consideram idênticos lu-
cro e mais-valia, o que só é verdade para a totalidade dos·capitais. Por
isso também faltavam a Ricardo as condições para definir taxa geral de lucro.
Ricardo percebe que a taxa de lucro níW é ínfluencíada por aque·
las variações do valor das mercadorias as quais repercutem por igual em
todas as partes do capital, como, por exemplo, variação no valor do di-
nheíro. Deveria portanto ter concluído que é influenciada pelas variações
(do valor das mercadorias) que niio repercutem por igual em todas as par-
tes do capital; que variações da taxa de lucro são possíveis sem se alte-
rar o valor do trabalho e mesmo em sentido oposto às variações no va-
lor do trabalho. E acima de tudo não deveria ter esquecido que aí me-
de o produto excedente ou, o que é o mesmo para ele~ o valor exceden-
te ou, o que também é o mesmo, o trabalho excedente, visto pelo prisma
do lucro, não em relação ao capital variável, mas em relação a todo o ca-
pital adiantado.
858
No tocante à varirlfão do valor do dinheiro diz:
"A mudança do valor do dinheiro, por maior que seja, em nada alte-
ra a taxa de lucro; pois, admitindo-se que as mercadorias do fabrican-
te subam de 1 000 libras para i 000, ou 100%, sua taxa de lucro será
a mesma, se também ,obcm de 100% o capital - em que as variações
do dinheiro têm o mesmo efeito que no valor dos produtos -, a ma.-
quinaria, os edifícios e os estoques ... Se, com capital de dado valor,
pode, economizando trabalho, duplicar a quantidade de produto cujo
preço cai à metade do ante1ior, esm quantidade manterá a mesma pro-
porção anterior com o capital que a gerou, e em consequência a taxa
de lucro continuará a mesma. Se, ao mesmo tempo que dobra a quan-
tídade do produto com o emprego do mesmo capital, o valor do di-
nheiro por um acidente qualquer baixa de metade, o produto sei:á ven-
dido pelo dobro do valor anterior em dinheiro; mas o capital empre-
gado para produzi-lo terá também o dobro- do valor anterior em di·
nheiro; e por isso, também nesse caso, o valor do produto manterá a
mesma proporçáo de antes com o valor do capital" (l.c., pp. 51, 52).
(O aspecto particular de que Ricardo trata aí, o efeito num caso prá·
tico, nã'o nos interessa agora. Por certo, deprecíação súbita de lã terá reper-
cussão (prejudicial) na renda monetária dos fabricantes de tecido que dis--
859
ponham em depósito de um grande estoque de panos prontos e acabados,
feitos de lã, quando esta era mais cara, e que têm de ser vendidos depois
que ela se depreciou.)
Se, como aí supõe Ricardo, os fabricantes de panos empregarem
a mesma quantidade anterior de trabalho (poderão empregar quantidade
muito maior, pois parte do capital antes despendido apenas em matéria-
príma ficou disponível e pode ser agora aplicada em matéria-prima + tra·
balho), é claro que sua "renda monetária", em termos absolutos, "não
será menor", mas a taxa de lua-o será maior que a anterior; pois a mesma
soma anterio.f que representava, digamos, 10%, montando portanto a
100 libras, terá de ser confrontada com 900 libras e não com 1 000. No
primeiro caso, a taxa de lucro era 10% e, no segundo, 1/9 = 11 1/4%. Uma
vez que Ricardo supõe até que os produtos primários de que se fazem
as mercadorias em geral baixarão, subirá a taxa geral de lucro e não ape-
nas a taxa de lucro num ramo particular. Estranha que Ricardo não tenha
percebido isso, pois percebe o caso oposto. Assim, no capítulo VI "On.
Proftts" trata do caso em que, em virtude de encarecerem os gêneros de
primeira necessidade, por se cultivar terra de pior qualidade e em conse-
qüência eleV'ar-se a renda diferencial, p1ímeit0 sobe o salário e depois to-
das as matérias-primas da superfície da terra. (Suposição absolutamente
desnecessária. Pode haver muito bem baixa do algodão, da seda e até da Iã
e linho, embora aumente o preço do trigo.)
Diz que a mais-valia (chama-a de lucro) do arrendatário cairá por-
que o V'alor do produto dos 10 homens que emprega.continua a ser 720
libras, e desse fundo de 720 tem ele de retirar mais para salário. Prosse-
gue Ricardo:
"Mas a taxa de lucro cairá ainda mais, uma vez que o capital do arren-
datário ... em grande parte consiste cm produtos agdcolas como cereais,
feno, trigo e cevada antes de debulhados, cavalos e vacas, e todos eles
subiram de preço em tlccou:ência da elelltlção geral do preço dos pro-
dutos. Seu lucro absoluto cairá de 480 libras pai:a 445 libras e 15 xe-
lins. Todavia, se o capital, em virtude da' causa a que acabo de me re-
ferir, elevaNe de 3 000 libras paxa 3 200, a taxa de lucro ficará abaixo
de 14%, quando o trigo esteja a 5 libras, 2 xelins e 10 pence. Um fa.
bricante, se tiver também empregado 3 000 libras em seu negócio, terá
de elevar o capital, em virtude da alta do salário, para poder prosseguir
no mesmo empreendimento. Se vendia antes suas mercadorias por 720
libras, continuará a vendê-las pelo mesmo preço; mas o salário, que an-
tes era de 240 libras, subírâ quando o uigo estiver a 5 libras, 2 xelins
e 10 pence, para 274 libras e 5 xelins. No primeiro caso, recebe a sobra
de 480 libras como lucro sobre o capitá:I de 3 000 libras. No segundo,
obtém, com capital maior, lucro de 445 libras e 15 xelins, que assim
coincide com a taxa de lucro alterada do arrenda.tário"(l.c., pp.116,117).
860
Ricardo, portanto, distingue aí entre lucro absoluto (igual a mais-
valia) e taxa de lucro, e ainda mostra que a taxa de lucro, em virtude da
variação do valor do capital adiantado, decresce mais que o lucro absolu-
to (mais-valia), em decorrência da alta do valor do trabalho. A taxa de
lucro aí também terá de cair se o valor do trabalho ruio variar, porque
se terá de medir o mesmo lucro absoluto por capital maior. O caso opos-
to de ascensão da taxa de lucro (diverso da alta da mais-valia ou do lu·
cro absoluto) ocorrerá assim no primeiro exemplo que dele extraímos,
quando cai o valor das matérias-primas. 2 por isso evidente que alta e
queda da taxa de lucro decorrem de outras circunstâncias além da ele·
vação e baixa do lucro absoluto e elevação e baixa de sua taxa, calcula·
da de acordo com o capital despendido em salário.
Na última passagem citada prossegue Ricardo:
861
cro? Por certo que não, pois só elevação do salário pode preyudfcar o
lucro. O trabalhador não consome seda e veludo, que por isso não ;:io-
dem elevar o salário" (1.c., p. 118).
"De novo tenho de observar que a taxa de luc.ro cairá com rapidez
maior que a por mim c.alculada, pois, se o valor do produto é o que
estabeleci nas circunstâncias supostas, o valor do capital do arrenda-
tário terd grande ascensão, uma vez que esse capital tem de consistir
em muitas mercadorias que llUbitam de preço. Ant~s,de o trigo poder
subir de 4 libras para 12, é provável que dobre o valor de troca desse
capital, que valerá 6 000 libras em vez de 3 ooo: Se o lucro portanto
era 180 libras ou 6% sobre o capital original, a taxa de lucro agora não
a
será na realidade superior a 3%, pois 6 000 libras 3% 1:endem 180, e
nessas condições noro arrendatário só poderá· estabelecer-se na agri-
cultura, com 6 000 libras no bolso. Muitos ramos tí.rarão mais ou me-
nos vantagens da mesma fonte. O fabricante .de cerveja, o destilador,
o fabricante de tecidos ou de linho terão o decréscimo de lucro em
parte compenwdo pela alta no valor do reqiectivo estoque de matérias-
primas e produtos acabados; todavia, o fabricante de ferragens, de jóias
e de muitas outras mercadorias estarão sujeitos, como aqueles cujo
capital por completo consiste em dinheiro, à queda global da taxa de
lucro, sem qualquer compensação" (1.c., pp. 123, 124).
862
mais compensadora para eles, assim que o capital estivesse consumido e
tivesse de ser reproduzido. Todos então ficariam na situação do novo
arrendatário, referida peJo próprio Ricardo, o qual teda de adiantar ca·
pítal de 6 000 b"bras para conseguir lucro de 3%. Em contrapartida, o
joaTueiro, o fabricante de ferragens, o prestamista etc., embora no come-
ço não tivessem compensação pela perda, realizariam taxa de lucro supe·
rior a 3%, pois só lhes teria aumentado o valor do capital despendido em
salário e não o do capital constante.
Aí o importante aínda nessa compensação, mencionada por Ricar-
do, do lucro decrescente pela alta do valor do capital é que para o capi-
talista - e em geral no tocante à repartição do produto do trabalho anual -
se trata não só da repartição do produto entre os diferentes participan·
tes da renda (revenue), mas também da -divisã'o ·desse produto entre ca-
pital e renda,
863
usual, p<>de esse artigo chegar a 60 eu 80 xelins em virtude de mudan-
ça gernl na moda ... Os fabricantes de pano terão por algum temp<> lu-
cros extraordinários, mas capital afluirá sem dúvida a esse ramo, até
a oferta e a procura ficarem num nível razoável, e então o, preço do
pano voltará à 40 xelins, o preço natural ou necessário. Do mesmo
modo pode o trigo, a cada procura acrescida, subir tanto que pi:opor-
cione a-0 an:endatário mais que o lucro geral. Se houver terra fértil em
abundância, o preço do trigo voltará à posição anterior, depois de se
ter empregado para produzi-lo a quantidade neeessária de capital, e o
lucro será o mesmo de antes. Mas, se não houver terra fértil bastante,
se, para se produzir essa quantidade adicional, for exigida quantidade
de capital e trabalho superior à usual, o preço do trigo não regredirá
ao nível anterior. Subirá seu preço natural, e o arrendatário, em vez
de continuar obtendo lucros maiores, ver-se-á constrangido a se satis-
fazer com a taxa reduzida, conseqüência inevitável da alta de salários,
produzida' pela alta dos meios de subsistência essenciais" (l.c., pp. 119,
120)..
864
proporciona a mesma taxa de lucro. E claro que a taxa geral de lucro,
para se configurar, realizar e estabelecer, exige que os valores se conver-
tam em preços de custo que deles diferem. Ricardo, ao revés, supõe a
identidade de valores e preços de custo. pois confunde taxa de lucro e
taxa de mais-valia. Não tem, por isso, a maís remota idéia da mudança
geral que se dá nos preços das mercadorias, resultante da implantação
de uma taxa geral de lucro, antes de haver a possibilidade de se tratar
dessa taxa. Considera essa taxa de lucro uma precÔndição que, por pre·
existir, faz parte mesmo de sua determinação do valor. (Ver capítulo 1
"On Value'~) Depois de pressupor a taxa geral de lucro, só considera as
modificações excepcionais nos preços, exigidas para que se mantenha
e perdure essa taxa gero.L De nenhum modo percebe que tem de haver
antes conversão dos valores em preços de custo para que se crie a taxa
geral de lucro, e que portanto, ao partir de uma taxa geral de lucro, não
está mais operando de imediato com os valores das mercadorias.
Ademais, no trecho acima, há apenas a idéia smitlúana, e mesmo
assim de maneira uru1ateral, pois no fundo Ricardo se apega a sua taxa
geral de mais·valia. Para ele, a taxa de lucro só ultrapassa o nfvel em ra-
mos paiticµlarizados porque o preço de mercado ultrapassa o preço na·
tural em .virtude das relações entre a oferta e a procura. da subprodução
ou superprodução de determinados ramos. A concorrência, oferta de no·
vo capital a um ramo ou retirada de capital antigo de outro ramo, nivela
então preço de mercado e preço natural e reduz o lucro desse ramo parti-
cular ao nível geral. Aí supõe-se oonnante e dado o nível real do lucro,
e a questão é apenas a de o reduzir a esse nível em ramos particulares
onde ele, em virtude da oferta e da procura, se elevou acima ou caiu abai·
xo desse nível. Além disso, Ricardo sempre supõe que estão acima de
seu valor as mercadorias cujos preços proporcíonam mais que o lucro
médio, e abaixo, aquelas cujos preços proporcionam menos que esse Ju.
cro. Se por força da concorrência seu valor de mercado se ajusta a seu
valor, o nível se estabelece.
Esse próprio nível, segundo Ricardo, só pode subir ou descer quan-
do cai ou sobe (por período relativamente longo) o salário, isto é, varia
a taxa da mais-valia relativa, o que se dá sem se alterarem os preços. (Em-
bora o próprio Rícardo adnúta aí importantes variações dos preços, em
diferentes ramos, de acordo com a respectiva composição do capital em
fixo e circulante.)
Mas, mesmo quando se constitui uma ,taxa geral de lucro e em con·
seqüência preços de custo, a taxa de lucro em determinados ramos pode
865
subir, por ser mais longa aí a jornada de trabalho e elevar-se a taxa de
mais-valia absoluta. A intervenção do Estado demonstra que a concor.rên-
cia entre os trabalhadores não pode aplaná-la. Nesses determinados ramos
subírá a taxa de lucro sem que o preço de mercado ultrapasse o preço
natural. Contudo, a concorrência entre os capitais pode, com o tempo,
conseguir e conseguirá que esse lucro suplementar em tais ramos não cai-
ba de todo aos capitalistas. Estes terão de cotar suas mercadorias abaixo
dos "preços naturais", ou os dos outros ramos terão de elevar um pouco
seus preços (seja como for, se não os elevarem de fato, por poder a que-
da do valor dessas mercadorias se opor a essa elevação; não os rebaixarão
tanto quanto o exige o desenvolvimento da produtividade do trabalho
nos próprios ramos). Subirá o nível geral e alterar-se-ão os preços de custo.
E mais: se surgir um novo ramo onde se empregue muito trabalho
vivo em relação ao acumulado e onde por conseguinte a composição do
capital está muito abaíxo da composição média, que determina o lucro
médio, é possível que as relações entre a oferta e a procura nesse novo
ramo lhe pennitam vender a produção acima de seu preço de custo, a
preço que mais se aproxime de seu valor real. A concorrência aí só pode
exercer ação rúveladora, altera~do o ntvel geral, porque o capital, no con·
junto, realiza .• põe em movimento quantidade maior de trabalJw exceden-
te não pago. No primeiro caso, as relações entre a oferta·e a procura não
fazem que a mercadoria, conforme acha Ricardo, se venda acima de seu
valor, mas apenas que se venda acima de seu preço de custo, aproximan-
do-se do valor. O nívelamento não pode portanto fazer quê' ela volte ao
velho nível, e sim que MVO nfvel se estabeleça..
866
Ricardo sempre remove essa idéia com a frase: nos velhos ramos
de atividade, a quantidade de trabalho aplicada ficou sem dúvida a mes·
ma, o que também se deu com o salário. Mas, a taxa geral de lucro é de-
terminada pela proporção do trabalho não pago com o pago e com o ca-
pital adiantado não neste ou naquele ramo, e sim em todos os ramos pa-
ra onde o capital pode ser transferido livremente. Essa proporção pode
pennanecer a mesma em 9i10 dos ramos; se se alterar em 1/10, a taxa
de lucro terá de mudar nos l 0/1 O. Sempre que aumente a massa de tra-
balho não pago, posta em movimento por capital de grandeza dada, a
concorrência só pode fazer que capitais de magnitude igual obtenham
dividendos iguais, particípações iguaís_ nesse trabalho excedente acresci·
do, e não que, apesar do trabalho excedente acrescido em relação à to-
talidade do capital adiantado, o dividendo de cada capital individual fi-
que o mesmo ou se reduza à velha participação no trabalho ex.cedente.
Ricardo, se admite essa idéia, não tem razão alguma para contestar este
modo de ver smithiano: apenas a concorrência crescente entre os capi·
tais oriunda de rua acumulação rebaixa a taxa de lucro. Pois ele mesmo
supõe aí que a mera concorrência reduz a taxa de lucro, embora aumen-
te a taxa de mais-valia. Isso por certo se liga a sua segunda suposição fal-
sa de nun,ca poder subir ou descer a taxa de lucro (excluídas a baixa ou
alta do salário), exceto em conseqüência de desvios temporários que o
preço de mercado tem do preço natwal. E que é preço natural? E o pre-
ço igual ao dispêndio de capítal acrescido do lucro médio. Isso portanto
vem a dar de novo no pressuposto de que o lucro médio só pode cair ou
subir da mesma maneira que a mais-valia relativa.
Por isso, Ricardo erra, ao se opor a Smith, dizendo:
Ainda está errado, ao achar que a taxa de lucro não influi nos pre·
ços de custo, por não influir nos valores.
Ricardo se engana ao acredítar que, em conseqüência de um comér-
cio exterior favorecido, o nível geral do lucro tem sempre de ser recon-
duzido ao velho nível mediante redução e não mediante alta do nível geral.
"Sustentam que a igualdade dos lucros se realizará pela alta geral dos lu-
cros, e sou de opinião que os lucros do ramo favorecido depressa des-
cerão ao nível geral" (1.c., pp. 132, 133).
867
Em virtude de sua concepção de todo errada da taxa de lucro, Ricar~
do se engana por completo ao tratar da influência do comércio estnµ1gei-
ro, nos casos em que esse comércio não rebaixa diretamente os preços
dos alimentos dos traba.lhadores. Não vê a importância enorme que tem
para a Inglaterra, por exemplo, obter matérias·primas mais baratas desti·
nadas à indústria, e que nesse caso, corno já mostre:í 136 , embora os preços
caiam, a taxa de lucro sobe, enquanto no caso oposto a taxa de lucro po·
de cair com preçvs ascendentes, mesmo quando, nos dois casos, o salá·
rio continue o mesmo.
* * "'
{No tocante ao dito a~ima observar ainda: Ricardo. comete todos
esses equívocos porque quer impor identídade que supõe entre taxa de
mais-valia e taxa de lucro, por meio de abstrações torçadas. Daí a con-
clusão vulgar de as verdades teóricas serem abstraçõ~s ·que contrariam
as condições reais, ao invés de se ver que Ricardf:? não,aVa.nça bastante
no caminho da abstração correta e se de_sviar portanto para a abstração
falsa. 137 ).
868
acompanha. Rícardo retruca: a concorrência pode nivelar os lucros (vimos
acima que aí lhe falta coerência) nos diferentes ramos; mas não pode re-
baixar a taxa geral de lucro. Isso só seria possível se, em virtude da acumu-
lação do capital, os capitais aumentassem com rapidez bem maior que a
população, de modo que a procura de traballto fosse de maneira constante
maior que a oferta e por isso o saláriO sempre aumentasse, nominal, real e
segundo o valor de uso - em valor e em valor de uso. E o que nã'o se dá. Ri-
cardo não é um otimista que acredite em ficçães desse gênero.
Uma vez que para ele sã'o idêntícas taxa de lucro e taxa de mais-valia -
trata-se da mais-valia relativa, poís supõe invariável a jornada de trabalho -,
só se pode explicar queda permanente do lucro ou a tendência a cair do lu-
cro pelos mesmos mntivos que causam queda permanente ou tendência
a cair da taxa da mais-valía, isto é, do segmento da jornada no qual o tra-
balhador trabalha não para si mas para o capitalista. Quais são essas cau-
sas? Supondo-se dada a jornada de trabalho, o segmento dela no qual o
trabalhador trabalha grátis para o capitalista só pode cair, diminuir, se au-
mentar o segmento em que trabalha para si. E isso só é possível (suposto
que se pague o valor do trabalho), se acresce o valor dos meios de subsis-
têncía essenciais, dos meios de subsistência em que despende seu salário.
Mas, em virtude do desenvolvimento da produtividade do trabalho, de-
cresce constantemente o valor das mercadorias manufaturadas. A coisa
portanto só se pode explicar pela circunstância de aumentar sempre o va·
lor do componente principal dos meios de subsistência - os alimentos.
E isso decorre de agricultura se tornar cada vez menos produtiva. O mes-
mo pressuposto que, segundo a exposição de Rícardo, explica a existên·
eia e o crescimento da renda da terra. A queda contínua do lucro liga-se
portanto à ascensão contmua da taxa da renda da terra. Já mostrei que
é falsa a concepção ricàrdiana da renda da terra. Assim, desfaz-se um dos
fundamentos de sua explicação da queda da taxa de lucro. Mas, além dis.
so, ela repousa sobre o falso pressuposto de serem idênticas a taxa de
mais-valia e a taxa de lucro, de serem portanto idênticas queda da taxa
de lucro e queda da taxa de mais-valia, o que só seria explicável à manei·
ra ricardiana. Isso liquida sua teoria. A taxa de lucro cai - embora a taxa
de mais-valia fique a mesma ou suba -, porque, com o desenvolvimento
da produtividade do trabalho, o capital variável decresce em relação ao
capital constante. Cai, portanto, não por se tornar o trabalho menos pro-
dutivo, e sim por se tomar mais produtivo. Não por ser o traballto me--
nos explorado, e sim por ser mais explorado, seja porque se dilata a jor·
nada excedente absoluta, ou porque, logo que o Estado o impeça, acres-
869
ce a jornada excedente relativa, pois à produção capitalista se identifica
com o valor relativo decrescente do trabalho.
A teoria de Ricardo repousa sobre duas suposições falsas:
(l) o pressuposto errado de a existência e crescimento da renda da
terra terem como condição necessária a fertilidade decrescente da agri-
cultura;
(2) o pressuposto errado de a taxa de lucro ser igual à taxa de mais·
valia relativa e só poder subir ou cair na razão inversa do salário, ao cair
ou subir este.
Compilarei agora as proposições com que Ricardo explica o mo-
do de ver que acaba de ser apresentado.
870
da de trabalho de certa magnitude). Se o salário aumenta portanto de 40
para 60, desaparece a mais-valia toda. Sempre se admitiu que 1 quarter é
o salário necessário para um homem.
Admitamos que nesses dois casos só se empregue capital de 100.
Ou, o que dá no mesmo, consideremos o capital em termos percentuais,
qualquer que seja o capital despendido. Isto ê, em vez de considerar que
o capital despendido é 110, 120, sem que variem (). número de trabalha-
dores e o capital constante, calcularemos, para a mesma composição or-
gânica (não segundo valor, e sim segundo a quantidade de trabalho em-
pregado e o volume do capital constante), quanto capital constante e
quantos trabalhadores po'de empregar um capital de 100 (para se man·
ter a comparação com as outras classes na base de 100). Está 110 para
60 assím como 100 54 6/11, e 110 50 assím como 100: 45 5/11. Se
20 homens movimentam 60 de capital constante quantos movímenta·
rão 54 6/11?
fêinoS- então: é de 60 libras o valor obtido com o número de tra-
balhadores empregados (digamos 20). Cabem a esses trabalhadores 20
quarters .ou toneladas = 40 libras, se a tonelada ou o quarter for igual a
2 libras. Se o valor da tonelada sobe para 3 libras, desaparece a mais-valia.
Se sobe para 2 1{2, desaparece da mais-valia a metade que configurava
a renda absoluta.
No prímeiro caso, para capital despendido de 120 libras (60c + 60v),
o produto = 120 libras = 40 toneladas, isto é, 40 X 3. No segundo, para
capital despendido de ,110 (60c + 50v), o produto= 120 = 48 toneladas?
isto é, 48 X 2 1/2.
No primeiro caso, para capital despendido de 100 (50c + 50v), o
produto = 100 libras = 33 1/3 toneladas, isto é, 3 X 33 1/3 = 100. E
mais; uma vez que só a terra piorou e não houve mutação no capital, a
quantidade de trabalho que movimentará o capital constante de 50 será,
em termos relativos, equivalente à que movimentou antes o de 60. Assim,
se 20 homens movimentaram este (os quais receberam 40 libras, sendo
2 libras o valor de _1 tonelada), é aquele movimentado por 16 2/3 homens
que recebem 50 libras, desde que o valor da tonelada tenha subido para
3 libras. Como dantes, 1 homem recebe agora 1 tonelada ou 1 quarter =
871
3 libras,_ pois 16 2/3 X 3 = 50, Se o valor criado por 16 2/3 homens é
igual a 50, o criado por 20 homens será 60. Mantém-se portanto o pr~su
posto de a jornada de trabalho de 20 homens ser igual a 60 libras.
Examinemos o segwido caso. Com 100 libras de capital despen-
dido, o produto será 109 1/11 libras, isto é, 43 7/11 toneladas (2 1/2 X
43 7/11 = 109 l /11). Capital constante = 546/11 e o variável= 45 5/11.
As 45 5/11 libras representam quantos homens? 18 2/11 homens. E se o
valor da jornada de trabalho de 20 homens= 60 libras, a de 18 2/11 ho-
mens = 54 6/11 libras e em conseqüência o valor do produto= 109 1/11
libras.
Vê-se que, nos dois casos, o mesmo capital movimenta menos ho·
mens, que entretanto custam mais. Seu trabalho dura o mesmo tempo,
mas o tempo excedente é menor ou não existe, pois, com o mesmo tra-
balho produzem menos produto (e esse produto consiste em seus meios
de subsistência), e assim aumentou o tempo de trabalho, embora conti-
nue a mesma a jornada de traballio, pois é maior o tempo de trabalho
que empregam para produzir 1 tpnelada ou 1 quarter.
Ricardo, em seus cálculos, supõe sempre que o capital tem de mo-
vimentar mais traballw e por isso é mister empregar câpital maior, isto é,
120, 11 O, em vez das 100 libcas anteriores. Isso só é con:eto, _dado o obje-
tivo de se produzir a mem:a quantidade, ou seja, 6U toneládas nos casos
acima; mas no caso 1 produzem-se 40 toneladas eç>m dispêndio de 120
libras, e no caso li, 48 toneladas com díspêndio de 110. Em.conseqüên-
cia, com dispêndio de 100 produzem-se 33 1/3 toneladas no primeiro
caso, e 43 7 /11 no segundo. Ricardo se desloca, portanto, do enfoque
acertado: este não consiste em que mais trabalhadores tenham de ser em-
pregados para produzir o mesmo produto, e sim em que da.da quantida-
de de trabalhadores gera produto menor, do qual fração maior constitui
o salá.r.io.
Agora apresentaremos em conjunto dois quadros, primeiro, o. qua-
dro A da p. 574 139 e novo quadro decouente dos dados vistos.mais acima.
872
Convenções utiliiadas ~o tradutor na ª&resentação dos quadros:
L = libra(s), t =tone ada(s)
VT VM VI VD PC RA RD RA
Classe Capital Tone- Valor Valor de Valorindi- Valordi· Preço de Renda Renda Renda
!adas total mercado vidusl por ferencial c11Sto por abso- dife- abso-
por tone- tonelada por tone- tonelada luta rencial luta
fada !ada
L L. L L L L L L t
RD
Clasi;o Rendadi- Renda Renda Composi- Taxa de Número de Salário SahúiG Taxa de
ferenclal total total çiodo mais-valia trabalha· ··lucro
capital dores
L t % L t %
1 o 10 5 60c + 40v 50 20 40 20 10
11 5 20 10 60c + 40v 50 20 40 20 10
I1l 15 40 20 60c +40v 50 20 40 20 10
00
~
20 70 35
Se esse Quadro for organizado ao revés, de acordo com a seqüência
descendente de Ricardo, começando então por 111, e se ao mesmo tem·
po se supuser que não pague renda o terreno mais fértil, cultivado primei-
ro, teremos, no início, o capital de 100 em IlI, produzindo o valor de
120 libras, das quais 60 correspondem a capital constante e 60 a novo tra-
balho adicíonado. Segundo Ricardo, cabe ainda supor que a taxa de lu-
cro ultrapasse a indícada em A, uma vez que os 20 homens, eom a bai·
xa da tonelada de carvão (do quarter de trigo), obtinham 20 toneladas = 40
libras, quando a tonelada era igual a 2 libras. Mas eomo ela agora é igual
a 1 9/15 libra ou 1 libra e 12 xelins, os 20 homens só obtêm 32 libras
(equivalentes a 20 toneladas). O capital adiantadó para o mesmo núme-
ro de trabalhadores importará em 600 + 32y = 92 libras, cujo valor será
igual a 120 libras, wna vez que o valor do trabalho executado pelos 20
homens continuará a ser de 60 libras. De acordo com essa proporção, um
capital de 100 terá de produzir valor de 130 10/23, pois 92 120 = 100 :
130 10/23 (ou 23 : 30 = 100 130 10/23). E mais; esse capital de 100
terá a composição: 65 S/23c t 34 18/23v. Assim, o capital será 65 5/23c +
34 18/23v; valor do produto = 130 10/23. O número de trabalhadores
será 21 17/23. A taxa de mais-valia será 87 1/2%.
vr VM VI VD
l J, L L
l l
874
Mantendo a suposição ricardiana, admitamos agora que, em vírtu·
de da população crescente, o preço de mercado suba tanto que tenha de
ser cultivada a classe II, onde o valor da tonelada= 1 11 /3 libra.
Ao contrário do que supõe Ricardo, então é impossível que os
21 17/23 trabalhadores continuem a produ:i.ir o mesmo valor, a saber,
65 5/23 libras {salário e mais-valia juntos). Pois o número de trabalhadores
que III pode empregar, explorar portanto, decresce de acordo com sua
própria suposição e em conseqüência também o total da mais-valia.
Não varia, contudo, a eomposição do capitaLagríe-0la. Para movi·
mentar 60c são sempre necessários 20 trabalhadores (dada a jomada de
trabalho), não importa como sejam pagos.
Uma vez que esses 20 trabalhadores recebem 20 toneladas e a to·
nelada = 1 11/13 libra, os 20 trabalhadores eustam 20 (1 + ll/13) li·
bras::::: 201ibras+ 16 12/13 libras= 3612/13 libras.
Assim, o valor que esses 20 trabalhadores produzem é igual a 60,
qualquer que seja a produtividade de seu trabalho; por conseguinte, o
capital adiantado = 96 12/13, o valor= 120, e o lucro= 23 l/13 libras.
Em conseqüência, o lucro do capital de 100 será 23 17/21 libras e a composi·
ção do ·capital 61 19/21ç_+ 38 2/2lv. Empregani.se 20 40/63 trabalhadores.
O valor total = 123 17 /21. e, uma vez que o valor individual da tone-
Jada na classe III é de 1 3 /5 libra, quantas toneladas tem o produto? 77 8/21
toneladas. A taxa de mais-valia é 62 l /2%.
Mas I1I vende agora a tonelada por 1 11/13 libra. Isso redunda num
valor õiferéncíal por tonelada de 4 12/13 xelins ou 16/95 b'bra, o que para
77 8/21 toneladas representa 77 8/21 X 16/65 = 19 l /21 Jibras.
Em vez de vender o produto por 123 17/.21, III o vende por
12317/21 + l/~1=1426/7 libras. As 191/21 libras constituem a renda.
Para III teremos:
l L L l l
---~---··-,,
VD
V•ior dlhfen·
dai ,...1on..
lida
Rct'ld•
L ···-
11.md•cm T•udc
...---------
h1ao
"'
Compcaçio
do<11pff1I
T•>ade
nta4J·~
...
Número dC!
trth6lh'4.urc&
875
Se-passannos para a classe 11, nera- J!ãO haverá renda. Valor de mer-
cado e valor individual serão iguais. Em toneladas, II produz 67 4/63.
Para li teremos, portanto:
vr VM VI
L L L L
VD
L L
8'76
VTR VTM VM VI VD
~
Classe Capital Toneladas Valor to· Valor to- Valor de Valor lndi· Valor dife,encial
tal real tal de
me1cado
mercado
por
vidual por
tonelada
por tonelada ~
tonelada
ffe"
:::i
o
ril
L L L L L L §p.
o
o
m 100 77 8/21 123 17/21 142 6/7 1 11/13 1 3/5 + 16/65 L :=+ 4 12/13 X ~
123 17/21 123 17/21 o o
11 100 67 4/63 1 11/13 1 11/13 :::i
p.
(1)
(li
a
íJ
,.,
,.,o..
Composição do
capital
Número de
lraballta.dores
Taxa de
mais-valia
Taxa de
lucro
Salátio Lucro Renda Renda
-
i;i
(1)
...
( 1)
~
% % t t L t °8
ia
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J"
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Pasáemos agora ao terceiro caso e admitamos com Ricardo que a mi-
na 1, mais pobre, tem de ser e pode ser explorada porque o va'/or de mer-
cado subiu para 2 libras. Uma vez que o capital de 60 exige 20 trabalha-
doreS; e estes agora custam 40 libras, teremos a composição do capital
vIB.ta no Quadro A, p. 574, a saber, 60c + 4úv, e o valor que os 20 traba·
lhadores produzem é sempre igual a 60; daí o vaJor totaJ de 120 para o
produto obtido com o capital de 100, qualquer quê seja sua produtivida-
de. Aí a taxa de lucro = 20%, e a taxa de mais-valia = 50%. Em tonela-
das, o lucro = 10. Temos agora de ver como III e II mudam em virtude
dessa variação do valor de mercado e da intromissão de I, que determina
a taxa de lucro.
III, embora lavre a terra mais fêdil, com 100 horas só pode empre-
gar 20 trabalhadores que lhe custam 40 libras, uma vez que um capital
constante de 60 exige 20 trabalhadores. Por isso, o número de trabalha-
dores que um capital de 100 emprega cai para 20. E o valor totaJ real de
seu produto é agora 120. Mas, uma vez que o valor individua] da tonela-
da produzida por Ili é 1 9/15 libra, quantas toneladas produzirá? 75, pois
120 dividido por 24/15 (19/15 libra)= 75. O número de toneladas que
produz decresce porque o mesmo capital só lhe permite empregar menos
trabalho, e não mais (conforme afirmação errônea e reiterada de Ricardo,
oriwida de ter ele sempre em vista apenas a quantidade do trabalho ne·
cessária para produzir o mesmo produto, e não, a única coisa importante,
qt11Jnto trabalha vivo pode ser empregado na nova composição do capi-
tal). Mas, III vende essas 75 toneladas por 150 (em vez de 120, o valor de-
las), e assim sua renda sobe para 30 libras.
Para II, o valor do produto também é 120 etc. Contudo, uma vez
que o valor individual da tonelada = l 11/J3 produz 65 toneladas (pois
120 dividido por 24/13 (111/13) = 65. Em suma, obtemos aí o Quadro
A da p. 574. Mas, uma vez que aí precisamos de novos títulos para n0$o
propósito, refaçam.os o Quadro onde entra agora l e o valor de mercado
se eleva a 2 horas.
878
VTR VTM VM VI VD
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\O is. ti 40 20
Passemos agora aos novos casos propostos 140 • [Antes de mais nada,
a classe que só chega a dar lucro; chamemo-la lb. Com capital de 100
só produz 43 7/11 toneladas.
O valor da tonelada sobre para 2 l /2 libras. A composição do capí·
tal = 54 6/llc + 45 5/1 lv. ·Valor do produto = 109 1/11 libras. Com
45 5/11 libras pagam-se 18 2/11 homens. E uma vez que o valor da jorna-
da de trabalho de 20 homens = 60 libras, o da jornada de 18 2/11 ho·
roens = 54 6/11. Em conseqüência, o valor do produto = 109 l /11. A ta-
xa de lucro = 9 l/111ibras = 3 7 /11 toneladas. A taxa de mais·wdia:::: 20%.
111, li e 1, com l 00 libras, uma vez que tem a mesma. composição
orgânica de lb e tem de pagar o mesmo salário, também só podem empre-
gar 1 82/11 homens, que produzirão um vaior di 54 6/11, em CQnseqüên-
cía, como Ib, mais-valia de 20% e taxa de lucro de 9 1/11 %. Como em lb,
o valor total do produto aí é 109 1/11 libras.
Mas UI, uma vez que nele o valor individual da tonelada = 1 3/5
libra, produz (ou seu produto =) 109 1/11 libras dividido por 1 3/5 ou por
24/15 = 68 2/11 toneladas, Além disso, a diferença entre o valor indivi-
dual e o valor de mercado da tonelada é de 2 1/2 libras - l 3/5, ísto é, 2 li-
bras e 10 xelins - l librae 12 xelins= 18 xelins. Temos, então, para 68 2/11
toneladas, 18 (68 + 2/11) xelins= 1 227 3/11 xelins= 61. libras e 7 3/11
xelins. Em vez de vender seu produto por 109 1/11 libras, III o venderá
por 170 libras e 9 1/11 xelins. E esse excedente é igual ã renda de III. Em
toneladas, essa renda = 24 6/11.
II, com o valor individual da tonelada= 1 11/13 libra,produz 109 1/11
dividido por 1 11/13, o que dá 59 1/11 toneladas. Ein II, a diferença entre
o valor de mercado e o valor individual é de 2 1/2 libras - 1 11/13, o que
corresponde a 17/26 libra. Para 59 1/11 toneladas, essa diferença dá 38 7/11
libras. E isso é a renda. O valor total de mercado:;; 147 8/11 libras. Em to-
neladas, arenda = 15 5/11.
=
Por fim, em 1, uma vez que o valor individual da tonelada 2 libras,
109 1/11 libras correspondem a 54 6/11 toneladas. A diferença entre o
valor individual e valor de mercado = 2 1/2 libras - 2 libras= 10 xelins.
Temos então para 54 6/11 toneladas: (59 + 6/11) 10 xelins = 590 xe-
lins + 60/11 xelins = 27 libras+ 5 5/11 xelins. Por conseguinte, valor to·
tal de mercado= 136 libras e 7 3/11 xelins. Em toneladas, o valor da ren·
da= 10 10/11.
140. Ver neste volume pp. 870..873.
880
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S4 6/ll,.+ 45 S/ll, IS 2/11 20 'Hill 18 2/11 3 7/11 38 7/ll L=38L 128/11 X IS S/I J
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"""
Vejamos por fim o último caso: nele, segundo Ricardo, o lucro cessa,
de todo e não há mais--valia.
O valor do produto aí sobe a 3 libras, de modo que, ao se emprega-
rem 20 homens, o salário deles será 60 libras, igual ao valor que produzem.
Composição do capital: soe + 50v. Empregam-se então 16 2/3 lwmens.
Se o valor produzido por 20 homens = 60 libras, o produzido por
16 2}3 = 50 libras. O salário absorve portanto o valor inteiro. O trabalha-
dor continua a receber 1 tonelada. Valor do produto = 100 libras, e o
número de toneladas produzidas é portanto de 33 1/3, das quais metade
só repõe o valor do capital constante e metade, o do capital variável apenas.
Uma vez que em Jil o valor individual da tonelada = 1 3/5 libra
ou 24/15, quantas toneladas produzirá III? 100 dividido por 24/15, isto é,
62 1/2 toneladas, cujo valor = 100 libras. Mas a diferença, em libras, entre
o valor de mercado e o valor individual""" 3 - 1 3/5-= 1 6/15 ou 1 2/5. Isto
multiplicado por 62 1/2 toneladas dá 87 1/2 libras. Por conseguinte, o valor
total de mercado= 187 1/2 libfas. Em toneladas, a renda= 29 1/6.
Em II, o valor individual da tonelada = 1 11/13 ~bras. Por conse-
guinte, em libras, o valor diferencial= 3 - 11,1/13 =·l 2/13. Uma vez que
aí o valor individual da tonelada= 1 11/13 ou 24/13 libra, o capital de 100
produz (100 dividido por 24/13) 54 1/6 toneladas• .Multi.plicada aquela di·
ferença por esse número de toneladas, temos 62 libraS e 10 xelins. E o valor
de me1cado do produto = 162 libras e 10 xelins. Em toneladas. a ren-
da= 20 Sj6 toneladas.
Em I, o valor individual da tonelada= 2 libras. Po1 conseguinte, va-
=
lor dife1encial = 3 - 2 1 libra. Uma vez que aí o valor individual da to-
nelada = 2 libras, produzem-se, com capital de 100 libras, 50 toneladas.
Isso dá wna dife1ença de 50 libras. O valor de mercado do produto = 150
libras~ em toneladas, renda= 16 2/3.
Chegamos agora a lb, que até agora não deu renda. A1 o valor indi-
vidual = 2 1/2 libras, por conseguinte, valor diferencial = 3 - 2 1/2 li-
bras = 1/2 libra ou 1O xelins. E aí, uma vez que o valor .individual da tone·
lada = 2 1/2 ou 5/2 libras, o capital de 100 libras produz 40 toneladas. Des·
tas, o valor diferencial = 20 libras, e desse modo o valor total de merca-
do""' 120 libras. E em toneladas, a renda""' 6 2/3.
882
Ordenemos agora o 59 caso, em que, segundo Ricardo, o lucro desa-
parece.
5. Quinto caso:
VTR VTM VM VI VD
Classe Capi- Tonela- Valm Valor Valor Valor índi- Valordife·
tal das total total de de me1· vid11al por rencial por
real me1cado cado por tonelada tonelada
tonelada
L L L L L L
Ili lOO 621/2 100 187 1/2 3 1 3/5 1 2/5
1( 100 541/6 100 162 1/2 3 111/13 1 2/13
I 100 50 100 150 3 2 1
lb 100 40 100 120 3 2 1/2 1/2
Ia 100 33 1/3 100 100 3 3 o
883
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e) Conversão de parte do lucro e de parte do capital
em renda da terra. A magnitude da renda da terra
varia conforme a quantidade do trabalho ·
empregado na agricultura.
886
vália inteira, atingia apenas 37/11 toneladas ou quarters {empregava 18 2/11
traba1hadores, em vez dos 16 2/3 atuais).
Mas, agora, está claro que o valor de mercado, ao ultrapassar ova·
lor individual dos produtos de III, II, 1, e Ib, pode sem dúvida alterar a
repartição do produto, deslocando-o de uma classe. de participantes para
outra; contudo, de modo algum pode aumentar o produto que represen·
ta a mais-valia acima do salário. Uma vez que não variou a produtividade
dos tipos diversos de terra e ainda a do capital, como é possível que os
solos III a Ib se tomem ma.is produtivos em toneladas ou quarters, com a
entrada no mercado do solo menos fértil ou da mina tipo la?
O problema se resolve como segue:
Se a jornada de trabalho de 20 homens for ígual a 60 libras, a de
16 2/3 produz.irá 50 libras. E uma vez que, na classe de solo III, o tempo
:de trabalho contido em l 3/5 ou 8/5 libra se configura em 1 tonelada
ou 1 quarter, 50 libras representam 31 1/4 toneladas ou quarters. Daí
saem 16 2/3 toneladas ou quarters para salário, e assim ficam 14 7/12 to·
neladas para mais-valia.
Ademais, por ter o valor de mercado da tonelada subido de 1 3/5
ou 8/5 libra para 3 libras, bastam do produto, isto é, das 62 1/2 toneladas
ou quarters, 16 2/3 toneladas ou quarters para repor o valor do capital
constante. -Em contrapartida, quando a própria tonelada ou quarter que
III produzia determinava o valor de mercado, que por isso era igual ao va·
lar individual, eram necessárias 31 1/4 toneladas ou quarters para repor
um capital constante de 50 libras. Dessas 31 1/4 toneladas ou quarters,
dessa parte alíquota do produto então necessária para repor o capital
quando a tonelada valia 1 3/5 libra, exigem-se agora apenas 16 2/3. Ficam
assún disponíveis e se transferem para renda 31 1/4 - 16 2/3 toneladas
ou quarters. lsto é, 14 7 /12 toneladas ou quarters.
Se somannos a maís-valia de 14 7 /12 toneladas ou quarters - pro·
duzida em III por 16 2/3 trabalhadores com capital constante de 50 ll·
bras - à porção do produto de 14 7/12 toneladas ou quarters, a qual ago-
ra, em vez de repor o capital constante, apenas aparece na forma de pro-
duto excedente, o total de produto excedente atingirá 28 14/12 tonela-
das ou quarters = 29 2/12 = 29 1/6 quarters ou toneladas. E a rigor isso
é a renda em toneladas ou trigo de Ili no Quadro E. Resolve-se de idên-
tica maneira a contradição aparente na magnitude da renda em toneladas
ou trigo das classes II, 1, lb ao Quadro E.
Revela-se portanto que a renda diferencial - que surge nos meJho.
res tipos de solo, em virtude da diferença entre valor de mercado e ova·
887
Jor individual dos produtos neles produzidos - em sua ecnfiguraçiio ma·
teria/ de renda em produto, produto excedente e de renda em toneJa4as
ou em mgo no exemplo acima, se compõe de dois elementos e provêm
de duas transformações. Primeiro: o produto excedente que representa
o tràbalho excedente dos -trabalhadores, a mais-valia, passa da forma de
lucro para a de renda e por isso transfere-se para o dono da terra e não
para o capitalista. Segwido, parte do produto, a qual antes, quando o pro-
duto do melhor tipo de solo ou de mina se vendia pelo próprio valor, era
necessária para repor o valor do capital constante, libera-se agora, quando
cada parte alíquota possui maior valor de mercado, e aparece na forma
de produto excedente, cabendo por isso ao dono da terra e não ao ca-
pitalista.
Dois processos formam a renda em produtns, desde que seja ren·
da diferencial: conversão do produto excedente em renda e não em lu-
cro e conversão de uma parte altquota do produto, antes destinada are·
por o valor do capital constante, em produto excedente e por isso em
renda. Esta circunstância de parte do produto se transmutar em renda,
e não em capital, passou despercebida a Ricardo e a todos os seus suces·
sores. Só vêem a conversão do produto excedente em renda; não repa-
ram na transmutação de parte do produto antes destinada ao ~pital (e não
ao lucro), em produto excedente.
O valor nominal do produto excedente assim cónstituído, ou da
renda diferencial, é detenninado (conforme a suposição feita) pelo va-
lor do produto obtído na pior terra ou mina. Mas esse· valor de merca-
do apenas ocasiona a distribuição diferente desse pródutoi não o gera.
Aqueles dois elementos aparecem em todo lucro-suplementar, quan-
do, por exemplo, em virtude de nova maquinaria etc., se vende produto
produzido mais barato por valor de mercado maior que seu próprio va-
lor. Parte do trabalho excedente do trabalhador, em vez de aparecer na
fonna de lucro, surge na de produto suplementar (lucro suplementar).
E pane do volume de produtos que, no caso de o produto se vender por
seu próprio valor menor, seria necessário para repor o capital constante
do capitalista, libera-se agora, nada tem para repor, torna-se produto ex-
cedente e por isso expande o lucro. -
* * *
(De passagem: quando falamos da lei da queda da taxa de lucro
no curso do desenvolvimento da produção capitalista, entendemos então
por lucro o total da mais-valia de que se apodera, de inicio, o capital in·
888
dustrial, não importa como o tenha de repartir depois com o capitalis-
ta prestamista Guro) e com o dono da terra (renda). Aquí portanto taxa
mais-valia
de lucro = .Ne~e sentido, a taxa de lucro pode cair,
capital adiantado
embora o lucro industrial, por exemplo, suba em relação ao juro ou více-
versa. Se o lucro = L, o lucro industrial= L ', o juro = J e a renda (rent) = R,
será L = L' + J + R. E é claro que, seja qual for a magnitude absoluta de
L, podem L', J e R subír ou cair em sua relação recíproca, sem depender
da magnitude de L ou da ascensão e queda de L. A ascensãÓ, em termos
correlativos, de V, J e R é mera repartição diferente de L por pessoas di-
versas. O exame ulterior das circunstâncias que geram essa repartição de
L, que não é idên,tica à ascensão ou queda do próprio L, não é matéria
para tratar aqui e sim no estudo da concorrência entre os capitais. Mas,
a circunstância de R poder subir a nível que ultrapasse o próprio L, su·
posto que este se divida apenas por L' e J, é, como já se expôs, aparência
decorrente de parte do produto, ao subir o valor deste, liberar-se e conver-
ter-se em renda, em vez de se reconverter em capital constante.
* *
Em toda essa expos1çao admitiu-se que o produto encarecido (se·
gundo o valor de mercado) não entra na composição do capital constan-
te, mas só no salário, no capital variável. A primeira ocorrência, se hou-
vesse, diz Ricardo, faria a taxa de lucro cair ainda mais e subir a renda,
E o que cabe investigar.
Até agora supomos que o valor do produto tem de repor o valor
do capital constante; ou seja, as 50 libras do caso acima. Por conseguin-
te, se 1 tonelada ou quarter custa 3 libras, não se exigem para essa repa-.
sição de valor tantas toneladas ou quarters quantas as necessárias quan-
do a tonelada ou quarter só custa l 9/15 libra etc. Admitamos, porém,
que o carvão ou o trigo, ou seja qual for o produto da terra, o produto
produzido pelo capital agrícola, na sua própria forma mo.teria/, entre na
formação do capital constante. Digamos, constitua a metade dele. Nes-
te caso, é claro que, seja qual for o preço do carvão ou do trigo, um ca-
pital constante de grandeza definida, ísto é, que determinada quantida-
de d.e trabalhadores põe em movimento, precisa sempre, para ser reposto,
de uma parte alíquota definida do produto global, em sua fonna física,
uma vez que, de acordo com a suposição, fica irzaltemda a composição
do capital agrícola no tocante às quantidades relativas de trabalho acumu-
lado e de frabalho vivo.
889
Se, por exemplo, do capital constant_e, metade consiSte em carvão
ou trigo e metade em outra mercadoria, o capital constante de 50 libras
é constituído por 25 de outras mercadorias e 25 libras (ou 15 5/8 quár-
ters ou toneladas de trigo ou carvão), desde que o valor da tonelada= 8/5
ou 1 3/5 libra. E não importa como varie o valor de mercado da tonela·
da ou do quarter, 16 2/3 trabalhadores precisam de um capital constante
de 25 libras+ 15 5/8 quarters ou toneladas, pois continua a mesma a na-
tureza do capital constante e também o número proporcional de trabalha·
dores exigidos para movimentá-lo.
Se o valor da tonelada ou do quarter subir para 3 libras, como no
Quadro E, o capital constante necessário para os 16 2/3 trabalhadores
será 25 libras+ 3 (15 + 5/8) libras= 25 libras+ 45libras+15/8= 71 7/8
libras. E os 16 2/3 trabalhadores, uma vez que custam 50 libras, reque-
reriam um dispêndio total de capital de 71 7/8 libras+ SO libras= 121 7/8
libras.
O capital agrícola, com a mesma composição orgânica, terá variado
na correlação dos valores.
Sua composição será 71 7/8c + 50v (para 16 2/3 trabalhadores).
Na base 100, 58 38/39c + 41 l/39v. Algo mais que 13 2/3 trabalhadores
(desprezada a fração 1/117). Uma vez que 16 2/3 trabalhadores movi-
mentam 15 S/& quarters ou toneladas de capital constante, 13 79/117
trabalhadores movimentarão 12 32/39 toneladas ou qúarters = 38 6/13
libras. E o resto do capital constante = 20 20}39 libras consistírá.em ou-
tras mercadorias. De qualquer modo, será sempre mister tirar do produ-
to 12 32/39 toneladas ou quarters, destinadas a repor 'a parte do produ-
to na qual entram fisicamente. Uma vez que o valor ,que 20 trabalhado-
res produzem = 60 libras, o que os 13 79/117 produzem= 41 1/39. Mas
o ·salário no quadro E, do mesmo modo, atingiria 41 1/39 libras. Assim,
não há mais-valia.
O número total de toneladas será 51 11/13, 143 e delas: 12 32/39
são de novo reproduzidas; 13 79/117 se destirulm aos h:abalhadores, e
6 98/117, a 3 libras a tonelada, cabem à parte restante do capital cons-
t~te. Ao todo, portanto, 33 1/3. Para a renda ficam 17 37/39.
890
Para abreviar a coisa, tomemos o caso mais extremo e mais favo-
rável a Ricardo. Aquele em que o capital constante, como o variável, ape·
nas consiste no produto agrícola cujo valor sobe a 3 libras por quarter
ou tonelada, e por isso a classe Ia domina o mercado.
A composição tecnológica do capital não varia, isto é, mantém.se
constante a razfío entre o trabalho vivo ou o níímero de trabalhadores
representado pelo capital variável (uma vez que se supõe invariável a jor-
nada normal) e a quantidade exigida de mei.os de trabalho, que agora, se-
gundo supomos, consiste em toneladas de carvão ou quarters de trigo, pa·
ra dado níímero de trabalhadores.
Uma vez que na COiqposição primitiva do capital, de 60c + 40y, com
a tonelada ao preço de ~ libras, 40v representavam 20 trabalhadores ou
20 quarters ou toneladas, e 60c, 30 toneladas; e uma vez que esses 20
trabalhadores em III produziam 75 toneladas, 13 1/3 produzem (e 40y =
13 1/3 toneladas ou trabalhadores, se a tonelada = 3 libras) 50 tonektdas
e movimentam um capital constante de 60/3 = 20 toneladas ou quarters.
E mais: uma vez que 20 trabalhadores produzem um valor de 60
libras, 13 1/3 produzirão 40 libras.
Uma vez que o capitalista tem de pagar 60 libras por 20 toneladas,
e 40 pelos 13 1/3 trabalhadores, e estes só produzem valor de 40 libras,
o valor do produto é igual a 100 libras; dispêndio = 100 libras. Mais-valia
e lucro= O.
Todavia, uma vez que não variou a produtiVidade de III, os 13 1/3
homens produzirão, como se disse, 50 toneladas ou quarters. O dispên·
dia físico de toneladas ou quarters, porém, montará apenas a 20 para
o capital constante e 13 l/3 para o salário, isto é, a 33 1/3 toneladas. As
50 toneladas deixam portanto um produto excedente 16 2/3, e isso cons-
titui a renda.
Mas que representam essas 16 2/3 toneladas?
Desde que o valor do produto = 100 libras e o próprio produto =
50 toneladas, o valor da tonelada produzida será 2 Jibras = 100/50. E en-
quanto o produto material for maior que o necessário para reposição fí·
sica do capital, o valor individual da tonelada, aínda de acordo com esse
estalão, tem de ficar menor que o correspondente valor de mercado.
O arrendatário tem de pagar 60 libras para repor 20 toneladas, e
contabiliza as 20 toneladas a 3 libras cada, pois esse é o valor de merca·
do da tonelada, que se vende por esse preço. Do mesmo modo tem de
pagar 40 libras pelos 13 1/3 trabalhadores ou pelas toneladas ou quar-
ters que _paga aos trabalhadores. Assim, estes recebem apenas 13 1/3 to-
neladas.
891
Mas, na realidade, se considerarmos, a classe III, as 20 toneladas
só custam 40 libras, e as 13 1/3 apenas 26 2/3, Contudo, os 13 1/3 tta·
balhadores produzem valor de 40 libras, mais-valia portanto de 13 l /3 li·
bras. A 2 libras por tonelada, isso equivaJe a 6 4/6 ou 6 2/3 toneladas.
E uma vez que em Ili as 20 toneladas custam apenas 40 libras, fica
excedente de 20 libras= 10 toneladas.
Assim, as 16 2/3 toneladas de renda = 6 2/3 toneladas de mais-valia
que se converteu em renda, acrescidas de toneladas referentes a capital
que se transmutou em renda. Mas, por ter o valor de mercado da tonela-
da subído a 3 libras, as 20 toneladas custam ao arrendatário 60 libras e as
13 1}3, 40 libras, enquanto as 16 2/3 toneladas se revelam renda= 50 libras,
como excedente do valor de mercado sobre o valor do produto.
Na classe II, quantas toneladas fornecem 13 l /3 trabalhadores?
Aí 20 trabalhadores produzem 65 toneladas; por conseguinte, 13 1/3,
43 1/3 toneladas. Como acima, o valor do produto= 100. Mas, das 43 1/3
toneladas 33 l /3 são necessárias para repor o capital. Restam como pro-
duto excedente on renda 43 1/3 - 33 1/3 ==: 10 toneladas.
Essa renda de 10 se explica assim: em II, o valor do pro duto = 100
libras, o produto é de 43 l /3 tcmeladas, e portanto o valor da tonelada =
t 00/43 l /3 :;; 24/13 libras. Os 13 1 /3 trabalhadores custa.m portanto
30 10/13, e ficam para mais-valia 9 3/13 libras. Além .disso, as 20 tone-
ladas de capital constante custam 46 2/13 libras, e da~ 60 que por elas
se pagam ficam 13 11/13 libras. Somadas à mais-valia, temos 23 1/13 lí-
bras, o que está correto a rígor.
Só na classe Ia - onde na realidade são necessários fisicamente, pa-
ra repor capital constante e sa,lário. 33 1/3 toneladas'ou quarters, o pro-
duto global portanto - não há de fato mais-valia nem produto excedente
nem renda, Quando isso não ocorre, quando o produto é maior que o
necessário para reposição física do capital, sucede conversão de lucro
(mais-valia) e de capital em renda. Esta última conversão se dá quando
parte do produto, a qual para valor baíxo terla de repor o capital, se li-
a
bera, ou quando cabe à renda parte do produto qual se teria converti·
do em capital e mais-valia.
Mas, ao mesmo tempo, vê-se que o encarecimento do capital cons-
tante, por ter encarecido o produto agrícola, reduz de muito a renda:
por exemplo, a renda de lII e li no Quadro E, de 50 toneladas = 150
libras, na base do valor de mercado de 3 libras, reduz-se a 26 2/3 tonela-
das, isto é, â metade quase. Essa redução é necessária, visto que decres.
ce o número de trabalhadores empregados com o mesmo capital, por dois
892
motivos: primeiro, porque sobe o salário, ou seja, o valor do capital va-
riável; segundo, porque se eleva o valor dos meios de produção, do capi-
tal constante. Em si mesma, a alta do salário exige que das 100 libras me-
nos se possa despender em trabalho, e portanto relativamente (não se
alterando o valor das mercadorias que entram no capital constante) me·
nos em capital constante, e assim as 100 libras em conjunto representam
menos trabalho acumulado e menos trabalho vivo. Mas, além disso, a ele-
vação do valor das mercadorias que entram no capital constante faz que,
em virtude de não variar a relação tecnológica entre trabálho acumulado
e trabalho vivo, seja menor a quantidade de trabalho acumulado que se
possa empregar pela mesma quantia e em conseqüência também a de tra-
balho vivo. Mas, uma vez que o produto total, com produtividade invariá-
vel da terra e dada composição tecnológica do capital, depende da quan-
tidade de trabalho empregado, ao decrescer este, a renda tem também
de decrescer.
Isto se evidencia quando o lucro é suprimido. Enquanto este exis·
tir, a renda pode crescer, apesar do decréscimo absoluto do produto em
todas as classes, o que mostra o quadro à p. 681 144 • Enfim, é claro que,
ao existír apenas a renda, o decréscimo do produto e, por conseguinte,
do produto excedente tem de recair sobre a própria renda. Antes de mais
nada, isso ocorrerá mais rapidamente se o valor do capital constante acres-
cer com o do capital variável.
Mas, se abstraímos desse caso, o quadro da página 681 mostra que
o aumento da renda diferencial, com fertilidade decrescente da agricul-
tura, é sempre acompanhado, também nas melhores classes de terra, por
quantidade decrescente do produto global em relação ao capital adianta-
do de determinada magnitude, de 100 por exemplo. Ricardo não tinha
noção disso. A taxa de lucro diminui porque o mesmo capital, digamos
100, movimenta cada vez menos trabalho e paga mais caro esse trabalho,
e assim acumula excedente cada vez menor. Mas o produto real, dada a
produtividade, depende, como a mais-valia, do número dos traba1hadores
empregados pelo capital. Ricardo não se dá conta disso. Nem da maneira
como se forma a renda, quer pela conversl'io da mais-valia em renda, quer
pela do capital em mais-valia. Sem dúvida, essa conversão de capital em
mais-valia é apenas aparente. Se em III etc. o valor de mercado fosse de-
tenninado pelo valor do produto, cada partícula de produto excedente
representaria mais-valia ou trabalho excedente. Ricardo, ademais, só tem
893
em vista que, para produzir a mesma massa ·de produtos, é mister empre-
11;ar mais trabalho, mas não repara o que é decisivo para a detenninação
da taxa de lucro e da quantidade do produto produzido, a saber, que com
a mesma quantidade de citpital se emprega quantidade sempre decrescente
de trabalho vivo, e que parte cada vez maior deste é trabalho necessário
e parte cada vez menor, trabalho excedente.
Depois de tudo isso impõe-se dizer que, mesmo que se considere
como renda (rent) apenas a renda diferencial, Ricardo não progrediu em
face de seus predecessores. Nessa questão cabe-lhe o importante mérito
apontado por Quincey, a formulação cientlfica do problema. Ao solucio-
ná·lo, aceita as idéias anteriores.
Diz Quincey:·
"Ricardo inovou a teoria da renda, reduzindo-a à questão de saber se
a renda de fato invalida a lei do valor" (p. 158, Th. de Quincey, The
Lo~ of Pol. Econ. 1 Edimbutgo e Londres, 1844).
894
Mas de modo algum se diz que, se em curtos períodos isolados ( oo.
mo o de 1797 a l 813) é forte o domínio da seqüência descendente, a taxa
de lucro tem por isso de cair (desde que esta seja determinada pela taxa
de mais-valia). Ao contrário, acredito que, naquele período, a taxa de lu·
cro na Inglaterra subiu por exceção, apesar da forte ascensão dos preços
do trigo e dos produtos agrícolas em geral. Não conheço um estatístico
inglês que não participe do ponto de vista da alta da taxa de lucro duran-
te aquele período. Certos economistas, como Çhalíners, Blake e outros
elaboraram teorias apoiadas naquele fato. De antemão, tenho de acres.
centar que é tolice procurar explicar a alta dos preços do trigo naquele
período pela desvalorização monetária. Nínguém que tenlia estudado a
história dos preços das mercadorias durante aquela época pode partici-
par dessa opinião. Além disso, a alta dos preços começa muito antes e
atinge alto nível, antes de surgir qualquer depreciação monetária. Ao sw·
gir esta, é mister apenas deduzi~la. Se se pergunta por que subiu a taxa de
lucro, apesar da ascensão dos preços do trigo, encontra-se a explicação
nas seguintes circunstâncias: prolongamento da jornada de traba1ho, a
conseqüência imediata da nova maquínaria introduzida; barateamento
das mercadorias fabricadas e coloniais que entram no consumo dos tra-
balhadores; queda dos salários (embora suba o salário nominal) abaixo
de seu nível médio tradicional (reconhece.se essa ocorrência naquele pe·
ríodo; J. P. Stirling - que aceita no conjunto a teoria ricardiana da renda
da terra - em The Philosophy of Trade etc., Edimburgo.1846, procura
demonstrar que a conseqüência imediata de um encarecimento penna-
nente do trigo, o qual não seja detenninado lºr elementos sazonais alea-
tórios, ê sempre redução do salário médio 14 ); por fim - urna vez que,
em virtude de empréstimos e de despesas do governo, a procura de capi·
tais cresceu mais rápida que a oferta - elevação do preço nominal das
mercadorias, com o que o fabricante recupera segmento da parte do pro·
duto paga em forma de renda etc. ao dono da terra e a outros detentores
de renda fixa. Não cabe tratar dessa circunstância agora que estamos exa-
minando as relações fundamentais, e assim temos em vista apenas 3 clas-
ses, os donos das terras, os capitalistas e os trabalhadores. Contudo, em
condições apropriadas, ela desempenha na prática importante papel, se-
gundo mo~trou Blake. t 45 ]
145. Stiding, The phi1osophy of trade; or, autlines of a theary of profitsand price ... ,
E-Oimburgo,1846,pp. 209,210.
146, Da questão aí aludida OCl}..POU-Se Marx no manuscrito de 1857/58 (ver Grun-
drisse der Kritík der palitishen Okonomle. Berlim, 1953, pp. 672-674), realizando
excertos da obra de W. Blake, Observations on the effect!J pFOduced by the expendi-
ture af govunment duríng the restriction of cash payments, Londres, 1823, e fonnu-
lando comentários.
895
[Mr. Rallett de Brighton expôs "trigo semental" na exposição de 1862147 •
"Mr. Hallett acentua que espigas de tri!o. como cavalos de raça, têm
de recebei os cuidados pertinentes, em ve-z de serem cultivadas, como
de ordinário se faz, de qualquer jeíto, sem se levar em conta a teoria
da seleção natural Vejamos alguns exemplos notáveis que ilustram o
que o cultivo aceitado pode fazer mesmo pelo trigo. Em 1SS7, Mr.
Hallett plantou os grãos de uma espiga de trigo mouruco de primeira
qualidade, a qual tinha, a rigor, 4 3/8 polegadas de comprimento e
contínha 4 7 grãos. Das pequenas colh.eitas resultantes dessa seleção
voltou· a escolhei em 1858 a mais bela espiga com 6 l/2 polegadas e
79 grãos, e isso se repetiu em 1859, com melhor espiga, dessa vez com
7 3/4 polegadas e 91 grãos. No ano seguínte, 1860, o tempo foi ruim
para a cultu.ta do tdgo, que se xecusava a crescer com maior abundân-
cía e melhor qualidade; mas, um ano depois, em 1861, a melhor espiga
atingíu 8 3/4 polegadas de oomp1imento, e soZinha encerrava não me-
nos de 123 grãos. Assim, o trigo em cinco anos quase duplicou o tama-
nho e triplicou a produtividade em número de grãos. Esses 1esultados
foram atingidos com um sistema que Hallett ehama de 'sistema natu-
ral' de cultÍVar trigo, cons.istente em plantar os grãos isolados, à distân·
cía de 9 polegadas um do outro em todas as direções, de modo a pro-
porcionar, a cada um, espaço bastante para desenvolvimento pleno•..
Afuma que a produção de trigo na lnglate.rra pode sei duplicada com
a adoção do 'trigo semental' e do 'sistema natural' de cultivo. Obser_.
va que de grãos avulsos, plantados na época própria, apenas um em
cada pé quadrado de terra, obteve plantas com 23 espigas em méclía
e cexca de 36 grãos em càda espiga. Nessa base, o produto de um acre,
ealculado a rigo1, importava em l 001 880 espigas de trigo, quando,
com o modo costumeiro, com o dispêndio de sementesc ·mais de vinte
vezes maior, a colheita só chegava a 934 120 espigaS; com peida, por-
tanto, de 6 7 760 espigas ... "]
896
preço natural das matérias-prima.s de que são elaboradas, esse acrésci·
mo é mais que compensado pelos melhoramentos da ma.quinaria, pela
me1hor divisão e distribuição do tzabalho e pela melhor preparação
científica e ttcntca dos prodr.uores." (Ricardo, On the principies of
political economy, and taxation, pp. 86, 87 .)
''Ao cxescer a população, os meios de subsistência terão ascensão cons·
tante de preço, porque mais trabalho será neeessário para pi:aduzi·los ...
O salário em dinheiro, em vez de cair, subirá, mas não o sufieiente para
pennítir ao trabalhador comprar tantos bens e gêneros como o fazia
antes da a!ta de p1eço naquelas me1cadorias... Embora o trabalhador
na realidade fique assim pior pago, essa elevaÇão de Mliirio redu:itó
necessariamente o lucro do fabricante, pois este não vendetá as merca-
dorias a Preço maís alto, ape8lll" de ter aumentado o diipêndio de pro·
duzi·las ...
Parece então que a mem'la cautt1 que eleva a renda - a dificuldade cres-
cente de obter quantidade adicional de alimentos com a mesma quanti-
dade relafil'a de trabalho - ttlmblm eleva o salário; por ísso, se não va-
riar o valor do dinheiro, tanto a renda qu:antó o salário terão, com o
p1ogressso da ríqueza e da população, tendência ascendente (l.c., pp.
96, 97).
Todavia, entre a alta da renda e a do salário há esta diferença essencial.
À alta do valo1 monetário da renda acompanha participação acrescida
no pxoduto; a renda do dono da tena não só é maior em dinheiro, mas
também em trigo ... Sexá menos risonho o destino do trabalhador: rece-
berá maís salário em dinheiro, sem dúvida, mas esse salário dimínuil'á
em tcigo e pioruá tanto sua dísponfüilldade de trígo quanto sua situa·
ção geral, pox encontrar dificuldade maior em manter a taxa de merca-
do do salátio acima da respectiva taxa natural" (l.c., pp. 91, 98).
"Suposto que trigo e mercadorias fabricadas se vendam sempre a pre·
ços invariáveis, os lucros subirão ou cairão na razão da queda ou alta
do salário. Mas admitamos suba o preço do trigo, por ser necessário
maís trabalho para produzi-lo: essa causa não elevuá o preço daquelas
mereadorias fabrieadas em cuja produção não se requer quantidade
adícíonal de trabalho... Se, roma é absolutamente certo, o salário su·
bit com a alta do trigo, os lucros dos fabricantes cairão necessariamen-
te" (1.c., p. 108).
Todavia, poder-se-á perguntar, "se o arTendatârio pelo menos não rece-
be a mesma taxa de luero, embora pague urna quantia adiciona! em sa·
lírio? Por certo que não: pois terá de pagar, como o faz o fabricante,
um acréscimo de sa.lárío a todo trabalhador que emprega, e ainda será
obrigado ou a pagar renda oti a empregtJr trabalhadores adicíonais para
obter o mesmo produto. E a alta no preÇQ dos produtos pi:jmá.rios só
corresponderá a essa renda ou a essa adição de trabalhadores e não o
compensará pela alta do salário" (1.c., p. 108).
"Mostramos que, em estódíos primitivos da sociedade, a participação
do dono da terra e do trabalhador no valor do produto da terra era
pequena, e que crescerá na razão do progresso da riqueza e da dificul·
dade de obter alimentos" (Lc., p. l 09).
897
junto com· a terra pertence ao senhorio; no ~gundo, é senhorio de si mes-
mo. Nos dois casos não há capitalista entre dono da terra e trabalhador.
Rícardo considera como fenômeno pertencente "aos estádios primitivos
da sociedade" o que apenas é o resultado final da produção capitalista -
a subordinação da agricultura a essa produção e da( a transformação dos
escravos ou camponeses em assalariados e a intro:mlssão do capitalista en·
tre o dono da terra e o trabalhador.
Na passagem seguinte, sem rodeios, Ricardo diz que entende por ta-
xa de lucro a taxa de mais-valia:
898
lho, se houver ascensão permanente da taxa de salário. E essa ascensão s6
pode ocorrer se houver elevação permanente do valor dos bens vitalmen-
te necessários. E só é possível essa elevação se houver deterioração cons·
tante da agócultura, isto é, admitindo-se a teoria ricardiana da renda da
terra. Uma vez que Ricardo identifica taxa de mais-valia com taxa de lu·
cro, e uma vez que a taxa de mais-valia só pode ser calculada na base do
capital variável, do capital despendido em salário, supõe Ricardo, como
A. Smith, que o valor do produto Wtal - após a dedução da renda (rent)
se reparte em salário e lucro, entre trabalhadores e capitalistas. Isto é, faz
a falsa suposíçlo de o capital adiantado todo consistir apenas em capital
variável. Assim, por exemplo, depois da passagem acima, prossegue:
Continua a passagem:
E pouco acima:
Ao final do capítulo (capítulo VI) "On Profits", diz Ricardo que sua
idéia sobre a queda do lucro permanece verdadeira mesmo se se admitir -
o que é falso - que os preços das mercadorias subam com alta no salário
em dinheiro.
899
'lhes porção do lucro real. Admitamos que o chapelelro, o fabúcante
de. meias e o de calçados paguem, C4ld.a. um, 10 hõras adicionais desa-
lá.rio para produzir determinada quantidade das suas mercadorias, e que
o prc90 dos chapéus, das meias e dos sapatos subiu de quantia suficien-
te para o fabricante recuperar as 10 libras: sua :/tu.ação não seria me·
lhor do que 11 que teria se não houvesse ocorrido essa alta. Se o fabri-
cante de meias as vendesse por 110 libras em vez de 100, seu lucro se-
ria precisamente o mesmo montante anterior de dinheiro. Mas, uma
vez que na troca pela mesma quantia obtém menos um décimo de clta-
péus, sapatos, assim corno de todas demais mercadorias, e que, com a
soma anterior de su11s resenlfls" (isto é, com o mesmo capital), "pode
empregar menos trabalhadores aos salários acrescidos e comprar menos
matérias-primas aos preços aumentados, sua situação não seria melhor
que aquela em que o montante de seu lucro em dinheiro tivesse real-
mente diminuído e para tudo tivesse permanecido o preço anterior"
(l.c., p. 129).
Com isso quer dizer que a renda não sobe em fase de progresso da
sociedade. A razão real é que, em fase de progresso da sociedade, o capi-
tal variável decresce em relação ao constante.
O próprio Ricardo reconhece que, com o ·progresso da produção,
o capital constante aumenta em relação ao variável, mas apenas na forma
de crescimento do capital fixo em relação ao circulante.
900
culante de emprego onde esteja comprometido rufo é tão difícil quan-
to retiru capital fixo. Muitas veies é impassível desviar para outra ati·
vídade a maquinaria que tenha sido construída paia detetminada indús-
tria. Mas, a roupa, o alimenta e habitação do trabalhador num empre-
go podem servír pua sustentá-lo noutro"
"Em parte anterior desta obra assinalei a diferença que existe entre a
renda propriamente dita e a compensação paga ao proprietário da tena
sob aquela designação pelas vantagens que o dispêndio de seu capital
proporciona -ao arrendatário. Mas não caracterizei bastante a diferença
que resulta das maneiras diferentes como se pode aplicar esse capital.
Desde que parte desse capital, uma vez despendida no melhoramento
de uma fazenda, se liga indissoluvelmente à terra e tende a aumentar
sua força produtiva, a remuneração paga por seu uso ao dono da terra
possui a rigor a natureza da renda e está sujeita a todas as Leis da renda.
O melhoramento, tanto faz que se faça às custas do dono da tena ou
do urendatário, não se empreenderá se não houver, antes de mais na-
da, grande probabilidade de o ganho dele deconente ser pelo menos
igual ao lucro que se pode obter com o emprego de outro capital de
igual magnitude. Mas, uma vez empreendido, o ganho resultante passu-
rd sempre a ponuir plenamente a natureza da renda e ficará sujeito a
todas as variações da renda. Alguns desses dispêndios só beneficiam a
terra por tempo limitado e não lh.e trazem aumento duradouro de for-
ça: produtiva. Se são aplicados em edifícios e em outros melhoramen·
tos perecíveis, exigem xenovação constante, e por isso não tra2:em para
o dono da tena elevação permanente da rerula real" (1.c., p. 306, nota).
901
Diz Ricardo:
* Ricardo entende aí por lucro a porção que o capitalista tira da mais-valia - e certo
que o lucro - possa cair com a acumulação. (Nota de Marx.).
902
necessários ao trabalhador puderem ser constantemente aumentados
com a mesma facilidade, não poderá haver olteroção permanente na
toxo de lucro ou na de salário" (diga-se, na taxa de mais-valia e nova-
lor do trabalho), "seja qual for o montante que atinja a acumulação
de capital. Mas Adam Smith atnõui sempre a queda do lucro à acumu-
lação do capital e à concorrência daí resultante, sem jamais aludir à
dificuldade crescente em prover de alimentos o número suplementar
de trabalhadores que o capital adicional empregará" {1.c., p. 338, 339).
903
ter em dinheiro. A procura dos trabalhadores não basta, uma vez que o
lucro decorre justamente da circwtstância de 'ser a procura dos trabalha·
dores menor que o valor do respectivo produto, e o lucro é tanto maior
quanto menor relativamente for essa procura. Tampouco basta a pr9cura
dos capitalistas entre si. A superprodução não gera baix.a permanente do
lucro, mas permanece ocorrencia periódica. Segue·lhe subprodução etc.
A superprodução provém justamente de a massa do povo nunca pc:ler
consumir mais que a quantidade média dos bens vitalmente necessários,
não crescendo portanto seu consumo em correspondência com a produ·
tívidade do trabalho. Este capítulo todo, porém, se relaciona com a con-
CO'TTência entre os capitais. De nada vale tudo o que Ricardo diz sobre o
assunto (trata-se do capítulo XXI "Effects of Accumulation on Profits
and lnterest").
"Say admite que a taxa de juro depende da taxa.de lúcro; mas não se
segue daí que a taxa de lucro dependa da taxa de juw. Uma é a causa;
a outra, o efeito, e é impossível que uma circunstância qualquer as fa-
ça trocar de posição" (l.c., p. 353). ·
Todavia, as mesmas causas que fazem cair o lucro; podem fazer su-
bir o juro e vice-versa. 149
904
"Say reconhece que o l'U$IO de produção é o fundamento do preço, e
não obstante afirma, em vácil:l5 partes de seu lívro, que o preço é de-
terminado pela relação entre procura e oferta" ( l .c., p. 4 l l ).
Ricardo deveria ter ent:'}ndído daí que o custo de produção difere mui-
to da quantidade de trabalho empregada para produzir uma mercadoria.
Ao invés disso, prossegue:
905
Capítulo XVII
Teoria Ricardiana da acumulação.
Sua crítica. Desenvolvimento das crises em
decorrência da forma fundamental do capital.
907
Antes de mais nada, é mister estabelecer ,uma idéia clara da reprodu-
ção do capital constante. Consideramos aqui a reprodução anual ou o ano
como medida da duração do processo de reprodução.
Grande parte do capital constante - o capital fixo - entra no pro-
cesso anual de trabalho sem entrar no processo anual de formar valor.
Não se consome. Não precisa, portanto, reproduzir-se. Conserva-se - e
com seu valor de uso também seu valor de troca - porque entra no pro-
cesso de produção e permanece em contato c::om o trabalho vivo. Num
país, quanto maior, neste ano, essa parte do capital, tanto maior será pro-
porcionalmente sua mera reprodução formal (conservação) no ano seguin-
te, desde que o processo de produção se renove, prossiga e se mantenha
em curso, ainda quando na mesma escala apenas. Consertos e coisas do
gênero, necessários para manter o capital fixo, se incluem em seus custos
originais de trabalho. E nada têm de comum com a conservação no sen-
tido empregado acima.
Segunda parte do capital constante se consome durante o ano na
produção das mercadorias. Abrange, do capital fixo, a porção toda que
durante o ano entra no processo de fonnar valor, e, do capital constan-
te, a porção toda consistente em capital circulante, em matérias-primas
e matérias auxiliares.
Nesse segundo segmento do capital constante é mister distinguir:
Grande parte do que aparece num ramo de produção como capi-
tal constante - meios de trabalho e materiais de trabalho - é o produ-
to simultâneo de um ramo paralelo de produção. O fio, por exemplo,
faz parte do capital constante da tecelagem; é o produto aa fiaÇão, o qual
no dia anterior ainda estava talvez sendo elaborado. ,.Quando falamos
aqui de simultaneidade queremos dizer durante o mesmo ano. As mes-
mas mercadorias, em diferentes fases, percorrem durante o mesmo ano
diferentes ramos de produção. Saem de um ramo como produto, entram
noutro como mercadoria que constitui capital constante. E como capi-
tal constante são todas consumidas durante o ano, entre na mercadoria
apenas seu valor, caso do capital fixo, ou também seu valor de uso, ca-
so do capital circulante. Enquanto a mercadoria produzida numa esfera
de produção entra noutra esfera para ser consumida como capital cons-
tante, além dessa seqüência de esferas de produção onde entra a mesma
mercadoria, os diferentes elementos ou as diferentes fases dela se pro-
duzem simultaneamente, uns ao lado dos outros. De contútuo, durante
o mesmo ano, ela é consumida numa esfera como capital constante e pro-
duzida noutra paralela como mercadoria. As mesmas mercadorias que
908
são assim consumidas durante o ano, são do mesmo modo também pro-
duzidas de contínuo durante o mesmo ano. A máquina se desgasta na
esfera A. Ao mesmo tempo é produzida na esfera B. O Capital constan-
te que se consome durante o ano nos ramos que produzem os meios de
subsistência é simultaneamente produzido noutras esferas de produção,
de modo que durante o ano ou no fim do ano se renova fisicamente. Tan-
to os meios de subsistência quanto essa parte do capital constante são
produtos do novo trabalho, em atividade durante o ano.
Mostrei antes 151 como a parte do valor do produto dos ramos onde
se produzem os meios de subsistência, a parte que substitui o capital cons-
tante desses ramos, constitui a renda (revenue) dos produtores desse ca-
pital constante.
Mas o capital constante tem ainda uma parte que é consumida du-
rante o ano, sem entrar como componente nos ramos que produzem os
meios de subsistência (mercadorias consumíveis). Por isso, tampouco
pode ser reposta por esses ramos. Aludimos à parte do capital constan-
te - dos instrumentos de trabalho, das matérias-primas e matérias auxi-
liares - a qual se consome a si mesma industrialmente na criação, na pro-
dução do capital constante, da maquinaria, das matérias-primas e auxilia-
res. Essa parte, como vimos, 152 realiza a reprodução física com o pro-
duto do próprio ramo de produção (caso das sementes, do gado e, em
parte, do carvão), ou por meio de troca de porção dos produtos dos di-
ferentes ramos que geram capital constante. Ocorre então troca de ca-
pital por capital.
A existência e o consumo dessa parte do capital constante, além
de aumentar o volume dos produtos, acresce o valor do produto anual.
Do produto anual, a [JOrção de valor que se iguala ao valor dessa parte
do capital constante consumido, readquire ou retira do produto anual,
em forma ffsica, a parte deste que tem de efetuar a reposição material
do capital constante consumido. Por exemplo, o valor dos grãos semea-
dos determina a parte do valor da colheita (e em conseqüência a quanti-
dade de grãos), a qual tem de ser restituída à terra, à produção, como
capital constante. Essa parte não seria reproduzida sem o trabalho de no-
vo adicionado durante o ano; mas, na realidade, é produzida pelo trabalho
do ano anterior ou trabalho pretérito e - desde que a produtividade do
trabalho não varie - o valor que acrescenta ao produto anual resulta não
909
do trabalho do presente ano e sim do ano precedente. Num país, quanto
maior foi proporcionalmente o capital constante emp1egado, tanto maior
será essa parte do capital constante consumida na produção do capital'
constante e que, além de-se corporificar em maior volume de pro-dutos,
acresce o valor desse volume. Esse valor portanto é não só o resultado
do trabalho do ano em curso, mas também do trabalho do ano anterior,
do ttabalho pretérito, e não reapareceria. como não haveria o produto
em que se incorpora, sem o trabalho anual imediato. Se essa parte do
capital constante cresce, crescerá não só o volume anual de produtos,
mas também seu va'/or, mesmo quando o ttabalho anual não varie. Esse
crescimento é uma fonna de acumulação de capital, que é essencial en·
tender. E nada pode estar mais longe desse entendimento que esta pro·
posição ticardiana:
910
de trabalho, só custará 2 libras. Como dantes, terão de ser tirados do pro·
duto 20 quarters para semeadura; mas, sua cota no valor do produto glo-
bal é apenas de 40 libras. Para repor o mesmo capital é então mister por-
ção menor do valor e porção menor do volume do produto global, em-
bora, como dantes, tenham de ser restituídos à terra, c001 a semeadura,
20 quarters de grãos. 153
Se numa nação o capital constante consumido por ano for de 10
milhões, noutra, de 1 milhão, e o trabalho anual for de 1 milhão de ho-
mens = l 00 milhões de libras, o valor do produto será 110 milhões na
primeira, e 101 milhões apenas na segunda. Nesse caso, será possível, ou
melhor, indubitável que a mercadoria individual na nação I será mais ba-
rata que na II, pois esta produzirá com o mesmo trabalho quantidade
bem menor de mercadoria, muito menor que a diferença entre lO e l.
Na verdade, em cotejo com a nação ll, parte maior do valor do produto
da l - e portanto porção maior do produto global - se destina a repor o
capital. Mas o produto global também é.muito maior.
No tocante a mercadorias manufaturadas sabe·se que na Inglaterra
l milhão de trabalhadores fabricam produto muito maior, mas ainda pro-
duto de valor muito maior que na Rússia por exemplo, embora a merca-
doria individual seja muito mais barata. Todavia, na agricultura parece
não existir a mesma relação entre nações capitalistas desenvolvidas e as
relativamente não desenvolvidas. O produto das nações atrasadas é mais
barato que o das capitalistas desenvolvidas, segundo o preço monetário.
Não obstante, o produto da nação desenvolvida parece produzido por
muito menos trabalho (durante o ano) que o da nação atrasada. Na Jn.
glaterra, por exemplo, menos de 1/3 dos trabalhadores se empregam na
agricultura, e na Rússia, 4/5; na primeira, S/l5, e na segunda, 12/15. Es-
ses números devem ser tomados à letra. Na Inglaterra, por exemplo, há
grande número de pessoas na indústria não agrfcom - na construção de
máquinas, no comércio, transportes etc. - ocupadas com a produção e
a distribuição de elementos da produção agrícola, o que niio se dá na Rús·
sia: Não se pode determinar diretamente a proporção das pessoas empre-
gadas na agricultura de acordo com o nú.mero de indivíduos nela de iJne-
911
diato empreg~dm. Em países de produção capitalista têm participação
indireta na produção agrícola muitas pessoas ·que nela se integram nos
países menos desenvolvidos, A diferença, porém, parece maior do que é.
Mas essa diferença é muito importante para o conjunto da civiliµção
do país, mesmo quando collsista apenas em que grande parte dos produ·
tores empenhados na agricultura não tenha participação direta nela, te·
nha sido arrancada do idiotismo da vida rural e pertença à população
industrial.
Assím, de início deixemos de lado esse aspecto. Além disso, exclua·
mos a circunstância de a máíoria dos povos agrícolas serem forçados a
vender seu produto abaixo do valor, enquanto em países de produção
capitalista desenvolvida o produto agrícola atinge seu valor. Em todo
caso, entra no valor do produto do agricultor inglês urna parte do valor
do capital constante, a qual não se incorpora no valor do produto do agri-
cultor russo. Admitamos seja essa parte do valor igual à jornada de tra-
balho de 1O homens. E que um trabalhador inglês ponha em movimen·
to esse capital constante. Falamos da parte do capital constante do pro·
duto agrícola a qual não é reposta por novo trabalho, o que sucede, ·por
exemplo, com os instrumentos agr!colas. Se são necessários 5 trabalha-
dores russos pa1a se obter o mesmo produto que 1 trabalhador inglês pro-
duz com o emprego de capital constante, e se o capital constante aplica·
=
do pelos russos ';:: l, o produto inglês = 1O + 1 11 jomaQas de trabalho,
e o dos russos = 5 + 1 = 6. Se o solo russo tiver fertijidade tão superior
à do solo inglês, que. sem capital constante ou com capital constante 10
vezes menor, produza tanto trigo quanto o inglês oom çapital éonstante
10 vezes maior, será de 11 : 6 a ràZão entre os yalores de iguais quantida·
des de trigo inglês e de trigo russo, Se o quarter de trigo russo for vendi-
do por 2 libras. o inglês sê-lo-á a 3 2/3 libras, pois 2 : 3 2/3 = 6 : 11. O
preço em dinheiro e o valor do trigo inglês seria portanto muito mais ai~
to que o russo, mas o inglês seria produzido com menos trabalho, uma
vez que o trabalho pretérito que re-aparece tanto no volume quanto no
valor do produto não custa acréscimo de novo trabalho. Isso ocorrerá
sempre se o inglês empregar menos trabalho direto que o russo, mas o
capital constante maior que emprega - e que nada llie custa, embora algo
lhe tenha custado e tenha de ser pago - não eleva a produtividade do tra·
balho a nível que compense a fertilidade natural do solo russo. Os preços
monetários do produto agrícola podem por isso elevar.se mais em países
de produção capitalista que em menos desenvolvidos, embora na reali-.
dade e!Wl produto custe menos trabalho. Contém quantidade maior de
912
trabalho imediato + trabalho pretérito, mas esse trabalho pretérito nada
custa. O produto seria maís barato se não interferisse a diferença da fer-
tilidade natural. Isso explicaria também os preços monetários mais altos
dos salários.
Até agora só falamos da reprodução do capital existente. O traba-
lhador repõe seu salário acrescido de um produto excedente ou valor ex-
cedente que constitui o lucro (renda fundiária inclusive) do capitalista.
Do produto anual repõe a parte que de novo lhe serve de salário. O capi-
talista consumiu seu lucro durante o ano, mas o trabalhador criou uma
parte do produto que pode ser de novo consumida corno lucro. Do capi-
tal constante a parte que é consumida na produção dos meios de subsis-
tência é substituída pelo capital constante produzido durante o ano por
novo trabalho. Os produtores dessa nova parte do capital constante rea·
lizam sua renda {relienue) - lucro e salário - na parte dos meios de sub-
sistência a qual se iguala à parte do valor do capital constante consumi·
do na produção desses meios. Por fim, o capital constante que é consu-
mido na produção do capital constante, na produção de maquinaria, de
matérias-primas e matérias auxiliares, 'é reposto em produto ou median--
te troca de. capital oriundo do produto total das diferentes esferas de pro-
dução que produzem capital constante.
913
de produção, nem o valor proporcional das duas partes. Quanto mais de-
senvolvida é a produção, tanto maior será o segmento da mais-valia - que
é transfonnado em capital constante - comparado com o segmento que
se converte em capital variável.
De início, é mister portanto converter em capital variável segmen-
to da mais-valia (e do respectivo produto excedente em meios de subsis-
tência); isto é, comprar novo trabalho. Isto só é possível quando aumen-
ta o número de trabalhadores ou se prolonga a jornada de trabalho. Este
último caso ocorre quando, por exemplo, parte da população obreira só
estava empregada por metade ou 2/3 da jornada normal, ou também quan-
do, por períodos de maior ou menor duração. se efetua o prolongamento
absoluto da jornada, o qual tem de ser pago. Todavia, não se podem con-
siderar essas ocorrências meio constante de acumulação. A população
trabalhadora pode crescer quando pessoas gue eram há pouco trabalha-
dores improdutivos se transformam em trabalhadores produtivos, ou quan-
do segmentos da popwação que antes não trabalhavam, como mulheres
e crianças, indigentes, são absorvidos pelo processo de produção. Agora,
poremos de lado esse caso. Por fim, crescimento absoluto da população
trabalhadora, ligado ao crescimento da população em geral. Para a acumu-
lação ser um processo contínuo, pennanente, é condição necessária esse
crescimento absoluto da população (embora ela <liminua em relação ao
capital constante). População crescente se revela fundamente> da acumu-
lação como processo pennanente. Mas isso supõe um salário médio que
permita crescimento constante da população trabalhadora e nãó sua mera
reprodução. A produção capitalista já cuida das ocorrên.cias imprevistas
ao fazer trabalhar em excesso uma faixa da população trabalhadora e ao
manter outra de prontidão como exército de reserva em indigência par-
cial ou completa.
Mas que se dá com o outro segmento da mais-valia o qual tem de
se converter em capital constante? Para simplificar o problema, omita·
mos o comércio exterior e consideremos uma nação isolada. Exemplifi~
quemos. Seja a mais-valia produzi.da por um empresário de tecelagem de
linho = 10 000 libras, das quais a metade ele quer transfonnar em capi·
tal, isto é, 5 000 libras. Destas seja 1/5 despendido em salário, de acor-
do com a composição orgânica do capital da tecelagem mecânica. Abstraí-
mos aí da rotação do capital com a qual talvez lhe baste uma soma por
5 semanas; em consonância vende seu produto e assim recupera da cir-
culação o capital para salário. Admitimos que tenha de manter em reser-
va no banco 1 000 libras para salário (de 20 homens) e de as ir gastando
914
em salário durante o ano. Ficam então 4 000 libras para se converter em
capital constante. Terá primeiro de comprar fio, em quantidade que 20
homens possam tecer durante o ano. (Estamos sempre excluíndo a rota-
ção da parte circulante do capital.) Ademais, terá de aumentar os teares
de sua fábrica e de adicionar talvez uma nova máquina a vapor ou ampliar
a antiga etc. Mas, para adquirir essas coisas, terá de encontrar no merca·
do fio, teares etc. Terá de transformar suas 4 000 libras em fio, teares,
carvão etc., isto é, de comprá-los. Mas, para comprá-lós, é mister que es-
tejam disponíveis. Uma vez que supomos que a reprodução do capital
antigo ocorreu nas condições antigas, o industrial de fiação despendeu
seu capital todo para fornecer a quantidade de fio exigida pela tecelagem
no ano anterior. Como satisfará ele então a procura adicional de fio com
uma oferta adicional?
O mesmo se dá com o fabricante de máquinas, que fornece os tea-
res etc. Produziu apenas novos teares suficientes para cobrir o consumo
médio que se dá na tecelagem. Mas o empresário da tecelagem, desejoso
de acumular, encomenda 3 000 libras de fio e 1 000 libras em teares, car·
vão (é a mesma a situação do produtor de carvão) etc. Ou de fato dá ao
industrial de fiação 3 000 libras, e 1 000 hbras ao fabricante de máqui-
nas, ao produtor de carvão etc., a fim de converterem para ele esse di-
nheiro em fio, teares e carvão. Terá, portanto, de esperar até o final des-
se processo, antes de poder começar com sua acumu1a.ção, sua produção
adicional de linho. Esta será a interrupção 1.
Mas o industrial da fiação com as 3 000 libras encontra-se na mes-
ma situação do empresário da tecelagem com as 4 000, com a diferença
de logo deduzir seu lucro. Pode achar um número adicional de fiandeiras,
mas precisa de fibra de linho, fusos, carvão etc. Do mesmo modo, o pro-
dutor de carvão precisa de nova maquinaria ou instnunentos, além de no-
vos trabalhadores. E o fabricante, de máquinas, a quem cabe fornecer
os novos teares, fusos etc., de ferro etc., fora trabalhAdores adicionais.
Todavia, a pior situação é a do plantador de linho, o qual só no próxi-
mo ano poderá fornecer a quantidade adicional de fibra etc.
A fim de que c:i empresário da tecelagem possa converter parte de
seu lucro em capital constante sem dificuldades e interrupções, e para
a acumulação ser um processo contínuo, é mister que ele encontre no
mercado uma quantidade adicional de fio, de teares etc. Ele, o empre-
sário da fiação, o produtor de carvão etc., se encontram no mercado fi-
bra de linho, fusos, máquinas, só precisam empregar mais trabalhadores.
915
Uma parte do capital constante considerada consumida no cálculo
anual e que entra como desgaste no valor do' produto não é consumida
na realidade. Exemplifiquemos com uma máquina que dure 12 anos e
custe 12 000 libras; assim, o desgaste médio, a contabilizar todo ano, se·
rá de 1 000 libras. Então, uma vez que no produto entram por ano 1 000
horas, reproduz-se, no fim de 12 anos, o valor de 12 000 libras esterli·
nas, e pode-se comprar a esse preço uma nova máquina do mesmo tipo.
Os consertos e remendos necessários durante os 12 anos vão para a con-
ta dos custos de produção da máquina e nada têm a ver com nosso pro-
blema. Mas a realidade diverge efetivamente daquela computação de mé-
dias. A máquina talvez opere no segundo ano melhor que no primeiro.
Contudo, não é mais utilizável depois de 12 anos. E o que se dá com uma
besta com vida média de 1 O anos, mas que nem por isso se extingue em
1/10 todo ano, embora tenha de ser reposta p<?r outro indivíduo no fim
de 1O anos. Sem dúvida, no curso do mesmo ano, detenninado número
de máquinas etc. sempre chega à fase em que _têm ,de ser substituídas por
novas máquinas. Todo ano, portanto, determinada quantidade de velhas
máquinas etc. é de fato reposta fisicamente por novas. E a isso correspon-
de a produção média anual da maquinaria etc. Está disponível o valor
para pagá-las, oriundo das mercadorias de acordo com o tempo de repro-
dução (das máquinas). Mas permanece o fato de grande parte do valor
do produto anual, do valor que por este se paga todo ano, ·ser na verda-
de necessária para repor a velha maquinaria depois de 12 ános, por exem·
pio, e não ser, cada ano, absolutamente necessária para a repo~íção físi-
ca de 1/12 dela, o que na realidade é mesmo inexeqüível: Esse ·fundo po-
de ser em parte utilizado para pagar salário ou comprar matérias-primas,
antes de ser vendida ou paga a mercadoria que se lanÇa de contínuo na
circulação, mas dela não volta de imediato. Todavia, isso não pode ocor-
rer durante o ano inteiro, poís as mercadorias que perfazem a rotação du·
rante o ano realizam seu hlor todo, isto é, têm de realizar o salário ne-
la.s contido, as matérias-primas, a maquinaria consumida e pagar a mais-
valia. Por isso, onde se emprega muito capital con.stante, em oonseqüên·
eia também muito capital fixo, a parte do valor do produto a qual subs·
titui o desgaste do capital fixo forma um fundo de acumulação, e quem
o aplica pode investi-lo em novo capital ftx.o (ou ainda em capital circulan-
te), sem nada deduz.ir da mais-valia para essa parte da acumulação (ver
MacCulloch). 154 Esse fundo de acumulação nao se encontra em estádios
154. A expressão "ver MacCulloch" adicionou-se a Marx depois, a lápis. Em ca.rta
a Engels, de 20 de agosto de 1862, apresentou pela primeíra ve:i a idéia da utilização
do fundo de amortização para fins de acumulação. Em sua correspondência com
916
.de produção e em nações onde não existe grande capital füw. Este é um
ponto importante. E um fundo para a introdução contínua de melhora-
mentos, ampliações etc.
Engels refere-se a essa carta em 24 de agosto de 1867 e comunica que achl1ra depois
em MacCulloch algumas indicações sobre o assunto (MacCulloch, The principies of
political economy .. ., Edimburgo, 1825, pP. 181, 182). Marx retoma essa questão
nas páginas 777 e 781 do manuscrito (ver volume 3, cap. XIX, seções 12 in fine e 15
in fine).
917
Para as S 000 líbras de lucro ou mais-valia que o empresário da te-
celagem converte em capital, há dois casos possíveis, desde que se admi-
ta encontre ele no mercado a mão-de-obra que tem de comprar com) 000
das 5 000 libras, para converter o capital de S 000 libras em capital ade-
quado ãs condições de sua esfera de produção. Essa parte da mais-valia
capitali2.ada se converte em capital variável e se gasta em salário. Mas, pa-
ra empregar esse trabalho precisa ele de fio, de maquinaria adicional (a não
ser que prolongue a jornada de trabalho; nesse caso, haverá apenas des-
gaste mais rápído da maquinaria, redução de seu período de reprodução,
mas ao mesmo tempo se produzirá montante maior de mais-valia; e se
o valor da maquinaria tiver de repartir-se, na base de período mais curto,
pelas mercadorias produz.idas, quantidade bem maior de mercadorias es-
tará sendo produzi.da, de modo que, apesar do desgaste mais rápido, parte
menor do valor das máquinas entra no valor ou no preço da mercadoria
avulsa. Nesse caso não se tem de despender de imediato novo capital para
a própria maquinaria. ~ mister apenas repor o valor da maquinaria um
pouco mais rápido. Mas as matérias auxiliares exigem nesse caso o adian·
tamento de capital adicional) e matérias au_xiliares adicionais. Ou o do-
no da tecelagem acha no mercado ~uas condições de produção, e essa com-
pra de mercadorias se distingue de outras apenas porque ele adquire mer-
ca.dorias para o cansumo industrial e não para o conrumo individual; ou
não as encontra, e então tem de encomendá-las (como, por exemplo, no
caso de máquinas de nova estrutura), tal como se dá quando tem de en-
comendar, para consumo individual, artigos que não existem Iio merca·
do. Se a matéria-prima (fibra de linho) só fosse produiida mediante en-
comenda (como, por exemplo, anil, juta etc. produzidos pelos campo-
neses indianos por encomenda e com adiantamentos de comerciantes
ingleses), seria impossível, no mesmo ano, para o dono da tecelagem, a
acumulação no próprio negócio. Em contrapartida, admitamos conver-
ta o dono da fiação as 5 000 libras em capital, e o dono da tecelagem não
acumule: os fios fica:rã'o invendáveis, embora todas as suas condições de
produção estejam disponíveis no mercado; as S 000 libras se transformam
de fato em fios, mas sem se converterem em capital.
(O crédito, e aqui não nos cabe ir adiante em seu exame, pemúte
que o capital acumulado não se aplique no ramo onde é produzido, mas
onde tem a melhor oportunidade de obter lucro, Todavia, todo capita-
lista preferirá empregar sua acumulação, o mais possível, no próprio ne-
gócio, Se o empregar em outro ramo, tomar-se-á prestamista e, em vez
de lucro, só embolsará juros, a não ser que se lance em especulações. Mas
918
aqui falamos da acumulação média, que, só a título de exemplo, consi-
deramos empregada num ramo particular.)
Se, por sua vez, o plantador de linho tivesse ampliado sua produ-
ção, isto é, acumulado, e não o tivessem as indústrias de fiação, tecelagem,
construção de máquinas etc., teria ele armazenado linho supérfluo e pro-
vavelmente produziria menos no ano seguinte.
(Por enquanto omitimos por completo o consumo individual e con-
sideramos apenas o relacionamento recíproco entre, os produtores. Se
existe esse relacionamento, esses produtores, primeiro, fonnam, uns para
os outros, mercado para os capitais que têm de repor reciprocamente;
os trabalhadores empregados de novo ou que aumentam sua ocupação
constituem mercado para parte dos meios de subsistência; e uma vez que
a majs..valia acresce no ano seguinte, o~ capitalistas podem cnnsumir par-
te crescente da renda {revenue), e assim até certo ponto criam mercado uns
para os outros. Com tudo isso, grande parte do produto anual aínda po-
de permanecer invendável.)
Cabe agora formular assim a questão: suposta a acumulação geral,
isto é, admitindo-se que se acumula mais ou menos em todos os ramos,
o que é de fato condição da produção capitalista e também a motivação
do capitalista na qualidade de capitalista (além disso, é uma. necessidade
para a produção capitalista progredir), como amontoar dinheiro é a for-
ça que impulsiona o entesourador quais são as candições dessa acumu-
lação geral, e a que se reduz essa acumulação? Ou, uma vez que o dono
da tecelagem de linho pode representar o capital em geral, quais são as
condições para que possa reconverter em capital, sem dificuldades, as
5 000 libras de mais-valia e prosseguir sempre com o processo de acumu-
lação todos os anos?- Acumular as 5 000 libras esterlinas significa apenas
converter em capital esse dinheiro, esse montante de v.tlor. As condições
para acumular capital são portanto as mesmas paro produzi-lo na ongem
ou reproduzí-lo em geral.
E essas condições eram: parte do dinheíro comprava trabalho, e par-
te, mercadorias (matérias-primas, maquinaria etc.) que podiam ser consu-
mUJas industrialmente por esse trabalho. [Muitas mercadorias só podem
ser consumidas industrialmente, como máquinas, matérias-primas, semi-
fabricados etc. Outras, como casas, cavalos, trigo, cereais (donde se obtêm
aguardente, amido etc.) etc. podem ser objeto de consumo industrial ou
individual.] Para ser possível comprar essas mercadorias, é mister encon-
trá-las 'no mercado - na fase intermediária em que a produção acaba e
o consumo ainda não começou, nas mãos do vendedor, na fase de circula-
919
ção - ou poderem elas ser obtidas por encomenda (ou serem produzíveís,
quando se trata de construir novas fábricas etc.). Estavam disponíveis,
postulado estabelecido na produção e reprodução do capital, em virtude
da divisão do trabalho realizada em escala social na produção capitalista
(distribuição do trabalho e dei capital pelos diferentes ramos), em virtu-
de da produção e da reprodução simultâneas, paralekzs, ocorrentes por
todo o campo econômico. Essa era a condição do mercado, da produ-
ção e da reprodução do capital. Quanto maior o capital, quanto mais de-
senvolvida a produtividade do trabalho e em geral a escala da produção
capitalista, tanto maior o volume das mercadorias que se encontram na
'transição da produção para o consumo (individual e industrial), em cir-
cukzçiio, no mercado, e tanto maior, para cada capital particular, a certe-
za de encontrar prontas no mercado suas condições de reprodução. E isso
é tanto mais assim, visto que todo capital particular, de acordo-com a
natureza da produção capitalista, ( I) opera numa escala que não é de-
terminada por procura indi'\>idual (encomendas etc., necessidades parti-
culares), e sim pelo empenho de o mais possível realizar muito trabalho
e em conseqüência trabalho excedente e fornecer maior quantidade pos-
sível de mercadorias com dado capital; (2) procura ocupar no-mercado
a maior faixa possível e suplantai, e excluir seus competidores. Concor-
rência entre os co,pftals. -
(Quanto mais se desenvolverem os meios de transporte, tanto mais
se pode reduzir o estoque no mercado.)
920
do capital nas diferentes fases de seu processo, supondo sempre que as
mercadorias se vendem por seu valor.)
O dono da tecelagem pode reconverter. em capital as 5 000 libras
de mais·valia, se, além do trabalho, encontra disponíveis no mercado ou
pode obter por encomenda 1 000 libras de fio etc.; para isso é mister que
haja um produto excedente em mercadortas que entram em seu capital
constante, sobretudo consistente naquelas que precisam de período mais
longo de produção e que não podem aumentar de volume com rapidez
ou de maneira alguma dentro do ano, como as matérias-primas, a fibra
de linho, por exemplo.
(Entra em jogo aí o capital mercantil, que mantém disponíveis em
armazéns estoques para consumo crescente, individual ou industrial, o
que é a[JellaS umaforma da intennediação e por isso não se enquadra aqui,
mas no exame da concorrência entre os capitais.)
Assim como a produção e reprodução do capital existente num
ramo supõe produção e reprodução paralelas noutros ramos, a acumula-
ção ou formação de capital adicional num ramo supõe formação simul-
tânea ou parale'/a de produção adicional nos outros ramos. E mister por-
tanto que ao mesmo tempo, em todos os ramos que suprem capítal cons-
tante, acresça a escala de produção (em correspondência com a partici-
pação média que a procura detennina e que cada ramo particular tem
no acréscimo geral da produção), e fornecem capital constante todos os
ramos que não elaboram o produto acabado para o consumo individual.
O mais importante nesse contexto é o aumento da maquinaria (instru-
mentos), matérias-primas, matérias auxiliares, uma vez que, se existirem
essas precondições, todos os outros ramos que delas dependem, forneçam
eles produtos semi-acabados ou acabados, só terão de mobllizarmaiS trabalho.
Assim, para haver acumulação parece ser necessária superprodução
constante em todos os ramos.
E mister esclarecer um pouco maís o assunto.
Agora, a segunda questão essencial:
A mais-valia, aqui a parte do lucro (renda fundiária inclusive; se o
dono da terra quer acumular, converter renda fundiária em capital, é sem--
pre o capitalista industrial quem captura a mais-valia, mesmo quando o tra-
balhador converte parte de sua renda em capital) a qual se converte em ca-
pital, consiste apenas em novo trabalho adicionado durante o t1ltimo ano.
Pergunta-se agora se essç novo capital se despende por completo em sa-
lário, trocando-se apenas por novo trabalho.
921
Está a favor de uma resposta positiva, a circunstância de todo valor
ter sua origem no trabalho. Na origem, todo capital constante é tanto
produto do trabalho quanto o e.apitai variável. E aí parece presenciarmos
de novo o capital originar-se direto do trabalho.
Em contrário: a formação adicional de capital ocorreria em piores
condições de produção que a reprodução do capital velho? Recuaria a ní·
vel inferior do modo de produção? E o que teria de ocorrer, se o novo
valor fosse despendido apenas em trabalho clireto que, sem capital fvco
etc., teria primeiro de produzir esse capital, do mesmo modo que na ori-
gem o próprio trabalho teria primeiro de produzir seu capital constante.
Isso é puro disparate. Mas é o pressuposto de Ricardo etc. Examinar o
assunto mais a fundo.
A primeira pergunta é esta:
Pode o capitalista converter parte da mais-valia em capital, empre-
gando-a de imediato como capital, em vez de vendê-la, ou antes, de ven-
der o produto excedente em que ela se corporifica? A resposta afirmati-
va já significa que a totalidade da mais-valia a converter-se em capital não
se transforma em capital variável ou não se despende em salário.
Isso está, desde o início, claro na parte do produto agrícola forma-
da por grãos ou gado. Porção de grãos pertencentes ao segmento da co-
lheita o qual representa o produto excedente ou a mais-valia _do arrenda·
tário, e do mesmo modo porção de gado, em vez de serem.vendidas, po-
dem servir logo de condição de produção, como semente ou besta de car-
ga. O mesmo se dá com parte dos adubos que se produzem na 'Própria
fazenda e ao mesmo tempo circulam como mercadorias no comércio,
isto é, podem ser vendidos. O arrendatário pode recon~erter logo, den-
tro do próprio ramo, em condição de produção e portanto de imediato
em capital, a porção do produto excedente a ele destinada, na qualidade
de mais-valia, de lucro. Não se despende essa porção em salário, em capi·
tal variável. E retirada do consumo individual, sem ser consumida produti-
mmente no sentido de Smith e Ricardo. E objeto de consumo industrial,
mas na qualidade de matéria-prima e não de meio de subsistência, seja
de trabalhadores produtivos, seja de improdutivos. Mas os grãos tanto
servem de meio de subsistência para trabalhadores produtivos etc., quan-
to de matéria auxiliar para o gado,,de matéria-prima para aguardente, ami-
do etc. Por sua vez, o gado (de corte ou de carga), além de servir de meio
de subsistência, provê para grande número de indústrias de matérias-primas,
tais como peles, couros, gorduras, ossos, chifres etc., e supre força moto-
ra seja para a própria agricultura, seja para a indústria de transporte.
922
Em todas as indústrias onde o tempo de reprodução se estende além
de um ano, como em grande parte da pecuária, da atividade madeireira
etc., mas cujos produtos ao mesmo tempo têm de ser de contínuo repro-
duzidos, acumulação e reprodução coincidem quando o novo trabalho
adicionado, que representa trabalho pago e trabalho não pago, tem de se
acumular em produção física até o produto ficar em condições de venda.
(Não se trata aqui de acumulação do lucro anualmente adicionado de
acordo com a taxa geral de lucro - isso não é acumulação real, mas sim-
ples método de contabilizar - e sim da acumulação do trabalho total
que se repete durante vários anos, amontoando-se portanto em produto
para logo se reconverter em capital. Em contrapartida, a acumulação do
lucro nesses casos não depende da quantidade do novo trabalho adicionado.)
O mesmo se dá com as culturas destinadas ao comércio (forneçam
elas matérias-primas ou matérias auxiliares). As sementes, a porção do
produto dessas culturas a qual pode ser de novo empregada como adu..
bo etc. representam uma parte do produto total. Essa parte, se fosse in-
vendiível, em nada alteraria a circunstância de constituir, logo que de no·
vo exec~te o papel de condição de produção, parte do valor total e como
tal capital constante da produção nova.
Isso resolve uma questão fundamental - a das matérias-primas e
meios de subsistência (alimentos), enquanto são na realidade produtos
agrícolas. Aí portanto coincidência direta entre acumulação e reprodu-
ção em escala maior, de modo que parte do produto excedente, de ime-
diato na própria esfera de produção, toma a servir de meio de produção,
sem se trocar por salário ou por outras mercadorias.
A segunda questão fundamental é a maquiriaria. Não a máquina
que produz mercadorias, mas a maquinaria que produz máquinas, o ca-
pital constante da indústria que produz máquinas. Dada essa maquinaria,
é mister apenas o trabalho para fornecer as matérias-primas da indústria
extrativa, o ferro etc., destinados à produção de recipientes e máquinas
e com estas se obtêm as máquinas para trabalhar as próprias matérias-
primas. A dificuldade de que se trata aqui é a de evitar um círculo vicio-
so de suposições. Isto é, para se produzir mais maquinaria, é mister mais
material (ferro etc., carvão etc.), e para produzir este é necessário mais
maquinaria. Em nada altera a situação admitirmos que os industriais de
máquinas de construir máquinas e os fabricantes de máquinas (que em-
pregam as máquinas de construir máquinas) formam a mesma categoria.
Até aí está claro: parte do produto excedente se corporifica em máquinas
de construir máquinas (pelo menos depende do construtor de máquinas
923
corporificá-la assim). Elas não precisam ser vendidas e podem.voltar fisica·
mente para a produção. na qualidade de capital constante. Temos aí por-
tanto segunda categorla do produto excedente que de imediato (ou. por
meio de troca no mesmo ~o de produção) entra na nova produção
(acumulação), na qualidade do capital constante, sem ter passado pelo
processo de uma conversão prévia em capital variável.
Saber se parte do valor excedente pode converter-se de imediato
em capital constante reduz-se, antes de mais nada, a saber se parte do
produto excedente - em que o valor excedente se corporifica - pode
tomar a entrar na própria esfera de produção diretamente, na qualidade
de condição de produção, sem ser antes vendido.
Eís a lei geral:
Onde parte do produto, e por isso também do produto excedente
(isto é, do valor de uso em que se corporlfica o valor excedente), de ma-
neira direta, sem intermediação, pode retornar à esfera de produção don-
de saíu - como meio de trabalho ou material de trabalho - é possível
e necessário que a acumulação nessa esfera de produção se apresente de
modo que parte do produto excedente, em vez de ser vendida, se reincor·
pore diretamente (ou mediante troca com outras empresas especializadas
do mesmo ramo que realizem acumulaçãó semelhante), como «andição
da reprodução, e assim coincidam ai de imediato acumulação, é reprodu-
ção em maior escala. Tem de coincidir por toda parte, mas não dessa ma·
neira direta.
Isso estende-se a uma parte das matérias auxiliares. PÓr exemplo,
o carvão anualmente produzido. Pode-se utilizar parte do próprio produ-
to excedente para de novo produzir carvão, isto é, o produtor pode em-
pregá-la diretamente, sem qualquer mediação, corno capital constante
para produzir em maior escala.
Nas zonas industriais há produtores de máquinas· que constroem
fábricas inteiras para as empresas industriais. Admitamos que l /10 seja
produto excedente ou trabalho não pago. E claro que tanto faz que esse
1/10, o produto excedente, se configure em fábricas produzidas para ter-
ceiros e a estes vendidas ou numa fábrica que o industrial constrói para
si, vende a si mesmo. Aí está em jogo apenas a espécie de valor de uso em que
se materializa o trabalho excedente, se ele pode, na qualidade de condi-
ção de produção, reentrar na esfera de produção do capitalista a quem
pertence o valor excedente. E outro exemplo da importância do destino
do valor de uso para a determinação das formas econômicas.
924
Do produto excedente e portanto da mais-valia, já temos aí parte
considerável que diretamente pode e tem de ser convertida em capital
constante, para se acumular como capital, e sem a qual nenhuma acumu-
lação de capital pode ocorrer.
Segundo, vimos que, onde está desenvolvida a produção capitalis·
ta - isto é, a produtividade do trabalho, o capital constante, sobretudo
a parte do capital constante constituída de capital fiXo -, a mera repro·
dução do capital fixo em todas as esferas, e a reprodução paralela do ca·
pital constante que produz capital fixo, forma um fundo de acumulação,
ou seja, fornece maquinaria, capital constante para produção em esca·
Ia ampliada.
Terceiro, permanece a questão: pode uma parte do produto exce-
dente reconverter-se em capital (capital constante) por troca (negociada)
entre o fabricante, digamos, de maquinaria, instrumentos de trabalho etc.
e o produtor de matéria-prima, ferro, carvão, metais, madeira etc., isto é,
mediante troca de diversos componentes do capital constante? Se, por
exemplo,. o produtor de ferro, carvão, madeira etc. compra maquinaria
ou instrumentos do construtor de máquinas, e este compra metal, ma·
d.eira, carvão etc. do produtor primário, reporão eles o capital constan-
te ou formarão novo mediante troca dos componentes recíprocos do res-
pectivo capítal constante. A questão agora é: até onde isso ocorre com
o produto excedente?
925
de novo trabalho adicionado, se reduzem portànto a renda (salário e lu-
cro). Em concordância, nas esferas que produzem artigos consumíveis,
o segmento da massa de produtos - segmento igual à parte do valor que
nelas repõe o capital constante - representa renda (revenue) dos produ-
tores do capital constante, enquanto, ao contrário, a parte da massa de
produtos nas esferas que produz.em capital constante, a qual representa
novo trabalho adicionado e por isso constitui a renda (reuenue) dos pro-
dutores desse capital constante, configura o capital constante (capital
de reposição) para os produtores dos meios de subsistência. Isso portan·
to supõe que os produtores do capital constante trocam o respectivo pro-
duto excedente (aqui no sentido do que sobra depois de deduzida a par-
te que se iguala ao capital constante deles) por meios de subsistência e
consomem o valor dele individualmente. Esse produto excedente con-
siste em:
(1) salário (ou o fundo reproduzido de salário), e essa porção tem
de ficar destinada (pelo capitalista) para dispêndio em salário, para con-
sumo índivídual portanto (e suposto o mínimo de salário, o trabalhador
só pode mesmo converter o salário recebido em meios de subsistência);
(2) lucro do capitalista (renda fundiária inclusive). Se esse segmen-
to tem magnitude suficiente, parte dele pode ser objeto de COJlSUmo in·
dividual e parte, de consumo industrial. E neste último ca~, ocorre tro·
ca de produtos entre os produtores de capital constante, a· qual não cor-
responde mais à fração do produto representadora do capital c9nstante
a repor de maneira recíproca, e sim a uma fração do produto e:Xcedente,
renda (trabalho de novo adickmado) que se transforma _diretamente em
capital constante e assim aumenta o volume do capital'constante e am-
plia a escala em que este se reproduz.
Por conseguinte, também nesse caso, parte do produto excedente
efetivo, do trabalho de novo adicionado durante o ano, se converte di·
retamente em capital constante, sem antes se ter convertido em capital
variável. Isso evidencia mais uma vez que o consumo industrial do pro·
duto excedente - ou a acumulação - de maneira nenhuma é idêntico
ao dispêndio da totalidade do produto excedente em salário de trabalha-
dores produtivos.
Pode-se imaginar que o fabricante de máquinas venda (parte de)
sua mercadoria ao industrial, digamos, de tecidos. Este lhe paga em di-
nheiro. Com esse dinheiro compra ele ferro, carvão etc., em vez de meios
de subsistência. Entretanto, considerando-se o processo global, é claro
que os produtores dos meios de subsistência não podem comprar, para
926
repostçao, maquinaria ou matéria-prima, se os produtores das reposições
de capital constante não lhes comprarem meios de subsistência, se essa
circulação não for, em substância, troca entre meios de subsistência e
capital constante. A dissociação dos a.tos de compra e venda pode sem
dúvida gerar transtornos e complicações muito grandes nesse proc.esso
de compensação.
Um país, se não pode por si mesmo fabricar à. quantidade de ma-
quinaria que lhe permita acwnular capital, oompra·a no exterior. O mes·
mo se dá, se não pode por si mesmo produzir o volume necessário de meios
de subsistência (correspondentes a salários) e de matérias-primas. Ao en-
trar em e.ena o comércio internacional, fica logo evidente que parte do
produto excedente - desde que destinada â acumulação - não se coo·
verte em salário e sim em capital constante diretamente. Mas então per·
dura a idéia de que lá no exterior o -dinheiro assim gasto é todo despen-
dido em salário. Vimos que isso não é nem pode ser assim, mesmo quan-
do abstraímos do oomércio exterior.
A proporção em que o produto excedente se reparte em capital
constante e em capital variável depende da composição média do capí·
tal, e quanto mais desenvolvida a produção capitalista, tanto menor será
relativamente a parte que constitui o dispêndio direto em salário. A idéia
de o produto excedente, por ser mero produto do trabalho de novo adi·
clonado durante o ano, transformar-se apenas em capital variável, des-
pender-se apenas em salário, corresponde em suma à falsa concepção de
o valor reduzir-se de maneira exclusiva a renda (revenue) - salário, lucro
e renda (rent) -, por ser o produto mero resultado ou materialização do
trabalho, a concepção errada de Smith e Ricardo.
Grande parte do capital constante, o capital fixo, pode entrar dire·
to no processo de produção de meios de subsistência, matérias-primas
etc.; ou servir quer para abreviar o processo de circulação, como as fer-
rovias, estradas, canais, telégrafos etc., quer para armazenar e estocar rner·
cadorias, como docas, depósítos etc.; ou pode aumentar a fertilidade do
solo, mas só depois de longo período de reprodução, como obras de ni·
vela.mento, drenagem etc. As conseqüências diretas para a reprodução
de meios de subsistência etc. diferirão muito conforme se aplique numa
dessas espécies de capital fixo parte maior ou menor do produto excedente.
927
6. Problema das crises (observações preliminares).
Destruição de capital pelas crises.
928
dores (cujas rendas, em parte, são secundárias, derivadas do lucro e do
salário, e não prímárias), é bem mais ampla que a segunda, e por isso o
modo como despende sua renda e o tamanho dela engendram modifica-
ções muito grandes no orçamento econômico e no processo de circulação
e de reprodução do capital. Todavia, no estudo sobre o dinheiro 156 , já
verificamos que este, tanto na forma em geral diferente da forma natural
da mercadoria, quanto na forma de meio de pagamento, encerram a pos-
sibilidade de crises; e o estudo da natureza geral do capital evidencia ainda
mais essa possibilidade, mesmo sem se prosseguir na pesquisa das relações
reais que constituem precondíções do processo efetivo de produção.
O ponto de vista (na verdade de James Mill) que Ricardo tomou
de empréstimo ·ao monótono Say (e a que voltaremos ao tratar dessa fi.
gura lastimável), de ser impossível superprodução ou pelo menos pletora
geral do mercado baseia-se na proposição de se trocarem produtos por
produtos 157 ou, como diz. Mill, no ..equillbrio metafísico entre vendedo-
res e compradores". 158 o que levou ao axioma de a procura ser determi-
nada apenas pela produção ou de ser a procura idêntica à oferta. A mesma
idéia transparece na expressão predileta de Ricardo, de ser possível o em-
prego produtivo de qualquer montante de capital em qualquer país.
156. Ver Zur Kritik der politischen 6konomie, MEW, Band 13, pp. 77, 78, 118,
122e123.
157. Say, 'J'ralt~ d'h:onomie politique, 2il edição, volume 11, Paris, I81't, p. 382:
"Produtos só se trocam por produtos." Essa fórmula repete-a Ricru:do quase literal-
mente. Mai:x criticou essa idéia neste volume, pp. 499-505.
158. Marx alude aí às observações de James Mill sobre o equilíbrio eonstante en-
tre produção e consumo, entre oferta e procura, entre a soma das vendas e a soma
das compras (James Mill, Element:I of political economy, Londres, 1821, pp. 186-
195). Essa concepção, que James Mill expõe pela primeira vez no folheto Commerce
defendeà ... , publicado em Londres, 1808, examínou-a Mux em Zur Kritik der polí-
tischen Okonomie, Berlim, 1859 (ver MEW, Band 13, p. 78).
929
vo em vista, a saber, a posse de outros bem. Por isso, não é provável que
realize produção inintenupta" (por certo, não se trata aí da vida eterna)
"de uma mercadoda para a qual não haja procura" {pp. 339, 340).
Ricardo, que sempre se esforça por ser coerente, repara que aí seu
ás, Say, o está bmlando. Observa numa nota a propósito da passagem acima:
930
da da quantidade de trabalho empregado. Isso, por sua vez, reage sobre
os preços e os faz cair de novo.
Nunca esquecer que o objetivo direto da produção capitalista não
é o valor de uso. mas o valor de troca e em es~ial incremento da mais-
valia. Este é o motivo que impulsiona a produção capitalista, e é um pri-
mor de concepção a que, para escamotear as contradições da produção
capitalista, omite-lhe a base e faz dela uma produção dirigida para o con-
sumo únediato dos produtores.
Ademais, o processo de circulação do capital não se conclui num
dia, mas se estende por período que se prolonga até o capital voltar à
forma da partida; esse período coincide com o decurso de tempo em que
os preços de mercado se nivelam aos preços de custo; durante ele ocorrem
grandes transtornos e mudanças no mercado; sucedem variações na pro-
dutividade de trabaJho e em conseqüência no valor real das mercadorias.
Considerando-se tudo isso, fica bem claro que, do ponto de partida - o
capital pressuposto - até à volta dele depois de um desses períodos têm
de se dar grandes catástrofes, amontoar-se e desenvolver-se elementos
da crise, que de maneira nenhuma se eliminam com a pobre proposição.
de se trocarem produtos por produtos. A compt1Tação do valor num pe-
ríodo com o valor das mesmas mercadorias em período ·posterior, o que
Bailey 159 considera devaneio escolástico, constitui ao contrário o princí-
pio fundamental do processo de circulação.
Quando se fala de destruição de capital por crises, há duas coisas
a distinguir.
À medida que estagna o processo de reprodução e que o processo
de trabalho se restpnge ou pára de todo em certos pontos, destrói-se ca-
pital real Não é capital a maquinaria que não se utiliza. O trabalho que
não se explora equivale a produção perdida. Matérlas-prúnas que jazem
ociosas não são capital. Edifícios (e também nova maquínarla construida)
que para nada servem ou permanecem inacabados, mercadorias que apo-
drecem em depósito, tudo isso é destruição de capital. Tudo isso se reduz
a paralisação do processo de reprodução e a que as condições de produ-
ção existentes não exercem na realidade as funções de condições de pro-
dução, não são postas em atividade. Então seu valor de uso e valor de tro-
ca vão para o diabo.
Mas, no segundo significado, destruição de capital por crises é de·
preciação de valores, que os impede de renovarem depois, na mesma es·
159. .Bailey, A critical dissertation on the nahne, 'fTUMsure, and causes of vu.Iue... ,
Londr«, 1825, pp. 71-93.
931
cala, o processo de se reproduzirem corno capit.al. E a queda ruinosa dos
preços das mercadorias. Com ela não se destroem valores de uso, O que
um perde, o outro ganha. Os valores operantes como capital ficam impos-
sibilitados de se renovar como capital nas mesmas mãos. Os velhos capi-
talistas quebram. Se o valor das mercadorias que um deles vendia para
reproduzir seu capital era de 12 000 libras, que incluíam 2 000 de lucro,
e se elas _caíram para 6 000. não pode esse capitalista, com as 6 000 libras,
pagar as dívidas que contraiu, nem recomeçar o mesmo negócio na mes-
ma escala, mesmo que nenhuma dívida tivesse, uma vez que os preços
das mercadorias voltam a se elevar aos preços de custo delas. Destrói-se
assim capital e.e 6 000 libras, embora o comprador des.sas mercadorias,
por tê-las adquirido pela metade do preço de custo, possa com a .reanima-
ção dos negóci.Ós prosseguir muito bem e ter até obtido lucro. Grande
parte do capital nominal da sociedade, isto é, do valor de troca do capi-
tal existente, é destruída de uma vez para sempre, embora essa própria
destruição, por não atingir o valor de uso, incentive muito_ a nova repro-
dução. Este é também o período em que os banqueiros se enriquecem
às custas do industrial. A qúeda do capital meramente fictício, dos títu-
los do governo, das ações etc. - desde que não leve o Estado e as socie·
d.ades anônimas à bancarrota, e não 'gere, com o abalo do créditQ dos ca·
pítalistas industríais que detêm aqueles papéís, o estorvo geral' da repro-
dução ·- resulta em simples transferência de riqueza de urna mão para
outra e terá em geral influência favorável na reprodução, se_ considera-
mos que os novos-ricos que colhem na baixa tais ações ou papéis; em re-
gra empreendem mais que os antigos detentores.
932
"Num país, não é possível então acumular-se soma alg\lma de capital
que não se possa empregar produtivamente, até que subam tanto os
salários, poI causa da alta dos meios de subsistência essenciais, e em
eonseqüêncía sobre tão pouco para o lucro do capital, que cesse o in-
centivo para a acumulação" (l.c., p. 34-0), "Daí se infere ... que não há
limites para a procura, nem para o emprego de capital, desde que este
proporcione lucro, e só há uma rai>;io suficiente para queda do lucro -
alta do salário, seja qual for a abundância de capital. Pode-se acrescen-
tar ainda que a única causa eficiente e duradoura da elevação dos sa-
lários é a dificuldade crescente de provei o número cada vez maior de
trabalhadores com alimentos e meios de subsistência essenciai>" (l.r..,
pp. 347, 348).
Que teria Ricardo dito então da estupí~z de seus sucessores, que ne·
gam a superprodução numa fonna (a de superabundância de metcadorias
no mercado), mas a admitem e ainda fazem dela ponto fundamental de sua
doutrina, na outra forma, a de superprodução, pletora, superabundância
de capital?
Nenhum economista digno de menção do período pós-ricardiano
nega a pletora de capital. Ao contrário, todos explicam as crises por meio
dela (quando não alegam causas creditícias). Todos portanto adn:iitem a
superproduçãô numa forma, embora a neguem na outra. Assim resta ape
nas saber como se relacionam as duas formas de superprodução, a forma
em que é negada e aquela em que é admitida.
O próprio Ricardo, a bem dizer, nada conhecia de crises, de crises
gerais do mercado mundial oriundas do próprio processo de produção.
Podia explicar as crjses .de 1800 a 1815, alegando o encarecímento do
trigo em virtude das más colheitas, a depreciação dos bilhetes de banco,
a depreciação das mercadorias coloruais etc., pois, em conseqüência do
bloqueio continental; o mercado se contraíra à força, por motivos polí-
ticos e não ec.onômicos. -Para explicar as crises posteriores a 1815, tinha
também atgumentos: um ano r_ulin de escassez de cereais; queda dos pre-
ços dos grãos, por terem cessado de atuar as causas que segundo sua pró-
pria teoria tinham de empurrar para cima os preços dos cereais, no perío-
do da guerra e do isolamento em que a Inglaterra ficou do Continente;
a transição da guerra para a paz e as "súbitas mudanças" daí oriundas
"nos canais de coméicio". (Ver em seus Principies, capítulo XIX: On
sudden Changes tn the Channels of Trade.)
Os fenômenos históricos posteriores, em particular a quase regular
periodicidade das crises do mercado mundial, nlfo permitiram aos sucesso·
res de Ricardo a negação dos fatos ou a ínterpretação deles como casuais.
Em vez disso - excetuados os que 1udo explicam pelo crédito, para de-
933
pois explicar que eles mesmos terão de supor antes a superabundância
de capital - inventaram a deliciosa diferençà entre pletora de capital e
guperproduçfio. Em oposição a esta úJtima, ativeram-se às frases e às boas·
razões de Ricardo e Smith, enquanto procuram deduz.ir da pletora de
capital fenômeno_s que de outro modo lhes são inexplicáveis. Wilson, por
exemplo, explica certas crises pela pletora de capital ftX.o; outros, pela
pletora de capital circulante. A pletora de capital, considerada em si mes-
ma, é sustentada pelos melhores economistas (como Fullarton) e já se tor-
nou preconceito tão corrente que a própria expressão reaparece axiomá-
tica no compêndio do sábio Herr Roscher 160
Trata-se portanto de saber que é pletora de capital, e em que se dis-
tingue da superprodução.
(Por certo, a justiça manda que se diga que outros economistas, co-
mo Ure, Corbet etc., qualificam a superprodução de estado regular da in·
dústrla em grande escalo., dentro dos limites do mercado interno. Ela por-
tanto só leva a crises em certas circunstâncias, quando o mercado externo
também se contrai.)
Segundo esses economistas, capital = dinheiro ou mercadorias. As-
sim, superprodução de capital = superprodução de dinheiro ou de merca-
dorias. Contudo, acham eles que os dois fenômenos nada têm em comum.
E disso não excluem sequer superprodução de dinheiro, pqis este para
eles é mercadoria, de modo que o fenômeno todo se reduz â superprodu-
ção de mercadorias, que admitem com uma denominação e negam com a
outra. Se ainda se diz que há superprodução de capital fixo ou de.circulan-
te, está subjacente aí que as mercadorias não são consideradas na defmi-
ção elementar, mas segundo a definição de capital. E C<?,m isso mais uma
vez admite-se, em contrapartida, que na produção capitalista e no tocan-
te a seus fenômenos - superprodução por exemplo - não se tratá apenas
da relação simples em que o produto se revela mercadoria, como tal se
qualifica, mas também de detenninações sociais do produto, pelas quais
ele é mais que mercadoria e desta ainda difere.
Em suma: a expressão pletora de capital, em vez de superprodução
de mercadoria - desde que não seja mera evasiva ou leviandade irresponsá-
vel, que considera o me1;mo fenômeno existente e necessário quando se
chama A, mas o nega quando se chama B, e desde que na realidade cor-
responda a escrúpulos e cuidados apenas com a designação do fenômeno
934
e oão com o próprio fenômeno, ou ao intuito de fugir ã dificuldade de
explicar o fenômeno, que se nega numa fonna (nome) contrária aos pre-
conceitos e se admite em forma vazia de sentido -, a transição da expres-
são "superproduçiib de mercadorias" para a expressão "pletora de capi-
tal", excluídos aqueles aspectos, constitui de fato um progresso. Em que
consiste este? Em que os produtores se confrontam não como simples
possuidores de mercadorias e sim como capitalistas.
"Seríamos levados a pensar ... que Adam Smith inferiu que somos im·
pelidos" (o que se dá na realidade} "a produzir um excedente de ce·
seais, de artigos de lã e de ferragens, e que o capital que os produziu
não podia ter outro empsego. Mas ~empre é questão de escolha a ma-
neira corno se empregará o capital e po1 .isso nunca pode haver, por
espaço prolongado de tempo, excedente de mercadoria alguma; é que,
se houvesse, a mercadoría cairia abaixo de seu preço e o capital seria
transferido para outra aplicação mais lucrativa" (pp. 341, 342, nota).
"Produtos afio sempre comprados por produtos ou por serviços; dinhei-
ro é apenas o meio por que se efetua a troCJJ."
935
satisfatória a idéia de que o verdadeiro na teoria - a saQer, a impossibi-
lidade de superabundância no mercado etc. - era errado na prática. Na
realidade, a repetição regular das crises rebaixou as charlas de Say etc. a
uma fraseologia empregada apenas em tempos de prosperidade e lançada
ao mar em tempos de crise.
Nas crises do mercado mundial as contradições e antagonismos da
produção burguesa se revelam contundentes. Em vez de investigar em
que consistem os elementos conflitantes que se patenteiam na catástro-
fe, os apologistas se contentam em negar a própria catástrofe e, em face
de sua periodicidade regular, em insistir em que a produção, se acatasse
as lições dos compêndios, nunca chegaria à crise. A apologética então con-
siste em falsificar as mais simples relações econômicas e especialmente
em se aferrar à unidade em face da contradição.
Se, por exemplo, compra e venda - ou o mo ..imento da metamor-
fose da mercadoria - configura a unidade de dois processos, ou antes o
decurso de um processo por meio de duas fases opostas, sendo na essência
portanto a unidade de ambas as fases, esse movimento é também na es·
sência a separação delas e a afirmação recíproca de independência. Mas,
uma vez que estão interligadas, a afinnação de independência das fases
vinculadas só se pode po.tentcar d<; maneira violenta. como processo des-
trutivo. E justamente na crise que sua unidade se manifesta, a unidade
de elementos opostos. A independência recíproca assumida:· pelas duas
fases conjugadas e complementares destrói-se à força. A: crise portanto
revela a unidade dos elementos que passaram a ficar independentes uns
dos outros. Não ocorreria crise se não existisse essa unldade Uítema de
elementos que parecem comportar-se com recíproca indiferença. Mas
não, diz o economista apologético. Por haver a unidade'; não pode haver
crise. O que significa apenas que a unidade dos contrários exclui a con·
tradição.
Para se demonstrar que a produção capitalista não pode conduzir
a crises gerais, negam-se todas as condições e formas distintivas, todos
os princípios e diferenças específicas, em suma, a própria produção ca·
pitalista, e na realidade se demonstra que, se o modo capitalista de pro·
dução, em vez de ser uma forma especificamente desenvolvida, peculiar,
da produção social, fosse um modo de produção anterior a suas rnanifes·
rações iniciais mais rudimentares, não existiriam os conflitos e contradi-
ções que o caracterizam, nem portanto sua eclosão nas crises.
"Produtos", diz Ricardo de acordo com Say, "sempre se trocam por
produtos ou por serviços; dínheiro é apenas o meio por que se efetua
a troca."
936
Aí, primeiro, a mercadoria, que encerra a oposição entre valor de
troca e valor de uso, se transfonna em mero produto (valor de uso), e em
conseqüência a troca de mercadorias, em simples troca de produtos, de
meros valores de uso. Recua·se ã era anterior à produção capitalista e mes-
mo à anterior à produção simples de mercadorias, e nega-se o fenômeno
mais intrincado da produção capitalista - a crise do mercado mundial -,
escamoteando-se a primeira condição da produção capitalista, a saber,
que o produto tem de ser mercadoria, de se representar por isso em di-
nheiro e passar pelo processo de metamorfose. Usa-se, em vez da expres-
são trabalho assalariado, o termo "servíçcs ... palavra com que de novo se
omite a característica específica do trabalho assalariado e de seu valor de
uso· - a saber, acrescer o valor das mercadorias pelas quais se troca, produ-
zir mais-valia - e. em conseqüência a relação parti_cular por meio da qual
dinheiro e mercadoria se convertem em capital. "Serviço" é o trabalho
sob o aspecto exclusivo de valor de uso (coisa acessória na produção capi-
t:Íllista), do mesmo modo que na palavra "produto" se suprime a natureza
da mercadoria e a contradição nela contida. Então é coerente conceber o
dinheiro como simples mediador da troca de produtos e não como forma
essencial- e necessária de existência da mercadoria, que tem de se apresen·
tar como valor de troca - trabalho social geral. Uma vez q_ue, por meio
da conversão da mercadoria em simples valor de uso (produto) se elimina
a natureza do valor de troca, é possível, com a mesma facilidade, negar,
ou antes ter de negar, no processo da metamorfose da mercadoria, a exis-
tência do dinheiro como forma essencial - independente da forma origi·
nal - da mercadoria.
Aí portanto escamoteiam·se as crises, deixando-se de lado ou negan-
do-se os primeiros requisitos da produção capitalista: a existência do pro.
duto como mercadoria, a bifurcação da mercadoria em mercadoria e di·
nheiro, os daí oriundos elementos da dissociação na troca das mercadorias,
enfmt, a relação do dinheiro ou mercadorias com o trabalho assalariado.
Aliás, não são mais felizes os economistas (como J. St. Mill, por exem·
plo) que procuram explicar as crises com essas meras possibilidades da
crise, encerradas na metamorfose das mercadorias, como a dissociação
entre compra e venda. Esses elementos que explicam a possibilidade da cri-
se nem de longe elucidam sua realidade; deixam de elucidar por que as fa.
ses do processo entram em conflito tal que sua unidade interna só pode im·
por-se por meio de uma crise, de um processo violento. Aquela dissocia·
ção aparece na crise; é sua forma elementar. Explicar a crise por essa for·
ma elementar significa explicar a existência da crise, expressando-a na mais
abstrata forma de sua existência, isto é, explicar a crise pela crise.
937
"Um ser humano", diz Ricardo,161 ''só. produz se tiver o propósito de
corisumir ou vender, e só vende se tiver' .o p1opósito de comprar outra
mercadoria que de imediato lhe seja útil ou contríbua para produção
futura. Ao produzir, torna-se por isso necessariamente o consumidor
de seus próprios bens" (goods) "ou o comprador e consumidor das
mercadorias de outra pessoa. Não se pode admitir que, durante prolon-
gado eYpaço de tempo; não esteja informado sobre as mercadorias que
pode produzir com mais vantagem, para atingir seu propósito, a saber,
o posse de outros bens, e por isso nio é provável que de continuo"
(continually} "produza uma mercadoria para a qual não há procura"
(l.c., pp. 339, 340).
Palavrório pueril que fica bem para Say, mas não para Ricardo. Antes
de mais nada, nenhum capitalista produz para consµxnir o produto. E quan-
do falamos da produção capítalista, o certo é dizer que "ninguém produz
com o propósito de consumir seu produto", mesmo se emprega partes
dele no consumo industrial. E aqui se trata do consumo indívidual. Esque-
ceu-se antes que o produto é mercadoria. Agora, esquece-se até a divisão
socíal do trabalho. Em condições em que os seres humanos produzem
para si mesmos, não há na realidade crises, mas tampouco há produção
capitalista. Nunca ouvimos dizer que os antigos, com sua produção escra-
vista, conhecessem jamais crises, embora, entre eles, também falissem
produtores isolados. A primeira parte da alternativa é disparate; por igual
a segunda: um homem que produz não tem a opção de qu~rer' ou não
vender. Tem de vender. Nas críses entra justamente a circunStâncía de não
poder ele vender ou de ter de vender abaixo do preço de custo ou mes-
mo com perda positiva. De que lhe serve·- e de que portanto·:.ws·serve -
que tenha produzido para vender? Trata-se justamente de ·iaber o que es-
torva essa boa intenção.
E mais:
"só vende se tiver o propósito de. comprar outra mercadoria que de iJne-
díato lhe seja útil ou contribua para produção futura."
O dinheiro é não só "o meio por que se efetua a troca" (p. 341),
mas também o meio por que a troca de produto por produto se dissocia
em dois atos, um do outro independentes, além de distantes no tempo e
no espaço. Em Ricardo, aquela falsa concepção do dinheiro decorre de
apoiar-se apenas na determinação quantitativa do valor de troca, a saber,
valor de troca = dada quantidade de trabalho, e esquecer, em contrapar-
939
tida, a determinação qualitativa, isto é, que o trabalho índividual tem de
se configurar em trabalho sodal geral, abstrato, o que só se dá por meio
de sua alienação (alienation). *
:E um expediente ínfeliz afirmar que só mercadorias isc'fadas e não
todas as mercadorias podem apresentar ''superabundância no mercado",
e que por conseguinte a superprodução só pode ser parcial. Antes de mais
nada, se observamos a natureza da mercadoria, nada se opõe a que todas
as merc.adorias sejam superabundantes no mercado e todas se cotem abaixo
do respectivo preço. Agora trata-se precisamente da riuão da crise, isto é,
da possibilidade de haver superabundância de todas as mercadorias com
exceção do dinheiTo. Existir, para a mercadoria, a necessidade de se confi-
gurar em dinheiro significa apenas a existência dessa necessidade para to-
das as mercadorias. E a dificuldade de passar por essa metamorfose, se
existe para uma mercadoria isolada, pode existir para todas. A natureza
geral da metamoxfose das mercadorias, a qual abrange tanto a dissociação
quanto a unidade da compra e venda, em vez de excluir, ao contrário,
encerra a possibilidade de uma oferta excessíva geral.
Ademais, está sem dúvida subjacente ao raciocínio de Ricardo e a
raciocínios semelhantes: não só a relação entre compra e venda. mas tam·
bém a relação entre oferta e procura; a qual só teremos de tratar ao estu-
dar a concorrência entre os capitais. Como diz Mill, se compra é venda
etc., procura é oferta, e oferta, procura; entretanto, elas tarµ.bém se dis-
sociam e podem assumir independência recíproca. Em dado momento,
a oferta de todas as mercadorias pode ser maior que a procura de- todas
as mercadorias, enquanto a procura da mercadoria universal, o tÍinheiro,
o valor de troca, é maior que a procura de todas as merca~()rias particula-
res, ou enquanto a motivação de converter a mercadoria em dinheiro, de
realizar seu valor de troca, predomina sobre a motivação de reconverter
a mercadoria em valor de uso.
Entendida de maneira mais ampla e mais concreta, a relação entre ofer-
ta e procura abrange a relação entre produção e consumo. Aí teria de novo
de ser sustentada a unidade desses dois fatores, subsistente em si e precisa-
mente na crise impondo-se à força contra a dissociação e aoposiçiio que tam-
.bém existem entre eles e aín da constituem características da produção burguesa .
940
No tocante à oposição entre superprodução parcial e universal, des-
de que se trate apenas de sustentar a primeira para descartar a segunda,
cabe observar o seguinte:
Primeiro: uma inflação geral de preços em todos os artigos da pro·
dução capitalista precede, em regra, às crises. Por isso, todos participam
do c01apso subseqüente e todos estão congestionando o mercado aos pre·
ços que tinham antes do colapso. O mercado pode absorver uma quanti-
dade de mercadorias a preços decrescentes que caiam abaixo dos preços
de custo, quantidade que não poderia abs01ver aos preços anteriores. A
superabundância das mercadorias é sempre relativa; isto é, superabun-
dância a certos preços. São ruinosos para o produtor cu comerciante os
preços a que as mercadorias são então absorvidas.
Segwulo: Para uma crise (e também para a superprodução) ser ge-
ral, basta que atinja os artigos dominantes do comércio.
941
sidades que as mercadorias satisfazem não têm limites, e não se satisfa-
zem todas as necessidades ao mesmo tempo. Ao contrário. A satisfação
de uma necessidade faz emergir outra em estado latente, por assim dizer.
Desse modo, nada se exige âlém. dos meios de satisfazer essas necessida-
des, e esses meios podem ser obtidos mediante acréscimo da prodlj\:ão.
Por conseguinte, não é possível superprodução geral.
Para que tudo isso? Em fases de superprodução grande parte da na-
ção (sobretudo da classe trabalhadora) dispõe menos que nunca de ce-
reais, sapatos etc., para não falarmos de vinhos e móveis. Se só pudesse
sobrevir superptodlj\:ão depois de todos os membros da nação terem sa-
tisfeito pelo menos as necessidades mais prementes, nunca teria podido
ocorrer, em todo o decurso da história da sociedade burguesa, uma su-
perprodução geral ou mesmo uma parcial. A círcunstància de um merca-
do, por exemplo, estar congestionado de sapatos ou tecidos ou vinhos
ou produtos coloniais significará que 4/6 da naçãó tenham por ventura
supersaturado suas necessidades de sapatos, tecidos etc.? Afinal que tem
a superprodução a ver com as necessidades consideradas de maneira in-
condicional? Ela só se defme em face das necessidades com poder aqui-
sitivo. Não se trata de superprodução absoluta, superprodução em si con-
frontada com a necessidade absoluta ou com o desejo de. possuir as mer-
cadorias. Nesse sentido não existe superprodução parciai nem geral, e
uma não se opõe mesmo à outra.
Mas, dirá Ricardo, quando há muitas pessoas que precísam de sa-
patos e tecidos, por que não se empenham na aquisição dos meios de obtê-
los, produzindo algo com que compraI sapatos e tecidos? Não seria ainda
mais simples dizer: por que não produzem para si sapatos e tecidos? E o
que é ainda mais estranho na superprodução: os verdadeiros produtores
das mesmas mercadorias que congestionam o mercado carecem delas,
Não se pode dizer aí que deveriam produzir as coisas para obtê-las, pois
as produziram e apesar disso não as obtiveram. Tampouco se pode dízer
que determinada mercadoria congestiona o mercado porque ninguém
precisa dela. Assim, se mesmo a superprodução parcial não se pode expli-
car pela circWJstància de as mei:..cadorías que congestionam o mercado
super;saturarem as necessidades a que se destinam, tampouco se pode
descartar a superprodução universal alegando a circunstância de existi~
rem necessidades, necessidades insatisfeitas para muitas das mercadorias
que estão no mercado.
942
Recorramos ao exemplo do fabricante de tecido. 164 Enquanto a re-
produção prosseguia ininterrupta - por conseguinte também o estádio
~essa reprodução no qual o produto como mercadoria, mercadoria ven-
dável, o tecido, se reconverte em dinheiro de acordo com o valor -, os
trabaJhadores, digamos, que produzem o tecído também consumiam par-
te dele, e com a ampliação da. reprodução, isto é, com a acumulação, con-
sumiam mais tecido, ou mais trabalhadores eram empregados para produ-
zi-lo, os quais eram ao mesmo tempo consumidores de fração dele.
943
doria em seu movimento são, primeiro, fonnas e fases .necessariamente
complementares; segundo, apesar dessa wúdade íntrínseca necessária,
são por igual partes e formas independentes do processo, contrapostas
em sua existência, discrepantes no tempo e no espaço, separáveis e se-
paradas uma da outra. A· possibilidade da crise reside apenas na disso-
ciação entre compra e venda. E apenas na sua fonna que a mercadoria
tem aí de passar pela dit1culdade. lntrapassa-a logo que assume a forma
de dinheiro. Ademais, isso também se reduz à circunstâncía de compra
e venda não coincidirem. Se a mercadoria - como na troca direta - não
pudesse retomar da circulação na forma de dinheiro ou procrastínar sua
reconversão em mercadoria, se compra e venda coíncidissem, deixaria
de haver, de acordo com as suposições feitas, a possibilidade de crise.
Pois se admite que a mercadoria é vakJr de uso para outros possuidores
de mercadorias. Na forma de troca direta só não se pode permutar a mer-
cadoria se não é valor de uso ou não existem valores de uso do outro la-
do para se trocarem por ela. Isto é, somente nestas duas condições: se um
lado produziu coisa inúh1, ou se o outro lado nada tem de útil, equiva-
- lente para trocar por valor de uso daquele. Nos dois casos não haverá ne-
nhuma permuta. Mas, desde que haja permuta, suas fases não se dissociam.
O comprador será vendedor, o ve~dedor, comprador. Assim, desaparece
a fase crítica, oriunda da forma de troca - a troca que é circulação -, e
quando dizemos que a forma simples da metamorfose encerra a poi;;sibi-
lidade da cdse, expressamos apenas que nessa própria forma está a possi-
bilidade da ruptura e da dissociação de fases que na essência são comple-
mentares.
Mas isso se estende ainda ao conteúdo. Na troca direta, o produ-
tor dá ao grosso da produção o destino de satisfazer as- próprias necessi-
dades ou - ao se desenvolver mais a divisão do trabalho - de satisfazer
necessidades dos co-produtores, dele conhecidas. O que se tem de trocar
como mercadoria é sobra, e não é fundamental a circunstância de se tro-
car ou não essa sobra. Na produção de mercadorias, a conversão do pro-
duto em dinheiro, a venda, é conditio sine qua non. Cessa a produção
imediata para as próprias necessidades. Então, se não se vende, surge a
crise. A díficuldade de transformar a merl'Jldoria - o produto particular
do trabalho individual - em dinheiro, o oposto dela, em trabalho social,
geral e abstrato, está nisto: dinheiro não se apresenta como produto do
trabalho índivídual, e quem vendeu, e portanto possui a mercadoria na
forma de dinheiro, não é por sua vez forçado a comprar logo, a recon-
verter o dinheiro em produto particular do traba1ho individual Na tro-
ca direta não há essa contradição: não pode haver vendedor sem compra-
944
dor, nem comprador sem vendedor. Aquela dificuldade do vendedor - na
suposição de sua mercadoria ter valor de uso - decorre somente da faci-
lidade do comprador em adiar a reconversão do dinheiro em mercadoria.
A dificuldade de transformar a mercadoria em dinheiro, de vender, pro-
vém apenas de a mercadoria ter de se transformar em dinheiro, sem o di-
nheiro ter de imediato de se converter em mercadoria, e de compra e ven-
da portanto poderem dissociar-se. Dissemos que essa forma abrange a
possibilidade da crise, isto é, a possibilidade de elérnentos em conexão
recíproca, inseparáveis, se desvincularem e serem por isso, forçados a se
juntar pe1a força que se opõe à sua independência mútua. Ademais, crise
é apenas a imposição violenta da unidade das fases do processo de pro-
dução, as quais se tomaram independentes uma da outra.
Possibilidade geral e abstrata da crjse sígnífica apenas a [onna mais
abstrata da crise, sem conteúdo, sem o impu1so pertinente a esse conteú-
do. Compra ·e venda podem separar-se. Constituem portanto crise em es-
tado potencial e sua coincidência contínua sempre a ser, para a mercado-
cia, elemento critico. Mas uma pode converter-se na outra com fluidez.
Assim, a forma mais abstrata da crise (e poc isso a possibilidade formal
da críse) é a metamorfose da própria mercadoria, a qual, como movimen-
-to desenvolvído, contém a contradição - encerrada na tJnidade da mer-
cadoria - entre valor de troca e valor de uso e ainda entre dinheiro e mer-
cadoria. Mas o meio por que essa possibilidade de crise se toma a crise
não se contém nessa própria forma; esta implica apenas em que existe
a forma para wna crise.
E isso é o importante quando observamos a economia burguesa.
As crises do mercado mundial têm de sec concebidas como a convergên-
cia real e o ajuste· à força de todas as contradições da economia burgue-
sa. Os diversos fatores que convergem nessas crises têm portanto de ser
destacados e descritos em toda esfera da economia burguesa, e, quanto
mais nesta nos aprofundarmos, têm de ser detectadas novas característi-
cas desse conflito, e ainda é mister demonstrar que as formas mais abs-
tratas dele são interativas e se contêm nas mais concretas.
Podemos portanto dizer: em sua primeira forma, a crise é a metamor-
fose da própria mercadoria, a dissociação da compra e venda.
Em sua segunda forma, a crise é a função do dinheiro como meio
de pagallÍento, e então o dinheiro figura em duas fases diferentes, sepa-
radas no tempo, em dois papéis diversos. As duas formas ainda são de
todo abstratas, embora a segunda seja mais concreta que a primeira.
Assim, ao observarmos o -processo de reprodução do capital (o qual
coincide com a circulação dele) cabe, antes de mais nada, demonstrar
945
que aquelas formas apenas se repetem ou antes só aí adquirem um con·
teúdo, um fundamento que Thes permite se manifestarem.
Observemos o movimento que o capital leva a cabo, a partir do
momento em que deixa o processo de produção como mercadoria, -para
voltar a surgir dele como mercadoria. Se omitimos agora todas as caracte-
rísticas do conteúdo, o capital-mercadoria todo e toda mercadoria ísola·
da em que ele se configura tem de passar pelo processo M - D - M, a me-
tarnorfose da mercadoria. A possibilidade geral de crise encerrada nessa
forma - a diSsociação da compra e venda - está portanto contida tam-
bém no movimento do capital, desde que este seja também mercadoria
e apenas mercadoria. Da conexão entre as metamorfoses das mercado-
rias resulta além disso que uma mercadoria se converte em dinheiro por·
que outra se reconverteu da fonna dinheiro em mercadoria. Assim, a dis-
sociação da compra e venda aparece aí de modo que à conversão de um
capital, da forma mercadoria para a forma dinheiro, tem de.corresponder
a reconversão de outro capital, da forma dinheiro para a fonll.a mercado-
ria; a primeira metamorfose de um capital tem de corresponder à segun·
da do outro, e a saída de um capital do proce5$0 de produção, à volta
do outro a esse processo. A circunstância de se encadearem e se entrela·
çarern os processos de reprodução- ou circulação de diferentes capitais,
embora casual, é uma imposição da divisão de trabalho, e assim já se. am·
plia a definição do conteúdo da crise.
Mas, segundo, no tocante à possibilidade de crise oriunda da for-
ma de dinheiro como meio de pagamento, o capital já se revela funda-
mento muito mais real para a efetivação dessa possibilidade. Por exem·
pio, o fabricante de tecido tem de pagar a totalidade do capital constan-
te cujos elementos são fornecidos pelo empresário da fiação, pelo plan-
tador de linho, pelo fabricante de máquinas, pelo produtor de ferro e de
madeira, pelo minerador de carvão etc. Estes, enquanto produzirem ca-
pital constante que só entra na produção do capital constante sem en·
trar na mercadoria final, o tecido, repõem reciprocamente suas condi·
ções de produção por meio da troca de capital. Ac:lmitamos, então, que
o fabricante de tecido vende seu produto pela quantia de 1 000 libras
ao comerciante, sacando sobre este uma letra de cârilbio, de modo que
o dinheiro assume a flgura de meio de pagamento. O fabricante por sua
vez negocia a letra com o banqueiro, seja lhe pagando uma dívída ou des-
contando a letra. Com o saque de uma letra de câmbio, o cultivador de
linho vendeu ao fabricante de fio; o fabricante de fio, ao de tecido; o
fabricante de máquinas, ao de tecido; o fabricante de ferro e o madei-
946
reiro, ao fabricante de máquinas; o minerador de carvão, ao fabricante
de fio, ao de tecido, ao de máquinas, ao de ferro e ao madeireiro. Além
disso, os produtores de ferro, carvão, madeira e o plantador de linho se
pagaram reciprocamente com letras de câmbio. Se o comerciante não
pagar, o fabricante de tecido não poderá pagar sua letra de câmbio ao
banqueiro.
O plantador de linho sacou sobre o fabricant~ de fio; o fabrican-
te de máquinas, sobre o de tecido e o de fio. O dê fio ·não pode pagar
porque o de tecido não pode pagai; ambos não pagam ao fabricante de
máquinas, e este não paga ao fabricante de ferro, ao madeireiro e ao mi·
nerador de carvão. E por sua vez todos eles, que não realizam o valor de
sua mercadoria, não podem substituir a parte que repõe o capital cons·
tante. Surge assim crise geral. Isso nada mais é que o desenvolvimento
da possibilidade da crise no caso do dinheiro como meio de pagamento,
mas aí já vemos, na produção capitalista, uma conexão entre os crédi-
tos e obrigações recíprocas, entre as compras e vendas, quando a possi-
bilidade pode converter-se em realidade.
Seja como for, não existe crise se compra e venda não se mantêm
em oposição mútua, não tendo por isso de se ajustar à força, e se o di-
nheiro exerce a função de meio de pagamento de modo que os créditos
se liquidam, isto é, não se realiza a contradição existente no dinheiro co-
mo meio de pagamento; se essas duas formas abstratas da crise, portan-
to, não se patenteiam na realidade. Não pode haver crise sem compra e
venda se desvincularem e entrarem em conflito, sem aparecerem as con-
tradições contidas no dinheiro como meío de pagamento, isto é, sem a
crise se patentear ao mesmo tempo na forma simples - na contradição
entre compra e venda,. na contradição do dinheiro como meio de paga-
mento. Mas temos aí meras formas - possibilidades gerais das crises, por
isso também formas, formas abstratas da crise real. Nelas aparece a existência
da crise em suas formas mais simples e em seu conteúdo mais simples, até
onde a própria. forma é seu conteúdo mais simples. Mas ainda não é con-
teúdo com funilamento concretizado. A circulação simples do dinheiro
e mesmo a circulação do dinheiro como meio de pagamento - e ambas
já existiam muito antes da produção capitalista sem terem sucedido cri-
ses - podem realizar-se e se realizam sem crises. Assim, essas formas sozi-
nhas não podem explicar por que desvelam sua face crítica, por que a
contradição potencial nelas contida se patenteia contradição em ato.
Vê-se por aí a enorme sandice dos economistas que, depois de não
terem conseguido escamotear o fenômeno da superprodução e da crise,
947
se contentam ,em dizer que se encerra naquelas formas a possibilidade de
sobrevirem crise9; que, por conseguinte, é casuàl não ocorrerem elas, e as-
sim sua própria ocorrência se evidencia mera casualidade.
As contradições na circulação de mercadorias, ainda desenvolvidas
na circulação de dinheiro - e em conseqüência as possibilidades de cri·
se - reproduzem-se por si mesmas no capital, pois na realidade, só na ba-
se do capital, ocorre circulação desenvolvida de mercadoria e de dinheiro.
Mas agora trata-se apenas de acompanhar o desenvolvimento ulterior
da crise potencial - a crise real só pode configurar-se a partir do movi·
mento real da produção capitalista, da concorrência e do crédito - en-
quanto provém das determinações de forma próprias do capital, as quais
lhe são peculiul'es e não se encerram em sua mera existência de mercado-
ria e de dinheiro.
Em si, o simples processo de produção (imediato) do capital nada
de novo pode acrescentar af. Para existir pura e simplesmente, supõem-se
as condições. Por isso, na primeira seção sobre o capital - sobre o proces-
so de produção imediato - não sobrevém novo elemento de crise. Consi-
derado em si, está contido no processo de produção, porque este se apro-
pria de mais-valia e por isso a produz. Mas este fato não pode evidenciar-
se no próprio processo de produção, pois neste não cabe a realização do
valor reproduzido nem da mais-valia.
Essa realização só pode aparecer no processo de circula'ção, que em
si é ao mesmo tempo processo de reprodução.
Importa aí observar ainda que temos de descrever o prncess9 de cir·
culação ou o processo de reprodução, antes de descrever o,capital pronto
e acabado - capital e lucro -, uma vez que temos de explicar como o
capital produz e, ademais, como é produzido. O moviménto real, porém,
parte do capital existente; o movimento real é o que se faz na base da pro-
dução capitalista desenvolvida, que parte de si mesma e pressupõe a si
mesma. O processo de reprodução e as subseqüentes propensões à crise
nele desenvolvidas terão aqui descrição incompleta e necessitam de tra-
tamento complementar no capítulo "Ozpital e lucro'~ 166
O processo gJobal de circulação ou o processo global de reprodu-
ção do capital é a unidade de sua fase de produção e de sua fase de cir-
culação, um processo que abrange dois processos como fases suas. Aí
reside nova possibilidade desenvolvida ou forma abstrata da crise. Po_r
isso, os econonústas que negam a crise insistem na unidade dessas duas
166. Marx refere-se à parte de suas pesquisas que culiminou na elabo;ração do livro
3 de O Capital.
948
,, fases. Se elas, sem serem uma unidade, fossem apenas separadas, seria
impossível justamente uma restauração violenta de sua unidade, ou seja,
uma crise. Se fossem apenas uma unidade, sem estarem separadas, não
haveria a eventualidade de as dissociar à força, o que também é crise. Esta
é a restauração violenta da unidade entre elementos guindados à indepen-
dência e a afinnação violenta de independência de elementos que na es-
sência formam uma unidade.
949
da não realízação de toda uma série de pagamentos que se apóiam na ven-
da dessa determinada mercadoria nesse prazo determinado. Esta é a for:-
ma especifica das crises monetdrias.
Assim, a crise, se sobrevém porque compra e venda se desconjun-
tam, desenvolve.se como crise monetária, desde que o dinheiro se tenha
desenvolvido como mei.o de pagamento, e essa segunda forma das crises
fica em evidência logo que surge a primeira. Por isso, na pesquisa da ra-
zão por que a possibilidade geral da crise se torna realidade, na pesquisa
das condições da crise é mera superfluidade tratar da forma das crises
oriundas do desenvolvimento do dinheiro como meio de pagamento. Jus-
tamente por esse motivo gostam os economistas de apresentar essa fonna
evidente como causa da crise. (No que o desenvolvimento do dinheiro
como meio de pagamento se relaciona com o desenvolvimento do crédi-
to e c.'.e suas hipertrofias, é mister sem dúvida estudar as causas deste, o
que não cabe aqui.)
2. Desde que as crises decorram de variações de preço e de revolu-
ções de preço que não coincidam com as variaç5es de valbr das mercado...
rias, não é possível explicá-las na análise do capital em geral, pois nesta
valbres e preços das mercadorias se ,pressupõem idênticas.
3. A possibilidade geral das crises é a metamorfose formal do pró-
prio capital, a dissociação da compra e venda no tempo e no' espaço. Mas
esse processo nunca é a causa da crise, pois é apenas a fonna mais geral
da crise, isto é, a própria críse em sua expressão mais geral Não se pode
dizer que a forma abstrata da crise é a causa da crise. Quem pergunta por
sua causa, quer saber precisamente por que sua forma abstrata, a forma
de sua possibilidade, passa da possibilidade para a realidade.
4. As condiç6es gerais da crise, contanto que independentes das
flutuações de preços (estejam estas ligadas ou não ao sistema de crédi·
to) distintas das flutuações de valor - têm de ser explicáveis a partir
das condições gerais da produção capitalista.
(Pode surgir crise: (1) na reconversão em ai.pital produtivo; (2) em
virtude de variações no valbr dos elementos do capital produtivo, em par-
ticular das matérias-primas, por exemplo, quando se reduz o volume da
colheita de algodão. Em conseqüência, sobe seu valor. Aqui não nos ca-
be ainda tratar de preços e sim de valbres).
Primeira fase. Reconversão de dinheiro em capital. Supõe-se deter-
minado nível da produção ou reprodução. Aqui se pode considerar o ca·
pital fixo dado, invariável, sem entrar no processo de formação do valor.
Uma vez que a reprodução da matéria-prima não depende apenas do tra-
950
balho nela empregado, mas também da produtividade ligada às condições
naturais, pode cair o próprio volume, o volume do produto da mesma
quantidade de trabalho (em virtude de estações ruins). Sobe assim o valor
e cai o volume da matéria-prima ou se alteram as proporções em que o di·
nheiro terá de se converter nos divmos componentes do capital, para
continuar a produção na escala anterior. Ter-se-á de gastar mais em maté-
ria-prima, fica menos para tra/Jallw e não é possível absorver a mesma
massa anterior de trabalho. Primeiro, é Fisicamente impossfvel, por causa
da escassez de matéria-prima. Segundo, porque parte maior do valor do
produto tem de se transformar em matéria-prima, e portanto fica menos
para se converter em capital varidvel. Não se pode repetir a reprodução na
mesma escala. Parte do capital fixo °fica inativa, parte dos trabalhadores
é despedida. Cai .a taxa de tubo, porque o valor .do capital constante su-
biu em relação ao do variável e se emprega menos capital variável. As de·
duções fixas - juro e renda fundiária - de antemão fixadas para taxa
de lucro e exploração do trabalho invariáveis, permanecem as mesmas e
em parte não podem ser pagas. Daí a crise. Crise de trabalho e crise de
eapitaL Eis aí portanto transtorno do processo de reprodução por eleva·
ção do ·valor de parte do capital constante a ser reposta por segmento
do valor do produto. Além disso, o produto encarece, embora caia a taxa
de lucro. Se esse produto entra como meio de produção em outros ra·
mos, esse encarecimento causa o mesmo transtorno na reprodução deles.
Se entra como meio de subsistência no consumo geral, entrará também,
ou não, no consumo do tra/Jalhador. No _primeiro caso, os efeítos corres-
pondem a transtorno do capital wzriável do que se falará mais tarde. Mas,
desde que entre no consumo geral, pode em conseqüência (se não cair
seu consumo) dinúnuír a proCUTa de outros produtos; daí ficar inibida,
para est.es a reronverilío em dinheiro pelo valor que lhes corresponde, e
assim estorvar-se a outra face de sua reprodução, não a reconversão de
dinheiro em capital produtivo e sim a reconversão de mercadoria em di-
nheiro. Em todo caso caem o montante de lucro e o montante de salário
naquele ramo e em conseqüência pane das rendas necessárias para haver
a venda de mercadorias de outros ramos de produção.
Mas essa falta de matéria-prima pode surgir também sem haver in-
fluência das estações ou da produtMdade natural do trabalho que forne-
ce a matéria-prima. E que, se se despender parte excessiva da mais-valia,
do capital excedente em maquinaria etc. desse ramo, as matérias-primas,
embora bastem para a escala anterior de produção, serão ínsuficientes pa·
ra a nova. Isso decorre de o capital excedente se transformar, de maneira
951
desproporcionada, em seus elementos diversos. g um caso de superprodu-
çiio de azpital fv:o e gera os mesmos fenômenos do primeiro caso. (Ver
página anterior.) 16&
Ou as crises são a _conseqüência de superprodução de capital foco
e daí produção relativa inferior de capital circulante.
Uma vez que o capital fn:o, coino o circulante, consiste em merca·
donas, nada mais ridículo que admitirem a superprodução de capital frxo,
os mesmos economistas que negam a superprodução de mercadorias.
5. Crises decorrentes de perturbações da fase inicial da reprodução.
isto é, estorvo na conversão das mercadorias em dinheiro ou interrupção
da venda. Quantp às crises da primeira espécie, 169 a crise resulta de inter·
rupções no refluxo dos elementos do capital produtivo.
952
porção do produto do fabricante, dão·Ihe em parte os meios de vendê-lo.
O trabalhador só pode comprar - constituir procura - quando se trata de
mercadorias que entram no consumo individual; é que não é ele mesmo
quem explora seu trabalho, e assim não possui as condições de efetuá-lo -
os meios e os materiais de trabalho. Isso já bloqueia portanto a maior par-
te dos produtores (os próprios trabalhadores, onde se implanta a produ-
ção capitalista), na função de consumidores, de compradores: não adquí·
rem eles matérias-primas nem meios de trabalho; compram apenas meios
de subsistência {mercadorias que entram de imediato no consumo indivi·
dual). Por ísso, nada mais ridículo que falar de identidade entre produto-
res e consumidores, uma vez que, para grande número de ramos - para
todos os que não fornecem artigos de consumo imediato - os que parti·
cipam da produção estão, em regra, absolutamente excluídos da compra
de seus próprios produtos. Nunca são de imediato consumidores ou com-
pradores dessa grande parte de seus próprios produtos, embora paguem
parte do valor deles nos artigos de consumo que compram. Aí se eviden-
cia também a ambigüidade da palavra consumidor e a falsidade de iden·
tificá-la com a palavra comprador. Industrialmente são a rigor os traba·
Ihadores que consomem a maquinaria e a ·matéria-prima, gastam-na no
processo de trabalho. Mas não a gastam para si. Por isso não são compra-
dores delas. Para eles não são valores de uso, mercadorias, e sim condi-
ções objetivas de um processo do qual eles mesmos são as condições sub-
jetivas.
Pode-se, porém, dizer que seu empregador os representa no ato
de comprar meios e materiais de trabalho. Contudo, no mercado, repre·
senta-os em condições diferentes daquelas em que se representariam a si
mesmos. Tem de vend~r um volume de mercadorias que configura a mais·
valia, trabalho não pago. Os trabalhadores só teriam de vender volwne
de mercadorias que reproduzisse o valor adiantado à produção - o valor
dos meios de trabalho, do material de trabalho e do salário. Por isso, o
empregador precísa de mn mercado maior que o admissível para eles.
Além disso, depende dele - e não deles - avaliar se as condições de mer-
cado são bastante favoráveis para começar a reprodução.
Assím, mesmo quando não se estorva o processo de reprodução,
são eles produtores sem ser consumidores de todos os artigos que não
têm de ser objeto de consumo individual e sim industrial.
Para negar as crises, nada portanto mais absurdo que afirmar que
consumidores (compradores) e produtores (vendedores) são idênticos
na produção capitalista. Estão por completo separados. Só no decurso
953
do processo de reprodução pode patentear-se essa identidade no tocan-
te a um entre 3 000 produtores, isto é, no tocante ao capitalista. Ao re-
vés. Também é falso afirmar que os consumídores são produtores. O do~
no da terra (a renda fundiária) não produz, contudo consome. O mes-
mo se dá com todos os intermediários financeiros.
A importância das frases apologéticas destinadas a negar a crise
reside apenas em provarem sempre o contrário do que pretendem. Para
negar a crise, afirmam unidade onde existe oposição e contradição. Por
conseguinte, sua importância, como se pode dizer, está somente em pro-
varem que, se na realidade não existissem as contradições que suprimem
na imaginação, também nffo existiria. crise. Mas, de fato, existe a crise
porque existem aquelas contradições._ Toda razão que apresentam eontra
a crise é uma contradição esconjurada, portanto, uma contradição real,
uma razão da crise. O desígnio de exorcizar contradições é ao mesmo tem-
po a expressão de contradições realmente existentes, que de acordo com
esse piedoso desejo nlio devem existir.
O que os trabalhadores, com efeito, produzem é mais-valia. E-lhes
licito consumir enquanto produzem mais-valia. Ao cessar de produzi-la,
cessa seu consumo por cessar sua produção. Mas. de modo algum têm di-
reito de consumir por produz.ir equivalente a seu consumo. Ao contrá-
rio, logo que produzem apenas esse equivalente, cessa .seu rorisumo, não
têm equivalente para consumir. Já se suspende ou se reduz seu trabalho,
já se rebaixa seu salário, seja como for. Neste caso - se a escala de pro-
dução permanece a mesma - não consomem equivalente a·sua.produção.
Mas então lhe faltam os meios não por não produzir o sufiCiente e sim
por receber demasiado pouco de seu produto. ,
Se portanto se reduz a relação apenas àque]a entre consumidores e
produtores, esquece-se que o assalariado que produz e o capitalista que
produz se distinguem por serem duas espécies bem distintas de produto-
res, e estamot excluindo os consunúdores que nada absolutamente produ-
zem. De novo se nega a oposição, abstraindo-se de uma contradição real-
mente existente na produção. A mera relação entre assalariado e capita-
lista compreende:
(1) que a maioria .dos produtores (os trabalhadores) não são consu-
midores (compradores) de parte bem grande de seu produto, a saber, os
meios de trabalho em. materiais de tntbalho;
(2) que a maioria dos produtores, os trabalhadores, só podem con-
sumir equivalente a seu produto enquanto produzam mais que esse equi-
valente - o valor excedente ou o produto excedente. Têm de ser sempre
954
produtores excedentes, de produzir acima de suas necessidades, para po-
derem ser consumidores ou compradores dentro dos limites delas.
Para essa classe de produtores, portanto, a unidade entre produ·
ção e consumo se revela falsa logo à primeira vista.
Diz Ricardo que o único limíte da procura é a própria produção,
e esta é limitada pelo capita1;111 na realidade isso significa que, retiradas
as falsas suposições, a produção capitalista encontra, sua medida apenas
no capital; mas neste se inclui também a força de trabalho (por ele com-
prada), incorporada ao capital como uma de suas condiçães de produção.
O que se quer justamente saber é se o capítal como tal é também o limi-
te do eonsumo. Em todo caso, ele o é negativamente, quer dizer, não
se pode consumir mais do que se produz. Mas a questão é se ele o é posi-
tivamente, se se pode e se tem de eonsumir tanto quanto se produz, na
base da produção capitalista. A frase de Ricardo, submetida a uma aná-
lise correta, diz justamente o contrário do que subentende, ou seja, que
a produção não se efetua levando em conta os limites existentes do con·
sumo, mas que só o próprio capital a limita. E isso é por certo caracte-
rístico desse modo de produção.
De acordo com o pressuposto, portanto, cottons (tecidos de algo-
dão) abarrotam o mercado, de modo que são em parte ou de todo inven-
dáveis ou só vendáveís muito abaixo de seu preço. (Por ora pretendemos
dizer valor, uma vez que no exame da circulação ou do processo de repro-
dução estamos ainda ocupados com o valor, sem nos envolver até agora
com o preço de custo e menos ainda com o preço de mercado.)
Na análise toda fica, aliás, evidente: é inegãvel que em ramos isola·
dos se pode produzir: a mais e por isso de menos em outros; crises par-
ciais, por ronseguinte, podem surgir de produção desproporcionada ( con-
tudo, a produção proporcionada resulta sempre da produção despropor·
cionada na base da concorrência), e uma forma geral dessa produção des-
proporcionada pode ser superprodução de capital fixo ou superprodução
de capital circulante.• Para as mercadorias se venderem por seu valor, a
condiçã'o é conterem apenas o tempo de trabalho socialmente necessário,
e do mesmo modo, para um ramo inteiro de produção do capital, a con-
dição é aplicar-se nesse ramo particular apenas a parte necessária da tota-
lidade do trabalho da sociedade, somente o tempo de trabalho exigido
955
para satisfazér a necessidade social (procura),' Se se aplicar mais, mesmo
que cada mercadoria isolada encerre apenas o tempo de trabalho social-.
mente necessário, o conjunto conterá mais que o tempo de traballio so-
cialmente necessário; da mesma maneira, a mercadoria isolada tem valor
de uso, mas o conjunto das mercadorias, segundo os pressupostos estabe-
lecidos, perde parte de seu valor de uso.
Todavia, não falamos aquí da crise quando é conseqüência da pro-
dução desproporcionada, isto é, da desproporção na repartição do tra-
balho social pelos diversos ramos de produção. Só cabe falar dessa ma·
téría ao se tratar da concorrência entre os capitais. Já se· disse que alta
ou baixa do valor de mercado em virtude dessa despropórçâo tem por
conseqüência retírar-se capital de um ramo e transferir-se para outro, mi-
grar capital de um ramo para outro. 172 Contudo, esse nivelamento já su-
põe como precondição o contrário de si mesmo e pode incluir portanto
crise, e a própria crise pode ser formada da nivelação. Ricardo e outro~
admitem essa espécie de crise.
Ao tratar do processo de produção vimos 173 que todo o afã da pro-
dução capitalista visa apoderar-se da maior quantidade possível de traba·
lho excedente, de materializar po:c;tanto a maior quantidade possível de
tempo de trabalho imediato com dado capital, seja por meio do prolon-
gamento da jornada de trabalho ou da redução do tempo de trabalho ne·
cessário mediante o desenvolvimento da produtividade do· trabalho, com
o emprego da cooperação, da divisão do trabalho, da maquinaria etc'.; em
suma, produzir em grande escala, produzír em massa, portantó. Assim,
está na natureza da produção capitalista produzir sem atender aos limi-
tes do mercado.
No estudo da reprodução supomos, de início, que o método de pro--
dução permanece invariável, e assim permanece durante certo tempo com
acréscimo da produção. O volume das mercadorias produzidas aumenta
aí por se aplicar mais capital e não por se tornar este mais produtivo. Mas
o mero acréscimo quantitativo do capital redunda ao mesmo tempo em
aumento de sua produtividade. Quando esse acréscimo quantitativo é
conseqüência do desenvolvimento da produtividade, esta, ao revés, de no-
vo se desenvolve se se stipõe base capitalista mais larga, ampliada. Aí su·
cede interação. Por isso, a reprodução em base mais ampla, a acumulação,
956
se na origem se configura apenas em ampliação quantitativa da produ-
ção - utilizando-se mais capital nas mesmas condições de produção-, sem-
pre se patenteia, em certo ponto, qualitativamente corno produtividade
maior das condições em que se dá a reprodução. Daí acréscimo do volu-
me de produtos além da proporção simples em que aumentou o capítal
na reprodução ampliada, na acumulação.
Voltemos ao nosso exemplo dos tecidos (morlm).
A paralisação do mercado congestionado de tecidos estorva a re-
produção do fabricante de tecidos. Essa perturbação atinge, antes de mais
nada seus trabalhadores. Esses então passam a ser consumidores em pro-
porção menor, ou até o deixam de ser; dessa mercadoria - tecidos - e de
outras mercadorias que entravam em seu consumo. Sem dúvida necessitam
de tecidos, mas não os podem comprar porque não dispõem dos meios;
estes lhes faltam porque não podem continuar a produzir, e não podem
continuar a produzir porque se produziu demais, porque tecidos de algo-
dão em excesso congestionam o mercado. De nada lhes pode adiantar
o conselho de Ricardo "de aumentar a produção" ou "de produzir outra
coisa". Representam agora parte da superpopulação transitória, da super·
produção de trabalhadores, no caso produtores de tecidos de algodão,
pois há superprodução desses tecidos no mercado.
Mas, além dos trabalhadores diretamente ocupados pelo capital in·
vestido na tecelagem de algodão, essa paralisia na reprodução dos tecidos
de algodão atinge muitos outros produtores. Os de fios, os comerciantes
de algodão (ou plantadores de algodão). construtores de máquinas (produ-
tores de fusos e teares etc.), produtores de ferro, de carvão etc. Todos
eles também teriam a reprodução estorvada, urna vez que a reprodução
dos tecidos de algodão -é condição de sua própria reprodução. Isso ocor-
reria mesmo que não tivessem produzido demais, ou seja, além da me·
dida que a indústria têxtil algodoeira exigia e justificava na prosperida-
'de. Todos esses ramos estorvados têm em comum a circunstância de con-
sumirem sua renda (salário e lucro, este desde que consumido como ren-
da e não acumulado) não nos próprios produtos, mas sim nos produtos
das esferas que produzem artigos de consumo, entre os quais figuram
tecidos de algodão. Assim caem o consumo e a procura desses tecidos,
justamente por haver quantidade exces.siva deles no mercado. E também
a procura de todas as outras mercadorias em que, corno artigos de con-
sumo, se gasta a renda daqueles produtores indiretos de tecidos de algo.
dão. Limitam-se, contraem-se seus meíos de comprar tecidos de algodão
e outros artigos de consumo, por haver demasiada abundância deles no
957
mercado. Isso ainda se estende às outras mercadorias (artigos de consu-
mo). Surge agora de súbito superprodução relativa delas por se terem
contraído os meios de coi:nprá-las e em conseqüência sua procura; Mes-
mo que nessas esferas não se produzisse demais, há nelas agora superpro-
dução.
Se a superprodução ocorreu não só em tecidos de algodão, mas tam-
bém em linhos, sedas e artigos de lã, compreende-se como a supeiprodu-
ção desses poucos artigos indutores gera maior ou menor superprodução
(relativa} geral no mercado todo. De um lado, superabundância de todas
as condições de reprodução e de todas as espécies de mercadorias enca-
lhadas no mercado. Do outro, capitalistas insolventes e massas de traba-
lhadores desprovidos de tudo, na indigência.
Essa :ugumentação, contudo, desenvolve-se em duas direções. Se é
fácil entender que a superprodução em alguns artigos de consumo indu-
tores tem de acarretar o fenômeno da superprodução mais ou menos ge-
ral, nem por isso se entende como pode ocorrer a superprodução nesses
artigos. Pois o fenômeno da superprodução geral decorre da dependên-
cia não só dos traba1hadores diretamente ocupados nessas indústrias, mas
também de todos os ramos industriais que produzem para os produtos
delas os elementos requeridos, o capital constante nos diver:s_os estádios.
Para esses últimos ramos, a superprodução ê efeito. Mas,. donde provém
ela no caso daqueles ramos industria.is? Pois os últimos CÓntinuam a pro-
duzir quando os primeiros prosseguem produzindo, e com essa ,continui-
dade parece assegurado um crescimento geral da renda e, em eonseqüên·
eia, o de seu próprio consumo.
958
tante, e que a produção cresce com mais rapidez que o mercado, ter.se-á
apenas expressado de outra maneira o fenômeno a explicar, isto é, em sua
configuração real e não em sua forma abstrata. O mercado expande-se
ma.is lentamente que a produção, ou no ciclo _que o capital percorre du-
rante sua reprodução - um ciclo em que não se reproduz simplesmente
e sim em escala ampliada, não descreve um círculo e sim urna espiral-,
surge um momento em que o mercado se revela estreito demais para a
produção. Isto se dá no fim do ciclo. Significa apenas; o mercado está
congestionado. Patenteia-se a superprodução. Se a expansão do mercado
tivesse seguido o mesmo ritmo da produção, não haveria nele superabun-
dância, superprodução.
Todavia, basta admitir-se que o mercado tem de acrescer com a
produção, para, em contrapartida, admitir-se mais- uma vez a possibilida-
de de superprodução, pois o mercado tem um espaço geograficamente
definido, o mercado interno evidencia seus limites em confronto com o
mercado que, além de interno, é externo, e este, por sua vez, patenteia-
se limitado em confronto com o mercado mundial, por si mesmo capaz
de expandir-se, mas, por sua vez, limitado a cada momento. Admitir por-
tanto que o mercado tem de se ampliar para não ocorrer superprodução,
é admitir também que ela pode suceder, pois é então possível - uma vez
que mercado e produção são dois fatores com autonomia recíproca - que
a expansão de um rião corresponda à do outro, que os limites do merca-
do não se dilatem com rapidez bastante para a produção, ou que esta pos-
sa com rapidez ultrapassar novos mercados, novas expansões do merca-
do, e assim o mercado acrescído se revela por igual uma barreira como
antes o mais estreito.
Por isso, Ricardo, coerente, nega a necessidade de uma ampliação
do mercado junto com ampliação da produção e crescimento do capital.
O capital todo disponível num país pode também aplicar-se com vanta-
gem nesse país. Por isso, polemiza contra A. Smith, que, se sustentou
seu ponto de vista (de Ricardo), ao mesmo tempo o contestou com seu
costumeiro instinto racional. Smith ainda não conhece o fenômeno da
superprodução, das crises dela oriundas. O que conhecia eram meras cri-
ses de crédito e de dínheiro, que espontaneamente aparecem oom o sistema
de crédito e bancário. Na realidade vê na acumulação do capital acrésci-
mo absoluto da riqueza geral e do bem-estar da nação. Ademais, na mera
expansão do mercado interno dirigida para o mercado externo, o colonial
e o mundial, vê prova de urna superprodução por assim dizer relativa (po-
tencial) (lo mercado interno. Vale a pena transcrever a contestação que lhe
faz Ricardo:
9S9
"Se comerciantes empiegam seus capitais em comércio exterior ou em
nansporte marítimo internacional, sempre o fazem por livre escolha e
nunca por nece.s.sldade. Fazem-no porque nesses ramos seu lucro setá
algo maior que nos negócios internos, Adam Smith observou com acer-
to 'que o desejo de alimentos é limitado em todo ser humano pela pe-
quena capacidade do es_tômago"'
[E por isso que há povos que exportam produtos agrícolas? Como se,
a despeito da natureza, não se possa empregar na agricultura capital de to-
da espécie, para se produzir na Inglaterra, por exemplo, melões, figos, uvas
etc., flores etc., aves e caça etc. E como se as matérias-primas da indústria
não fossem produzidas por capital agrícola1 (Ver, por exemplo, o capital
que os romanos empregavam apenas em piscicultura)],
960
nacional e se emprega noutros países par.t prestar os mesmos serviços'. ..
Mas não poderia essa parte do tlabalho produtivo da Grã-Bretanha se
aplicar na produção de outro gênero de mercadorias, para se comprar
com elas algo objeto de procura major no país? E se isso não fosse
possível, não poderíamos empregar esse trabalho produtivo, embora
com vantagem menor, p:u:a elaborar aqueles bens, objeto de procura
inte.tna, ou pelo menos sucedâneos dele.s'? Se precisássemos de veludo,
não poderíamos tentar produz.í·lo e, caso não o conseguíssemos, não
poderíamos produzir mais tecidos ou outro objeto desejável?
Produzimos meicadorias e com elas compramos outras no exterior por
recebermos quantidade maior" (a diferença qualitativa não e:idstel)
"que a que podemas produzir no país. Privem-nos desses fornecimen-
tos externos, e Jogo passaremos a fabricá-los para nós mesmos.. Mas essa
opinião de Adam Smith diverge de todas as suas doutrinas geraís sobre
a matéria. 'Se um país estiangeiio' " (Ricudo cita agora Smith) "'nos
pode ºfornecer uma mercadoria mais barato do que nós mesmos pode-
mos produz.i-la, é melhor comprá-la deles com fração do produto de
nossa própria atividade industrial, exexcida de maneira que nos dá van-
tagem. A atividade das industrías em geral do pais, por estar sempre
em proporção com o capital neliJ empregado' " (Ricardo também grifa
esta frue) - em propotçiio muito vuiável -, '"não diminuirá pot isso,
mas apenas lhe ca.beiá achar o caminho em que se pode lançar com a
mwor vantagem.'
E ainda: 'Aqueles que dispõem de mais alimentos do que podem oonsu·
mir, estão sempre prontos a trocar o excedente ou, o que dá na mesmo,
o preço dele por comodidades de outra natureza. Depois de satisfeita$
as necessidades limitadas, o que 1esta se emprega para satisfazer aque-
les deseios ínEaciáveir, de&ejos que parecem ultrapassar todos o:s limi-
tes. Para obtex alimentos, os pobres $il esforçam por satisfazer as extra·
vagâncias dos ricos, e para os conseguir de maneira mais segura compe-
tem uns com os outros na barateza e na qualidade do trabalho. O nú-
mero de ~rabalhadores sobe com a quantidade maior de alimentos ou
com o melhoramento e o cultivo crescente do solo; e como a natUJ:e.o
za de sua atividade pmnite a mais extrema subdivisão dos trabalhos,
a quantidade dos materiais que pode transformar aumenta em propor-
ção muito maior que seu número. Daí surge uma procura por toda
espécie de n.atetlaJ que o e~pírito inventivo pode tornar útil ou belo
em construções, vestuários, carruagens e móveis; pelos fósseis e mine.
111is contidos nas entranhas da terra, pelos metais nobres e pelas pedras
preciosas:
"Dessas premissas infere-se que não hd limites à procura nem barreiras
ao emprego do capital, enquanto este proporciona lucro, e que, por
mais abundante que se torne o capital, não !Já outra raüo suficiente
para a queda do lucro a não ser a alta dos salários. Ademais, pode-se
acrescentar que a única causa suficiente e constante da elevação dos sa-
lários é a dificuldade crescente de prover de alimentos e meios de sub-
sistência o número ascendente dos trabalhadores" (Lc., pp. 344-348).
961
14. A contradição entre o desenvolvimento irresistível
das forças produtivas e a Jimitação do consumo
redunda em superprodução. O caráter apologético
da teoria da impossibilida4e da superprodução geral.
962
o produto excedente em capital. ou pelo menos só o faziam em escala di·
minuta. (A difusão entre eles do entesouramento em sentido estrito evi·
dencia quanto produto excedente ficava em completa ociosidade.) Trans·
formavam grande parte do produto excedente em despesas improdutivas
como obras de arte, religiosas ou públicas. A produção se destinava me-
nos ainda a desencadear e desenvolver as forças produtivas materiais - di-
visão do trabalho, maquinaria, aplicação das forças naturais e da ciência
na produção privada. De modo geral nunca iam de fato além do trabalho
artesanal. A riqueza que criavam para consumo particular era por isso re·
lativamente pequena e só parecia ser grande por se ter acumulado em pou-
cas mãos, que aliás não sabiam o que fazer dela. Na Antigüidade, se não
havia superproduç!io, havia superronsumo_ dos ricos que na fase decaden·
te de Roma e da Grécia degenerou em dissipação desvairada. No meio
estavam os poucos povos comerciantes que viviam em parte às custas de
todas aquelas nações em substância pobres. O que constitui a base da su·
perprodução moderna é, de um lado, o desenvolvimento incondicional
das forças produtivas e, portanto, a produção em massa apoiada na mas-
sa de produtores confinados no domínio dos meros meios de subsistên-
cia, e, do outro, os limites impostos pelo lucro do capitalista.
Toda argumentação de Ricardo etc. contra a superprodução etc.
baseia-se em considerarem a produção burguesa como modo de produ·
ção onde oão existe diferença entre compra e venda - troca direta de
produtos -, ou como produção social, como se a sociedade, de acordo
com um plano, repartisse os meios de produção e forças produtivas no
nível e na medida do requerido para satisfazer suas diferentes necessída-
des, e assim se desloca para cada ramo de produção a cota exigida do ca·
pital social para satisfazer a necessidade a que ele corresponde. Essa ficção
origina-se sobretudo da incapacidade de conceber a forma específica da
produção burguesa, o que, por sua vez, decorre do preconceito que se
aferra à produção burguesa como a produção por excelência. E como o
sujeito que acredita em deternúnada religião e considera a sua a religião
por excelência, e as demaisJalsas.
Ao revés, caberia antes perguntar: como, na base da produção capi·
talista - onde cada um trabalha para si e o trabalho específico tem de se
configurar ao mesmo tempo em seu oposto, trabalho abstrato, geral e, nes·
sa forma, trabalho social - pode ser possível que surjam as necessárias
compensações e correspondências entre os diferentes ramos de produção,
suas dimensões e as proporções entre eles, a não ser mediante superação
contínua ·de wna desarmonia constante? Isso ainda se adnúte quando se
963
trata d.os .nivelamentos da concorrência, p~is estes supõem haver algo a
ajustar, e que portanto a harmonia sempre resulta apenas do movimento
que supera a desannonia existente. .
Ricardo, por isso,_ admite a superabundância para mercadorias iso-
ladas~ Supõe-se impossível apenas uma superabundância simultânea, ge-
ral do mercado. Por isso, não se nega a possibilidade da superprodução
num ramo particular qualquer da produção. A impossibilidade conside-
rada da superprodução refere-se à simultaneidade do fenômeno em todos
os ramos e por isso à congestão geral do mercado (a expressão não deve
ser interpretada literalmente, pois a superprodução, em momentos em
que é geral, em vários ramos é sempre mero resultado, conseqüência da
superprodução dos artigos comerciais indutores; é sempre relativa, super-
produção por haver súperprodução noutros ramos).
A apologética transforma isso no contrário. Há superprodução dos
artigos comerciais indutores, os únicos nos quais se revela a superprodu-
ção ativa - são em geral os artigos que só podem ser produzidos em mas-
sa e industrialn'l.ente (inclusive na agricultura) -, por haver superprodu-
ção nos artigos em que se manifesta superprodução relativa ou passiva.
Por isso, existe superprodução apenas porque a superprodução não é uni-
versal. A relatividade da superprodução - a circunstância de a superpro-
dução efetiva em algumas esferas gerar superprodução em ·outras - fica
assim expressa: não há superprodução universal, porqui:, se a superpro-
dução fosse universal, todos os ramos de produção manteriam entre si a
mesma relação; assim, superprodução universal equivale a: p~_odução pro-
porcionada, o que a superprodução exclui. Com isso quer-se argumentar
contra a superprodução universal. E como uma superprodução universal
no sentido absoluto não seria superprodução, mas tão-só desenvolvimen-
to maior que o habitual da força produtiva em todos os ramos de produ-
ção, pretende-se que não exista a superprodução efetiva, que justamente
não é essa superprodução que não chega a existir, anulando-se a si mesma.
Embora a efetiva só exista por não ser a universal.
Essa mísera sofística, examinada mais a fundo, reduz-se a isto: se
ocorre, digamos, superprodução de ferro, tecidos de algodão, de linho,
seda, artigos de lã etc., não se pode, por exemplo, sustentar que se pro-
duziu carvão de menos, e sucede por isso aquela superprodução; pois tal
superprodução de ferro etc. inclui superprodução similar de carvão, co-
mo por exemplo a superprodução de tecido, a de fio. (Possível seria su-
perprodução de fio em relação a tecido, de ferro em relação a maquinaria
etc. Isso seria sempre superprodução relativa de capital constante.) A ques-
964
tão portanto não pode ser a subprodução dos artigos cuja superprodução
está implícita, por entrarem como elemento, matéria-prima, matéria aUJti-
liar ou meios de produção nos artigos (a "mercadoria que se pode produ-
zir em excesso e da qual pode ha.ver no mercado tal superabundância que
não se recupere o capital nela despendido" 174) cuja superprodução posi-
tiva é justamente o fato a explicar. Trata-se, ao contrário, de outros arti-
gos que pertencem diretamente a esferas de produção não subsumidas
aos artigos comerciais indutores, produzidos em excésso segundo o pres-
suposto, ou que não fazem parte das esferas cuja produção, por constituir
a produção intermédia para aqueles art~gos indutores, tem pelo menos
de avançar tanto quaÍl.to a das fases finais do produto, embora não houves-
se obstáculo para que ela tivesse avançado mais e tivesse ocorrido uma
superprodução dentro da superprodução. Por exemplo, embora se tenha
de produzir carvão bastante para manter em movimento todas as indús-
trias onde o carvão é condição necessária de produção, isto é, esteja a
superprodução de carvão embutida na superprodução de ferro, fio etc.
(embora só se produzisse carvão de modo proporcionado à produção de
ferro e fio), é também possível que se produzisse mais carvão que o ex!-
gido pela-superprodução de ferro, fio etc. Isso não só é possível, mas mui-
to provável. E que a produção de carvão e fio e das demais esferas que
provêem apenas a condição ou a fase preliminar do produto a concluir
noutra esfera, não se governa pela procura imediata, pela produção ou re-
produção imediatas, e sim pelo grau, medida e proporção em que elas
se estão expandindo. E claro que nesse cálculo pode haver um erro para
mais. Em conseqüência, nos outros artigos como por exemplo pianos,
pedras preciosas etc. não se produziu bastante, houve subprodução. (Tam-
bém há sem dúvida superprodução em que ·o excesso do~ artigos não-
indutores não resulta de superprodução, mas, ao contrário, a subprodu-
ção é causa da superprodução, como por exemplo más colheitas de tri-
go ou de algodão etc.)
O absurdo daquela sofística se patenteia quando colocada na mol-
dura internacional, como o fizeram Say 175 e outros depois dele. Assim,
por exemplo, a Inglaterra não produziu a mais e sim a Itália produziu a
174. Ver neste volume pp. 935, 939 e 941.
175. Marx alude às observações de Say em Letters a Mr. Malthus, Paris-Londres,
1820, p. 15. Say diz aí que as mercadorias inglesas saturaram o mercado italiano por-
que era insufieiente a produção de mercadorias iWianas. Essas observações cita-as a
publicação anônima An inquiry into those principies..• , Londres 1821, p. 15, e Marx
as recolhe em seu caderno de exeertos XII, p. 12. Ver no volume I, p. 250, a crítica
de Marx à tese de Say: "A parada nas vendas de vários produtos decorre da escassez
de vários outros".
965
menos. Se a Itália tivesse (1) capital suficiente para repor o capital inglês
para ela exportado na fonna de mercadorias, e (2) empregado seu caP,ital
de modo a produzir os artigos peculiares requeridos pelo capital inglês
para repor a si mesmo e também à renda (revenue) dele decorrente, não
ocorreria superprodução. Por conseguinte, o fato da superproduçiio real
que existe na Inglaterra, em relação à produção real na Itália deixaria
de existir, para existir apenas o fato da subproduçáo imaginária na Itália,
imaginária por se pressupor um capital e um desenvolvimento das for-
ças produtivas, na Itália inexistentes, e ainda a precondição, por igual
utópica, de se ter aplicado esse capital, inexistente na Itália, como seria
necessário para se complementarem oferta inglesa e procura italiana, pro-
dução inglesa e italiana. Noutras palavras, isso significa apenas: não se da·
ria superprodução 8e procura e oferta se correspondessem; se o capital
se repartisse em todos os ramos de produção em proporção tal que a pro-
dução de um artigo implicasse o consumo do outro, seu próprio consu-
mo, portanto. Não haveria superprodução se não houvesse superprodu-
ção. Mas, uma vez que a produção capitalista só pode expandir-se à solta
em certos ramos e em dadas condições, seria de todo ímpossível produ-
ção capitalista se a produção tivesse de se desenvolver em todos. os ramos
de maneira simultânea e propotcionada. Por ocorrer superpr()d~ção abso·
luta naqueles ramos, ocorre também superprodução relativa nos ramos
onde não se produziu em excesso.
Assim, aquela explicação da superprodução num domínio pela sub-
produção em outro significa apenas que não haveria sup~rprodução se
houvesse produção proporcional, ou se procura e oferta se ·correspondes-
sem, ou se todos os ramos contivessem iguais possibilidades de produção
capitalista e de sua ampliação - divisão do trabalho, maquinaria, expor-
tação para mercados distantes etc., produção em Il\llSSa -, se todos os
países que comerciam entre si possuíssem capacidade igual de produção
(e precisamente produção diversa e complementar). Sucede, portanto,
superprodução porque não se materializam todos esses desejos irrealizá-
veis. Ou de maneira ainda mais abstrata: não haveria superprodução num
domínio se houvesse superprodução em todos os domínios. Mas o capi·
tal não é bastante grande para produzir em excesso de maneira tio uni·
versal, e por isso ocorre superprodução parcíal.
Observemos a quimera mais a fundo:
Admite-se que em cada ramo pál'ticukrr pode suceder superprodu-
ção. A única circunstância que poderia impedir a superprodução simul·
tânea em todos os ramos é, segundo se alega, o fato de mercadoria se tro·
966
car por mercador.ia; assim, recorre-se às condições pressupostas na troca
direta de produtos. Mas tal escapatória logo se aniquila porque o comér-
cio não é troca direta de produtos, e por isso o vendedor de uma mer-
cadoria não é necessariamente ao mesmo tempo o comprador de outra.
Todo esse subterfúgio baseia-se em suprimir o dinheiro e a circunstância
de não se tratar da troca de produtos e sim da circulação de mercadorias,
para a qual é essencial a dissociação da compra e venda.
(A circulação do capital encerra em sí mesma possibilidades de per-
turbação. Na reconversão do dinheiro em suas condições de produção,
por exemplo, trata-se de tcansfonnar o dinheiro de novo nos mesmos
valores de uso (segundo a espécie), e aínda - o que é essencial para se
repetir o processo de reprodução - de se poderem obter de volta esses
valores de uso l! seu valor precedente (abaíx:o deste é naturalmente me-
lhor). Des~es elementos de reprodução, a parte considerável consistente
em matérias-primas pode ter os preços elevados por duas razões: primeiro,
se QS instrumentos de produção, em dado prazo,· aumentam com mais
rapidez que aquela em que é possível obter matérias-primas; segundo, even-
tos resultantes da natureza variável das sazões. Por isso, as condições me·
teorológícas (o tempo) desempenham, conforme observa com acerto
Tooke 176 • papel tão importante na indústria moderna. (Isso se estende
aos meios de subsistência em relação aos salários.) A reconversão do di-
nheiro ern mercadoria pode esbarra~ em dificuldades e gerar possibilidades
de crise, do mesmo modo que a transformação da mercadoria em dinhei-
ro. Quando se estuda a circulação simples, e não a do capital, não se en·
contram essas dificuldades.) (Há ainda wna série de fatores, condições,
possibilidades de crise, que só podem ser estudados examinando-se situa-
ção mais concreta; sobretudo a competição entre os capitais e o crédito.)
Nega-se a superprodução de mercadorias, mas admite-se a super-
produção de capital. Ora, o próprio capital consiste em mercadorias ou,
se consiste em dinheiro, de qualquer modo tem de se reconverter em mer·
cadorias para poder funcionar como capital. Que significa portanto super-
produç./io de capital? Superprodução das quantidades de valor destinadas
a gerar mais-valia (ou, segundo o conteúdo material, superprodução de
mercadorias destinadas à reprodução) - isto é, reprodução em escala exa-
gerada, o que é o mesmo que superprodução incondicional.
176. Th. Tooke, A hisroTy of prices, and of the s.tate of che circulatlon, volumes
INI. Londres, 1838-1857. Tookc fala sobre as condições do tempo em vários trechos
de sua obra, sobretudo na parté primeira do volume lV, que apareceu em l 848.
967
Ma.is a fundo, ísso significa apenas que se prod'l.iz demais com o obje-
tivo de enriquecimento, ou parte excessiva do produto não se destina a
consumir-se como renda (revenue) e sim a fazer mais dinhe'iro (acumular·
se); não a satisfazer as necessídades particulares de seu proprietário 'e sim-
ª gerar-lhe a riqueza social abstrata, dinheiro e mais poder sobre trabalho·
alheio, capítal, ou seja, aumentar esse poder. E o que diz. um lado. (Ricar-
do nega isso. 177 ). E como é que o outro lado explica a superprodução das
mercadorias? Com a circunstância de a produção não ser bastante diver-
sificada, de detenninados objetos de consumo não terem sido produzi-
dos em quantidades satisfatórias. E claro que não se trata aí do consumo
industrial, pois o fabricante que produz tecido de linho em excesso cau-
sa por isso acréscimo necessário da procura de fio, maquinaria, trabalho
etc. Trata-se portanto do consumo privado. Produziu-se tecido de linho
em excesso, mas talvez laranjas de menos. Antes não se admitia a existên·
eia do dinheiro, para não se configurar a dissociação entre compra e ven-
da. Agora não se admite a existência de capital, para transformar o capi-
talista em gente que efetua a simples operaç~o M-D·M e produz para o
consumo individual, não como capitalista, com o objetivo de enriquecer,
de reconverter parte da mais-valia em capital. Mas díz.er que existe ~pi
tal demais significa apenas que demasiado pouco se consome e se pode
consumir como renda (revenu{:) nas condições dadas. (Sismondi.)1'18 Por
que então o produtor de tecido exige do produtor de c~reais que consu-
ma mais tecido, ou o segundo exige do primeiro que co~suma mais cereais'!
Porque o próprio produtor de tecido não realiza parte maior de sua renda
(mais-valia) em tecido, e o agricultor, em cereais? Para cada um em parti-
cular, admite-se que a isso se opõe a necess.idadê de ca-pitaliiar (sem se con-
siderar os limites das necessidades). Mas não para todos tomados em conjunto.
(Aqui abstraímos por completo do fator das,crises consistente em
serem as mercadorias reproduzidas mais barato do que foram produzidas.
Daí depreciação das mercadorias disponíveis no mercado.)
Todas as contradições da produção burguesa se patenteiam coleti-
vamente nas crises gerais do mercado mundial, e de maneira dispersa, iso-
lada, parcial nas crises restritas (restritas no conteúdo e na extensão).
968
A superprodução tem por condição, de maneíta específica, a lei
geral da produção do capital: produzir na medida das forças produtivas
(isto é, da possibilidade de desfrutar a maior quantidade possível de tra·
balho com dada quantidade de capital), sem considerar os limites exis-
tentes do mercado ou as necessidades solvíveis,· e efetuar isso por meio
da ampliação constante da reprodução e da acumulação, fazendo em c.on-
seqüêncía a reconversão constante da renda (revenue) em capital, en-
quanto, em contraposição, a massa dos produtores ·fica limitada e tem de
ficar limitada ao nível médio de necessídade de acordo com a natureza
da produção capitalista.
"A riqueza" (o que para Ricardo significa valores de uso) "de um país
pode aumentar de duas mane.iras: pelo emprego de porção maior da ren-
970
da para manter o trabalho produtivo, o que não só acres<..-e a quantidade,
mas também o 11t1lor da massa de mercadorias; ou, sem emprego de quan-
tidade adicional de trabalho, por tornar-se mais produtiva a mesma
quantidade - o que acrescerá a abundância rna1 não o valor da$ mer-
cadorias. ·
No primeiro caso, um país não só fica:rá tico, mas aumentará o valor de
sua riqueza. Tornar-se-á rico pela parcimônia, reduzindo suas despesas
em objetos de luxo e fruição, e empregando essas economia.I na repro·
duçiio.
No segundo caso, não haverá necessariamente despesas reduzidas em
objetos de luxo e fruição, nem quantidade acrescida de trabalho pro.
dutiro empregado, mas com o mesmo trabalho produzir-se-á mais; a
dqueza crescerá, mas não o valor. Desses dois modos de aumentar a ri·
queza, o último tem de ser pxeferido, uma vex que produz o mesmo
efeito sem que os indivíduos se privem de fru:ições ou as reduzam, o
que nunca pode deixar de estar presente no primeiro. Capital é aquele
segmento da riqueza de um pa(s o qual se emprega com vistas à produ-
çáo futura e pode acrescer como a riqueza. Um capital adicional será
por igual eficaz para produzir riqueza futura, quei obtido por meio
de aperfeiçoamento na habilidade técnica e na maquinaria, quer obti-
do por meio do emptego reprodutivo de mair ,.enda; pois a riqueza sem-
pre depende da quantidade de mercadorias produzidas, sem se levar
em conta a facilidade com que se pôde conseguir os in$trumentos.em-
pregados na produção. Certa quantidade de roupa.<: e alimentos susten-
tará e empregará o mesmo número de pessoas, e por isso conseguirá
que se faça a correspondente porção de trabalho, seja aquela quantida-
de produzida pelo trabalho de 100 ou 200 pessoas. Mas seu valor dupli-
cará se 200 pessoas tiverem sido empregadas para produ:zi-la" (pp. 327,
328).
971
lhor qualidade e por isso a menor custo. Nesse caso, a acumulação não
depende de subir a taxa de lucro, nem de parte maior da renda. em virtu·
de da parcimônia, transformar-se em capital, nem de parte menor da rên·
da se despender de maneira improdutiva por baratearem as me1cadorias
em que se gasta a renda; Depende de o trabalho tomar-se roais produtivo
nos ramos de produção que produzem os elementos do próprio capital,
de baratearem, portanto, as mercadorias que entram no processo de pro·
dução como matéria-prima, instrumento etc.
Se aumentou a produtividade do trabalho com a produção maior
de capital fixo em relação ao capital variável, subirá tanto o volume quan·
to o valor da reprodução, uma vez que parte do capital .fixo entra na re·
produção anual. Isso pode ocorrer ao mesmo tempo com o crescimento
da população e o acréscimo do número de trabalhadores empregados,
embora esse número decresça proporcionalmente, confrontado com o
capital constante que movimenta. Ocorre assim crescimento tanto de
riqueza quanto de valor, e movimenta-se volume maior de trabalho vivo,
embora o trabalho se tenha tornado mais produtivo e tenha diminuído o
volume de trabalho em relação ao volume das mercadorias produzidas.
Por fim, não se alterando a produtividade do trabalho, capital variável
e constante podem aumentar de; acordo com o ritmo anual do acrésci·
mo natural da população. Nesse caso também se acumula capital em vo-
lume e em valor. Esses últimos pontos, Ricardo não os leva ~rrí conta.
No mesmo capítulo diz Ricardo:
(por certo que Sim, uma vez que seu trabalho pretéríto entra na nova re-
produção em escala muito maior),
972
"pois todas as coisas sobem ou descem de valo1, conforme a facilidade
ou dificuldade de produzi-las ou, em outras palavras, na proporção da
quantidade de trabalho empregada para produzi-las."
973
Na marcha do desenvolvimento, a produção tanto barateia quanto se diver·
sifica.
Capitule IX ''Taxes on raw produce ·:
974
Segundo o prisma capitalista, tudo aparece invertido. A magnitude
da população trabalhadora e o grau da produtividade do trabalho deter·
minam tanto a reprodução do capital quanto a da população. Ali a coisa
aparece ao revés: o capital detennina a população.
Capítulo IX "Tuxes on Raw Produce':
975
suprida po.r países mais populosos, essa tendência aumentará de mui-
to o preço do trabalho. À medida que aquelas terras se tornam popu·
losas e nelas se cultiva solo de pior qualidade, diminui a tendência a'
acréscimo de capital, pois o produto que robra, depois de satii/eitas
az necessidades da população existente, tem necewzriamente de estar
em proporção c_om a facilidade de produção, quer dizer, com o núme-
ro menor de peswas empregadas nu produção. Embora, então, seja
mais pt"ovável que, na~ condições mais favoráveis, a capacidade de pre>-
dução seja aínda maiot" que a da população, isso não continuará assim
por muito tempo; pois, sendo a terra limitada em quantidade e dífe.·
tenciada em qualidade, com cada porçãç acrescida de capital nela em-
pregada, decai a taxa de pt"odução, enquanto a capacidade da popula-
ção continua sempre a mesma" (pp. 92, 93).
976
to à totalidade do capital da sociedade, é idêntico ao montante global
da mais-valia, mas, para os capitais particulares nos diferentes ramos, po-
de divergir muíto do montante de mais-valia que eles produzem. Se con-
sideramos a acumulação do capital em sua totalidade, o lucro é igual à
mais-valia
mais-valia, e a taxa de lucro =---·-, ou seja, a taxa de lucro é igual
capital
à mais-valia calculada para cada 100 de capital.
Dada a taxa de lucro (em percentagem), o montante total de lu-
cro depende da rnagr.itude do capital adiantado, por conseguinte tam·
bém a acumulação, desde que determinada pelo lucro.
Dada a soma do capital, o montante global de lucro depende do
r.ível da ~axa de lucro.
Por isso, capital pequeno com alta taxa de· lucro pode proporcio-
nar lucro global maior que capital maior com taxa de lucro baixa.
Admitamos;
1
Capital Taxa de lucro Lucro total
%
100 10 10
100 :X 2 = 200 10/2 ou 5 10
100 X3 = 300 10/2 ou 5 15
l 00 X 1 1/2 = 150 5 7 1/2
11
100 lO 10
2X100 = 20Ó 10/2 1/2 = 4 8
=
2 l /2 X 100 250 4 10
3 X 100 = 300 4 12
III
500 10 50
5000 1 50
3 ººº
10000
1
1
30
100
977
se
a 10/2% ou 5% dão por igual 10. Noutras palavras: a taxa de lucro de-
cresce na mesma proporção em que o .capital se acumula (cresce), fica
invariável o montante global de lucro.
Se o decréscimo da taxa de lucro for mais rápido que o apréscimo do
capital, diminuirá o montante do lucro. 500 a 10% dão lucro total de 50.
Mas o sêxtuplo, isto é, 6 X 500 ou 3 000 a 10/10% ou 1%, dá apenas 30.
Por Illl'l, se o capital ~ oom mús rapidez do que decresce a ta-
xa de lucro, o montante do lucro sobe, embora a taxa de lucro dinúnua.
Assim, 100 a lucro de 10% dá lucro global de 10. Mas 300 (3 X 100) a
4% (quando a taxa de lucro diminuiu portanto 2 1/2 vezes) dão lucro
global de 12.
Agora, as asserções de Ricardo.
Capitulo VI "On Profits".
978
"Mais uma vez tenho de observar que a taxa de lucro cairá Com muito
mais rapidez... pois sendo o valor do produto o que especifiquei nas
circunstância$ supostas subirá muito o valor do capital do arrendatárío,
por consistir necessariamente em muitas das mercadorias que subiram
de valor. Antes de o trigo poder subir de 4 libras para 12, o vo.lor de
troca do capital do arrendatiirio provavelmente duplicará e valerá 6 000
líbras em vez de 3 000. Se seu lucro fosse 180 libras, ou 6% do capital
original, nessa ocasião o lucro não ultrapassaria na realidade uma taxa
de 3%, pois 6 000 llb.ras a 3% proporcionam 180 libras; e nesS11r condí·
ções noPO arrendo.tário só poderia entrar na agricultura com 6 000 li·
&rosno bolso" (p. 124).
"Esperaríamos também que, embora diminua a taxa de· lucro do capi·
tal em conseqtiêncía da acul?Wlação de capital na terra e da alta do sa·
lário, ainda aumente o montante global dos lucros. Assim, se supomos
que, com acumulações repetidas de 100 000 libra~, a taxa de lucro cai
de 20 por cento para 19, 18, 17, deelínando sempre, seria de esperar
que o montante total de lucro recebido pelos donos sucessivos do ca-
pital subisse sempre; que seria maior com o capital de 200 000 libras
que com o de 100 000 e maior ainda eom o de 300 000, desse modo
continuando a aumentar com todo acréscimo de capital, embora de-
cresça a taxa. Eslill progreasão, contudo, só é verdadeira durante certo
tempo. Assim, 19% de 200 000 libras é mais do que 20% de 100 000
libras; 18% de 300 000 libras é mais do que 19% de 200 000; mas, de-
pois de o capital se ter acumulado num montante bem grande e de os
luetos terem caído, a acumulação posterior diminui o global dos lucros.
Admitamos portanto seja a acumulação 1 000 000 de libras, e o lucro
de 7%; o montante global de lucro será de 70 000 libras; se for feita
uma adição de 100 000 libras de capital ao milhão, e o lucro cair para
6%, os donos do capital receberão 66 000 libras -ou menos 4 000 libras,
embora o, montante global do capital tenha aumentado de 1 000 000
de libras para 1100 000.
Todavia, não pode haver acumulaçiio de Cllpital, enquanto o capital
ainda proporcionar um lucro qualquer, sem proporcionar acréscimc
de produto e também acréscimo de valor. Com o emprego de 100 000
libras de _capital adicional, nenhuma parte do capital antigo se toma
menos produtiva. Tem de crescer o produto da terra e do trabalho
do país e subirá seu valor, em virtude do valor da adição feita à quanti·
dade anterior de produção e ainda em virtude do novo valor dado ao
produto total da teua, com a dificuldade acrescida de produzir sua
última porção. Mas, quando a acumulação de capital se toma muito
grande, não obstante o valor acrescentado, será este distribuído de
modo que valor menor que antes será incorporado aos lucros, enquan·
to aumentará o destinado à renda fundiáría e salários" (pp. 124 a 126).
"Embora se produza valor maior, porção maior do que resta desse va-
lor, depois de ser paga a renda fundiária, consomem-na os produtores,
e é isso - e apenas isso - que determina o lucro. Enquanto a tetta dá
frutos abundantes, os salários podem ter alta temporáda, e os produ·
tores podem consumir mais que sua proporção costumeiia; mas o estí-
mulo que assim se dará ao aeréscimo da população submeterá rapida-
mente o~ trabalhadore:; a seu con$U»IO usual. Mas q_uando se empreen-
de o cultivo de te.rras pobres, ou quando se dispendem mais capital e
trabalho em terras velhas com menor rendimento de produtos, o efei·
979
to tem de ser permanente" (p. l27). "Os efeitos da acumulação serão por-
tanto diferentes nos diversos países e dependerão sobretudo da fertilida-·
de da terra. Por mais extenso que seja um país onde as ten:as são de pobre
qualidade e onde se proíbe a importação de alimentos, grandes reduções
na taxa de lucro e o ,rápido aumento da renda fundiária acompanham as
mais moderadas acumulações de capital; e, ao contrário, um país pequeno
porém fértil, especialmente se permite a livre importação de alimentos,
pode acumular grande montante de capital sem decréseimo considerável
da taxa de luc~o e sem grande alta na renda fundiária" (pp. 128, 129).
Em virtude também de impostos (cap. Xll "Land-Tax"), ocon:e "que
não sobra produto excedente bastante para incentivar os esforços da-
queles que us.ualmente aumentam o capital do Estado com suas pou-
panças" (p. 206).
"Sô há um caso" (cap. XXI "Effects of accumulation on profits and
interest") e de caráter temporário, no qual queda da taxa de lucro po-
de acompanhar a acumulação de capital com preço baixo de alimentos;
é quando os fundos para a manutenção do trabalho aumentam com
muito mais rapidez que a população; os salários estarão então altos,
e os lucros, baixos. Se todo mundo renunciasse ao uso de artigos de
luxo e se concentrasse na acumulação, poder-se-ia produzir uma quan-
tidade de meios de subsistência para .os quais não haveria consumo
imediato. Para essas mercadorias limitadas em número poderia sem
dúvida existir ruperabundância geral, e em conseqüência poderia não
haver procura de quantidade adicional de tais mercadorias, nem lucros
relativos a emprego de mais capital. Os seres humanos, .se cessassem de
consumir, cessariam d~ produzir" (p. 343).
Até aqui vimos o que diz Ricardo sobre acumulaçãó e sobre a lei da
queda da taxa de lucro. :
980
Capítulo XVIII
Ricardo: Temas diversos e conclusão
(John Barton)
981
cedente. Só nessa medida é necessário ..o que chamamos de tempo de tra-
balho necessário. Desde que não tenha esse resultado, é supérfluo. e tem
de ser suprimido.
E objetivo permanente da produção capitalista criar mais-valia má-
xima ou produto excedente máximo com o mínimo de capital adianta-
do; na medida que não obtenha esse resultado com trabalho em excesso
dos trabalhadores, tende o capital a procurar produzir dado produto com
o mínimo possível de dispêndio, com economia de força e de custos. E as-
sim a tendência econômica do capital ensina a humanidade a economizar
suas forças e a alcançar o objetivo produtivo com o gasto mínimo de meios.
Nessa concepção, os próprios trabalhadores aparecem como aquilo
que são na produção capitalista - simples meios de produção, não um
fim em si mesmos, nem o objetivo da produção.
A renda {incvme) líquida não é determínada pelo valor do produ-
to total e sim pelo excesso do valor do produto total acima do valor do
capital adiantado, ou pela magnitude do produto excedente em relação
ao produto total. Se aumenta esse excedente, atinge-se o objetivo da pro·
dução capitalista, embora decresça o valor ou, junto com o valor, a quan-
tidade total do produto.
Ricardo revelou essas tendências de maneira coerente. e sem pieguis·
mos. Daí vociferarem contra ele os filisteus filantrópicos.. ·
Ao observar a renda {income) líquida, Ricardo de novo comete
o erro de reduzir o produto total a renda {revenue) - salário, lucro e ren·
da fundiária (rent) -, e de abstraír do capital constante a repor. Mas aqui
omitiremos isso.
Capítulo XXXII "Mr. Malthus's Opinions on rept ':
982
E no capítulo XXVI diz Ricardo:
"Só das !luas últimas partes podem ser feitas deduções pan impostos
ou para poupanças; a primeira, se mod~11da, consiite sempre nas de:rpe-
$11t necl!$!/lirias de produção. "
983
ça o fundo para manter o trábalho, uma vez que sob o título de lucro,
mais caberá à classe produtiva, e· menos, sob o nome de 1enda fundiária,
à c/aase intprodutiWJ" (p. 317).
"Renda fundiária é criação de valor ... ffia5 não de riqueza. Se, em virtu-
de da dificuldade de produz.ir uma porção qualquei de trigo, o preço
dele subir de 4 para 5 libras por quarter, um milhão de quarteis valerá
5 milhões de libras em vez de 4 ... A Sociedade possuirá valor maio.r, e
nesse sentido renda fundiária é criação de valm, Mas esse valor é nomi-
nal, ao não adicio1131 coisa alguma à riqueza, isto é, aos meios de sub-
sistência, às coisas cômodas e às agradáveis da sociedade. Como dan·
tes, te.remos precisamente a mesma quantidade de mercadorias e não
mais, e o mesmo milhão de quarte:rs de trigo; contudo, o efeito de ser
o ttigo cotado a S libras por quarter, em vez de 4, é o de tran$feriT uma
porção do valor do trigo e das mercadorias, das mãos dos donos ante·
riores para as dos proprietários das terras. Assim, 1enda fundiáría é cria-
ção de valor, mas não de riqueza; 114da adiciona aos recunrosde um pafs"
(pp. 485, 486).
9&4
B. Maquinaria: Influência das. máquinas na
situação da classe trabalhadora, segundo
Ricardo e Barton
1. As idéias de Ricardo
985
quina por 5 000. Mas este é precbamente o caso de todos os fabrican~s
e capitalistas: a alta do salário a'tinge-os a todos. Se por isso o constru-
tor aumentar o preço das máquinas em conseqüência da alta do salário,
quantidade ex:traordináría de capital será empregada na construção
deías, até que seu preço proporcione a taxa comum de lucro. Vemos
portanto que máquinas não sobem de preço em v.irtude de altado salirio.
Todavia, o fabricante que, numa alta geral de salário, pode recorrer a
uma máquina que não aumente os custos de produção de sua merca-
doria desfrutará de vantagens especiais se puder manter inalterado o
preço de suas mercadorias; mas ele, romo já vimos, será obrigado a
baixar o preço de suas mercadorias, ou capital fluirá para seu ramo
até seus lucros caÍiem ao nível geral. À!' máquinas portanto beneficiam
o povo em geral; etses 11Kentes mudos &W sempre o produto de muito
menos trabalha do que a que despedem, mesma quando thn o memio
valor monetdrio" (pp. 3840).
Essa idéia está certa. Ao mesmo tempo responde àqueles que acre-
ditam que os trabalhadores despedidos pelas máquinas encontram empre·
go na própria fabrícação delas, ponto de vista pertinente a uma· época
em que a oficina mecânica ainda se baseava de todo na divisão do traba-
lho e ainda não se chegava a empregar máquinas para construir máquinas.
Seja o salário anual de um trabalhador 50 libras; o de 100 será 5 000
libras. Se esses 100 trabalhadores forem substituídos por uma máquina
que também custe 5 000 libra.S, essa máquina tem de ser o. produto de me-
nos de 100 trabalhadores. E que encerra, além de trabalho pago, traba-
Jho não pago, que constitui justamente o lucro do fabricante. Se fosse
o produto de 100 trabalhadores, conteria apenas trabalho pago. Se a ta-
xa de lucro fosse de 10%, das 5 000 libras cerca de 4 545 répresentariam
o capital adiantado e cerca de 455 o lucro. A. 50 libras, 4 545 só represen-
tariam 90 9/10 trabalhadores.
Mas o capital de 4 545 libras não representa apenas capital variável
(o diretamente despendído em salário). Representa também o desgaste
do capital fixo empregado pe!o construtor da máquina e a matéria-prima.
A máquina que custa 5 000 libras e substitui 100 homens cujos salários
montam a 5 000 libras, representa portanto o produto de bem menos
que 90 homens. Também só pode ser empregada com vantagem se ela
(ou pelo menos a sua fração que todo ano entra. com juros no produto,
isto é, no valor deste) é o produto (anual) de muito menos homens que
os que substitui.
Cada elevação do salário aumenta o capital variável que tem de ser
adiantado, embora o val.or do 'PfOdUto (uma vez que o número de traba·
lhadores que o capital variável movimenta permanece o mesmo) - desde
que esse valor seja igual a capital variável+ trabalho excedente - não va-
rie; não se altera o valor produzido pelo capital variável.
986
b) Ricardo: Influência dos aperfeiçoamentos da produção
sobre o valor das mercadorias; Concepçã-0 errônea do fundo
de trabalho disponível para trabalhadores despedidos.
987
nha noutra mercadoria já existente ou criada, uma vez que se liberou no-
vo fundo de consumo.
Desse segmento da renda (revenue} despendido antes em farinha e
agora liberado para qualquer outra aplicação, por se ter reduzido o pre·
ço da farinha, pode-se dizer que era "destinado'' - pela economia total
da sociedade - a detenninada coisa e que agora se liberou dessa "desti-
nação"_ E como se novo capital se tivesse acumulado. E assim o empre·
go de maquinaria e de fatores naturais libera capital e capacita "neces&-
dades" antes "latentes" a se satisfazerem.
Em contraposição, é errado falar dos "fundos ·destinados a man-
ter" os dez homens que perderam o emprego em virtude da nova inven-
ção. E que o primeiro fundo economizado ou criado pela invenção é o
segmento da renda (revenue) com o qual a sociedade pagava antes fari-
nha e que agora economiza por ter caído o preço da farinha. Mas o se-
gundo fundo que se economiza é o que o moleiro pagava antes aos dez
homens agora despedidos. Esse "fundo" na realidade, como observa ru.
cardo, de maneira nenhuma se reduz com a invenção e com a demissão
dos 1O trabalhadores. Mas não tem conexão natural alguma com os 1O
trabalhadores. Estes podem ficar na miséria, morrer de fome etc. O cer-
to apenas é que l O homens da nova geração, que deveriam substituir os
da anterior na tarefa de movimentar o moinho, têm de ser absorvidos
agora por outro emprego, e desse modo aumenta a :população relativa
(sem se levar em conta o crescimento médio da população),_ pois o moi·
nho passou a ser acionado por força natural, e os 10 ·homens que, nou-
tras condições, teriam de movimentá-lo são agora empregados para pro..
duzir outra mercadoria. A invenção de máquinas e o· emprego de fatores
naturais liberam assim capital e homens (trabalhadores) e geram com o
capital liberado braços disponíveis (braços livres, como diz Steuart 18º),
possibilitando que se criem novas esferas de produção ou que antigas
se ampliem e se acionem em escala maior.
O moleiro, com o capital que lhe ficou disponível, construirá novos
moinhos ou emprestá-lo-á se ele mesmo não puder despendê-lo como capital.
Mas não há de modo nenhum um fundo "destinado" aos dez ho-
mens desempregados. Voltaremos a esta suposição absurda 181 : a de que,
180. Stcuart, An inquiry into the principies of political economy, vol. I, Dublin,
1770, p. 396. Marx cita essa pllSSllgem no manuscrito econômico de 1857/58 (ver
Gnmdrisse der Kritilc der polití&chen okonomie, Berlim, 1953, p. 666). Ver também
volume 1 desta tradução, p. 23, e O Capital, DIFEL, livro 3, vol. 6, p. 901.
18L Ver neste volume pp. 993-998. ·
988
se a introdução de máquinas (ou de fatores naturais) não reduziu a quan·
tidade dos meios de subsistência que se podem converter em salátio (há
em parte redução na agricultura quando se põem cavalos em lugar de se·
res humanos, ou quando a pecuária substituí o cultivo de cereais), o fun·
do assim liberado tem necessariamente de ser gasto como capital vatiável
(corno se não fosse possível exportação de meios de subsistência, ou não
se pudessem despender meios de subsistência com trabalhadores impro·
dutivos, nem o salário subir em certos ramos etc.) e até de ser gasto com
os trabalhadores que foram despedidos, As máquinas criam· sempre popu·
lação relativa, um exército de reserva de trabalhadores, o que muito acre:.-
ce o poder do capital.
Na nota à p, 335, ainda contr~ Say observa Ricardo:
989
"Sinto-me tanto mais obrigado a expor minha opinião sobre essa ques·_
tãon (isto é, "a influência das máquinas nos interesses das difer\:ntes
classes sociais"), "poxquanto ela passou por coll!liderâvel mudança em vir-
tude de novas reflexões. Embora não me ocorra ter jamais publicado
alguma coisa referente a máquinas da qual tenha de me retratar, con-
tudo apo~j por outras vias" (como ~lamentar'1) 182 "doutrinas que
agora acho eaõneas. Por ~' é para mim um dever submeter a exame
meus pontos de vista atuais, oom as razões para sustentá-los" (p. 466).
"Desde que pela primeira vez voltei minha atenção para questões de
economia política, tenho opinado que emprego de maquinaria em qual-
quer ramo de produção, se economiza trabalho, favorece o bem geral
e que só o acompanham aqueles inconvenientes que, na maioría dos
casos, aparecem no deslocamento de capital e trabalho, de uma apli-
cação para outra."
182. O mais provável é que Ricardo aí se refira a seu discurso n_a Câmara dos Co-
muns, em 16 de dezembro de 1819, sobre a proposta de William De Crespigny, de
constituir urna comissão especial a fim de examinar o plano de Robert Owen para
eliminar o desemprego e melhorar a situação das classes inferi.ores.
Naquele discurso disse Ricardo que não se podia negar que "as máquínas não re·
duútam a procura de trabalho" (ver The works and correspondence of David Rícu-
do, edit. por Píero Straffa, vol. V, Cambridge, 1952, p. 30).
990
existir e como era interesse daquele: que o detinham emrnegá-lo pro·
dutivamente, pareceu-me que esse capital se aplicaria na produção de
outras m etc.ado.rias úteis à sociedade, para as quais não podia deixar
de haver procura... E como achei entãp que haveria a mesma procura
anterior de trabalho e que os saláiios não seriam mais baixos, penseí
que a classe trabalhadora, por igual com as .outras classes, participaria
da vantagem deco.nente do barateamento geral d~ mercado.rias, oriun·
do do emprego de m:lquinas. Essas eiam minhas opiniões, e contínuam
Inalteradas no tocante ao dono da terra e ao capitalista; mas estou con-
vencido de que a substituição de trabalho humo.no por máquinas traz
muitll4 pezes grande prejuízo .Q classe do~ trabalhadores" {pp. 466 a 468).
99]
prima, se adnútimos que com número de trabalhadores reduzido produz·
mais mercadorias e portanto precisa de mais matéria-prima. Em seu r_amo
díminuiu a pmporção do capital variável, isto é, do capital despendido em
salário, com o capital constante. E essa proporção reduzida permanecerá
(e até se acentuará ainda o- decréscimo do capital variável em relação ao
constante, em virtude de se desenv.olver a produtividade do trabalho com
a acumulação), mesmo quando seu negócio na nova escala de produção.
se amplie tanto que ele possa empregar de novo todos os trabalhadores
despedidos, e possa até empregar mais trabalhadores que antes. (A pro-
cura de trabalho crescerá em seu negócio com a acumulação do capital,
mas em ritmo menor que aquele em que o capital se acumula, e seu ca-
pital nunca mais será, em absoluto, o mesmo agente anterior de procura
de trabalho. Mas resulta de imediato que parte dos trabalhadores é lança-
da no olho da rua.)
Mas, dirão, a procura de trabalhadores continuará indiretamente
a mesma, pois aumentará a procura deles para construção de máquinas.
Mas o próprio Ricardo já mostrou que a maquinaria nunca custa tanto
trabalho quanto o que substitui. E possível que as horas de trabalho nas
oficinas mecânicas sejam prolongadas por algum tempo e nenhum homem
a mais possa nela ser de início empregado. A matéria-prima - aJgodão,
por exemplo - pode vir da América e da China, e para ·os ingleses des-
pedidos do trabalho em nada importa que aumente a procura de negros
ou de cules. Mas, mesmo supondo-se que a matéria-prima se produza no
interior do país, mais mulheres e crianças se empregarão na agricultura,
mais cavalos etc., talvez se produza mais desse produto e menos de ou-
tro. Mas não haverá procura dos trabalhadores despedidos, uma vez que
também na agricultura se efetiva o mesmo processo que gera superpopu-
lação relativa permanente.
Vê-se logo que não é provável que a introdução de maquinaria li-
bere, no primeiro investimento, capital do fabricante. Este apenas lhe
dá outra aplicação cujo resultado imediato, segundo o próprio pressu-
posto, é a dcnússão de trabalhadores e a conversão de parte do capital
variável em constante.
Observações sobre (2). Em virtude de baratearem as mercadorias
produzidas pela máquina, libera-se renda (revenue) para o público, an-
tes de mais nada; capital de imediato - só na medida em que o artigo
fabricado entra como elemento de produção no capital constante. (Se
entrar no consumo médio dos trabalhadores, a conseqüência, segundo
992
diz o próprio Ricardo, será redução dos salários reab 183 também nos ou-
tros ramos industriais.) Parte da renda liberada se gasta em tal artigo: seu
barateamento toma-o ace~ível a novas classes de consumidores (neste
caso, aliás, não se despende no artigo renda liberada), ou os velhos con-
sumidores consomem mais do artigo que barateou, por exemplo, 4 pares
de meias de algodão em vez de um par. Outra porção da renda assim li·
berada pode servír para ampliar a indústria onde se introduz a maquina-
ria, ou para fonnar novo ramo onde se produz mercadoria diferente, ou pa-
ra acrescer um ramo antes existente. Qualquer que sejá a destinação, a renda
assim liberada e reconvertida em capital, antes de mais nada. mal chegará
para absorver aquela parte do acréscimo demográfico a qual aflui todo ano
para cada ramo e fica nas circunstâncias do momento bloqueada por aque·
la indústria. Mas também é possível que parte da renda liberada se troque
por produtos estrangeiros ou seja consumida por trabalhadores improdu-
tivos. Mas não há de modo algum conexão necessária entre a renda que fi-
cou liberada (livre) e os trabalhadores que ficaram despojados (livres) de
renda.
Contudo, a absurda suposição básica subjacente em Ricardo é a se-
guinte:
Não se libera o capital do fabricante que-introduz; maquinaria. Ape-
nas recebe outra destinação, ou seja, wna aplicação em que não se conver-
te como dantes em salárío para os trabalhadores que foram despedidos.
Em parte se transforma de variável em constante. Parte dele, mesmo que
se libere, será absorvida por esferas onde os trabalhadores despedidos não
podem trabalhar e que no máximo constituem refúgio para os substituintes.
Mas a renda liberada - desde que sua disponibilidade não se anule
por consumo maior do artigo que barateou ou desde que não se troque
por meios de subsistência estrangeiros -, ao ampliar os ramos antigos
ou ao abrir novos, dá apenas a necessária válvula de escape (se dá) àquela
parte a empregar do acréscimo anual da população, a qual no momento
encontra fechado aquele ramo onde se introduziu maquinaria.
Mas o absurdo subjacente em Ricardo é este:
Os meios de subsistência antes consumidos pelos trabalhadores des-
pedidos continuam, porém, a existir e estão, como dantes, no mercado.
Ademais, seus braços também se encontram no mercado. Temos portan-
to de um lado meios de subsistência (e por isso meios de pagamento) pa·
ra trabalhadores, capital variável em potência; do outro, trabalhadores
desempregados. E existe ainda o fundo para pô-los em movimento. E em
conseqüência encontrarão emprego.
ts3: Sobre o conceito ricardíano de "salários reais" ver neste volume pp. 833,
834, 836, 837, 848, 854, 855 e 869.
993
S possível que até um economista como Ricardo nos venha com essa
charla arrepiante?
De acordo com ela, um ser humano em condições e com vontade
de trabalhar nunca poderá passar fome na sociedade burguesa se há meios
de subsistência no mercado, na sociedade, para lhe pagar por uma ocupa-
ção, seja qual for. E primordialmente esses meios de subsistência de mo-
do nenhum se contrapõem àqueles trabalhadores como capital.
Admitamos sejam 100 000 trabalhadores de súbito despedidos por
máquinas. Antes de mais nada, não há dúvida alguma que os produtos
agrícolas disponíveis no mercado, os quais em média bastam para o ano
todo e antes. eram consumidos por aqueles trabalhadores, continuam no
mercado. Se não houvesse procura deles - e se ao mesmo tempo não fos-
sem exportáveis - t qual seria a conseqüência'! Uma vez que a oferta ~ve
ria t:rescido em relação à procura, teriam queda de preço, e o consumo, em
conseqüência, aumentaria, embora 100 000 trabalhadores morram de fo.
me. Nem sequer tem de cair o preço. Talvez se importem menos ou se ex-
portem mais meios de subsistência.
Ricardo constrói a fantasia de ser o mecanismo social burguês tão
bem regulado que, se 10 homens, por exemplo, forem despedidos do tra·
balho, seus meios de subsistência - agora liberados - têm de ser consu-
midos de qualquer modo por esses mesmos 10 homens,ou do contrário
não poderão ser fornecidos a ninguém, como se não -estivesse rastejando
sempre no chão dessa sociedade uma massa de desempr_egados parciais
ou totais. E como se o capital consistente nos meios de liubsjstência fosse
grandeza fixa.
Se o preço de mercado do trigo caí~e em virtude de procura de-
crescente, o capital existente em trigo dimínuiria (éomo capital-dinheiro)
e trocar-se-ia por parte menor da renda (revenue) monetária da socieda-
de, desde que não fosse exportável. E ainda por cima o que se dá com os
produtos acabados. Durante os muitos anos em que os tecedores a mão
iam sendo dizimados pela fome, cresceram enormemente a produção e a
exportação dos tecidos de algodão ingleses. Ao !llesmo tempo (1838-1841)
subiam os preços- dos alimentos. E aqueles tecelões só tinham farrapos
para se vestir e nãü dispunham de alimentos suficientes para sobreviver.
A produção artificiàl constante de uma superpopulação, só abso:rvida
nas fases de prosperidade febril, é uma das condições necessárias da pro-
dução para a indústria moderna. Nada se opõe a que parte do capital·
dinheiro fique ociosa e sem emprego, ao mesmo tempo que -baixam os
preços dos meios de subsistência em virtude de superprodução relativa,
e os trabalhadores desempregados pelas máquinas são dizimados pela fome.
994
Sem dúvida, a longo prazo - o que porém favorece mais os sucesso-
res dos que foram despedidos que a estes mesmos - o trabalho liberado
em conjunto com a parte liberada da renda (revenue) ou do capital tem
de achar saída num novo ramo ou na expansão dos antigos. Formam-se
constantemente novas ramificações de esferas de trabalho mais ou me·
nos improdutivas, onde se despende renda de maneira direta. Ademais,
temos a formaçlfo de capital fixo (ferrovias etc.). indutora de trabalho
de superintendência, de fabricação de artigos de luxo etc., de comércio
exterior, que diferencia cada vez mais os objetos em que se despende ren-
da (revenue).
Por isso, de acordo com seu prisma, Ricardo admite que a intro-
dução da maquinaria só prejudica os trabalhadores quando diminui o
produto bruto {e em conseqüência a renda bruta). caso sem dúvida pos-
sível na agricultura em grande escala - a introdução de cavalos que subs-
tituem os trabalhadores. no conswno dos cereais, a conversão do cultivo
de cereais em criação de ovelhas etc.; mas absurdo maior é estender essa
possibilidade à indústria propríamente, que de modo algum restringe o
mercado de seu produto bruto ao mercado interno. (Aliás, quando par-
te dos trabalhadores é dizimada pela fome, parte pode alimentar-se me·
lhor, vestir-se melhor, e também os trabalhadores improdutivos e os es·
calões intermediários entre traba1hador e capitalista.)
Em si mesmo é errado dizer que, por natureza, o aumento (ou a
quantidadé) dos artigos que entram na renda (revenue) constitui fundo
para os trabalhadores ou forma capital para eles. Desses artigos parte é
consumida por trabalhadores improdutivos ou por não trabalhadores, par-
te pode sair da forn:ta em que serve de salário - da sua forma primária -
e por meio do comércio exterior converter-se em forma em que entra na
renda dos ricos ou serve de elemento para produzir capital constante.
Resta uma fração que os próprios trabalhadores despedidos consumirão
nos asilos de trabalho, na cadeia, ou na forma de esmola, de fwto ou como
salário da prostituição de suas filhas.
Adiante compararemos sumariamente as passagens onde Ricardo
desenvolve sua fantasia. O impulso para essa exposição, como ele mesmo
diz, recebeu da obra de Barton, que é mister por isso examinar após ci-
tar aquelas passagens.
l! por si mesmo evidente que, para se empregar todos os anos nú-
mero determinado de trabalhadores, é necessário produzir anualmente
determinada quantidade de alimentos e de outros meios de subsistência.
Na agricultura em grande escala, pecuária etc., é possível que a renda If.
995
quida (lµcro e renda fundiária) acresça, enquanto diminuí a renda bruta,
a massa dos meios de subsistência, destinados à manutenção dos, tr.aba·
lhadores. Mas não é disso que se trata aqui. A massa dos arti~os que en-
tram no consumo pode aumentar ou - para utilizar a expressão ricardia·
na ·-dos artigos que entram.na renda· bruta, sem que por isso acresça des-
sa massa o segmento que se convert~ em capital variável. Este pode até di-
minuír. Aumenta então, por via da forma de renda (revenue), o consu-
mo dos capitalistas, dos donos das terras, de seus servidores, das classes
improdutivas, do estado e dos escalões intermediários (comerciantes) etc.
Na origem, Ricardo partiu do pressuposto, que lhe está subjacen-
te (e em Barton), de ser toda acumulação de capítal = acréscimo do c:api-
tal variável, daí a procura de trabalho aumentar diretamente na mesma
proporção em que ·o capital se acumula. Mas essa idéia é falsa, uma vez
que se altera, com a acumulação do capital, a composição orgânica, e a
parte constante aumenta em progressão mais rápida ql.te a parte variável.
Esse fato, contudo, não impede que tenha a renda (revenue) crescimento
constante, em valor e em quantidade. Mas, por isso, não é na mesma pro-
porção que se despende em salário grande parte do produto global. Au-
mentam as classes e subclasses que não vivem diretamente do trabalho,
com nível de vida melhor que ó anterior, e também acresce o número dos
trabalhadores improdutivos.
Não trataremos da renda (revenue) do capitalista que transforma par-
te de seu capital variável em maquinaria {e por í~o em todos os ramos de
produção onde a matéria-prima constitui elemento do processo de criar
valor, aumenta a matéria·p~ em relação ao trabalho aplicado), uma
vez que essa renda, primeiro que tudo, nada tem a, ver com a questão.
Seu capital de fato absorvido no processo de produção e sua renda;· antes
de mais nada, existem na forma dos produtos, ou melhor, das mercado-
rias que ele mesmo produz, em fio por exemplo, quando é fabricante de
fios. Parte de~s mercadorias {ou do dínheiro por que as vende) conver·
te ele em maquinaria, matérias auxiliares e matérias-primas (depois de in-
troduzir as máquinas), em vez de despendê-la como dantes em salários
dos trabalhadores, e assim convertê-la indiretamente em meios de subsis-
tência dos trabalhadores. Com algumas exceções na agricultura, produzi-
rá de suas mercadorias mais que antes, embora seus trabalhadores des-
pedülos tenham ce~ado de ser consumidores e portanto compradores
de seus próprios artigos. o que eram na fase anterior. Agora existem mais
dessas mercadorias no mercado, embora, para os trabalhadores lançados
no olho da rua, tenham deixado de existir ou não existam mais no mes-
996
mo volume anterior. Por isso, antes de mais nada, no tocante a seu pró-
prio produto, mesmo quando entra no consumo dos trabalhadores, seu
acréscimo não está em contradição com a ctrc!lllstância de parte ter ces-
sado de existir como capital para os trabalhadores. Parte maior (do pro·
duto global), em contrapartida, tem agora de repor a fração do capital
constante constituída por maquinaria, matérias auxiliares e matérias-pri-
mas, ou tem de se trocar por quantidade maior que a anterior, desses in·
gredientes da reprodução. Se o aumento das mercadorias por meio de
máquinas estivesse em contradição oom o decréscimo de procura antes
existente para essas mercadorias produzidas por essas máquinas (a saber,
a proCW'll dos trahalhaík>res despedidos), não seria possível na maioria
dos casos a introdução delas. O volume das mercadorias produzidas e a
porção delas que se reconverte em salário não têm, primeiro que tudo,
nenhuma relação determinada ou conexão necessária entre si, quando
examinamos o próprio capital, no tocante a segmento que é reconverti-
do em maquinaria em vez de o ser em salário.
Na sociedade em geral ocorrerá reposição da renda (revenue) ou an-
tes expansão dos limites dela, antes de mais nada no artigo que a maqui~
naria barãteou. Essa renda pode ser como dantes despendida como ren-
da, e logo que parte maior dela se transforma em capital, já existe o acrés·
cimo de população, além da superpopulação por artifício gerada, para
absorver da renda o segmento que se transforma em capital variável.
Á primeira vista, portanto, resta apenas isto: a produção de todoo
os demais artigos, sobretudo nos ramos que produzem os destinados ao
consumo dos trabalhadores - apesar de os 100 homens serem despedi·
dos etc. - está na mesma escala anterior; com toda certeza, no momen-
to em que eles são despedidos. Desde que os trabalhadores despedidos
representavam portanto procura desses artigos, a procura diminui, em·
bora a oferta continue a mesma. Asshn, se essa lacuna não for preenchl-
da, ocorrerá queda de preço (ou em vez de cair o preço, pode ficar so-
bra maior no mercado para o ano seguinte). Se o artigo não for ao mes·
mo tempo de exportação, e perdurar a carência da procura, dimiriuirâ
a reprodu'ção, mas não necessariamente o capital aplicado no ramo. Tal·
vez se produzam mais carne ou gramíneas comerciais ou comestíveis de
luxo, menos trigo ou mais aveia para cavalos etc., ou menos casacos de
fustão e mais sobrecasacas burgueses etc. Mas não seria de modo algum
necessário que ocorresse qualquer uma dessas conseqüências, se, por exem-
plo, em virtude de baratearem os artigos de algodão, os trabalhadores em·
pregados tivessem mais para despender em alimentos etc. A mesma quan·
997
tidade de mercadorias - e também daquelas que entram no consumo.
dos trabalhadores - pode ser produzida e até mais. embora menos _capi~
tal, parte menor do produto total, se converta em capital variável, se des·
penda em salário. ·
Também não é verdade que parte do capital dos produtores daque-
les artigos se tenha liberado. Na pior hipótese terá diminuído a procura
de sua mercadoria, e por isso a reprodução de seu capital se dá com di-
ficuldade, com baixa de preço dessa mercadoria. Assim, sua própria ren-
da (revenue} baixaria temporariamente, como ocorre em toda queda dos
preços das mercadorias. Mas não se pode dizer que uma. parte qualquer
de suas mercadorias enfrentava como capital os trabalhadores despedi-
dos e que agora, ao mesmo tempo que eles, fica "liberada". O que os en·
frentava como capital era uma parte da mercadoria ora produzida por má-
quinas, parte que lhes afluía como dinheiro e que eles trocavam por ou-
tras mercadorias (meios de subsistência), que em relação a eles não se com-
portavam como capital, mas ao dinheiro deles se contrapõem como mer-
cadoria. Esta é portanto uma relação de outra natureza. O arrendatário
etc., cuja mercadoria compravam com seu salário, não os enfrentava co·
mo capitalista nem os empregava corno trabalhadores. Para ele deíxaram
de ser compradores, o que lhe' pode acarretar - se não houver a compen-
sação de outras circunstâncias - depreciação momentânea· do capital, mas
não libera capital para os trabalhadores despedidos. O; capital que os em-
pregava "ainda existe", porém não mais em forma em que se reduza asa-
lário (a não ser indiretamente, em proporção ínfima).
Do contrário, toda pessoa que, por um azar qualquer, deixa de ter
dinheiro liberaria necessariamente capital para seu próprio emprego.
998
importância prática para a agricultura em grande escala, em pmicular
para a criação de ovelhas, e assim evidenciar de novo os limites da pro-
dução capitalista. O fun que a determina não é produzir pura os produ.
tores (trabalhadores); seu fim exclusivo é a renda liquida (lucro e renda
fundiária), mesmo que alcançada às custas do volume da produção - ãs
custas do volume produzido de mercadorias.
"Errei por supor que sempi-e que aumenta a renda liquida de uma sir
cieda.de, também aumenta a renda total; mru: agora tenno motivos bas·
tantes para me convencer de que pode acrescer o fundo donde or do·
nos dai; terras e os capitalistas retiram rua renda, e ao mesmo tempo
decreicer o fundo de que depende fundamentalmente a clane traba-
lhadora. Daí, se e~tou certo, rew1ta que a mesma causo que pode au-
mentar a renda líquida do país, pode ao mesmo tempo gerar popula·
çiio excedente e deteriorar a.situa?o do trabalhador" (p. 469).
Antes de mais nada cabe observar que Ricardo admite aí que causas
que favorecem· a riqueza dos capitalistas e dos donos das terras "podem
gerar população excedente': e assim o excesso de população representa
aí o resultado do próprio processo de enriquecimento e do desenvolvi-
mento das forças produtivas, condicionador desse processo.
Quanto ao fundo donde os capitalistas e donos das terras tiram
sua renda (revenue), e àquele donde os trabalhadores tiram a sua, o pro-
duto global é, antes de tudo, a fonte comum. Dos produtos que entram
no consumo dos capitaHstas e dos proprietários das terras, grande parte
não entra no consumo dos trabalhadores. Contudo, auase todos. de fa-
to mais ou menos todos os produtos que entram no consumo dos traba-
lhadores, também entram no dos proprietários das terras e dos capitalis·
tas, no de seus serviçais e parasitas, inclusive cães e gatos. Não se pode
conceber que existam aí dois fundos fixos, segregados por natureza. O
importante é a cota proporcional que cada uma das partes retira desse
fundo comum. O objetivo da produção capitalista é gerar, com dado mon-
tante de riqueza, a maior quantidade possível de produto excedente ou
de mais-valia. Alcança-se esse objetivo porque o capital constante cres·
ce em velocidade relativamente maior que o variável ou porque com o
mínimo possível de capital variável movimenta-se o máximo possível de
capital constante. Por conseguinte, em sentido muito mais geral que o
entendido aí por Ricardo, a mesma causa gera acr~scímo do fundo don-
de capitalistas e proprietários das terras retiram sua renda (revenue}, redu-
zindo o fundo donde os trabalhadores retiram a deles.
999
Daí não se segue que o fundo donde os trabalhadores tiram sua
renda diminua em termos absolutos; mas sim que decresça em termos
proporcio111lis, em relação à produção total deles. E só isto importa ·para
detennlnar a cota de que se apropriam, da riqueza por eles mesmos criada,
"No tocante a esses produtos, o produto bruto para esse ano é de 15 000
libras, e o produto Iíquído, 2 000. Admitamos agóra que no ano seguin-
te o capitalista empregue metade de seus homens para const.ruil: uma
máquina, e metade para produzir alimentos e outros meios de subsis-
tência como de costume. Mas que se daria então ne'sse nóvo ano?
EnqUJnto se constrói a máquina, só se obtém metade da quantidade
usual de alimentos e outros meios de rubsistência, com metade ape-
nas do valor da quantidade antes produzida. A máquina valerá 7 SOO
libras, e os alimentos e outros meios de subsistência, 7 SOO horas; o
capitalista por isso disporá de capital da mesma magnitude anterior,
pois, além daqueles dois va101es, terá capital fixo no valor de i 000
hl>ras, o que no todo pmaz 20 000 horas de capital e 2 000 de lucro.
Depois de deduúr esta quantía para as pr6prias despesas, terá um car
pltal circulante nio superior a 5 500 libras, para executar suas opera-
ções rubseqiientes. Seus meios de empregàr trabalho se reduzi.tão assim
de 13 000 Ubus para 5 SOO libras, e em c.onseqüência tomaNe-á SU•
ph'fluo o trabalho todo que ante1 era etn[)7egádo lJO' 7 500 libras."
[Mas isso também ocorrerá se, por meio da máquina que custa 7 500
libras se produzir quantidade de produtos tão grande quanto a que se pro-
duzia ames com um capital variável de 13 000. Supondo-se que o desgas-
te da máquina seja de 1/10 por ano, de 750 libras, o valor do produto se-
1000
rá agora 8 250 libras; antes era 15 000 libras ( onútido o desgaste do capi-
tal fixo original, de 7 000 libras, sobre cuja reposição .Ricardo nada diz).
Daquelas 8 250 libras, 2 000 serão lucro, como das 15 000 libras de antes.
O arrendatário levará vantagem no seu consumo, por via da renda, dos ali-
mentos e outros meios de subsistência. Terá ainda a vantagem de ficar
habilitado a reduzir o salário dos trabalhadores por ele empregados, e
porção de seu capita] variável se liberará. E essa porção que, até certo
ponto, pode1á empregar novo trabalho, mas só porq\le terá caído o sald·
rio real dos trabalhadores mantidos. Assim paite dos despedidos poderá -
às custas dos mantidos - empregar-se dé novo. Mas a circunstância de o
produto ser tão gi:ande quanto o anterior, de nada adiantará aos trabalha-
dores despedidos, Se o salário permanecer o mesmo, nenhuma porção do
capital variável ficará disponível. O produto de 8 250 libras representa a
mesma quantidade de meios de subsistência, inclusive alímentos, obtidos
antes com IS 000 libras; esse fato não faz subir seu valor. O arrendatário,
para repor tanto o desgaste da máquina quanto seu capital variável, terá
de vendê-los por 8 250 libras. Se esse barateamento de alimentos e de ou-
tros meios de subsistência não tiver acarretado baixa geral de salário ou
baixa nos compo.llentes que entram na reprodução do capital constante,
aumentará a renda da sociedade, mas só na medida que se despenda em
alimentos e outros meios de subsistência. Viveria melhor parte dos traba·
lhadores improdutivos e produtivos etc., eis tudo. (Poderiam também eco-
nomizar, o que sempre corresponde a ação futura.) Os trabalhadores des-
pedidos ficariam coroo dantes no olho da roa, embora continuasse a exis-
tír a mesma possibilidade ffsica anterior de sustentá-los. Ademais, o mes-
mo capital precedente se1ia aplicado na reprodução. Mas do produto (cujo
valor caíu), parte que antes existia na forma de capital, exi&te agora na
de renda.]
"Nesse caso, embota o produto líquido não tenha menor valor e seu
poder de oomprar mercadorias aument11 . muito, o valor do produto
bruto rerá caído de 1 S 000 libra~ para 7 500. E como o poder de sw;.
1001
tentar uma populllção e de empregar trabalho dépende sempre do pro-
duto bruto de uma n11ção e não do lfquido,"
"Mas, uma vez que o poder de retirar economias da renda para acres-
cer o capital tem de depender da capacidade da renda lfquida p:uà sa-
tisfazer as necessidades do capitalista, é inevitável que este, com as
mesmas necessidades" (mas ~'UaS necessidades aumentam), "em face
da redução do preço das mercadorias oriunda da introdução de maqr.â·
mula, tenha maiore:; poSJif!ilidades de poup®ça, maior facilidade para
converter renda em capital. " , -
1002
duto consumida antes como capital - fonna-se novo capital e renda se
~oonverteem capital.]
(em todo caso, não na razão do acréscimo do capital, não em toda a exten·
são desse acréscímo. Comprará talvez mais cavalos, ou guano, ou novos
implementos),
"e pox isso t:mpregar-se-á mais tarde parte das pessoas que no 1nfcio fo-
ram despedidas. E caso a produção acrescida pelo emprego da mtiqui·
N1 se torne tão grande que forneça na forma de produto liquido quan-
tidade de ahmentos e outros meio~· de subsistência tio grande quanto
a que existia. tmtes na de produto bruto, haverá a mesma capacidade
para empregar a população toda, e po.c isso não havezá necessariamen-
te" (mas é possível e provável que haja) "uma população excedente"
(pp. 469-472).
Nas últimas linhas diz Ricardo portanto o que observei acima. Para
a renda transformar-se dessa maneira em capital, capital se converte antes
em rendâ. Ou como expressa Ricardo: pdmeiro, o produto líquido aumen-
ta às custas do produto bruto, para parte do produto líquido se reconver-
ter então em produto bruto. Produto é produto. Líquido ou bruto, tanto
faz (embora a antinomia possa incluir o acréscimo do excedente sobre as
despesas, isto é, do produto liquido, apesar do decréscimo da totalidade
do produto, isto é, do produto bruto). O produto vem a ser bruto ou lí-
quido conforme a forma determinada que toma no processo de produção.
"Tudo que desejo p1ovar é que redução do produto bruto pode acom·
panha.r a invenção e emprego de máquinM; o que, sempre que suce-
da, sera prejudicial à classe trabalhadora, pois vários serão d.espedí -
dos de suas fileiras, e a população ficará excessíw:r em relação aos fwi-
dos destitUldos a empregá-la" (p. 4 72).
1003
"Se estas idélas estão corretas, infere·se que:
(1) a invenção e o emp1ego útil de maquinaria levam sempre a acrésci-
mo do produto líquido do pais, embora não possam aumentar nem au-
mentem, excluindo-se um intervalo insigníficante, o valor desse produ-
to lfquido" (p. 474).
(essa frase contraria a doutrina toda de Rícardo, para a qual a baixa dos
meios de subsistência necessários, e em consequência dos salários, eleva
os lucros, ao passo que a maquinaria, que permite extrair-sé ~ais da roes·
ma área de terra com menos trabalho, tem de reduzir a rendà fundiária),
1004
trabalhadora. Gera superpopulação (daí rebaixa de salário em alguns ram1os,
aqui ou ali), não por crescer a população mais depressa que os meíos de
subsistência e sim porque o crescimento rápido dos meios de subsistência,
em virtude da maquinaria, perrníte empregar mais maquinaria e por isso
reduzir a pror:ura imediata de trabalho. Não por diminuir o fundo social,
mas porque, em virtude de seu crescimento, decresce relativamente a par-
te dele que se despende em salário.
(2) Menos ainda nega tal apologética a sujeição dos próprios trabalha-
dores que lidam com as máquinas e a .miséria dos trabalhadores manuais
ou artesãos que elas lançam ao desemprego e à ruína.
O que ela sustenta - e em parte acerta - é primeiro que, em virtude
da maquinaria (em geral do desenvolvimento da produtividade do trabalho)
a renda líquida (lu'cro e renda fundiãria) cresce tanto que o burguês precisa
de mais empregados domésticos que antes; se antes tinha de despender
mais de seu produto em trabalho produtivo, agora pode gast.ar mais em
trabalho improdutivo, ou seja, aumentam os criados e outros trabalhado-
res que se situam na classe improdutiva. E uma bela perspectiva essa trans·
formação_ progressiva em criados, de parte dos trabalhadores. E para estes
como é consolador que, em virtude do crescimento do produto liquido,
mais esferas se abram para o trabalho improdutivo que vive às custas de
seu produto e cujo interesse em explorá-los coincide mais ou menos com
o das classes diretamente exploradoras.
Segundo: que, em virtude do estímulo dado à acumulação na nova
base, que exige menos trabalho vivo em relação ao pretérito, também
os trabalhadores despedidos, reduz.idos à indigência, ou pelo menos o
grupo que os substjtui, emergente da população acrescida, são absorvi-
dos pela expansão das ·atividades na própria indústàa de máquinas ou
em ramos industriais intermédios que essa expansão tomou necessários
e fez surgir, ou em novos domínios de ocupação abertos pelo novo capi-
tal e que satisfazem novas necessidades. Esta é outra magnífica perspecti-
va; a classe trabalhadora tem de suportar todos os "transtornos tempo-
rários" - desemprego, deslocamento de aplicação de trabalho e capital,
mas nem por isso acaba o trabalho assalariado; este ao contrário se re-
produz em escala cada vez maior, aumenta em termos absolutos, embo·
ra diminua em relação ao capital total crescente que o emprega.
Terceiro: que o consumo se refina em virtude da maquinaria. A
circunstância de baratear a subsistência imediata permíte ampliar o do-
mínio da produção de luxo. E assim abre-se para os trabalhadores ter·
ceira perspectiva, deliciosa: para obter os meios de subsistência, na mes"
1005
ma quantídade, o mesmo número de trabalhadores capacitará as classes
mais altas a expandir, refmar e diversificar o domínio de suas fruições,
e desse modo a aumentar a rutura econômica, social e política que sepa·
ra os trabalhadores dos que lhes estão acima. Maravilhosas perspectivas
para o trabalhador, resultados muíto apetecíveis do desenvolvimento da
produtividade de seu trabalho.
Ademais., mostra ainda que é do interesse das classes trabalhadoras
1006
de mercadorias, e magnitude igual ou superior de produto líquido, de mais-
valia, de renda líquida; segundo, empregar o maior número possível de tra·
balhadores (embora o menor possível em relação à quantidade das rner-
cadorla.s por eles produzídas), pois, dado um nível de produtividade, a
magnitude da mais-valia e do produto excedente aumenta com a quanti·
dade do trabalho empregado. lhna tendêncla. lança os trabalhadores no
olho da rua e toma a população excessiva; a outra reabsorve-os e aumen-
ta em termos absolutos a escravatura assalariada, e assim está o trabalha·
dor seguindo sempre seu fadário flutuante e dele nunca se livr11. Daí o tra-
balhador considerar hostil a si mesmo, e com ratão, o desenvolvimento da
produtividade de seu próprio tiabalho; em contraposiçao, o capitalista
o trata sempre como um elemento a afastaJ" da produção. É com essas
contradições que lida Ricardo nesse capitulo. Esquece de acentuar: o cres-
cimento constante das classes de permeío, situadas entre trabalhadores,
de um lado, e capitalistas e proprietários das terras, do outro; vivem elas
diretamente da renda (rewmue) em escala cada vez maior e em grande
parte~ sobrecarregam a base trabalhadora e aumentam a segurança e o
poder socíais das dez mil famílias de cima. A burguesia erige a perpetua-
ção da escravatura assalariada por meio da aplicação das máquinas em
"apologia" destas.
1007
E logo prossegue Ricardo:
''Na América e em muitos outros países onde o ser humano pode obter
alimentos com facilidade, nem de longe há tão grande tcntaçfo de em·
pregar mãquinas" (nenhures tem elas tanto emprego em massa, inclusi·
ve, por assim dizer, para fim domésticos, como na América) "como na
Inglatena, onde os alimentos são caros e produzi-~mi custa muito tra·
balho."
1008
alimenros... A extrema escassez de mao-de-obra e daí seu alto valor"
(apesar do baixo valor dos alimentos), "assim como certa sagacidade
inata estimularam esse espírito inventivo... A$ máquinas produtidas
na América são, de modo geral, de valor mais bai.,,;o que as feitas na
Inglaterra. No conjunto são antes expedientes para poupar trabalho
que ínvenções para executar o que antes era impossível." {E os navios
a vapor?)... "na Exposição, na seção dos Estados Unidos está exposta
a máquina de descaroçar algodão de Emery. Depois de introduzido o
plantio de algodão nos Estados Unidos, as colheitas se mantiveram mui-
to pequenas, durante muitos anos, não $Õ porque a procura era bastan·
te limitada, mas também porque, em virtude da dificuldade de limpar
o algodão com trabalho manual, deixavam elas de ser remuneradas,
Todavia, quando Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão, hou-
ve acréscimo imediato da mperfícíe cultiJ1t1da, e esse aCiéscimo agora
tem prosseguido quase numa progressão aritmética. De fato, não é exa·
gerar muito dizer que Whltney criou a indústria algodoeira. Com mo-
dificações mais ou menos importantes e úteis, seu descaroçador per·
maneceú em uso desde então; e até a invenção do aperfejçoamento
e complemento atuais, o descaroçador primitivo de Whitney era tão
bom quanto a maioria dos pretensos substitutos. A máquina atual, que
traz o nome da fuma Emery, de Albany, Estado de Nova Iorque, sem
dúvida suplantará quase por completo o descatoçador Whitney, em
que se baseia. t simples e mais eficíente. Fornece o algodão mais lim-
po e ainda em camadas de chumaço, que, ao deixarem a máquina, já
estão prontas pua prensar e embalar... No pavilhão americano há pou-
co mais que máquinas: a ordenhadora.... dispositivo de mudar com:io
de transmi!são.. ., a máquíM de COl'dar e fiar cânhamo, que com· uma
única operação, a partir diretamente do fardo, enrola o tio ... Máquinas
para fabricar sacos de papel: oorta as folhas, e faz as operações de co-
lax e dobrar, aprontando 300 sacos por minuto... O espremedor de
roupas Hawe$, que e$pteme a água da roupa por meio de dois rolos
de botracha, deixando-<>s quase secos; economiza tempo e não preju-
dica o tecido... máquinas de encadernar.. ., máquinas de fabricar sapa-
tos. Sabe-se que há muito tempo as gáspeas neste país têm sido feitas
por máquinas, mas vêem-se aqui mlÍqUínas para fixar a sola, outras pa·
ta coitar· a sola segundo o modelo, e outras ainda para aparar os sal·
tos ... Máquinas de quebrar pedras, muito potente e engenhosa; sem dú-
vida terá amplo emprego para calcetar estradas e triturar minérios.•.
Um sistema de sinais marítimos de Mr. W. H. Ward de Auburn, Nova
Iorque... llláquíMs de· colher e segar são uma invenção americana e go-
zam na Inglatena uma preferência geral crescente. A de Me Connick,
a melhor... A bomba de compressão, de Hansb.row, p1emíada com me-;
dalha na Califórnia, é a mellior da exposíção pela simplicidade e pela
eficíência..• Com a mesma força lança mais água que qualquer outra
bomba do mundo... Máquinas de costw:a... "]
"A causa que eleva o salário não é a mesma que eleva o valor das má-
quinas, e por isso com cada acréscimo de capital, proporção maior des-
te se emprega em maquinaria. A procum de trabalho continuará a cres·
cer com o aumento do capital, mas não n.a proporção desse aumento;
a razão será necessiiriarnente decrescente" (Ricardo, 1.c,. p. 4 79).
1009
Na última frase, expressa Ricardo a lei correta do crescimento do ca-
pítal, embora seus argumentos sejam muíto unilaterais. Acrescenta uma
nota donde se infere que nesse domínío segue Barton,. em cuja obra far!!-
mos por isso uma incursão sumária.
Antes, porém, uma. observação. Em pas~gem anterior, ao tratar do
dilemà de despender a rendà (revenue) em criados ou em artigos de luxo,
diz Ricardo :
Por ígual, o prnduto bruto pode ser o mesmo em valor, mas "dife-
rirem as mercadorias" - de maneira muito sensível para os trabalhadores -
"em que se converterá", segundo tenha de repor mais capital variável ou
constante.
2. Idéias de Barton
1010
o empregado na p1odução de uma peça similar da musselina indíana,
e a pioporção de capital circulante empregado é cem ou mil vezes me·
nor. J!. fácil de entender que, em certas circunstâncias, a totalidade das
poupanças anuais de um povo industrioso pode se1 adícionada ao capi-
tal fixo, e nesse caso não terão elas efeito no sentido de acrescer a pro-
cura de trabalho" (l.c., pp. 16, 17).
E mais:
1011
Ricardo, na terceira edição de seus Principies, capítulo XXXI ..On
Machinery" - depois de ter, nas edições anteriores, seguido nesse ponto,
ainda sem reservas, a linha smíthiana - aceita a correção de Barton, e
na formulação unilateral dele. O único ponto em que avança - e isso é
importante -- é que, além de diZer como Barton que a procura de traba-
lho Tufo cresce em proporção e-0m o desenvolvimento da maquinada, afir-
ma que a própría máquina "torna a popuUição excessiva", gera portanto
ruperpopulação. Só que erra ao limitar esse efeito ao caso ocorrente ape-
nas na àgricultura, relativo ao acréscimo do produto líquido às custas
do produto bruto, e que ele também estende à indústria. Mas com isso
desfaz-se o cerne de toda a teoria absurda da população .e sobretudo o va-
zio refrão dos economistas vulgares de terem os trabalhadores de se esfor-
çar para manter sua multiplicação abaixo do nível da acumulação do ca-
pital. Da exposição de Barton e Ricardo infere-se, ao contrário, que de-
ter desse modo o crescimento da população trabalhadora, reduzindo a
oferta de trabalho e em conseqüência elevando seu preço, apenas acele-
rará o emprego de maq_uínaria, a conversão de capital circulante em fixo,,
e assim a população, por artifício, tomar-se-á excessiva; e esse exces.so exis-
te em regra não em relação à quantidade dos meios de subsistência, mas
dos meios de emprego, da procura real de trabalho.
O erro ou falha de Bartor\. consiste em conceber a diferenciação or·
gâníca ou composição do capital na forma em que aparece no processo
de circulação - a de capital fixo e a de circulante -, diferença já desco-
berta pelos fisiocratas, desenvolvida a seguir por A. Smith- e depois de-
le convertida em preconceito dos economistas: preconceito, utna vez que
só vêem essa díferença - que lhes foi legada - na composição orgânica
do capital. Essa diferença oriunda do processo de circulação tem influên-
cia importante na reprodução da riqueza em geral e portanto no segmen-
to desta que constitui o fundo do trabalho. Aqui, porém, não é isso o
decisivo. O capital fixo - maquinaria, edifícios, animais reprodutores
etc. - distingue-se do circulante diretamente, não por nenhum relacio-
namento com o salário, e tão-só pela maneira como circulam e se repro-
duzem.
A relação direta dos diferentes componentes do capital com o tra-
balho vivo não está unida aos fenômenos do processo de circulação, não
decorre daí, mas do processo imediato de produçálJ, e é a relação entre
capital constante e variável; a diferença entre estes se baseia apenas no
relacionamento com o trabalho vivo.
Assim diz Barton. por exemplo: a procura de traball10 oão depen-
de do capital fixo, mas só do círculante. Mas parte do capital circulan-
1012
te - matérias-primas. e matérias auxi1iares - não se troca por trabalho
vivo, como tampouco maquinaria etc. A matéria-prima etc., em todos
os ramos industriais onde ê elemento que entra no processo de formar
valor, constituí - desde que do capital fixo só levemos em conta a par-
te que se incorpora à mercadoria - o segmento mais importante da por-
ção do capital não despendida em salário. Outra parte do capital circulan-
te, isto é, do capital-mercadoria, consiste em artigos de consumo que en-
tram na renda da classe não produtiva (quer dizer, que não é a classe tra-
balhadora). Por conseguinte,· o crescimento dessas dú.as partes do capi-
tal circulante não tem sobre a procura de trabalho mais influência que
o do capítal frxo. Ademais, do capital circulante, a parte que se reduz
a matêrlas-primas e a matérias auxfüares acresce em proporção igual
ou ainda maior que a parte do capital fixada em maquinaria etc.
Ramsay dá um passo à frente na base da dístin ção de Barton. Atin·
ge nível melhor, mas prende-se ao modo bartoniano de ver as coisas. Na
realidade reduz a diferença a capítal constante e variável, mas continua
a chamar o capital constante de fixo e neste inclui as matérias-primas
etc., e o capital variável, de circulante, embora exclua deste todo capí-
tal circulante que não seja diretamente despendido em salário. Voltare-
mos ao assunto mais tarde, quando chegarmos a Ramsay. Mas isso mos-
tra a necessidade do desenvolvimento do que é essencial.
Apreendida a diferença entre capíta1 constante e capital variável,
a qual provém apenas do processo imediato de produção, da relação dos
diferentes componentes do capital com o trabalho vivo, patenteia-se tam-
bém que ela em si mesma nada tem a ver com a magnitude absoluta dos
artigos de consumo produzidos, embora muito com a maneira como es·
tes se realizam. Tociavia, essa maneira de realizar a renda bruta em mer·
cadorias diferentes não é, como quer Ricardo e insinua Barton, a causa
e sim o efeito das leis imanentes da produção capitalista, as quais levam
a uma proporção decrescente, em cotejo com o montante global do pro-
duto, daquela parte que forma o fundo destinado à reprodução da classe
tràbalhadora. Se grande parte do capital consiste em maquinaria, maté-
rias-primas, matérias auxfüares etc., segmento menor da totalidade da
classe trabalhadora será empregado para reproduzir os meios de subsis·
tência que entram no consumo dos trabalhadores. Mas esse decréscimo
relativo na reprodução do capital variável não é a causa do decréscimo
relativo na procura de trabalho, mas ao contrário seu efeito. Do mesmo
modo: dos trabalhadores empregados para produzir artigos de consumo
que em geral entram na renda, parte maior produz os que se incorporam
ao consumo, constituem o dispêndio de renda dos capitalistas, proprie-
1013
tários das terras e seus dependentes (estado, igreja etc.). e parte menor,
artigos destinados à renda dos trabalhadores. Mas isso é também efeito
e não causa. A situação se modificaria logo depois de mudançà na rela-
ção social entre trabalhadores e capitalistas, de revolução nas condições
dominantes da produção capitalista. "Difeririam as mercadorias em que
se converteria" a renda, para usarmos a expressão de Ricitrdo.
Nas condições físicas por assim dízer da produção, nada hã que
force a existência daquela situação. Os trabalhadores, se tiverem o do-
mínio, o direito de produzir para si mesmos, em pouco tempo e sem gran-
de esforço porão o capital (para usarmos a frase dos economistas vulga-
res) no nível de suas necessidades. A diferença gigantesca é esta: os meios
de produção existentes como capítal se contrapõem aos trabalhadores,
e por isso estes só podem empregá-los enquanto necessários para aumen-
tar a maís-valía e o produto excedente para seus patrões, quer dizer, os
meios de produção empregam os trabalhadores; na posição oposta, co-
mo sujeitos, os trabalhadores empregam os meios de produçao - como
objeto - a fim de produzir riqueza para sí mesmos. Sem dúvida pressu-
põe-se então que a produção capitalista já terá desenvolvido as forças
produtivas do trabalho até o nível necessário em que essa revolução po-
derá ocorrer.
[Tomemos o exemplo de 1862 (outono atual). A indigência dos
trabalhadores desempregados de Lancashíre. Em contrapartida, no mer-
cadq financeiro de Londres "a díficuldade de achar aplicáção· para o di-
nheiro", o que quase exigiu a founação de sociedades fraudulentas, uma
vez que era difíci conseguir 2% para o dinheíro. Segu}ldo a teoria de Ri·
cardo - uma vez que há de um lado capital em Londres e, do outro, tra-
balhadores desocupados em Manchester - "deveria ter surgido novo cam-
po de emprego".]
"A proporção que o salário, num dado tempo, mantém com o produ·
to total do trabalho determina a aplicação numa" {fixa) "ou nouua
forma .. (circulante) (p. 17).
1014
"t que, se caír o salário enquanto não se altera o preço das mercado·
rias, ou subir o preço das mercadorias -enquanto o salário não varia,
acresce o lucro do empregador, o que o leva a empregu mais trabalha·
dores. Em contraposição, se os salários subirem em relaçio às merca-
dorias, o industrial manterá a menor quantidade possível de trabalha-
dores e procuraiá fazer tudo por meío de máquinas" (pp. 17, 18).
"Temos provas suficientes de que a POlJUlação, durante a primeira me-
tade do último século, com elevação graduai de salário, aumentou mui-
to mais lentamente do que na segunda metade, quando o ereço real
do tzabalho caíu com rapidez" (p. 2S).
"Alta de salário, poi si mesma, nunca aumenta a população trabalha-
dora; queda de salário pode fazê·la às vezes aumentar com muita ra·
pídez. Digmios que as exigências doo ingleses desçam ao nível das dos
irlandeses. Então o fabricante empregari mais trabalhadores na pro-
p,orção em que diminui o dispêndio de mantê-los" (Lc., p. 26).
'O que desencoraja o c.asamento 6 muito mais a dificuldade de achar
emprego que o nível insuficiente do saláriC>" (p. 27).
"Admite-se que todo acréscímo de riqueza tende a ci:ía:r nova procllt1l
de trabalho; mas, uma vez que o trabalho 6 de todas as mercadorias
a que exige mais tempo para ser produzida" ·
(pelo mesmo motivo a taxa de salário pode manter-se por longo prazo
abaixo da média, porque de todas as mercadorias é a mais difícil de se
retirar do mercado para se ajustar ao nível da procura efetiva),
1015
salário é alto, o industrial mantém o menor número possível de trabalha-
dores e procura fazer tudo por meio de máquinas.
Terceira: por si só, a acumulação de capital aumenta apef!as lenta-
mente a procura de trabalho, pois cada elevação dessa procura faz subir
com rapidez a mão-de-obra, se escassa, e cair o lucro em escala 10 vezes
maior que a da ascensão do salário. A acumulação só pode ter efeito pró-
prio sobre a procura de trabalho se a precede grande acréscimo da [JOPU·
lação trabalhadora, é muito baixa por isso a taxa de salário e ainda a dei-
xa baíxa uma ascensão deste, porque a procura absorve mais mão-de-obra
desocupada do que compete por trabalhadores em pleno emprego.
Tudo isso, até certo ponto, está correto para a produção capitalis·
ta em pleno desenvolvimento. Mas não expJica o próprio desenvoiyimento.
E por isso a própria demonstração histórica de Ba.rton contradiz o
que ele pretende provar.
Primeira metade do século XVlll: salários em ascensão gradual, po-
pulação em crescimento lento, nenhuma maquinaria e pouco capital fixo
noutras formas, em relação à segunda metade do século.
Segwida metade do século XVIII, em contraposição: salário em
declínio constante, aumento espantoso de população e de maquinaria.
Mas foi justamente a maquinaria que tomava excessiva a população exis-
tente e assim reduzia o salário; em contrapartida, de novo ·a absorvia em
virtude do rápido desenvolvimento do mercado mundial; ora a tomava
excessiva, ora a absorvia, enquanto ao mesmo tempo acel~rava extraordi-
nariamente a acumulação do capital e aumentava o rYU?ntanté do capital
variável, embora este caísse em relação ao val9r global do produto e ainda
em relação ao número de trabalhadores que el]lpregawa. Na primeira me·
tade do século xvm. ao contrário, ainda não existia a indústria em gran-
de escala, mas sim a manufatura fundada na divisão do trabalho. A parte
componente principal do capital continuava a ser a despendida em capi-
tal variável, em salário. Mas a produtividade do trabalho se desenvolveu
vagarosamente em relação ao que ia ocorrer na segunda metade do século.
A procura de trabalho, e portanto o salário, subiu quase em proporção
com a acumulação de capítal. A Inglaterra ainda era uma nação essencial·
mente agrícola, e uma indústria doméstica (fiação e tecelagem) muito di-
fundida, movimentada pela população agrícola, continuava a existir e mes-
mo desenvolver-se. Ainda não podia :;urgir um proletariado que brota em
abundância, nem havia milionários industriais. Na primeira metade do sé-
culo XVIII predominou relativamente o capital variável e, na segunda, o
fixo; mas para este é necessário grande massa de material humano. Um
1016
aumento de população precede sua introdução em grande escala. Mas
o curso global dos fatos contradiz a exposição de Barton, até onde se
evidencia ter ocorrido aí mudança geral no método de produção; as leis
correspondentes à indústria em grande escala não são idênticas às perti-
nentes à manufatura. Esta .constitui apenas fase de desenvolvimento pa·
ra se chegar àquela.
Interessa apresentar alguns dos dados históricos de Barton, tanto
por se referirem ao movimento dos salários, quanto ao dos preços de tri-
go. comparando a primeira metade do século XVIII da Inglaterra com
a segunda.
1017
O crescimento da população no -primeiro período; compa.rado co:m o
do segundo, ainda mais lento do que parece índicai o progresso da
cultura da tena" (pp. 11. 12). .
"Em 1688, a população da Inglaten:a e do Pais de Gales, segundo Gre·
gory King, que a estimou pelo número das casas, era de 5 1/2 milhões.
Em l 780, segundo Malthus, era 7 700 000. Acréscimo, portanto, de
2 200 000 em 92 anos; nos 30 anos seguintes teve acréscimo superio.r a
2 700 000. Mas o mais provável é que a maío& pa_rte do primeiro aczés-
cimo tenha ocorndo de 1750 a 1780" (p. 13). -
1018
Aditamentos
l. Formulação inicial da tese sobre a concordância
COf.?.Stante entre a oferta e a procura na agricultura.
Rodbertus e os economistas práticos do século XVIII.
Por isso
1021
Rodbertus imagina que as sementes etc. não entram na rubrica de
capital segundo o cálculo do arrendatário, 1117 e essa fantasia é contestada
pelas centenas de estudos que aparecem no século xvm (sobretudo a par·
tir da década dos 60), parte deles de autoria dos próprios agricultores.
Mas, em contraposição, seria correto dizer que o arrendatário contabili·
za a renda fundiária. Arbuthnot a inclui nos custos de produção (e ela
pertence aos custos de produção do arrendatário).
"Se o preço dos c.ereais estiver próximo do que deve ser, o que só pode
seJ detenninado pela relação vigente entre o valor da te"ª e o valor do
dinheiro" { l .c., p, 13 2).
1022
3. Ponto de vista de Hopkins sobre a relação entre
renda fundiária e lucro.
1023
"O capital pode ser empregado com mais proveito na agricultura que
em máquinas, poiJ; estas encerram apenas capacidade igual, enquanto
aquela encerra capacidade superior" (l.c.).
"O ganho de uma máquina a vapor" (que transforma lã em pano etc.)·
"é o salário menos o prejuí:z:o do desgaste da máquina. O trabalho em-
pregado paia melhorar a terra produz salários + ganho do melho.ramen·
to da máquina'' (l.c.). Por itso "um pedaço de terra que rende 100 li-
bras por ano é vendido" mais caro que uma máquina a vapor que gera
o rnesq10 rendimento anual (p. 130). "O comprador de um pedaço
de teaa sabe que este lhe pagará salários e juros + acréscimo de valor
pelo uso. O comprador da máquina sabe que esta lhe dará salários e
juros, menos o decréscimo de seu valor pelo uso. Um compra máquina
que melhora com o uso ... O outro, máquina que deteriora com o uso ...
Num ca~o. máquina em que se pode apUcar novo capital e t.tabalho com
rendimento sempre cruscente, noutro, máquina que não comport;I
esse gênero de aplicação" (p. 131 ).
1024
6. Diminuição da taxa de lucro.
O lucro do capital maior que opera com mais capital constante (ma-
quinaria, matéria-prima) - estando o trabalho vivo aplicado em propor-
ção menor com a totalidade do capital -, se repartido por essa totalida-
de, tem taxa menor que a do lucro menor com o trabalho vivo que está
em proporção maior com o capital total. O decréscimo relativo do capi-
tal variável e o acréscimo relativo do constante, embora ambos aumentem,
é apenas outra expressão da produtiviàade acrescida do trabalho.
1025
Adendos
Tabela de pesos, medidas e mo~das
ingleses *
PESOS
tonelada = {hund.redweights)
20 quintais
quintal
= 1016,05 kg
{hund.redweight) = 112 libras 50,8023 kg
libra = 16 onças 453,592 g
MEDIDAS
1029
Índice onomástico·
1030
HUME. David 556
HUME, James Deacon 834 1024 1025
MAL'IHUS, Thomas Robert 465 468 500 545-554 574 568 569 595
599 622 630 654 761 826 829 854 974 1011 1022 1023 1024
1025
MCCULLOCH (MACCULLOCH), John Ramsay 546 553 556 576 623
624 916
MCCORMICK (MACCORMICK), Cyrus Hall 1009
MEGERLE. Ha.ns Ubich (ABRAHAM A SANTA CLARA) 552
MILL, Jarnes 582 623 929 939 940
MILL,John Stuart 481 554 937
1031
RODBERTUS, Johann Karl 449 450 455- 459-461 478 479 484 488·
498 500 502 503-507 509 511-515 516-525 527 531 532 536~
538 543 545 556 558-560 580-590 609 667-671 674 773 1023
ROSClIER, Wilhelm Georg Friedrich 553-556 563 564 641 934
SAY, Jean Baptiste 563 597 599 646 809 831 832- 903 904 929 930
936 938 965 989
SISMONDl, Jean-Charles-Léonard Simonde de 549 81 O 968
SMim, Adam 461 536 556 580 581 584 593 594 597-599 601 602
631 640 642 643 646-666 669 670 672 675-676 678 737 738
742 746 -747 749 761 764-805 807 819 828-832 834-835 837
845 846 848 a51 854 866-868 899 903 907 922 n1 932.935
959-962 975 987 989 1002 1012 1021 '
STEUART (STEWART), Síc James 545 546 552 556 662 988
STIRLING, Patrick James 467 895
STORCH, Heinrich Friedrich von (Andrej Karlowítsch) 530 722
1032
Índice analítico.
1033
e produção de mais-valia absoluta 454·
lucro suplementar na - 455 503 508 524-526 530-532 557 576
577 671 827
na Alemanha 587 588 590 668 669
na Inglaterra 454 478 548 569 570 583 587 588 590 668-672
733 762 763 790 792 896 911 912 976
ver fertilUiade do solo, produtos agricolas, trabalhador agricola, tra-
balho agrícola ·
AGROQUIMICA 458 491 540 541 590
verqufmica
ALEMANHA
condições agrárias (cotejadas com as inglesas) 587 58~ 590 668-671
economia política na - 555 556
ALIENAÇÃO (ENTFREMDUNG) 84 7
AMERICA 658 793 992
ver Estados Unidos
AMORTIZAÇÃO DO CAPITAL FIXO 490 491
e valor das mercadorias 452 864
ver fundo de amortização
ANTAGONISMO DE CLASSES
no capitalis.mo 582 583 847 850 ·1005 1006
ANTIGUIDADE 453
APOLOG~TICA 548-551 935 936 953 954 1004-1006
exploração apologética da ciência 551 552 555 556
ARRENDAMENTO 471 472 .533 534 826 827
como difere da renda fundiária 502 527 732 733 ~27
extraído do salário ne~ssário 471 472 502
e paiceria agrícola 459
ARRENDATÁRIOS
capitalistas 451 540 582 583 586-588 765 766 809 810 826
827
pequenos 471 533 826
ARTES 541 963
ARTESÃOS
desemprego dos - pelas máquinas 1005
na escravatura 963
AUSTRÁLIA 729 730
ÁUSTRIA 451
1034
BANCARROTA 932
BANCOS 930 959
BANQUEIRO 554 555 920 946
BELGICA 458 790
BILHETES DE BANCO 930
BURGUESIA
radical contra a propriedade privada da tena 477 758 759
Ricardo, defensor da - industrial 550 551
CAMPO
idiotísmo da vida camponesa 912
desenvolvimento da produção_ capitalista no - :i93
exploração do - pela cidade 661-665
superpopulação relativa no - 451
CAMPONESES
nas colônias 729 730
CAPITAL
relação de produção 473 474 823
mercadoria 946
o processo gerador do - 477 534 585-587 730 731 898 902 903
oposição entre - e trabalho assalariado 832 833 847
razão hístórica do - 83 7
tendência a economizar 982
e desenvolvimento da produtividade do trabalho 958 959
fictício 932
e renda (revenue) 863 913 914
individual, parte do capital global da sociedade 463 464 500 502
864
circulante
e capital fixo 562 563 627 628 1012 1013
reprodução do - -· 908
ausência do capital fixo ou circulante em certos ramos industriais
457 478 479 494 495 523 563
e superprodução 955
fonnas do - - segundo os fisiocratas 1012-1014
*Quando se usam dois. travessões (-· -), servem eles pani representar epígrafe
que possuí um travessão, ou, quando a epígmfe não tem travessão e depende do títu-
lo anterior, serve o prinleho travessão para representar esse título, e o segundo, aquela.
1035
constante 846 84 7
e capital variável 992 996 997 1012
reprodução do - - 908-910 924-926
elementos do - - 455 456 493-495
valor e valor de uso do - - 846
peculiaridades da reposição do - - na agricultura 486 487 541
542 590 922 923
reposiçlfo do ··- - em forma física em ramos não agrícolas 486
889 890 909 916 923 924
e processo de formação do valor 846 847 909 910
participação do - - no valor da mercadoria.e na formação do pre~
ço de produção 606 607
desvalorização do - - oriunda da produtividade crescente do tra-
balho 847 910 911
transmutação de componentes do - - em renda fundiária 888
889 892
Ricardo ignora o - - 605 606 614 805 806 845 857 899 927
970 982 998
fixo
forma do capital na circulaÇão 627 628
parte do capital constante 494 495
produto da indústria 494
reprodução do - -462 627 908 1012
e capital circulante 562 563 627 628 1012 1013.
e valor da mercadoria 642 -643
superprodução do - - 951 952 955
ausência do - - e do circulante em certos ramos industriais 457
478 479 494 495 523 563
produtivo 568 950-952
produtor de juros
na agricultura 826
e acumulação de capital 918
ver crédito
variável 84 7 84 8
e capital constante 992 996 997 1012 1013
decréscimo absoluto e relativo do - - 991 992 1013
composi;ão do -
segundo o valor; variação do valor dos componentes do capital 706·
718 950 951
1036
técnica 712 713 717 718 889-891
orgânica 706- 718
barômetro do desenvolvimento da produção capitalista 527 846
847 899
reflete o estádio da produtividade do trabalho 450 451 462 539
681 726 847 1026
influência da - - no montante e taxa da renda fundiária 681-683
em distintos ramos de produção 523 524 718 726 761 762
808 816 823 824 826
agrícola 454 455 505 524 726 727 734 735 744 808 823
824 826
e os economistas burgueses 832 833 852
ver acumulafiio do capital, adiantamentos de Cfl[Jita~ amortização do
capital rzxo, migração de capita~ produtMdade do capital
CAPITALISTA
agente de produção 4 77 582 583 649 650 758 759
na qualidade de proprietário da terra 450 477 730-734 769 770
793
apropria-se da mais-valia 582 759 805 888 889
exploração da classe trabalhadora pela classe capitalista 463 464
relaçiio do -com classes improdutivas 477
como vê a origem do lucro 501 502 613
nas concepções de economistas burgueses 697 698 852 898
CAPITAL MERCANTIL
intermedí.ário entre produção e consumo 921
e estoques de mercadorias 921
CATEGORIAS DIALETICAS
conteúdo e forma 945-94 7
essência e fenômeno 502 536 537 597-599 601
possibilidade e realidade 838 937 943-950 966 %7
CATEGORIAS ECONÔMICAS 596-598 601 792
CIDADE
e campo 661-665
Cl~NCIA
bases científicas da índústda moderna e da agricultura 540
valor da - 987
e barateamento das mercadorias 987 988
CIRCULAÇÃO
fase intermediária entre produção e consumo 919 920
1037
e reprodução 945-949
processo de - e processo de produção 943 948 949
CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS 948
CLASSES
na sociedade capitalista 895 903 928 929 1007
e repartição da mais-valia 463 464 474 475 502 507 508 582
631 864
improdutivas 477 488 582 583 758 759 954
no sistema fisiocrátíco 595
ver burguesia
CLASSE TRABALHADORA
condições de existência da - 1006 1007
reprodução da -1013 1014
COLÔNIAS
dois tipos de - 729-731
escravatura nas - 730 866
propriedade fundiária nas - 729-731 734 737 740-742 745 793
866
como se desenvolve o modo capita1ista de produção nas -6 70 730 731
lucro extra nas - 806-808 866-868 905
formação de preços nas - 730
ver teoria cokmial
COLONIZAÇÃO 729-731 739-742 793
COMERCIO EXTERIOR
e produção de mercadorias 854
e taxa de lucro 806 807 866-868 905
e produto excedente 927
COMPRA E VENDA
no processo de produção e de reproduçao capitalista 513 514 927
coincidem na troca imediata 944 966 967
sua dissociação e as crises 920 927 930 936-941 944-950 952 953
966 967
consideradas idênticas na economia política burguesa 925 936 937
940 949 963 966 967
COMUN1SMO
relações de produção 1014
propriedade no - 534
produção e satisfação das necessidades 963 1014
condições agrárias no - 534 536
desenvolvimento da humanida~e e do indivíduo 549
1038
CONCORRSNCIA
entre países capitalistas 450 451
entre distintos ramos de produção 459-465 473 474 501 502 558
618-620 637-640 643 698 725 726 747 762 782 783 865·
867
dentro de um ramo de produção 526 558 585 636-640 699 733-
735
entre os.capitalistas 474 475 500-502 636 637 793 920 956
entre os trabalhadores 866
entre os compradores e vendedores 636 637
e repartição proporcional da produção capitalista 637-641 955 956
e formação da taxa geral de lucro e dos preços de produção 461-464
473-475 500 618 619- 637-640 643 725 726' 747 748 762
782 783
e formação do vaJor de mercado e do preço de mercado 526 635-039
699 733.735
configuração invertida das relações econômicas na - 502 537 597
598 648 665 666 697 698
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
veT condições de trabalho
CONDIÇÕES DE TRABAIHO
naturais 474 475-477 675 676
objetivas e subjetivas 568
propriedade do capital 474 583 584 847
dissociadas dos produtores no capitalismo 847
CONSERTOS
ver trabalhos de repflTtlfÕO
CONSTRUÇÃO E FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS 923-927 986
CONSUMO
individual e produtivo (industrial) 906 911-922 926 951-953
em condições capitalistas 928 929 938 939 962 968 969
dos trabalhadores 904 999 1000
das classes dominantes 1005 1006
e produção 919 920 952-955
contradição entre produção e -no capitalismo 952-958
e acumulação 926
e superprodução 903 904
no comunismo 1O14
1039
CONTABILIDADE
italiana 480
capitalista 585 586
CONTEúDO E FORMA 944-948
CONTRADIÇÕES
do modo capitalista de produção 453 549 582 928-931 935 936
940 944-951 953 955 967-969
CREDITO
resultado e condição da produção capitalista 641
ver dinheiro de crédito, sistema de crédito
CRISES ECONÔMICÁS
resultado da produção capitalista 928-969
processo Violento de ajustar contradições existentes 928 935 936
940 941 945 949 956 968 969
e desproporções da produção capitalista 928 929 950-952 955 963
964
e problemas de venda 938-941 944-949 952
possibilidade e realidade das -937 938 943-950 966 967
formas abstratas das - 928 929 944 950
e dissociação de compra e venda 927 930 931 936 937 940 944-
950 966 967
e destruição do capital 931 932
e vaiiações de valor 930 932 949 951 967
e variações de preço 930 93l 941 950 968
e alta das matérias-primas 950 951 967
e alta dos meios de subsistência 951-953
e crédito 930-933 946-950
e acumulação do capital 928 930
e reconversão do dinheiro em capital produtivo 950-952 967
e a bancarrota dos capitalistas e do .Estado 932 958
periodicidade das - 904 933 936
concepções burguesas das - 903 904 929 930 932-940 947-950
952-954 959 962-968
ver superprodução
CUSTO DE PRODUÇÃO 473 503
causas de redução do - 572 578 579
e movimento do preço 461 462 473
no sentido de preço de produção 630 826
economistas vulgares e - 563 564 646 905
ver preço de produção
1040
DARWINISMO
contra o malthusianísmo 552
DEPRECIAÇÃO MONETÁRIA 564 565 571 895
DINHEIRO
expressão do trabalho social geral 944
valor do - 631-634
e possibilidade das crises 929 950-952 967 968
funções do -
medida dos valores 949
meio de circulação 949
meio de pagamento 929 945-950
meio de entesouramento 930
de crédito 930
na economia política burguesa 556 597 631 632 868 937 939
940 962
ver depredação monetária
DINHEIRO DE CREDITO 930
DIREITO
do árrendatário 534
DISTRIBUIÇÃO
do trabalho e do capital entre os ramos de produção 920
proporcional dos meios de produção e das forças produtivas 956 957
do valor 565 582 583 848 849
da mais-valia 463 464 4 74 475 502 507 508 582 63 l 864 888
889
da mais-valia extra 465
do lucro 888 889
DIVIDA PÜBLICA 895
DMSÃO DO TRABALHO
e satisfação das necessidades 944
na agricultura 491 492
Snúth 664
DIZIMEIROS 551
1041
cará~er
apologético da - - 548-551 935-937 953 954. 964 1004-
1006 '
modo de ver não histórico 453 466 584 589 939
métodos errôneos de abstração 536 537 581 582 600 601 605-
607 622 623 639 791 782 783 805 868 869
empirismo e escola.rucísmo da - - 622 623 837
c14ssica 536 537 580 581 596-599 601 602 701 702
desenvolvimento da teoria do valor-trabalho 596-598 601 673
763 764
ver economia vulgar, escola ricardiana, fisiocratas, malthusúmismo,
método da economia polftica burguesa, Ricardo, Smith
ECONOMIA VULGAR 555 556 869 870 935 936
caráter de plag:iâria da - 545 546 548 549 551 552
dissimula a relação entre capital e trabalho assalariado 935.937
identifica valor de uso com valor, oferta com procura, compra com
venda, produção com consumo 929 936 937 940 949 953-955
963 966 967
a favor do esbanjamento 547
e as relações entre salário e preço 551 624
e renda fundiária 467 468 525 563 564 574 595 774
e crises 903 904 929 930 932-936 940 947 948 962-968
e custo de produção 563 564 646 905
e lucro 903 904 981
ver apologética, malthusianismo
EMPRESTIMOS 555 765 766 895 g10 991
ENTESOURAMENTO
dinheiro, meio de - 930
ESCOCIA 553 733 751 793
ESCOLA RICARDIANA
solução escolástica das contradições na teoria de Ricardo 623 837
838 858
método de investigação da - 622 836-838 858
e renda da terra e propriedade fwidíária 582 583
dissolução da -830 831
ESCRAVIDÃO
produção e consumo na - 962 963
e propriedade da terra 897 898
e preço do trabalho escravo 655
ausência de cri.ses na - 938
1042
nas colônias 730 869
ESS~NCIA E FENÔMENO 502 536 537 597-599 601
ESTADO
e regulamentação do tempo de trabalho 454 866 869 870
e nacionalização da terra 477 534 582 583
ESTADOS UNlDOS 454 475 527 729 730 739-741 793
ESTATl'STICA 662 727 728 895
ESTOQUE DE MERCADORIAS
e acumulação 917
e desenvolvimento dos meios de transporte 920
armazenamento e conservação 927
e esfera de circulação 919"9!1
EXPLORAÇÃO
dos trabalhadores assalariados pelo capital 463 464 869 870
EXPORTAÇÃO DE CAPITAL 920
1043
crítica das idéias dos - 593-595
FORÇA DE TRABAUIO
mercadoria 829 830
valor da - 83 2
custos de produção e repiodução dela 836 837
a economia política burguesa confunde - com trabalho 83 2 833
835 836
ver condições de trabalho, divisão do trabalho. jornada de trabalho,
processo de trabalho, produtividade do trabalho, tempo de traba-
lho, trabalho, trabalho assalariado, tra/Jalho excedente
FORÇAS PRODUTIVAS
desenvolvimento das - no capitalismo 550 958 959 962 963
e incremento da produção 973
FORMA MERCADORIA DOS PRODUTOS 492 493 495 496 936 937
FUNDO DE ACUMULAÇÃO 916 917 924 925
FUNDO DE AMORTIZAÇÃO 916 917
FUNDO DE CONSUMO 999 1000
FUNDO DO TRABALHO 993.995 999 1000 1012
IDADE MEDIA
Impostos 665
capital usurário 662
ver feudalismo
IGREJA 551
WPOSTOS
diretos e indiretos 665
e taxa de lucro 816"819
INDIA 450 838
INDÚSTRIA
capital fixo, produto da - 494
e agricultura 452 453 524
extrativa ver minerafiíc
1044
moderna
base científica - - 540
de transformação
seqüência das fases de produção 481
ausência do capital constante em alguns ram0s 457 478 523
INDÚSTRIA DOMJ!STICA 1016
INDÚSTRIA DE TRANSPORTES
ausência de matérias-primas na - 4 78 495 523
e redução do processo de circulação 927
e volume do estoque de mercadorias 920
INGLATERRA 587 588 670 671
com~o da prpdução capitalista 488 1016
classes 4 71 918
situação dos trabalhadores 451 458 632 654 758 759 840 1008
1014
comércio eX'terior 564 933
dinheiro e crédito 658
indóstria 665 868 1008 1009
colônias 670 729
lei dos cereais 548 550 553-555 667
agricultura e condiçõ.es agrárias 454 478 548 569 570 583 587
588 590 668-672 733 762 763 790 792 810 896 911 912
976
JORNADA DE TRABALHO
e força de trabalho 839 840
e mais-valia absoluta 450 451 837
e introdução de novas máquinas 895
prolongamento da - 840
JURO
e taxa de lucro 657-659
Smith e o - 657-659
ver taxa de juro
LEI
geral da produção do capital 969
acumulação do capital na produção capitalista 919 920
1045
tendência a cair da taxa de lucro
expressão do desenvolvimento da produtividade do trabalho no
capitalismo 869 1025
e desenvolvimento da composição orgânica do capital 869 1026
fatores que se opõem a essa tendência 541 542 840
no sistema de Ricardo 742 805 868-870 896-904 975-978
segundo Smith 868 869 904 932 975
"rendimento decrescente do solo" 465-467 520 521 525 564 565
595 674 728 738 739 741 742 766 767 869 899
adversários dessa lei na economia política burguesa 521 547 548
574 575 589 590 667 668 1025
LEI DA MAIS-VALIA
leis que determinam o montante de mais-valia 480 841 842
LEI DO VALOR 673
vigência da - no capitalismo 470 471 489 490 595 596 606 607
621-623 763 764
e troca entre capital e trabalho assalariado 829-831
sua vigência entre diferentes países 632
LEIS DOS CEREAIS NA INGLATERRA 548 550 553.555 667 668
LETRAS 946 947
LONDRES 458 1014
LUCRO
fonte do - 725 726 806 807 811
forma transmutada da mais-valia 747 805 806
objetivo imediato da produção capitalista 763-766
e acumulação do capital 971 972 976 977
taxa e montante do - 807-809 813-815 858
repartição do - 888 889
conversão de partes do lucro em renda fundiária 888 892
relações entre -, renda fundiária e juro 888 889
médio
modificação da mais-valia 466 467 472 473 615 616 621-623
e lei do valor 606 607 621-623
suplementar 455 503 508 524-526 531 557 576 577 671 827
na indústria 452 526 527 534 539 671
na agricultura 466 467 503 508 524-527 534 557 576 577
671 676 677 759
e valor de mercado 637 671
1046
conversão do produto excedente e de parte do capital constante em
--888
nas colônias 806-808 866-868 905
industrial
seu papel regulador 902
concepções de - da economia politica burguesa
mais-valia identificada com lucro 842
concepções apologéticas 903 904 981
e os fisiocratas 981
segundo Smith e Ricardo 580 581 652-654 663 664 805 806
847-849 854 857-905
ver ta:xade lucro
LUCRO COMERCIAL 807 866-868 905
1047
fisiocratas e - 593-595 981
Ricardo ·e - 466 602 606 607 624 646 805-858 864 865 869
898 899 902 903 1000
Rodbertus e -449 450 496-498 504-517 522 523 558
Smith e - 652 662 663 837
MALTIIUSIANISMO
Malthus, plagiário 546 547 548 549 551 552
hostil ao povo 547 551 552
teoriadapopulação 546-548 551-552 574 575 654 1011 1021
defesa de grupos parasitários 547 550-552 554
apologia da miséria dos produtores 548 550-552
"lei do rendlmento decrescente do solo" 465-467 520 521 525
564 595 738 739 741 742 869
e as contradlções da sociedade capitalista 552
crítica da teoria do valor de Ricardo 622 623
teoria da renda fundiária 1020
e a econonúa política burguesa 547 552 574 575 1025
refutado pelo darwinismo 552
MANUFATURA
forma de divisão do trabalho 1016
itinerário do desenvolvimento paraa indústria em grande escala 1016
1017
revolucionada pelas máquinas 991
MAQUINAS/MAQUINARIA
valor e produtividade das - 985 986
e valor da mercadoria 989
sua reposição física 916 923 924
e domínio tecnológico do capital sobre o trabalho 989 1005 1006
e aceleração da acumulação do capital 1016
influência da variação de valor das - na composiçã'o orgânica do capi-
tal e na taxa de lucro 988 989
e produtividade do trabalho 450 451 513
e desemprego dos artesãos 1005
revolucionam a manufatura 991
e acréscimo da população 988 989 997
e aumento das camadas sociais improdutivas 1004 1005
e prolongamento da jornada de trabalho 895
repercussões do emprego capitalista das - na classe trabalhadora 451
986 988-995 997 1004 1005 1016
ver construçiib e fabricação de máquinas
1048
MATI!RIAS AUXILIARES 924
MA TERIAS-PRIMAS
produto da agricultura 494 512 513
influência da variação do valor das - sobre a composição orgânica do
capital 541 542 811 812 951
influência da variação do valor das - sobre a taxa de lucro 508 811
812 867 868 950 951
alta de - e crises 950 951 967
MECÂNICA 540
MEIOS DE PRODUÇÃO
elemento do capital constante 455 456
MEIOS DE SUBSIST:êNCIA
valor dos - 848
e capital variável 1O13
e reprodução da força de trabalho 770 836 837
MERCADO
fase de circulação da mercadoria 919 920
e escala da produção capitalista 920 958 959
saturação do - 451 958 959
e flutuações de preços 720-723 750 752
interno 934 959 995
ver valor de mercado, preço de merazdo
MERCADO DE DINHEIRO 584
l\.fERCADO MUNDIAL 854 903 933 959 960 1016
MERCADORIA 450 936 937
precondição e resultado da produção capitalista 495 496 695 842
854937
duplo caráter da - 937 942-945
e dinheiro 937 940 944
condições de produção e realização da - no capitalismo 944 945
ver estoque de mercadorias, forma mercadoria dos produtos, produfiío
de mercadorias, troca de mercadorias, valor da mercadoria
METAMORFOSE DA MERCADORIA 936 937 940 943·946
METAMORFOSE DO CAPITAL 946 950
M.ETODO DA ECONOMIA POLITICA BURGUESA
método de investigação de Smith e Ricardo 536 537 580 581 583
584-586 596-603 605·607 622-624 639 640 646-650 659 660
666 701 778 779 781-784 805 806 842 868 869
método dos economistas da escola rlcardiana 623 836-838 858
método da economia vulgar 778 779 858
1049
MIGRAÇÃO DE CAPITAL 637-641 651 652 956
MINERAÇÃO 480
produtividade do trabalho na - 681 682.
processo de reprodução na-494 495
não se emprega matéria-prima na - 457 4 78 4 79 523 563
renda fundiária na - 678-683 768 769 793-795
MODO DE PRODUÇÃO
capitaliua
característica geral 582 583 920 936
pressupostos e condições fundamentais do - - 477 534 730 731
936 937
fonna mercadoria dos produtos, base do - - 493 495 496 936 937
coerção para extrair trabalho excedente 837 838
contradições do - - 453 549 581-583 928-931 936 937 940 944-
949 953-957 968 969
limita o livre desenvolvimento das forças produtivas 962 963
estádio prelimínar do desenvolvimento do - - 587 588
como se desenvolve na agricultura 488 493 495 496 668 669 898
como ·se desenvolve nas colônias 670 730 731
submissão de todas as esferas da produção material do - - 495 496
e a dupla qualificação dos camponeses'e artesãos 778
emprego do trabalho escravo no - - 730
a economia política burguesa, expressão teórica do - - 4 70 582-584
668 669
forma única e eterna para os econonústas burgueses 453 466 584
589 939
ver feudalimw, comunismo, escravidãQ
MOEDA ESCRITURAL
ver dinheiro de crédito
MONOPOLIO
do capital 525
da propriedade fundiária 525 531 532 595 596 759 774
1050
NECESSIDADES
e nível da produtivídade do trabalho 450 451 838 839
sociais 838 839
solvíveis 942 969
satisfação das - 944 963
no comunismo 1014
OBJETO DE TRABALHO
elemento do capital e elemento do processo de trabalho 455 456
OFERTAEPROCURA 460 461 563 564 702-704 929 940 941
ver procura
OURO (E PRATA) 630-632 728
PAUPERISMO 914
PAUPERIZAÇÃO
diminuição da cota da classe traballiadora no fundo de consumo 999
1000
PECUÁ)UA 672 726 773 785-788 989 995 996
PERfODO DE PRODUÇÃO
ver tempo de produçüo
PERIÕDO DE TRABALHO
ver tempo de trabalho
POPULAÇÃO
crescimento da - trabalhadora e salário 914 1014-1017
crescimento da - e produtividade do trabalho 975 976
fonte de novas forças de trabalho 975 988 989
e acumulação de capital 568 569 914 928 972
agrícola e nível de desenvolvimento do país 911 912 976
ver mperpopulação relativa, teoria da população
POSSIBILIDADE E REALIDADE 838 937 943-950 966 967
PRATA
veroto'O
PREÇO
e valor 451 461 694-698 762 763
e depreciação monetária 564 565 571 895
flutuações de - 720-723 750 752
'dos produtos agrícolas 451 452 531-533 558 593 594 639 640
727 728 745 763
105I.,
comportamento dos preços dos cereais na Inglaterra 548 556 564-
566. 571-575 667 840 895
Smith e "preço natural" 746-749 779-784 794
PREÇO DA TERRA
renda fundiária capitalizada 735
PREÇO DE MERCADO 526 558 636-638 763 764
e preço de produção 625 626 666 747 748
e valor de mercado 634-639 699-703
PREÇO DE MONOPÓLIO 470 763
e lei do valor 470 525 595
dos produtos agrícolas 595 596 818 819
e renda fundiária 464 465 774 780 818 819
de produtos urbanos na Idade Média 745
PREÇO DE PRODUÇÃO (PREÇO DE CUSTO, PREÇO MEDIO)
resultado da concorrência entre.os ramos de produção 461464 473-
475 '500 558 618 619 637-640 643 725 726 747 762 782
783
conseqüência e resultado da produção capitalista 762
e valor 463 464 468 488 489 502 503 560-563 615 616 621
622 625 626 643-646 666 673 674 707 725 726
e preço de mercado 558 625' 626 666 700 747-748
e renda fundiária 747-749
e flutuações do salário 818-827
caráter histórico do - 536 674 763
valor identificado com - na economia política burguesa,-459461
468 560 561 563 585 596 607 630 639 640 645 646 648
666 673 674 728 747-749 759 760 767 805 818 826 857
865 902
ver custo de produção
PREÇO DO SOLO
ver preço da terra
PROCESSO DE FORMAÇÃO DO VALOR
e processo de trabalho 455 456 481 512 515 516 542 627 628
846 908
PROCESSO DE TRABALHO
e processo de formação do valor 455 456 481 512 515 516 542
627 628 846 908
PROCURA
de força de trabalho 928
ver oferta e procura
1052
PRODUÇÃO
e troca 461 462
e necessidades 963
e consumo 919 920 952-955
e mercado 903 904 919 920 958 959
e reprodução 490492
material 495
subprodução 962 965 967
capitalista
objetivo deternúnante da - - 903 904 931 938 939 948 956
. 981 982 999
e desenvolvimento das forças produtivas 549 550
acumulação do capital, lei da - - 919 920
ver custo de produção, meios de produção, superprodução, tempo de
produção
PRODUÇÃO DE MERCADORIAS 889-891 944
no capitalismo 854
PRODUJ'IVIDADE DO CAPITAL
e coerção para extrair trabalho excedente 837 838
PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
absoluta e relativa 450 451
conceituação capitalista 4 77
no capitalismo 550 664 956 958 959 963 1006
e valor da mercadoria 694-697
e mais-valia 450 451 477 517 518 696 697 838
e taxa de lucro 870 1025
aumento da -; fatores que a elevam 973-975
e composição orgânica do capital 450 451 462 539 681-683 727
847 1026
e acumulação do capital 956 972 992
e emprego de máquinas 450 451 513 541 542 990-992
e salário 450 451 505 506 697 838
na agricultura 452454 477 512 513 526 539-542 728
na indústria 453 477 539-542
PRODUTO
confronto do produto total das diferentes nações 911-913
forma mercadoria dos produtos no capitalismo 493 495 496 936
937
PRODUTO EXCEDENTE 923 924
1053
e comércio exterior 926
Ricardo e - 746 849 858
PRODUTOS AGIUCOLAS
formação de preços dos - 451 452 531-533 558 639 640 727
728 745 763
causas das elevações de preço dos - 564 571-574
PROPRIEDADE
das condições de trabalho (dos meios de produção) 4 74
capitalista 474 583 584 847
privada da terra, primeira condição do desenvolvimento do capital
476 477 534 583 730 731
no comunismo 534
ver propriedade da terra
PROPRIEDADE DA TERRA 589
diferentes formas de - 475 476 477 534 584 897 898
e modo de produção capitalista 476 477 582-584 668 669 673
674 729 739
renda fundiária, forma econômica da - 451 4 71 525 589 596 673-
677 726 729 761 766 774 792-827
fonte de renda. mas niio de xalor 475 476
e formação de valor na agricultura 531 532 557 558 639 640 673-
675 729 744 745 763
dissociação entre - e trabalho, primeira condi#o do desenvolvimento
do capital 476 477 534 730 731
existência nominal da - 472 534 668 669 729 733 734 737 738
748 764 765 768-770 792-793 796 826 827
nas colônias 729-731 734 737 740-742 745 793 866
negação da - na economia política burguesa 548 582 583 796
na teoria de Ricardo 525 526 534 548 582 669 737-739 745
809 810
ver nacionalização d.a terra
PROPRIEDADE PRIVADA
ver propriedade, propriedade da terra
PROPRlETÁRlOS DA TERRA
caráter ímprodutivo dos - no capitalismo 477 488 582 583 759
954
interesses opostos entre os industriais e os - 550 551 553-555
758 759
apropriam-se do lucro suplementar da agricultura 455 503 6 76 6 77
759
1054
apropriam-se dos resultados da fertilidade acrescida do solo 534 577-
579 803
e arrendatários capitalistas 582 583 588
os fisiocratas e os· - 797
na Antigüidade e na Idade Média 4 77 583
PROTECIONISMO 548 553 554
QUIMICA
base científica da agricultúra 540
influência dos processos químicos no tempo de produção 610
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO
no comunismo 1O14
capitalistas·
como relacionamento entre compradores e vendedores 952-955
econon;iistas burgueses. e - - 936 937
RELIGIÃO
construções religiosas na Antigüidade 963
RENDA (REVENUE-, INCOME)
fo"ntes originais da - 475 476
líquida e bruta 981 984 998 999
derivada 516 929
dos trabalhadores improdutivos 995 1001
dos capitalistas 508
e capital 512 863 913 914 925 926
liberação de··- 992 993 997 1001
Ricardo e - 981-984 998 999
Smith e - 58í 858 927
RENDA DA TERRA
produto necessário da produção capitalista 453 527 536 791
forma especial de mais-valia 451 452 470 471 510 574-576 791
805 981 1021
forma do lucro suplementar 455 503 508 524-526 557 576 577
·671 743 827
forma econômica da propriedade da terra 451 471 525 589 596
673-677 726 729 761 766 774 792 827
capitalizaçã'.o da - 735
caráter histórico da - 534 536 582-584 674 823-827
condições diversas em que aparece a - 451 475 476 524 525 532
533
1055
determinação da - pelo solo mais fértil (lei de Storch) 530 571 572
722
montante e taxa da - 467 476 503-505 520 521 533-535. 538-
540 542 543 560 681-683 688 689 705 706 746 760 '
global 700 ·703 722 723
cálculoda-452 513 542 543
primordial e ~erivada 672-675 679 ·700 ,701 726 761 767 773
787-789 796 797
na indústria e em imóveis 471 508 796 797
na mineração 678-683 793 794
e juros 569 570 574 774
absoluta 532 557 572 672 673 684 685 688 689 698 699 722
723 728 729 759 825 826
expressão da propriedade privada da terra 451 469 470 525 596
673 674 726 729 761 766 826 827
condições de existência da - - 471 473 475 476 524 525 531
532 534 557 596 728 729 731 738 759-761 763 808
826 827
caráter histórico da - - 536 674 824-826
a lei do valor 683 688 765 706
Ricardo nega a - - 525 560 561 595 596 672 674 7o4 705
744 826
teoria da - de Anderson 521 545-548 553-556 574-579 667 668
füiocratas e - 593-595 981
Ricardo e - 465-468 520 521 525-527 534 536 546-548 553-557
560 561 564 565 575-583 594-596 667 668 672-679 704
727 728 738 739 741-745 825
Rodbertus e -479 495 503·507 516 517 520-525 531 536 583
584 585-591 625
Smith e - 580 581 652-654 749 761 764 766-769 773-803
concepções vulgares da - 467 468 525 563 564 574 595 774 1023
ver renda diferencia~ arrendamento, arrendatários
RENDA DE MONOPOLIO 464 465
RENDA DIFERENCIAL 557 572 671 684 685 699 700 719 720 722
723 759
causas da - 536
formação da - 887 888 892 893
e lucro suplementar 671 739
montante e taxa 476 525 526 686 687
1056
na transição de melhores para piores solos e vice·versa 672 704 705
739-742
e fertilidade artificial do solo 578 579
e preço dos produtos agrícolas 745
e renda fundiária absoluta 525 527 567 672 738 739
e nacionalização da terra 534 582 583
e comunismo 536
e Ricardo 525 560 561 595 596 673 674 701 704 705 744
RENDA DIFERENCIAL 1
e diferenças de fertilidade dos solos cultivados 452 476 525 526
671 701 702 738 739
RENDA DIFERENCIAL II
formação da -476 526 743 762 764 765
e propriedade da terra 826
RENDA FUNDlAR.IA
ver rendo da terra
RENDA NACIONAL
ver renda (repenue, income)
REPARTIÇÃO
ver distribuição
REPRODUÇÃO
unidade de produção e circulação 490 491 495 496 946 948 949
abrange reposição do valor e reposição material dos produtos 889
890 930
tempo de - 908 909
problemas da realização do processo de - 920 921 930
da força de trabalho 829 835-837
do capítal fixo 462 627 908 1012
do capital eonstante 908-911 924-926
do capital circulante 908
e produtividade do trabalho 975
e crises 928-931 945 946
natural na agricultura 495
simples 917 925
conceituação 913
e acumulação 916 91 7 925
ampliada 916·918 924 925
acumulação do capital, forma capitalista da - - 919 921 923-925
_e incremento da produtividade do trabalho 956
1057
RESIDUOS 458
REVOLUÇÃO FRANCESA
posição de Malthus contra a ··- 550
REVOLUÇÃO SOCIALISTA 1014
RICARDO
papel de -- na lústória da economia política 598 599 669
crítico de Adam Smith 601 631 666 761-771 807-830 903
959 960
representante do capital industrial 550 585 586 670
catacterlstica geral do sistema de - 583 584 598
contradições na teoria 466 606 607 679 764 765_ 835 836
861 862 1007 1008
modo de ver não lústórico 939 962 963
carências no método de investigação 537 580 581 583 584
596-600 605-607 622-624 639 640 646 701 805 806 842
868 869
probídade científica de Ricardo 548-551 556 557 989 990
teoria do 1alor de -
coerência na determinação do valor pelo tempo de trabalho 563
580 581 596-598 60L 625 827-830
falhas na - - 596-605 632 633 830-833 864 86~ 939 940
incompreensão da especificidade do efeito da lei do valor no capi-
talismo 829 835 842 864 865 ·
variações "dos valores relativos" das mercadorias 562 ~63 606-
621 625 626
teoria monetária de - 556 597 63 l 632 809 868 936 937 939
940 962
teoriadamai~1aliade - 602 805-856 859 898 899 1000
sem análise da origem da mais-valia 837 838 840
desenvolvimento da mais-valia relativa 837 838 845 848 849
mais-valia identificada com lucro 466 602 606 607 624 646
805 807 809 837 857 864 865 871 898 899 903
relações entre capital e trabalho ai!salariado 832 833
expulsão de trabalhadores por máquinas 985 986
teoria do salário de - 6 07 608 6 ll 612 83 5-841 848-85 6
confusão de trabalho com força de trabalho 835-837
valor do trabalho e salário 832-837 848-851 854 855 868 869
992 993 1000
relações entre salário e valor da mercadoria 551 624-631 823
848 849
1058
teoria do lucro (teoria do lucro médio e dos preços de produção)
de - 806 847 853 854 857-905
taxa geral de lucro 606 607 611-615 618-620 622 624 626
628 652 806-808 858 864 865
queda da taxa de lucro 805 868-870 896-904 975-980
razão inversa entre lucro e salário 505 506 624 840 848 849
razão inversa entre lucro e renda 507 869
rnigr~ão do capital 640 641 651 670 81 O 865
valor identificado com preço de produção 459-461 468 560 561
563 585' 596 606 607 630 639 646 648 666 672-674
728 746-749 759 760 767 805 818 826 858 864 865 902
conjetwas sobre diferenças entre preço de produção e valor da mer-
cadoria 615-617 623 624 629 630 -767
valor de mercado identificado com preço de mercado 467 636-
639 865
influência das flutuações de salário sobre os preços de produção
607 608 611 612 624-631
teoria da renda de - 465 467 468 525 537 538 546 548 560-
563 582-589 595 596 625 634 636-638 646 667-679 683
701 702 704-706 733-772 782-784 803 805 811 818-827
893 894
e propriedade da terra 525-527 534 548 582 583 669 737-
739 745 809 810
capital segundo -
natureza do capital 852
pesquisa das formas de capítal na circul~ão 606 608-611 627
805 900 901
exclusão do capital constante 605 606 614 805 806 845 846
858 899 927 966 982 998
acumulação do capital 581 903 904 907-980 996
concepções de -sobre a produtividade do trabalho 477
na agticultura 476 674 728 749 750 870 899 902 975
976
caráter improdutivo dos proprietários das terras 582 583
comércio exterior 806 807
renda (revenue) bru,ta e renda líquida 981-984 998 999
comércio colonial e sistema colonial 658 669 670 737-743 866-
868
nega a superprodução 903 929 932 933 935 938-941 962 963
1059
crítica·das idéias de - por economistas burgueses 549 587 588 596
597 599 602 604 605 622 623 670 671 742 743 831 837
os adversários sentimentais 549 81 O
os que o criticam do ângulo do modo de produção prê-caPitalista
583 584 585-588 668 669
estrutura da obra de - On the principles ofpolítica/ economy 599-602
ver escola ricardiana
RÚSSIA 454 911
SALÁRIO
natureza do - 811
forma do valor da força de trabalho 747_ 748
e valor da mercadoria 450 848 986
e mais-valia 451 708 709 839-841
e lucro 505 506 709
e preço de produção 818-827
e produtividade do trabalho 450 451 505 506 697 838
diferenças de nível do - entre trabalhadores industriais e trabalhado-
res agrícolas 451
diferenças nacionais de - 45 f
eausas de variação do - 825 1014-1017
queda do - abaixo do nível tradicional 451 454 895:
Ricardo 551 607 608 611 612 623-631 822 832;.837 847-851
853-855 868 869 992 993 1000 1001
Smith e o mínimo de 652 653 661 662
e preço segundo os economistas vulgares 551 624
SISTEMA DE CREDITO 640 .641 959
SMITif
sucessor dos fisiocratas 593 594 785·791 797
caracterfstica geral do siúema de - 580 597 598 647 648
contradições teóricas 536 537 597 598 652 653 655-657 778
779 781-783 828-830 835
dicotomia do método de investigação de - (exotérico e esotérico)
536 537 597 598 601 647-650 659 660 665 666 778
782·784
elementos teóricos vulgares 778 779 903
teoria do valor de -
definições diferentes do valor 536 537 631 647 648 656 663
747 775-780 797-802 828 829 834 835
1060
negação da vígência da leí do valor no capitalismo 622 623 S28
829 834
"preço natural" 746-749 779-784 794
idéias contraditórias sobre a medida dos valores 835
lucro, renda (rent) e salário, fontes do valor 536 537 630 631
647-649 652 653 656-660 665 666 775 776 779 782 783
801 802 903
red~ão do valor do produto anual a renda (revenue) 581 650
846 857 927
teoria da mafs...valia e do lucro de -
natureza e origem da mais-valia 652 662 663
valor qualificado de trabalho, e mais-valia, de trabalho excedente
837
compreensão científica do lucro 580 652 653 663 664
queda da taxa de lucro 868 869 903 932 975
migração do capital 651 652
fonnação do preço de prod~ão 650-652
valor identificado com preço de produção 459-461 648 649 665
666 747-749 767 775
teoria da população de - 654 785 786
teoria colonial de - 658 670 737 738 742
e acumulação do câpital 903 907 959 1011
e o salário (mínimo de salário) 652 653 661 662
e divisão do trabalho 664
e renda da terra 580 581 593 594 652 654 672 676 678 749
761 764.766 768 769 773-803
e os ínteresses das diferentes classes 803 804
e as crises 959
e capital circulante 1012
crítica das idéias de - por economistas burgueses 597 598 666 670
737 738 747 782-784 845 1012
idéias smitlúanas, fonte de confusões para os sucessores 584 631
640 641 642 646-648
SOLO
ver terra
SUBSTÂNCIA DO VALOR 560 596 597 604 605
SUPERPOPULAÇÃO RELATIVA 914 994 999 1006 1007
conseqüência do emprego capitalista das máquinas 988 989 992
no-campo 451 992
1061
SUPERPRODUÇÃO
no capitalismo 942 962 963 969
fenômeno fundamental das crises 962
e subprodução 962 963-965
e saturação do mercado 958 959
do capital fixo 951 952 955
do capital circulante 955
de mercadorias e capital 932 933 967 969
e situação da classe trabalhadora 903 942 958 962
caráter periódico da - 903 904
relativa 958 964 966
parcial e geral 939 942 957 959
Ricardo nega a - 903 929 932 933 935 938-941. 962 963
ver crises econJJmicas
1062
TEMPO DE TRABAlliO
e tempo de produção 462
necessário 453 454
individualmente necessário 561
TEORIA COLONIAL
de Smith e Ricardo 658 -669 670 737·743 793 866 867
de Wakefield 729
TEORIA DA POPULAÇÃO
de Malthus 546-548 551 552 575 654 1011 1012 1021
de Smith 654 785
TERRA
força produtiva 773
o solo como produto de um processo histórico-natural 676
cultivo de novos solos 571·573 577 578
valor da - e renda fwidiária 560 563 564
nacionalização da - 477 534 582 583
condição original do trabalho 476 477
objeto de trabalho 455 456
ver fertilidade do solo, preço da terra, propriedade da temi, Proprietá-
rios da terra, renda da terra
TfrULOS 765 932
TRABALHADOR AGRlCOLA 451 976
TRABALHO
base natural do - 476 477
substância do valor 561 596 597 604 605
simples e complexo 449 450 816
abstrato ·
forma de trabalho social 604 605 939 940 963
e concreto 939 940
vivo e materializado 829-831 852 909 91 O 923
necessário
sociahnente necessário 471 472 561 955 956
produtivo
conceituação de - - 54 l 982
ver condições de trabalho, divisão do trabalho, força de trabalho,
jornada de trabalho, processo de trabalho, produtividade do tra·
balho, tempo de trabalho, trabalho agr(cokl., trabalhiJ assalariado,
trabalho excedente
1063
TRABAlHOAGRfCOLA 453 454 513 749 750
ver trabalhador agrícola
TRABAUIO ASSALARIADO
base da produção capitalista 829
reprodução ampliada do - 1005-1007
TRABALHO DAS CRIANÇAS 840 914
TRABALHO DAS MULHERES 840 914
TRABALHO EXCEDENTE
base da produção capitalista 714
coerção para extrair - 837 838
e produtividade do trabalho 838
e trabalho simples e complexo 816
TRABALHOS DE REPARAÇÃO 908 916
TROCA
entre capital e trabalho assalariado 829-831
de capital por capital 909 925 926
de renda por capital 512 926
e produção 461 462
e circulação 944
TROCA DE MERCADORIAS 829-831
TROCA DE PRODUTOS 944 962 966 967
VALOR 468 580 581 622 623 694-696 827-829 939
individual e de mercado 634-638 699-703 943 944
e preço 461 763
distribuição do - 565 582 583 848 849
identificado com valor de uso na economia política 9urguesa 581 582
busca de medida invariável do - na economia política burguesa 798
834
Malthus e o -, ver em malthusianismo
Ricardo e o-, ver em Ricardo
ver lei do valor, mais-valia, processo de f onnação ck> Vfilor, substância
ck> valor, valor de troca, valor de uso
VALOR DA MERCADORIA
Smith e o -- 581 650 857 927
VALOR DE MERCADO 526 558 597 625 634-638 671 699 700 701-
703 734 735 955 956
limites das flutuações do - 699 702 703
e valor índivídual 634-638 699· 703 722 723 943 944
e preço de mercado 634-639 699- 703
1064
e lucro suplementar 637 671
e renda fundiária absoluta 699 702 722 723 748
e renda diferencial 699 700 722 723
e repartição do produto excedente 887
e oferta e procuta 702-705
na teoria da renda de Ricardo 595 625 634-639 673 702 734 735
VALOR DE TROCA 939 940
base e objetivo da produção capitalista 939 940
e preço 695
destruição do - nas crises 931 93 2
VALOR DE USO 943
importância econômica do - 924
e produtividade do trabalho. 512 513 695
no processo de produção 568
valor e - segundo os economistas burgueses 581 582
VALOR EXCEDENTE
ver mais-valia
1065
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