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16/10/2020 Cidades inteligentes - 27/06/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.

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Evgeny Morozov é pesquisador-visitante da

evgeny morozov Universidade Stanford e analista da New America


Foundation. É autor de 'The Net Delusion: The
Dark Side of Internet Freedom' (a ilusão da rede: o
lado sombrio da liberdade na internet). Tem
artigos publicados em jornais e revistas como 'The
New York Times', 'The Wall Street Journal',

Cidades inteligentes EM COLUNISTAS

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27/06/2014 13h00
Painel: Senador da cueca é visto como

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1 morto na política e é aconselhado a
pedir licença

Mônica Bergamo: Réu absolvido de


Poucas ideias capturaram a imaginação dos urbanistas com força semelhante 2 crime de racismo contra Maju Coutinho
à da "cidade inteligente": a utopia de uma metrópole completamente pede quase R$ 800 mil à Globo

conectada por redes e acionada por sensores, que eliminaria a fricção em


Rogério Gentile: TJ rejeita reduzir a
nome da eficiência. 3 pena de Gil Rugai, ex-seminarista
condenado por matar o pai e a madrasta
O termo "capturar" vem a propósito: a recente mania das "cidades
inteligentes" vem em parte como resultado de esforços agressivos por
Painel: Senadores criticam Supremo e
companhias como a IBM, Cisco e Microsoft para vender suas soluções 4 veem afastamento de Chico Rodrigues
dispendiosas e toscas a prefeitos desprovidos de verbas mas famintos de como decisão precipitada

inovação em todo o planeta.


Djamila Ribeiro: A cultura do estupro
E ainda que as primeiras cidades inteligentes –Masdar, na Arábia Saudita, e 5 avança como uma verdadeira pandemia
no Brasil
Songdo, na Coreia do Sul– pareçam mais aparentadas ao taylorismo do que
ao urbanismo, o entusiasmo não se reduz. Cidade após cidade –de San José a
Barcelona, do Rio de Janeiro a Milão, está embarcando nesse esforço por se PUBLICIDADE

tornar mais inteligente.


Agora a cidade-estado de Cingapura anunciou planos de instalar sensores de
diversas agências do governo, montados em caixas acima do solo, para cobrir
seus pontos de ônibus, praças e parques, e cruzamentos movimentados.
O objetivo ostensivo é fazer com que os serviços públicos operem em modo de
"antecipação", o que permitiria que os problemas urbanos comuns sejam
evitados de todo, com sensores e câmeras monitorando o comprimento de
filas de táxis, a limpeza de áreas públicas e casos de estacionamento ilegal.
Por exemplo, faxineiros seriam enviados apenas às áreas que necessitem de
seus serviços. Não há informações, até agora, sobre se os sensores também

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/2014/06/1477345-cidades-inteligentes.shtml 1/4
16/10/2020 Cidades inteligentes - 27/06/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.Paulo
vigiariam para apanhar as pessoas que cuspam chicletes no chão, o que em PUBLICIDADE

Cingapura constituiu um delito passível de punição.


O consenso emergente –o de que a "cidade inteligente" deve ser eficiente,
desprovida de fricção e operada por grandes empresas de tecnologia– é
controverso. Alguns críticos, como o designer e artista britânico Usman
Haque, defendem as virtudes da bagunça, argumentando que esforços para
esvaziar conflitos por meio dos recursos analíticos dos sistemas Big Data são
A Elite do Atraso - Da
incompatíveis com o urbanismo. Escravidão à Lava Jato
Em "Smart Cities", livro de 2013, Anthony Townsend, outro crítico veemente
Jesse Souza
do conceito, argumenta que embora haja muito a celebrar nas "cidades
inteligentes", elas devem estar abertas a hacking e modificação por seus Comprar
moradores –ou pareceriam tão cheias de defeitos e tão limitadoras quanto o
software que usamos em nossos computadores.
Adam Greenfield, outro autor que escreve sobre tecnologia, recentemente
produziu um panfleto chamado "Contra a Cidade Inteligente", uma crítica 1499 - O Brasil Antes
de Cabral
mordaz na qual ele alerta que o rótulo "cidade inteligente" é só uma
camuflagem retórica para a privatização de serviços públicos. Reinaldo José Lopes

Essas críticas enfatizam, com razão, os aspectos do urbanismo –as Comprar


coincidências, a espontaneidade, a comunidade– que estão ausentes do
debate atual. Uma verdadeira "cidade inteligente" não seria um local que faria
mais com menos –ótimo slogan para um período de austeridade– mas sim
uma cidade consciente, e até orgulhosa, de suas limitações e imperfeições. Ela Cinema Faroeste -
respeitaria todas e cada uma das minorias fora de norma e inofensivas, e não Digistack (Vol. 6)
(DVD)
violaria os direitos –entre os quais o direito à cidade– de seus habitantes.
Mas como traduzir essa atitude humanista em forma de tecnologias Vários

específicas? Quanto a isso, nem mesmo os críticos têm grande coisa a Comprar
oferecer. Uma boa maneira de começar, talvez, seja tentar definir o antípoda
da "cidade inteligente" operada por grandes empresas. Qual é o seu oposto
ideológico, aquilo que, por meio do contraste acentuado, revelaria seus Contra Um Mundo
benefícios e limitações? Seria a "cidade burra"? Melhor - Ensaios do
Hoje, quando há um monte de sensores até em cestos de lixos e os postes de Afeto
luz têm câmeras sofisticadas, o anseio por um urbanismo analógico é Luiz Felipe Pondé

perfeitamente compreensível, especialmente depois do escândalo da NSA Comprar


(Agência Nacional de Segurança) norte-americana.
Infelizmente, esse tipo de nostalgia representa analfabetismo histórico: as
cidades sempre foram feitas de forma engenhosa, servindo como campo de
testes para invenções deslumbrantes, quer estejamos falando de esgotos, Coleção Audrey
Couture Muse
vacinas ou sistemas de metrô. Não existe autenticidade a descobrir em uma Collection - 80 Anos
cidade desprovida de tecnologia. (DVD)
Se a "cidade burra" não serve, que tal a "aldeia inteligente" –um Vários

assentamento tanto rural quanto completamente tecnológico? Isso ofereceria Comprar


continuidade para com a rica tradição intelectual de crítica à cidade: odiar a
cidade jamais quis dizer adotar uma vida de heroico ascetismo e desprovida
de encanamentos.
Como aponta o historiador Steve Conn em seu novo livro, "Americans Against
the City: Anti-Urbanism in the Twentieth Century", o relacionamento entre
tecnologia e urbanismo sempre foi ambíguo: por um lado, a tecnologia
obviamente produz barulho, congestionamento e superpopulação, mas por
outro, muitas tecnologias –da eletricidade aos carros– também prometiam
facilitar um abandono confortável das cidades.
Muitos utópicos radicais tinham a esperança de que novas tecnologias
permitiriam que as pessoas se afastassem do sistema fabril e buscassem
realizar seus desejos no campo. Como apontou Ralph Borsodi, um dos
principais proponentes dessa forma de antiurbanismo hi-tech no best seller
"Flight from the City" (1933), "a produção doméstica não só aniquilaria a
indesejável e desnecessária fábrica, ao privá-la de mercados para seus
produtos, como tornaria [os homens e mulheres] senhores das máquinas e
não seus servos... os libertaria para a conquista do conforto, beleza e
entendimento".
Pouco ele sabia sobre o potencial do movimento "maker", das impressoras 3D
e dos termostatos inteligentes! Hoje, quando uma pessoa pode imprimir
roupas, ferramentas e até comida sem sair de seu porão –e mesmo que seja
preciso sair, haverá sempre o carro autoguiado– as opções rurais parecem
ainda mais atraentes.
Veja o Open Source Ecology, um coletivo de entusiastas da ciência e
tecnologia em Missouri que está criando o Kit de Construção da Aldeia
Global: um conjunto de instrumentos fáceis de montar, como tratores e
fornos de padaria, para lançar um novo assentamento comunitário com baixo
orçamento e em curto prazo.
A proximidade com a "cultura" também deixou de ser um fator importante
hoje, quando leitores eletrônicos e tablets abrigam milhares de livros e o
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/2014/06/1477345-cidades-inteligentes.shtml 2/4
16/10/2020 Cidades inteligentes - 27/06/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.Paulo
YouTube e Netflix oferecem oferta infindável de entretenimento e
esclarecimento.
É claro que a "aldeia inteligente" ainda pode entrar em colapso na forma de
"subúrbio inteligente", oferecendo todo o conforto da vida na cidade mas
nada do senso comunitário e da realização espiritual aparentemente escassos
nos ambientes urbanos.
Um iPad, uma impressora 3D e um carro autoguiado não bastam para criar
uma aldeia inteligente: como descobriu uma geração anterior de críticos das
cidades, na ausência de reformas econômicas e sociais, a emancipação
provida pela tecnologia é muito limitada. Uma impressora 3D é tão
libertadora quando sua capacidade de fornecer uma vida confortável, e não
mais –e mesmo assim ela necessita de suprimentos dispendiosos.
E tampouco deve haver aspirações a criar uma "aldeia global" ao modo de
Marshall McLuhan. O localismo pode ser bom, em pequenas doses. A "aldeia
inteligente" deveria se orgulhar do fato de que todos os seus memes sejam
locais. Esse espírito comunitário é importante: não se trata de uma rede de
"bangalôs eletrônicos", como previu Alvin Toffler em seu "A Terceira Onda",
best seller de 1980. O ponto não é trabalhar mais em ambientes mais
bonitinhos, mas questionar o quanto trabalhamos.
Explorar os ritmos temporais, os padrões de conectividade, e os rituais de
trabalho da "aldeia inteligente" deveria nos levar a reconsiderar a visão atual
quanto à "cidade inteligente". Eficiência, produtividade e solução antecipada
de problemas são objetivos louváveis para os executivos de vendas da IBM e o
governo autoritário hi-tech de Cingapura.
Mas as cidades sempre prezaram mais que o comércio. Também realizavam
festivais –atividades de recreação e lazer que representam a antítese do
paradigma taylorista e hipereficiente da "cidade inteligente". Uma cidade
aberta ao lazer não seria em nada menos "inteligente" do que Cingapura.
Vamos nos arrepender de permitir que os promotores de vendas da tecnologia
nos convençam do contrário– se, é claro, tivermos tempo para todos esses
arrependimentos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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comentários Ver todos os comentários (7)

Leomir Hilário

Comente Termos e condições

dix-huit 28/06/2014 05h44 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Evgeny Morosov, a cidade inteligente deve ser desprovida de fRicção ou ficção?...

O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

Responder

dix-huit 28/06/2014 05h43 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Evgeny Morosov, a cidade inteligente deve ser desprovida de fRicção ou ficção?...

O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

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https://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/2014/06/1477345-cidades-inteligentes.shtml 3/4
16/10/2020 Cidades inteligentes - 27/06/2014 - Evgeny Morozov - Colunistas - Folha de S.Paulo
dix-huit 28/06/2014 05h43 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Evgeny Morosov, a cidade inteligente deve ser desprovida de fRicção ou ficção?...

O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

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