Você está na página 1de 3

SENTENÇA

Dispensado o relatório (art. 38 da Lei 9.099/95).


DECIDO.
Cuida-se de hipótese de julgamento antecipado da lide, nos moldes previstos no
art. 355, inciso II, do Novo Código de Processo Civil, pois o réu, apesar de devidamente
citado, não apresentou contestação, ocorrendo os efeitos da revelia, a qual decreto neste
momento.
Não vislumbro, pois, na ocasião, nenhum vício que macule o andamento do
feito.
Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo à
análise do mérito.
Inicialmente, cabe salientar que a relação jurídica estabelecida entre as
partes é de natureza consumerista, tendo em vista que a parte requerida é fornecedora
de serviço cuja destinatária final é a parte requerente. Portanto, a controvérsia deve ser
solucionada sob o prisma do sistema jurídico autônomo instituído pelo Código de
Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90).
A parte autora narra que realizou contrato junto ao requerido, no qual
deveria pagar um pacote de serviço pelo valor de R$ 21,50, sendo prometido benefício
de receber, em seu celular, crédito no valor de R$ 19,50 todo mês. Afirma que o
requerido não cumpriu com o ofertado e, ao buscar informações, a atendente lhe disse
que o cadastro feito estava equivocado, que não seria possível repassar os créditos no
seu celular. Formulou pedido de condenação da requerida para o pagamento de R$
58,50, referente aos meses em que o crédito em seu celular não foram repassados, bem
como ao pagamento de danos morais.
Ante a ausência de contestação, os fatos narrados na inicial tornaram-se
incontroversos. Neste caso, Cumpre ressaltar que a informação adequada e clara sobre
produtos e serviços no mercado de consumo é direito do consumidor dos mais
relevantes, a teor do que dispõem os arts. 6º, III e 46 da Lei n. 8.078/90. E nos contratos
de adesão, em que não há margem à discussão das cláusulas impostas aos consumidores
aderentes, o dever de lealdade imposto aos contraentes deve ser especialmente
observado, obrigando o fornecedor a agir com probidade e boa-fé na confecção do
instrumento.
Nestes tipos de contratos, o consumidor limita-se a aceitar em bloco (muitas
vezes sem sequer ler completamente) as cláusulas, que foram unilateralmente e
uniformemente pré-elaboradas pela empresa, assumindo, assim, um papel de simples
aderente à vontade manifestada pela empresa no instrumento contratual massificado,
restando-lhe a mera alternativa de aceitar ou rejeitar o contrato. O consentimento do
consumidor manifesta-se por simples adesão ao conteúdo pré-estabelecido pelo
fornecedor de bens ou serviços.
Informação inadequada, a teor do art. 6º, inciso III, da Lei 8.078/90,
caracteriza falha na prestação de serviço, restando o dever de indenizar. No caso em
análise, ainda que o cadastro do autor tenha sido feito equivocadamente, o serviço
oferecido pelo autor tem que ser cumprido, pois a decisão do consumidor, em adquirir
novo pacote de serviços, foi influenciada em razão da opção de receber crédito em seu
celular. Neste caso, deverá o requerido proceder ao pagamento do valor de R$ 58,50
(cinquenta e oito reais e cinquenta centavos), referente aos três meses em que os
créditos, no valor de R$ 19,50, não foram repassados ao consumidor.
Incabível devolução em dobro, pois não houve pagamento algum pelo autor.
Quanto ao pedido de danos morais, sabe-se que o dano moral indenizável é
aquele que afeta os direitos da personalidade, assim considerados aqueles relacionados
com a esfera íntima da pessoa, cuja violação causa humilhações, vexames,
constrangimentos, frustrações, dor e outros sentimentos negativos.
Pode ser definido como a privação ou lesão de direito da personalidade,
independentemente de repercussão patrimonial direta, desconsiderando-se o mero mal-
estar, dissabor ou vicissitude do cotidiano, sendo que a sanção consiste na imposição de
uma indenização, cujo valor é fixado judicialmente, com a finalidade de compensar a
vítima, punir o infrator e prevenir fatos semelhantes que provocam insegurança jurídica.
De acordo com a doutrina e a jurisprudência, o prejuízo imaterial é uma
decorrência natural (lógica) da própria violação do direito da personalidade ou da
prática do ato ilícito. Assim, o dano moral, de acordo com Sérgio Cavalieri Filho:
"deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de modo que, provada a ofensa...
está demonstrado o dano moral" (Programa de Responsabilidade Civil. 5ª ed. São
Paulo: Editora Malheiros. 2003. p. 99).
Desse modo, cumpre à parte lesada apenas provar os fatos que ensejaram a
reparação pretendida, sendo desnecessária a prova da violação ao direito da
personalidade ou do sofrimento experimentado.
No presente caso, a parte autora não logrou demonstrar que teve maculada a
sua dignidade e honra, muito menos que tenha sido submetido à situação vexatória ou
constrangimento capaz de abalar sua moral, porquanto os fatos narrados na inicial não
se configuram potencialmente hábeis a causar dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que cause angústia e desequilíbrio no bem estar da parte.
Não se ignora que a autora possa ter passado por dissabores, todavia, tal fato
configura mero contratempo, por não caracterizar ofensa anormal à personalidade, mas
aborrecimentos próprios da vida em sociedade. Até porque, deve se ter em conta que
nem todos os fatos que as pessoas particularmente consideram desagradáveis e/ou
constrangedores são aptos a caracterizar o dever de indenizar.
Inexistindo, na hipótese, situação que caracterize a ocorrência do dano moral
indenizável, impõe-se a improcedência deste pedido.
Em face do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os
pedidos formulados na inicial, para condenar o requerido a efetuar o pagamento do
valor de R$ 58,50 (cinquenta e oito reais e cinquenta centavos), referente aos créditos
que deveriam ser repassados ao autor. Este valor deverá ser corrigido desde o
vencimento, com juros de 1% a.m. desde a citação.
Resolvo o processo, com julgamento do mérito, com fundamento no artigo
487, inciso I, do Novo Código de Processo Civil.
Incabível a condenação em custas processuais e honorários advocatícios,
conforme determinação do artigo 55, "caput", da Lei 9.099/95.

Após o trânsito em julgado, intime-se o requerido para que, no prazo de 15


(quinze) dias, efetue o pagamento do montante a que foi condenado, sob pena de
sujeição à multa de 10% (dez por cento), na forma do disposto no §1º artigo 523 do
Novo CPC.

Por fim, não havendo novos requerimentos, arquivem-se os autos com as


cautelas de estilo.

Você também pode gostar