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O Brasil Na Monarquia Hispanica 1580 166
O Brasil Na Monarquia Hispanica 1580 166
Novas interpretações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Diretora
Maria Arminda do Nascimento Arruda
Vice-Diretor
Paulo Martins
EDITORA HUMANITAS
Presidente
Ieda Maria Alves
Vice-Presidente
Mário Antônio Eufrásio
HUMANITAS
Proibida a reprodução parcial ou integral desta obra Rua do Lago, 717 – Cid. Universitária
por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por 05508-080 – São Paulo – SP – Brasil
processo xerográfico, sem permissão expressa do editor Telefax: 3091-2920
(Lei nº. 9.610, de 19/02/98). e-mail: editorahumanitas@usp.br
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História Diversa, v. 2
HUMANITAS
São Paulo, 2016
Copyright 2016 dos Autores
História Diversa, v. 2
ISBN 978-85-7732-320-3
DOI: 10.11606/9788577323203
CDD 981.03
Coordenação Editorial
Mª. Helena G. Rodrigues – MTb n. 28.840
Preparação e Revisão
Catarine Aurora Nogueira Pereira
Capa
Carlos Colentuano
Projeto Gráfico
Ricardo Duarte Marques
Sumário
7 Introdução
1
Dada a imprecisão terminológica existente, preferimos o uso de “União de
Coroas”, “União Dinástica” ou “Período Filipino” antes que “União Ibérica”,
por ser esta uma expressão praticamente ausente na documentação da época
do estudo.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
2
Entre os clássicos livros nacionalistas portugueses estão MARTINS, J. F.
Ferreira. O domínio de Castela e o Império Oriental. Porto: Livraria Civilização,
1940; e vários textos de VELLOSO, J. M. de Queiroz. O Interregno. In: PERES,
Damião (Dir.). História de Portugal. Edição Monumental Comemorativa do
8o Centenário da Fundação da Nacionalidade. Barcelos: Portucalense Editora,
1933. v. 5: Terceira Época – 1557/1640; ______. A perda da independência:
fatores internos e externos que para ela contribuíram. In: CONGRESSO MUNDO
PORTUGUÊS. Publicações... [S.l.]: [s.n.], 1940. t. I, v. VI; ______. O reinado do
Cardeal D. Henrique: a perda da independência. Lisboa: Empresa Nacional
de Publicidade, 1946; e ______. O Interregno dos governadores e o breve reina-
do de D. António. Lisboa: Sociedade Industrial Tipográfica João Pinto, 1956.
8
introdução
3
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: O imaginário da restauração pernam-
bucana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
9
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
4
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal: Governo dos Reis
Espanhóis (1580-1640). Lisboa: Verbo, 1979. v. 4; ______. O tempo dos Filipes
em Portugal e no Brasil (1580-1668). Lisboa: Colibri, 1994.
5
MARQUES, João Francisco. A parenética portuguesa e a Restauração: 1640-
-1668, A revolta e a mentalidade. Porto: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1989; ______. A parenética portuguesa e a dominação filipina.
Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1986; FRANÇA, Eduardo
10
introdução
11
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
9
BOUZA ÁLVAREZ, Fernando J. Portugal no tempo dos Filipes: política, cultura,
representações (1580-1668). Trad. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim.
Lisboa: Cosmos, 2000, além de inúmeros artigos; LABRADOR ARROYO, Félix.
La Casa Real en Portugal (1580-1621). Madrid: Polifemo, 2009; VALLADARES,
Rafael. Portugal y la Monarquía Hispánica (1580-1668). Madrid: Arco Libros,
2000; ______. A Independência de Portugal: Guerra e Restauração 1640-
-1680. Trad. Pedro Cardim. Lisboa: A esfera dos libros, 2006.
10
GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde: Histoire d’une mondialisation.
Paris: La Martinière, 2004; SCHAUB, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia
Hispânica (1580-1640). Trad. Isabel Cardeal Lisboa: Livros Horizonte, 2001;
______. Le Portugal au temps du Comte-Duc D’Olivares (1621-1640). Madrid:
Casa de Velázquez, 2001.
11
Edição mais recente: VARNHAGEN, Francisco A. História das lutas com os holan-
deses no Brasil: desde 1624 até 1654. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
2002.
12
MELLO, Evaldo Cabral de. O Negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos
e o Nordeste. 1641-1669. 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998; ______.
Olinda restaurada: Guerra e açúcar no Nordeste 1630-1654. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1998.
12
introdução
13
CORTESÃO, Jaime. Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil. Rio de
Janeiro: MEC, 1958; BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e
Angola, 1602-1686. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Edusp, 1973;
CANABRAVA, Alice P. O comércio português no Rio da Prata (1580-1640). 2. ed.
São Paulo: Edusp; Itatiaia, 1984.
14
SCHWARTZ, Stuart. Luso-Spanish relations in Hapsburg Brazil, 1580-1640.
The Americas, v. 25, p. 33-48, 1968.
15
MARQUES, Guida. O Estado do Brasil na União Ibérica. Dinâmicas políticas no
Brasil no tempo de Filipe II de Portugal. Penélope, n. 27, p. 185-189, 2002.
16
COSENTINO, Francisco. Governadores Gerais do Estado do Brasil (séculos XVI-
-XVII): ofício, regimentos, governação e trajetórias. São Paulo: Annablume,
2009.
17
FEITLER, Bruno Guilherme. Usos políticos del Santo Oficio portugués en el
Atlántico (Brasil y África Occidental): el período filipino. Hispania Sacra,
n. 119, p. 269-291, 2007; ______. Nas malhas da consciência: Igreja e
Inquisição no Brasil, Nordeste 1640-1750. São Paulo: Phoebus; Alameda,
2008; ______. Continuidades e rupturas da Igreja na América Portuguesa
no tempo dos Áustrias. A importância da questão indígena e do exemplo
13
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
espanhol. In: CARDIM, Pedro; COSTA, Pedro Leonor Freire; CUNHA, Mafalda
Soares da. (Org.) Portugal na Monarquia Hispânica. Dinâmicas de integração e
de conflito. Lisboa: Cham, 2013, p. 203-230.
18
MONTEIRO, Rodrigo Bentes. O Rei no Espelho: A monarquia portuguesa e
a colonização da América (1640-1720). São Paulo: Hucitec, 2002. Cf. os
trabalhos recentes de ALMEIDA, Gustavo Kelly de. Herói em processo: escrita
e diplomacia sobre D. Duarte de Bragança (1641-1649). Niterói, 2011. 163 f.
Dissertação (Mestrado em História Social) – Instituto de Ciências Humanas
e Filosofia, Universidade Federal Fluminense; e FERREIRA, Letícia dos
Santos. Amor, sacrifício e lealdade: o donativo para o casamento de Catarina
de Bragança e para a paz de Holanda. (Bahia, 1661-1725). Niterói, 2010.
187 f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas
e Filosofia, Universidade Federal Fluminense.
19
STELLA, Roseli S. O domínio espanhol no Brasil durante a monarquia dos
Felipes (1580-1640). São Paulo: UNIBERO, 2000; RUIZ, Rafael. São Paulo na
Monarquia Hispânica. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência
“Raimundo Lúlio”, 2004.
20
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: formação do Brasil no
Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
21
VILARDAGA, José Carlos. São Paulo na órbita do império dos Felipes:
conexões castelhanas de uma vila da América portuguesa durante a União Ibérica
(1580-1640). São Paulo, 2010. 399 f. Tese (Doutorado em História Social) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo; ______. “Manhas” e redes: Francisco de Souza e a governança em São
Paulo de Piratininga em tempos de União Ibérica. Anais de História de Além-
-Mar, Lisboa: Cham, v. XI, p. 103-144, 2011. BONCIANI, Rodrigo F. O dominium
14
introdução
15
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
16
introdução
24
FIGUEIREDO, Luciano R. A. O Império em apuros: notas para o estudo
das alterações ultramarinas e das práticas políticas no Império colonial
português, sécs. XVII e XVIII. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos
oceânicos: Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império
ultramarino português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001, p. 197-254.
17
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
25
GARCÍA LÓPEZ, María Belén. Fuentes para la historia colonial de Brasil en
los archivos españoles. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Guide du chercheur
américaniste, 2009. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.
org/56980>; LÓPEZ GÓMEZ, Pedro; GARCÍA MIRAZ, Mª del Mar. Fuentes
archivísticas para la historia del Brasil en España (Siglos XV-XVII). Revista
de Indias, v. LX, n. 218, p. 135-179, 2000; GONZÁLEZ MARTÍNEZ, Elda E. Guía
de fuentes manuscritas para la historia de Brasil conservadas en España. Madrid:
Fundación MAPFRE TAVERA, 2002.
18
introdução
26
GONÇALVES, Regina C. O Capitão-Mor e o Senhor de Engenho: os conflitos
entre um burocrata do rei e um ‘nobre da terra’ na Capitania Real da Paraíba
(Século XVII). In: CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO ATLÂNTICO DE ANTIGO
REGIME: PODERES E SOCIEDADES, 2005. Actas... Lisboa: Instituto Camões, 2008,
p. 1-14. v. 1; ______. Guerras e Açúcares: política e economia na capitania da
Parayba – 1585-1630. São Paulo: Edusc, 2007.
27
Bom exemplo é o recente trabalho de Thiago Krause sobre os hábitos mi-
litares concedidos como remuneração da guerra holandesa a Pernambuco
e Bahia. KRAUSE, Thiago Nascimento. Em busca da honra: a remuneração
dos serviços da guerra holandesa e os hábitos das ordens militares (Bahia e
Pernambuco, 1641-1683). São Paulo: Annablume, 2012.
19
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
28
SCHWARTZ, Stuart B. The Voyage of the Vassals: Royal Power, Noble
Obligations, and Merchant Capital before the Portuguese Restoration
of Independence, 1624-1640. The American Historical Review, v. 96, n. 3,
p. 735-762, 1991; COSTA, Cleonir Xavier de Albuquerque da Graça e. Receita e
Despesa do Estado do Brasil no Período Filipino: aspectos fiscais da administração
colonial. Recife, 1985. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade
Federal de Pernambuco.
29
“Redes políticas, comerciantes y militares en Brasil durante la Monarquía
Hispánica y sus postrimerías (1580-1680)”, projeto financiado pelo
Ministerio de Economía y Competitividad da Espanha, coordenado por
José Manuel Santos Pérez e Kalina Vanderlei Silva. “Brasil en la Monarquía
Hispánica: cultura política, negocios y misiones durante la Unión de
Coronas Ibéricas y la Guerra de Restauración (1580-1668) / O Brasil na
Monarquia Hispânica: cultura política, negócios e missionação durante a
União das Coroas Ibéricas e a Guerra de Restauração (1580-1668)”, pro-
grama de cooperação USAL/USP, coordenado por Ana Paula Megiani e José
Manuel Santos Pérez. “Pernambuco no Processo de Mundialização da Idade
Moderna: As Conexões da América Açucareira com o Império Espanhol nos
Séculos XVI e XVII”, projeto coordenado por Kalina Vanderlei Silva e finan-
ciado pela FACEPE, 2013-2015.
20
introdução
30
Além de professores da Universidade de Salamanca e Universidade de
São Paulo, que deram origem ao grupo por meio do convênio firmado em
2011, participam do volume professores da Universidade de Pernambuco,
Universidade Federal do Maranhão, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e Universidade Federal de São Paulo.
21
Visita, residência, venalidade: as “práticas
castelhanas” no Brasil de Filipe III*
*
Pesquisa financiada pelo projeto “Redes politícas, comerciantes y militares
en Brasil durante la Monarquía Hispánica y sus postrimerías (1580-1680)”
(HAR2012-35978) do Ministerio de Economía y Competitividad.
1
Professor de História do Brasil na Universidade de Salamanca.
2
SANTOS PÉREZ, J. M. A estratégia dos Habsburgo para a América portuguesa.
Novas propostas para um velho assunto. In: ALMEIDA, Suely C. C de; SILVA,
G. C. de Melo; SILVA, Kalina V.; SOUZA, G. F. C. de (Org.). Políticas e estraté-
gias administrativas no Mundo Atlântico. Recife: Editora Universitária UFPE,
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
24
visita, residência, venalidade
2004; ______. The Spanish-Dutch War and the Policy of the Spanish Crown
Toward the Town of São Paulo. Itinerario, v. 26, n. 1, p. 107-125, 2002;
BONCIANI, Rodrigo. O dominium sobre os indígenas e africanos e a especificidade
da soberania régia no Atlântico: da colonização das ilhas à política ultramarina
de Felipe III (1493-1615). São Paulo, 2010. 323 f. Tese (Doutorado em História
Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo.
5
VILARDAGA, J. C. São Paulo na órbita do império dos Felipes: conexões castelha-
nas de uma vila da América portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640).
São Paulo, 2010. 399 f. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo; MARQUES,
Guida. L’Invention du Brésil entre deux monarchies: Gouvernement et prati-
ques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union ibérique. Paris, 2009.
Tese (Doutorado) – École de Hautes Études de Sciences Sociales; CARDOSO,
Alírio. Maranhão na Monarquia Hispânica: intercâmbios, guerra e navega-
ção nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655). Salamanca, 2012. 436 f.
Tese (Doutorado em História) – Universidade de Salamanca; COSENTINO,
Francisco Carlos. Governadores Gerais do Estado do Brasil (século XVI e XVII):
ofício, regimentos, governação e trajetórias. Niterói, 2005. Tese (Doutorado em
História) – Universidade Federal Fluminense.
25
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
6
RUIZ, Rafael. La política legislativa con relación a los indígenas en la región
sur del Brasil durante la Unión de las Coronas (1580-1640), op. cit.; BONCIANI,
Rodrigo, op. cit.
26
visita, residência, venalidade
7
PHELAN, J. L. The Kingdom of Quito in the Seventeenth Century: Bureaucratic
politics in the Spanish Empire. Madison: The University of Wisconsin Press,
1967.
8
Biblioteca da Ajuda, (BA), Cod. 51-VII-15, f. 112.
27
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
Normalmente era feita pelo sucessor, mas, às vezes, podia haver outras
pessoas encarregadas da missão. A figura da residência cumpre um papel
muito importante nesse período. A instituição foi introduzida em 1603
para todos os ofícios governativos em todos os territórios portugueses da
península e ultramar.9 Portanto, Francisco de Sousa devia ser o primeiro
governador que devia passar neste “exame” ao final do seu período de
governo. O qual não deixa de ser interessante porque, dentre os privilégios
que Francisco de Sousa havia conseguido no momento de ser nomeado
governador das Capitanias de Baixo, um era o de ser exonerado da resi-
dência devida como governador do estado do Brasil entre 1592 e 1602.
Consideramos que essa figura do “visitador” real e a generalização
da residência fazem entrar a América portuguesa dentro do modelo de
império que os Habsburgo tinham na América espanhola. Os reis da
Casa de Áustria confiavam muito nessas duas instituições da visita e re-
sidência para ter um controle efetivo nos domínios de ultramar. A velha
historiografia hispânica que estudava os órgãos administrativos consi-
derava essas figuras como os melhores exemplos da eficácia do império
burocrata renascentista dos Habsburgo. O historiador Leddy Phelan, nos
anos 1960, além de uma enorme quantidade de trabalhos nos anos 1970
e 1980, demonstrou que, apesar dos mecanismos de inspeção, a venda de
cargos e a corrupção generalizada e permitida pela coroa eram a essência
do império habsbúrguico de ultramar. Elas configuravam uma estrutura
na qual as redes familiares dominavam os cargos burocráticos para o seu
próprio proveito e manipulavam a seu favor as visitas e as residências.10
Se isso foi assim, ou começava a ser assim na América portuguesa,
é algo que ainda não sabemos e devemos avançar na pesquisa para um
melhor conhecimento.
Outra grande questão é a venalidade de cargos. São conhecidos
os argumentos dos homens da pós-Restauração portuguesa, segundo
9
VILARDAGA, J. C., op. cit., p. 182.
10
SANTOS PÉREZ, J. M. Élites, poder local y régimen colonial: El Cabildo y
los regidores de Santiago de Guatemala, 1700-1787. Cádiz: Servicio de
publicaciones de la Universidad de Cádiz, 1999.
28
visita, residência, venalidade
11
STUMPF, Roberta G. Formas de venalidade de ofícios na monarquia portu-
guesa do século XVIII. In: ______.; CHATURVEDULA, N. (Org.). Cargos e ofícios
nas monarquias ibéricas: provimento, controlo e venalidade (séculos XVII-
-XVIII). Lisboa: Cham, 2012, p. 279-298; ______. Venalidad de oficios en la
Monarquía portuguesa: un balance preliminar, e OLIVAL, Fernanda. Economía
de la merced y venalidad en Portugal (siglos XVII-XVIII). In: ANDÚJAR DEL
CASTILLO, F.; FELICES DE LA FUENTE, M. del Mar (Ed.). El poder del dinero: Ventas
de cargos y honores en el Antiguo Régimen. Madrid: Biblioteca Nueva, 2011,
p. 331-344, 345-357 (respectivamente).
12
Citado em STUMPF, Roberta G. Venalidad de oficios en la Monarquía
portuguesa: un balance preliminar, op. cit., p. 335.
13
SILVA, F. R. da. Venalidade e hereditariedade dos ofícios públicos em Portugal
nos séculos XVI e XVII. Alguns aspectos. Revista de História, v. 8, p. 203-213,
1988.
14
ANDÚJAR DEL CASTILLO, F. El sonido del dinero: Monarquía, ejército y vena-
lidad en la España del siglo XVIII. Madrid: Marcial Pons, 2004; ______.
Venalidad de oficios y honores. Metodología de investigación. In: STUMPF,
29
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
30
visita, residência, venalidade
17
CARTA de S. M. ao Conselho da Índia. 30 de dezembro de 1606. Biblioteca da
Ajuda, (BA), Cod. 51-VII-15.
31
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
18
CARRARA, Angelo A. Costos y beneficios de una colonia: introducción a La
fiscalidad colonial del Estado de Brasil, 1607-1808. Investigaciones de Historia
Económica, v. 6, n. 16, p. 21, feb. 2010.
32
visita, residência, venalidade
33
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
Tabela 1
ESTADO DO BRASIL. OFÍCIOS E VALOR DE COMPRA (1606).
Biblioteca da Ajuda (Cod. 51-VI-54), fols. 160-165.
Bahia (Fazenda):
Provedor da fazenda 30.000 rs. 50.000 rs. Um conto
Escrivão da alfândega, provedoria e 500.000 rs. 4.000 cruzados
de defuntos (vão juntos).
Escrivão da fazenda 80.000 rs. 80.000 rs. Um conto e 10.000 reis
Contador mor do estado 100.000 rs. 100.000 rs. 2.000 cruzados
Escrivão dos feitos da fazenda 80.000 rs. 40.000 rs. 1.000 cruzados
Escrivão dos contos 40.000 rs. 20.000 rs. 300.000 reis
Tesoureiro Geral 80.000 rs. 80.000 rs. Um conto
Almoxarife dos armazens 30.000 rs. 40.000 rs. 1.000 cruzados
Escrivão do thesouro 40.000 rs. 40.000 rs. 1.000 cruzados
Escrivão do Almoxarifado 40.000 rs. 20.000 rs. 200.000 reis.
Meirinho do mar Não 300 cruzados. 1.000 reis
Patrão da Ribeira 24.000 rs. 24.000 rs. 120.000 reis
Procurador dos feitos da fazenda 15.000 rs. 50.000 reis
Porteiro da Alfândega 12.000 rs. 120.000 rs. 1.200 cruzados
Tesoureiro dos defuntos e ausentes 100.000 (6 %) 1.000 cruzados
Meirinho do provedor mor dos Não 25.000 rs. 80.000 reis
defuntos
34
visita, residência, venalidade
35
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
36
visita, residência, venalidade
Capitania de Itamaracá
(de Isabel de Lima)
Donatário 160.000 rs. (10 %)
Provedor da fazenda 32.000 rs. s.d. 400.000 reis
Almoxarife 48.000 rs. Não Sem valia.
Escrivão da fazenda 32.000 rs. s.d. 250.000 reis
Porteiro da alfândega 3.660 rs. s.d. s.d.
37
Redes comerciais cristãs novas no Brasil
durante o reinado de Filipe III
Ana Hutz1
1
Doutoranda em História Econômica pelo Departamento de História da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo. Agradeço ao departamento e a CAPES/CNPq pelo auxílio financeiro
concedido.
2
Trecho de carta datada de 1607 da Junta de Fazenda de Portugal ao rei Filipe
III, solicitando esclarecimentos sobre o dinheiro pago pelos cristãos novos.
Archivo General de Simancas (AGS), Secretarias provinciales, libro 1466, fol.
147 (foi mantida a grafia do documento).
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
3
CARRASCO VÁZQUEZ, Jesús. El relevante papel económico de los conversos
portugueses en la privanza del Duque de Lerma (1600-1606). Évora, 2005.
Comunicação apresentada no XXV Encontro da APHE.
4
LE GOFF, Jacques. Mercadores e banqueiros da Idade Média. Trad. Orlando
Cardoso. Lisboa: Gradiva, 1982.
40
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
5
Um bom exemplo para o primeiro tipo de estudo é o trabalho de COSTA, Maria
Manuel Ferraz Torrão de Oliveira. Tráfico de escravos entre a costa da Guiné
e a América espanhola: articulação dos impérios ultramarinos ibéricos num
espaço atlântico (1466-1595). Lisboa: Instituto de Investigação Científica
Tropical, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1999, p. 30-35.
Para o segundo tipo de interpretação ver STRUM, Daniel. Entre os embargos
e a Inquisição: cristãos-novos e “framenguos” na rota do açúcar. In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH, 26, jul. 2011, São Paulo. Anais... [S.l.]: [s.n.],
2011.
6
Por exemplo John H. Elliott e F. C. Spooner.
41
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
pode ser considerado como a antítese de seu pai, Filipe II. Enquanto
esse último tem sido qualificado ora como um rei extremamente duro,
malévolo, capaz de sacrificar seu próprio filho (D. Carlos), ora como
um rei efetivamente comprometido com seu governo, a ponto de não
ter deixado seus secretários e ministros tornarem-se demasiadamente
atuantes; Filipe III, diferentemente do pai, é comumente associado à
figura de um rei débil que não governava de fato, mas que, em realidade,
era governado por um valido oportunista e corrupto. Contudo, o que se
observa em estudos mais aprofundados sobre o assunto7 é que essas
avaliações excessivamente estereotipadas e simplistas não seriam sufi-
cientes para a adequada compreensão acerca da complexidade histórica
do período analisado, tampouco para que se compreenda que o governo
de Filipe III, embora apresente importantes continuidades quando se
compara ao governo de Filipe II, tem igualmente marcadas diferenças
e especificidades. Esses dois aspectos são fundamentais quando se trata
de entender e situar alguns temas específicos, como é o caso do tema
dos cristãos novos portugueses.
Quando Filipe II assumiu o trono em 1556, a situação que en-
controu foi bem diversa da situação enfrentada por seu pai, Carlos V.
O mundo europeu vivia as tensões da Reforma e da Contrarreforma.
Espanha – Castela em particular – era um importante ator no violento
processo de repressão às chamadas heresias religiosas da época.8 Do
ponto de vista social, a limpeza de sangue passa a ser um elemento a mais
de distinção entre os vários segmentos da sociedade.9
7
FEROS, Antonio. El Duque de Lerma: realeza y privanza en la España de Felipe
III. Madrid: Marcial Pons, 2002.
8
R. B. Wernham caracteriza o período que compreende 1559 e 1610 como
um período extremamente brutal e intolerante, sobretudo no que diz res-
peito à religião. Cf. WERNHAM, R. B. Introduction. e SPOONER, F. C. The
Economy of Europe 1559-1609. Ambos artigos em: WERNHAM, R. B. (Ed.).
The New Cambridge Modern History – v. III: “The Counter-Reformation and
Price Revolution 1559-1610”. London: Cambridge University Press, 1968,
p. 1-13 e p. 14-43, respectivamente.
9
Toma-se como ponto de partida para a adoção dos estatutos de limpeza de
sangue o Estatuto da Catedral de Toledo de 1547. Até então a assimilação de
42
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
43
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
12
FEROS, Antonio, op. cit., p. 110-111.
13
Ver SPOONER, F. C., op. cit., p. 14-43.
14
FEROS, Antonio, op. cit., p. 473.
44
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
15
CARRASCO VÁZQUEZ, Jesús, op. cit.
16
PULIDO SERRANO, Juan I. Las negociaciones con los cristianos nuevos en
tiempos de Felipe III a la luz de algunos documentos inéditos (1598-1607).
Sefarad, v. 66, n. 2, p. 347, jul.-dic. 2006.
45
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
que protestaram no próprio Santo Ofício para não ter que pagar pelo
Perdão Geral.17 Cerca de cinquenta cristãos novos, homens de negócio,
chegaram a se organizar para solicitar ao rei essa isenção, já que não se
consideravam representados pelos procuradores que foram à Castela.18
Da parte dos cristãos velhos, o descontentamento foi ainda mais
forte. Muitos receavam perder a preferência por cargos antes destinados
somente àqueles que cumprissem os estatutos de limpeza de sangue, fato
este que demonstrava haver o grande desconhecimento sobre o real
significado do Perdão Geral e o que ele realmente era capaz de conceder.19
Não surpreende o fato de que quando o Perdão fosse consumado, cristãos
velhos se lançassem às ruas para se queixar da soltura dos cristãos novos
dos cárceres da Inquisição.20
Nada obstante a não representatividade da totalidade dos cristãos
novos, e mesmo diante da recusa da população cristã velha quanto à
obtenção do Perdão Geral, este acabou sendo concedido por Filipe III,
apesar de seus efeitos terem durado pouco tempo. Essa concessão, en-
tretanto, foi fruto de uma árdua tarefa dos atores envolvidos, como bem
o demonstra o tempo demandado para as negociações (1598-1605). Já
mencionamos aqueles que se opuseram ao Perdão Geral depois de sua
concessão. Ocorre que, durante a negociação, a maior oposição foi for-
mada pela Igreja portuguesa e pelos governadores do reino português.
Os argumentos de recusa foram os mesmos por um longo período: os
cristãos novos teriam continuado a judaizar desde o último perdão; os
cristãos novos queriam que o perdão se estendesse aos que ainda estavam
presos (confirmando a ideia de que eram todos judaizantes); ou ainda,
a alegação de que aqueles que fugiram de Portugal seguiram praticando
abertamente o judaísmo. Alardeavam ainda o sentimento de que: mais
17
AGS, Secretarias provinciales, libro 1466, fol. 223 et seq.
18
PULIDO SERRANO, Juan I., op. cit., p. 367.
19
LÓPEZ-SALAZAR CODES, Ana Isabel. Inquisición portuguesa y monarquía
hispánica en tiempos del perdón general de 1605. Lisboa: CIDEHUS, 2010.
20
AGS, Secretarias provinciales, libro 1491, fol. 122 v et seq.
46
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
21
LÓPEZ-SALAZAR CODES, Ana Isabel, op. cit., p. 21-22.
22
COSTA, Leonor Freire. El imperio portugués: estamentos y grupos mercantiles.
In: MARTÍNEZ MILLÁN, José; VISCEGLIA, María Antonietta (Dir.). La monarquía
de Felipe III: Los reinos. Madrid: Fundación Mapfre, 2007-2008, p. 865.
v. IV.
23
Ibidem, p. 865.
47
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
24
BOYAJIAN, James. Portuguese bankers at the court of Spain 1626-1640. New
Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 1983.
48
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
25
Vejam-se, por exemplo, os trabalhos de José Gonçalves Salvador. Em espe-
cial, vale citar: Os magnatas do tráfico negreiro (séculos XVI e XVII). São Paulo:
Pioneira; Edusp, 1981.
26
COSTA, Leonor Freire, op. cit., p. 866.
27
PORTO, Costa. Os cinco primeiros engenhos pernambucanos. Revista do
Museu do Açúcar, Recife, n. 2, 1969.
49
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
28
SILVA, Janaína Guimarães da Fonseca e. Modos de pensar, maneiras de viver:
Cristãos-novos em Pernambuco no século XVI. Recife, 2007. 255 f. Dissertação
(Mestrado em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pernambuco.
50
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
pele negra, diferente, portanto, dos cristãos velhos, esse homem teria
que se contentar com uma liberdade limitada e excludente, sem nunca
alcançar privilégios que somente um cristão velho poderia alcançar. Com
os cristãos novos, a situação era outra, e alguns entre eles puderam, efe-
tivamente, alcançar alguns desses privilégios, vindo a figurar na classe
dominante da sociedade colonial, a despeito do Estatuto.29 Uma análise
comparativa com o elemento negro na sociedade mereceria ser melhor
aprofundada. O objetivo aqui é somente assinalar que o Estatuto de
Pureza de Sangue tinha, de fato, exceções, e elas eram perfeitamente
aplicadas aos cristãos novos quando convinha.
Para corroborar essa ideia, vale lembrar a grande obra de Evaldo
Cabral de Mello, O nome e o sangue, que trata justamente da tentativa –
bem-sucedida – de se escamotear as origens cristãs novas de importantes
famílias da oligarquia pernambucana.30
Com relação aos cristãos novos que se estabeleceram em
Pernambuco, convém assinalar que o período aqui descrito é anterior
à ocupação holandesa no Brasil. Esse alerta é importante, pois, durante
o período holandês, “verdadeiros” judeus imigrarão de Amsterdã para
Pernambuco e a situação ganhará uma complexidade que ultrapassa os
limites desse artigo.31
Os primeiros cristãos novos chegaram a Pernambuco por volta
de 1542. Os cálculos feitos por José Antônio Gonsalves de Mello, com
base nos livros da Visitação do Santo Ofício de fins do século XVI e
em crônicas da época, estimam cerca de 910 cristãos novos para uma
população de 7.000 pessoas em Pernambuco em 1593. Ou seja, ao final
do século XVI cerca de 14% da população que vivia em Pernambuco era
29
NOVINSKY, Anita. Cristãos novos na Bahia. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 59.
30
MELLO, Evaldo Cabral de. O nome e o sangue: uma parábola familiar no
Pernambuco colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
31
Uma excelente abordagem sobre o assunto nos é apresentada por VAINFAS,
Ronaldo. Jerusalém colonial: judeus portugueses no Brasil holandês. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
51
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
A família Milão
32
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Gente da nação: cristãos-novos e judeus
em Pernambuco, 1542-1654. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora
Massangana, 1996, p. 21-23.
33
São diversos os trabalhos sobre o comerciante. Pode-se citar desde o estudo
de Sonia Siqueira (O comerciante João Nunes. In: SIMPÓSIO NACIONAL DOS
PROFESSORES DE HISTÓRIA, 5, 1971, Campinas, São Paulo. Anais... [s.n.t.]) e o
próprio trabalho supracitado de José Antônio Gonsalves de Mello, até os
recentes trabalhos de Angelo Adriano Faria de Assis (João Nunes, um rabi
escatológico na Nova Lusitânia: sociedade colonial e inquisição no nordeste
quinhentista. São Paulo: Alameda, 2011) e de Silvia Carvalho Ricardo (As
redes mercantis no final do século XVI e a figura do mercador João Nunes Correia.
São Paulo, 2006. 153 f. Dissertação (Mestrado em História Econômica) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo).
34
MELLO, José Antônio Gonsalves de, op. cit., p. 65.
52
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
seu irmão Diogo Nunes Correia e seu primo, Henrique. É possível que
tenham vindo ao Brasil fugidos da Inquisição de Lisboa. No entanto, o
fato de seu irmão ter permanecido por lá e dele próprio ser representante
dos negócios do irmão no Brasil sugere que a principal razão tenha sido
aumentar o alcance dos próprios negócios.35
Os negócios da família no Brasil eram vultosos. Diogo Nunes, por
exemplo, administrava dois engenhos na Paraíba, cuja propriedade dividia
com o irmão Henrique. João e Diogo Nunes Correia foram ainda alguns
dos financiadores da expulsão dos franceses da Paraíba.36 João Nunes
tinha ainda boas relações com o governador da Bahia – D. Francisco de
Souza – com quem tratava de negócios diretamente.
João Nunes foi denunciado à Inquisição durante a Primeira
Visitação do Santo Ofício (1591-1595), preso na Bahia em 22 de fevereiro
de 1592 e enviado à Lisboa em setembro do mesmo ano. Mesmo preso,
João Nunes continuou poderoso e em diversos momentos conseguiu
levar adiante seus negócios. Já em Lisboa, os inquisidores consideraram
que sua prisão fora precipitada e que não havia provas o bastante naquele
momento para prendê-lo e mandaram-no soltar mediante um acordo
(o que também ocorreu com outros presos). Quando solto, conseguiu
ainda uma licença para ir a Madrid tratar de negócios de interesse do
rei espanhol. Perto de outros presos que ficaram anos encarcerados, a
curta passagem de João Nunes Correia no Santo Ofício tem chamado a
atenção de estudiosos. Sua história não acaba por aí e inspirou outros
historiadores, que se dedicaram a contá-la. Para a análise aqui proposta,
vale a pena explorar alguns aspectos da vida deste comerciante, em sua
conexão com outros do mundo dos conversos.
Para que João Nunes fosse solto, foi necessário que se fizesse um
acordo e uma fiança como garantia de liberdade do preso. Nas palavras
de José Antônio Gonsalves de Mello:
35
RICARDO, Silvia Carvalho, op. cit., p. 125.
36
MELLO, José Antônio Gonsalves de, op. cit. e RICARDO, Silvia Carvalho, op. cit.
53
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
37
MELLO, José Antônio Gonsalves de, op. cit., p. 60-61.
54
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
38
AGS – Câmara de Castilla, leg. 2796. no. 9, fol. 137r. apud PULIDO SERRANO,
op. cit., p. 345-376.
39
PULIDO SERRANO, op. cit., p. 358. Em documentação do AGS, vimos que Jorge
Rodrigues Solis precisou postergar o início desse contrato em um ano.
Cf. AGS, Secretarias provinciales – Portugal, libro 1466.
55
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
40
AGS, Secretarias provinciales – Portugal, libro 1491, fol. 166 verso.
41
VALADARES, Paulo. A Besta Esfolada. Disponível em: <http://bestaesfolada.
blogspot.com.br/2010/01/familia-milao-em-movimento-armado-ando.
html>. Acesso em: 2 fev. 2012.
56
redes comerciais cristãs novas no brasil durante o reinado de filipe iii
Considerações finais
42
MELLO, José Antônio Gonsalves de, op. cit., p. 16-17.
43
Ibidem, p. 60-61.
57
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
58
A Provedoria-mor: fiscalidade e poder
no Brasil colonial1
Pedro Puntoni2
1
Este texto foi publicado como o capítulo 3 de meu livro O Estado do Brasil:
poder e política na Bahia Colonial, 1548-1700. São Paulo: Editora Alameda,
2013, p. 111-145.
2
Professor de História da Universidade de São Paulo, pesquisador do CNPq e
do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
3
FORAL da capitania da Bahia, 26 ago. 1534. In: CHORÃO, Maria José Mexia
Bigotte (Ed.). Doações e forais das capitanias do Brasil: 1534-1536. Lisboa: IAN/
TT, 1999, p. 53-57.
4
Em razão do que estabelecia a Bula Praeclara cahrissimi, de 4 de janeiro
de 1551. Na ocasião, culminando um longo processo de crescente sujeição
ao poder régio, o Papa Júlio III concedeu a D. João III, e seus sucessores
in perpetuum, a união dos mestrados das três ordens militares à Coroa de
Portugal.
5
PORTO, José da Costa. O sistema sesmarial no Brasil. Brasília: Editora UNB,
1979, p. 96.
60
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
6
FORAL da capitania da Bahia, 26 ago. 1534. In: CHORÃO, Maria José Mexia
Bigotte (Ed.), op. cit., p. 53-57. Para uma tentativa de quantificação des-
tes direitos dos donatários, veja o trabalho de GALLO, Alberto. Aventuras
y desventuras del gobierno señorial en Brasil. In: CARMAGNANI, Marcello;
HERNÁNDEZ CHÁVEZ, Alicia; ROMANO, Ruggiero (Coord.). Para una historia de
América. México: El Colegio de México; FCE, 1999, p. 236 et seq. v. II: Los
nudos.
7
ALMEIDA, Cândido Mendes. (Ed.). Codigo Philippino, ou Ordenações e leis do
Reino de Portugal (1603). Rio de Janeiro: Instituto Philomathico, 1870, livro
III, título XXVI, p. 13.
61
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
8
DH, v. 35, p. 35-37; CHANCELARIA-mor, D. João III. ANTT, livro 7, fls. 164.
9
COUTO, Jorge. A construção do Brasil: ameríndios, portugueses e africanos,
do início do povoamento a finais de Quinhentos. Lisboa: Edições Cosmos,
1998, p. 231-232.
62
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
10
REGIMENTO do provedor-mor do Brasil, Antônio Cardoso de Barros, Almerim,
17 dez. 1548 e REGIMENTO dos provedores da Fazenda do Brasil, Almerim, 17
dez. 1548. In: MENDONÇA, M. C. de (Ed.). Raízes da formação administrativa do
Brasil. Rio de Janeiro: IHGB; CFC, 1972, p. 91-98; 99-116. t. 1.
11
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. São Paulo:
Melhoramentos, 1975, p. 197-198. t. I.
63
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
12
FREIRE, Pascoal José de Melo. Instituições de Direito Civil Português. Boletim
do Ministério da Justiça, n. 161-162, livro I, p. 114, 1966.
13
LIÃO, Duarte Nunes do. Leis Extravagantes Collegidas e relatadas pelo licenciado
Duarte Nunez do mandado do muito alto & poderoso rei Dom Sebastiam, nosso
senhor. Lisboa: António Gonçalvez, 1569, p. 38-43, título XV “Do provedor
das capelas” e título XVI “Dos provedores das comarcas”.
14
ALMEIDA, Cândido Mendes. (Ed.), op. cit., livro I, título 62, p. 116 et seq.
15
Ibidem; HESPANHA, António Manoel. As vésperas do Leviathan: instituições
e poder político – Portugal séculos XVI-XVIII. Lisboa: Pedro Ferreira Artes
Gráficas, 1986, p. 206 et seq.
64
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
revela um caminho que será depois, em parte, seguido pelo Brasil. Como
nos demostra o estudo de Susana Münch Miranda, em um primeiro
momento, a crescente integração da produção da Ilha nos circuitos co-
merciais europeus, levou à necessidade do “estabelecimento de estruturas
aduaneiras orientadas especificamente para a interpretação dos reditos
fiscais provenientes do comércio marítimo”.16 Em 1477, são criadas as
alfândegas de Funchal e Machico, subordinadas ao contador – oficial
responsável pelo exercício dos direitos fiscais do donatário (no caso o
Duque D. Manuel, feito rei em 1495 e, três anos depois, integrando os
direitos senhoriais à Coroa).17
Em 1508, o cargo de contador será ampliado com o acrescenta-
mento do ofício de provedor. O novo ofício, intitulado de Provedoria da
Fazenda, reunia essas competências. Ampliadas, talvez, pelo papel cada
vez mais importante da alfândega, da contabilidade e controle do seu
movimento e dos seus livros e, sobretudo, do arrendamento dos direitos –
cada vez menos percebidos diretamente. Hespanha havia considerado que
tal aproximação entre a contadoria e a provedoria era fenômeno corrente
no reino, sempre no nível das comarcas.18 Contudo, o que observamos
no Ultramar parece ser algo diverso. O estudo da institucionalização do
aparelho fiscal conexo ao comércio no Reino pode revelar mais da natu-
reza destes mecanismos do que a comparação com os espaços senhoriais
e interiores do continente.
Em 1516, o Regimento dos Vedores da Fazenda indicava o caminho
de centralização a autonomização da estrutura fiscal da Monarquia, pelo
menos na dimensão que efetivamente interessava: o comércio ultramari-
no. No caso do Brasil, o Regimento de Antonio Cardoso de Barros inovava
ao criar um sistema centralizado e articulado de controle dos direitos
16
MIRANDA, Susana Münch. A Fazenda Real na Ilha da Madeira: segunda me-
tade do século XVI. Funchal: Secretaria Regional do Turismo, Cultura e
Emigração – Cham (FCSH-UNL), 1994, p. 36.
17
Ver também VERÍSSIMO, Nelson. Relações de poder na sociedade madeirense
do século XVII. Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura, 2000,
p. 279-294.
18
HESPANHA, António Manoel, As vésperas do Leviathan, op. cit.
65
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
19
MENEZES, Mozart Vergetti de. Colonialismo em ação – fiscalismo, economia
e sociedade na Capitania da Paraíba (1647-1755). São Paulo, 2005. Tese
(Doutorado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, p. 64 et seq.
66
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
a provedoria deve ser entendida não como parte das estruturas políticas
da capitania, mas como ramificação do sistema centralizado que tinha
a cabeça em Salvador e, em última instância, deveria estar sintonizado
com ou ainda responder aos comandos do Governo Geral.
Com o crescimento da produção do açúcar em Pernambuco e a
expectativa de implantação de mais engenhos na Bahia, com o estímulo
previsto pela presença do Governo Geral, a Coroa procurou estabelecer
um sistema bem ordenado para poder fazer fluir à Fazenda os ganhos
fiscais esperados. Ao mesmo tempo, era importante oferecer ao sistema
econômico um espaço de arbitragem dos conflitos e de integração da
classe produtora (leia-se senhores de engenho e lavradores). Neste mo-
mento inicial, para além do estanco do pau-brasil, duas são as principais
fontes de renda esperadas: (1) os dízimos dos frutos da terra e (2) as
dízimas das mercadorias.
O dízimo era o principal imposto da terra. Imaginado desde o
início da colonização, fora estabelecido na América ex ante da montagem
do sistema produtivo… A responsabilidade pela sua cobrança era do do-
natário em cada capitania. Na teoria, com o estabelecimento do Governo
Geral, passava-se a responsabilidade para um provedor de cada capitania,
supervisionado pelo provedor-mor; nomeado pelo Governador do Brasil.
Na correta opinião de Ângelo Carrara, em trabalho recente e essencial
para o estudo da fiscalidade colonial, o dízimo foi “a principal fonte de
rendas do Estado do Brasil até pelo menos 1700, quando a mineração
começou a alterar profundamente as estruturas fiscais da colônia”.20 A
cobrança, contudo, foi logo arrendada a particulares e resolvia-se num
esquema de ganhos compartilhados com a elite da açucarocracia.21 O me-
20
CARRARA, Ângelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século
XVII. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2009, p. 39. v. 1.
21
“O arrendamento dos dízimos era um negócio ao qual participavam muitas
pessoas porque o contrato, uma vez arrematado, era retalhado e vendido.
Vendido uma primeira vez ‘por atacado’ pelo próprio contratador aos cha-
mados ‘ramistas’. Revendidos depois pelos ramistas, e enfim novamente
vendido ‘ao varejo’ nas paróquias, em porções minúsculas. Estas porções
eram mesmo minúsculas: a vigésima ou a trigésima parte dos dízimos de
67
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
lavrador algum, nem pessoa outra que fizer açúcares nas ditas
terras, não tirará por si, nem por outrem, fora da casa de purgar
o dito açúcar, sem primeiro ser alealdado e pago o dízimo dele,
sob pena de o perder.22
68
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
24
ALVARÁ de 3 jun. 1628, DH, 15, 293; veja também CARRARA, Ângelo Alves.
op. cit., p. 39. v. 1.
25
“Lealdarse” era um termo do foral da alfândega, cujo regimento feito por D.
João III, estabelecia que “todo homem que mandasse trazer alguma merca-
doria para a sua casa, o fosse dizer primeiro ao provedor e oficiais, e estes
lhe dessem juramento, se aquilo que pedia se havia de gastar aquele ano em
sua casa, e sendo o que pedia conforme a razão, lho concedessem e se escre-
vesse em certos livros. Este negócio chamam ir lealdar” BLUTEAU, Raphael.
Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico... Coimbra:
Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, p. 60. v. 4.
26
ANTONIL, André João [André João Andreoni]. Cultura e Opulência do Brasil,
por suas drogas e minas, etc. Lisboa: Officina real Deslandesiana, 1711,
p. 21-22. Livro I, VIII: Do caixeiro do engenho.
69
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
27
KOSTER, Henry. Viagens ao nordeste do Brasil. Recife: Fundação Joaquim
Nabuco; Massangana, 2002 (1816), p. 106-107. v. 1.
28
CARTA de Duarte Coelho ao rei, 15 abr. 1546, MELLO, José Antonio Gonsalves
de; ALBUQUERQUE, Cleonir Xavier de (Ed.). Cartas de Duarte Coelho a El Rei.
Recife: Massangana, 1997, p. 103.
29
“[Papel em] que se mostra o quanto rende assim os dízimos dello [Estado
do Brasil] como os direitos que as suas alfândegas se lhe [ao rei] pagam”…
(c. 1627), SALVADO, João Paulo; MIRANDA, Susana Münch. Livro primeiro do
governo do Brasil, 1607-1633. Lisboa: CNDP, 2001, fol. 27-31v.
70
Açúcar: estimativa da produção e da carga fiscal no
Estado do Brasil, c. 1627
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
30
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil (1618).
Recife: Editora UFPE, 1966, p. 74.
31
SALVADO, João Paulo; MIRANDA, Susana Münch, Livro primeiro do governo do
Brasil, 1607-1633, op. cit., fol. 27.
72
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
32
MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil [1612].
Edição crítica, com introdução e notas de Hélio Vianna. Recife: Arquivo
Público Estadual, 1955. O regimento de Gaspar de Sousa está publicado em
MENDONÇA, Marcos Carneiro de, op. cit., p. 413-436. t. 1.
73
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
FONTE: MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil [1612]. Edição crítica, com
introdução e notas de Hélio Vianna. Recife: Arquivo Público Estadual, 1955. Foram corrigidos
alguns erros nas totalizações, a partir das indicações de Hélio Vianna na colação que fez nos
códices do IHGB e da Biblioteca do Porto. A região de São Francisco, apesar de não ser capitania,
foi contabilizada por Moreno. Incluimos seus dados nos da capitania da Bahia.
74
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
33
PORTO, José da Costa, op. cit., 1979, p. 34.
34
ALMEIDA, Cândido Mendes de (Ed.), op. cit., livro IV, título 43, p. 822-826.
Sobre as sesmarias no ultramar, veja o capítulo 6 do excelente livro de
SALDANHA, António Vasconcelos de. As capitanias do Brasil: antecedentes, de-
senvolvimento e extinção de um fenómeno atlântico. Lisboa: CNCDP, 2001,
p. 281-325. Veja também RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial:
Brasil, 1530-1630. São Paulo: Alameda, 2009, p. 184 et seq.
75
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
toda a pessoa que a sua custa e despesa se for a esta cidade e po-
voações para nelas viver e as povoar e aproveitar esta ano de [15]51
e no que virá de [15]52 e assim os que lá mandarem no dito tempo
e fazer de novo engenho de açúcares ou reformar os que tinham
nesta capitania da Bahia e da de Espírito Santo sejam escusos
de pagarem o dízimo de suas novidades por tempo de 5 anos.35
35
INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Documentos para a História do Açúcar. Rio
de Janeiro: Serviço Especial de Documentação Histórica, 1954, p. 111-112.
v. 3.
36
PROVISÃO de 16 mar. 1570, Translado autêntico do Livro Dourado da Relação
da Bahia, BPE, cod. CXV / 2-3, fls. 352v-353v. Veja também FERLINI, Vera Lúcia
Amaral. Terra, Trabalho e Poder. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 193.
76
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
O rei pedia que, tão logo chegasse, Gaspar de Sousa tirasse infor-
mação de “tudo isto” e, ouvidas algumas testemunhas, mandasse um
relatório para o Conselho das Índias.38
Passados dois anos, um alvará impunha um maior controle na
concessão destas isenções por dez anos. Em 1613, a rápida difusão de
uma mudança nas moendas da cana do açúcar havia contribuído para o
aumento da produtividade dos engenhos. A moenda “de palitos”, com
37
TRANSLADO autêntico do Livro Dourado da Relação da Bahia, op. cit., fol. 77v.
38
CARTA do rei para Gaspar de Sousa, 9 out. 1612. In: SALVADO, João Paulo;
MIRANDA, Susana Münch (Ed.) Cartas para Álvaro de Sousa e Gaspar de Sousa
(1540-1627). Lisboa: CNCDP, 2001, p. 155.
77
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
39
Nos Diálogos das Grandezas do Brasil (de Ambrósio Fernandes Brandão,
publicado em Leiden no ano de 1618), acompanhamos uma conversa entre
Alviano e Brandônio sobre esta novidade. Comentava este último: “Mas ago-
ra novamente se há introduzido uma nova invenção de moenda, a que cha-
mam palitos, para a qual convém menos fábrica, e também se ajudam deles
de água e de bois; e tem-se esta invenção por tão boa que tenho para mim
que se extinguirão e acabarão todos os engenhos antigos, e somente se ser-
viam desta nova traça”. Ao que respondeu Alviano: “Toda cousa que se faz
com menos trabalho e despensa se deve estimar muito, e pois nesse modo
dos palitos se alcança isto, não duvido que todos pretendam usar deles...”. Cf.
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes, op. cit., p. 85. A grande inovação não estava
somente no melhor aproveitamento da energia moente e, portanto, do caldo
da cana. A historiadora Vera Ferlini mostra, em seu estudo, que o novo siste-
ma possibilitou a economia de dois trabalhadores no processo, em razão da
maneira mais racional do repasse da cana (a cana devia sempre passar duas
vezes pelos cilindros, para o melhor aproveitamento do sumo). Cf. FERLINI,
Vera Lúcia Amaral, op. cit., p. 101-107, 113. A tecnologia do fabrico do açúcar
foi estudada por Ruy Gama, em seu livro Engenho e Tecnologia (São Paulo:
Livraria Duas Cidades, 1983) e pela própria Vera Ferlini no capítulo 3 de seu
livro ora citado.
78
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
40
ALVARÁ de 26 maio 1614, Lisboa, In: SALVADO, João Paulo; MIRANDA, Susana
Münch (Ed.), Cartas para Álvaro de Sousa e Gaspar de Sousa (1540-1627),
op. cit., p. 242-243. Provisão idêntica foi passada ao provedor-mor: “provisão
que os trapiches de fazer açúcar se não registre por engenhos em razão de
gozarem de liberdade de direitos concedidos aos engenhos de açúcares”,
datada de Lisboa, 24 maio 1614. TRANSLADO autêntico do Livro Dourado da
Relação da Bahia, op. cit., fols. 354-355.
41
BRITO, Domingos de Abreu e. Um Inquérito à vida administrativa e econômi-
ca de Angola e do Brasil, em fins do século XVI: segundo o manuscrito exis-
tente na Biblioteca Nacional de Lisboa. Ed. Alfredo de Albuquerque Felner.
Coimbra: Imprensa da Universidade, 1931, p. 60-61.
42
PROVISÃO que os trapiches de fazer açúcar se não registre por engenhos em
razão de gozarem de liberdade dos dividendos concedidos aos Engenhos de
Açúcar, Lisboa, 24 maio 1614. In: TRANSLADO autêntico do Livro Dourado da
Relação da Bahia, op. cit., fols. 354-355.
79
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
43
CARTA do rei para Gaspar de Sousa, 7 ago. 1614. In: SALVADO, João Paulo;
MIRANDA, Susana Münch (Ed.), Cartas para Álvaro de Sousa e Gaspar de Sousa
(1540-1627), op. cit., p. 244.
44
ALVARÁ sobre as justificações que se hão de fazer nos engenhos para efeito
de haver de gozar de liberdade, Lisboa, 12 jan. 1619. In: TRANSLADO autêntico
do Livro Dourado da Relação da Bahia, BPE, cod. CXV / 2-3, fls. 355v-356v.
45
CARTA ao governador, d. Luis de Sousa, 7 jan. 1619. In: SALVADO, João Paulo;
MIRANDA, Susana Münch, Livro primeiro do governo do Brasil, 1607-1633,
op. cit., fol. 247.
80
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
46
MAURO, Frédéric. Portugal, o Brasil e o Atlântico, 1570-1670. Lisboa: Editorial
Estampa, 1989, p. 300-301. v. I.
47
REGIMENTO novo do Provedor mor sobre as despesas da Gente de Guerra
& outras cousas, Lisboa, 9 maio 1639. In: TRANSLADO autêntico do Livro
Dourado da Relação da Bahia, BPE, cod. CXV / 2-3, fls. 325v-339.
48
FERLINI, Vera Lúcia Amaral, op. cit., p. 195; SOBRE a forma de liberdade que
hão de gozar os senhores de engenho no Brasil, Lisboa, 17 dez. 1755, AHU,
81
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
FONTE: CARRARA, Ângelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século XVII. Juiz de
Fora: Editora UFJF, 2009, p. 125-145 (anexo 1); CSS, 2. v., 1953, p. 117; DH 54, 30 e 183.
82
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
das sisas ninguém está isento; face a este imposto existe igualda-
de entre todos os que estão no reino [...] trata-se de um imposto
de origem concelhia que passa a ser o primeiro imposto geral,
definidor do Estado.
83
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
51
GODINHO, Vitorino Magalhães. Finanças públicas e estrutura do Estado.
In: ______. Ensaios: sobre história de Portugal. Lisboa: Sá da Costa, [s.d.],
p. 44-45. v. 2.
52
Ibidem, p. 44, 49.
53
HESPANHA, A. M. A fazenda. In: MATTOSO, José (Ed.). História de Portugal.
Lisboa: Editorial Estampa, p. 223. v. 4.
54
Um estudo mais detalhado poderia acompanhar este movimento no início
do século XVI: (1497-1520) Reforma dos forais; (1502) Regimento dos ofi-
ciais das cidades, vilas e lugares destes reinos (1504); (1505) início do tom-
bamento de todas as capelas, hospitais e albergarias; (1509) Regimento das
Casas das Índias e Mina; (1512) Artigos das Sisas; (1521) Ordenações manue-
linas; (1520) Ordenações da Índia.
84
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
55
HAARLEM, Cornelis Jansz de. Os direitos que os portugueses costumam pa-
gar em Pernambuco (c. 1630). In: LAET, João de. Roteiro de um Brasil des-
conhecido: descrição das costas do Brasil. São Paulo: Kapa Editorial, 2007,
p. 16. O volume, com transcrição, tradução, introdução e anotação de B.
N. Teensma, é publicação integral do manuscrito “Descrição das costas do
Brasil”, pertencente à biblioteca John Carter Brown (codex DU. 1).
85
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
56
Veja a nota de Andrée Mansuy sobre o consulado na sua edição de ANTONIL,
André João [André João Andreoni]. Cultura e Opulência do Brasil por suas
drogas e minas etc. [1711]. Introdução e notas de Andrée Mansuy Diniz Silva.
São Paulo: Edusp, 2007, p. 175. François Pyrard, nascido em Laval, ficou na
Bahia por dois meses (de 13/08/1610 até 7/10/1610), no curso de sua nave-
gação pelo mundo. Descrevendo a cidade e a sua vida naquele ano de 1610,
notava – com algum espanto – que não se cobrava nenhum direito sobre
as mercadorias vendidas a retalho na terra, assim como não se pagavam
nenhum foro ou direito pelo uso das terras. As mercadorias, na entrada e na
saída, pagam apenas 3% – “e todos os bens, sejam açúcares e outros frutos
que crescem no país, pagam somente o dízimo, que o rei da Espanha [sic]
obteve do Papa”. LAVAL, François Pyrad de. Voyage de François Pyrard de Laval,
contenant sa navigation aux Indes Orientales, Maldives, Moluques, & au Bresil...
Paris: Chez Louis Billaine, MDCLXXIX [1679], parte segunda, p. 202.
86
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
2. Transporte local
Pelo caixão no engenho, ao menos 1.200 28,4% 1,4%
Por se levantar o dito caixão 50 1,2% 0,1%
Por 86 pregos para o dito caixão 320 7,6% 0,4%
Por carreto à beira-mar 2.000 47,3% 2,4%
Por carreto do porto do mar até o trapiche 320 7,6% 0,4%
Por guindaste no trapiche 80 1,9% 0,1%
Por entrada no mesmo trapiche 80 1,9% 0,1%
Por aluguel do mês no dito trapiche 20 0,5% 0,0%
Por se botar fora do trapiche 160 3,8% 0,2%
4.230 100,0% 5,0%
3. Transporte transatlântico
Por frete do navio a 20$ 11.520 95,9% 13,6%
Por descarga em Lisboa, para a alfândega 200 1,7% 0,2%
Por guindaste na ponte da alfândega 40 0,3% 0,0%
Por se recolher da ponte para o armazém 60 0,5% 0,1%
Por se guardar na alfândega 50 0,4% 0,1%
Por cascavel de arquear, por cada arco 80 0,7% 0,1%
Por obras, taras e marcas 60 0,5% 0,1%
12.010 100,0% 14,2%
4. Direitos da terra1*
Por direitos do subsídio da terra 300 78,9% 0,4%
Por direito para o forte do mar 80 21,1% 0,1%
380 100,0% 0,4%
5. Direitos do Reino
Por avaliação e direitos grandes, a 800 réis,
e a 20 por 100 5.600 46,9% 6,6%
Por consulado a 3 por 100 840 7,0% 1,0%
87
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
57
MAGALHÃES, Joaquim Romero. Dinheiro para a guerra: as décimas da
Restauração. Hispania, v. 64, n. 216, p. 157-182, 2004.
88
a provedoria-mor: fiscalidade e poder no brasil colonial
58
Veja a nota 101 de Andrée Mansuy sobre o combóy na sua edição de ANTONIL,
André João, op. cit., p. 175.
59
“O tributo do consulado. Entrando no governo do reino de Portugal el-rei
D. Filipe, o prudente, e vendo o muito que tinha despendido do patrimônio
Real com sua proteção, introduziu neste reino no ano de 1592, o tributo novo
chamado do Consulado, que são três por cento nas Alfândegas, para com ele
fazer todo os anos uma armada grossa de doze galeões, que pudesse guar-
dar a costa e trazer seguras as frotas das conquistas das Ilhas até Lisboa”,
BLUTEAU, Raphael, op. cit., p. 487. v. 2. Veja a nota 100 de Andrée Mansuy
sobre o consulado na sua edição de ANTONIL, André João, op. cit., p. 175.
89
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
60
BOXER, Charles R. The Portuguese Seaborne Empire, 1415-1825. Londres:
Hutchinson, 1969, p. 335. Outro historiador seria mais enfático: “Pelo trata-
do de 1654, Portugal tornara-se um virtual vassalo comercial da Inglaterra”,
MANCHESTER, Alan K. Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1973 (1933), p. 30.
61
DAMPIER, William. Nouveau Voyage author du monde. Rouen: Chez Eustache
Herault, MDCCXV [1715], p. 47-48. v. 4. (Tradução minha).
90
De senhores de engenho a cortesãos: conexões
entre a América açucareira portuguesa e a
Monarquia Católica no século XVII
1
Professora de História da Universidade de Pernambuco. Esta pesquisa
foi desenvolvida junto ao Departamento de História Medieval, Moderna
e Contemporânea da Universidade de Salamanca, inserida no Grupo de
Investigación BRASILHIS, coordenado pelo Prof. Dr. José Manuel Santos
Pérez. Pesquisa financiada pela FACEPE.
2
GRUZINSKI, Serge. Os mundos misturados da monarquia católica e outras
connected histories. Topoi, Rio de Janeiro, p. 179-180, mar. 2001.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
3
Cf. YUN CASALILLA, Bartolomé. Entre el imperio colonial y la monarquía
compuesta. Élites y territorios en la Monarquía Hispánica (ss. XVI y XVII).
In: ______. (Dir.). Las Redes del Imperio: Élites sociales en la articulación
de la Monarquía Hispánica, 1492-1711. Madrid: Marcial Pons, 2009,
p. 12; e RUIZ IBÁÑEZ, José Javier. Servir segundo a dignidade: exílios políti-
cos e administração real na Monarquia Hispânica, 1580-1610. In: MONTEIRO,
Rodrigo B.; FEITLER, Bruno; CALAINHO, Daniela B.; FLORES, Jorge M. (Org.).
Raízes do privilégio: mobilidade social no mundo ibérico do Antigo Regime.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p. 105-132.
4
Entre os melhores exemplos da historiografia clássica para a caracterização
básica da América açucareira portuguesa está SCHWARTZ, Stuart B. Segredos
internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988. E para a nova historiografia que vem se de-
bruçando sobre os núcleos urbanos no mundo do açúcar ver: SOUZA, George
F. C. de. Tratos & mofatras: o grupo mercantil do Recife colonial (c. 1654-
-c. 1759). Recife: Editora Universitária UFPE, 2012; CAETANO, Antonio Filipe
Pereira (Org.). “Alagoas Colonial”: construindo economias, tecendo redes
de poder e fundando administrações (séculos XVII-XVIII). Recife: Editora
Universitária UFPE, 2012; SILVA, Kalina Vanderlei. Nas solidões vastas e assus-
tadoras: a conquista do sertão de Pernambuco pelas vilas açucareiras nos
séculos XVII e XVIII. Recife: CEPE, 2010; OLIVEIRA, Carla Mary S.; MENEZES,
Mozart Vergetti de; GONÇALVES, Regina Célia (Org.). Ensaios sobre a América
portuguesa. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2009; ALMEIDA, Suely
92
de senhores de engenho a cortesãos
93
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
espanhol D. Luis de Rojas y Borja;7 sem falar nos muitos soldados, súditos
menores do rei da Espanha, que, enviados para lutar contra os holande-
ses, acabaram por lá se fixar e criar raízes: como Antonio Álvarez de La
Penha, soldado castelhano que passou a residir em Pernambuco depois
da guerra, afidalgando-se e enviando seu neto, muitos anos depois, para
estudar medicina na Universidade de Salamanca; ou Francisco Rodrigues
Salvaterra, “castelhano de nação” que foi embarcado para o Brasil em
1640 para combater os holandeses em Pernambuco, retornando ao reino
para lutar pelos portugueses em Badajós, só para voltar mais uma vez à
América onde se encontrava, em 1660, servindo no Ceará.8 Caso exem-
plar, esse de Salvaterra, que chegara à América no posto de soldado e fora
se afidalgando ao longo do tempo, a ponto de, décadas após sua vinda,
passar a assinar as petições com o Dom característico dos fidalgos. Ou,
por fim, Juan Lopes Sierra: autor de um panegírico fúnebre escrito, em
espanhol, em honra ao Governador Geral Afonso Furtado de Mendonza,
em Salvador da década de 1670. Sierra, que afirmava ter então 72 anos
de idade, muito provavelmente chegara à Bahia na esteira das tropas da
reconquista, na década de 1620.9
7
Para o Governador Geral, cf. DUTRA, Francis A. A New Look into Diogo
Botelho’s stay in Pernambuco, 1602-1603. Luso-Brazilian Review, v. 4, n. 1,
p. 27-34, 1967; e para D. Luis de Rojas y Borja, cf. SOBRE lo que escribe Don
Luis de Rojas cerca de las mercedes que se devem hacer a las personas que
asisten en la guerra de Phernambuco dineros que se deven he dar, y perdon
que se devem dar. Archivo General de Simancas, Secretarías provinciales,
libro 1478, fol. 37; MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada: guerra e
açúcar no Nordeste, 1630-1654. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
8
Para os de La Penha, cf. SILVA, Kalina Vanderlei. Fidalgos, capitães e senho-
res de engenho: o Humanismo, o Barroco e o diálogo cultural entre Castela
e a sociedade açucareira (Pernambuco, séculos XVI e XVII). Varia Historia,
Belo Horizonte, v. 28, n. 47, p. 235-257, jan./jun. 2012; e para Salvaterra,
cf. INFORMAÇÕES [do conselho ultramarino] sobre serviços prestados por D.
Francisco Rodrigues Salvaterra, castelhano de nação, no período de 1649 a
1660, na capitania de Pernambuco. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU),
Lisboa, ACL, CU 015, c 7, D. 622.
9
Cf. PÉCORA, Alcir; SCHWARTZ, Stuart B. (Org.). As excelências do governador: o
panegírico fúnebre a D. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia, 1676).
94
de senhores de engenho a cortesãos
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 38-40. Esses autores elaboram
várias especulações, bem fundamentadas no contexto do período, acerca das
possíveis origens desse personagem, não deixando de considerar que Juan
Lopes Sierra poderia ser simplesmente um pseudônimo para algum autor
baiano.
10
A historiografia que trabalha com a circulação humana dentro das
fronteiras da Monarquia Católica inclui os basilares trabalhos de Gruzinski
e Casalilla. Cf. GRUZINSKI, Serge. Las cuatro partes del mundo: Historia de
una mundialización. México: Fondo de Cultura Económica, 2010; YUN
CASALILLA, Bartolomé, op. cit., p. 11-35. Mas é importante ressaltar que existe
também uma historiografia brasileira que aborda a circulação interna na
América portuguesa: PAIVA, Eduardo França; IVO, Isnara Pereira; AMANTINO,
Márcia. Escravidão, mestiçagens, ambientes, paisagens e espaços. São Paulo:
Annablume, 2011; IVO, Isnara Pereira. Homens de Caminho: trânsitos
culturais, comércio e cores nos sertões da América portuguesa. Século
XVIII. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2012.
11
Para a rede de notícias mantida por Faria, cf. MEGIANI, Ana Paula Torres. Das
palavras e das coisas curiosas: correspondência e escrita na coleção de notí-
cias de Manuel Severim de Faria. Topoi, v. 8, n. 15, p. 24-48, jul./dez. 2007.
95
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
12
Para os espanhóis na conquista da Paraíba, cf. GONÇALVES, Regina Célia. O
Capitão-Mor e o Senhor de Engenho: os conflitos entre um burocrata do
rei e um ‘nobre da terra’ na Capitania Real da Paraíba (Século XVII). In:
CONGRESSO INTERNACIONAL ESPAÇO ATLÂNTICO DE ANTIGO REGIME: PODERES E
SOCIEDADES, 2005. Actas... Lisboa: Instituto Camões, 2008, p. 1-14. v. 1.
13
Para esse bilinguismo, cf. ROMO, Eduardo Javier Alonso. Português e caste-
lhano no Brasil quinhentista à volta dos jesuítas. Revista de Índias, v. LXV,
n. 234, p. 491-492, 2005.
14
Para os livros importados em Pernambuco no XVIII, cf. VERRI, Gilda Maria
Whitaker. Tinta sobre papel: livros e leituras em Pernambuco no século
96
de senhores de engenho a cortesãos
97
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
16
Para as relações entre elite açucareira e Santa Casa de Misericórdia, cf.
RUSSELL-WOOD, A. J. R. Fidalgos e filantropos: a Santa Casa da Misericórdia da
Bahia, 1550-1755. Brasília: Editora da UNB, 1981.
17
Para os fidalgos portugueses em Madri pós-Restauração, cf. BOUZA ÁLVAREZ,
Fernando. Entre dos reinos, una patria rebelde. Fidalgos portugueses en
la Monarquía Hispánica después de 1640. Estudis: Revista de historia mo-
derna, Universidad de Valencia, n. 20, p. 83-104, 1994. Em artigo recente,
Camenietzki, Saraiva e Silva fazem eco a Fernando Bouza Álvarez afirman-
do que metade da nobreza portuguesa permanecia fiel aos Habsburgo ainda
por ocasião da batalha de Montijo. CAMENIETZKI, Carlos Ziller; SARAIVA, Daniel
Magalhães Porto; SILVA, Pedro Paulo de Figueiredo. O papel da batalha: a
disputa pela vitória de Montijo na publicística do século XVII. Topoi, v. 13, n.
24, p. 11-12, jan./jun. 2012. Nesse trabalho, Bouza Álvarez, por sua vez, che-
gou a estabelecer uma classificação dos tipos de vassalos portugueses leais a
Felipe IV: homens de negócio, oficiais letrados, soldados, autoridades eclesi-
ásticas e nobres. Ele explora especialmente o grupo dos fidalgos, que haviam
vivenciado um apogeu com os Felipes, mas que caiu, após a Restauração
portuguesa, na contraditória situação de ser um grupo cuja existência se
justificava pela propriedade de terra, mas que então se encontrava sem terra.
18
Caso, por exemplo, de Duarte de Albuquerque Coelho e Matias de
Albuquerque, cortesãos que se apresentavam a partir de suas origens colo-
98
de senhores de engenho a cortesãos
niais, sem que tivesse sequer nascido na América. Cf. DUTRA, Francis. Notas
sobre a vida e morte de Jorge de Albuquerque Coelho e a tutela de seus
filhos. Stvdia, Lisboa, n. 37, p. 265-267, dez. 1973.
19
Encontramos dois processos relativos a D. Bartolomé de Mendoza nos
arquivos do Consejo de Ordenes, no Archivo Historico Nacional de España,
e um relativo a seu irmão, D. Jerônimo de Mendoza no mesmo arquivo:
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. Archivo Histórico Nacional, OM-
-EXPEDIENTILLOS, N.10316; MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. OM-Caballe-
ros_Calatrava, exp. 1618, fecha 1645. Archivo Histórico Nacional de España,
Consejo de Ordenes; MENDOZA de Mendoza, Jerónimo de. Archivo Histórico
Nacional, OM-CABALLEROS_CALATRAVA, Exp.1620 – 2 Recto – Imagen Núm: 3 /
110; e 7/110 Disponível em: <http://pares.mcu.es>. Acesso em: 3 out. 2014.
Além disso, encontramos referência a D. Bartolomé enquanto testemunha
no processo de um certo D. Diego Gutiérrez Barona, datado de 1654. Cf.
DÁVILA JALÓN, Valentín. Extractos de varios expedientes de nobleza y limpieza
de sangre, incoados por caballeros burgaleses en solicitud de ingreso en
las Órdenes Militares españolas [09]: Siglos XVI a XVIII. Bol. Com. Prov.
Monum. Inst. Fernán González ciudad Burgos, año 27, n. 104, 1948.
99
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
20
Quem compara os hábitos das ordens militares com instituições tais como o
Santo Ofício e conclui por sua elevação na hierarquia nobiliárquica é OLIVAL,
Fernanda. Para um Estudo da Nobilitação no Antigo Regime: Os Cristãos-
-Novos na Ordem de Cristo (1581-1621). In: ______. As ordens militares e o
Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa:
Estar Editora, 2001, p. 233-244.
21
Cf. Idem. Mercado de hábitos e serviços em Portugal (séculos XVII-XVIII).
Análise social, v. 38, n. 168, p. 743-769, 2003.
22
Para as origens medievais das ordens ibéricas, e sua significação enquanto
milícias religiosas, cf. CUNHA, Maria Cristina. A Ordem de Avis e a Monarquia
Portuguesa até ao final do reinado de D. Dinis. Revista da Faculdade de Letras,
Porto, v. 12, p. 113-124, 1995. Também FERNÁNDEZ IZQUIERDO, Francisco. La
orden militar de Calatrava en el siglo XVI: infraestructura institucional –
sociología y prosopografía de sus caballeros. Madrid: CSIC, 1992, p. 13-14.
100
de senhores de engenho a cortesãos
23
Para a concessão desses hábitos como prática vinculada à economia das
mercês, cf. KRAUSE, Thiago. Em Busca da Honra: os pedidos de hábitos
da Ordem de Cristo na Bahia e em Pernambuco, 1644-76. In: ENCONTRO
DE HISTÓRIA ANPUH-RJ, 13, 2008, Niterói. Anais... Niterói: [s.n.], 2008, p. 2.
Além disso, para os fidalgos coloniais que conseguiram essa mercê, ver YUN
CASALILLA, op. cit. e DUTRA, Francis A. Ser mulato em Portugal nos primór-
dios da modernidade portuguesa. Tempo, Niterói, v. 16, n. 30, p. 108, 2011.
24
ÁLVAREZ-COCA GONZÁLEZ, María Jesús. La concesión de hábitos de caballeros
de las Órdenes Militares: procedimiento y reflejo documental (s. XVI-XIX).
Cuadernos de Historia Moderna, n. 14, p. 287, 1993.
25
Ibidem.
101
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
26
Para Fernández Izquierdo, essa significação das ordens militares ficou mais
e mais forte a partir do governo de Felipe II. FERNÁNDEZ IZQUIERDO, Francisco.
¿Qué era ser caballero de una Orden Militar en los siglos XVI y XVII? Torre
de los Lujanes, Madrid: R.S.E.M., Amigos del Pais, v. 49, n. 1, p. 141-163, 2003.
27
Ibidem, p. 144-145.
28
Ibidem, p. 147-148.
29
Fernanda Olival descreve essas características dos questionários das or-
dens militares, especificamente portuguesas, no século XVII: OLIVAL,
102
de senhores de engenho a cortesãos
103
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
34
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. OM-Caballeros_Calatrava, exp. 1618,
fecha 1645. Archivo Histórico Nacional de España, Consejo de Ordenes.
35
MELLO, Evaldo Cabral. O nome e o sangue: uma parábola familiar no
Pernambuco colonial. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000, p. 22.
36
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. OM-Caballeros_Calatrava, exp. 1618,
fecha 1645. Archivo Histórico Nacional de España, Consejo de Ordenes.
104
de senhores de engenho a cortesãos
37
Ibidem.
38
Ibidem.
39
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. Archivo Histórico Nacional, OM-
-EXPEDIENTILLOS, N. 10316. Disponível em: <http://pares.mcu.es>. Acesso em:
3 out. 2014.
40
MENDOZA de Mendoza, Jerónimo de. Archivo Histórico Nacional, OM-
-CABALLEROS_CALATRAVA, Exp. 1620 – 2 Recto – Imagen Núm: 3/110; e 7/110.
Disponível em: <http://pares.mcu.es>. Acesso em: 3 out. 2014.
105
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
41
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. Archivo Histórico Nacional, OM-
-EXPEDIENTILLOS, N. 10316. Disponível em: <http://pares.mcu.es>. Acesso em:
3 out. 2014.
106
de senhores de engenho a cortesãos
Señor.
Don Bartholomé de Mendoza diçe que V. Mg[de] le yço merced
del habito de la Horden de Calatraba y porque es natural de
Pernambuco en Brasil que ha tantos años esta ocupado de
olandeses no se puede ir allá a hacer las pruebas de el dicho
habito y por ser así VMg se sirbió de dispensar con Su Padre
Don Manuel de Mendoza y con cuatro hermanos que tiene con
habito de Calatraba [ ] mente con el Capitán Don Jeronimo de
Mendoza su hermano para que se ycressen [sic] en esta Corte por
patria común supplica a VMgd atento a lo referido le haga merced
mandar que las pruebas del dicho habito y todas las dependencias
se hagan en esta Corte adonde hay bastantes testigos de el Brasil
para decir en ellas en que recibirá merced.42
42
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. Archivo Histórico Nacional, OM-
-EXPEDIENTILLOS, N. 10316. Disponível em: <http://pares.mcu.es>. Acesso em:
3 out. 2014.
107
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
43
MENDOZA de Mendoza, Bartolomé de. OM-Caballeros_Calatrava, exp. 1618,
fecha 1645. Archivo Histórico Nacional de España, Consejo de Ordenes.
44
Ibidem.
108
de senhores de engenho a cortesãos
45
Ibidem.
46
Ibidem.
47
Ibidem.
48
Ibidem.
109
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
Seja como for, D. Bartolomé foi ordenado, e parece ter sido atuante
junto à ordem já que as notícias posteriores a 1645 indicam que ele
testemunhou em outros processos de habilitação, por exemplo: no de D.
Diego Gutiérrez Barona, natural da vila de Castrojeriz, datado de 1654, no
qual Mendoza é descrito como caballero informante da limpeza de sangue
de Barona.49 Ou seja, uma década após seu ingresso em Calatrava, esse
cavaleiro natural de Pernambuco se tornara ele próprio um informante
do Consejo de Ordenes para a habilitação de outros, assumindo assim um
papel importantíssimo, pois eram esses informantes que forneciam as
“provas” acerca do caráter, linhagem e serviços prestados pelos supli-
cantes. Provas usadas pelos conselheiros na tomada de decisão acerca
da recomendação ou não da concessão dos títulos.50
Considerações finais
49
DÁVILA JALÓN, op. cit.
50
ÁLVAREZ-COCA GONZÁLEZ, op. cit., p. 290.
110
de senhores de engenho a cortesãos
51
Cf. SILVA, Kalina Vanderlei. O herói virtuoso, prudente e dissimulado: o
cortesão como ideal masculino nas cortes ibéricas dos séculos XVI e XVII.
História, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 243, jan./jun. 2013.
52
Em outro trabalho, tivemos a oportunidade de analisar Jorge Lopes Brandão
e sua associação com as guerras espanholas: Idem. Um senhor de engenho a
serviço do rei da Espanha: a América portuguesa e a Monarquia universal no
século XVII. (No prelo). E ainda sobre os conselhos de comandantes como
D. Luis de Rojas y Borja e Matias de Albuquerque para o uso ibérico dos
práticos de guerra coloniais: Idem. Francisco de Brito Freyre e a reforma mi-
litar de Pernambuco no século XVII. In: POSSAMAI, Paulo (Org.). Conquistar
e defender: Portugal, Países Baixos e Brasil – Estudos de história militar na
Idade Moderna. São Leopoldo: Editora Oikos, 2012.
111
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
112
Os brutos também leem: livros e leitores na São
Paulo do período filipino (1580-1640)
Este texto busca apresentar uma breve história social da presença dos
livros e dos leitores na São Paulo do período filipino (1580-1640). É quase
uma obviedade afirmar que ao abordar tal tema trafegamos na raridade.
Em verdade, são poucos os livros e leitores conhecidos e é dificílimo
entrever as práticas de leitura. Para piorar tal quadro, muitas vezes as
fontes apresentam os títulos dos já poucos livros nomeados de maneira
estropiada ou incompleta. E como analisar um tema que oferece tantos
obstáculos? Optou-se por seguir os rastros e pistas deixados fragmen-
tariamente em documentos diversos, em especial nos inventários e
testamentos que referenciam a presença de alguns exemplares. Claro
que ancorar esta tarefa de pesquisa nos inventários impõe certa cautela:
imaginar possíveis erros do escrivão, cogitar que livros possam ter sido
omitidos, transitar na contínua incerteza sobre a efetiva leitura dos vo-
lumes arrolados, e ter clareza de que não só destes livros nomeados se
1
Prof. Dr. de História da América Colonial na Universidade Federal de São
Paulo.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
2
HAMPE MARTINEZ, T. La difusión de libros e ideas en el Perú colonial. Análisis
de bibliotecas particulares (siglo XVI). Bulletin Hispanique, v. 89, n. 1-4,
p. 55-84, 1987.
3
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
4
“Apesar de uma volumosa literatura sobre sua psicologia, fenomenologia,
textologia e sociologia, a leitura continua a ser misteriosa” Ibidem, p. 127.
5
O padre Simão de Vasconcelos se referia ao papel educativo, em especial
no ensino da gramática, do Colégio dos Jesuítas em São Paulo na Chronica
da Companhia de Jesus do Estado do Brazil e do que obraram seus filhos nesta
parte do novo mundo (1663). O pioneiro trabalho de Alcântara Machado apre-
senta, através de inventários, alguns “mestres” de aulas particulares, como
Antônio Pereira da Costa e Diogo Mendes Rodrigues. MACHADO, Alcântara.
Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2006.
114
os brutos também leem
6
MORAES, Rubens Borba de. Livros e bibliotecas no Brasil Colonial. São Paulo:
Secretaria do Estado da Cultura, 1973.
7
Os jesuítas foram expulsos da vila em 1640 em função de conflitos esta-
belecidos em torno do uso da mão de obra indígena e sua escravização –
eufemisticamente chamada, em São Paulo, de administração. A Ordem só
voltaria à vila, mediante acordo, em 1653. O colégio possuía, em 1640, cerca
de 150 alunos divididos entre aulas de português e latinidade, cf. FRANZEN,
Beatriz Vasconcelos. Jesuítas portugueses e espanhóis no sul do Brasil e Paraguai
coloniais. São Leopoldo: Unisinos, 2005.
8
BRUNO, Ernani da Silva. O equipamento da casa bandeirista segundo os antigos
inventários e testamentos. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo,
1977.
9
Villalta lembra que, conforme pesquisa de Luiz Mott, a maior biblioteca
conhecida entre os séculos XVI e XVII é a do italiano Rafael Olivi, de Ilhéus,
que tinha 27 livros. Ele lembra ainda que os livros de São Paulo representam
“pouco mais do dobro do acervo de Rafael Olivi”. VILLALTA, Luiz Carlos. O
que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: NOVAIS, Fernando A.;
SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano
115
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
116
os brutos também leem
12
Deve-se ressaltar que os sertanistas de São Paulo não se valeram somente
de meios violentos para o descimento de indígenas. Cf. MONTEIRO, John. Os
Guarani e a história do Brasil Meridional. Séculos XVI-XVII. In: CUNHA, M.
Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1982, p. 475-498.
13
Muitas destas características eram, verdadeiramente, comuns à realida-
de colonial: NOVAIS, Fernando A. Condições de privacidade na colônia. In:
______.; SOUZA, Laura Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil:
cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997, p. 13-40. v. 1.
14
Essa presença de livros vista como “exótica”, é evidente em MACHADO, A., op.
cit.; TAUNAY, Afonso de E. São Paulo nos primeiros anos (1554-1601), São Paulo
117
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
no século XVI. São Paulo: Paz e Terra, 2003; e BRUNO, Ernani da S. Histórias
e tradições da cidade de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1984. v. 1.
15
Por exemplo: MONTEIRO, John M. Negros da terra: Índios e bandeirantes nas
origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998; MARANHO,
Milena Fernandes. A opulência relativizada: níveis de vida em São Paulo do
século XVII (1648-1682). Bauru, SP: Edusc, 2010; RUIZ, Rafael; THEODORO,
Janice. São Paulo de vila a cidade. In: PORTA, Paula (Org.). História da cidade
de São Paulo: A cidade colonial (1554-1822). São Paulo: Paz e Terra, 2004,
p. 69-113.
118
os brutos também leem
16
A referência à carência de papel em São Paulo é apresentada por TAUNAY,
Afonso, op. cit. O testamento de Araújo: INVENTÁRIOS e Testamentos (I&T),
São Paulo: Divisão do Arquivo do Estado de São Paulo (DAESP), v. V. Segundo
Manoel Rodrigues Ferreira, em seu As bandeiras do Paraupava (São Paulo:
Prefeitura de São Paulo, 1977), tal sítio se localizava na região do Araguaia.
119
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
17
LEONARD, Irving A. Los Libros del Conquistador. México: Fondo de Cultura
Econômica, 1979. O controle dos livros que entravam na América espanho-
la foi constante. Desde o reinado de Isabel que “Amadis”, por exemplo, foi
proibida de entrar na América, pois poderia influenciar os indígenas. Em
1550, cédulas reais de Carlos V exigiram uma licença para todos os livros que
fossem embarcados para a América.
18
Referências ao lamento pela ausência de Camões: MACHADO, Alcântara, op.
cit.; BELMONTE. No tempo dos bandeirantes. São Paulo: Edições Melhoramentos,
[s.d.].
19
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras,
1997, p. 75.
120
os brutos também leem
de Manoel Preto, o moço. Ele era membro de uma família com larga tra-
dição sertanista. Seu pai foi dono de terras e de muitos índios na região
de Nossa Senhora da Expectação do Ó, em São Paulo, e frequentava o
Guairá desde a primeira década do século XVI, de onde descera índios
temiminós. Mais tarde, o pai foi o líder dos ataques às reduções jesuíticas
do espaço guairenho a partir de 1628, e morreu por flechadas no atual
território catarinense em 1630. O moço, seguindo os passos bandeirantes
do pai, teve seu inventário feito no sertão em 1637, junto com seu irmão,
João Preto, ambos falecidos na mesma ocasião. Os juramentos para o
inventário foram feitos sobre “umas Horas”, na ausência de uma Bíblia,
imagina-se. Estes livros de “Horas”, que poderiam ser manuscritos ou
impressos, eram muito comuns desde a Idade Média e funcionavam
como um material de devoção portátil, substituindo a Bíblia em inúme-
ras situações. Para diversas famílias europeias ainda no século XVI era,
muitas vezes, o único livro existente e costumeiramente utilizado para
o ensino das primeiras letras.20 O seu conteúdo era composto de ofícios
de missa, hinos religiosos, calendário santo e orações diversas.
No entanto, se o livro sagrado faltava aos membros daquela ban-
deira, nos bens arrolados de Manoel estava um “livro velho de Heitor
Pinto”, muito provavelmente já surrado de uso, assim como outro “livro
velho” não nomeado.21 A obra, escrita pelo frei jeronimiano Heitor Pinto
(1528-1584), chamava-se Imagens da Vida Cristã e era dividida em duas
partes – mas não sabemos qual delas estava entre os bens de Preto –,
e foi obra popularíssima, tendo somente no século XVI vinte edições.
Encontra-se, em São Paulo, a obra em pelos menos mais dois inventários.
O texto, em estilo bastante livre, era composto em forma de diálogo, na
qual os debatedores conversavam sobre aspectos da beleza e grandeza
de Deus e sua criação. Cada diálogo se encerrava ao pôr do sol. Pode-se
imaginar um entardecer bandeirante repleto de lições morais! O problema
é que dentre os ensinamentos de Frei Heitor estava um que cerceava a
20
Ibidem.
21
I&T, 1638, v. XI.
121
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
liberdade de leitura. Dizia ele que “o principal estudo há de ser por livros
católicos, porque deixar os divinos pelos profanos é erro grave, em que
muitos embicam e outros caem”.22
Entre os outros bens de Preto, um “naipe”, isto é, um baralho. Os
livros poderiam compor, eventualmente, junto com a viola e o jogo de
cartas, formas de sociabilidade e lazer no cotidiano do sertão. Laura de
Mello e Souza, em excelente trabalho sobre o cotidiano das expedições
aos interiores da América portuguesa, mostra como, em meio à preca-
riedade, aos perigos e instabilidades do sertão, os membros buscavam
construir formas de sociabilidade e domesticidade que abrandassem os
estranhamentos.23 Ainda nos referindo à família dos Pretos, Sebastião –
tio do moço Manoel e sertanista dos mais afamados – deixou ao morrer,
em 1623, também vítima de flechada, uma viola e alguns livros, aparente-
mente todos de cunho religioso. É um daqueles casos, infelizmente, que
o nome abreviado, e comum, dificulta a tentativa de recuperar os títulos.24
Lá está um “Salve Rainha”, oração muitas vezes cantada; um “livro de São
João” e um intitulado Conquista de Jerusalém, que bem poderia ser, num
exercício de projeção literária, a Jerusalém Conquistada de Lope de Vega.
Contudo, parece remeter muito mais a uma típica biblioteca de cunho
milenarista, na qual se vê um vale de lágrimas marcado pela iminente
redenção do fim dos tempos.
Mas se as bandeiras dão um dos tons desta vila de São Paulo no
contexto filipino, outro é a demanda mineral e a busca pelo ouro. De
fato, um dos sentidos maiores das primeiras grandes bandeiras orga-
22
MENDES, António Rosa. A vida cultural. In: MATTOSO, José (Dir.). História de
Portugal – no alvorecer da modernidade (1480-1620). Lisboa: Estampa, 1993,
p. 405. v. 3. Frei Heitor se aliara, durante a crise dinástica portuguesa da dé-
cada de 1580, ao lado das pretensões de D. António, o Prior do Crato, o que
lhe rendeu um exílio no final de sua vida.
23
SOUZA, Laura Mello e. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana
nos caminhos, nas fronteiras e nas fortificações. In: NOVAIS, Fernando A.;
______. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na
América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 41-82. v. 1.
24
I&T, 1623, v. XI.
122
os brutos também leem
25
VILARDAGA, José Carlos. “Manhas” e redes: Francisco de Souza e a gover-
nança em São Paulo de Piratininga em tempos de União Ibérica. Anais de
História de Além-Mar, Lisboa: Cham, v. XI, p. 103-144, 2010.
26
FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e sertanistas
do Brasil – séculos XVI, XVII, XVIII. São Paulo: Comissão do IV Centenário
da Cidade de São Paulo, 1954, p. 394.
27
TAUNAY, Afonso, op. cit., p. 410.
123
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
28
Estes cálculos foram feitos a partir do trabalho de Nuto Sant’Anna, que fez
levantamento nominal, através da documentação, da população da vila.
SANT’ANNA, Nuto. Metrópole: histórias da Cidade de São Paulo, também cha-
mada São Paulo de Piratininga e São Paulo do Campo em tempos de el-Rei,
o Cardeal Dom Henrique, da dinastia de Avis. São Paulo: Departamento de
Cultura, 1953. v. III.
29
LUÍS, Washington. Na Capitania de São Vicente. São Paulo: Livraria Martins;
Brasília: MEC, 1976, p. 225.
30
I&T, 1612, v. II.
124
os brutos também leem
31
No seu livro de contas, Tenório justificava, em castelhano, a existência das
anotações: “por quietud de mi memória para por elo saber na verdad lo que
debo” (I&T, 1612, v. II).
32
VILLALTA, Luiz Carlos, op. cit., p. 351.
125
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
33
RODRÍGUEZ FERRER, Rocío. Entre el poema y el sermón: el Retablo de la vida
de Cristo, de Juan de Padilla, el Cartujano. Revista Taller de Letras, n. 45,
p. 53-66, 2009.
34
A respeito da crise espanhola leia-se: VILAR, Pierre, op. cit. e ELLIOTT, J., op.
cit.
35
DELUMEAU, Jean. A confissão e o perdão: as dificuldades da confissão nos séculos
XIII a XVIII. Trad. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
126
os brutos também leem
36
I&T, 1641, v. XIV.
37
Apud FISCHER, Steven Roger. História da Leitura. 1. ed. São Paulo: Editora
Unesp, 2005, p. 185.
38
TORRE REVELLO, José. Lecturas indianas (siglos XVI-XVIII). Thesaurus, t. XVII,
n. 1, p. 1-29, 1962. BOUZA ÁLVAREZ, Fernando. En la corte y en la aldea de D.
Duarte de Braganza. Libros y pinturas del Marqués de Frechilla y Malagón.
Península: Revista de Estudos Ibéricos, Porto: Instituto de Estudos Ibéricos,
n. 0, p. 261-288, 2003.
127
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
ser proibido pela Inquisição, mas foi depois retirado da lista.39 Se Kempis
já buscara no livro a suprema felicidade, Granada também tinha uma
visão livresca do mundo, já que considerava o livro uma metáfora da vida
cristã. A criação e a existência deveriam ser lidas como se lê um livro.
Este mesmo título aparece uma segunda vez entre peritos mine-
rais. Manoel Pinheiro Azurara, conhecido de Clemente Alvarez, com
quem deixara inclusive algumas amostras de prata certa ocasião, era
português e vivera cerca de 30 anos em Nova Granada, onde tinha família.
Chegou a São Paulo através de Francisco de Souza, que o mandou para a
vila ainda em 1597 para investigar os boatos a respeito dos minérios. Entre
1602 e 1604, andou por Valladolid, Madrid e Lisboa buscando mercês
e regulamentações para exploração mineral de São Paulo. Voltou como
mineiro-mor do Brasil em 1604. Em 1606, evadiu-se para o Paraguai pelo
“caminho proibido de San pablo” (dizia ele para chegar a Nova Granada),
onde comerciou tecidos e erva-mate. Foi acusado, na ocasião, de levar pelo
caminho dezenas de escravos negros e algum ouro contrabandeado de
São Paulo. Preso, teve seus bens inventariados.40 Dentre os arrolados, há
muito tecido, facas e objetos miúdos para provável resgate com os índios,
e muita erva-mate adquirida na passagem pelo Guairá. Uma de suas
testemunhas de defesa o chama abertamente de “tratante”. Entre seus
outros bens, estava uma carta de marear, um astrolábio e uma balestilha.
Óculos, caixas de diversos tamanhos, relógio de sol e utensílios variáveis
talvez revelem um perito mineral, meio mercador, meio mascate.
Este “navegante do sertão” carregava consigo alguns livros: um Livro
de Regimento (provavelmente o Regimento mineral expedido em Madri
em 1603), com claro sentido utilitário, já que, enquanto mineiro-mor,
ele fora o responsável por implantar o dito regimento em São Paulo; um
livro de memória, um de sermões, um “diurno” (livro de orações com as
39
BORGES, Célia Maia. As obras de frei Luís de Granada e a espiritualidade
de seu tempo: a leitura dos escritos granadinos nos séculos XVI e XVII na
Península Ibérica. Estudios Humanísticos. Historia, n. 8, p. 135-149, 2009.
40
Arquivo Nacional de Assunção (ANA), Seccion civil y criminal, 1549, 4.
128
os brutos também leem
41
I&T, v. XII.
129
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
42
VERDELHO, Telmo. Historiografia linguística e reforma do ensino. A propósi-
to de três centenários: Manuel Álvares, Bento Pereira e Marquês de Pombal.
Brigantia, Bragança, v. II, n. 4, p. 347-356, out-dez. 1982.
43
A sessão da Câmara de 16 de abril de 1639 trazia um requerimento alarmante
do procurador Sebastião Gil a respeito de algumas cartas que circulavam pela
vila. Nelas, lia-se que o rei D. Sebastião, desaparecido em Alcácer-Quibir em
1578, estava voltando, e que o papa ameaçara de excomunhão todo aquele
que lhe impusesse qualquer resistência. Dizia ainda o procurador que, nas
ruas de São Paulo, as tais cartas causaram algum alvoroço e muitos saíram
aos “gritos dizendo viva el rei dom Sebastião” ATAS da Câmara da Vila de São
Paulo, 16 abr. 1639.
130
os brutos também leem
44
I&T, 1633, v. IX.
131
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
45
Apud HENRIQUES, H. C.; ALMEIDA, C. O lúdico nas Aritméticas do século
XVI. In: MOREIRA, D.; MATOS, J. M. (Ed.). História do ensino da matemática em
Portugal. Lisboa: Secção de Matemática da Sociedade Portuguesa de Ciências
da Educação, 2005, p. 141-148.
132
os brutos também leem
46
BURKE, Peter. Culturas da tradução nos primórdios da Europa Moderna.
In: ______.; HSIA, R. Po-Chia. A tradução cultural nos primórdios da Europa
Moderna. São Paulo: Ed. Unesp, 2009, p. 13-46.
47
Apud SCHWARCZ, Lilia Moritz. Repertório do tempo. Revista USP, São Paulo,
n. 81, p. 18-39, mar.-maio 2009.
133
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
48
COSTA, Adalgisa Botelho da. O Repertório dos tempos de André do Avelar e a
astrologia em Portugal no século XVI. In: MARTINS, R. A. et al. (Ed.). Filosofia
e história da ciência no cone sul: 3º Encontro. Campinas: AFHIC, 2004, p. 1-7.
49
I&T, 1639, v. XII. As ordenações eram livros valiosos. Em 1587, numa sessão
da Câmara de São Paulo, João Maciel clamava pelas ordenações – as manue-
linas – para saber o que fazer como almotacel. Descobriu-se que não havia
nenhuma; e pior, não havia dinheiro suficiente para adquirir uma. Na verda-
de, tratava-se de comprar uma nova, pois a sessão no ano seguinte, em 1588,
denunciava que Gonçalo Pires tinha retirado o livro da Câmara e “o dera não
o podendo dar” (TAUNAY, Afonso, op. cit.).
134
os brutos também leem
135
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
50
MARTÍNEZ, Teodoro H. La historiografía del libro en América hispana: un es-
tado de la cuestión. In: GARCÍA AGUILAR, María Idalia; RUEDA RAMÍREZ, Pedro
J. (Comp.). Leer en tiempos de la Colonia: imprenta, bibliotecas y lectores
en la Nueva España. México: UNAM; Centro Universitario de Investigaciones
Bibliotecológicas, 2010, p. 55-72.
51
MANGUEL, Alberto, op. cit., p. 141.
52
Francisco de Souza possuía o direito de armar cavaleiros através da jurisdi-
ção mineral que lhe foi concedida da herança das mercês de Gabriel Soares
de Souza que, em troca das eventuais descobertas minerais, ganhou uma
série de concessões reais. Francisco de Souza armou cavaleiro em São Paulo
Sebastião de Freitas e Antonio Raposo. REGISTRO Geral da Câmara da Vila de
São Paulo. (RGCSP), 16 mar. 1601 e 18 jun. 1601.
136
os brutos também leem
53
PEREIRA, Ana Margarida Santos, op. cit.
54
MADROÑAL, Abraham. La primera edición de la Vida de San José del maestro
Valdivielso. Revista de Filologia Española, t. LXXXII, n. 3-4, p. 273, 2002.
137
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
55
I&T, 1638, v. X.
138
os brutos também leem
139
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
56
I&T, 1627, v. VII.
57
I&T, 1636, v. X.
58
I&T, 1627, v. VII.
140
os brutos também leem
59
Archivo General de Simancas (AGS), Secretarias Provinciais, Libro 1463.
60
Biblioteca D’Ajuda, cód. 51-VII-15.
61
CARTA de Diogo de Meneses de 22 abr. 1609. In: CORTESÃO, J. (Comp.).
Pauliceae Lusitana Monumenta Historica (1494-1600). Lisboa: Real Gabinete
Português, 1956, p. 3-12. v. I.
62
MEURS, Paul. São Jorge dos Erasmos, the remains of an early multinational.
Arquitextos, ano 6, mar. 2006. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.
br/arquitextos/arq070/arq070_03.asp>. Acesso em: 28 abr. 2013.
141
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
como ele teria ido parar em São Paulo – provavelmente fugido –, local
onde morreu, deixando um rico e polpudo inventário.63
Dentre os bens legados por Vandale, estava o misterioso livro. Seu
inventário é emblemático pois é o único caso de uma mulher letrada nesse
tempo. Sua esposa, irmã de Evert Hulscher, é chamada no documento de
Magdalena (Manadela) Holsquor, participa ativamente do espólio e assina
petições. Outro caso de mulher letrada em São Paulo, perceptível a partir
dos testamentos e inventários, é Leonor de Siqueira, falecida em 1699.
É necessário considerar que trabalhar com estes documentos, em
São Paulo, oferece uma condição especial. É, sem dúvida, um locus privi-
legiado, já que, desde as primeiras décadas do século XX, muitos destes
inventários, testamentos, Atas da Câmara e documentos diversos vêm
sendo publicados pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nesse sen-
tido, a documentação paulista revela um microcosmo, bem documentado,
do amplo império colonial ibérico, neste caso específico, do império his-
pânico durante o período da União das Coroas Ibéricas. Claro deve estar
que a vila não foi um dos centros mais pujantes da economia, e da vida
colonial, nestes primeiros séculos. Portanto, a validade da generalização
do caso paulista, à realidade colonial como um todo, deve ser relativizada.
Assim, se não se pode negar uma pobreza relativa dos paulistas nestes
tempos, que demarcava uma vida cotidiana muitas vezes precária, por
outro lado, não se deve cair novamente na velha pecha da “marginalidade”.
De todo modo, é importante rejeitar, de forma peremptória, qualquer
assertiva sobre isolamento. A coerência destas diminutas, esparsas e
fragmentárias bibliotecas só revela a força e a presença de alguns dos
grandes processos históricos condicionantes deste período. Na realidade
paulista, encontra-se o espírito do Renascimento, a reação dogmática do
Contrarreformismo, as maravilhas do mundo reveladas pela expansão
63
STOLS, Eddy. A pintura flamenga e as riquezas açucareiras na América colo-
nial. In: VIEIRA, Alberto (Ed.). O açúcar e o quotidiano: Actas do III Seminário
Internacional sobre a História do Açúcar. Funchal: Centro de Estudos de
História do Atlântico, 2004, p. 363-384. FRANÇA, Eduardo D’Oliveira. Um
problema: a traição dos cristãos-novos em 1624. Revista de História, São
Paulo, n. 83, p. 21-71, 1970.
142
os brutos também leem
64
GRUZINSKI, Serge. O historiador, o macaco e a centaura: a “história cultural”
no novo milênio. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 321-342, 2003.
65
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Livro e sociedade no Rio de Janeiro (1808-
-1821). Revista de História, São Paulo, v. 94, p. 441-457, 1973.
66
Cf, estudo de Teodoro Hampe Martínez, 70% dos livros presente na América
eram religiosos. HAMPE MARTÍNEZ, T. Bibliotecas privadas en el mundo colonial:
La difusión de libros e ideas en el virreinato del Perú (siglos XVI-XVII).
Madrid: Iberoamericana, 1996.
143
O Brasil e Felipe IV: uma aproximação
Rodrigo Ricupero1
1
Professor Dr. de História do Brasil Colonial no Departamento de História da
Universidade de São Paulo.
2
XERLEY, D. Antonio. Peso político de todo el mundo del Conde D. Antonio Xerley
(1622). Madrid: Departamento de História Social; Instituto Balmes de
Sociologia, 1961.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
3
TESTAMENTO de Felipe III. Madrid: Editora Nacional, 1982, p. 39. É verdade,
diga-se, que os domínios castelhanos na América não merecem maior des-
taque, sendo simplesmente nomeados como “Indias y terra firme del mar
oceano”.
4
SALVADOR, Frei Vicente do. A História do Brazil. Edição crítica de Maria Lêda
Oliveira. Rio de Janeiro: Versal, 2008. v. 1, f. 4 verso (a publicação segue a
divisão do original).
5
MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil (1612).
Edição crítica, com introdução e notas de Hélio Vianna. Recife: Arquivo
Público Estadual, 1955, p. 107.
146
o brasil e felipe iv: uma aproximação
6
SALVADOR, Frei Vicente do, op. cit., 4 verso.
7
Na edição espanhola, SOUSA, Gabriel Soares de. Derrotero general de la Costa
del Brasil. Madrid: Ediciones Cultura Hispánica, 1958, p. 5. Para a edição bra-
sileira. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1987, p. 39.
147
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
rio, o autor queixava-se que estes permaneciam “até hoje [sem] ser dada
nenhuma satisfação a seus filhos”, ainda que tendo feito estes serviços
e muitos outros à própria custa, sem receberem soldo ou mantimentos,
ao contrário do que se costuma fazer na Índia, concluía afirmando: “e a
troco desses serviços e despesas dos moradores desta cidade não se fez
até hoje nenhuma honra nem mercê a nenhum deles, do que vivem mui
escandalizados e descontentes”.8
É falsa, contudo, a ideia de que os serviços feitos no Brasil nunca
recebiam pagamento, embora nem sempre as remunerações fossem
as que os vassalos reivindicassem, ou ainda que sua efetivação nem
sempre fosse fácil. O mais provável é que a posição secundária ocupada
até meados do século XVII pelas partes do Brasil dentro do Império
português – situação que começaria a mudar a partir do início da guerra
com os holandeses em Pernambuco – frente ao Oriente ou mesmo ao
Marrocos, áreas que inclusive atraíam a quase totalidade dos nobres de
maior estirpe, fez que os serviços realizados nestas últimas recebessem
um destaque muito maior que os prestados nas demais e, consequente-
mente, maiores recompensas.
O fato central é que para a Coroa portuguesa, antes e durante
o domínio Habsburgo, o Brasil era uma área secundária, fato que era
percebido inclusive pelos vassalos diretamente envolvidos no processo
de conquista e ocupação do território.9
8
SOUSA, Gabriel Soares de, Tratado Descritivo do Brasil em 1587, op. cit., p. 132.
9
O prólogo da História da província de Santa Cruz, primeiro livro publicado
sobre o Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo, já destacava o descaso com
o Brasil, afinal sua história, passados mais de 70 anos do descobrimento,
“esteve sepultada em tanto silêncio, pelo pouco caso que os portuguezes
fizerão sempre da mesma província”. GANDAVO, Pero de Magalhães. História
da província de Santa Cruz e Tratado da Terra do Brasil (O primeiro de 1576 e
o segundo anterior, permaneceu inédito). São Paulo: Obelisco, 1964, p. 23.
148
o brasil e felipe iv: uma aproximação
10
RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial: Brasil c. 1530 – c.1630. São
Paulo: Alameda, 2008, em especial o terceiro capítulo “Conquista e fixação”.
149
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
11
SALVADOR, Frei Vicente do, op. cit., f. 6 verso.
150
o brasil e felipe iv: uma aproximação
12
Sobre a evolução da economia açucareira, veja-se, entre outros: MAURO,
Frédéric. Portugal, o Brasil e o Atlântico 1570-1670. Trad. Manuela Barreto.
Lisboa: Estampa, 1988. 2 v.; SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos
e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. Trad. Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988 e FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Terra,
trabalho e poder: o mundo dos engenhos no Nordeste colonial. São Paulo:
Brasiliense, 1988.
13
Processo iniciado já no final do século XVI.
151
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
14
Optamos nesta passagem em não seguir a citada tradução espanhola do
século XVII. SOUSA, Gabriel Soares de, Tratado Descritivo do Brasil em 1587,
op. cit., p. 58.
15
CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil (final do século XVI).
Lisboa: CNCDP, 1997, extratos da página 256. As cartas e relações dos jesuítas
são repletas de descrições das mais favoráveis condições com que os padres
são recebidos em suas visitas pelos engenhos no período.
152
o brasil e felipe iv: uma aproximação
16
DIÁLOGOS das Grandezas do Brasil (1618). Recife: Imprensa Universitária,
1962 (Primeira edição integral, preparada por José Antonio Gonsalves de
Mello, segundo o apógrafo de Leiden).
17
PYRARD DE LAVAL, Francisco de. Viagem de Francisco Pyrard de Laval. (Texto
do início do século XVII, em tradução portuguesa moderna de Joaquim
Heliodoro da Cunha Rivara). Porto: Livraria Civilização, 1944, p. 228 e 230.
v. 2.
153
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
18
Destaque-se, entre outros, os ataques de Drake, Cavendish e Lancaster.
19
No caso dos Países Baixos, tais relações seriam reforçadas pela migração de
judeus e cristãos que fugiam da ameaça da Inquisição.
20
O chamado “Livro das saídas dos navios e urcas” de Pernambuco indica
para o período entre 1595 e 1605 uma forte participação de embarcações ori-
ginárias de Hamburgo. Este documento foi publicado na Revista do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, v. LVIII, p. 21, 1993, com
um estudo introdutório de José Antonio Gonsalves de Mello.
154
o brasil e felipe iv: uma aproximação
21
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial
(1777-1808). 6. ed. São Paulo: Hucitec, 1995, especialmente o capítulo II.
155
O Retorno do Rei: Restauração Portuguesa e
memória filipina no Maranhão e Grão-Pará
(1640-1652)1
Alírio Cardoso2
Pois se Deus não quis que a sujeição de Portugal a Castela fosse perpé-
tua, porque hão-de querer e porfiar os homens em que o seja? Se Deus
limitou esta sujeição ao termo de sessenta anos, porque se não hão-de
conformar os homens com seus soberanos decretos?3
1
Este artigo é uma parte modificada do sétimo capítulo de minha tese de
doutorado. Para mais detalhes, ver: CARDOSO, Alírio. Maranhão na Monarquia
Hispânica: intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela
(1580-1655). Salamanca, 2012. 435 f. Tese (Doutorado em História da
América) – Facultad de Geografía e Historia, Universidad de Salamanca. O
autor agradece aos professores José Manuel Santos Pérez (Universidad de
Salamanca) e Pedro Cardim (Universidade Nova de Lisboa).
2
Professor Dr. na Universidade Federal do Maranhão, com especialidade em
História Militar e História Indígena.
3
VIEIRA, António. História do Futuro. Introdução, actualização do texto e notas
por Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Imprensa Nacional; Fundação
Calouste Gulbenkian, 1982 [1718], p. 117.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
Notícias da “Rebelião”
4
O primeiro a fazer uma comparação entre os dois casos a partir da pers-
pectiva do alargamento da fronteira Oeste foi, mais uma vez, o velho Jaime
Cortesão. Cf. CORTESÃO, Jaime. São Paulo e Belém do Pará. In: _____.
Introdução à História das Bandeiras. Lisboa: Portugália Editora, 1964,
p. 70-80. v. I.
5
Sobre o tema, ver: CARDOSO, Alírio. A conquista do Maranhão e as disputas
atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-1626). Revista Brasileira de
História, v. 31, n. 61, p. 317-338, 2011.
6
Por exemplo: MEMORIAL// Para conservar y aumentar la Conquista y
tierras del Marañon, y los Indios que en ellas conquistó el capitán Benito
Maciel Pariente// son necesarias las cosas siguientes// año 1630. [cópia].
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, II-35, 28; MEMORIAL, para
conservar y augmentar la conquista y tierras del Marañon, y los indios que
en ellas conquistó el Capitan Maior Bento Maciel Parente, son necesarias y
convenientes las cosas siguientes. Revista do Instituto do Ceará, t. XXI, anno
XXI, p. 182-188, 1907; José Honório Rodrigues confirma a informação:
158
o retorno do rei
ser uma tendência mais alargada que a união dinástica não fez mais que
acelerar.7 Em outras crônicas e memoriais luso-maranhenses, considera-
-se claramente a história das conquistas ultramarinas portuguesas e
castelhanas como um continuum temporal, partes integradas de uma
mesma narrativa. Este foi o caso, por exemplo, dos textos escritos pelo
capitão Simão Estácio da Silveira entre as décadas de 1610 e 1620.8 Em
geral, estes moradores alimentavam muitas expectativas sobre a inserção
do Maranhão nos circuitos comerciais atlânticos, principalmente com
relação às rotas peruana e caribenha, cuja base retórica seria a condição
de “covassalagem” entre portugueses e espanhóis, luso-maranhenses e
hispano-peruanos.
O processo de expansão para Oeste do território também foi uma
política iniciada no período Habsburgo, primeiro com as expedições
contra holandeses e ingleses no rio Amazonas; depois, com a oferta de
sesmarias e os descimentos de índios através do sertão luso-maranhense.
Até mesmo as promessas reais de hábitos de Ordens Militares, como
recompensa aos conquistadores e aos combatentes na guerra contra os
holandeses, que no caso do Estado do Maranhão começa na década de
1620 nas campanhas do rio Xingu, têm suas primeiras concessões no
período da Monarquia Hispânica. Por tudo isso, o estudo de caso sobre
a recepção política à Restauração Portuguesa ganha importância. Não
obstante, a reação dos moradores do extremo Norte da América portu-
guesa deverá ser devidamente comparada com os diferentes territórios
ultramarinos.
159
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
9
Para uma análise sobre as possibilidades interpretativas do Primeiro de
Dezembro, atenta também à forma como a historiografia nacionalista rein-
ventou de maneira retrospectiva o movimento, ver: SCHAUB, Jean-Frédéric.
La crise hispanique de 1640. Le modèle des “révolutions périphériques”
en question (note critique). Annales Histoire, Sciences Sociales, v. 49, n. 1,
p. 219-239, jan.-fév. 1994; BOUZA ÁLVAREZ, Fernando Jesús. Gramática de
la crisis. Una nota sobre la historiografía del 1640 hispánico entre 1940 y
1990. Cuadernos de Historia Moderna, n. 11, p. 223-246, 1991.
10
Entretanto, como se sabe, mais tarde o próprio Marquês de Montalvão seria
deposto do cargo. LENK, Wolfgang. Guerra e Pacto Colonial: exército, fiscalidade
e administração colonial da Bahia (1624-1654). Campinas, 2009. 296 f. Tese
(Doutorado em História Econômica) – Instituto de Economia, Universidade
Estadual de Campinas, p. 154-156.
11
VALLADARES, Rafael. La rebelión de Portugal, 1640-1680: Guerra, conflicto y
poderes en la Monarquía Hispánica. Valladolid: Junta de Castilla y León,
1998, p. 32. Ver também: VALLADARES, Rafael. Brasil: de la Unión de Coronas
a la crisis de Sacramento (1580-1680). In: SANTOS PÉREZ, José Manuel (Ed.).
Acuarela de Brasil, 500 años después: Seis ensayos sobre la realidad histórica
y económica brasileña. Salamanca: Aquilafuente; Ediciones Universidad de
Salamanca, 2000, p. 23-36.
160
o retorno do rei
12
COSTA, Leonor Freire; CUNHA, Mafalda Soares da. D. João IV. Lisboa: Temas e
Debates, 2008, p. 139.
13
Aliás, na interpretação clássica de Jaime Cortesão, São Paulo seria a única
exceção à regra segundo a qual: “A Restauração foi recebida no Brasil com
aplauso geral e entusiástico” CORTESÃO, Jaime. O Ultramar Português depois
da Restauração. Lisboa: Portugália Editora, 1971, p. 106-108. Para um estudo
mais sistemático sobre o tema, ver: VILARDAGA, José Carlos. São Paulo na
órbita do império dos Felipes: conexões castelhanas de uma vila da América
portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640). São Paulo, 2010. 400 f. Tese
(Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo.
14
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. A alegada proclamação de Amador Bueno em
1641. In: ______. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul,
séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 367-368;
MONTEIRO, Rodrigo Bentes. A Rochela do Brasil: São Paulo e a aclamação de
Amador Bueno como espelho da realeza portuguesa. Revista de História, São
Paulo, n. 141, p. 21-44, 1999.
15
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. A família de Salvador Correia de Sá e Benevides.
In: ______. O trato dos viventes..., op. cit., p. 365-366; VALLADARES, Rafael. La
rebelión de Portugal..., op. cit., p. 84-85. Sobre Salvador Correia de Sá, vale a
pena voltar ao clássico de Boxer: BOXER, Charles R. Salvador de Sá and the
struggle for Brazil and Angola, 1602-1686. Londres: Athlone Press, 1952.
161
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
16
VALLADARES, Rafael. Castilla y Portugal en Asia (1580-1680): Declive imperial
y adaptación. Leuven: Leuven University Press, 2001, p. 65-91.
17
VALLADARES, Rafael, La rebelión de Portugal…, op. cit., p. 33-36.
18
MENEZES, Dom Luis de, Conde da Ericeyra. Historia de Portugal Restaurado.
Lisboa: Officina de João Galrão, 1679, Livro quinto, p. 301-303, Livro sexto,
162
o retorno do rei
163
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
estilo que se fez em Cabo verde, de que vai cópia para Vossas Mercês lá
seguirem o mesmo: temos feito muitas festas; Vossas Mercês assim lá o de-
vem fazer, porque foi obra milagrosa, como Vossas Mercês saberão de meu
sobrino quando lá for, e o termo e papéis, que se hão de fazer para irem a
Sua Majestade, hão de ser pelo estilo, de que vai a cópia autêntica, mudando
a substância da terra, e nomes das pessoas”. Ibidem, p. 192-193, § 758-759.
21
REQUERIMENTO do capitão Manuel Guedes Aranha para o rei [D. João IV],
a solicitar sua nomeação para o cargo de sargento-mor da capitania do
Pará, pelos serviços prestados ao longo da sua vida. 25 jan. 1655. Arquivo
Histórico Ultramarino, Pará (avulsos), cx. 2, doc. 89; CONSULTA do Conselho
Ultramarino para o rei D. João IV, sobre a pretensão dos capitães Manuel
Guedes Aranha, Gaspar Gonçalves Cardoso, Simão Faria e Jerónimo
de Abreu e Vale ao cargo de sargento-mor da capitania do Pará, vago por
falecimento de Pedro Correia. Lisboa, 26 abr.1655. Arquivo Histórico
Ultramarino, Pará (avulsos), cx. 2, doc. 92.
22
Na sua impressionante cartografia dos sermões da Restauração, Marques
indica dois pronunciados no colégio dos jesuítas de São Luís. MARQUES,
João Francisco. A parenética portuguesa e a Restauração, 1640-1668: A re-
volta e a mentalidade. Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica;
Universidade do Porto, 1989, p. 86. v. 1.
164
o retorno do rei
Perdas e Ganhos
Não há dúvidas de que alguns colheram benefícios imediatos com
a ascensão de D. João IV. A boa acolhida ao novo governo não deixou
de ser lembrada nos processos de habilitação para as Ordens Militares,
o que demonstra mais uma vez a grande preocupação que existia a
respeito da adesão das conquistas ultramarinas. Em 1650, Aires de
Sousa Chichorro, capitão-mor do Grão-Pará, recebeu a promessa real do
23
Sobre a Câmara de São Luís e seu papel na conquista do Maranhão, ver:
CORRÊA, Helidacy Maria Muniz. Para aumento da conquista e bom governo dos
moradores: O papel da Câmara de São Luís na conquista, defesa e organização do
território do Maranhão (1615-1668). Niterói, 2011. 300 f. Tese (Doutorado em
História Social) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade
Federal Fluminense.
165
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
24
AYREZ de Souza Chichorro. Lisboa, 7 dez. 1650. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, Mesa da Consciência e Ordens (consultas). Registro Geral de
Mercês (Portarias do Reino), livro II, flº 318.
25
M.el GUEDES Aranha. Alcântara, 6 jul. 1654. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, Mesa da Consciência e Ordens (consultas). Registro Geral de
Mercês (Portarias do Reino, Consultas), livro III, flº 56v-57.
26
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: O imaginário da restauração pernam-
bucana. 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, p. 119-121.
27
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. João IV, sobre a nomeação de
pessoas para o cargo de sargento-mor do Estado do Maranhão. Lisboa, 28 abr.
1646. Arquivo Histórico Ultramarino, Maranhão (avulsos), cx. 2, doc. 193.
166
o retorno do rei
28
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. João IV, sobre a nomeação de
pessoas para o governo do Estado do Maranhão, após a morte do governador
do dito Estado, Francisco Coelho de Carvalho. Lisboa, 9 jun. 1648. Arquivo
Histórico Ultramarino, Maranhão (avulsos), cx 3, doc. 255.
29
MENEZES, Dom Luis de, Conde da Ericeyra, op. cit., Libro Quinto, p. 272.
Sobre a conspiração de 1641, ver: WAGNER, Mafalda de Noronha. A casa de
Vila Real e a conspiração de 1641 contra D. João IV. Lisboa: Edições Colibri,
2007.
167
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
30
VALLADARES, Rafael. El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación
de Portugal (1640-1668). Cuadernos de Historia Moderna, n. 14, p. 161, 1993;
CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e
os primeiros Bragança. Hispania, v. LXIV/1, n. 216, p. 139, jan.-abr. 2004.
31
JUNTA de Inteligencias del Reyno de Portugal, 1641-1642. Madrid, abr.
[1642?]. Archivo General de Simancas, Estado (Portugal), leg. 7041.
32
BOUZA ÁLVAREZ, Fernando Jesús. Portugal no tempo dos Filipes: política,
cultura, representações (1580-1668). Lisboa: Edições Cosmos, 2000, p. 188-
-189; LUXÁN MELÉNDEZ, Santiago de. La pervivencia del Consejo de Portugal
durante la Restauración: 1640-1668. Norba – Revista de Historia, n. 8-9,
p. 61-86, 1987-1988. Na mesma época, era estimado o número de cerca
de 2000 negociantes de origem portuguesa apenas na cidade de Sevilha,
um grupo que havia prosperado, sobretudo, no governo do Conde-Duque.
Ver: LUXÁN MELÉNDEZ, Santiago de. A Colónia portuguesa de Sevilha. Uma
ameaça entre a Restauração Portuguesa e a conjuntura de Medina Sidónia?
Penélope – Fazer e Desfazer a História, n. 9-10, p. 127-134, 1993; BOUZA
ÁLVAREZ, Fernando Jesús. Entre dos Reinos, una patria rebelde: fidalgos por-
168
o retorno do rei
169
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
170
o retorno do rei
38
CARTA dos Mestres de Campo Martim Soares Moreno e André Vidal de
Negreiros expondo a Antonio Telles da Silva as disposições em que es-
tão os soldados e moradores de Pernambuco de proseguir na guerra com
a Holanda. Pernambuco, 28 maio 1646. Biblioteca Nacional de Portugal,
Reservados, códice 7163. Publicado em: STUDART, Barão de. Documentos
para a História do Brasil, especialmente para a do Ceará. Revista do Instituto
do Ceará, doc. 248, p. 286, 1920.
39
É verossímil pensar, como interpretou Evaldo Cabral, que D. João esti-
vesse jogando com os dois cenários, de modo que a própria Insurreição
Pernambucana forçaria os Países Baixos a uma negociação mais favorável a
Portugal. MELLO, Evaldo Cabral de, O Negócio do Brasil, op. cit., p. 43 e 65.
171
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
40
Sobre o tema, vale a pena ver: HANSEN, João Adolfo. Vieira: tempo, alegoria e
história. Brotéria, v. 145, p. 541-556, 1997.
41
CARDIM, Pedro; SABATINI, Gaetano. António Vieira e o universalismo dos
séculos XVI e XVII. In: ______.; ______. (Ed.). António Vieira, Roma e o
universalismo das monarquias portuguesa e espanhola. Lisboa: Centro de
História de Além-Mar; Universidade Nova de Lisboa; Universidade dos
Açores; Università Degli Studi Roma Tre; Red Columnaria, 2011, p. 13-27.
42
Como se sabe, a famosa carta foi o eixo a partir do qual a Inquisição de
Coimbra reiniciou o processo contra Vieira. Ver: ESPERANÇAS de Portugal//
Quinto Imperio do Mundo// Primeira e segunda vida de El Rey D. João o
quarto escriptas Por Gonçalo Annes Bandarra, e comentadas pello Padre
Antonio Vieyra da Companhia de Jesus remetidas pello dito padre ao bispo
de Japam o padre Antonio Fernandes. Camutá do Rio das Amazonas vinte
e nove de abril de 1659 annos//O Padre Antonio Vieyra da Companhia de
Jesuz. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Casa de Palmela, livro 98,
flº 98-140v.
172
o retorno do rei
43
CARDIM, Pedro. Entre Paris e Amsterdão: António Vieira, legado de D. João
IV no Norte da Europa (1646-1648). Oceanos, n. 30-31, p. 134-154, set. 1997;
CESAR, Thiago Groh de Mello, op. cit.
44
MELLO, Evaldo Cabral de, O Negócio do Brasil, op. cit., p. 31-33; VAINFAS,
Ronaldo. Guerra declarada e paz fingida na Restauração Portuguesa. Tempo,
v. 14, n. 27, p. 82-100, 2009; CESAR, Thiago Groh de Mello, op. cit., p. 65-70.
173
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
45
SCHWARTZ, Stuart B. Prata, açúcar e escravos: de como o império restaurou
Portugal. Tempo, v. 12, n. 24, p. 212, 2008.
46
AO MARQUÊS de Nisa. Haia, 20 jan. 1648. In: VIEIRA, António. Cartas do Padre
António Vieira. Coordenadas e anotadas por João Lúcio de Azevedo. Lisboa:
Imprensa Nacional, 1970, p. 129-130. t. I.
174
o retorno do rei
47
RAZÕES apontadas a El-Rei D. João IV a favor dos Cristãos-Novos, para se lhes
haver de perdoar a confiscação de seus bens, que entrassem no comércio
deste Reino. In: VIEIRA, Padre António. Obras escolhidas. Lisboa: Sá da Costa,
1951, p. 70. v. IV.
48
Ver CARDOSO, Alírio; CHAMBOULEYRON, Rafael. Fronteiras da Cristandade:
Relatos jesuíticos no Maranhão e Grão-Pará (século XVII). In: PRIORE,
Mary Del; GOMES, Flávio (Org.). Os Senhores dos Rios: Amazônia, Margens e
História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 33-60.
49
PARECER sobre se Restaurar Pernambuco e se Comprar aos Holandeses, Ano
1647. Lisboa, 14 mar. 1647. VIEIRA, Padre António, Obras escolhidas, op. cit.,
p. 11. v. III.
175
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
50
CARDIM, Pedro. Os “Rebeldes de Portugal” no Congresso de Münster (1644-
-1648). Penélope – Fazer e Desfazer a História, n. 19-20, p. 101-128, 1998.
51
MELLO, Evaldo Cabral de, O Negócio do Brasil, op. cit., p. 29.
52
PAPEL a Favor da Entrega de Pernambuco aos Holandeses, 1648. VIEIRA,
Padre António, Obras escolhidas, op. cit., p. 29-113. v. III. Sobre a recupera-
ção de Angola e o Rio de Janeiro na união dinástica, ver: SANTOS PÉREZ, José
Manuel. Brasil durante la Unión Ibérica. Algunas notas sobre el intercambio
176
o retorno do rei
cultural entre las dos orillas del Atlántico. In: MONTEJO NAVAS, Adolfo et
al. Brasil e Espanha: diálogos culturais [España y Brasil: diálogos culturales].
São Paulo: Fundação Cultural Hispano-Brasileira, 2006, p. 49-80; SANTOS
PÉREZ, José Manuel. La historia de la Unión Ibérica y su importancia en las
relaciones España-Brasil: viejos asuntos, nuevas (y buenas) noticias. Revista
de Cultura Brasileña, n. 3, p. 125-142, mar. 2005; SANTOS PÉREZ, José Manuel.
São Sebastião do Rio de Janeiro durante la Unión Ibérica, 1580-1640. Los
años cruciales. In: BRUNETTO, Carlos Javier Castro (Ed.). Río de Janeiro,
Estética de una ciudad. Santa Cruz de Tenerife: Oristán y Gociano editores,
2008, p. 51-66.
53
PAPEL a Favor da Entrega de Pernambuco aos Holandeses, 1648. VIEIRA,
Padre António, Obras escolhidas, op. cit., p. 87. v. III.
54
Ibidem, p. 105-106.
177
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
55
CESAR, Thiago Groh de Mello, op. cit., p. 118-119; VALLADARES, Rafael, La
rebelión de Portugal…, op. cit., p. 75.
56
CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e os
primeiros Bragança. Hispania, v. LXIV/1, n. 216, p. 150, jan.-abr. 2004.
57
SCHWARTZ, Stuart B., Prata, açúcar e escravos: de como o império restaurou
Portugal, op. cit., p. 201-223.
178
o retorno do rei
58
Sobre as estratégias econômicas posteriores a 1640, ver: CHAMBOULEYRON,
Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640-1706).
Belém: Editora Açaí, 2010.
59
BARROS, Edval de Souza. Negócios de tanta importância: O Conselho
Ultramarino e a disputa pela condução da guerra no Atlântico e no Índico
(1643-1661). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa; Cham, 2008, p. 28.
Ver também: MARQUES, Guida. L’Invention du Brésil entre deux monarchies.
Gouvernement et pratiques politiques de l’Amérique portugaise dans l’union
ibérique (1580-1640). Paris, 2009. 523 f. Tese (Doutorado em História e
Civilizações) – École des Hautes Études en Sciences Sociales, p. 257-267.
60
SAMPAIO, Patrícia Melo. Administração Colonial e legislação indigenis-
ta na Amazônia Portuguesa. In: PRIORE, Mary Del; GOMES, Flávio, op. cit.,
p. 123-139.
179
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
61
VALLADARES, Rafael. Historia Atlántica y ruptura ibérica, 1620-1680. Un
ensayo bibliográfico. In: PARKER, Geoffrey (Ed.). La crisis de la Monarquía de
Felipe IV. Barcelona; Valladolid: Editorial Crítica; Universidad de Valladolid,
2006, p. 327-350.
180
O Brasil no contexto da Guerra de Restauração
Portuguesa (1640-1668)
1
Professora Dra. de História Ibérica no Departamento de História da
Universidade de São Paulo.
2
Ver Introdução deste livro e especialmente: MONTEIRO, Rodrigo Bentes. O
Rei no Espelho: A monarquia portuguesa e a colonização da América (1640-
-1720). São Paulo: Hucitec, 2002.
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
D. João IV, exceto Ceuta, ainda que nelas estivesse em ação uma intensa
conflitualidade.
A guerra que se desenrola em território peninsular até 1668, e
concluída com a Paz dos Pirineus3, não se experimenta da mesma ma-
neira nos domínios ultramarinos, pois nesses espaços são vivenciados
outros conflitos bélicos, inclusive com motivos bastante distintos daqueles
travados entre as coroas de Portugal e Espanha. O avanço neerlandês
sobre as rotas de navegação do Atlântico e do Índico era considerado
uma ameaça muito mais perigosa por aqueles que lutavam nos espaços
coloniais que o desejo, ou risco, de permanência da coroa na cabeça de
Felipe IV de Habsburgo.4
O entendimento dessa conflitualidade presente nos territórios
portugueses da América exige que retomemos alguns elementos que
remontam ao processo de ocupação e exploração do território. Do ponto
de vista administrativo, a América portuguesa se estrutura em meados do
século XVI. Criado em 1549 por D. João III, o Governo Geral do Estado
do Brasil foi instituído, como se sabe, pelo regimento de Tomé de Souza
– primeiro Governador Geral –, cargo exercido por um governador no-
meado diretamente pelo monarca. Em 1621, durante o reinado de Felipe
III de Espanha, segundo de Portugal, foi criado o Estado do Grão-Pará e
Maranhão, com o objetivo de cuidar particularmente da região norte do
território que possuía características muito distintas das outras partes e
exigia outras estratégias de gestão e comando. Entre 1580 e 1640, foram
mantidos no cargo de Governador Geral os portugueses natos, tal como
estabelecia o Acordo de Tomar de 1581. Os nomeados, contudo, deveriam
manter vínculos de fidelidade com Madrid, fato que contribuiu para o
aparecimento de fragilidades no tocante à autoridade do governador. Por
3
Ver os livros de COSTA, Fernando Dores. A Guerra da Restauração. 1641-1668.
Lisboa: Livros Horizonte, 2004. e VALLADARES, Rafael. A Independência de
Portugal: Guerra e Restauração 1640-1680. Trad. Pedro Cardim. Lisboa: A
esfera dos livros, 2006.
4
Para as guerras em território africano ver ALENCASTRO, Luiz Felipe. O Trato
dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000.
182
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
5
Sobre a gestão e as elites deste período ver RICUPERO, Rodrigo. A formação da
elite colonial: Brasil c. 1530-c. 1630. São Paulo: Alameda, 2008.
6
BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686. São
Paulo: Companhia Editora Nacional; Edusp, 1973, p. 307.
7
Para o tema do desenvolvimento da produção do açúcar no período cf.
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: Engenhos e escravos na sociedade
183
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
O trajeto realizado desde o Alto Peru até Santa Catarina seria muito
melhor que o escarpado caminho real por Salta, Tucumán, Juju
até Buenos Aires. Além disso, o porto de Santa Catarina estava
em melhores condições que a difícil saída por Mar del Plata,
permitindo a entrada de um número maior de barcos [, sendo
muito mais econômico também do que a] “Carrera de Índias”,
porque “la navegación desta mar desde el dicho puerto de Sancta
Catalina a España asimismo breve y de menos tormentas”.
O caminho tinha duas ramificações: uma até Santa Catarina e outra
até São Paulo, um caminho que já existia mas estava oficialmente
colonial (1550-1835). Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
8
Para o tema referimos, basicamente, MONTEIRO, John M. Negros da Terra:
Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
9
RUIZ GONZÁLEZ, Rafael. La política legislativa con relación a los indígenas en
la región sur del Brasil durante la unión de las coronas (1580-1640). Revista
de Indias, v. 62, n. 224, p. 17-40, 2002.
184
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
10
Ibidem, tradução nossa.
11
Acerca da circulação de notícias desta guerra ver nosso artigo: MEGIANI, Ana
Paula Torres. Das palavras e das coisas curiosas: correspondência e escrita
na coleção de notícias de Manuel Severim de Faria. Topoi, Rio de Janeiro,
v. 8, n. 15, p. 24-48, 2007.
185
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
12
Sobre Salvador Correia de Sá e Benevides ver ainda: NORTON, Luis. A dinastia
dos Sás no Brasil: a fundação do Rio de Janeiro e a restauração de Angola. Ed.
comemorativa do 4o centenário da fundação da cidade de S. Sebastião do Rio
de Janeiro. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1965.
13
BOXER, C. R., op. cit., p. 158.
14
Ver RELAÇAM da aclamação que se fez na Capitania do Rio de Janeiro do
Estádo do Brasil, & nas mais do Sul, ao Senhor Rey Dom João o IV. por
verdadeiro Rey, & Senhor do seu Reyno de Portugal, com a felicissima
186
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
restituiçaõ, q[ue] delle se fez a sua Magestade que Deos guarde, &c. – Em
Lisboa : por Iorge Rodrigues : a custa de Domingos Alures livreiro, 1641.
Exemplar da Biblioteca Nacional de Portugal. Disponível em: <http://purl.
pt/12091>. Acesso em: fev. 2014.
15
BOXER, C. R., op. cit., p. 158 et seq.
16
MONTEIRO, R. B., op. cit.; ALENCASTRO, L. F., op.cit.
17
BOXER, C. R., op. cit., p. 143 et seq.
18
Para o tema de São Paulo na União Ibérica ver a tese de VILARDAGA, José
Carlos. São Paulo na órbita do Império dos Felipes: conexões castelhanas de uma
vila na América Portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640). São Paulo,
187
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
188
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
22
BOXER, C. R., op. cit., p. 22.
23
CAVENAGHI, Airton José. Nossa herança imperceptível: uma análise
historiográfica da obra Collectanea de mappas de cartographia paulista antiga,
organizada por Afonso de E. Taunay, em 1922. In: SIMPÓSIO IBEROAMERICANO
DE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA, 3., abr. 2010, São Paulo.
24
BOXER, C. R., op. cit., p. 109 et seq.
189
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
25
BOXER, C. R., op. cit., p. 234 e 266.
190
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
26
SERMÃO da Visitação, predicado em honra ao Marquês de Montalvão, apud
AZEVEDO, João Lúcio de. História de Antônio Vieira. São Paulo: Alameda,
2008, p. 65. v. 1.
27
Sobre Jerônimo Mascarenhas ver: MEGIANI, Ana Paula Torres. Memória e
conhecimento do mundo: coleções de objetos, impressos e manuscritos nas
livrarias de Portugal e Espanha, séculos XV-XVII. Anais do Museu Paulista,
São Paulo, v. 17, n. 1, p. 155-171, 2009. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0101-47142009000100010>. Acesso em: fev. 2014.
28
Sobre seu filho Jerônimo Mascarenhas, Fernando Bouza Álvarez comenta:
“Este filho de Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão e antigo Vice-rei
do Brasil, constitui um bom exemplo do que a obediência a Felipe IV poderia
191
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
192
o brasil no contexto da guerra de restauração portuguesa (1640-1668)
31
Ibidem, p. 111-112.
32
Ibidem, p. 138.
33
PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: Povos indígenas e a colonização do
sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec; Edusp, 2002.
34
ROMEIRO, Adriana, op. cit., p. 457.
193
o brasil na monarquia hispânica (1580-1668)
35
MENEZES, Dom Luis de, Conde da Ericeyra. Historia de Portugal Restaurado.
Lisboa: Officina de João Galrão, 1679-1698. 2 t.
36
ROMEIRO, Adriana, op. cit., p. 459.
37
Cf. FIGUEIREDO, Luciano R. A. O Império em apuros: notas para o estudo
das alterações ultramarinas e das práticas políticas no Império colonial
português, séculos XVII e XVIII. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos
oceânicos: Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império
ultramarino português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001, p. 197-254.
194
Série História Diversa
Ficha técnica
Formato 14 x 21 cm
Mancha 10,5 x 18,5 cm
Tipologia Scala 10 e ScalaSansPro 15
Impressão e Acabamento Printing Solutions & Internet 7
Número de páginas 198