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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0705630-97.2018.8.07.0000


AGRAVANTE(S) KANDANGO TRANSPORTES E TURISMO LTDA - EPP
AGRAVADO(S) TIM CELULAR SA
Relatora Desembargadora VERA ANDRIGHI

Acórdão Nº 1131707

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA DE EVIDÊNCIA. ABUSO NO DIREITO DE DEFESA.


PEDIDO LIMINAR. IMPOSSIBILIDADE

I – O abuso no direito de defesa autorizador da concessão de tutela provisória de evidência, art. 311, I,
CPC, pressupõe a existência anterior da citação, com a consequente possibilidade de o réu exercer seu
direito de defesa.

II – Agravo de instrumento desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, VERA ANDRIGHI - Relatora, ESDRAS NEVES - 1º Vogal e ALFEU
MACHADO - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ALFEU MACHADO, em
proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 17 de Outubro de 2018

Desembargadora VERA ANDRIGHI


Relatora

RELATÓRIO

KANDANGO TRANSPORTES E TURISMO LTDA. – EPP interpôs agravo de instrumento da r.


decisão (id. 3899697), proferida em ação declaratória cumulada com obrigação de fazer proposta
contra TIM CELULAR S.A., in verbis:

“Cuida-se de ação de conhecimento proposta por KANDANGO TRANSPORTES E TURISMO LTDA -


ME em face de TIM CELULAR S.A..

Narra a parte autora, em síntese, que: (i) firmou contrato com a parte ré para fornecimento de plano
de telefonia empresarial; (ii) solicitou a rescisão contratual devido a má prestação dos serviços de
telefonia; (iii) a parte requerida não forneceu as contas para pagamento do valor residual, bem como
incluiu o nome da parte autora em cadastro de inadimplentes por suposta multa contratual referente à
fidelização por 24 meses; (iv) manteve contrato com a requerida por cerca de 05 anos; (v) a Anatel
estabelece prazo máximo de fidelização de até 12 meses.

Ao final, requereu o deferimento de tutela de evidência liminarmente para que seja declarada
inexistente a cobrança indevida por parte da ré, com a consequente retirada do nome da parte autora
dos órgãos de proteção ao crédito.

É o breve relatório. Decido.

Conforme o disposto no art. 311, I, do CPC, a tutela de evidência será concedida, independentemente
da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando ficar
caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte.

Contudo, a referida tutela de evidência somente é cabível após a resposta do réu, quando se verificará
se sua defesa é de cunho protelatório. Ademais, o parágrafo único do citado artigo admite a concessão
de tutela de evidência liminarmente apenas nas hipóteses dos incisos II e III do art. 311 do CPC. Com
efeito, não há respaldo jurídico para o deferimento da tutela de evidência reivindicada em caráter
liminar.

ANTE O EXPOSTO, indefiro o pedido de concessão de tutela liminar de evidência.


(...).”

A agravante afirma que o contrato de telefonia entabulado com a agravada exige 24 (vinte e quatro)
meses de fidelização, sob pena de multa. No entanto, segundo normativo da Agência Nacional de
Telecomunicações – ANATEL, esse prazo pode ser de no máximo 12 (doze) meses. Por essa razão,
considera abusiva a cláusula contratual e, para respaldar sua posição, colaciona julgado deste e. TJDFT
e matéria veiculada no sítio eletrônico do e. STJ.

A partir da conclusão pela abusividade da cláusula contratual, defende o cabimento da tutela de


evidência, com fundamento no art. 311, I, do CPC.

Aduz ainda que “os precedentes reiterados do STJ e do tribunal de justiça Estadual ou tribunal
regional, enunciados de súmula, acórdãos em incidente de assunção de competência, enunciados de
súmula do STF e STJ e orientação do plenário ou órgão especial aos quais estiverem vinculados, a
despeito de não se enquadrar na hipótese do art. 311, II, do CPC, terão o condão de preencher o
requisito da probabilidade do direito” (id. 3899696, págs. 13/4).

Requer a concessão de tutela antecipada recursal de evidência com o fim de extinguir a cobrança no
valor de R$ 43.879,00 e a retirada do nome da autora dos órgãos de proteção ao crédito. Solicita, por
fim, a procedência do recurso com a confirmação da tutela provisória recursal.

Preparo (ids. 3899740 e 3899760).

Tutela antecipada recursal indeferida (id. 3909407).

Sem contrarrazões.

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Relatora


Conheço do agravo de instrumento, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.

Inicialmente cumpre destacar que, em sua petição inicial, a agravante-autora requer a concessão de
tutela provisória de evidência com fundamento no permissivo constante no art. 311, I, do CPC. A r.
decisão, portanto, negou a tutela provisória sob tal fundamento.

Do seu turno, o agravo de instrumento sob análise pleiteia a concessão da tutela de evidência agora
sob os auspícios do art. 311, inciso I e também inciso II, do CPC; é dizer, o recurso inova
indevidamente, passando a invocar fundamento que não foi elencado inicialmente na sua exordial e
que, por conseguinte, não foi objeto de apreciação pelo Juízo a quo.

Assim, sob pena de supressão de instância, deixo de conhecer esse fundamento sob o qual se assenta o
recurso.

Em análise do art. 311, I, do CPC, vislumbra-se a possibilidade de concessão da tutela de evidência


quando caracterizado o “abuso do direito de defesa”.

A medida, como se pode perceber, somente é cabível quando o réu exerce o seu direito de defesa e o
faz de modo abusivo. Daí deflui que somente se pode conceder essa tutela sumária após oportunizado
ao réu o exercício do direito de defesa, isto é, depois da citação, o que impede, em consequência, o
deferimento liminar da tutela de evidência com fundamento no inciso I do art. 311, como resta
expresso, ademais, no parágrafo único do artigo em questão.

Segundo o que consta no processo originário (id. 3899795), ainda não ocorreu a citação do réu.
Assim, não foi demonstrado qualquer abuso no direito de defesa, o que torna incabível a concessão da
tutela de evidência.

Isso posto, conheço do agravo de instrumento e nego provimento.

É o voto.

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador ALFEU MACHADO - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.

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