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4.2.1. O meio técnico-científico-informacional e “os quatro Brasis”

Por meio das “situações características” Santos e Silveira identificaram quatro


macrorregiões no país, “os quatro Brasis”, destacando principalmente duas variáveis:
as características da atualidade – a difusão diferencial do meio técnico-científico-
informacional – e as heranças do passado – as rugosidades, que estão ligadas tanto à
tecnicidade dos objetos de trabalho quanto ao arranjo desses objetos e suas relações
resultantes. A constante é o espaço, tido como um conjunto indissociável de sistemas
de objetos e sistemas de ações.

Mapa 6 – Regionalização do Brasil segundo Milton Santos e Maria Laura Silveira –


1999.

Fonte: SANTOS, SILVEIRA, 2001. (Org. Simone Affonso da Silva).

Região Concentrada
A Região Concentrada é formada pelos estados do Sudeste – São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo – e os estados do Sul – Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, caracterizando-se pela implantação mais consolidada dos dados
da ciência, da técnica e da informação.
Como heranças do passado, destacam-se o “[...] meio mecanizado, portador de um
denso sistema de relações, devido, em parte, a uma urbanização importante, ao
padrão de consumo das empresas e da família, a uma vida comercial mais intensa”
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 269), e consequentemente, a distribuição da população
e do trabalho em numerosos núcleos importantes.
A partir deste cenário, se desenvolve a difusão diferencial do meio técnico-científico-
informacional, marcado pela emergência de “[...] atividades ligadas à globalização, que
produzem novíssimas formas específicas de terciário superior, um quaternário e um
quinquenário ligados à finança, à assistência técnica e a política e à informação em
suas diferentes modalidades” (Idem), superpondo-se às formas anteriores do terciário.
Logo, surgem novas especializações do trabalho.
O novo setor de serviços sustenta as novas classes médias que trabalham nos
diversos setores financeiros, nas múltiplas ocupações técnicas e nas inúmeras formas
de intermediação, marketing, publicidade, etc.
A cidade de São Paulo permanece como o pólo nacional. Embora a indústria
apresente um crescimento menor, levando a uma perda relativa do poder industrial da
cidade, há um significativo aumento do seu papel de regulação, pela concentração da
informação, dos serviços e da tomada de decisões. Dessa forma, a metrópole
paulistana renova seu comando sobre todo o território brasileiro, estando praticamente
onipresente no espaço nacional por sua ação instantânea e diretora. Para Santos e
Silveira a onipresença de São Paulo permite que se fale numa dissolução da
metrópole, já que ela está em toda parte.
A Região Concentrada cresce mais que a metrópole e isso poderia ser denominado de
involução metropolitana, manifestando-se no fenômeno da desindustrialização do
ABCD, no qual registra-se uma fuga de indústrias para outros pontos da região
metropolitana, para o interior paulista e para outros estados.
Consolidam-se também os belts modernos com a intensa utilização da ciência, técnica
e informação e importantes aumentos na produtividade. Em São Paulo eles são
destinados ao cultivo de laranja para a produção de suco reservado à exportação e
cana de açúcar para a produção de álcool. No Sul, reafirmam-se como modernos
cinturões de soja, trigo, algodão, milho, arroz, fumo e uva.

“Ao mesmo tempo que aumenta a importância dos capitais fixos (estradas,
portos, silos, etc.) e dos capitais constantes (maquinários, veículos, sementes,
adubos, etc), aumenta também a necessidade de movimento. Crescem assim o
número e a importância dos fluxos, sobretudo a circulação de dinheiro. Mas esse
fluxos multiplicam-se com mais intensidade dentro da Região Concentrada, onde a
divisão do trabalho é extrema e a vida de relações assume
especial relevo” (SANTOS, SILVEIRA, 2001, p.270).

Por fim, na Região Concentrada há também o aumento da repartição do trabalho no


território, demandando uma maior união por meio das cooperações que une as
diversas etapas do trabalho, e assim cria círculos no território que por sua vez formam
as redes.

Região Centro-Oeste
A Região Centro-Oeste é composta por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e
Tocantins, é definida como uma área de ocupação periférica recente.
As heranças do passado são escassas, e sua ausência é representada pelo território
praticamente natural, ou melhor, pré-técnico, no qual a vida de relações era rara e
precária.
A difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional se dá sobre esta
realidade pré-técnica, sendo os novos dados constitutivos do território aqueles ligados
à informação e à uma rede de cidades assentada numa agricultura moderna e suas
necessidades relacionais.
A agricultura moderna, globalizada, gera uma grande densidade de mecanização
agrícola, utilização de insumos e de tecnologia de ponta, como a agricultura de
precisão.
Devido ao valor relativamente baixo da terra diminuem-se os custos do trabalho com o
alto grau de capitalização em fixos e fluxos.
Destaca-se a participação do Estado no financiamento necessário à criação de novos
sistemas de engenharia e sistemas de movimento que a agricultura moderna exige.
Contudo, o comando dessas atividades é exercido pelas firmas globais com sede na
Região Concentrada, mesmo que seus mecanismos sejam pouco visíveis.
Portanto, “não havendo rugosidades materiais e organizacionais consideráveis, os
novos objetos e novas ações criam um espaço inteiramente novo e com grande
participação na globalização” (Ibid., p. 271).
Região Nordeste
A Região Nordeste é composta pelos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, caracterizada pelo
povoamento antigo, onde a constituição de um meio mecanizado se deu de forma
pontual e pouco densa, com a precária circulação de pessoas, produtos e
informações, ordens e dinheiro, devido à natureza das atividades – agricultura pouco
intensiva com baixos índices de mecanização – e a estrutura da propriedade.
Como heranças da ocupação econômica realizada no período pré-mecânico tem-se o
grande número de núcleos urbanos em virtude da baixa mecanização do território,
com densidades bastante importantes, embora as taxas de urbanização regional
sejam baixas. Dessa forma, “se as aglomerações são numerosas, a urbanização é, de
modo geral, raquítica. São causas e consequências da fraqueza da vida de relações,
formando um círculo vicioso” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.272).
A influência do fenômeno da globalização e a instalação do meio técnico-científico-
informacional em certas manchas do território regional se dão num quadro
sócioespacial praticamente engessado, abrindo perspectiva de importantes fraturas na
história social, com mudanças brutais nos papéis econômicos e políticos de grupos,
pessoas e lugares.
Região Amazônia
A Região Amazônia é composta pelos estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas,
Acre e Rondônia, é uma região de rarefação demográfica e baixas densidades
técnicas.
No passado o povoamento era concentrado porque a agricultura tinha limitações em
capital, técnica e escopo. Foi a última região a ampliar sua mecanização na produção
econômica e no território.
A vastidão do território e a necessidade de interligar lugares levou primeiramente ao
aumento de pontos servidos pela aviação, que tendem a ser os mesmos pontos
nucleares das vias de circulação fluvial ou terrestre.
As novas hidrovias, como a Madeira-Amazonas, atendem ao escoamento da produção
da soja nos fronts de Mato Grosso e Rondônia. Mesmo servidos pelos transportes e
comunicações as hidrovias exercem fraco papel de centralidade, uma vez que as
fazendas modernas que necessitam de fluidez e exigentes relações levam ao rápido
crescimento de núcleos urbanos multifuncionais. Essas áreas agrícolas e cidades-
cogumelo exercem comando sobre vastas áreas, inclusive ligando-se às áreas mais
dinâmicas do país por meio da disseminação dos recursos das telecomunicações
modernas, indicando a penetração da globalização na Região Amazônia.
Neste cenário, Manaus consolida-se como pólo industrial, marcando a coexistência de
sistemas de movimento modernos e rápidos e sistemas de movimento lento
(atividades tradicionais), comum às cidades mais importantes, que também mantém
fracas relações com suas respectivas hinterlândias.
Por fim, destaca-se que diferentemente do restante do país, a ocupação da região
decorre do conhecimento fundado em modernos satélites e radares.
Referência

SILVA, S. A. D. (2010). Regionalização do Brasil: uma análise comparativa entre as propostas


do IBGE, Roberto Lobato Corrêa e Milton Santos e Maria Laura Silveira. Trabalho de
Graduação apresentado para o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Bacharel em
Geografia. São Paulo: FFLCHUSP.

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