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Acórdão Nº 1131707
EMENTA
I – O abuso no direito de defesa autorizador da concessão de tutela provisória de evidência, art. 311, I,
CPC, pressupõe a existência anterior da citação, com a consequente possibilidade de o réu exercer seu
direito de defesa.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Narra a parte autora, em síntese, que: (i) firmou contrato com a parte ré para fornecimento de plano
de telefonia empresarial; (ii) solicitou a rescisão contratual devido a má prestação dos serviços de
telefonia; (iii) a parte requerida não forneceu as contas para pagamento do valor residual, bem como
incluiu o nome da parte autora em cadastro de inadimplentes por suposta multa contratual referente à
fidelização por 24 meses; (iv) manteve contrato com a requerida por cerca de 05 anos; (v) a Anatel
estabelece prazo máximo de fidelização de até 12 meses.
Ao final, requereu o deferimento de tutela de evidência liminarmente para que seja declarada
inexistente a cobrança indevida por parte da ré, com a consequente retirada do nome da parte autora
dos órgãos de proteção ao crédito.
Conforme o disposto no art. 311, I, do CPC, a tutela de evidência será concedida, independentemente
da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando ficar
caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte.
Contudo, a referida tutela de evidência somente é cabível após a resposta do réu, quando se verificará
se sua defesa é de cunho protelatório. Ademais, o parágrafo único do citado artigo admite a concessão
de tutela de evidência liminarmente apenas nas hipóteses dos incisos II e III do art. 311 do CPC. Com
efeito, não há respaldo jurídico para o deferimento da tutela de evidência reivindicada em caráter
liminar.
A agravante afirma que o contrato de telefonia entabulado com a agravada exige 24 (vinte e quatro)
meses de fidelização, sob pena de multa. No entanto, segundo normativo da Agência Nacional de
Telecomunicações – ANATEL, esse prazo pode ser de no máximo 12 (doze) meses. Por essa razão,
considera abusiva a cláusula contratual e, para respaldar sua posição, colaciona julgado deste e. TJDFT
e matéria veiculada no sítio eletrônico do e. STJ.
Aduz ainda que “os precedentes reiterados do STJ e do tribunal de justiça Estadual ou tribunal
regional, enunciados de súmula, acórdãos em incidente de assunção de competência, enunciados de
súmula do STF e STJ e orientação do plenário ou órgão especial aos quais estiverem vinculados, a
despeito de não se enquadrar na hipótese do art. 311, II, do CPC, terão o condão de preencher o
requisito da probabilidade do direito” (id. 3899696, págs. 13/4).
Requer a concessão de tutela antecipada recursal de evidência com o fim de extinguir a cobrança no
valor de R$ 43.879,00 e a retirada do nome da autora dos órgãos de proteção ao crédito. Solicita, por
fim, a procedência do recurso com a confirmação da tutela provisória recursal.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
VOTOS
Inicialmente cumpre destacar que, em sua petição inicial, a agravante-autora requer a concessão de
tutela provisória de evidência com fundamento no permissivo constante no art. 311, I, do CPC. A r.
decisão, portanto, negou a tutela provisória sob tal fundamento.
Do seu turno, o agravo de instrumento sob análise pleiteia a concessão da tutela de evidência agora
sob os auspícios do art. 311, inciso I e também inciso II, do CPC; é dizer, o recurso inova
indevidamente, passando a invocar fundamento que não foi elencado inicialmente na sua exordial e
que, por conseguinte, não foi objeto de apreciação pelo Juízo a quo.
Assim, sob pena de supressão de instância, deixo de conhecer esse fundamento sob o qual se assenta o
recurso.
A medida, como se pode perceber, somente é cabível quando o réu exerce o seu direito de defesa e o
faz de modo abusivo. Daí deflui que somente se pode conceder essa tutela sumária após oportunizado
ao réu o exercício do direito de defesa, isto é, depois da citação, o que impede, em consequência, o
deferimento liminar da tutela de evidência com fundamento no inciso I do art. 311, como resta
expresso, ademais, no parágrafo único do artigo em questão.
Segundo o que consta no processo originário (id. 3899795), ainda não ocorreu a citação do réu.
Assim, não foi demonstrado qualquer abuso no direito de defesa, o que torna incabível a concessão da
tutela de evidência.
É o voto.