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16/10/2020 No trabalho, tecnologia vestível quer dizer "taylorismo digital" - 22/07/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.

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Evgeny Morozov é pesquisador-visitante da

evgeny morozov Universidade Stanford e analista da New America


Foundation. É autor de 'The Net Delusion: The
Dark Side of Internet Freedom' (a ilusão da rede: o
lado sombrio da liberdade na internet). Tem
artigos publicados em jornais e revistas como 'The
New York Times', 'The Wall Street Journal',

No trabalho, tecnologia vestível quer EM COLUNISTAS

dizer "taylorismo digital" + LIDAS + COMENTADAS + ENVIADAS ÚLTIMAS

Painel: Senador da cueca é visto como


22/07/2014 16h32 1 morto na política e é aconselhado a
pedir licença

Compartilhar 0 Mais opções Mônica Bergamo: Réu absolvido de


2 crime de racismo contra Maju Coutinho
pede quase R$ 800 mil à Globo
Google e Apple recentemente endossaram a visão futurista de uma casa
Rogério Gentile: TJ rejeita reduzir a
automatizada, na qual tanto as paredes quanto os moradores portariam
3 pena de Gil Rugai, ex-seminarista
sensores miniaturizados mas poderosos. condenado por matar o pai e a madrasta
E o que alguém poderia ter a reprovar em um futuro no qual tecnologias
Painel: Senadores criticam Supremo e
vestíveis –óculos e lentes inteligentes de vários tipos mas também relógios e
4 veem afastamento de Chico Rodrigues
roupas inteligentes que acompanhariam nossas atividades físicas– como decisão precipitada

transformariam nossas formas de diversão e relaxamento?


Djamila Ribeiro: A cultura do estupro
Essa transformação da casa, no entanto, é apenas parte da história. As
5 avança como uma verdadeira pandemia
tecnologias vestíveis também transformarão os escritórios - assunto sobre o no Brasil

qual tanto Apple quanto Google mantiveram silêncio.


Naturalmente, o tema se presta mais a visões distópicas do que utópicas: PUBLICIDADE

tecnologias vestíveis podem ser perfeitas para aumentar a produtividade e


reduzir os custos, mas não há como negar que elas dependem de sensores
minúsculos e sempre ativos que estabelecem monitoração contínua e
abrangente dos funcionários.
E elas também podem motivar! Considerem apenas duas das mais recentes
inovações, que chegarão ao mercado dentro de alguns meses. Uma delas é um
relógio inteligente chamado Spark. Em sua página no Kickstarter, ele é
promovido como "o relógio que garante que você nunca caia no sono durante
as coisas importantes de sua vida".
Usando sensores que monitoram a velocidade e frequência de movimentos do
usuário, o Spark é capaz de determinar se a pessoa está acordada. E começa a
vibrar caso a apanhe cochilando.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/2014/07/1489597-no-trabalho-tecnologia-vestivel-quer-dizer-taylorismo-digital.shtml 1/4
16/10/2020 No trabalho, tecnologia vestível quer dizer "taylorismo digital" - 22/07/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.Paulo
Outra é a pulseira inteligente Pavlov. Depois que o usuário a informa sobre PUBLICIDADE

seus mais importantes objetivos na vida –ir à academia! Acordar às 7h! Ler 10
páginas de Heidegger ao dia!–, a pulseira o punirá com um choque elétrico
caso ele não cumpra seus deveres.
Considerando que todas essas atividades - exercício, dormir, ler - podem ser
facilmente acompanhadas por smartphones, seria trivialmente fácil impor
punições como essas, já que a maioria de nossas ações cotidianas, traduzidas
A Elite do Atraso - Da
em forma de código digital, pode agora ser catalogada e analisada Escravidão à Lava Jato
individualmente.
Jesse Souza
Embora a maioria desses aparelhos seja promovida como instrumentos para
melhora pessoal e dirigidos aos cidadãos interessados em aperfeiçoamento, Comprar
eles seriam muito bem vindos nos lugares de trabalho, onde existe uma
crescente conscientização de que tecnologias vestíveis oferecem uma nova
maneira de analisar e otimizar o fluxograma de trabalho. Que patrão não
estaria interessado em manter seus funcionários despertos e produtivos? 1499 - O Brasil Antes
de Cabral
Em novembro de 2013, a "Harvard Business Review" publicou um artigo
curioso sobre a ascensão da "fisiolítica", um termo horroroso que denota a Reinaldo José Lopes

integração continuada de aparelhos vestíveis e diversos produtos de software Comprar


para conduzir análise de dados sobre desempenho de funcionários.
O autor, para seu crédito, não tentou ocultar o fato de que a fisiolítica é
apenas uma visão atualizada do taylorismo, com seu velho fascínio pelos
estudos de tempo e movimento, mas dessa vez confiando em sensores Cinema Faroeste -
sofisticados e produtos de software para recolher e analisar dados. Digistack (Vol. 6)
(DVD)
Não admira que tantas empresas iniciantes estejam lutando por espaço no
mercado de tecnologia vestível; as grandes companhias têm muito mais Vários

dinheiro para gastar com essas engenhocas do que os consumidores Comprar


individuais.
Um exemplo é a XOEye Technologies –uma start-up que produz óculos
inteligentes para operários de fábricas, e não para a elite digital. Os óculos da Contra Um Mundo
XOEye têm poucos dos excessos do Google Glass –usam botões físicos em Melhor - Ensaios do
lugar de comandos de voz, porque fábricas são lugares barulhentos– mas Afeto
oferecem recursos sofisticados e voltados ao controle. Luiz Felipe Pondé

Os óculos contam com sensores de movimento que podem detectar quando o Comprar
operário se curva, registrando o movimento como "evento biométrico", e
salvando-o em um banco de dados para análise pelos gestores.
Como disse o fundador da companhia à revista "PCWorld", a ideia é a de que
"se um operário está se curvando 60 vezes por dia, ele pode ter problemas de Coleção Audrey
Couture Muse
coluna no futuro. Assim, a companhia pode desejar mudar a maneira pela Collection - 80 Anos
qual utiliza esse trabalhador, ou talvez transferi-lo a um departamento (DVD)
diferente". Vários

Mas mesmo que sua empresa não tenha como bancar óculos como esses –eles Comprar
custam US$ 500 e mais uma assinatura mensal de US$ 99–, ela talvez possa
adquirir um Lumo Back, um sensor extremamente fino que fica preso à
cintura do usuário e avalia sua postura durante as longas horas que ele passa
sentado na cadeira do escritório.
Sempre que o sensor percebe que o trabalhador não está sentado na postura
correta, ele vibra gentilmente, para lembrar o usuário de que suas costas são
um importante ativo para a empresa da qual ele é funcionário.
É compreensível que empregadores amem essas engenhocas; melhor gastar
dinheiro em alguns óculos inteligentes e sensores de postura do que pagar
planos de saúde e despesas médicas –e correr o risco de perder alguns dos
melhores funcionários da companhia.
Essas economias podem resultar em cortes consideráveis de despesas, o que
faz dos locais de trabalho –e não das residências– o ambiente crucial para a
introdução, teste e aperfeiçoamento desse tipo de tecnologia.
A Appirio, uma companhia de tecnologia com mil funcionários, com
escritórios na Índia e nos Estados Unidos, serve como exemplo. No ano
passado, ela convenceu 400 de seus funcionários a usar sensores de atividade
que monitoravam sua atividade física.
A companhia depois empregou os dados obtidos para convencer sua
operadora de planos de saúde a reduzir em US$ 280 mil o custo desses planos
para a Appirio, porque pôde provar que seus trabalhadores caminhavam e se
exercitavam mais do que a operadora de planos de saúde pressupunha.
E se é possível extrair tamanhos benefícios simplesmente registrando quanto
nos movimentamos –e não só dentro mas fora do escritório–, há muito mais
entusiasmo quanto a usar sensores para monitorar outras atividades.
A Robin, uma start-up de Boston, equipa salas de edifícios de escritórios com
sensores sem fio que se comunicam com os smartphones dos trabalhadores,
alertando os gestores e outros funcionários sobre a chegada de um colega à
sala (e o anúncio pode não se limitar ao nome, mas também conter links para
a página de LinkedIn e Facebook do funcionário).
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/2014/07/1489597-no-trabalho-tecnologia-vestivel-quer-dizer-taylorismo-digital.shtml 2/4
16/10/2020 No trabalho, tecnologia vestível quer dizer "taylorismo digital" - 22/07/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.Paulo
É exatamente assim, aliás, que boa parte da mídia social, com suas conexões
automáticas e perpétuas notificações, opera hoje: essa lógica está
simplesmente se estendendo aos locais de trabalho.
Até mesmo a criatividade pode ser mensurada e rastreada em tempo real –
com o uso de uma faixa elástica inteligente que o usuário coloca na cabeça
para monitorar suas ondas cerebrais. A Melon, outra start-up, vai colocar o
primeiro lote desses aparelhos no mercado nas próximas semanas.
Como aponta o artigo da "Harvard Business Review" sobre o aparelho, ele
ajuda os usuários a compreender seus padrões cognitivos ao medir "os picos
de raios gama que ocorrem milésimos de segundo antes de um momento de
descoberta - e esses dados, com o tempo, oferecem ao usuário uma boa
percepção sobre os momentos em que é mais provável que sejam criativos".
A negatividade –e não só a criatividade– serve como excelente alvo analítico.
Algumas companhias estão usando todos esses dados - e é nesse ponto que o
Big Data e os sensores e algoritmos convergem –para determinar se um
trabalhador pode estar pensando em trocar de emprego ou simplesmente se
demitir.
Assim, o bem-estar emocional dos trabalhadores pode ser traduzido em um
indicador de risco, determinando os problemas que uma pessoa poderia
causar à empresa se os gestores não agirem imediatamente.
Apesar de todo o entusiasmo quanto a tirar fotos de férias com os seus "smart
glasses", o uso da tecnologia vestível pelo consumidor comum parece trivial e
banal comparado ao seu uso nos locais de trabalho. E o fervor com que esses
aparelhos são apresentados, como se fossem revolucionários, oculta sua
continuidade com relação a formas prévias de controle corporativo.
Podemos definir esses métodos como "fisiolítica", "Big Data" ou "tecnologia
vestível", mas "taylorismo digital" parece ser a descrição mais precisa. Quanto
a um aspecto, porém, eles vão muito além do que o taylorismo foi capaz:
porque podem usar dados e rastrear atividades realizadas também fora do
escritório, garantem que a lógica do trabalho prevaleça até naqueles domínios
da vida que antes eram protegidos contra ela.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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