O documento é uma sentença judicial que decidiu a favor do autor em uma ação contra uma instituição de ensino. A sentença determinou a rescisão do contrato firmado entre as partes sem ônus para o autor, reconhecendo o direito de arrependimento do consumidor mesmo para contratos celebrados dentro do estabelecimento. Também ordenou a devolução de cheques retidos pela ré mediante a devolução do material didático recebido, mas negou o pedido de danos morais por falta de comprovação de ofensa.
O documento é uma sentença judicial que decidiu a favor do autor em uma ação contra uma instituição de ensino. A sentença determinou a rescisão do contrato firmado entre as partes sem ônus para o autor, reconhecendo o direito de arrependimento do consumidor mesmo para contratos celebrados dentro do estabelecimento. Também ordenou a devolução de cheques retidos pela ré mediante a devolução do material didático recebido, mas negou o pedido de danos morais por falta de comprovação de ofensa.
O documento é uma sentença judicial que decidiu a favor do autor em uma ação contra uma instituição de ensino. A sentença determinou a rescisão do contrato firmado entre as partes sem ônus para o autor, reconhecendo o direito de arrependimento do consumidor mesmo para contratos celebrados dentro do estabelecimento. Também ordenou a devolução de cheques retidos pela ré mediante a devolução do material didático recebido, mas negou o pedido de danos morais por falta de comprovação de ofensa.
DECIDO. Cuida-se de hipótese de julgamento antecipado da lide, nos moldes previstos no art. 330, inciso I, do Código de Processo Civil, posto que as provas constantes nos autos são suficientes para o deslinde da lide. Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. Passo à análise do mérito. Há que se esclarecer que a relação sob comento encontra-se açambarcada pelo Código de Defesa do Consumidor, sistema construído especialmente com escopo de proteger uma das partes da relação travada entre os desiguais. Visa, assim, tutelar um grupo específico de indivíduos, por sua situação de vulnerabilidade nas relações contratuais. A pretensão da parte autora se fundamenta na alegada cobrança indevida promovida pela ré do valor referente a material didático após a solicitação de rescisão de contrato de prestação de serviços educacionais firmado com a parte ré. Pela análise das narrativas dos fatos, verifico que a parte autora rescindiu o contrato de prestação de serviços no dia seguinte à sua celebração. Porém, a parte requerida estabeleceu, na cláusula 7ª do contrato, que era devido o valor de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais), por cada aluno, a título de custo de impressão de material didático, sendo que este valor deveria ficar retido. Em que pese a literalidade da redação do Art. 49 do Código de Defesa do Consumidor mencionar ser de 7 (sete) dias o prazo de arrependimento de um contrato aplicável apenas aos negócios jurídicos celebrados fora do estabelecimento comercial do fornecedor, a doutrina e jurisprudência pátria relativizaram tal entendimento, frente à hipossuficiência e vulnerabilidade do consumidor e, principalmente, diante das diuturnas práticas abusivas no mercado de consumo, de acordo com uma interpretação teleológica e sistemática, de modo a conferir ao consumidor o exercício de tal prazo de reflexão mesmo se realizado dentro do estabelecimento do fornecedor, quando ocorrer o conhecido método de venda emocional. Ele se traduz como sendo o método pelo qual o consumidor é levado pela emoção e empolgação diante da promessa rápida e fácil do fornecedor de produtos e serviços, diante das mais sofisticadas técnicas de mercado para convencer o consumidor despreparado e impulsivo a adquirir seus produtos. O dano, portanto, está no método de venda que impede a reflexão, a decisão racional e refletida da oferta apresentada. É o caso dos autos em que o requerente, diante da possibilidade de conseguir desconto prometido em panfleto, no mesmo dia dirigiu-se ao estabelecimento da requerida e firmou o contrato, sem se atentar que o curso fornecido tinha horário incompatível com sua rotina. Ademais, a requerida não possibilitou ao autor a alteração do horário das aulas que estava no contrato. Desse modo, a interpretação que se tem dado em situações similares se justifica pela vulnerabilidade do consumidor, que acaba por adquirir produtos e serviços por impulso, sem se atentar para a sua realidade diária, diferentemente daquele consumidor que se desloca de sua residência com o fim específico de pretender adquirir um produto ou serviço por já estar convicto de sua necessidade e utilidade na aquisição de um determinado bem para sua vida. Nesse sentido, é o ensinamento de Rizato Nunes ("Curso de Direito do Consumidor". 5ª Edição. Ed. Saraiva. Ano 2010. pag. 698) quando assevera que “o consumidor está garantido sempre que a compra se der fora do estabelecimento comercial, nos vários sistemas de vendas existentes.Nesse tipo de aquisição o pressuposto é que o consumidor está ainda mais desprevenido e despreparado para comprar do que quando decide pela compra e, ao tomar a iniciativa de fazê-la, vai até o estabelecimento". Portanto, tem-se que, embora o negócio entre as partes tenha sido celebrado dentro do estabelecimento da empresa ré, tal fato por si só não é suficiente para afastar o direito da requerente de se arrepender da avença entabulada com a empresa ré, mesmo porque deve ser reconhecida a sua vulnerabilidade diante do tipo de oferta efetivada por profissionais da empresa ré e método de abordagem utilizado. Ademais, embora a empresa demandada alegue que a rescisão do contrato requerida pela autora lhe gere prejuízos pela impressão do material didático, tem-se que o cancelamento imediato do contrato não tem o condão de gerar tais danos, pois o material entregue ao aluno já estava impresso, não havendo qualquer custo adicional apenas pela celebração daquele contrato. Logo, não demonstrando que a rescisão do contrato em prazo tão exíguo tenha lhe gerado os alegados prejuízos, não há como prevalecer a previsão da retenção do valor de $ 1.900,00 (R$ 950,00 para cada aluno) no referido pacto. Neste sentido, confira-se: CONSUMIDOR. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. CURSO. DESISTÊNCIA NO DIA SEGUINTE. RESCISÃO DO CONTRATO SEM PREJUÍZO. INAPLICABILIDADE DE CLÁUSULA PENAL. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1.O pedido de rescisão de contrato, que determina a restituição ao estado anterior, implica por óbvio a devolução do valor pago. 2.A desistência e a rescisão contratual devem ser avaliadas à luz da razoabilidade e proporcionalidade. Havendo prejuízo para uns dos contratantes poderá ser aplicada multa contratual em percentual razoável. 3.No presente caso, houve desistência no dia seguinte à contratação, em menos de 24 horas, em período bem anterior ao início das aulas, sem que fosse comprovado qualquer prejuízo para o fornecedor do serviço. Nesse sentido, correta a sentença que determinou a rescisão do contrato sem qualquer ônus para o consumidor, razão pela qual se afasta a incidência da cláusula penal. 4.Merece destaque o fato do consumidor ter sido comunicado informando acerca do sorteio de bolsa integral, mas ao chegar ao estabelecimento foi informado que teria recebido apenas um desconto e convencida . 5.Precedente: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. CONSUMIDOR. INSTITUIÇÃO DE ENSINO. CURSO DE INFORMÁTICA. DESISTÊNCIA DENTRO DO MÊS DA MATRÍCULA. AFASTAMENTO DA MULTA. PAGAMENTO PELAS AULAS CURSADAS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. Não merece reparo sentença que afasta multa contratual em face da desistência do consumidor do curso de informática contratado no mês da matrícula e ainda declara o débito referente às aulas cursadas, ante a prestação de serviços. 2. Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida pelos seus próprios fundamentos, com Súmula de julgamento servindo de acórdão, na forma do artigo 46 da Lei 9.099/95. Condenado o Recorrente vencido ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. (Acórdão n.665883, 20120610127672ACJ, Relator: FLÁVIO FERNANDO ALMEIDA DA FONSECA, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 19/03/2013, Publicado no DJE: 04/04/2013. Pág.: 194). 6.Sentença mantida pelos seus próprios fundamentos. Recurso CONHECIDO e DESPROVIDO. 7.Custas e Honorários advocatícios pelo recorrente no valor de R$200,00 (duzentos reais). Dispensados relatório e voto, na forma do art. 46 da Lei n. 9099/95. (Acórdão n.862051, 20140310289833ACJ, Relator: JOÃO LUIS FISCHER DIAS, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 07/04/2015, Publicado no DJE: 23/04/2015. Pág.: 743) Reconhecido está, portanto, o direito do demandante em reaver as três cártulas de cheques que ficaram retidas. Porém, cumpre ressaltar que a rescisão do contrato tem que garantir às partes o retorno ao status quo ante. É dizer, a parte autora deverá receber os cheques de nº 900011, 900012 e 900013, mediante a devolução do material didático, no mesmo estado de conservação que recebeu. Por fim, quanto ao dano moral, compulsando os autos e analisando detidamente os argumentos apresentados, vejo que não restou demonstrada a existência de ofensa significativa a direitos da personalidade, capazes de ofender a integridade física ou psíquica da parte autora, bem como sua honra ou dignidade. Na linha de entendimento do TJDFT:
"O dano moral decorre de uma violação de direitos da
personalidade, atingindo, em última análise, o sentimento de dignidade da vítima. Define-se dano moral como a privação ou lesão de direito da personalidade, independentemente de repercussão patrimonial direta, desconsiderando-se o mero mal-estar, dissabor, vicissitude do cotidiano ou mesmo o descumprimento contratual, sendo que a sanção consiste na imposição de uma indenização, cujo valor é fixado judicialmente, com a finalidade de compensar a vítima, punir o infrator e prevenir fatos semelhantes que provocam insegurança jurídica. O julgador deve valer-se de parâmetros cuidadosos para verificar a ocorrência ou não de violação capaz de gerar a indenização pelo dano moral. Necessário, para tanto, que se diferencie o dano moral de desgostos suportáveis, a fim de se evitarem o enriquecimento sem causa e indenizações infundadas." (Acórdão n. 562923, 20110110842567ACJ, Relator HECTOR VALVERDE SANTANA, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, julgado em 31/01/2012, DJ 03/02/2012 p. 268)
No caso, o dano moral não se configura “in re ipsa”, ou seja, não
decorre diretamente da ofensa. Assim, embora reconheça que a situação tenha trazido aborrecimentos ao autor, tal fato não foi suficiente para ofender-lhe a dignidade ou a honra. Desse modo, conquanto repreensível a conduta da requerida, não há dano suficiente a ensejar abalo moral.
Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o
pedido da inicial para condenar a requerida a entregar, em juízo, as cártulas de cheque de nº 900011, 900012 e 900013. Caberá à parte autora, em contrapartida, devolver, em juízo, o material didático que recebeu no ato da contratação. Em consequência, resolvo o mérito com base no art. 269, I do CPC. Sem custas e sem honorários (art. 55 da Lei n. 9.099/95). Após o trânsito em julgado, as partes deverão cumprir com suas obrigações, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de multa diária à parte inadimplente. Não havendo outros requerimento, arquive-se.