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ZONAS DE DESIGUALDADE TERRITORIAIS: AMAZÔNIA VISTA NO

CONTEXTO DA DIVISÃO DO TERRITORITORIAL DO TRABALHO, PERIFERIA


NACIONAL. 1

Hermogens Felipe Lemos Gonçalves2

RESUMO: As contradições do capital e sua inserção de seus ideais predatórios não passaram
longe da realidade amazônica, o que a tornou passível em de implementações exploratórias,
sob pensamento colonialista de uma fronteira de recursos naturais, criando zonas de
desigualdades territoriais causadas pela divisão territorial do trabalho. O objetivo deste ensaio
é compreender de forma metodológica uma forma de interpretar o território amazônico como
uma periferia, usando método indutivo para chegar a uma conclusão. Foram alcançados
resultados de uma Amazônia já em um contexto capitalista, fornecedora de subsídios para as
outras regiões, e formando territórios urbanizados desiguais em verticalidades.

Palavras-Chave: Desigual. Capitalismo. Periferia. Centro. Industrias.

1 INTRODUÇÃO

Uma coisa a se pensar é que a função do espaço seria regularizar essas dinâmicas
produtivas globalmente implementadas pelos interesses capitalistas que ultrapassam as
barreiras e adicionam suas dinâmicas, o que causaria a criação de espaços de produção que
exercem a dominação sobre os que carecem da produção técnico-científica informacional,
tornando, de certa forma, o surgimento de espaços periféricos. Não diferente, o objetivo desse
ensaio é compreender, de forma teórica, como a Amazônia é vista nacionalmente como uma
periferia com recursos a serem explorados a partir da divisão territorial do trabalho. Desta
forma, podemos pensar em sistemas de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 1996).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Amazônia é vista, no contexto atual, como uma região em processo de urbanização e


industrialização, com uma transformação em organização em andamento. Isso ocorre porque
o Brasil está se inserindo em um novo sistema capitalista mundial. De acordo com Becker
(1996), o Brasil, assim como a América Latina, emergiu a partir de um crescimento
econômico baseado na incorporação de terras e na exploração de seus recursos, o que

1
Ensaio científico apresentado a Unidade de Ensino Superior da Universidade Federal do Pará– UFPA, no Curso
de Geografia disciplina Geografia Regional do Brasil.
2
Graduando de Geografia pela Universidade Federal do Pará. Está em graduação em licenciatura em Geografia
pela Universidade Federal do Pará (2021). hermogenfpl6@gmail.com
consequentemente afeta a Amazônia. O Programa de Integração Nacional, implementado
durante o regime militar, impulsionou o desenvolvimento do território, resultando na criação
de redes de controle técnico e político.

A região amazônica serviu como um estopim de atrativos para investimentos, uma vez
que recebeu do Estado incentivos fiscais, criando um ambiente propício:

[...] componentes são: a) grandes redes de integração espacial; b) superposição de


territórios federais aos territórios estaduais; c) subsídios ao fluxo de capital para
apropriação privada da terra; d) incentivos à imigração para ocupar o território e
formar mão-de obra. (BECKER, 1996. p. 225).3

Sendo assim, o governo federativo tomou para si espaços dos territórios estaduais da
Amazônia Legal, tornando-se autoridade federal e exercendo controle ao longo dos anos.
Uma das ações mais significativas nesse processo foi a criação do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em 1970, com o objetivo de promover o
desenvolvimento agrário da região e facilitar sua ocupação. O INCRA fornecia subsídios e
incentivos financeiros, o que tornou a região um atrativo para imigrantes.

Como observamos, o Estado teve como objetivo central, durante esse período,
implementar projetos de integração e colonização na Amazônia. Isso se torna evidente quando
consideramos a frase do presidente Castelo Branco em 1966, "Integrar para não Entregar",
que serviu como justificativa para a integração amazônica. Na verdade, o governo militar
tinha receios de que estrangeiros de outros países ocupassem e se apropriassem dos recursos
naturais da região, o que poderia comprometer a soberania brasileira. Portanto, o governo
buscava garantir a soberania e promover o desenvolvimento econômico na região.

Então surgiram grandes projetos, como mencionado anteriormente, que atraíram


imigrantes em busca de melhores condições de vida. O INCRA implementou medidas para
impedir que os colonos abandonassem suas terras, estabelecendo que aqueles que retornassem
às suas regiões ou estados de origem não poderiam voltar ao projeto de colonização. Essa
medida foi adotada para desencorajar o abandono das terras (ARAÚJO, 2015, p. 45). No
entanto, é importante destacar que a maioria dos pequenos agricultores não foi capaz de
adquirir terras, enquanto as iniciativas privadas se beneficiaram ao adquirir terras de forma

3
BECKER, Bertha. Redefinindo a Amazônia: o vetor tecno-ecológico. Brasil: questões atuais da
reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 223-281, 1996.
facilitada por meio de incentivos fiscais. Isso gerou, em certa medida, a estrangeirização das
terras amazônicas.

A Amazônia atual se configura como um espaço estrangeirizado, no qual empresas


privadas beneficiadas por esses incentivos se apropriam das terras e implementam suas
dinâmicas capitalistas, enxergando a natureza como capital. Infelizmente, tanto nacional
quanto internacionalmente, ainda persiste a visão da Amazônia como uma fronteira
econômica, um território considerado uma "fonte de recursos naturais", o que tem levado à
estrangeirização desde a década de 1970. De acordo com HERREIRA (2016), a concentração
dessas terras representa uma dinâmica produtiva que reproduz a desigualdade social e a
dominação do espaço, pois a presença predominante de estrangeiros não contribui para
subsidiar as dinâmicas econômicas locais e nacionais, resultando em conflitos extremos.

O sistema capitalista global coloca o Brasil em uma posição periférica. Como


mencionado anteriormente, a Amazônia é vista como uma fronteira econômica capitalista e
como uma fonte de recursos naturais. Nesse contexto, o Brasil, em termos nacionais, ocupa
uma posição semelhante à da Amazônia em relação ao Brasil e ao mundo. A função da
Amazônia para os países metropolitanos ou capitalistas seria sustentar a soberania dos
centros, fornecendo seus recursos e mantendo uma classificação permanente de
subdesenvolvimento.

Para países como o Brasil, que não pertence ao centro do capitalismo mundial, a
análise a respeito da proteção social requer considerar inicialmente a condição de
pertencimento à periferia econômica, prisioneira do subdesenvolvimento. [...] o
Brasil não foi capaz de abandonar as principais características do
subdesenvolvimento, tais como a disparidade na produtividade setorial e regional
[...]. (POCHMANN, 2004, p.7)4

Isso significa que a divisão setorial do Brasil, tomando como exemplo o setor agrário,
está fortemente relacionada ao mercado internacional e se expande no território através do
agronegócio, baseado na exportação de monoculturas. Essa característica de um país
subdesenvolvido tornou-se uma parte essencial da identidade brasileira, já que o Brasil é
conhecido globalmente como um grande exportador agrícola, desempenhando o papel
periférico de fornecer esses recursos aos centros capitalistas. Dessa forma, o Brasil
desenvolveu setores especializados em suas respectivas produções dentro do contexto
territorial.

4
POCHMANN, Marcio. Proteção social na periferia do capitalismo: considerações sobre o Brasil. São Paulo
em perspectiva, v. 18, p. 3-16, 2004.
2.1 Divisão Territorial do Trabalho, Territórios Desiguais

As diferenciações no território brasileiro, desde as características naturais herdadas até


as modificações na materialidade geográfica, nos mostram como essas características estão
dispersas pelo território, formando áreas densas e outras menos densas. Isso evidencia que tais
implementações não são neutras na Divisão Territorial do Trabalho (DTT) no Brasil; pelo
contrário, grande parte das indústrias está concentrada em regiões específicas que as
favorecem economicamente, enquanto outras regiões servem como fornecedoras de recursos,
conforme demonstrado na divisão regional elaborada por SANTOS (2001).

Nessa divisão regional proposta por Santos, a Amazônia se encontra com baixas
densidades demográficas e técnicas. Isso se deve ao fato de que, no passado, a região
apresentava uma baixa fluidez, sendo o transporte fluvial sua principal via de acesso,
característica comum das cidades da floresta até 1960, conforme mencionado por Trindade
Júnior (2013).

As transformações decorrentes da inserção do capital no espaço amazônico exigiram


uma maior acessibilidade à região. Grandes projetos, como usinas hidrelétricas na Amazônia,
demandaram a implementação de sistemas de engenharia para facilitar a circulação. No
entanto, infelizmente, essa seleção e implementação foram desiguais e não igualitárias,
gerando uma seletividade. Apenas as regiões que possuíam fatores propícios para a
concentração de dinâmicas econômicas baseadas na exportação foram beneficiadas. Um
exemplo disso é a "Região Concentrada" proposta por Santos, que é caracterizada pela
presença de um denso meio técnico-científico-informacional:

[...] os sistemas de engenharia eram imaginados para responder às necessidades do


lugar e, de fato, assim funcionavam. Sua escala de projeto era mais freqüentemente
regional. Quando eles passavam a autorizar uma cooperação estendida, em lugar da
cooperação com base local que antes permitiam, acabavam por constituir sistemas
integrados e interdependentes entre si. É o caso do sistema hidrelétrico brasileiro.
(SANTOS, 2001, p. 101)5

Os centros globais capitalistas implementaram fluxos e conexões em busca de seus


interesses econômicos, muitas vezes mantendo relações regionais ou conectando-se a outros
territórios, estabelecendo uma ordem dependente ou independente. No caso da implementação
5
SANTOS, Milton. O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2001
de usinas hidrelétricas na Amazônia, por exemplo, rodovias foram construídas para atender às
demandas econômicas.

No entanto, embora esses grandes projetos tenham favorecido a implementação do


capital na Amazônia, isso não resultou em melhorias na qualidade de vida da população local.
Pelo contrário, a instalação de empreendimentos estrangeiros e privados moldou a realidade
das dinâmicas tradicionais, transformando-as em dinâmicas modernas. Isso resultou na
criação de regiões urbanas marcadas por desigualdades, onde a riqueza se concentra nas mãos
dos ricos e a pobreza existindo devido às contradições do sistema capitalista.

No contexto dos centros de desenvolvimento na região amazônica, Manaus é


conhecida como um polo industrial no norte do Brasil. No entanto, mesmo nessas áreas
concentradas de crescimento econômico e concentração de indústrias, há a formação de
desigualdades e pobreza, com a exploração da mão de obra para sustentar a exploração
capitalista estrangeira. Essas desigualdades se refletem nas verticalidades, onde se encontra a
camada mais alta da sociedade.

Apesar da Amazônia ser um espaço rico em relações sociais, manifestações culturais e


sociais, ela é segregada do restante do Brasil em uma lógica colonizadora, sendo considerada
uma fronteira econômica exploratória. Isso a coloca como periferia na divisão territorial do
trabalho no Brasil. Para muitas das mesorregiões brasileiras, a Amazônia é apenas uma selva
urbanizada, vista como um potencial de recursos a serem explorados, o que resulta em
desigualdades na apropriação das ideias e das terras amazônicas.

3 CONCLUSÃO

É correto afirmar que existem grandes divergências resultantes da influência do capital


na Amazônia. O capital se apropria das terras e aplica suas dinâmicas, gerando fluxos
concentrados em regiões que são economicamente e politicamente favorecidas. Isso, de forma
geral, resulta em desigualdades, pois muitas regiões não atendem aos critérios estabelecidos
por essas dinâmicas.

O Estado desempenha um papel fundamental nessas dinâmicas e não fica neutro. Ele
influencia diretamente a implementação desses processos, especialmente por meio da
estrangeirização dos territórios, seja por meio de políticas de desenvolvimento ou de
incentivos fiscais. A Amazônia desempenha o papel de periferia quando seu cerne está na
exportação de recursos para outras regiões, gerando pobreza nas áreas onde essas indústrias se
instalam.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Joana Maria Lucena de. A Amazônia e o Nordeste no discurso governamental:


trabalhadores rurais em deslocamento (1970-1985). 2015. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Pernambuco.

BECKER, Bertha. Redefinindo a Amazônia: o vetor tecno-ecológico. Brasil: questões atuais


da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 223-281, 1996.

POCHMANN, Marcio. Proteção social na periferia do capitalismo: considerações sobre o


Brasil. São Paulo em perspectiva, v. 18, p. 3-16, 2004.

HERRERA, José Antônio. A estrangeirização de terras na Amazônia Legal brasileira entre os


anos 2003 e 2014. CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária. Edição
Especial, p. 136-164, 2016.

POCHMANN, Marcio. Proteção social na periferia do capitalismo: considerações sobre o


Brasil. São Paulo em perspectiva, v. 18, p. 3-16, 2004.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

SANTOS, Milton. O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI. Rio de


Janeiro: Editora Record, 2001.

TRINDADE JR, Saint Clair. Das" cidades na floresta" às" cidades da floresta": espaço,
ambiente e urbanodiversidade na Amazônia brasileira. Papers do NAEA, v. 321, n. 1, p. 1-
22, 2013.

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