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O futurista Brett King e o admirável


mundo novo em que tudo é
automatizado
Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, o australiano Brett King
explica o que é ‘tecnosocialismo’, que dá título ao seu mais recente
livro, e fala sobre como a IA irá transformar os sistemas financeiros
e as sociedades

Matheus Doliveira 18/09/22 18:25


Brett King: “IA gerará imensa riqueza, mas essa riqueza será mal distribuída”

Da literatura de George Orwell ao cinema de Fritz Lang, o exercício de tentar prever o


futuro atravessa gerações. O australiano Brett King, que se apresenta como um
futurista financeiro, leva a função muito a sério.

Nesta semana, King esteve em São Paulo e ao palestrar sobre o uso de dados no
futuro, percorreu os temas de suas obras, como no caso de seu livro mais recente,
The Rise of Technosocialism: How Inequality, AI and Climate Will Usher in a New
World (A ascensão do tecnossocialismo: como desigualdade, IA e clima vão moldar
um novo mundo), ainda sem tradução no país.

"A maior crítica ao socialismo pelos capitalistas ocidentais é sobre 'quem vai pagar
por' políticas socialmente orientadas. Mas as economias altamente automatizadas
do futuro não terão que gastar mais para melhorar a qualidade de vida das pessoas",
acredita King.

Nas previsões do autor, que ficou conhecido por sua trilogia “Bank 2.0”, "Bank 3.0" e
"Bank 4.0"(lançadas em 2010, 2014 e 2018), a inteligência artificial irá transformar
completamente os sistemas financeiros e as sociedades.

Os bancos que conhecemos hoje já se tornaram obsoletos. E as economias


conseguirão proporcionar uma melhor qualidade de vida aos indivíduos por meio da
tecnologia. Sem necessariamente gastar mais com isso. Ao mesmo tempo, a
inteligência artificial pode aprofundar a desigualdade sem a distribuição da riqueza
gerada.

A crença absoluta de que a inteligência artificial irá superar a inteligência humana


nas próximas décadas fez King se tornar investidor e conselheiro da empresa
brasileira DrumWave, que trabalha em uma carteira digital de dados (chamada de
dWallet) na qual pessoas comuns poderão vender seus dados a empresas
interessadas em comprá-los.

King é também cofundador da startup Moven, que ajuda bancos e fintechs a criar
soluções para o “bem-estar financeiro de seus clientes”.

Em entrevista ao NeoFeed, Brett King explicou o que é o ‘tecnosocialismo’ que dá


título ao seu último livro, falou sobre os impactos que as mudanças climáticas terão
sobre as economias e examinou os desafios que a ampla difusão da inteligência
artificial e do mercado de venda de dados trará. Confira a seguir:

Você se apresenta como um futurista. Como você chega às previsões que estão nos
seus livros?
Quando se trata de prever o futuro, você lida principalmente com possíveis cenários
futuros, não é uma ciência exata. No entanto, os elementos gerais que afetam as
previsões são tangíveis, baseados na análise de tendências, precedentes históricos
e condições sociais. Quanto mais você começa a imaginar o futuro, mais você se vê
criando cenários ou prevendo coisas com base em certos gatilhos ou eventos que
você vê acontecendo em tempo real.

Você já falou que “tecnosocialismo”, que dá título ao seu último livro, é sobre como
os cidadãos dominarão as economias através da tecnologia. O que você quer dizer
com isso?
O socialismo clássico era sobre trabalhadores de fábricas que possuíam os meios
de produção. Já no ‘tecnossocialismo’, os cidadãos exigem a priorização da
economia para todos em vez de apenas para as corporações. Essa doutrina é
necessária para garantir que a pesquisa científica, a IA e outras tecnologias possam
fazer o melhor para o maior número possível de pessoas. A maior crítica ao
socialismo pelos capitalistas ocidentais é sobre “quem vai pagar por” políticas
socialmente orientadas. Mas as economias altamente automatizadas do futuro não
terão que gastar mais para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os cuidados
de saúde, por exemplo, serão cada vez mais acessíveis com vários
desenvolvimentos tecnológicos.

"No ‘tecnossocialismo’, os cidadãos


exigem a priorização da economia
para todos em vez de apenas para as
corporações"

Seu livro também fala sobre desigualdade e clima. Quais impactos as mudanças
climáticas terão sobre as economias?
Os mais pobres serão os mais afetados pelas mudanças climáticas. Eles não terão
recursos para simplesmente “mudar” de uma área afetada para um local mais
resiliente ao clima. Supondo que as estimativas do aumento do nível do mar e dos
efeitos do aquecimento global sejam precisas, a humanidade gastará trilhões de
dólares na mitigação do problema nas próximas cinco ou seis décadas. Isso poderia
ser metade do PIB global em algum momento nos próximos 30 ou 40 anos, o que
provavelmente seria acumulado como uma dívida nacional maciça.

E o que acontece com a dívida pública?


Torna-se completamente inadministrável e, portanto, em algum momento, torna-se
sem sentido como indicador econômico. Nesse ponto, acredito que as economias
do mundo cancelarão a dívida nacional, mas com nações se comprometendo a
gastar uma porcentagem do PIB em iniciativas relacionadas ao clima.

Qual será o papel da inteligência artificial nas economias do futuro?


Em 2050, todas as grandes economias serão altamente automatizadas e
inteligentes. A IA será aplicada no gerenciamento de recursos e na automatização
de processos governamentais, como tributação, saúde, educação, transporte,
alimentação e agricultura. Isso tornará o governo muito mais eficiente, reduzirá os
custos básicos de produção e melhorará a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, a IA
afetará drasticamente o capital humano, tornando muitos trabalhos obsoletos. Isso
significa desemprego tecnológico amplo, exigindo mecanismos como a Renda
Básica Universal para diminuir seu impacto negativo nas economias. A longo prazo,
a IA irá superar a inteligência humana.

"IA afetará drasticamente o capital


humano, tornando muitos trabalhos
obsoletos. Isso significa desemprego
tecnológico amplo, exigindo
mecanismos como a Renda Básica
Universal"

Na sua visão, a IA precisará ser regulada?


Sim. Da mesma forma que as empresas de tecnologia tiveram um impacto
significativo na regulamentação da privacidade de dados globalmente, a IA fará o
mesmo. A parte mais desafiadora de regular a IA será criar guias para o uso ético
dessa ferramenta. Proteger os humanos da IA desonesta com base em limites
éticos nos apresenta o desafio de primeiro fazer com que os humanos concordem
com um padrão de ética.

Mas os humanos terão o controle do processo?


O outro elemento da regulamentação é até que ponto a IA deve ser capaz de
deslocar humanos. A longo prazo, a maioria das funcionalidades da IA será uma
"caixa preta" onde os operadores humanos poderão ver quais dados as IAs estão
processando e quais resultados estão sendo produzidos, mas não entenderemos o
funcionamento interno da IA.

"Proteger os humanos da IA
desonesta com base em limites
éticos nos apresenta o desafio de
primeiro fazer com que os humanos
concordem com um padrão de ética"

Quais desigualdades a IA pode aprofundar?


Por si só, a IA gerará imensa riqueza nas economias modernas. Mas assim como
acontece com os mercados de hoje, essa riqueza será mal distribuída. No passado,
quando as corporações cresciam, elas empregavam mais pessoas para continuar a
apoiar esse crescimento. Já o crescimento impulsionado pela IA exigirá mais tempo
de computação, mais dados e mais energia, não mais capital humano.
O senhor já afirmou que os bancos não têm futuro. Isso também vale para os
bancos digitais?
Com economias autônomas, os bancos se tornarão cada vez mais redundantes
porque a tecnologia será capaz de fornecer grande parte de nossos requisitos
bancários do dia-a-dia, sem a necessidade explícita de bancos tradicionais. No
entanto, o futuro dos bancos digitais é muito brilhante, e as grandes oportunidades
estão nas áreas de automação bancária e de pagamentos, juntamente com a função
de experiências bancárias que substituem os produtos bancários tradicionais.

Como funcionaria uma economia autônoma na prática?


Viveremos com muitos robôs e algoritmos incorporados em nossa vida cotidiana:
robôs que entregam nossas compras, robôs que dirigem, robôs em nossa casa. Os
médicos usarão a IA para diagnosticar melhor os problemas de saúde e,
eventualmente, nossa IA pessoal saberá que estamos doentes antes de nós. A IA
tocará todos os aspectos da nossa economia. A produção de alimentos será
altamente automatizada. Eventualmente, até mesmo os elementos básicos do
governo, como regulamentação, justiça, policiamento e resposta a emergências
serão revolucionados pela IA.

"A IA tocará todos os aspectos da


nossa economia. Eventualmente, até
mesmo os elementos básicos do
governo"

Empresas como a Meta estão investindo em produtos financeiros, com moedas


digitais próprias. As big techs irão dominar a bancarização do futuro?
Sim e não. Os dispositivos que usamos todos os dias, como nossos telefones,
sistemas de voz como Alexa ou Siri, óculos inteligentes de realidade aumentada,
terão serviços bancários e financeiros embutidos em seus sistemas operacionais.
As big techs usarão esses sistemas operacionais e tecnologias para atuar como
guardiões, embora quanto mais bancos usarem essa tecnologia, mais receita eles
gerarão para as empresas de tecnologia. Então, eu vejo algum tipo de simbiose aqui.
Como você enxerga o mercado de venda de dados e quais são os limites éticos
desse mercado?
O comércio orientado por dados existe desde o nascimento da internet, mas não se
traduziu em lucro pessoal para a maioria das pessoas que têm seus dados
utilizados. À medida que obtemos acesso a mais e mais dados, como dados
comportamentais ou mesmo seu DNA, existe a possibilidade de limites éticos serem
ultrapassados. Imagine um provedor de seguro-saúde que obtém seu DNA e cobra
um prêmio específico pelo seu seguro de saúde por causa do seu DNA. Isso poderia
ser visto como amplamente antiético.

Brett King, Drumwave, Futurologia, inteligência artificial

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