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Ainda assim, os motivos de alívio para os críticos das gigantes tecnológicas são
poucos. Shoshana Zuboff, professora emérita da Harvard Business School,
publicou “A Era do Capitalismo de Vigilância” em 2019 — uma crítica explosiva
sobre como as empresas de tecnologia ganharam bilhões de dólares sugando dados
pessoais privados. “Pensávamos que estávamos fazendo buscas no Google, mas era
o Google que estava fazendo buscas em nós”, resumiu.
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promissores
Hoje ela se diz frustrada com o que considera uma fragmentação excessiva dos
esforços para reprimir as empresas de tecnologia. “Temos estudiosos,
pesquisadores e ativistas fantásticos cujo foco está na privacidade, outros cujo foco
está na desinformação, outros na relação com a democracia”, diz. Essa
“balcanização” reduz a capacidade de identificar a “fonte real do dano”: os dados
pessoais dos usuários da internet são tratados como um recurso que não tem custo,
assim como as florestas e outras partes da natureza eram considerados séculos
atrás.
Zuboff cita números sobre os Estados Unidos, onde não há lei federal de
privacidade e as pessoas têm sua localização exposta, em média, 747 vezes por dia.
Na União Europeia, que ela diz ter a “melhor regulamentação”, são 376. “É melhor,
mas nem de longe o suficiente”. Mark Zuckerberg prometeu certa vez que um
modelo preditivo seria capaz de dizer às pessoas, ao chegarem em uma cidade pela
primeira vez, a qual bar ir; e que um bartender já as estaria esperando com sua
bebida favorita. Esse sonho desapareceu apenas por questões de praticidade, mas
não no princípio.
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01/02/2023 15:16 "Big techs ganharam bilhões de dólares sugando dados pessoais privados", diz acadêmica | Carreira | Valor Econômico
Shoshana Zuboff se diz frustrada com o que considera uma "fragmentação excessiva" dos esforços para reprimir as
empresas de tecnologia — Foto: Michael D. Wilson
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os dois”, escreveu. A Apple criou a ilusão de que agia como Robin Hood, quando
apenas a supervisão democrática seria capaz de proteger os direitos individuais.
A professora tem uma visão de longo prazo. Em 1988, publicou “In the Age of the
Smart Machine” (Na era das máquinas inteligentes, em tradução simples), no qual
argumentava que os computadores mudariam as empresas de uma forma que as
tecnologias anteriores não haviam feito. Depois, dirigiu o Odyssey, um programa
educacional da Harvard Business School para ajudar pessoas de sucesso a decidir
como passar os últimos anos de suas vidas.
Sua obra sobre o capitalismo de vigilância foi seu sucesso na fase tardia da
carreira. Foi publicado quando ela tinha 67 anos, depois de um raio ter queimado a
casa da família no Estado do Maine e após a morte inesperada do marido e, algumas
vezes, coautor, o empresário Jim Maxmin.
Zuboff argumenta que as firmas de tecnologia sabiam que o público nunca seria a
favor da coleta de dados feita por elas. “Desde o início, entendia-se que eram coisas
que precisavam ser secretas, camufladas, para não provocar resistência.” Ela cita um
recente executivo do Google dizendo: “Não vai assustar as pessoas saber o quanto
estamos prestando atenção?”
estão fazendo”. “Na maioria dos casos, eles não estão mais disponibilizando seus
dados pessoais aos pesquisadores”.
Ela é mais otimista quanto à estruturação com base na idade, sob a qual as
plataformas são projetadas para minimizar os danos às crianças e coletar menos
dados delas. O Reino Unido foi pioneiro no design adequado à idade, mas após o
Brexit perderá influência diante do “poder mais forte” de Bruxelas contra o
capitalismo de vigilância, segundo Zuboff. Ela também vê “um movimento para
enfraquecer e desnaturalizar o regime de proteção de dados existente, com um
projeto de lei de proteção de dados que favorece as grandes empresas de tecnologia
e perpetua a ideia equivocada de que a democracia precisa desimpedir o caminho
[delas]”.
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De forma similar, Zuboff critica a Apple e o Google por terem assumido o controle
do rastreamento da covid-19; mas e se for o caso de que o sistema delas
simplesmente funcionar melhor do que os centralizados usados pelas autoridades
de saúde europeias? Ela ri da sugestão. Admite, porém, que a regulamentação é
deficiente, mas porque não se pode “entrar [nas empresas de tecnologia] para
saber o que realmente está acontecendo”. “Estamos regulamentando com antolhos
[...] Não entendemos nosso adversário bem o suficiente.”
Zuboff reitera que seu ataque não é contra a tecnologia em si, mas contra a lógica
econômica que a sustenta – “roubo”. Ela admite a possibilidade de que dados e
previsões possam ser usados para o bem comum. O contra-argumento é que
existem prós e contras básicos. Os serviços de tecnologia, seja para prever respostas
de texto ou os caminhos mais rápidos para seu carro, só podem funcionar
acumulando dados e reduzindo nossa privacidade.
Pergunto o que ela acha da compra do Twitter por Musk. “Temos políticos,
parlamentares, autoridades eleitas, assim como toda a cidadania, com o foco
direcionado a um homem e fazendo a pergunta: ‘o que ele fará?’ Nossa estabilidade
política, nossa capacidade de saber o que é verdadeiro e o que é falso, nossa saúde
e, até certo ponto, nossa sanidade mental, é afrontada diariamente, dependendo
das decisões que Musk decide tomar. Considero isso fundamentalmente intolerável
[...] Esses espaços não podem existir apenas sob controle empresarial [...] Entramos
na era digital há 20 anos, mas nunca, enquanto democracias, fizemos um balanço do
significado dessas tecnologias.”
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