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A CRIAÇÃO DA ZONA FRANCA DE


MANAUS: Relatos Orais sobre a
Mudança da Cidade
Marcos Roberto Marinho

A CRIAÇÃO DA ZONA FRANCA DE MANAUS

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O EMPRESÁRIO LOCAL E A ZONA FRANCA DE MANAUS: REPRODUÇÃO SOCIAL E GLOBALIZAÇÃ…


Marcelo Seráfico

Cidades medias amazonia


Chris Piment el

Zona franca de Manaus: ent re a geopolit ica e a geoeconomia


T hiago Net o
A CRIAÇÃO DA ZONA FRANCA DE MANAUS:
Relatos Orais sobre a Mudança da Cidade.
Marcos Roberto dos Santos Marinho
Raimundo Nonato Negrão Torres
Prof. Orientador: Daniel Rodrigues de Lima
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso (HID0421) – Seminário da Prática VI
20/05/2018

RESUMO

Esse artigo tem como objetivo um estudo sobre a criação da Zona Franca de Manaus e quais foram
as principais mudanças ocorridas na cidade, após a implantação do polo industrial. Para tanto
elaboramos pesquisa documental, bibliográfica e também através de fonte oral obtida através de
entrevista, como forma de adquirir conhecimentos e entender o tema para redigir o presente artigo.
Pesquisamos e estudamos sobre a História do desenvolvimento econômico da Amazônia brasileira,
principalmente no que diz respeito ao estado do Amazonas e a cidade de Manaus. Tomamos
conhecimento de como era Manaus antes da chegada do polo industrial, quais as atividades
econômicas e como as pessoas viviam no interior do estado. Estudamos todo o processo de
implantação da Zona Franca de Manaus, desde os primeiros passos, até o funcionamento das
primeiras industrias. E o mais importante, compreendemos de forma direta como a instalação da
Zona Franca de Manaus, atingiu economicamente a população da capital e do interior do
Amazonas, tanto nos aspectos positivos, quanto negativos. Quais os reflexos que a Zona Franca
trouxe, para o desenvolvimento urbano, da cidade de Manaus, em relação a população e moradia?
e também como a cidade expandiu demograficamente.

Palavras-chave: Zona Franca. Manaus. Economia. Amazônia. População.

1 INTRODUÇÃO

Entende-se por Zona Franca, como sendo uma área ou uma localidade que recebe tratamento
diferenciado do restante do país, em relação as legislações jurídicas, aduaneiras e tributárias. Esses
locais tendem a oferecer vários atrativos como: concessões e incentivos fiscais com o intuito de
criar diferenciais de produção e atrair investidores.
De acordo com os nossos estudos, as Zonas Francas estão instaladas praticamente nos quatro
cantos do mundo e não poderia ser diferente no continente sul americano, mais precisamente no
Brasil onde temos instalado desde o final da década de 1960 a Zona Franca de Manaus.
Com o declínio da economia do látex no início do século XX, o estado do Amazonas entrou
numa grande crise econômica, atingindo principalmente a capital Manaus, que segundo Santos
(2004), a cidade entrou num verdadeiro marasmo econômico, os períodos da prosperidade foram
2

poucos e curtos demais para poder gerar o dinamismo capaz de proporcionar um crescimento
econômico continuo.
Diante de tal cenário e com o objetivo de povoar a Amazônia brasileira os governantes
usaram de diversas estratégias e uma delas foi: “vamos conquistar a Amazônia com a pata do boi”,
essa ideia teve objeção imediata por parte do futuro governador do amazonas Arthur Reis, que dizia
o contrário: “Vamos conquistar a Amazônia com a presença do homem”, não adianta a pata do boi,
tem que ter a presença do homem, conforme Corrêa (2018). Dessa forma nasce a ideia de
implantação da Zona Franca de Manaus no meio da floresta amazônica.
Através da implantação da Zona Franca, Manaus começa a sair do caos econômico e passa a
crescer rapidamente, atraindo outros seguimentos econômicos como o turismo e os serviços que se
expandiram para dar suporte ao setor industrial. A partir de então, a cidade de Manaus, passou a
receber imediatamente uma grande quantidade de pessoas oriundas de outras regiões do país e
principalmente os habitantes do interior do estado do Amazonas, que migraram para Manaus em
busca de renda e emprego.
Muitos desses imigrantes chegavam sem nenhum tipo de instrução e qualificação para
conseguir um emprego e sem terem condições financeiras para se manterem, ocupavam áreas
improprias para fixar suas moradias, construindo casebres, onde fosse possível, principalmente nos
leitos dos igarapés que cortam a cidade, causando dessa forma uma expansão desordenada da
cidade e também danos irreparáveis ao meio ambiente.
A metodologia utilizada para alcançar nossos objetivos se deu através da realização de
entrevista, pesquisa documental e outas fontes como: sites, leis e decretos do governo federal, e
também em obras de vários autores que estudaram o tema, como por exemplo os escritores Marcio
Souza, Pontes Filho e Aguinaldo Figueiredo.
A justificativa para essa pesquisa é que, precisávamos entender, porque, e de que, forma fora
criada a Zona Franca de Manaus, e quais eram os principais objetivos a serem alcançado com a
implantação do distrito industrial.
O objetivo principal de nossa pesquisa, é compreender quais foram os aspectos positivos e
negativos que a Zona Franca de Manaus, trouxe para a cidade logo após sua implantação, tanto no
aspecto econômico quanto na expansão demográfica que tomou conta da cidade, após a instalação
da Zona Franca.

2 CONCEITO DE ZONA FRANCA.

Entende-se por Zona Franca, como sendo uma área ou uma localidade que recebe tratamento
diferenciado do restante do país, em relação as legislações jurídicas, aduaneiras e tributárias. Esses
locais tendem a oferecer vários atrativos como: concessões e incentivos fiscais com o intuito de
3

criar diferenciais de produção e atrair investidores. Essas zonas geralmente são modelos de
desenvolvimento projetados e instalados em regiões menos habitadas ou desenvolvidas, visando o
desenvolvimento regional.
Conforme podemos perceber, as empresas que se instalam nas Zonas Francas se beneficiam
de forma diferenciada e em alguns casos até com isenção total das cargas de impostos aplicadas
sobre elas, por parte dos estados nacionais, um exemplo que podemos citar desse modelo de
industrialização é que: uma mercadoria importada de outro país, como as matérias primas, podem
ser transformadas sem estarem sujeitas ao regime de tributação normal.
Na Zona Franca a entrada de mercadorias dá-se o nome de importação, e a saída exportação.
Nesse modelo de industrialização não há prazo definido quanto a permanência ou a retirada de
produtos manufaturados pelas fabricas, inseridas nesses locais.
Para alguns economistas as Zonas Francas, são exemplos de desenvolvimento econômico
que precisam serem levados a sério, pois comportam vários tipos de empresas como:
armazenamento, logística, comerciais, serviços e as industrias que beneficiam ou fabricam produtos
destinados a exportação e ao consumo interno, gerando emprego e renda nas localidades onde estão
inseridas.
Na atualidade existem Zonas Francas espalhadas por vários continentes, porém cabe
destacar que os países que mais se utilizam dessas zonas especiais são: China, Estados Unidos e
México. O continente asiático possui algumas Zonas Francas, no qual destacaremos, as que são
consideradas mais importantes que estão situadas em Hong Kong, Singapura e Macau. No
continente europeu as Zonas Francas mais destacadas são as da Irlanda, da Grã-Bretanha e também
a de Portugal que se chama Zona Franca Industrial da Madeira.
De acordo com os nossos estudos, as Zonas Francas estão instaladas praticamente nos quatro
cantos do mundo e não poderia ser diferente no continente sul americano, mais precisamente no
Brasil onde temos instalado desde o final da década de 1960 a Zona Franca de Manaus, que será
nosso tema nos próximos capítulos desse artigo.

3 MANAUS ANTES DA ZONA FRANCA.

Com o declínio da economia do látex no início do século XX, o estado do Amazonas entrou
numa grande crise econômica, atingindo principalmente a capital Manaus, que segundo Santos
(2004), a cidade entrou num verdadeiro marasmo econômico, os períodos da prosperidade foram
poucos e curtos demais para poder gerar o dinamismo capaz de proporcionar um crescimento
econômico continuo.
A população do interior do Estado do Amazonas, além das atividades de subsistência,
voltou a dedicar-se ao extrativismo vegetal, à agricultura e à pecuária de pequeno porte,
4

direcionada para o abastecimento da capital. A novidade ficaria por conta da 1juticultura,


introduzida nos municípios do baixo e médio amazonas na década de 1930 pelos japoneses.
Manaus vivia em função dessa débil economia e de parcas transferências do governo
federal. (SANTOS, 2004, p.230).

Em seu livro História da Amazônia, Souza (2009), relata que: com a crise da borracha, a
região torna-se um imenso território empobrecido, abandonado, entrando aos poucos num cenário
de total desanimo e estagnação econômica devido a região ter passado por uma falsa sensação de
riqueza permanente, e que na verdade a sociedade da época estava vivenciando apenas um fausto
artificial. Por falta de interesses econômico, as comunicações foram cortadas, os vínculos com a
Europa se dispersaram, e pela primeira vez, a região derrotada foi obrigada a se interessar por coisas
do Brasil.
Conforme relato do deputado estadual Serafim Corrêa (2018), entre o período pós
decadência da borracha e a implantação da Zona Franca de Manaus, a crise era tão profunda, que a
cidade chegou a ficar vários anos sem energia elétrica, apenas as classes mais abastadas usufruíam
de tal benefício, justamente por terem condições de adquirem geradores de energia elétrica.
Foi um período negro, quando chega ali 1958 e 1959 Manaus ficou sem energia, a luz era
de vela e de lamparina. Os ricos tinham gerador, seu Isaac Sabbá tinha gerador, seu Isaac
Benzecry tinha gerador, e a classe média tinha o Cólema e Aladim que era um negócio a
querosene e ficava aceso tipo uma telinha, depois tinha o a gás. Foi um período muito ruim,
que só volta a ter energia em 1961. Nessa época existia um grupo gerador que tinha o cabo
“C” que atendia a Santa Casa, Beneficente e o Pronto Socorro e uma linha que ia para o
bombeamento e o pessoal começou a fazer gato no cabo “C” que caía e desligava a energia
em todo canto. A Zona Franca foi o renascimento, a refundação da Universidade foi outro
momento importante, essa História está ficando perdida. Está faltando diálogo, conversa e
nós temos perdido pessoas depositárias de conhecimentos desse período, testemunhas vivas
que não passaram isso para frente. (CORRÊA, 2018).

Como podemos conferir antes da implantação da Zona Franca de Manaus, a base econômica
do Amazonas era quase toda voltada para o extrativismo vegetal, principalmente a extração do
látex, que entrou em decadência pouco tempo depois fazendo com que, o estado mergulhasse numa
grave crise econômica. Diante do cenário negativo economicamente que o estado atravessava na
época, houveram varias tentativas por parte dos governantes em retomar os tempos fartos da
exploração da borracha.
Uma das apostas para o desenvolvimento econômico da região foi criação de órgãos federais
como a (SPVEA), Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia, com o intuito de
elaborar planos para o desenvolvimento da Amazônia. Além disso, outras medidas foram adotadas
como: a abertura de estradas, incentivo a imigração, e também um acordo com os Estados Unidos
afim de retomar a extração do látex na região amazônica.
Quando veio a segunda guerra mundial, os americanos precisavam da borracha e os
japoneses haviam fechado o caminho para Malásia. Dessa forma nasceu o acordo de
Washington firmados entre os presidentes Getúlio Vargas e Roosevelt, que tinha,

1
A juta é uma fibra têxtil vegetal que foi introduzida no Brasil pelos japoneses e tornou-se uma das principais
atividades econômicas das populações ribeirinhas da região amazônica.
5

unicamente como objetivo explorar a borracha da Amazônia. Com a guerra, houve um


renascimento da borracha. Terminada a guerra, os americanos não precisavam mais de nós,
eles começaram a comprar a borracha da Malásia, mais do que isso, eles descobriram a
borracha sintética e avançaram na linha de produção. Aí o governo através, na época, do
Banco de Crédito da Amazônia que era chamado de Banco da Borracha, criado para
financiar a produção de borracha, informa que, não havia mais dinheiro para financiar a
exploração do látex, com isso não saía mais barcos para levar suprimentos para os seringais
de onde se extraiam a borracha, pois já não tinham mais para quem vender. (CORRÊA,
2018).

Diante de tal cenário e com o objetivo de povoar a Amazônia brasileira os governantes


usaram de diversas estratégias e uma delas foi: “vamos conquistar a Amazônia com a pata do boi”,
essa ideia teve objeção imediata por parte do futuro governador do amazonas Arthur Reis, que dizia
o contrário: “Vamos conquistar a Amazônia com a presença do homem”, não adianta a pata do boi,
tem que ter a presença do homem, conforme Corrêa (2018). Dessa forma nasce a ideia de
implantação da Zona Franca de Manaus no meio da floresta amazônica, que na verdade era uma
continuação modificada do Antigo Porto Livre de Manaus, criado pela lei no 3.173, de junho de
1957, de autoria do deputado federal Francisco Pereira da Silva, que disponibilizava a área para o
livre comercio de produtos importados sem algumas restrições aduaneiras.

4 A CRIAÇÃO DA ZONA FRANCA DE MANAUS.

A partir da década 1960, durante o mandato do governo militar, a Amazônia foi incluída no
plano de desenvolvimento econômico, onde foram criados os órgãos (SUDAM), Superintendência
de Desenvolvimento da Amazônia, e também o (BASA), Banco de Desenvolvimento da Amazônia,
com o intuito de atrair investimentos externos e promover o desenvolvimento da região, e o mais
importante para os governantes, que era garantir, sobretudo, a soberania brasileira na aérea
ameaçada constantemente por conflitos revolucionários nos países vizinhos que fazem fronteira
com a Amazônia Brasileira, nesse contexto surge a Zona Franca de Manaus criada pelo decreto-lei
n.o 288, de 28 de fevereiro de 1967, Supervisionada pela (SUFRAMA) Superintendência da Zona
Franca de Manaus.
O modelo de desenvolvimento planejado para a Zona Franca foi baseado em experiências
capitalistas de outras zonas francas asiáticas, a partir da implantação de industrias de
montagem de produtos semiacabados, fabricados nas matrizes das multinacionais
americanas, europeias e asiáticas que, em Manaus, recebem o acabamento e seguem para os
mercados consumidores nacionais e internacionais. (FIGUEIREDO, 2011, p.154).

A zona Franca de Manaus, foi definida como uma área de incentivos fiscais, ou seja, as
empresas que aqui se instalarem recolhem menos tributos do que se estivessem em outra região do
Brasil. Isso fez com que muitas empresas se interessassem pelo projeto e se integrassem a ele.
Trata-se de uma área de livre comércio, pois a importação e a exportação são feitas com taxas
menores.
6

De acordo com a Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA (2018), os


incentivos fiscais inicialmente abrangiam uma área total de dez mil quilômetros quadrados que
inclui a cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, e seus arredores. No entanto, os
benefícios do modelo Zona Franca de Manaus, foram estendidos ao longo dos anos, em parte, para
uma área superior a 8,5 milhões de quilômetros quadrados, contemplando a Amazônia Ocidental –
Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima (Decreto Lei nº 356/1968) – e as cidades de
Macapá e Santana, no Estado do Amapá (Lei nº 8.397/1991).
Pontes Filho (2000), destaca que, a instalação do parque industrial, somente começou a ser
viabilizado administrativamente a partir da instituição do Decreto Federal n.o 63.105, de 15 de
agosto de 1968, o qual declarava para fins de desapropriação uma área de cerca de 1.700 ha,
distante quase 5 km do centro de Manaus, mais precisamente no início da BR-319.
As primeiras industrias começaram a se instalar no polo industrial de Manaus no início da
década de 1970. As vantagens fiscais e tributarias oferecidas pela recém-criada Zona Franca, atraiu
logo no início, aproximadamente cerca de 500 empresas de diferentes seguimentos industriais,
como: eletroeletrônico, relógios, bicicletas, motocicletas, brinquedos entre outros.
Aproveitando-se da legislação, essas industrias que se estabeleceram no distrito industrial,
receberam terrenos com preços bem abaixo dos valores reais e com toda uma infraestrutura de
urbanização, para que as empresas pudessem entrar em atividades no distrito industrial de Manaus.
E assim começou a funcionar um parque industrial de beneficiamento produzindo em toda sua
capacidade e operando numa área onde as facilidades eram, na verdade uma conjuntura favorável,
afirma Souza (2009).
Eram industrias que tudo trouxeram de fora, da tecnologia ao capital majoritário, e que do
Amazonas somente aproveitaram a mão de obra barata e os privilégios institucionais. Com
essa estrutura industrial altamente artificial, a Amazônia ocidental teve o seu quinhão da
política de integração nacional. A promessa de quarenta mil empregos não se cumpriu, mas
ajudou a provocar uma explosão demográfica em Manaus. (SOUZA, 2009, p.337).

Através da implantação da Zona Franca, Manaus começa a sair do caos econômico e passa
a crescer rapidamente, atraindo outros seguimentos econômicos como o turismo e os serviços que
se expandiram para dar suporte ao setor industrial. Nesse período foram surgindo vários hotéis,
empresas de segurança, de transportes especiais, de manutenção industrial, de alimentos, de
recursos humanos entre outras. Conforme Figueiredo (2011), a procura de imóveis para alojar as
novas empresas e ampliar as existentes aqueceu o setor imobiliário e o da construção civil, bem
como o incremento de atividades bancárias, aumentando o índice de emprego e renda.

4.1 O DISTRITO AGROPECUÁRIO


7

Além do projeto de implantação do distrito industrial de Manaus, a Zona Franca também


engloba a criação de um distrito agropecuário, que foi iniciado em 1976, numa área ao norte de
Manaus, teve como finalidade fornecer subsídios técnicos demonstrativos para a agricultura de
terras firmes na Amazônia e ampliar a oferta de produtos agropecuários para o consumo em Manaus
e para exportação.
Para viabilizar o projeto, o governo federal fez investimentos na abertura de estradas
pavimentadas e com toda uma infraestrutura de energia elétrica. Dessas estradas podemos citar a
(BR-174), que liga a cidade Manaus a Boa Vista no estado de Roraima, e também a (AM-010)
Manaus/Itacoatiara, onde se instalaram órgãos de pesquisas e extensão rural, como 2CEPLAC,
3
EMBRAPA, 4IMPA, 5IBAMA e Universidade Federam do Amazonas, além da Suframa e da
Policia Federal.
Por tanto para Figueiredo (2011), o distrito agropecuário planejado para desenvolver
paralelo ao distrito industrial e suprir o mercado de alimentos, não saiu da intenção, apesar de ter
sido destinada uma vasta área especifica para a execução do projeto, e de consumir vultuosas somas
de dinheiro público que foram desperdiçados.
Diferentemente do industrial o polo agropecuário não se firmou, e a economia do
Amazonas continua a se concentrar exclusivamente em Manaus, dependendo quase que 100% das
indústrias instaladas no polo industrial de Manaus.
Em seu livro Estudos de História do Amazonas, Pontes Filho (2000), relata que: enquanto,
ao longo do ciclo da borracha, os benefícios econômicos e sociais basicamente se concentravam na
capital, e, ao menos, o centro da atividade produtiva situava-se no interior, entre os dispersos
seringais, porém no ciclo industrial de Manaus, promovido pela instalação da Zona Franca, a partir
da década de 80 tudo ficou concentrado na capital: tanto as atividades produtivas quanto os
benefícios sociais e econômicos alcançados.
Diante desse contexto observa-se que o interior do estado do Amazonas, passa a viver um
reflexo negativo em virtude da criação da Zona Franca, que atinge, diretamente o setor primário,
principalmente a agricultura familiar, e que praticamente foi deixada de lado pelas populações
rurais, que se deslocaram para a capital, causando assim um verdadeiro êxodo rural.

5. OS IMPACTOS DA ZONA FRANCA NA CIDADE, E NA POPULAÇÃO DE MANAUS

2
Comissão Executiva do Plano Lavoura Cacaueira;
3
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;
4
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia;
5
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
8

Logo após a implantação da Zona Franca de Manaus, a capital amazonense, passou a


receber imediatamente uma grande quantidade de pessoas oriundas de outras regiões do país e
principalmente os habitantes do interior do estado do Amazonas, que migraram para Manaus em
busca de emprego e renda.
Segundo Figueiredo (2011), a cidade de Manaus, nas primeiras três décadas de
funcionamento da Zona Franca, transformou-se numa cidade-problema. Posta à disposição do
grande capital, a cidade teve sua população aumentada de 150.000 no ano de 1967 para 600.000
habitantes em menos de uma década.
Percebe-se que a cidade de Manaus triplicou o numero de habitantes em poucos anos. No
entanto isso aconteceu sem que houvesse uma estrutura capaz de absorver e integrar essa população
ao processo econômico e social, enquanto no interior do estado desagregavam-se e esvaziavam-se
as atividades tradicionais, relata Santos (2011).
Ao entrevistamos nossa fonte oral, o deputado estadual Serafim Corrêa, fizemos a seguinte
pergunta: Se falou que o povo veio realmente, após a instalação da Zona Franca de Manaus com o
objetivo de trabalhar nas indústrias, que precisavam de mão-de-obra, essa mão-de-obra veio
principalmente do interior do estado, causando assim, um inchaço populacional na Capital, e que
não estava preparada para isso, qual a contribuição da Zona Franca para esse crescimento
populacional, e se, o projeto ZFM atingiu seu objetivo inicial?
O projeto alcançou em parte os objetivos propostos. Pois se não tivesse isso, você já
imaginou Manaus sem uma opção como a Zona Franca? O interior está em adversidade
porque não tem atividade econômica, não tem emprego, não tem renda (a agropecuária que
está dentro dos objetivos da Zona Franca, não está atingindo o interior), até porque a
vocação da Amazônia não é pecuária, pecuária pressupõe a derrubada de floresta e hoje
você derrubar uma árvore aqui já é um drama. A Amazônia tem áreas suficientes para criar
gado em locais já desmatadas sem necessidade de desmatar mais, agora tem que explorar
racionalmente isso. Tem pessoal defendendo a plantação de cana e o nosso bioma não
favorece esse tipo de lavoura, isso é equívoco e por outro lado tem a pressão do mundo por
alimentos e o Brasil tem sol o ano inteiro e tem todas essas vantagens, mas o nosso solo é
muito pobre, muita areia, muita argila e não é propício para agricultura e a pecuária tem
esses problemas, claro que no sul do Amazonas (Apuí, Santo Antônio do Matupi, Lábrea,
Humaitá, fronteira com Mato Grosso) tem uma agropecuária muito forte, só que ela está
escoando toda por Rondônia, principalmente pela estrada para Porto Velho que tá um
tapete, a ponte sobre o Rio Madeira está muito boa, de Humaitá pra lá é uma maravilha,
daqui para Humaitá é uma aventura. (CORRÊA, 2018).

Como podemos perceber, existem muitas dificuldades para que ocorra o desenvolvimento
de outras atividades econômicas, como por exemplo: a agricultura e a pecuária, no estado do
Amazonas, para atender o mercado local e também para a exportação. Além disso, existe ainda a
necessidades de preservação ecológica, e também não temos infraestrutura adequada para o
escoamento do que se produz. Esses e outros fatores, até hoje, dificultam a produção e o
abastecimento de Manaus, com produtos vindos do setor primário.
Esses sem dúvidas, são fatores, que contribuíram para que o homem do interior migrasse
para a cidade em busca de melhores condições de vida, muitas vezes sem nenhum tipo de preparo
9

ou condições suficientes para conseguir um emprego no setor industrial de Manaus. Essas questões
no fazem refletir, que se, os governantes tivessem se preocupado também em incentivar o homem
do campo, investindo na capacitação e nas tecnologias agrícolas, poderia tê-los mantidos em seus
lugares evitando assim um grande inchaço e crescimento desordenado da cidade de Manaus.
Conforme Corrêa (2018), Antes da implantação da Zona Franca, Manaus era uma cidade
com bairros projetados e limites definidos geograficamente, e que um dos primeiros problemas de
invasão ocorreu na zona oeste onde foi criado o bairro da Compensa.
Ainda de acordo com Corrêa (2018), o problema da ocupação desordenada na cidade de
Manaus, começou a ganhar grandes proporções a partir do ano de 1968, época em que houve uma
grande enchente no Amazonas: “o povo já não tinha trabalho no interior e aí com a enchente, eles
moravam na beira do rio, vamos para Manaus que lá tem Zona Franca e tem emprego e quando
chegaram aqui, não tinha”.
Dessa forma Manaus foi crescendo rapidamente, seja através de conjuntos habitacionais ou
através de invasões. A partir da década de 1970 o então governador do Amazonas Henoch Reis,
desapropriou um terreno na zona norte de Manaus com o intuito de criar o bairro da Cidade Nova.
Em seguida seu substituto o governador Lindoso deu início as obras construindo as primeiras 1.000
casas, com o intuito de resolver o problema de moradia, que já afetava uma grande parte da
população de Manaus.
Para Souza (2009), o desenvolvimento de Manaus durante o ciclo da borracha acompanhou
o crescimento populacional, sem degradação dos serviços. O oposto ocorreu com a Zona Franca de
Manaus.
O aceno de 50.000 empregos atraiu uma população de migrantes que nunca mais cessou de
aportar em Manaus. A rápida instalação de empresas comerciais, as lojas de artigos
importados que pululavam pelo o centro histórico da cidade, a chegada de empresas
multinacionais no distrito industrial, as firmas de consultoria, os institutos de pesquisas as
novas sucursais de instituições públicas, a horda de turistas em busca de aparelhos
eletrônicos baratos e a vaga de migrantes em busca de novas oportunidades, transformou a
cidade num inferno. (SOUZA, 2009, p.338).

A partir de então, entendemos que, a criação da Zona Franca atraiu para a cidade de
Manaus uma grande quantidade de pessoas vindas de várias regiões do Brasil e principalmente do
interior do estado do Amazonas, fazendo com que a cidade ficasse inchada por não ter estrutura
suficiente para receber essa grande quantidade de novos habitantes.
Para o deputado estadual Serafim Corrêa (20018), o lado positivo da Zona Franca, foi que
ela gera empregos e arrecadação de tributos, onde são partilhados entre a capital e com os
municípios do interior do Amazonas. Esses recursos são privilégios recebidos por conta da
arrecadação de ICMS, gerados pela entrada e saída de mercadorias do polo industrial. O Amazonas
10

é o segundo maior arrecadador de ICMS do país, proporcionalmente, a nossa população aqui é


pequena em relação ao nosso orçamento.
Porém o lado controverso em relação a implantação da Zona Franca de Manaus, foi que a
cidade cresceu desordenadamente devido à grande quantidade de pessoas habitando em seu interior,
causando um certo desastre do ponto de vista social, ambiental e econômico para a cidade de
Manaus.
Podemos perceber que desde a implantação do polo industrial de Manaus, a cidade
progrediu economicamente, porém começou a apresentar reflexos destrutivos, provocados por
ondas de invasões de terras, em todas as suas zonas, que passaram a ser ocupadas e habitadas de
formas irregulares por moradores, que foram invadindo, desmatando e construindo suas casas sem
nenhum planejamento adequado.
Nesse sentido podemos elencar, que houve negligência e planejamento por parte do poder
público que não dispôs de politicas de assentamentos urbano dentro da cidade de Manaus, com o
intuito de alojar os novos imigrantes, que chegavam a todo momento em busca de emprego nas
empresas da Zona Franca.
Muitos desses imigrantes chegavam sem nenhum tipo de instrução e qualificação para
conseguir um emprego e sem terem condições financeiras para se manterem, ocupavam áreas
improprias para fixar suas moradias, construindo casebres, onde fosse possível, principalmente nos
leitos dos igarapés que cortam a cidade, causando dessa forma danos irreparáveis ao meio ambiente.
Por tanto chegamos a conclusão que Manaus se tornou uma cidade, com uma grande
quantidade de bairros sem planejamentos, devido ao grande contingente humano, que triplicou sua
população em pouquíssimo tempo, e que a cidade não se preparou para abrigar essa massa humana
de forma adequada.
Através de nossos estudos chegamos à conclusão de que os grandes benefícios vindos com
a implantação da Zona Franca de Manaus, foram além do crescimento econômico, a preservação
ambiental, justamente por causa do trabalho nas industrias o Amazonas consegue manter de pé sua
imensa floresta.
O fator negativo que podemos evidenciar nesse estudo, cabe mais a falta de planejamento
em si, por parte dos governantes, que incentivaram o desenvolvimento econômico da região através
da instalação da Zona Franca, porém não houve um planejamento adequado, para receber uma
grande quantidade de migrantes, que causaram um grande inchaço populacional na cidade de
Manaus, em busca de empregos nas indústrias que aqui se instalaram.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
11

Esse trabalho apresentou um breve estudo sobre a criação da Zona Franca de Manaus, desde
as especulações sobre a viabilização desse grande projeto, como forma de desenvolvimento da
Amazônia brasileira até a concretização da mesma, de forma que, pudéssemos entender quais foram
os impactos causados pela instalação da Zona Franca, tanto na economia quanto na expansão
demográfica da cidade de Manaus.
Também estudamos sobre quais eram os objetivos da implantação do polo industrial no
meio da floresta amazônica, se os mesmos foram alcançados como previstos no projeto inicial. Para
que nosso trabalho se concretizasse realizamos entrevista com o deputado estadual Serafim Corrêa e
também pesquisas documentais sobre a criação da Zona Franca de Manaus, com o objetivo de
entender como era a cidade de Manaus antes e como ficou depois da implantação do polo industrial.
A pesquisa realizada sobre a Zona Franca de Manaus, foi de extrema relevância para
podermos entender como se deu todo esse processo, e de que forma, ele contribui, para o
desenvolvimento de Manaus e também do estado do Amazonas. A partir desse entendimento nos
qualificamos para escrever esse artigo sobre a criação da Zona Franca e sua influência na cidade de
Manaus.
Através desta pesquisa, podemos afirmar que logo após a implantação da Zona Franca de
Manaus, a capital amazonense, passou a receber imediatamente uma grande quantidade de pessoas
oriundas de outras regiões do país e principalmente os habitantes do interior do estado do
Amazonas, que migraram para Manaus em busca de emprego e renda.
Muitos desses imigrantes chegavam sem nenhum tipo de instrução e qualificação para
conseguir um emprego e sem terem condições financeiras para se manterem, ocupavam áreas
improprias para fixar suas moradias, construindo casebres, onde fosse possível, principalmente nos
leitos
Dessa forma compreendemos que a Zona Franca de Manaus trouxe muitos aspectos
positivos economicamente para Manaus e o estado do Amazonas, porém as oportunidades de
empregos atraíram muitas pessoas, mais até do que a cidade poderia comportar. Por falta de
políticas públicas adequadas a cidade cresceu desordenadamente, e esse é um preço alto que
estamos pagando pelo desenvolvimento da Amazônia.

REFERÊNCIAS
12

BOMFIM, Ronaldo e BOTELHO, Lissandro. Zona Franca de Manaus: Condicionantes do


Futuro. Manaus: Editora Valer, 2009.

CORRÊA, Serafim. DEPUTADO ESTADUAL. (entrevista concedida no dia 10 de abril de 2018).

FIGUEIREDO, Aguinaldo. História do Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2011.

GARCIA, Etelvina. Zona Franca de Manaus: história, conquistas e desafios. Manaus: Norma /
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