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Em entrevista concedida à revista eletrônica KNA publicada pelo Instituto Federal de

Brasília, Nelson Machado, secretário executivo do Ministério da Fazenda falou sobre o sistema
de custos do governo federal e partir dessa avaliação de custos como é possível melhorar o
planejamento e o orçamento governamental com mais clareza e para onde estão sendo
destinados os recursos públicos.

KNA: Para lidar melhor com o dinheiro público, os gestores podem contar com uma nova
ferramenta informatizada. Quem explica pra gente os impactos dessa novidade é o Secretário
Executivo do Ministério da Fazenda Nelson Machado. Secretário o que é essa nova ferramenta?

Nelson Machado: O sistema de custos é um sistema de informação muito importante para


o processo de tomada de decisão. Todas as empresas e entidades utilizam o sistema de custos
para tomarem decisões: para saber o que ele vai construir, fabricar, de que maneira vai usar os
recursos para produzir recursos e serviços de melhor qualidade e com menores custos. O setor
público ressentia a falta do sistema de informação de custos. Aliás, é importante ressaltar que a
necessidade de se ter esse sistema no setor público já é bastante antiga. A lei 4.320/64 já dizia
que o setor público deveria construir um sistema de informação de custo, mas até agora não
havia sido construído. Não havia sido construído, primeiro, porque tínhamos uma dificuldade
conceitual. Por que iríamos fazer sistema de custos para o setor público? Custo do que? Custo
para que? Já que o estado de forma geral não produz serviço para ser vendido. Portanto como
saber o custo? Para determinar o custo, como se faz na maioria das empresas, não teria sentido.
Ultimamente, os gestores têm ficado preocupados em como melhor utilizar os recursos públicos
que são colocados à sua disposição. Então, o sistema de informação de custo vem para avaliar o
custo dos projetos, das atividades, dos órgãos, e permitir que os gestores possam estabelecer
comparações. Comparações entre dois órgãos diferentes. Então, tenho um órgão na cidade X e
outro órgão na cidade Y. Se conseguir calcular o custo desses dois órgãos, podem ser
comparados. Fazer aquilo, que na linguagem de hoje, bastante conhecida, fazer um benchmark,
para saber qual dos dois gestores estão utilizando melhor os seus recursos. Também o gestor
pode analisar a sua performance, o seu trabalho, analisando os diversos anos, o custo do órgão
que ele administra no ano um, verso o custo do órgão que ele administra no ano dois, três ou
quatro, e assim por diante. Então, nesse sentido ele consegue ele consegue verificar as decisões
que ele tomou, os recursos que ele utilizou e os serviços que foram prestados a população.
Então, o sistema de custo está muito associado à necessidade de melhorar a qualidade do gasto
público.
KNA: Então, esse sistema vai funcionar assim, o servidor público, no caso, o gestor de
um determinado órgão vai alimentar esse sistema com os dados de quanto custa cada coisa que
ele desenvolve em seu departamento em sua área. É isso?

Nelson Machado: Essa seria uma forma de montar um sistema de custo. Introduzir
informações de cada um dos objetos que estão sendo analisado o custo. Mas nós optamos no
governo federal, por fazer um sistema de custo utilizando as informações já existentes, nos
diversos sistemas chamados estruturantes que o governo federal mantém. E já mantém há
décadas, então são sistemas estáveis. Então nós temos o sistema de contabilidade (SIAFI),
bastante conhecido. Ele registra todos os pagamentos, todas as despesas, todas as receitas, todos
os recebimentos, todo o orçamento do governo federal é registrado no SIAFI. Além disso, nós
temos um outro sistema que chama SIGPLAN, que registra todas as quantidades de obras, de
serviços que deverão ser produzidos e que estão colocados no orçamento e também àquilo que
foi executado. Então, de um lado tenho as informações monetárias e do outro lado tenho as
informações físicas.

KNA: O que o sistema de custo do governo federal faz?

Nelson Machado: Ele toma as informações do sistema de contabilidade, onde estão às


informações financeiras, traduz o conceito de despesa em conceito de custo (dou outra
entrevista para explicar como faz), e traz para os sistema de custo traz também informações de
quantidade que estão no SIGPLAN para o sistema de custo, junta essas duas informações e
oferece ao gestor a informação de quanto custa aquele projeto, aquela atividade, e até das
quantidades que foram executadas, por exemplo, se tenho um programa de vacinação, posso
conseguir construir o custo da vacinação e se eu souber quantas vacinas foram aplicadas em um
determinado período, dizer quanto custou cada uma das vacinas aplicadas em cada uma das
crianças da população. Este é o centro do modelo do sistema de custo do governo federal.

KNA: Esse sistema foi lançado recentemente, ele já está sendo colocado em uso ou não?

Nelson Machado: Esse sistema já está pronto, inclusive, nós fizemos uma entrega oficial
simbólica ao Tribunal de Contas, nós estivemos lá, levamos o ofício, dizemos que o sistema
estava pronto, e inclusive convidando o Tribunal de Contas da União a indicar um conjunto de
funcionários para compor o núcleo de análise e avaliação de custos do TCU, assim como
fizemos isso com todos os ministérios e todos os poderes, tanto o executivo, como o legislativo
e o judiciário, cada um compôs um grupo, que é chamado grupo de avaliação e validação das
informações de custos estas pessoas estão sendo treinadas para entrar no sistema, saber
manusear as informações que estão ali dentro. Cada um deles irá receber uma senha e com está
senha, eles vão acessar os dados de cada um dos seus órgãos e no primeiro momento eles vão
acessar e validar as informações, porque mesmo que as informações sejam existentes nos
sistemas estruturantes, na hora em que a gente juntar esses dois lados da informação, a
quantidade física e a quantidade monetária, isso pode ter algum ruído informacional, então é
importante que cada órgão faça a sua análise e no segundo momento, cada gestor deverá
analisar a informação e ver de que maneira ele pode avaliar e reduzir os custos do seu
departamento, porque, uma coisa é importante que se diga, nós estamos fazendo um sistema de
custo, não é só para conhecer o custo. Aliás, é preciso conhecer e medir, pois quem não mede,
não controla; mas é preciso conhecer e medir e depois ir buscar a redução de custos, essa é a
grande mágica. O gestor deve estar preocupado em reduzir os seus custos, para isso que serve
conhecer o custo, analisá-lo e buscar a forma de reduzir.

KNA: Agora, nesse sentido, existe alguma outra experiência nessa área que um sistema
mais ou menos deste tipo semelhante, tenha trazido algum impacto na redução de custo?

Nelson Machado: No setor privado, os sistemas de custos são clássicos, no sentido de


reduzir os custos nós departamentos e aumentar a competitividade. Na década de 90, os
japoneses criaram a gestão estratégica de custos que fez uma revolução na indústria japonesa e
até em alguns setores, na indústria automobilística, criando um grande sistema competitivo,
colocando, inclusive a indústria americana em maus lençóis na década de 90. Grande parte disso
foram os modelos de custos que eles trabalharam. E aí é importante ter clareza, os japoneses,
estou falando agora, em termos conceituais, eles tinha uma visão de que era importante apurar o
custo, mesmos que ele não fosse muito minucioso, mas que servisse para reduzir custos. Às
vezes os Americanos tinham uma necessidade de apurar custos no último detalhe, mas se
esqueciam de reduzir os custos. Então, isso é muito importante. No setor Público, nós não temos
ainda experiências acumuladas de sistemas de custos de saber o alcance , como esse que
estamos fazendo no grande Federal, o que nós temos no sistema de custo são ao longo das
últimos décadas , são experiências pontuais é experiências pilotos, algumas experiências no
Ministério da Educação, algumas experiências no Ministério da Marinha, da Aeronáutica, mas
são sempre experiências pontuais, o que nós estamos fazendo neste momento é diferente é um
grande sistema de custo é para todas as unidades do Ministério, todas as unidades do Governo
Federal e que poderá depois cada Ministério ou cada órgão ou cada poder se deseja detalhar
esses custos para fazer uma customização para o seu departamento, para os seus programas,
para os seus produtos e serviços que eles tenham que é fazer suas atividades.

KNA: Ou seja, não existe algum tipo de meta, por exemplo, como tem no Setor Privado,
que olha não, acho que o ideal é reduzir 10%, 5% do custo atual, não existe isso? Ou o Governo
trabalha com isso?
Nelson Machado: As metas precisam ser estabelecidas depois que você tem um padrão
reconhecido, não é, porque senão fica uma meta sem muita segurança, nenhuma empresa chega
e diz, vou reduzir 20%, e não tira isso da cartola, ela faz uma análise, olha o seu concorrente, na
maioria das vezes, e diz bom, se o meu concorrente consegue produzir isso nesse patamar,
também, preciso produzir nesse mesmo patamar de preço, é um benchmark. Então ele coloca
uma meta que é factível, e ele viu algo acontecendo, nós imaginamos que depois de algum
tempo de uso dessa informação de custos, o que nós teríamos: cada departamento, cada unidade
poderia avaliar os seus custos e verificar, esta linha de ação tem um custo muito exacerbado,
nós podíamos mudar o jeito de fazer o mesmo serviço de maneira que fique mais barato. Então,
é um instrumento forte para o gestor. Então, o sistema de custo é mais um sistema de gestão do
que um sistema de controle de gestão.

KNA: Agora, só pra gente exemplificar, para os nossos telespectadores. Queria que o
senhor explicasse que diferença faz para o cidadão lá na ponta, um gestor gerir melhor os
recursos públicos?

Nelson Machado: Os recursos públicos são sempre escassos, aliás os recursos de forma
geral são escassos, nossas necessidades são sempre maiores que os recursos. A chave do gestor,
do administrador, é ele conseguir utilizar esses recursos e fazer o maior conjunto de serviços e
benefícios possíveis. O gestor público precisa tomar conta do recurso que é colocado a sua
disposição, do orçamento, que é colocado à sua disposição, avaliar as suas propostas, as
políticas públicas que ele tem que dar conta, melhorar a vida do cidadão, melhorar a qualidade
da educação, melhorar o atendimento na saúde, melhorar a segurança e verificar como é que ele
pode fazer isso utilizando o menor volume de recursos possíveis, porque na medida em que ele
reduz o uso desses recursos ele pode de um lado aumentar os serviços prestados à população, de
outro, reduzir a carga tributária que todos nós sempre achamos que é muito alta. Então, em um
sistema de custos, o gestor pode melhorar sua capacidade de gerir para melhorar o serviço e
reduzir a carga tributária.

Está certo! Muito obrigado pela entrevista. Conversei com Nelson Machado, Secretário

Executivo do Ministério da Fazenda.

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