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O que acontece em Belém não fica em Belém.

Um estudo sobre o Natal.

Segunda formação - Reinados - 05/12/2021

Rei Herodes, o Grande

“Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei


Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém.” (Mt 2, 1)

Durante o governo da Judeia pela dinastia asmoneana (140 a. C. a 37


d.C.), os edomitas (povo ao qual Herodes pertencia) foram obrigados a
observarem as leis judaicas ou deveriam partir em exílio. Tanto
submetidos às leis judaicas referente ao rígido controle alimentar, como
à circuncisão dos homens.
Os edomitas assumiram as leis judaicas e começaram a crescer em
poder, fazendo acordos com os romanos.

“Dos edomitas surgiu um homem a dar sinais de que queria (e podia)


restaurar as fortunas de Israel nos termos da aliança firmada entre Deus
e Davi. Seu nome era Herodes. Os historiadores se referem a ele como
Herodes, o Grande.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 50.

O rei Herodes foi um bom líder, fundando novas cidades e dando início
a projetos arquitetônicos extravagantes. Trouxe paz, estabilidade e
segurança para a região. Porém, ele tenta com todas as forças se
aproximar da descrição do filho de Davi. Constrói um segundo Templo
com escalas gigantescas em comparação ao Templo de Salomão.

Começa então a querer ser o filho de Davi esperado e, sendo inseguro,


agia quando surgia alguém suspeito de querer atrapalhar seu reinado.
Chegando a planejar o assassinato de sua própria esposa, Mariana, e
de três de seus filhos, por medo de que eles estivessem conspirando
para derrubá-lo.

Nessa época em que Herodes reinava, havia no mundo um suspense


de que o tempo havia chegado para a vinda do Messias. Como exemplo
disso, há o poeta pagão Virgílio que faz a seguinte oração à deusa
protetora do parto:

“Tu, casta Lucina, favorece o menino que nasceu há pouco;


por causa dele, a época de ferro desaparecerá
e a geração de ouro surgirá no mundo. [...]
A glória desta idade avançará, e os grandes meses começarão a correr.
(...)
Se permanecem alguns vestígios de nossos crimes,
serão apagados e libertarão a terra de um pavor eterno.
(...)
Ele receberá a vida dos deuses [...]
e regerá com as virtudes paternas o universo pacificado.”
Virgílio, Quarta Écloga. Tradução de Zélia de ALmeida Cardoso publicada em
Maria da Glória Novak; Mária Luiza Neri (orgs.), Poesia lírica latina, Martins
Fontes, São Paulo, 1992.

“Era quase como se o mundo todo sentisse, ainda que vagamente, que
estava prestes a testemunhar um momento crucial da história. Era
quase como se as pessoas já estivessem buscando uma explicação
para um evento inevitável.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 54.

Os sacerdotes do Templo haviam chegado à conclusão de que o tempo


do Messias descrito por Daniel havia chegado. Segundo eles, as setenta
semanas haviam se esgotado (Dan 9).
Herodes começa a buscar sinais e explicações de quem poderia ser o
Messias ou como ele poderia encontrá-lo e nessa busca, deve ter
chegado ao oráculo de Balaão contido no livro de Números:

“Eu o vejo, mas não é para agora, percebo-o, mas não de perto: um
astro sai de Jacó, um cetro levanta-se de Israel, que fratura a cabeça
de Moab, o crânio dessa raça guerreira. Edom é sua conquista, Seir,
seu inimigo, é sua presa. Israel ostenta a sua força. De Jacó virá um
dominador que há de exterminar os sobreviventes da cidade”
Num 24, 17-19.

Atendo-se a esse aspecto de um astro que sai de Jacó. Herodes busca,


secretamente, os magos para obter respostas sobre um astro que pode
apontar o Messias.

Reis Magos

Cerca de um século antes de Cristo, existia uma diferença entre judeus


e os persas. Essa era uma questão em que judeus e romanos estavam
de acordo: o desprezo pelos persas. Ainda mais pelos homens sábios
da Pérsia que eram os reis magos.

“Os magos eram astrônomos e seguiam de perto o movimento dos


corpos celestiais, a posição relativa das estrelas e as fases da lua, por
exemplo. Afirmavam ser capazes de ler nos astros os inícios de eventos
futuros.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 112.
Por haver essa divergência, os magos carregavam a imagem dos
gentios: estrangeiros e idólatras, que ignoravam e desprezavam os
costumes de Israel e o seu Deus. Um povo totalmente oposto ao povo
escolhido de Israel.
Apesar dessa divergência, havia uma certa admiração entre os povos.
Já que os judeus chegaram a colocar no Talmude (coleção de livros
sagrados para os judeus, com regras sobre a ética, os costumes
judaicos e sua história) a proibição de buscar os magos para instruções.

Também os magos acabam por deixar escapar um certo fascínio pelo


Deus de Israel quando vasculham o céu buscando sinais da vida do Rei
dos Judeus.

E esse sinal vem.

A Estrela de Belém

“A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria” (Mt 2, 10).

Essa passagem traz algo específico sobre a estrela de Belém e o seu


efeito nos magos. Porque demonstra que a chegada do Cristo gera uma
alegria não somente no povo de Israel, mas em todo o mundo, incluindo
aqueles que desprezavam as leis e que viviam distantes de qualquer
convívio com esse povo de Deus.

“Hão de vos louvar, Senhor, todos os reis da terra, ao ouvirem as


palavras de vossa boca” (Sl 137, 4).

Essa estrela de Belém tem suas particularidades, e essas são


apontadas por São João Crisóstomo que conta que ela “movia-se de
norte a sul, acompanhando a posição da Palestina com relação à
Pérsia”, quando a maioria das estrelas se move de leste para oeste,
como o sol.

Ela também brilhava no céu em pleno meio-dia, algo que nenhuma


estrela e nem mesmo a lua é capaz de fazer. O astro brincou de
esconde-esconde com os magos ao guiá-los até Jerusalém para, em
seguida, desaparecer por um tempo e reaparecer depois.

Por fim, o astro não está somente em Belém, mas acima do local do
nascimento de Cristo.

Conclui São João Crisóstomo que “essa estrela não era como as outras;
de fato, a mim me parece que não era sequer uma estrela, mas sim um
poder invisível que tomou a forma visível de uma estrela”.
São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de Mateus, 6, 3.

“Assim como São João Crisóstomo, sou levado a concluir que um Anjo
apareceu aos magos na forma de uma luz no céu e os levou ao
verdadeiro objeto de adoração. Foi para isso que os Anjos foram
criados.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 119.

Se os reis magos são os que estudam os astros e vasculham neles


sinais que indiquem a chegada do Rei dos Judeus, Deus se utiliza disso
para atraí-los.

Também na estrela de Belém há a resposta de que, diante da


Encarnação do Verbo, até mesmo o cosmos se submete a Ele.

Presentes

“Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro,


incenso e mirra.” (Mt 2, 11).

Existem várias buscas para justificar o significado dos presentes.


Orígenes de Alexandria, estudioso do século III d.C., diz: “Ouro, para um
rei; mirra, para um mortal; e incenso, para um Deus.”
“No Templo, os receptáculos eram feitos do mais puro ouro (Lev 24,
4-6), a fumaça do incenso ascendia com as preces dos sacerdotes (Lev
16, 12-13) e a mirra era usada nos óleos próprios para unção (Ex 30,
23). No momento em que Jesus recebe os presentes, portanto, vemos a
transmissão da mais elevada autoridade sacerdotal à quele que era seu
portador de direito: o Filho de Davi, Rei Messias de Israel.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 116.

“O ouro que fora adorado agora adorava a Ti, quando os magos o


ofereceram. Aquilo que fora adorado em imagens fundidas, agora
adorava a Ti. Com seus adoradores, adorava a Ti. [...] O sol rendia
adoração ao Deus verdadeiro, pois os adoradores do sol [...] adoraram a
Cristo.”
Santo Efrém da Síria, Hinos sobre a natividade, 15, 29.

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