Você está na página 1de 98

AMAZÔNIA

PARA QUEM ?

Nonato Bouth
O Professor Nonato Bouth é licenciado pleno em
Geografia pela Universidade Federal do Pará, Pós-
Graduando em Metodologia da Educação Superior pela
Universidade do Estado do Pará, Pós-Graduando em
Planejamento e Gestão do Desenvolvimento Regional pela
Universidade Federal do Pará, mestrando em Gestão e
Auditoria Ambiental pela Fundação Universitária
Iberoamericana – Funiber (SC) e Professor de Geografia dos
Cursos Vestibulares Impacto e Ideal.

O livro é destinado aos alunos que estejam se


preparando para enfrentar as dificuldades dos vestibulares.
Desejo que as mesmas se tornem mais brandas a partir das
instruções e informações contidas neste.

Dedico este livro a minha mãe Cleucy, meu pai Maurício


Bouth, minha esposa Celeste, a meus filhos Michel e
Michelle, a Sra. Julieta do Vale, ao Sr. Bianor Zacarias
(in memorian) e a todas as outras pessoas que em
momentos difíceis ajudaram esse profissional da
educação a proporcionar novas diretrizes aos futuros
universitários.
O presente trabalho procura chamar a
atenção para o significativo processo de
transformações ocorridas no espaço amazônico
ao longo de sua ocupação, desde o século VXI
até os dias atuais. Essas mudanças ocorreram em
âmbito social, econômico, demográfico,
ambiental e até cultural.
Este paradidático procura abordar as
etapas principais de um processo de ocupação
extremamente desordenado. É evidente que
mostraremos tudo isso de uma forma que se
entendam criticamente as repercussões
negativas dessa desestruturação a população
local.
Capítulo I
Amazônia – Diferentes formas de definição
A região Amazônica é uma porção do globo terrestre que dispõe de
aproximadamente 1/5 das reservas mundiais de água doce e ocupa 1/20 da
superfície de nosso planeta, 1/10 da América do Sul e 3/5 do Brasil.
A Amazônia é a maior superfície do globo coberta por floresta trópico-
equatorial e está localizada na porção norte da América do Sul. Ocupa uma
área de aproximadamente 6,5 milhões de Km 2. A Amazônia abrange territórios
de vários países como: Brasil, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador,
Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Porém é o Brasil que tem a maior área
ocupada pela Amazônia. São aproximadamente 56% do território nacional,
fazendo parte desta região os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Roraima,
Rondônia, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e o Oeste do Maranhão.
Esta imensa área, de grande importância geopolítica, engloba a maior
parte da bacia amazônica e faz fronteira com sete países sul-americanos,
abrigando mais de 350 municípios brasileiros, alguns deles muito maiores do
que vários estados do Brasil e nações da Europa. Porém, a sua população é
escassa e mal distribuída, contando, aproximadamente, com 14 milhões de
habitantes (censo de 2000), o que representa pouco mais de 2(dois) habitantes
por quilômetro quadrado.
A Amazônia Legal agrega a maior floresta tropical úmida do mundo. Em
sua biodiversidade se localiza o maior banco genético e a mais vasta província
mineralógica planetária, na qual ocorrem, entre outras, abundantes jazidas de
ouro, cassiterita e de minérios estratégicos de terceira geração, como o urânio,
o titânio, o nióbio.
Ao contrário do que se pensa, não somente de selvas e rios se constitui
o solo amazônico; a região integra florestas (1/3 das reservas mundiais de
florestas latifoliadas) cortadas por inúmeros cursos de água (2/3 das reservas
hidrelétricas do Brasil), cerrados e campos, sendo o seu clima, quente e úmido.
Não apenas por tudo isso, urge que esse espaço brasileiro, arduamente
conquistado no passado heróico, seja efetiva e racionalmente povoado,
guardado e defendido, principalmente nos dias atuais, quando é indisfarçável a
cobiça internacional sobre ele.

REGIÃO NORTE - Região político-administrativa criada pelo IBGE (Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística) e que a partir de 1988 passou a ser
constituída pelos Estados do Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre,
Amapá e Tocantins.
mapa da Região Norte – Fonte: IBGE

AMAZÔNIA LEGAL (AMAZÔNIA BRASILEIRA) - Região de planejamento


criada em 1966 pelo Governo Federal. Tendo como principal objetivo viabilizar
o desenvolvimento da Amazônia a partir das ações da SUDAM
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). É formada por toda a
Região Norte, além do Mato Grosso e Oeste do Estado do Maranhão.

AMAZÔNIA INTERNACIONAL - Além da parte brasileira é compreendida por


outros países sul-americanos como a Guiana Francesa, Guiana, Suriname,
Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Equador.
Capítulo II
A Ocupação do Território Amazônico anterior à
década de 50 do século XX

OS FORTES E AS MISSÕES RELIGIOSAS


O processo de ocupação da Amazônia tem início de forma mais efetiva no
século XVII com a fundação do Forte do Presépio que posteriormente passou a
ser chamado de Forte do Castelo e que culminou com a fundação da cidade de
Belém, em 1616. Esse processo de ocupação tem um caráter visivelmente
militar como demonstra a localização estratégica dos fortes que se espalharam
pelo interior da região amazônica. Os fortes acompanharam o traçado dos rios
que formam a bacia hidrográfica amazônica objetivando a expulsão de
estrangeiros que já ocupavam o território amazônico e dessa forma assegurar
a posse o território a coroa portuguesa.
A fundação de missões religiosas foi realizada por missionários
Capuchinhos, Franciscanos, Carmelitas e Mercedários que promoveram
uma penetração na região ao longo dos rios fundando cidades, lugarejos e
vilas dando uma feição linear ao povoamento. Esse foi outro fator relevante, no
século XVII, que favoreceu o processo de ocupação do espaço amazônico.

AS DROGAS DO SERTÃO E O APOGEU DA BORRACHA


No período compreendido entre o século XVII até o final da primeira
metade do século XX, quando a região Amazônica tinha como base econômica
o extrativismo vegetal, podemos considerar dois momentos de maior relevância
ligados a essa atividade econômica.
O primeiro momento que se iniciou a partir do século XVII, com o
processo da coleta das Drogas do Sertão chegando até o final do século XVIII.
A coleta das Drogas do Sertão, que eram vegetais extraídos da floresta,
especiarias e raízes aromáticas, como: o urucu, o cravo, a canela, o pau-rosa,
a pimenta e a salsa parrilha, objetivava atender as necessidades do mercado
europeu.
No segundo período, entre 1850 e 1912, transcorreu o primeiro momento de
apogeu da Borracha. No século XVIII, já se fazia uso artesanal do látex e foi
com os índios que o colonizador português aprendeu a utilizar a goma elástica.
De início, o sistema funcionava com um sério problema, a escassez da mão-
de-obra, pois a região apresentava um pequeno número de habitantes e
conseqüentemente, um pequeno exército de reserva. A solução veio com a
imigração nordestina, já que nesse momento o sertão enfrentava uma grande
seca e a estrutura fundiária concentradora era bastante excludente na região.
O trabalho de coleta do látex era pesado e arriscado. Após a coleta, os
trabalhadores entregavam as bolas de borracha já defumadas no barracão. Por
fim era dado um crédito ao seringueiro que lhe permitia a aquisição de
determinados produtos que viabilizava a sua sobrevivência. Os preços pagos
pelas bolas de borracha eram baixíssimos enquanto que o preço dos produtos
que o seringueiro necessitava e buscava, no barracão era sempre elevado, o
que conseqüentemente levava o trabalhador a ficar devendo no barracão. Esse
sistema de endividamento constante da mão-de-obra, no caso o seringueiro
perante o patrão, no caso o seringalista, foi denominado de aviamento.
A partir de 1912, as grandes produções dos seringais asiáticos, além da
invenção da borracha sintética foram os principais responsáveis pelo declínio
da produção da borracha na Amazônia.
Entre as conseqüências desse ciclo econômico para o processo de
ocupação do espaço geográfico amazônico, podemos destacar:

 A anexação da área que hoje é o Estado do Acre, ao território brasileiro, em


1903, em decorrência do Tratado de Petrópolis.
 O considerável aumento da população amazônica como reflexo dos
intensos fluxos migratórios de nordestinos.
 A construção, a partir de 1903, da estrada de ferro Madeira-Mamoré que, no
entanto, teve sua construção paralisada a partir de 1912 com a decadência
da produção de borracha na Amazônia.
 O crescimento urbano das cidades de Belém e Manaus.

O PROJETO FORDLÂNDIA E OS SOLDADOS DA BORRACHA (O 2º


PERÍODO DE APOGEU DA BORRACHA)
A partir de 1912 até o final da década de 30, a extração da borracha
passou por um período de grande estagnação econômica. Isso ocorreu devido
à concorrência dos seringais asiáticos que foram cultivados pelos ingleses em
suas colônias desse continente. É nesse período de estagnação econômica,
que a cidade de Belém acaba por suplantar economicamente a cidade de
Manaus, privilegiada por sua posição geográfica, junto ao litoral o que facilitava
a circulação da população, da produção e de capitais, enquanto que a cidade
de Manaus por sua localização mais interior encontrava dificuldades para
desenvolver esse processo de circulação.
No início da década de 40, em decorrência da Segunda Guerra Mundial,
houve a necessidade de um novo impulso à produção de borracha na
Amazônia, pois esse produto foi utilizado para a fabricação de vários artefatos
e equipamentos de guerra. No início da guerra, os seringais da Ásia foram
estrategicamente ocupados por tropas japonesas que apoiavam a Alemanha,
obrigando as tropas aliadas, encabeçadas pelos Estados Unidos, a buscarem
uma nova área para a produção de borracha e atender as suas necessidades.
Em decorrência dessa necessidade é que através do Acordo de Washington,
firmado entre Brasil e Estados Unidos, foi implantado pelo americano Henry
Ford, no oeste do Pará, em áreas de Belterra, o Projeto da Fordlândia e que
historicamente representou o segundo momento de apogeu da Borracha na
região.
No transcorrer desse período, novamente se fez necessária à utilização
da mão-de-obra nordestina em larga escala.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os seringais asiáticos
foram liberados o que proporcionou o desinteresse dos americanos pelo projeto
da Fordlândia. Outro fator que contribuiu para a desativação do projeto foi à
quebra das características naturais do ecossistema amazônico, haja vista que
Henry Ford promoveu a plantação de seringais na Amazônia em áreas de solos
pobres, além de desrespeitar a heterogeneidade do ecossistema cultivando em
série a seringueira, sem a utilização de técnicas adequadas de agricultura.
Dessa forma, as seringueiras fragilizadas facilmente foram atacadas por
pragas. Outro fator relevante foi à relativa carência de mão de obra para dar
continuidade e sustentabilidade aos seringais.
A partir de 1929, um outro fator contribuiu para o processo de ocupação
da Amazônia foi à imigração de japoneses, que na região se fixaram,
principalmente, em áreas do Médio Amazonas e da Zona Bragantina, onde
introduziram, respectivamente, os cultivos da juta (fibra destinada à fabricação
de sacarias e que atualmente é beneficiada em Belém pela CATA –
Companhia de Aniagem e Tecelagem da Amazônia) e da pimenta-do-reino,
sobretudo no município de Tomé-Açu.

Capítulo III

O ESPAÇO AMAZÔNICO NAS DÉCADAS DE 50 E 60


AS MUDANÇAS ECONÔMICAS QUE ALTERARAM O PROCESSO DE
OCUPAÇÃO DO ESPAÇO AMAZÔNICO.

Ao se iniciar a década de 50, o perfil econômico da Amazônia começa a


passar por gradativas mudanças marcadas inicialmente pela decadência do
extrativismo vegetal e a ascensão do extrativismo mineral e da agropecuária.
Fatores internos e externos contribuíram para a mudança desse perfil
econômico, tais como:
Fatores Externos:
 O esgotamento de algumas jazidas minerais no subsolo asiático e
africano que eram exploradas por grandes potências industriais.
 O processo de descolonização afro-asiática que dificultou a
permanência de empresas estrangeiras nesses dois continentes.
Fatores Internos:
 A descoberta de novas jazidas minerais estimulou a implantação
dos Grandes Projetos minerais, contribuindo para a inserção da Amazônia
em um novo processo de acumulação capitalista.
 As políticas públicas para proporcionar a integração da Amazônia
ao capital internacional.
 As crises mundiais do petróleo da década de 70 fazendo com que
as grandes potências industriais promovessem uma reestruturação industrial
em relação ao uso da energia com a maior utilização do carvão mineral e da
energia hidráulica.
 A criação da SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia) que passou a estimular as atividades agropecuárias e minerais
em detrimento do extrativismo vegetal.
 O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) transcorrido no
período de 1975/79 deu novos rumos à política econômica brasileira que
proporcionou um incentivo à produção de bens de produção e proporcionou,
também, a nível regional a maior exploração dos recursos minerais da região
amazônica.

A IMPORTÂNCIA DA SPVEA

A Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia foi


criada em 1953. Surgiu com o objetivo de promover a implantação de planos
econômicos para proporcionar investimentos em quase todos os setores da
economia regional. Esses seriam sustentados pelos recursos de 3% da receita
federal que fora destinado à região por força da constituição de 1946.
No mesmo momento da criação da SPVEA ocorreu, também, a
transformação do Banco da Borracha em Banco de Crédito da Amazônia e a
definição em Lei da "Amazônia Legal".
Alguns investimentos setoriais foram realizados principalmente em infra-
estrutura, com destaque para as rodovias Belém-Brasília (1958-60) e Cuiabá-
Porto Velho (1960). Mesmo com a implantação dessa infra-estrutura, esse
plano acabou por fracassar, pois não cumpriu de forma efetiva o seu objetivo,
haja vista que encontrou sérios obstáculos para concretizá-los, tais como:

 A SPVEA foi o primeiro órgão, no Brasil, criado com a finalidade


de valorizar uma região e conseqüentemente apresentava uma inexperiência
em relação a esse processo.
 A grande extensão do território Amazônico que ficou sob a sua
administração, pois no mesmo ano que foi criada a SPVEA foram anexados
ao território regional o Mato Grosso e o Norte de Goiás (área que hoje
representa o Estado do Tocantins).
 A carência de mão-de-obra qualificada para que a mesma
pudesse elaborar e implementar os planos de valorização.
 Por questões político partidárias ocorreu o desvio de verbas
públicas federais que eram destinadas a SPVEA, para que a mesma
implantasse na região obras de infra-estrutura para promover à sua
valorização.

CRIAÇÃO DA SUDAM E A EXTINÇÃO DA SPVEA

A OPERAÇÃO AMAZÔNICA

Na década de 60, quando os militares ascenderam ao poder, os mesmos


passaram a adotar uma nova política para a região amazônica, denominada de
Operação Amazônica. Essa operação, basicamente, visava promover o
desenvolvimento da região.
Em decorrência dessa nova política, se fez necessária à extinção da
SPVEA e do Banco de Crédito da Amazônia que eram órgãos de valorização
para a Criação da SUDAM e do BASA (Banco da Amazônia). A partir de então,
esses dois órgãos passaram a ser os principais responsáveis pelo
desenvolvimento regional através do incremento de forma considerável de
incentivos fiscais, regulamentados por lei em 1968. Segundo a lei que criou a
SUDAM, as suas principais atribuições eram de coordenar as ações do
governo federal na área que ficou sob sua administração e planejar o
desenvolvimento regional. Em decorrência dessas atribuições e do mecanismo
de incentivos fiscais, empresas privadas poderiam obter até 100% de isenção
do imposto de renda, em média isso ocorria por 15 anos, dentre outros
benefícios do fisco. Tudo isso correspondia à estratégia do governo militar para
atrair investimentos para a viabilização da implantação de projetos industriais,
minerais e agropecuários na região.
Em decorrência dessa nova postura dos militares para a Amazônia foi
implantada, em 1967, a SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de
Manaus), com o objetivo de coordenar e administrar o pólo industrial que foi
instalado na cidade de Manaus.
Considerando essa nova postura política ao Estado, caberia a
implantação de toda uma infra-estrutura na região, primordialmente energia e
transporte como forma de incentivar a implantação desses projetos econômicos
na Amazônia.

O PROJETO JARI E A ZONA FRANCA DE MANAUS

Em 1967, dois grandes investimentos foram alocados na Amazônia, os


Projetos Jarí e a Zona Franca de Manaus.
PROJETO JARI

Projeto agromineral dos anos 60, criado pelo multimilionário Daniel


Keith Ludwig, e vendido a empresários brasileiros, depois da aquisição
federal. Tem sede na vila de Monte Dourado, ocupando uma extensão de
mais de 3 milhões de hectares, cujo eixo é o rio Jari, que desemboca na foz
do Amazonas.
Foi planejado, inicialmente, para produzir celulose, por meio de uma
fábrica adquirida no Japão, junto a uma usina termelétrica, ambas instaladas
na cidade de Munguba (AP). Também visava a criar gado, produzir arroz e
extrair caulim e bauxita.
O Projeto apresenta expressão apenas regional, marcando o cotidiano
de duas cidades, Mazagão (AP) e Almerim (PA). Foi muito criticado,
notadamente como exemplo de multinacionalização da economia interna, ou
ainda de formação de uma tríplice aliança entre capital internacional, o
nacional privado e o estatal.
O Projeto Jarí esta localizado em uma área abrangendo terras dos
Estados do Pará e do Amapá. Esse projeto foi idealizado pelo americano
Daniel Ludwig e foi inicialmente constituído por um projeto de característica
florestal/industrial, pois ocorreu a retirada da vegetação nativa para a
introdução de empecíeis de pinos como a gmelina arbórea e o pinnus caribe
visando a produção da celulose para a indústria do papel; um projeto mineral
devido a extração do caulim para promover o clareamento do papel e um
projeto agropecuário baseado na rizicultura de várzea e na criação de
bubalinos que no entanto logo foi abandonado. O projeto Jarí passou por séria
crise econômica, mas atualmente devido à entrada no projeto do grupo Orsa o
mesmo esta se revitalizando.
LARANJAL DO JARÍ

O município de Laranjal do Jarí surgiu para abrigar a mão de obra


temporária do Projeto Jarí, empreendimento industrial criado pelo magnata
norte-americano Daniel Ludwig na década de 70. O rio Jarí oferece praias
fluviais e se pode praticar a pesca esportiva pois se pode encontrar peixes em
abundancia.

Localiza-se a margem esquerda do rio Jarí, que separa o Estado do


Amapá do Pará. Nasceu do "Beiradão" um povoado que ficou conhecido como
a maior favela fluvial do mundo. O Município do laranjal do Jarí é privilegiado,
possui um potencial turístico com riquezas diferenciadas onde se localiza
várias unidades de conservação como a Estação Ecológica do Jarí, a Reserva
Extrativista do rio Cajari, a Área Indígena Waiãpi, o Parque Nacional das
Montanhas do tumucumaque e a Reserva do Desenvolvimento Sustentável do
rio Iratapuru. Sua atividade econômica é voltada para o extrativismo vegetal
como a colheita da Castanha do Brasil e outras culturas como o milho,
mandioca e abóbora, na pecuária possui pequenos rebanhos formados por
bovinos e bubalinos. A indústria apresenta alguma estrutura nos subsetores do
extrativismo mineral, construção civil e de transformação, ocasionando baixa
diversificação e pouca representatividade.

A ZONA FRANCA DE MANAUS

Em decorrência dessa nova postura dos militares para a Amazônia foi


implantada, em 1967, a SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de
Manaus), com o objetivo de coordenar e administrar o pólo industrial que foi
instalado na cidade de Manaus.
Considerando essa nova postura política ao Estado, caberia a
implantação de toda uma infra-estrutura na região, primordialmente energia e
transporte como forma de incentivar a implantação desses projetos econômicos
na Amazônia.
A zona Franca de Manaus e administrada pela SUFRAMA e na sua
origem também foi baseada em um tripé constituído por um projeto industrial
inicialmente formado por montadoras e hoje por fábricas propriamente ditas
principalmente de produtos eletro-eletrônicos; um projeto comercial, pois é uma
área de livre comercio e um projeto agropecuário que não logrou o êxito
esperado.
A Implantação na Zona Franca em Manaus proporcionou um
revigoramento econômico e populacional da cidade e consequentemente a
intensificação de problemas sociais. Atualmente Manaus é considerada a
metrópole da Amazônia ocidental e é uma das cidades que mais cresce
economicamente no país.
TEXTO COMPLEMENTAR

ZONA FRANCA DE MANAUS


http://www.manausonline.com

Em 1950 o Deputado Federal Francisco Pereira da Silva idealizou a


criação do Porto Franco de Manaus e encaminhou à Câmara Federal o projeto
nº. 1.310 que, após receber emendas, foi aprovado em 23 de outubro de 1951.
Em 6 de junho de 1957 o presidente Juscelino Kubitschek sancionou a Lei nº.
3.173 que criava não o Porto Franco, mas a Zona Franca de Manaus,
regulamentada posteriormente pelo Decreto nº. 47.757, de 2 de fevereiro de
1960.

O Deputado Pereira da Silva foi o primeiro superintendente da Zona


Franca, recebendo posse no dia 19 de abril de 1960 e aí permaneceu até 14 de
setembro daquele ano.

Durante dez anos a Zona Franca de Manaus manteve-se restrita a um


galpão alugado pela Manaus Harbour (Porto de Manaus), dependente de
verbas federais insuficientes, o que talvez explique a falta de credibilidade do
projeto.

Finalmente, em 28 de fevereiro de 1967, através do Decreto-Lei nº. 288,


assinado pelo então Presidente Castelo Branco, houve a reformulação e
ampliação do modelo Zona Franca de Manaus e o Decreto nº. 291, da mesma
data, permitiu a extensão da área dos incentivos fiscais a toda a Amazônia
Ocidental (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima), dotando a região de
condições que permitissem o seu desenvolvimento e a sua segurança, em
razão do isolamento econômico a que ficou relegada ao fim do ciclo da
borracha e, também, por ser uma das regiões mais cobiçadas do mundo. Em
28 de agosto do mesmo ano o Decreto 61.244 criou a Superintendência da
Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, órgão do governo federal encarregado
da administração dos incentivos fiscais da Zona Franca, com patrimônio
próprio, e autonomia administrativa e financeira. A área de abrangência da
Zona Franca, em Manaus, foi estabelecida em 10.000 km², com um Distrito
Industrial e um Distrito Agropecuário, constituindo uma zona de livre comércio,
zona industrial e zona agropecuária que oferece isenção ou redução de
impostos e taxas alfandegárias e de outros custos sobre a entrada e saída de
matéria-prima e produto acabado, criando condições de igualdade com outros
centros econômicos do país, de forma a atrair novos investimentos.

Nos primeiros anos após a sua reformulação e ampliação a Zona Franca


de Manaus tornou-se um grande shopping center para os brasileiros de todas
as regiões, já que havia restrições às viagens de brasileiros ao exterior e as
pessoas encontravam em Manaus as novidades importadas do primeiro mundo
e que ainda não estavam disponíveis no mercado interno. Por conta dessa
corrida às compras a cidade teve uma explosão em todas as atividades,
principalmente na comercial e, segundo dados da Junta Comercial do
Amazonas, só em 1967 foram registradas 1.339 novas empresas.
Naquela época não havia limites para as importações, com restrições
apenas para armas e munições, fumo, bebidas alcoólicas, automóveis de
passeio e perfumes, cuja importação só poderia ser feita mediante o
pagamento de todos os impostos. Mas a partir de 1976 o Governo Federal
fixou uma quota de bagagem para os passageiros que saíam da ZFM, e os
turistas brasileiros, que vinham somente para fazer compras, aos poucos foram
esquecendo Manaus, já que a sua lucratividade fora reduzida também pelos
altos custos com passagens aéreas e hospedagem.

Com novas pressões da indústria nacional, o comércio da ZFM passou a


importar apenas os produtos que ainda não eram fabricados no Brasil, como
medida de proteção à indústria instalada em outras regiões do País,
principalmente a Região Sudeste, que iniciou uma luta pelo fim da ZFM.
Tornaram-se constantes os ataques através da mídia ao modelo Zona Franca
de Manaus, que a cada dia, porém, provou ser um exemplo sério de trabalho,
que não só favorece a Amazônia Ocidental, mas todo o País.

No final da década de 1970 vieram a total liberação das viagens de


brasileiros ao exterior e a permissão para entrada no Brasil de bagagem
procedente do exterior, até cem dólares, sem qualquer imposto. A partir de
1990 a abertura econômica e a liberalização das importações reduziu ainda
mais o atrativo comercial de Manaus e o turismo, que até então era
predominantemente doméstico, voltou-se para a natureza da região, atraindo
mais os visitantes estrangeiros, em busca de pescarias e passeios pela
fabulosa Bacia Amazônica.

Os primeiros projetos industriais começaram a se implantar em 1972 e


hoje compõem o Pólo Industrial de Manaus (PIM), com mais de 450 fábricas de
grande, médio e pequeno porte, com faturamento anual de 18,9 bilhões de
dólares e exportações superiores a 2,2 bilhões de dólares (ano 2005), que
fazem a maior quantidade da produção brasileira de televisores e monitores
para PC, inclusive de LCD e plasma, cinescópios, telefones celulares,
aparelhos de som, DVD players, relógios de pulso, aparelhos de ar
condicionado, bicicletas e motocicletas, e outros, oferecendo mais de 100 mil
postos de trabalho. Ao todo são aproximadamente 500 mil empregos diretos e
indiretos (fonte: SUFRAMA). A Constituição Federal de 1988 previa a
manutenção dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus até o ano de
2013, mas a Emenda Constitucional nº. 42, de 19 de dezembro de 2003,
estabeleceu a sua prorrogação até o ano de 2023.

Em 1967, quando a Zona Franca foi efetivamente instalada, Manaus era


uma cidade pacata, com não mais que 300.000 habitantes, mas a partir daí
teve seu crescimento acelerado e em 2005, conforme projeções do IBGE,
chegou a mais de 1,6 milhão de habitantes, assumindo o lugar de oitava maior
cidade do País, e quarta cidade mais rica entre os municípios brasileiros, atrás
apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (DF).

O viajante que desembarcar em Manaus, trazendo bens de origem


estrangeira, como filmadora, máquina fotográfica, notebook etc., terá que
apresentá-los à Alfândega, para fazer a ressalva e evitar tributação por ocasião
da saída.
Na saída de Manaus os viajantes têm direito de levar em sua bagagem:

- Até US$ 50.00 FOB, para bebidas não alcoólicas e comestíveis;


- Até US$ 2,000.00 FOB para objetos de uso próprio, doméstico ou profissional
do viajante, máquinas ou aparelhos eletrônicos;

PROJETO RADAM

No final da década de 60 também foi implantado o Projeto RADAM. Esse


pode ser considerado o primeiro grande esforço a nível regional para
proporcionar o levantamento das características naturais da região. O Projeto
RADAM compreendeu levantamentos de cartografia, relevo, geologia, solos,
drenagem e cobertura florestal, através de imagens de radar e sensoriamento
remoto.
Com o relativo sucesso do projeto no primeiro momento, o mesmo passou
a atuar em uma área de maior abrangência até atingir todo o território
amazônico e em seguida todo o território nacional, quando passou a ser
denominado de Projeto RADAMBRASIL.
Dessa forma, o projeto original, no caso o RADAM foi extinto em 1985,
passando a maior parte de seus técnicos a fazer parte do quadro de
funcionários do IBGE.

Capítulo IV

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA


NA DÉCADA DE 70

A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL (PIN)


Dentre as ações recentes do Estado para promover o processo de
ocupação da Amazônia, a que merece maior destaque é a implantação do
Programa de Integração Nacional (PIN), em 1970 durante o governo de Emílio
Médici, com o intuito de promover à integração da Amazônia a economia
nacional.

1970  AÇÕES DO GOV. MILITAR  PIN 


AUMENTO DO NÚMERO DE EIXOS RODOVIÁRIOS E
PROJETOS DE COLONIZAÇÃO (AGROVILAS,
AGRÓPOLES E RURÓPOLES).
A construção da rodovia Transamazônica (BR-230) proporcionou a
ligação do Nordeste brasileiro a Amazônia Ocidental. Outra rodovia construída
foi a Cuiabá-Santarém (BR-163) que passou a interligar o Centro-Oeste
brasileiro a parte oeste do Estado do Pará.

Com a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária


(INCRA) foram desenvolvidos junto às rodovias projetos oficiais de colonização
dirigida. Essa colonização foi proposta a ser implantada dentro de uma área
que representava 100 Km de largura ao longo das rodovias e que seriam
assentados nos mesmos, principalmente, homens oriundos da região Nordeste.
As bases para esses assentamentos foram à criação de agrovilas,
agrópoles e rurópoles, espécies de núcleos urbanos-rurais a partir dos quais se
firmariam os assentamentos. Esses projetos de colonização realmente foram
implantados, sobretudo ao longo da transamazônica, no trecho paraense.
A estratégia governamental para promover esses projetos de
assentamento foi baseada no lema "terra sem homens, para homens sem
terra".
Na verdade, grande maioria desses projetos de colonização pela carência
de infra-estrutura não obteve sucesso. Esse insucesso dos projetos de
colonização proporcionou sérias conseqüências aos meios urbano e rural da
região, pois o homem sem a infra-estrutura necessária para trabalhar a terra
não se fixou adequadamente na mesma. Os homens abandonaram a terra e
passaram a lutar por outras de melhor qualidade o que proporcionou a
intensificação dos conflitos fundiários na região, principalmente no Pará, ao
longo da rodovia transamazônica, na área do Bico do Papagaio e em
Rondônia, ao longo da rodovia Cuiabá-Porto Velho. Em relação ao meio
urbano, a não fixação do homem na terra fez com que o mesmo executasse o
êxodo rural em direção a cidades da região, promovendo o inchaço
populacional das mesmas e refletindo em grandes problemas de âmbito social.
Trecho da Rodovia Transamazônica (BR-230) Fonte: Incra

No entanto, vale ressaltar que poucos desses projetos de colonização


acabaram por obter um relativo sucesso e a conseqüência disso foi à formação
de pequenos núcleos urbanos na região como Colorado do Oeste (RO) e
Tucumã (PA).
Além disso, outros objetivos do governo militar estavam atrelados à
implantação do PIN, tais como:

 Promover uma maior integração e incentivar o fluxo migratório em


direção à região para favorecer um melhor povoamento da mesma, assim,
visando assegurar a soberania do território amazônico. É nesse contexto
que, o governo militar se utiliza do lema "Integrar para não entregar".
 Assentar na Amazônia homens sem terra oriundos das outras
regiões como forma de minimizar os conflitos fundiários no Nordeste e no
Centro-Sul. É nesse momento que, a região amazônica funciona como área
de escape para atenuar os conflitos pela posse da terra que já ocorriam
intensamente, principalmente no Nordeste do país.
 Aumentar o contingente populacional da Amazônia com a
intenção de formar um exército de reserva, que posteriormente, poderia ser
utilizado para levantar a estrutura de construção civil dos grandes projetos
minerais, como também na prática de outras atividades econômicas.
ALTERAÇÕES NO ESPAÇO AMAZÕNICO A PARTIR DA MAIOR
IMPORTÂNCIA DAS RODOVIAS

A partir da implementação das rodovias do Programa de Integração


Nacional (PIN), o espaço amazônico passou a iniciar um processo de
reorganização, com as seguintes mudanças:

 A perda de importância sócio-econômica dos núcleos urbanos


localizados próximos aos rios e que dependiam exclusivamente desse tipo
de circulação.
 O surgimento e o crescimento de núcleos urbanos ao longo das
rodovias.
 O surgimento de centros urbanos regionais passou a ser influenciado
economicamente e socialmente pelas vias fluviais e pelas rodovias.
 Ocorreu uma redefinição e uma maior complexidade da rede urbana
amazônica, pois passou a ocorrer uma maior circulação de pessoas,
mercadorias e capitais pelas rodovias. A rede urbana deixa de ser
predominantemente dendrítica (as cidades e seu processo de circulação
dependiam fundamentalmente dos rios), para ser predominantemente
complexa (as cidades e seu processo de circulação passam a depender
fundamentalmente das rodovias).
 Ocorreu uma maior integração da Amazônia com as outras regiões do
Brasil.
 A intensificação de fluxos migratórios em direção as áreas localizadas as
proximidades das rodovias.
 Uma maior valorização das terras localizadas ao longo das rodovias.
 Maior degradação dos recursos naturais da região.
 Apropriação dos recursos pelo grande capital.
As Características da Estrutura Fundiária Brasileira

Classificação das propriedades agropecuárias de acordo com a


forma de utilização da terra

Em 1964, com a criação do Estatuto da Terra, as propriedades rurais brasileiras foram


classificadas de acordo com o tamanho do módulo rural.
Módulo rural é uma propriedade que deve ser suficiente para assegurar a uma família
sua subsistência, além de oportunidades de progresso. Seu tamanho varia de uma região para
outra, conforme as condições geográficas, ou seja, numa região fértil, o módulo rural será
menor que numa região de solos menos produtivos.
De acordo com o padrão de módulo rural regional, os imóveis classificam-se em
minifúndios, empresas rurais, latifúndios por exploração e latifúndios por dimensão.
O minifúndio corresponde a todo imóvel com área explorável inferior à do módulo rural
fixado para sua região.
A empresa rural é o imóvel explorado economicamente e racionalmente, com pelo
menos 50% de sua área agricultável sendo utilizada e cuja dimensão não exceda em 600
vezes a do módulo da região em que se situa.
O latifúndio por exploração é o imóvel que, não ultrapassando os limites da empresa
rural, é mantido inexplorado ou é inadequadamente explorado.
O latifúndio por dimensão é o imóvel que excede a 600 módulos rurais, sendo
mantido inexplorado ou é inadequadamente explorado.
Fonte: Incra

OS PRINCIPAIS MOVIMENTOS DE TRABALHADORES RURAIS

MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)


É o maior e mais antigo,
fundado em 1984. Atua em 23
Estados e tem 90.000 famílias
acampadas em todo o país. Faz
ocupações de terra e de prédios
públicos, destrói plantações de
produtos transgênicos, organiza greves de fome e marchas nacionais.

MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra)


Nasceu em 1994, tem acampamentos em sete estados – Maranhão, Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Pará, Bahia, Minas Gerais e São Paulo. É formado por militantes de extrema esquerda. É
ainda mais radical que o MST. Prega abertamente a tomada do poder pela força, além de uma revolução
socialista a partir do campo.

MLT (Movimento de Luta pela Terra)


Surgiu em 1994, no sul da Bahia, com o desemprego provocado pela crise das
fazendas de cacau da região. Está organizado em quatro Estados: Minas Gerais, Bahia,
Sergipe e Pará. Reúne 4.000 famílias, das quais 1.000 já foram assentadas. Adota as mesmas
táticas do MST: ocupações, acampamentos de beira de estrada e ocupações de prédios
públicos.

MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores)


Nasceu há menos de três anos, na região cortada pela rodovia Belém-Brasília. Tem
sua base em São Domingos do Capim, Irituia, Paragominas e Aurora do Pará. Reivindica a
anulação dos títulos de propriedade concedidos pelo Iterpa na década de 70 a dezenas de
grandes latifundiários, a quem acusa de grilagem de terras públicas.
Fonte: O Liberal, 04/07/04 - PERFIL
PROGRAMA DE PÓLOS AGROPECUÁRIOS E
MINERAIS DA AMAZÔNIA (POLAMAZÔNIA)

Em 1974, as ações do governo militar proporcionaram a criação do


POLAMAZÔNIA (Programa de Pólos Agropecuários e Minerais da Amazônia)
que efetivou a criação de 15 pólos, ou seja, 15 áreas que objetivavam
favorecer o desenvolvimento da prática industrial, agropecuarista e mineral na
região, além de proporcionar a evolução dos núcleos urbanos, como também
promover a implantação de uma melhor infra-estrutura e um melhor
povoamento das áreas através do incentivo a imigração como forma de
gerenciar a formação de mão de obra.
O POLAMAZÔNIA implicou em uma maior alocação de recursos nas
áreas pré-selecionadas objetivando a dispersão desses recursos e confirmando
uma política de ocupação da região baseada na concentração de investimentos
em Grandes Projetos privados e estatais que poderiam proporcionar maior
lucratividade e um maior retorno financeiro em curto prazo.
POLAMAZÔNIA - Programa de Pólos
Agropecuários e agrominerais da Amazônia -
Ministério do Interior - Agricultura e Transporte:
concentrar recursos em áreas selecionadas
visando o estímulo de fluxos migratórios, elevação
do rebanho e melhoria da infra-estrutura urbana.
In Becker, Bertha K. – Amazônia, Editora Ática –
3ª edição – série princípios.
Segundo Clara Pandolfo, a estratégia do POLAMAZÔNIA representou
uma tentativa de retomar o plano anterior de colonização, mas, agora, a base
de uma ocupação seletiva de espaços e setores, impulsionando pólos de
desenvolvimento, em locais de potencialidades já identificadas, concentrando
nesses pólos a ação governamental.

O Programa Polamazônia de 1974 a 1980

No cume do período do "milagre econômico" brasileiro, a mentalidade


predominante do Eldorado envolveu a exploração econômica setorial e a quase
ilimitada distribuição territorial da periferia da Amazônia. O setor operacional,
permitido a atividades de business privado, aumentou enormemente, tornando-
se com isso o novo foco central da estratégia de desenvolvimento. A
explicação oficial para essa decisão foi a primeira crise do preço do petróleo,
forçando o governo a cancelar investimentos por causa das sérias
conseqüências financeiras das dispendiosas importações de petróleo.
Nessa segunda fase, as estratégias de planejamento regional na
Amazônia foram concentradas no conceito de pólos de crescimento, tema
discutido na América Latina desde meados dos anos 1960. Os pólos de
desenvolvimento previstos no Segundo Plano de Desenvolvimento Nacional
(1975-79) foram baseados em pontos focais setoriais separados como, por
exemplo, extração de recursos minerais ou áreas de criação de gado com
possível processo industrial.
Investidores de capital nacional e internacional foram atraídos por
reduções consideráveis de taxas tributárias e também por outros benefícios.
Tornou-se vantajoso para bancos, companhias de seguro, mineradoras e
empresas estatais, de transportes ou de construção de estradas investir na
devastação da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criação de
gado, com subsídios oficiais, realizando a exploração das terras a preços
baixos. Os tradicionais fazendeiros de gado no Brasil trabalharam como
subcontratados em grande escala. As fazendas de gado — a área máxima
oficial era de 60 mil hectares, mas na realidade havia ainda as fazendas da
Volkswagen do Brasil, com 140 mil hectares, ou a da multinacional Liquigas
Group, com 566 mil hectares, e muitas outras mais — foram responsáveis pela
enorme destruição das florestas tropicais, principalmente nas regiões do
sudeste e do leste do estado do Pará e na parte norte do Mato Grosso. Em
meados dos anos 1980, os projetos oficiais de fazendas de criação de gado
ocupavam quase que 9 milhões de hectares. De um total de 350 mil km2 de
terra adquiridos pelas fazendas de gado, uma área florestal de cerca de 140 mil
km2 foi destruída (Kohlhepp, 1987a).
A rápida expansão de desmatamento por queimada em projetos de
fazendas de gado causou danos irreparáveis aos ecossistemas, como erosão,
perda de nutrientes por escoamento, encrostamento da superfície e distúrbios
no balanço de águas. Além disso, a especulação de terra causou sérios
problemas e conflitos violentos entre as populações indígenas e posseiros. Por
causa da rápida degradação de pastos, a criação de gado tornou-se atividade
econômica sem lucro, fazendo com que as manadas diminuíssem
consideravelmente nos anos posteriores. O cancelamento de incentivos fiscais,
anos mais tarde, acabou com novas iniciativas de pecuária.
A exploração de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos
programas de desenvolvimento da Amazônia. Muitas licenças de exploração de
jazidas de grande extensão foram cedidas a empresas nacionais e
internacionais. Depois que os minérios manganês e cassiterita começaram a
ser explorados no Amapá e em Rondônia a partir de meados dos anos 1950 e
1960, as novas descobertas de enormes jazidas de minério de ferro na serra
dos Carajás, de bauxita no rio Trombetas e também de ouro e diamantes
revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazônia, sendo iniciados
grandes projetos na região, nos anos 1980.
No Programa Polamazônia, o conceito dos pólos de crescimento foi mal
interpretado e o resultado não foi a "concentração descentralizada" de
desenvolvimento, mas sim o aumento das disparidades do desenvolvimento
inter e intraregional. A periferia tornou-se mais dependente do centro, em nível
nacional e internacional. Em vez de pólos de crescimento com impulsos de
desenvolvimento irradiantes, surgiram enclaves, mantidos artificialmente
(Kohlhepp, 1997). Modernização conservadora "de cima", exercida pelos
governos militares que incorporavam o setor privado às elites regionais e
nacionais por incentivos fiscais, tinha que manter a aparência democrática de
modo a não colocar em perigo créditos internacionais.
A administração militar via o seu desempenho como líder, como único
protagonista capaz de realizar modernização através de planejamento racional
(Becker/Eger, 1992) e o componente regional era, muitas vezes, tratado de
maneira superficial.

Capítulo V

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA


NA DÉCADA DE 80
A DÉCADA DOS GRANDES PROJETOS

Os grandes projetos são empreendimentos econômicos voltados para a


exploração dos recursos naturais da Amazônia e se caracterizam pela
grandiosidade das construções, pela quantidade de mão-de-obra neles
empregada e pelo volume de capital investido. Além disso, são projetos que
utilizam tecnologia avançada e exigem uma infra-estrutura constituída de
portos, ferrovias, energia elétrica, aeroportos, núcleos urbanos e etc.., para dar
apoio ao desenvolvimento dos mesmos.

Esses projetos são considerados verdadeiros “enclaves” na região, pois


estão dissociados do contexto local, são planejados fora da sua área de
atuação e muito distante dos interesses e necessidades da população local.
Que motivos levaram a região amazônica a despertar interesse do
Governo e de grandes empresas para ser o local de instalação dos Grandes
Projetos?

O primeiro deles foi o de poder dispor de imensas áreas de terras, o que


significa a possibilidade de utilização do espaço para a instalação desses
projetos e da infra-estrutura moderna que eles exigem para o seu
funcionamento. Outro motivo foi o de poder contar com as riquezas naturais
existentes em abundância na Amazônia, bem como o apoio do Governo
Federal para implantação desses empreendimentos.

Em decorrência da nova política do governo militar para a Amazônia que


em 1980 foi criado o Programa Grande Carajás (PGC), com o intuito de passar
a explorar em larga escala e de forma integrada os recursos naturais da
Amazônia Oriental. Fazem parte desse programa, os projetos AIbras-Alunorte,
Alumar, Trombetas, Tucuruí e Ferro-Carajás.

Fonte: Bertha Becker, Amazônia, p.66.

PROGRAMA GRANDE CARAJÁS

Na década de 80 foi criado o Programa Grande Carajás (PGC) com o


objetivo de promover a exploração, em larga escala, dos recursos naturais da
Amazônia Oriental.
Para a implantação desse Programa e dos projetos que comporam o
mesmo, teve que ocorrer a efetiva participação do Estado brasileiro na
montagem de uma infra-estrutura necessária para que esses projetos
pudessem funcionar de forma adequada. Entenda como infra-estrutura as
condições como energia e transporte, entre outras, que no caso viabilizariam a
exploração dos recursos naturais e o escoamento dos mesmos visando à
exportação.
“A exploração de recursos minerais em grande escala configura em a nova fase... Ao lado da busca de ouro nos garimpos, já
antiga na região, grandes projetos minerais, controlados por JOINT-VENTURES, empresas estatais e/ou estrangeiras, iniciam a nova fase
industrial... dos anos 80. Emergem então a complexidade e a ambigüidade do modelo econômico seguido pelo Brasil. A implantação de
grandes projetos é parte da construção de uma economia planetária por corporações transnacionais, mas é também, em nosso entender,
uma forma contemporânea de afirmação do Estado nacional: a multinacionalização de empresas estatais. Embora dependente em grande
parte do capital internacional, é para ingressar na era tecnológica e competir com as empresas estrangeiras que o Estado cria condições
para a produção de espaços transnacionais por suas empresas estatais” .Bertha K. Becker. – AMAZÔNIA – Série Princípios, Ed. Ática.

A implantação de Grandes Projetos na Amazônia trouxe sérios impactos


sócio-ambientais e econômicos a região, tais como:
 Os recursos naturais passaram a ser explorados de forma intensa e
desordenada.
 A construção de obras de infra-estrutura que servem de sustentáculos
aos projetos como ferrovias, hidrelétricas e portos foram basicamente
construídos com capital estrangeiro o que proporcionou o aumento
significativo da dívida externa brasileira.
 A desestruturação da economia regional que gradativamente deixou de
ser tipicamente extrativa vegetal para ser extrativista mineral.
 Não ocorreu a geração de empregos para absorver a contento a mão de
obra local.
 Ocorreu uma relativa quebra a identidade cultural da população local
devido o grande fluxo de migrantes em direção a região sabendo-se que
os mesmos trouxeram seus valores sócio-culturais.
A HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ

Essa hidrelétrica foi construída no rio Tocantins e se constitui na grande


obra de infra-estrutura de produção de energia para atender aos principais
projetos minerais implantados na Amazônia Oriental.

Vista do vertedouro fechado da hidrelétrica de Tucuruí


Foto: Nonato Bouth

Embora seja uma obra necessária para viabilizar o funcionamento de


determinados projetos, a construção da hidrelétrica de Tucuruí proporcionou a
geração de sérios impactos sócio-ambientais, com destaque para:
 O represamento do rio Tocantins obstruiu a navegabilidade na
totalidade de seu curso.

Lago da hidrelétrica de Tucuruí, no município de Jacundá

 O represamento do rio proporcionou a formação de um lago que


ocasionou a inundação de uma extensa área adjacente comprometendo a
vida da população ribeirinha que sofreu um remanejamento, como também
perdeu suas áreas de várzea onde praticava uma agricultura de
subsistência.
 O represamento também provocou dificuldades para a efetivação
do fenômeno da piracema.
 Com a barragem ocorreu a diminuição da velocidade da água e
consequentemente menor produção de oxigênio nas águas daí dificuldades
para a reprodução das espécies animais e vegetais do rio ou até mesmo a
morte quase imediata dessas espécies tudo em função do alto grau de
poluição das águas devido à decomposição da vegetação que ficou
submersa pelas águas.
A construção das eclusas no rio Tocantins poderá resgatar o processo
de navegabilidade em todo o rio Tocantins.

A HIDRELÉTRICA DE BALBINA
Hidrelétrica de Balbina Características
Rio Uatumã, no Estado do
Localização Amazonas.
Atender as necessidades de
Objetivo energia da cidade de Manaus e do
parque industrial da Zona Franca.
 Por erros técnicos a hidrelétrica
foi construída em parte rasa do rio
Uatumã, conseqüentemente a
produção de energia é insuficiente
Impactos para atender as necessidades de
Manaus.
Sócio-Ambientais
 Inundação de uma extensa área
provocando o remanejamento dos
índios Waimiri-atroari.

HIDRELÉTRICA DE SAMUEL

Hidrelétrica de Samuel Características


Rio Jamari, no Estado de
Localização
Rondônia.
Atender as necessidades de
Objetivo energia de Porto Velho e áreas
próximas.
 Os impactos ambientais
foram minimizados, pois a
Questão Ambiental mesma teve seu projeto de
construção coincidindo com a
realização da ECO-92 no Rio
de Janeiro.

O PROJETO TROMBETAS E O COMPLEXO ALBRAS-ALUNORTE

O Projeto Trombetas foi implantando na década de 70 objetivando a


exploração comercial da Bauxita encontrada no município de Oriximiná, no
Oeste Paraense. A exploração da Bauxita é feita pela mineração Rio do Norte
que compõe a Companhia Vale do Rio Doce. O beneficiamento é feito pelo
complexo Albras-Alunorte, localizado em Barcarena, no Pará.
Fonte: Mineração Rio do Norte

A bauxita inicialmente é beneficiada para a obtenção da alumina e


posteriormente é transformada em alumínio.
Atualmente, a fábrica responsável pela transformação da bauxita em
alumina é a Alunorte que entrou em atividade efetiva em 1995, porém a
produção de alumínio pela Albrás é basicamente realizada desde a segunda
metade da década de 80. Neste caso é necessário frisar que antes do
funcionamento da Alunorte, a Albrás recebia alumina proveniente da Alumar,
no Maranhão ou então alumina importada de outros países, como o Canadá e
a Guiana.
A extração da bauxita em Oriximiná proporcionou um grande impacto
ambiental relacionado ao assoreamento do lago batata, porém atualmente
encontra-se relativamente recuperado pelas ações ambientais da Mineração
Rio do Norte.

O complexo Albras-Alunorte em Barcarena recebe suporte de infra-


estrutura que proporcionou a construção do Porto de Vila do Conde e da Vila
Planejada dos Cabanos (Company Town).

 Company Towns: cidades planejadas com ampla infra-estrutura construída


para receber certa parte da mão-de-obra qualificada empregada nos Projetos.
Embora atualmente algumas dessas cidades planejadas encontrem-se abertas
para a inclusão de pessoas que não atuam de forma específica nos Projetos.

Vila dos Cabanos – Barcarena-Pa (www.albras.net/infraestrutura.htm)


PROJETO FERRO-CARAJÁS

Administrado pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Para a


efetivação do projeto Carajás foi necessária à implantação de toda uma infra-
estrutura, passando pela construção da Estrada de Ferro Carajás, construção
de um Núcleo Urbano Planejado (company town) para obrigar parte da mão-
de-obra empregada no projeto e a hidrelétrica de Tucuruí.
No entorno do projeto surgiram cidades espontâneas que passam a
abrigar os trabalhadores de menor qualificação empregados no projeto e até
mesmo os migrantes que constituem um vasto exército de reserva e que não
foi absorvido pelo projeto.
PROJETO FERRO-CARAJÁS
Serra dos Carajás
(Parauapebas, no Pará)
Localização:
C.V.R.D. (Companhia Vale
Empresa: do Rio Doce)
Minério Principal: Ferro
Outros Minérios: Cobre, Bauxita e Ouro.
Destino: Mercado Externo – Japão.
Hidrelétrica de Tucuruí,
Obras de Infra-Estrutura: Estrada de Ferro Carajás e
Porto de Itaqui.
Devastação da Floresta,
Chuvas Ácidas devido à
Impactos Ambientais: instalação de Usinas de
Ferro-Guza, perda da
biodiversidade.
Desalojamento de Índios, Os
pequenos agricultores
transferidos para áreas não
adequadas à lavoura; as
Impactos Sociais: indenizações não foram
suficientes para que as
pessoas reestruturassem
sua vida.
O PROJETO CALHA NORTE

FONTE: www.comciencia.br

Esse projeto foi idealizado na Escola Superior de Guerra do Brasil e


implantado em 1985, durante o Governo de José Sarney.
O Projeto Calha Norte consistiu numa tentativa de fortalecimento militar
da fronteira amazônica desde o Oiapoque, no Estado do Amapá (fronteira com
a Guiana Francesa) até a altura de Tabatinga, no Estado do Amazonas
(fronteira com a Colômbia). Esse fortalecimento visava o aumento dos quartéis
do exercício na linha de fronteira e conseqüentemente o aumento numérico da
tropa.
Em 1985, o Governo Federal estabeleceu o Programa Calha Norte
(PCN) para atender à necessidade de promover a ocupação e o
desenvolvimento harmônico da Amazônia, em concordância com as
características da área e com os interesses nacionais.
O PCN cumpriu em uma década de atividades boa parte de seus
objetivos iniciais, devendo iniciar-se agora uma fase de recomposição de seu
financiamento, remodelação institucional e metodológica e formação de novas
parcerias com entidades públicas e privadas. Esse esforço, que agora deverá
contar com maior e mais diversificado número de parceiros, está sendo
impulsionado pelo agravamento de certas tendências presentes no mundo
amazônico, como o esvaziamento demográfico das áreas mais remotas e a
intensificação e o espraiamento dos ilícitos transfronteiriços, assim como pelas
necessidades de vigilância e de proteção das populações da região diante de
novos e perversos fenômenos sociais e pela urgência em fixar no norte
amazônico padrões de desenvolvimento que sejam socialmente justos e
ecologicamente sustentáveis.
Entre os objetivos do Projeto Calha Norte podemos destacar:
 Promover a “proteção” de grupos indígenas, localizados na fronteira
amazônica, do conflito com garimpeiros que adentram de forma clandestina
nas reservas, como por exemplo, na reserva Ianomami, na busca do ouro de
aluvião.
 Promover a “proteção” de riquezas minerais da Amazônia, como por
exemplo, o urânio, da cobiça estrangeira, haja vista que esse recurso mineral
era extremamente cobiçado, na década de 80, no transcorrer da Guerra Fria
(luta ideológica entre Estados Unidos e extinta União Soviética e baseada em
vários segmentos como a corrida armamentista onde essas potências
pretendiam o aumento de seus arsenais de armas nucleares cuja matéria-
prima básica para a fabricação desse tipo de arma é o urânio).
 Promover a “proteção” da fronteira amazônica com o intuito de coibir
ações de guerrilhas na área.
 Aumento da presença brasileira na área, fortalecendo as estruturas
governamentais de oferta de serviços, de modo a criar estímulos para o
desenvolvimento sustentável da região.
 Fortalecimento da ação dos órgãos governamentais de justiça, polícia
federal, receita federal e previdência social como fatores de inibição da prática
de ilícitos, decorrentes da presença insuficiente do Estado, em função das
distâncias e do isolamento.
 Intensificação das campanhas demarcatórias de fronteira, pela
restauração e adensamento dos marcos limítrofes.
Promoção de assistência e proteção às populações indígenas, delimitando e
demarcando suas terras estimulando o seu desenvolvimento.

Capítulo VI

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA


DA DÉCADA DE 90.
O PROJETO SIVAM

O Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) foi lançado e apresentado


à comunidade científica internacional em 1992 durante a realização da
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Preservação do Meio Ambiente,
a ECO-92, no Rio de Janeiro.
O Projeto SIVAM apresenta uma estrutura tecnológica que pode ser
apresentado da seguinte forma:
Os radares fixos e móveis estarão localizados em pontos estratégicos por
toda a Amazônia e os mesmos serão auxiliados por aviões equipados com
aparelhos de sensoriamento remoto. Os radares e os aviões serão capazes de
captar informações diversificadas relacionadas, por exemplo, com o clima,
circulação de aviões no espaço aéreo regional, ações ilícitas, entre outras.
Após a obtenção dessas informações as mesmas serão enviadas para os
Centros Regionais de Vigilância (CRVs), localizados em Porto Velho, Belém,
Manaus. Essas informações serão novamente enviadas ao Centro de
Coordenação Geral (CCG), localizado na cidade de Brasília.
Os principais coordenadores do Projeto SIVAM, o Ministério da Defesa e
o Comando da Aeronáutica afirmam que as informações captadas pela
estrutura tecnológica do projeto só serão manipuladas por instituições
nacionais como Universidades, IBAMA, FUNAI, POLÍCIA FEDERAL, INPE,
INPA, entre outros. Porém, alguns críticos levantam a hipótese de que
potências mundiais como: os Estados Unidos podem ter acesso a tais
informações, pois a tecnologia que compõe o SIVAM é de origem americana
sendo fornecida pela empresa Raytheon. Com isso, a empresa e o próprio
governo americano poderão, no futuro, manipular tais informações sobre a
Amazônia de acordo com seus interesses econômicos e estratégicos. Haja
vista, é bom lembrar que na região amazônica encontramos um grande Banco
Biogenético (biodiversidade) e grande volume de água doce, além de minérios
de terceira onda.

Entre os objetivos do SIVAM, podemos destacar:

 Coibir ações ilícitas, como o narcotráfico e o contrabando de ouro e


pedras preciosas.
 Promover à proteção do espaço aéreo amazônico dando maior
segurança a viação civil como também fortalecendo a soberania desse espaço.
 Promover um amplo monitoramento ambiental capaz de identificar áreas
em processo de desmatamento, focos de queimadas e até áreas que estejam
sendo afetadas pela utilização do mercúrio durante a prática da garimpagem.
 Promover um amplo e detalhado estudo sobre a climatologia amazônica
e as mudanças climáticas que as transformações ambientais, na região, podem
ocasionar a nível local e mundial.
 Promover um estudo mais detalhado da potencialidade econômica do
solo e subsolo amazônico.
 Promover um amplo estudo da potencialidade econômica da
biodiversidade amazônica e ajudando a formar estratégias para melhor
preservar essa biodiversidade.
 Implantar um levantamento capaz de identificar as tribos indígenas
dentro do espaço amazônico e segundo os responsáveis por esse projeto, é
melhor inserir os indígenas a sociedade nacional.
É necessário frisar que esses objetivos só serão realmente atingidos se o
governo brasileiro melhorar a infra-estrutura de alguns órgãos governamentais
que são responsáveis pela execução de alguns desses objetivos como: a
FUNAI, IBGE, IBAMA e POLÍCIA FEDERAL.

TEXTO COMPLEMENTAR
www.frigoletto.com.br

Sivam - Sistema de Vigilância da Amazônia


A Amazônia brasileira possui uma vasta extensão territorial pouco habitada.
Além da baixa densidade demográfica, a região possui pouca infra-estrutura em
relação ao tamanho de seu território.

Considerando-se que se trata de uma área de grande potencial de recursos


naturais, recoberta com a maior mancha florestal do planeta, é natural que
ocorram controvérsias a seu respeito. Alguns setores do Estado, em especial o
militar, consideram a Amazônia objeto de cobiça internacional, constantemente sob
a ameaça de intervenções estrangeiras, o que justificaria os investimentos para
reforçar seu sistemas de controle e vigilância.

De fato, ela serve de porta de entrada ao tráfico de drogas e a outros


empreendimentos ilícitos como desmatamentos e garimpos ilegais. Coibir essas
ações foi a principal justificativa do Estado brasileiro para desenvolver programas
de reforço da vigilância da Amazônia. Está em andamento um vasto programa, o
chamado Sistema de proteção da Amazônia (Sipam), que tem como um de seus
componentes o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Os objetivos do Sipam
são os seguintes:

 controle ambiental;
 desenvolvimento regional;
 vigilância;
 controle do tráfego aéreo;
 coordenação de emergências;
 monitoramento das condições meteorológicas;
 controle de ações de contrabando.

Para a vigilância e o controle do tráfego aéreo, atribuições do Sivam, serão


necessários vinte sítios – quinze com radares primários e secundários e cinco
estações coordenadoras – que constituirão centros de telecomunicações espalhados
pelo território da Amazônia. Alguns deverão ser erguidos em lugares inacessíveis,
com um custo muito elevado.

Refletindo a polêmica em torno dos projetos para a Amazônia, o próprio


Sivam tornou-se campo de controvérsias – reveladoras das dúvidas e dificuldades
que envolvem questões referentes às infra-estruturas territoriais. Além dos custos,
o que está na pauta de apaixonadas discussões são os dilemas Estado x iniciativa
privada e tecnologia nacional x estrangeira.

O Sivam está sendo realizado por meio de um convênio entre o Estado


brasileiro e a empresa norte-americana Raytheon, patrocinada e recomendada pelo
governo dos Estados Unidos. Este acodo suscitou opiniões divergentes. Alguns
setores críticos, em especial cientistas nacionais, identificam o Sivam como obra
faraônica – uma "Transamazônica eletrônica". Argumentam que, além da
inviabilidade do projeto, o fato de a segurança da Amazônia não ser confiada à
inteligência ancional seria um risco, já que os estrangeiros cobiçam suas riquezas.
Segundo essa linha de raciocínio, para garantir sua segurança esse território
deveria ser um território inteligente (dotado de sistemas técnicos sofisticados), mas
sob o controle e a serviço da inteligência nacional.
Os críticos afirmam também que o Brasil possui condições próprias para
realizar um Sivam alternativo, contando com cientistas brasileiros e tecnologia
nacional. Ele seria um desdobramento do que já existe na região e no país, como
os sistemas de recobrimento do território por sensoriamento remoto, inclusive
orbital. Só na Amazônia existem sete laboratórios de sensoriamento remoto,
distribuído em órgãos regionais e que usam softwares de processamento digital de
imagens criados pelo Inpe. Além disso, vinte empresas privadas operam
regularmente nessa área. Antes mesmo do Sivam, estão em construção na
Amazônia dois sítios de radares – em Boa Vista (RR) e São Gabriel da Cachoeira
(AM), no alto Rio Negro.

Ampliando-se planejadamente todas essas condições e expandindo-se para


a Amazônia o Sindacta (sistema de controle aéreo da Aeronáutica, que recobre o
Brasil inteiro, feito em boa parte com engenharia nacional), a segurança da região
estaria garantida. Dispensaria o acordo internacional com a Raytheon, e o sistema
ficaria inteiramente sob controle nacional.

Os críticos afirmar ainda que o Estado brasileiro pode estar criando em


relação aos Estados Unidos uma situação desnecessária de dependência, tanto em
termos econômicos (com a respectiva sujeição às suas exigências) quanto
geopolíticos. Nesse caso, não interessaria aos norte-americanos que nosso país
detivesse sistemas de vigilância avançados, pois informação é poder.

Assim, como mostra o exemplo do Sivam, a questão é a natureza do


controle dessas infra-estruturas. Até onde os equipamentos executados pela
iniciativa privada estariam fora do controle público, do controle social nacional? Ou,
por outro lado, até que ponto o controle público total, atuando até mesmo como
produtor, não faria com que perdêssemos a eficiência dessas infra-estruturas? Os
sistemas de informação sobre o território vinculam-se à idéia de atividades
estratégicas, maltrabalhadas e ainda sem consenso no país.

Afinal, o que é uma áreas estratégica para o futuro do país? A resposta


depende da visão de futuro que se tenha.
O COMPLEXO RODOVIÁRIO DA ALÇA VIÁRIA

Fonte: Governo do Estado do Pará

ALÇA VIÁRIA CAMINHO MAIS CURTO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO PARÁ

O projeto Alça Viária objetiva uma maior integração rodoviária do Estado


do Pará, principalmente em sua parte leste. Esse projeto é composto de
rodovias, algumas já existentes e que foram recuperados, além de novos
trechos de rodovias que foram construídos. As rodovias são interligadas pelas
pontes do Rio Acará, do Rio Moju, a Moju Cidade e a do Rio Guamá. Essa
interação rodovias-pontes diminuiu de forma considerável às travessias fluviais
feitas por balsas, principalmente as que são realizadas no leste paraense,
dentro da área de influência da Alça Viária.
O objetivo maior do projeto é promover um maior dinamismo econômico,
no Estado do Pará, favorecendo uma maior circulação de pessoas,
mercadorias e capitais. Além de aproximar a economia paraense ao mercado
externo através do Porto de Vila do Conde, localizado em Barcarena e que
passará a representar a grande porta de entrada e saída da Alça Viária.
No entanto, alguns críticos afirmam que o projeto proporcionará algumas
conseqüências nocivas no âmbito sócio-econômico-ambiental para o Estado do
Pará, tais como:
 Mais uma vez a elite política governamental do Estado monta um projeto
que despreza as características naturais da região, privilegiando, assim, as
rodovias em detrimento dos rios, já que a região é caracterizada por um intenso
e prolongado período chuvoso que, com certeza, após o mesmo as rodovias
ficaram intensamente danificadas. Logo, isso, dificulta que o projeto atinja o
seu maior objetivo já que as rodovias danificadas dificultariam a circulação de
pessoas, mercadorias e capitais prejudicando a dinamização da economia
estadual. Esses problemas citados basicamente não seriam apresentados
pelos rios.
 A construção dos novos trechos de rodovias provocou a destruição da
floresta.
 A construção dos novos trechos de rodovias, também, proporcionou a
destruição de sítios arqueológicos.
 A provável expropriação de pequenos agricultores locais devido à
concorrência que os mesmos passarão a sofrer com a chegada de grandes
empresas atraídas para a área pela garantia de escoamento da produção com
o intento de atender tanto ao mercado interno como ao externo.
 A fixação de carvoarias na área, contribuindo para a degradação do
meio ambiente, através da derrubada e da queima da floresta para a produção
do carvão vegetal, além de contribuir para a intensificação do trabalho infantil
que ocorre em áreas com essas características. Essas pessoas que vivem
nessas condições, convivem em um ambiente extremamente poluído o que
contribui para a proliferação de doenças respiratórias, os olhos e na pele.

HIDROVIAS

A PROBLEMÁTICA DAS HIDROVIAS NA AMAZÔNIA

O Brasil tem aproximadamente 30 mil quilômetros de vias navegáveis,


das quais apenas aproximadamente10 mil estão sendo aproveitadas. Mesmo
assim, as hidrovias – um modal de transporte de custo mais baixo e de menor
impacto ambiental – permanecem emperradas, principalmente na região
amazônica.
A Bacia Amazônia com 19 mil Km corresponde a quase metade da rede
hidroviária nacional, que possui 40 mil km de extensão. Para se ter uma idéia
do que isso representa, basta saber que a maior bacia, depois da Amazônica, é
a do rio Paraná, com 4.800 km, e a do rio São Francisco, com 4.100
quilômetros.
No entanto as hidrovias não são o principal modal de transporte da
Amazônia. As hidrovias que estão em atividade poderiam ser mais extensas e
há outras, como a hidrovia Transmarajoara, que estão apenas projetadas.

AS HIDROVIAS AMAZÔNICAS

Fonte:Ahimor
 Hidrovia Rio das Mortes-Araguaia-Tocantins – Os rios Tocantins,
Araguaia e das Mortes atravessam as regiões Norte e Centro-Oeste,
influenciando uma área agricultável de mais de 35 milhões de
hectares, com potencial de produção acima de 100 milhões de
toneladas/ano de grãos. A extensão da hidrovia deverá ser de 3.770
km, ligando o Brasil Central aos portos de Belém e Vila do Conde e,
através da ferrovia dos Carajás, aos portos de Itaqui e Ponta da
Madeira, no Maranhão.

 Hidrovia Rio Teles Pires-Madeira-Tapajós- – Com 1.043 km de


extensão, desde o porto de Santarém, na foz do rio Tapajós, afluente
do rio Amazonas, até cachoeira Rasteira no rio Teles Pires, na
fronteira entre Pará e Mato Grosso, é considerada uma importante
rota de exportação que vem viabilizando a produção de grãos,
principalmente da soja, no Estado do Mato Grosso. Será uma
importante opção para o incremento do comércio exterior, com
influência direta sobre os horizontes socioeconômicos dos Estados
do Pará, Amazonas e Mato Grosso. Extensão Navegável Atual: 345
km. Extensão total Futura: 1.043 km.

 Hidrovia Rio Guamá-Capim - É um importante corredor de


transporte de minérios provenientes, na sua maioria, das jazidas de
caulim e de bauxita encontradas no nordeste paraense. Hoje,
observa-se também a formação de pólos agropecuários, ao longo da
área de influência da hidrovia, especialmente na região de
Paragominas. Além de Paragominas, a área de influência da hidrovia
abrange os municípios de São Domingos do Capim e São Miguel do
Guamá. As obras realizadas na hidrovia compõem-se da
desobstrução de trechos – volume estimado em 2.671.000 m 3,
retificação de curvas e balizamento, este de forma experimental já
implantado e desobstrução parcial já realizada. Extensão: 374 km.

 Hidrovia Transmarajoara – A implantação de uma via navegável


que cruze a Ilha do Marajó, da bacia do rio Pará ao braço sul do
Amazonas, e propicie uma ligação mais direta entre Belém e
Macapá, para facilitar o transporte e a comunicação na parte central
da ilha, vem sendo cogitada há muito tempo. A redução de mais de
140 km de distância fluvial entre as duas capitais é apenas um dos
inúmeros benefícios a serem alcançados com a hidrovia. A
concretização da hidrovia ocorrerá com a ligação dos rios Atuá e
Anajás, através de um canal de 32 km.

IMPORTÂNCIA DAS ECLUSAS DE TUCURUÍ

A construção da barragem de Tucuruí, no rio Tocantins, a 250 km de sua


foz, teve como finalidade primordial a geração de energia, através de uma
usina hidrelétrica. Se por um lado a barragem afogou, com seu reservatório, as
corredeiras de Itaboca, até então um dos principais empecilhos à implantação
da navegação comercial no Tocantins, por outro, seccionou a hidrovia, exigindo
a construção de uma obra de grande porte capaz de vencer o desnível de 72 m
criado por ela. Dessa forma, o Aproveitamento de Tucuruí compreende,
também, um Sistema de Transposição de Desnível, localizado na margem
esquerda do rio Tocantins e constituído por duas eclusas e um canal
intermediário, adequadamente alinhados, cujo objetivo precípuo é dar
continuidade à navegação no trecho da hidrovia interrompido com a construção
da Barragem.

VISTA DO PROJETO DE CONSTRUÇÃO DAS ECLUSAS DE TUCURUÍ

A construção das Eclusas de Tucuruí é imprescindível ao


aproveitamento econômico do grande potencial agropecuário, florestal e
mineral já identificados no Vale do Tocantins-Araguaia, que depende da oferta
de meios de transportes maciços, de baixo custo e baixo consumo energético,
face ao pequeno valor unitário das cargas a serem geradas e às grandes
distâncias a serem percorridas.

A obra possibilitará ainda, a geração de empregos para a população da


própria bacia hidrográfica e de outras regiões, numa contribuição para o
desenvolvimento do Centro-Oeste e Amazônia e para a desconcentração
industrial do país, uma vez que será formado um corredor de exportação da
produção regional com o aproveitamento do transporte hidroviário até um porto
para embarcações marítimas.
Capitulo VII

CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO DESMATAMENTO NA


AMAZÔNIA

Entre as causa do intenso desmatamento na Amazônia, podemos


destacar:
 A implantação e prática de projetos pecuaristas.
 A introdução e expansão de práticas agrícolas monocultoras, como por
exemplo, a expansão da soja.
 A extração da madeira para fins comerciais.
 A prática da agricultura de subsistências e itinerante pelas sociedades
tradicionais.
 A implantação de obras de infra-estrutura como rodovias, ferrovias e
usinas hidrelétricas.
 A implantação de projetos minerais.
 A prática da garimpagem tradicional.

Entre as conseqüências do intenso desmatamento na Amazônia, podemos


destacar:
 A perda irreparável da biodiversidade.
 Elevação da temperatura.
 Diminuição do processo de evapotranspiração, conseqüentemente
do índice de chuvas.
 Exposição do solo a ação das chuvas causando o desgaste do solo
através dos processos de lixiviação e da laterização.
 A Proliferação de pragas e doenças.
 Comprometimento da evolução social e econômica das sociedades
tradicionais locais que dependem fundamentalmente da floresta.

O ARCO DO DESMATAMENTO

Áreas protegidas ao longo do Arco do Desenvolvimento Sustentável. Inclui as unidades de conservação de proteção integral, as unidades de
conservação de uso sustentável e as terras indígenas.
Fonte: Fonte: Revista Eco 21, Ano XIII, Edição 80, Julho 2003. (www.eco21.com.br)
A área definida por alguns autores como o arco do desmatamento
abrange as partes oriental e meridional da Amazônia.
O desmatamento tornou-se intenso nessa área a partir do momento que
o Estado se tornou mais atuante no processo de ocupação da fronteira
econômica e vazia em que se constituía a Amazônia entre as décadas de 50 e
70. Para promover a ocupação da fronteira o Estado passou a atrair grandes
investimentos de capital nacional e internacional para a área através da oferta
de isenção fiscal data pela Sudam, a montagem de obras de infra-estrutura e o
incentivo a migração para a formação de um exército de reserva. Com tudo
isso, a locação de novas atividades econômicas bancadas pelo grande capital,
como a atividade madeireira, a pecuária, a mineração e mais recentemente a
soja causaram e ainda causam um grande desmatamento na região.
Entre agosto de 2001 e agosto do ano passado foram desmatados 25,5
mil quilômetros quadrados e se constatou que as causas do problema são
pecuaristas, plantadores de soja, grileiros de terras e madeireiros.
No entanto, quando comparamos o biênio 2005/06 com o biênio 2003/04
percebemos uma pequena diminuição percentual do desmatamento na região
e isso pode ser atribuída a uma outra forma de ação do Estado brasileiro na
implantação de Unidades de conservação que são protegidas por leis federais
e estaduais.

Texto complementar

Transformando o Arco do Desmatamento no Arco do


Desenvolvimento Sustentável

O desmatamento na Amazônia Brasileira está concentrado em uma faixa


que se estende pelo Sul da região, desde o Maranhão até Rondônia. Este setor
é comumente denominado “Arco do Desmatamento”, foi renomeado pela Dra.
Bertha Becker, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como “Área de
Consolidação e Recuperação”; este setor também inclui grande parte do
“Corredor dos Ecótonos Sul-Amazônicos”. A idéia do “Arco do Desmatamento”
é uma proposta apresentada ao Ministério do Meio Ambiente e ao PPG-7 por
uma equipe mista do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e
da Conservation International do Brasil, liderada pelo recentemente
desaparecido Dr. José Márcio Ayres. Seguindo nesta linha de raciocínio, a
Ministra Marina Silva sugeriu, em seu discurso de posse, que esta região
passasse a ser denominada de “Arco do Desenvolvimento Sustentável”. Daqui
por diante, se utilizará o termo sugerido pela Ministra.
A Amazônia é a maior e a mais diversa região de florestas tropicais no
mundo. Com cerca de 6.000.000 km2 de extensão e uma extraordinária
heterogeneidade ambiental, ela abriga entre 10 e 20% de todas as espécies
que vivem hoje em nosso Planeta.
São conhecidas da região cerca de 40.000 espécies de plantas, 2.526
espécies de vertebrados terrestres e 3.000 espécies de peixes. As espécies
não estão amplamente distribuídas na região, mas sim possuem suas
distribuições restritas a certas áreas bem delimitadas, que são denominadas
pelos biólogos como “áreas de endemismo”. No caso dos primatas, por
exemplo, cerca de 65% das espécies ocorrem em apenas uma área de
endemismo.
A maior causa da perda de biodiversidade na Amazônia é causada pelo
desmatamento, ou seja, a substituição de florestas hiperdiversas por sistemas
ecológicos simples, dominados por algumas poucas espécies. Estudos
demonstram que o desmatamento tal como é feito atualmente raramente traz
benefícios para a população rural, gerando pobreza e conflitos sociais e
agrários. Em contrapartida, o desmatamento leva a perda de biodiversidade,
solo, recursos hídricos e abre a região para a expansão de incêndios de
grandes proporções e de doenças causadas pelo desequilíbrio ambiental.
Dentre os 9 países que compõem a Amazônia, o Brasil é, de longe, o
país que mais perdeu florestas e biodiversidade. O recente anúncio de que
40% a mais de florestas foram perdidas entre 2001-2002 em comparação com
o período entre 2000-2001 indica que as políticas públicas voltadas para
garantir a ocupação sustentável da região são, no mínimo, ineficientes e
desprovidas de fundamentação técnico-científica adequadas.

O Arco do Desenvolvimento Sustentável: importância biológica

O Arco do Desenvolvimento Sustentável se localiza na transição entre


dois dos maiores biomas brasileiros: a Amazônia e o Cerrado. Por isso,
incorpora partes preciosas da biodiversidade das duas regiões. Áreas de
transição entre biomas hiperdiversos são também regiões de extraordinária
diversidade de espécies e de fenômenos biológicos únicos, tais como zonas de
contato entre espécies aparentadas e frentes de diversificação em mosaicos
compostos por ambientes distintos.
Do ponto de vista evolutivo, estas regiões são laboratórios únicos para o
estudo dos processos que levam a formação de espécies em ambientes
tropicais.
O Arco do Desenvolvimento Sustentável é onde também está
concentrada a maior densidade de espécies ameaçadas de extinção da
Amazônia. Espécies de aves (Dendrexetastes rufigula rufigula, Dendrocincla
merula badia, Dendrocincla fuliginosa trumai, Pyrrhura lepida coerulescens,
Pyrrhura lepida lepida, Clytoctantes atrogularis e Phlegopsis nigromaculata
paraensis) e primatas (Cebus kaapori, Allouatta belzelbul ululata e Chiropotes
satanas) consideradas como ameaçadas de extinção pela recente lista
publicada pelo Ministério do Meio Ambiente possuem distribuição restrita ao
Arco do Desenvolvimento Sustentável.
O Arco do Desenvolvimento Sustentável é composto por 524 municípios,
que juntos possuem população total de cerca de 10.331.000 habitantes. Há 36
unidades de conservação federais e estaduais. Destas, 25 são de uso
sustentável e totalizam 35.084 km2, enquanto 11 são de proteção integral e
totalizam 29.970 km2.

Como esperado, a maioria das unidades de conservação não foi


implementada, sendo que algumas delas, como por exemplo, o Parque
Estadual do Cristalino, no Mato Grosso, estão sendo invadidas por
trabalhadores rurais atraídos por falsas promessas eleitoreiras. As terras
indígenas são 99 e totalizam cerca de 244.420 km2.

Sugestões para ação

Duas correntes extremas de pensamento dominam a discussão sobre o


modelo de ocupação humana na região. Uma corrente sugere que a
intervenção humana na região deve se restringir a um mínimo possível, de
forma a garantir a preservação de grande parte da região em sua forma mais
natural. A outra corrente sugere que os recursos naturais da Amazônia devam
ser explorados imediatamente para garantir uma expansão econômica da
região e, por conseguinte, garantir um aumento na qualidade de vida da
população regional. Hoje sabemos que nenhum dos dois extremos é o
recomendável, pois não se pode fazer conservação sem o apoio das
comunidades locais e nem se garantir o aumento da qualidade de vida da
população através da exploração insensata dos recursos naturais. Uma forma
de conciliar as duas correntes é desenvolver um modelo de ocupação
sustentável e baseada em critérios científicos, que garanta tanto a manutenção
dos processos ecológicos e da biodiversidade como o desenvolvimento
econômico e social da região. Para atingir este objetivo torna-se necessário o
planejamento de “territórios sustentáveis”, ou seja, um mosaico de usos de
terra complementares gerenciados de forma integrada que permitam manter
tanto a dinâmica dos processos ecológicos como a dinâmica sócio-econômica
de um determinado território. O Museu Paraense Emilio Goeldi e a
Conservation International do Brasil têm realizado uma série de discussões nos
últimos dois anos e estabelecido o Projeto BIOTA-PARÁ para desenvolver
projetos e ações de pesquisa e divulgação científicas voltados para o
planejamento e a implementação de territórios sustentáveis na região. No caso
específico do Arco do Desenvolvimento Sustentável, foram sugeridas as ações
a seguir.

Controle e fiscalização do desmatamento

Proibir por 4 anos quaisquer novas licenças para desmatamento na


região do Arco do Desenvolvimento Sustentável até que um sistema adequado
de controle e fiscalização seja efetivamente implementado ao longo de toda a
região.
Implementar em 4 anos um sistema efetivo de controle e fiscalização do
desmatamento no Arco do Desenvolvimento Sustentável baseado em uma
combinação de tecnologias espaciais e fiscalização de campo através do
estabelecimento de parcerias entre o MMA, IBAMA, SIVAM, INPE, Museu
Goeldi, INPA, Universidades, Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e
Prefeituras.

Unidades de Conservação e Terras Indígenas

Direcionar a maior parte dos recursos do Projeto ARPA (Áreas


Protegidas da Amazônia Brasileira) para: (a) implementar de forma efetiva
dentro de 3 anos todas as 19 unidades de conservação existentes ao longo do
Arco; (b) criar e implementar no prazo de 4 anos pelo menos 15 novas
unidades de conservação de proteção integral com tamanho mínimo de
500.000 hectares nas áreas identificadas como prioritárias para este fim pelo
Sub-projeto Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação, Uso
Sustentável e Repartição de Benefícios na Amazônia Brasileira; (c) estabelecer
corredores ecológicos para conectar todas as áreas protegidas do Arco; e (d)
criar um fundo fiduciário para assegurar a manutenção de todo o sistema de
unidades de conservação ao longo do Arco.
Criar um programa efetivo para, no prazo de 4 anos: (a) demarcar e
garantir a integridade territorial de todas as terras indígenas existentes ao longo
do Arco.

Criar, no prazo de 2 anos, um programa de apoio ao desenvolvimento de


atividades de desenvolvimento social e econômico baseadas no uso
sustentável da biodiversidade para todas as terras indígenas existentes ao
longo do Arco do Desenvolvimento.
Criar imediatamente um programa de apoio para a criação e
implementação de Reservas Privadas do Patrimônio Natural (RPPN) ao longo
do Arco, concedendo prioridade para a obtenção de financiamento junto aos
bancos públicos e privados para aqueles proprietários de terra que aderirem ao
programa.

Ciência e Tecnologia

Direcionar o edital do Programa de Pesquisa Dirigida do MCT/PPG-7,


que ainda não foi lançado, para pesquisas a serem realizadas exclusivamente
no Arco e vinculadas aos seguintes temas prioritários: (a) caracterização da
paisagem; (b) estrutura e funcionamento dos ecossistemas, (c) dinâmica
econômica e social; e (d) tecnologias para o uso sustentável de florestas e
recuperação de áreas degradadas.
Criar, no prazo de 3 anos, 5 núcleos avançados do Museu Goeldi e do
INPA no Sul do Pará, Tocantins e Mato Grosso visando estabelecer programas
efetivos de pesquisa e capacitação de recursos humanos ao longo do Arco.
Triplicar, no período de um ano, o número de bolsas de mestrado e
doutorado para os programas de pós-graduação das instituições de pesquisa
regionais que possuam pelo menos o conceito “4” para que dissertações e
teses possam ser desenvolvidas ao longo do Arco.

Consolidação de Assentamentos Rurais

Também se sugeriu realizar, em 2 anos, levantamento qualitativo e


quantitativo da situação atual dos Assentamentos de Reforma Agrária,
incluindo um mapeamento detalhado das áreas críticas de degradação
ambiental e conflito social. Igualmente, desenvolver e implantar em dois anos
um sistema que permita a melhoria dos assentamentos resultantes da reforma
agrária, mediante a realização de investimentos em infra-estrutura econômica e
social, assistência técnica e treinamento.
E, finalmente, formular em 2 anos uma Agenda Ambiental nas Áreas de
Assentamento, incorporando uma dimensão ambiental em todas as decisões e
prioridades de investimentos nessas áreas, que assegure o monitoramento das
áreas, a conservação dos recursos naturais, e estabelecimento de sistemas
inovadores de recuperação e conservação das terras, implantação de sistemas
produtivos integrados e uso sustentável dos recursos naturais.

Recuperação de áreas degradadas

Se faz necessário garantir imediatamente, através da expansão do


PROAMBIENTE, um crédito diferenciado para iniciativas que priorizem a
recuperação ambiental em função do menor retorno econômico. Os
financiamentos para as áreas degradadas são instrumentos importantes para
efetuar a reversão do padrão tecnológico causador de degradação, se
combinado com a aplicação das normas ambientais e mecanismos
compensatórios. Também se sugere criar em 2 anos um programa de
capacitação de técnicos para elaboração e execução de projetos de
recuperação de áreas alteradas e consolidar um modelo de assistência técnica
voltado para a recuperação de áreas degradadas;
Faz parte da proposta priorizar imediatamente junto ao CNPq, FINEP e
BASA, o financiamento de pesquisas básica e aplicada para estabelecimento
de modelos de recuperação ambiental e da capacidade produtiva de áreas
degradadas, estabelecendo pólos demonstrativos de recuperação ambiental
para áreas de reserva legal e de preservação permanente na região.
E, a maneira de corolário, estabelecer em um ano dois pólos
demonstrativos de recuperação ambiental para áreas de reserva legal e de
preservação permanente no Arco do Desenvolvimento Sustentável.
Áreas protegidas ao longo do Arco do Desenvolvimento Sustentável.
Inclui as unidades de conservação de proteção integral, as unidades de
conservação de uso sustentável e as terras indígenas.

Fonte: Revista Eco 21, Ano XIII, Edição 80, Julho 2003. (www.eco21.com.br)

TEXTO COMPLEMENTAR
FONTE: Jornal O Liberal Edição:Ano LXII - nº 32.040

Desmatamento esconde rede de crimes

Grilagem de terras e assassinatatos sob encomenda são ligados à


devastação

MARLY QUADROS

Os órgãos estaduais e federais que começaram a coibir a extração ilegal


de madeira na Amazônia terão muito trabalho pela frente se levarem em
consideração que o problema não envolve apenas o desmatamento. Grilagem
de terras públicas, assassinatos sob encomenda, invasão de terras e expulsão
de pequenos agricultores de suas casas são apenas alguns dos crimes que
andam lado a lado com a cadeia de irregularidades que acompanha a atividade
ilegal. De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra, entre 1997 e
2006, o Pará foi o líder nos conflitos rurais na Amazônia, sendo que 2005 foi o
pior ano, quando o Estado respondeu por mais de 30% dos 408 casos
registrados.

Ao contrário do que as notícias recentes possam demonstrar, o centro


do problema não está localizado em Tailândia. No município é, na verdade,
beneficiada parte da madeira retirada de outros locais, como Anapu, Marabá,
Parauapebas, São Félix do Xingu e Altamira, entre outros, onde acredita-se
que a fiscalização do Ibama ainda deverá passar. É desses locais que saem,
também, as principais vítimas dos criminosos que atuam por trás do
desmatamento ilegal praticado em terras públicas, como a freira Dorothy Stang,
assassinada por defender pequenos agricultores assentados do Plano de
Desenvolvimento Sustentável (PDS) em Anapu.

Os casos de ocupação de terra para a exploração ilegal da madeira, de


acordo com o último relatório da CPT, divulgado no ano passado, aumentaram
de 39 em 2002 para 59 em 2006. No mesmo documento foi denunciada a
existência de um grupo armado de invasores de terra especializado no
desmatamento da floresta, e que se autodenomina 'Movimento dos Sem Tora'.
Esse grupo começou a agir em 2005, invadindo, principalmente, áreas
privadas, de onde era retirada a madeira de alto valor comercial para ser
revendida.

O delegado titular da Delegacia de Crimes Ambientais de Marabá,


Alberoni Afonso, relata uma das últimas aparições desse grupo. Em setembro
do ano passado, a polícia teve que retirar os invasores de uma área de
reflorestamento de 20 mil hectares, pertencente à empresa Globo Metais, no
município de Breu Branco. 'Esse movimento é conhecido já no sul do Pará.
Eles invadem uma área com objetivo único de extração de madeira. Estamos
agora acompanhando a situação de uma área em Pacajá, também de
reflorestamento ambiental, onde já existe um grupo de invasores acampado
próximo, justamente visando invadir para extrair madeira', conta.

Alberoni explica que o Movimento dos Sem Tora não tem nenhuma
ligação com os movimentos sociais relacionados à reforma agrária, mas que
eles causam um grande prejuízo ao meio ambiente, já que retiram justamente a
madeira nativa de áreas não exploradas. 'Esses ‘sem tora’ são grupos que se
associam para cometer o crime ambiental. Eles agem a mando de madeireiros
e ocupam áreas geralmente de preservação ambiental, utilizam equipamentos
de grande porte, como trator, motosserra, caminhão, geralmente fornecidos por
proprietários de serrarias'.

Para coibir esse tipo de crime, a Polícia Civil não pode atuar sozinha,
porque os grileiros e invasores que visam a madeira andam protegidos por
pistoleiros. Se necessário, eles também expulsam famílias inteiras, queimam
casas e levam terror por onde passam.

No caso da retirada da área da Globo Metais, foi necessário apoio do


Comando de Missões Especiais, da Delegacia de Meio Ambiente e até de
peritos da Polícia Científica. Força extra necessária, já que a Delegacia de
Crimes Ambientais no município conta com apenas dez policiais, para atender
toda a região sudeste do Pará, que engloba 23 municípios. Além de Marabá,
existem apenas duas outras unidades especializadas em conflitos agrários, em
Belém e Redenção.

Violência reina no interior paraense

Municípios onde há mais desmatamento respondem por 45% dos


assassinatos

MARLY QUADROS

Além dos dados da CPT, outro estudo, produzido por pesquisadores do


Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Danielle
Celentano e Adalberto Veríssimo, aponta a estreita ligação entre a localização
dos assassinatos rurais e o desmatamento na Amazônia. De acordo com a
pesquisa, os dez municípios com os maiores índices de desmatamento em
2004 foram responsáveis por 45% dos assassinatos rurais em 2003 e 2004.
Uma das áreas citadas entre as mais violentas é a 'Terra do Meio' (localizada
entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no centro-oeste do Pará),
de onde saíram metade das vítimas dos assassinatos rurais em 2003.

De acordo com os pesquisadores, as pessoas mortas não tinham


vínculo com nenhum movimento social ou com o Movimento dos Sem Terra e
foram, na verdade, vítimas da grilagem, processo de apropriação de terras
públicas por meio da falsificação de documentos ou da corrupção. Este nome
surgiu porque os grileiros costumavam colocar as escrituras falsas em caixas
com grilos, que as deixavam amareladas e roídas, dando assim a impressão de
que eram antigas e verdadeiras. As técnicas de falsificação acompanharam as
mudanças tecnológicas. 'Atualmente, os grileiros que agem na Amazônia usam
imagens de satélite para negociações de venda das terras públicas na internet'
diz o estudo. Muitas das áreas griladas vão parar nas mãos de grupos que
visam unicamente a extração da madeira.
GRILAGEM

O Procurador Federal em Altamira, Marco Antônio Delfino de Almeida,


afirma que apesar das ações predatórias da madeira não estarem
corriqueiramente relacionadas aos casos de grilagem, já que os madeireiros
irregulares não têm exatamente o interesse na posse da área explorada, nos
casos onde isso ocorre geralmente estão envolvidas grandes extensões de
terra. 'Essa questão da grilagem existe mais dentro dos planos de manejo
irregulares, que levam grandes áreas, normalmente com documentação
fundiária fraudada. Aí, sim, você tem a grilagem. Esses pequenos que
aparecem mais na mídia cometem um outro crime, o de usurpação, que é
explorar bens econômicos de terras públicas' explica.

Para ele, o governo precisa ser mais rigoroso com o desmatamento


causado por pecuaristas. 'Ao madeireiro não interessa retirar toda a floresta,
isso seria economicamente inviável. O pecuarista é que é o criminoso, porque
há uma relação direta com uma série de irregularidades, inclusive o trabalho
escravo. O madeireiro retira a madeira, abre a estrada e o pecuarista toma a
terra. E diferentemente do madeireiro, ele não deixa nada, bota a mata abaixo.
Temos casos em que o desmatamento chegou a 2.900 hectares', relata.

Mesmo assim, o procurador alerta que não pode ser desconsiderada a


violência que envolve a extração ilegal de madeira. 'O que observamos é que,
como há escassez da madeira, cada vez mais você tem a utilização de milícias
armadas para escoltar essa extração. Já soubemos de casos até de confronto
entre extratores ilegais pelo espaço de floresta', conta. Isso aconteceu
recentemente no município de Uruará, quando um conflito entre dois grupos
acabou com a morte de dois homens.

Há também, a intimidação das populações tradicionais. Muitas vezes,


seringueiros, extrativistas, ou até mesmo ribeirinhos são expulsos das áreas
cobiçadas pelos madeireiros clandestinos. 'Eles cercam determinadas áreas e
impedem que as pessoas ali penetrem ou muitas vezes as expulsam para que
possam extrair sem interferências'.

Promotora é ameaçada de morte

O poder que está por trás dos madeireiros que atuam na clandestinidade
tem a violência como uma de suas principais armas e não alcança somente o
cidadão comum. A promotora de Justiça Ana Maria Carvalho, que atuava na
Comarca de Tailândia, foi retirada do local pelo Ministério Público do Estado
por medida de segurança. Desde que iniciou a operação 'Guardiões da
Floresta' e depois a 'Arco de Fogo', ela passou a receber uma série de
ameaças de morte, feitas por telefone ou bilhetes anônimos. A partir de
amanhã, quem assume a missão de acompanhar os crimes envolvendo o meio
ambiente na região é o promotor Daniel Barros.
Em Tailândia, ele não encontrará realidade muito diferente da que
vivenciou em seu município de origem, Santarém, onde atuava com a
promotoria ambiental desde o dia 10 de setembro do ano passado. Lá, nos
últimos cinco meses, a promotoria recebeu mais de 300 denúncias
relacionadas ao transporte ou retirada ilegal de madeira. Na opinião do
promotor, a fragilidade da lei ambiental favorece o crime. 'Para mim, (a lei) foi
direcionada a beneficiar quem comete o crime. As penas são muito brandas.
Uma pessoa que derrubou milhares de hectares vai pegar pena de um a três
anos, no máximo', explica.

Outro ponto favorável às irregularidades é a demora na tramitação dos


processos. Daniel relata que quando começou a trabalhar em Santarém,
existiam autos de infração parados desde 2003. Como é considerado crime de
menor potencial ofensivo, entre os poucos madeireiros pegos pela Justiça
trabalhando de forma irregular, a maioria conseguiu se livrar cumprindo alguma
pena alternativa, como é chamada popularmente a audiência que acaba em
transação penal. 'Encaminhamos os processos para o Juizado Especial de
Crimes Ambientais. Lá é marcada uma audiência para a transação penal, que é
uma proposta direta do Ministério Público para o autor do fato. Acaba o
processo com a pessoa cumprindo alguma prestação de serviços à
comunidade'. Das últimas 15 audiências envolvendo a exploração ilegal de
madeira, relembra Daniel, nove resultaram em prestação de serviço. 'Este
benefício só é dado pela lei, porque por mim não daria', comenta.

O benefício só pode ser utilizado uma vez. Se o madeireiro for pego de


novo, o tratamento não será mais o mesmo. Por conta disso, seis dos nove que
poderiam usar esse expediente terão que responder processo sobre crime
contra o meio ambiente, que normalmente dura em torno de um ano. Daniel
revela, porém, que muitos madeireiros usam o caminhoneiro que transporta a
madeira como bode expiatório. 'Se o caminhoneiro for pego no meio do
caminho, o dono não aparece. Muitos motoristas recebem para assumir o risco.
Às vezes, desesperados, acabam embarcando. O madeireiro paga as custas
da transação penal - para ele, então, acaba saindo muito barato'. (M. Q.)

Terra do Meio: território dos grileiros


Veja a seguir a reportagem exibida pelo Fantástico a partir da série
"Terra do Meio - Brasil invisível".

Bem longe do eixo Rio-São Paulo, existe um pedaço do Brasil que


quase ninguém conhece. É um lugar no Pará chamado Terra do Meio. Ali,
vivem pessoas que nascem, crescem e morrem sem documentos, sem a
presença do governo, sem direitos.

Na reportagem a seguir, uma sucessão de escândalos, denunciada


numa série de reportagens que o Bom Dia Brasil exibiu durante a semana.

Houve um tempo de fartura.

“Na época da seringa era a época melhor do mundo”, comenta


Francisco Feitosa de Araújo.

Houve um tempo heróico.

“Uma onça matou o meu marido”, diz Albertina Lopes da Silva.

Foram 100 mil nordestinos que migraram para lá só no século passado.


Aprenderam a viver da selva.

“Aí depois vieram os madeireiros, depois os grileiros, depois os


fazendeiros. Aí foi derrubando, acabando a natureza”, conta Francisco Barbosa
Brasil dos Santos.

Então começou um novo tempo, violento e sombrio. Primeiro a pressão.

“Só quem não vendeu terra na beira do rio foi esse velho bem aqui”, diz
Edmilson Maranhão Viana.
Depois a ameaça.

“Os grileiros estavam lá. Então me botaram arma em cima e pediram


cinco minutos pra gente sair de lá”, lembra Herculano Costa Silva.

Por fim, a morte.

“Aí eu peguei o queixo dele assim. Ele olhou para mim, aí fechou o olho.
Pronto, se entregou”, conta Maria Federicci.

Tudo isso acontece na Terra do Meio, uma imensa área de floresta


cobiçada por grileiros e madeireiros. Ela tem esse nome porque fica entre os
rios Xingu e Iriri. É um mosaico formado por cinco unidades de conservação,
cercado por terras indígenas.

O Médio Xingu é a área mais vulnerável, a mais ameaçada. É uma


região totalmente isolada.

Chico Feitosa não vê o mundo lá fora. Até hoje, nunca viu essa tal de
televisão.

Aos 75 anos, nem ele viu o próprio retrato. Nunca ninguém o procurou
para tirar documento algum.

“Não tenho nem identidade, nem o CPF, nem outro documento, nem
meus filhos”, afirma Chico.

E nem os netos. Três gerações de uma família que não existe para o
estado brasileiro. Ninguém lá jamais freqüentou uma escola. Nem Francisco,
nem Teresa e nem nenhum dos nove filhos do casal.

Fantástico: Vocês querem ter mais filhos?

Teresa Vieira de Morais: Não.

Fantástico: E o que vocês fazem pra não ter mais filhos?

Teresa Vieira de Morais: É porque a gente já tá velho, né?

Fantástico: Mas não tomam providência nenhuma, pílula


anticoncepcional a senhora já tomou?

Teresa Vieira de Morais: Nunca.

Fantástico: Mas não tomou porque não chega, porque não gosta?

Teresa Vieira de Morais: Porque não tem mesmo.


Não tem remédio, nem médico, nem informação. Foram 12 filhos
gerados no mesmo barraco. Três deles já morreram.

Analfabetos, Francisco e Teresa nem poderiam desconfiar: mas eles e


outros ribeirinhos da Terra do Meio já foram vítimas da grilagem on-line.

As terras da região são anunciadas na internet como se fossem


propriedade particular.

“Muita madeira dentro da área. Eu tenho terra ali que é só madeira, se


quiser. Madeira nobre. Maçaranduba, ipê, angelim pedra. Essas madeiras aí”,
diz um grileiro.

O próprio governo calcula em 100 milhões de hectares a área total de


terras griladas no Brasil, o equivalente a quatro vezes o tamanho do estado de
São Paulo.

O termo grilagem vem do tempo do império quando golpistas punham


escrituras falsas numa gaveta e jogavam grilos em cima. Os excrementos dos
insetos deixavam o papel amarelado, parecendo autênticos.

Só mudou a técnica. Fazendeiros continuam fechando negócio sem


qualquer constrangimento.

Fantástico: O senhor comprou do grileiro?

Levino de Carvalho (fazendeiro): Isto, exatamente.

Fantástico: O senhor sabia que a terra era grilada?

Levino de Carvalho (fazendeiro): Sabia.

Fantástico: O senhor não se incomoda com isso?

Levino de Carvalho (fazendeiro): Não porque da Conceição do Pará para


cá tudo foi assim. E tem muita gente empresário milionário fazendo a vida em
cima disso.

Dois anos depois da criação de parques e reservas na Terra do Meio,


ainda há rebanhos e currais debaixo das placas do Ibama.

A Justiça Federal ordenou a desocupação de uma área de mais de um


milhão de hectares, o dobro do território do Distrito Federal. A Amazônia
Projetos Ecológicos, empresa do grupo CR Almeida, diz ser dona da terra.

“O processo está correndo na Justiça Federal de Altamira e nós


provaremos ao final que a área não é grilada”, afirma Francineide Amaral Levi,
advogada da Amazônia Projetos Ecológicos.
Mas para o Ministério Público, um sofisticado esquema de fraude
alimenta a indústria da grilagem.

“Toda uma expansão da fronteira agrícola sendo feita à custa de


desmatamento, expulsão de populações tradicionais e ocupação irregular de
terras públicas”, diz o procurador federal Marco Antônio Delfino.

A imagem do satélite mostra que a região de São Félix do Xingu foi


raspada por estradas clandestinas que não constam nos mapas rodoviários,
que o governo não conhece, mas que têm até nome. É o caso da Trans-Iriri.
São 320 quilômetros cortando duas reservas.

Tráfego intenso. Linhas regulares de ônibus e dezenas de caminhões de


madeira. E não há o menor risco de ficar sem combustível.

Uma complexa estrutura informal mantém uma economia baseada na


extinção da floresta. E mesmo de cima de um tronco tombado, ninguém
reconhece o óbvio.

A equipe do Fantástico chegou a uma área onde teoricamente só


poderiam entrar pesquisadores e cientistas.

Dentro da estação ecológica Terra do Meio, proibida à visitação pública,


não só há visitantes como há fazendas e desmatamento.

O padre Angelo Pansa, da Corte Internacional do Meio Ambiente da


ONU, diz que os caboclos da região foram atingidos por um agrotóxico que
está sendo jogado na floresta.

“Olhos inchados, falta de respiração. Alguém que foi esborrifado


diretamente pelo avião passando pela estrada. Peixes morrendo nas lagoas.
São os fazendeiros grandes da região que borrifam, são eles que têm como
comprar esse produto”, conta o padre.

O padre fotografou a embalagem: 2,4 D - ácido diclorofenoxiacético, um


dos componentes do agente laranja usado pelo exército americano na guerra
do Vietnã.

“A aplicação aérea diretamente na pessoa, isso é um quadro


inaceitável”, diz o toxicologista Francisco Paumgartten.

Morre a floresta. Morrem as pessoas – 30 covas num único cemitério


clandestino. A causa das mortes?

“De acidente, de bala, de faca, de pau, de derrubada. Aquela coisa, tudo


aconteceu”, conta o comerciante Raimundo Pereira dos Santos.

“A gente não fala assim: matou, não. É acidente de bala, a gente fala
acidente, né?”, complementa ele.
Lá, a irmã Dorothy Stang morreu com seis tiros à queima-roupa.

Foi por causa da repercussão da morte dela que o governo criou quatro
unidades federais de conservação da Terra do Meio. Mais de dois anos depois,
o que se constata é que nenhuma delas existe na prática.

“Quanto mais o tempo passa, mais a grilagem se aproxima dessas áreas


porque ela sente que o estado não está cumprindo aquilo que ele prometeu”,
diz Ana Paula Souza - coordenadora da Fundação Viver, Produzir, Preservar.

No rastro da grilagem, destruição de gente, floresta, e do futuro que


poderia nos redimir.

“Estão derrubando o céu porque as árvores são os braços que


sustentam o céu”, comenta o padre Ângelo Pansa.

Tailândia é apenas o começo, diz Ibama

Mesmo criticada, Operação Arco de Fogo será estendida a outras


cidades

THIAGO VILARINS

A falta de conhecimento da realidade econômica e social da Amazônia,


a brutalidade no trato com a população e até a intenção de uma 'intervenção
branca' no Pará são argumentos usados contra a operação Arco de Fogo,
iniciada esta semana em Tailândia. O diretor de Proteção Ambiental do Ibama,
Flávio Montiel da Rocha, que representa o órgão na operação, rebate nesta
entrevista exclusiva os ataques que a ação de controle tem sofrido.

Se o Mato Grosso foi campeão do desmatamento da Amazônia, por que


começar a operação pelo Pará?

Nós já havíamos definido como alvo alguns municípios onde há uma


situação bastante crítica, principalmente devido aos pólos madeireiros. Nesse
primeiro momento a operação é da Polícia Federal e o Ibama está participando
com toda a equipe técnica e de fiscais, acompanhando o processo de
execução e implementação. Outros municípios também entrarão em operação,
mas no momento certo. Isso faz parte de uma estratégia de campo para não
prejudicar o restante dos alvos.

Mas por que começar por Tailândia?

O município é um pólo madeireiro, com madeiras sem origem


comprovada. Há uma sintonia entre os governos federal e estadual em relação
ao combate do desmatamento. Houve uma operação inicial, os Guardiões da
Amazônia, na primeira fase com o governo do Estado. Com isso, houve um
entendimento entre governos para dar continuidade à operação, com um
efetivo muito maior, diante das reações que ocorreram na cidade. Temos um
conjunto de madeireiras que operam em caráter ilegal e temos uma equipe que
esteve na região. Não há nenhuma divergência, é apenas uma coerência com
o trabalho do Ibama já feito e o governo do Estado.

Qual é o custo dessa operação?

O Ibama fez um planejamento em Belém. Há um conjunto de operações


da Guardiões da Amazônia que vai se integrar com a Arco de Fogo. A
operação de março a julho está orçada em R$ 43,6 milhões, sendo que em
março realizaremos 49 operações, num total de mais R$ 3 milhões. Entre
março e julho, o Ibama executará em operações no Pará R$ 4,2 milhões. E
isso envolve diárias, passagens, combustível, material de consumo,
equipamentos, eventuais manutenção de veículos, entre outros.

Por que o Ibama não agiliza a aprovação de planos de manejo para


exploração sustentável da floresta?

Desde o final de 2006 a gestão florestal é uma competência do órgão


estadual de meio ambiente. O Ibama não aprova mais planos de manejo, a não
ser concessão em floresta pública federal, que é o Serviço Florestal Brasileiro.
Muitos planos de manejo têm incoerências, apenas copiam um plano anterior
para uma outra área. Não temos como aprovar planos desse nível.

Não mais seria viável um mutirão em níveis federal, estadual e municipal


para a análise dos planos de manejo e pedidos de licenças ambientais
pendentes no lugar da intervenção?

A fiscalização tem autonomia e competência. A verdade é que a grande


maioria ainda atua na ilegalidade. Não por não haver espaço para se legalizar,
mas por insistirem estar na ilegalidade. Aqueles que buscam a legalidade vão
se adaptando aos poucos ao processo. Não estamos fazendo isso apenas
esse ano. O plano de prevenção e controle ao desmatamento da Amazônia
começou a ser implementado em 2004. De lá para cá, fizemos mais três
operações de combate a corrupção e a quadrilhas organizadas de exploração
ilegal de madeiras. Foram presos mais de 360 despachantes, madeireiros,
donos de empresas de serraria, donos de plano de manejo ilegais, com base
em investigações e análises documentais feitos pelo Ibama e Polícia Federal.
Há municípios em que 95% da madeira extraída é ilegal, com agravante: ou
vem da unidade de conservação ou de terra indígena, e o plano de manejo é
usado apenas como fachada. É como o tráfico de drogas.

É necessário enviar a Força Nacional para o Tailândia?

As apreensões não se limitam aos 13 mil m³. Haverá muito mais


apreensões ao longo da operação. O problema existe na Amazônia toda, mas
cada um desses pólos madeireiros cumpre um papel no desmatamento ilegal,
na medida que são pólos atratores de madeiras sem origem comprovada. A
presença da Força Nacional se faz necessária para a segurança dos fiscais
diante da reação que ocorreu. Quem iniciou a reação não foi o Estado
brasileiro, mas aqueles que foram insuflados de forma maniqueísta para irem
contra a ação fiscalizatória, que é uma ação legal. Em Tailândia já foram
presas pessoas com porte ilegal de armas, que incitaram a violência, e há um
conjunto de ilícitos, seja de mão-de-obra escrava, de menor, contrabando de
armas ou de drogas, tudo associado à exploração ilegal de madeira.

O senhor não teme uma nova reação?

O governo já identificou as lideranças que estão convocando esse tipo


de reação de forma manipulada. Jamais o governo federal tem como objetivo
confrontar a população manipulada, tanto que não partimos para o confronto no
primeiro momento, evitamos que uma tragédia maior pudesse acontecer. Há
uma série de alternativas econômicas para a população empregada. Em
Marabá, 20 mil pessoas sobrevivem de extração de lenha para carvão para a
siderúrgica de ferro-gusa. Mesmo com o embargo da siderúrgica, a mão-de-
obra foi aproveitada em outras atividades. Na próxima semana, o governo
federal apresenta uma conjunto de medidas nesse sentido. Atualmente a Sema
faz um mutirão em Tailândia e Itaituba para regularizar quem deseja se
legalizar.

Também se critica a falta de conhecimento da realidade social e


econômica da região. Falou-se até em 'intervenção branca'.

Intervenção seria se não houvesse consentimento. Se não há


fiscalização, as pessoas ficam na ilegalidade porque é mais confortável.
Tivemos reações em Novo Progresso, Itaituba, Uruará, Medicilândia e Altamira.
Mas em Tailândia a reação foi mais forte talvez por estar mais próxima de
Belém.

Trabalho escravo no Pará


A violação do direito à liberdade e ao trabalho
Fr. Xavier Plassat*

1. A prática do trabalho escravo virou rotina no sul do Pará


A realidade do trabalho escravo no Pará não é novidade. As políticas
públicas de incentivos financeiros e fiscais desenvolvidas a partir dos anos 60
têm promovido a afluência neste Estado de milhares de investidores e/ou
aventureiros que não hesitaram duas vezes em se aproveitar de todo tipo de
meios para implementar projetos pautados na maximização do lucro no mínimo
de tempo, muitas vezes sem nenhuma relação com os projetos oficialmente
aprovados e subsidiados. Tanto fazia. Essas terras onde corriam rios de
dinheiro público não iam ser, e por muito tempo, alvo de nenhuma ação fiscal
do Estado: ali o Estado, financiador da penetração predatória desses grupos,
renunciou às suas atribuições de fiscalizador da lei e de ordenador da
ocupação territorial.

Desde muitos anos, seguindo ou retomando uma já longa tradição de


peonagem típica do Grão Pará, notícias de trabalho escravo circulavam nas
bandas de Santana, Conceição do Araguaia ou Marabá. A partir de casos que
ficam em todas as memórias como o da fazenda da Volkswagen, circulavam
números e relatos dramáticos, impressionantes, porém inverificáveis já que não
acontecia nenhuma fiscalização ou investigação. Nos últimos anos, a realidade
comprovada e a extensão do trabalho escravo passaram a merecer destaque
quase que semanal no noticiário, tanto nacional como internacional. Nos
últimos anos, a bem da verdade, o alastramento dessa prática criminosa tem
sido devastadora.

De 2000 a 2003 (setembro), houve denúncia (na CPT) de cerca de


10.000 trabalhadores (9.906) em quase 300 fazendas do Pará (298), numa
escala que foi crescendo de ano em ano: 16 denúncias e 334 trabalhadores em
2000, 24 casos e 1355 trabalhadores em 2001, 117 casos e 4.333
trabalhadores em 2002 e, durante os primeiros 9 meses de 2003, 143 casos e
3.889 trabalhadores. Por si só o Pará acumulou, neste período de 2000 a 2003,
74% do total nacional de trabalhadores envolvidos em denúncias de trabalho
escravo (13.331). Essa proporção só baixou em 2003 em decorrência do
aparecimento de casos de trabalho escravo onde ainda não se suspeitava que
existisse, como Bahia e Rio de Janeiro (cf planilhas A e B). Tudo indica que o
icebergue completo do trabalho escravo fica ainda bem longe das vistas da
sociedade pois somente escapam da ocultação criminosa os casos que alguns
trabalhadores fugitivos, enfrentando riscos dos mais variados, conseguem levar
ao nosso conhecimento. Estimativas recentes levantaram hipótese de até
25.000 trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravo (O Liberal,
08.03.03).

O setor agropecuário e madeireiro é quem mais se utiliza da prática do


trabalho escravo como sistema de trabalho hoje considerado por muitos até
como normal, considerando as condições específicas da região, e o dinamismo
próprio da classe empresarial. Mais de 80% dos trabalhadores resgatados da
escravidão trabalham no desmatamento preparatório a abertura de fazendas e
criação de pastos, na pecuária (limpeza de pasto, construção de cercas, roço
de juquira), ou na agricultura (catação de raiz, colheita). Ali assumem as tarefas
braçais mais pesadas, na qualidade de trabalhadores temporários, no regime
da empreita, sem direito a nenhum dos direitos concedidos pela CLT aos
trabalhadores permanentes daquelas fazendas.
2. O trabalho escravo no Pará funciona como parte de um sistema
perverso, de âmbito estadual e interestadual

Uma análise dos 39 municípios paraenses com ocorrência de trabalho


escravo nos últimos 3 anos revela que em 19 deles localizaram-se 85% das
denúncias (239 fazendas denunciadas) e 93% dos trabalhadores denunciados
como escravizados (8.629). São estes: Parauapebas, Canaã dos Carajas,
Xinguara, Rio Maria, Redenção, Piçarra, Sapucaia, Sta Maria das Barreiras,
Itupiranga, Água Azul do Norte, Bannach, Novo Repartimento, Curionópolis,
Cumaru do Norte, Marabá, Dom Elizeu, Pacajá, Santana do Araguaia, São
Félix do Xingu.

Segundo dados preliminares de uma pesquisa realizada pela OIT-Brasil,


a procedência dos trabalhadores resgatados da escravidão no Pará é do
próprio estado do Pará em 35% dos casos, do Maranhão em 22%, do Piauí em
14%, do Tocantins em 13%. Um contingente importante desses trabalhadores
(14%) já é "do trecho", tendo perdido qualquer vinculação com seu local de
origem e sua família. Olhando para a origem desses trabalhadores, verifica-se
que 8% somente são do Pará enquanto 39% são do Maranhão, 22% do Piauí e
16% do Tocantins.

Entre os municípios de maior aliciamento de trabalhadores para esse


tipo de empreita, predominam no Pará os de Redenção, Santana, Xinguara,
Curionópolis, Conceição, Marabá e Rio Maria.

O fato é que existe entre esses estados e esses municípios, sim, uma
verdadeira indústria do tráfico de trabalhadores envolvendo, a partir das
empreitas encomendadas pelos fazendeiros, uma rede complexa de
intermediários onde predominam: o empreiteiro conhecido como gato, e sua
rede de reta-gatos, o dono da pensão peoneira, o transportador clandestino, o
fiscal da barreira interestadual, o policial de plantão. Segundo investigação
apresentada em livro recente por Binka Le Breton, todos estes ganham um
bom dinheiro com a intermediação do crime. Ao lado da violência física e/ou
psicológica, do isolamento, da humilhação, e da mais abjeta superexploração,
o artifício da dívida impagável, fabricada e amarrada nas costas do peão para
ser cobrada sem fim e assim garantir a sua permanência no trabalho forçado,
tem se tornado o instrumento mais comum de coação do trabalhador.

3. Um crime complexo que mata homens e natureza

A prática do crime de trabalho escravo raramente ocorre sozinha mas


sim associada, em conexão criminosa, à prática de vários outros crimes tais
como homicídio, formação de quadrilha, desmatamento ilegal, sonegação
tributária e previdenciária, falsidade ideológica, grilagem de terra, invasão de
áreas indígenas e, segundo investigações recentes do MPF na região do Iriri-
Terra do Meio, porte e tráfico de armas, e narcotráfico. Mesmo assim, ou por
isso talvez, tem sido extremamente difícil levar a julgamento os infratores
flagrados pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho, em
ações conjuntas realizadas com a Polícia Federal e o Ministério Público. Dos
124 casos fiscalizados no Pará nos últimos 4 anos, resultando na libertação de
3.439 trabalhadores escravizados (40% do total nacional neste período: 8.650),
não temos conhecimento de nenhuma condenação criminal consistente, nos
termos do disposto pelo Código Penal Brasileiro. De 1995 a 2001, no Sul do
Pará, houve só 2 condenações de proprietários. E só 4 empreiteiros foram
condenados, alguns a doar cestas básicas.

A omissão começa já pela ausência de investigação séria e a ausência


consecutiva de denúncia dos criminosos na Justiça. Entre 1996 e 2003,
identificamos somente 49 pessoas denunciadas por este tipo de crime, quer na
Justiça Federal quer na Justiça Estadual. Relacionadas com essas 49
denúncias, só foram prolatadas até o momento 24 sentenças. Do total das
pessoas sentenciadas, 80% ficaram sem pena e somente 20% receberam
punição. Interessante é observar o motivo da ausência de pena: a metade se
deve à prescrição, 27% à falta de interesse processual, e 21% à absolvição
pura e simples dos réus. Entre os sentenciados, 41% se beneficiaram com a
prescrição, 21% com a falta de interesse processual, 17% foram absolvidos,
13% receberam pena alternativa, 4% tiveram prisão preventiva decretada e
outros 4% tiveram condenação à prisão em regime semi-aberto.

Como é de se esperar, tamanha impunidade funciona como o mais


poderoso incentivador ao recrudescimento da prática criminosa. Basta olhar
para o ranking da reincidência elaborado pela CPT para o último ano de 2002
onde verificamos, entre os 10 maiores reincidentes identificados, uma média de
reincidência de 5 vezes, sendo campeões os seguintes fazendeiros: Jairo
Andrade (com 10 denúncias nos registros da CPT), Grupo Quagliato (com 9
citações), Romeiro Albuquerque (7), Antônio Barbosa (6), Lima Araújo
Agropecuária (4).

4. Os caminhos da erradicação

Por certo, a repressão nunca basta sozinha para resolver questões


complexas, enraizadas em práticas de longa tradição. No caso do trabalho
escravo, fica óbvio, porém, que a melhor prevenção, no curto prazo, passa pela
efetivação e intensificação da repressão e da punição dos responsáveis pelo
crime. Libertar levas de trabalhadores, como fazem os fiscais do trabalho,
nunca erradicará o trabalho escravo por si só. Em ações arriscadas e
corajosas, que foram intensificadas nos últimos tempos em função da
priorização dessa política pelo Governo Federal (o qual recentemente adotou
um Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo) e da multiplicação das
denúncias, os fiscais conseguem no máximo impor ao infrator o pagamento dos
direitos que vinham sendo sonegados aos trabalhadores, e dar regularização
trabalhista provisória à um ilícito criminoso bem mais complexo.

A impunidade pelo aliciamento e pela prática do trabalho escravo


incentivam a reincidência e a extensão do crime, como também a ausência de
políticas ousadas de geração de emprego e de reforma agrária favorecem a
recaída das vítimas nas mesmas e permanentes armadilhas, pois o perverso
sistema que sustenta essas práticas continua inalterado. A erradicação do
trabalho escravo passa por soluções de curto prazo (repressão e punição
efetiva) e de médio e longo prazo (geração de alternativas de trabalho e de
desenvolvimento regional, políticas públicas: educação, acesso à terra,
emprego).

Procuradores e Juízes do Trabalho audaciosos têm inovado


recentemente com inéditas ações visando impor ao empregador recalcitrante o
pagamento imediato dos direitos arbitrados pelos fiscais (bloqueio de contas,
indisponibilidade e penhora do patrimônio) ou penalizar o infrator com
condenação ao pagamento de pesadas indenizações pelos danos morais
sofridos pelos trabalhadores e pela sociedade. A Justiça do Trabalho tem
inclusive se deslocado até o local do flagrante para agilizar sua intervenção
(Varas itinerantes). Um caso típico na atualidade é a Ação Civil Pública
impetrada em outubro de 2003 pelo Ministério Público do Pará contra a Lima
Araújo Agropecuária - proprietária das fazendas Estrela de Maceió e Estrela
das Alagoas, ambas no sul-Pará - com pedido de indenização por danos
morais coletivos chega ao valor incomum de 22 milhões de reais, ou seja: 40%
do valor estimado dessas fazendas onde, em 4 anos consecutivos, e em 4
ocasiões, o Ministério do Trabalho flagrou a utilização de trabalho escravo,
resgatando dali 180 trabalhadores.

No plano criminal, porém, a prevalência até hoje da teoria jurisprudencial


da incompetência federal para esse tipo de crime - embora contrária ao
ordenamento constitucional - tem inviabilizado uma efetiva ação penal e
servido como fator incentivador. Essa jurisprudência tem de ser revertida, nas
instâncias superiores da Justiça do país ou na lei. Enquanto isso não ocorrer, a
Justiça comum continua se pautando na lerdeza e na indiferência - se não na
objetiva conivência - para manter engavetados, até vencer a prescrição, os
casos a ela submetidos ou devolvidos pela Justiça Federal. Às penalidades já
aplicáveis ao crime de trabalho escravo, precisa ainda acrescentar com
urgência penas financeiras e econômicas suscetíveis de exercer um papel
dissuasivo real e imediato: confisco da terra, vedação e corte de qualquer
financiamento ou licitação pública. Ao punir o crime, que se elimine, enfim,
essa incitação legal ao avanço do latifúndio, da destruição ambiental e do mal-
desenvolvimento do país. Erradicar o trabalho escravo no Pará e no Brasil
como um todo exige, sob o impulso de uma sociedade acordada e mobilizada,
o empenho irrestrito do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.

Fr. Xavier Plassat é Coordenador da Campanha nacional da Comissão


Pastoral da Terra contra o Trabalho Escravo
COMENDO A AMAZÔNIA – A EXPANSÃO DA SOJA
06 de abril de 2006

Investigação realizada pelo Greenpeace Internacional, da Holanda,


sobre a expansão da indústria da soja no Brasil revela novas evidências sobre
a relação entre multinacionais norte-americanas com o desmatamento, a
grilagem de terras e o trabalho escravo na Amazônia. Ao construir silos e
infraestrutura no coração da floresta, financiar a abertura de estradas e
comprar soja produzida em fazendas ilegais ou proveniente de desmatamento,
inclusive com o uso de trabalho escravo, Cargill, ADM e Bunge estão, ao
mesmo tempo, estimulando e se beneficiando da invasão da soja na Amazônia.
. A floresta amazônica é uma das regiões mais ricas e de maior
biodiversidade do planeta. Abriga cerca de 10% das espécies conhecidas de
mamíferos e 15% das espécies de plantas. É também um dos ecossistemas
mais ameaçados do mundo e está desaparecendo a um ritmo de mais de 18
mil km2 ao ano. Nos últimos 25 anos, uma área de floresta primária maior do
que os estados do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro, juntos, foi
destruída para sempre na Amazônia.

Nos últimos anos, o governo brasileiro adotou medidas importantes para


combater a exploração ilegal de madeira e o desmatamento na Amazônia. Ao
mesmo tempo, uma nova e poderosa ameaça de destruição da floresta surgiu
na região: a soja. Grandes investimentos por parte do setor de agronegócio
norte-americano transformaram a Amazônia na mais nova fronteira agrícola do
País. Até 2004, cerca de 1,2 milhão de hectares de florestas foram convertidas
em plantações de soja. Apesar de representar apenas 5% do total da área
cultivada com soja atualmente no Brasil e de muitos cultivos antigos ocuparem
áreas já desmatadas, novos investimentos em estradas, silos e portos pela
Cargill e outras empresas fazem com que seja mais lucrativo queimar áreas
intactas de florestas do que comprar áreas já desmatadas, impulsionando
assim a expansão da soja na Amazônia a uma velocidade ainda maior. Esta
expansão tem um preço não apenas para a floresta, mas para as populações
indígenas e comunidades tradicionais, que são expulsas de suas terras para
dar lugar à soja, e para milhares de pessoas que são enganadas e forçadas a
trabalhar na derrubada da floresta.
Apesar de várias reportagens terem investigado um aspecto ou outro do
fenômeno soja, até hoje não existia uma análise abrangente das causas e
efeitos desta monocultura na Amazônia.
Desde 2004, o Greenpeace Internacional, com sede na Holanda, iniciou
esta análise, baseada em investigações de campo, sobrevôos, entrevistas com
comunidades afetadas, representantes da indústria e políticos, análise de
imagens de satélite e dados de exportação, e monitoramento de navios para o
mercado internacional. A investigação, que durou dois anos, foi além dos
campos de soja e das florestas na Amazônia, e identificou a cadeia da soja
desde as decisões iniciais em salas de reuniões de empresas nos Estados
Unidos até chegar às prateleiras de restaurantes, lanchonetes e
supermercados da Europa, passando pela destruição da maior floresta tropical
do planeta. Este relatório apresenta nossas descobertas preliminares. É o
retrato de uma indústria vigorosa e devastadora, e inclui novas evidências da
responsabilidade das empresas norte-americanas e do papel involuntário de
consumidores europeus na destruição da floresta, na grilagem de terras,
expulsão de comunidades locais e uso de trabalho escravo na Amazônia.
Muitos atores, nacionais e internacionais, têm sido cúmplices na
dconversão da floresta amazônica em monoculturas de soja. No entanto,
nossas evidências apontam, repetidamente, para três multinacionais norte-
americanas do setor do agronegócio como responsáveis por esta destruição –
Archer Daniels Midland (ADM), com sede em Decatur, Illinois; Bunge
Corporation, baseada em Saint Louis e, mais importante, a Cargill, com sede
em Minnesota.
Fornecendo desde sementes e fertilizantes até a infraestrutura
necessária para armazenamento e transporte da soja, estas empresas agem
como imã para atrair novos produtores para a Amazônia. Elas não apenas
impulsionam a expansão da soja, mas fecham também elos importantes na
cadeia da destruição ilegal da floresta, grilagem de terras e trabalho escravo,
tornando a soja produzida na Amazônia extremamente barata para
consumidores europeus, e dispendiosa para todos os outros. As evidências
coletadas pelo Greenpeace mostram como a Cargill e seus aliados se
alimentam da destruição da floresta, construindo portos, silos e outras obras de
infraestrutura, financiando a abertura de estradas em áreas de florestas e
comprando soja produzida em fazendas envolvidas com grilagem de terras,
desmatamento ilegal em áreas protegidas e trabalho escravo.
A grande maioria desta soja é exportada para a Europa para ser usada
como ração animal e garantir que produtos como o Chicken McNuggets e
outras carnes continuem com os preços baixos e abundantes para os
consumidores europeus.

Principais descobertas

A soja é, hoje, a maior ameaça à floresta amazônica. A crescente


demanda global por soja aliada ao espaço reduzido para expandir a produção
em campos limpos e de vegetação arbustiva no sul do Brasil, a soja lidera,
hoje, o avanço da fronteira agrícola em direção à Amazônia, sendo uma das
principais causas do desmatamento.

Em poucos anos, o estado do Mato Grosso se tornou o maior produtor


de soja do Brasil, responsável por quase um terço da safra total em 2004. Mais
da metade do Mato Grosso se encontra dentro do bioma Amazônia, ainda que
o nome do estado esteja perdendo seu significado a cada ano que passa. A
área cultivada com soja no Mato Grosso dobrou desde 1996. O estado também
é campeão em desmatamento e queimadas, responsável por quase a metade
do total desmatado (48%) em 2003. Um terço da floresta foi destruída para dar
lugar ao avanço da fronteira agrícola.

Cargill, ADM e Bunge— Grandes lucros, negócio sujo

O que torna a invasão da indústria da soja sobre a Amazônia ainda mais


dramática do que incursões anteriores é que as multinacionais norte-
americanas fornecem aos produtores de soja crédito fácil e mercado garantido,
dando incentivos e recursos para que eles comprem e desmatem grandes
extensões de terra a fim de que a produção de soja seja lucrativa.
O comércio internacional e o processamento de soja é controlado por
poucas traders transnacionais de commodities que geralmente também
dominam outros segmentos da cadeia alimentar: ADM, Bunge e Cargill. No
Brasil, estas empresas não agem apenas como compradoras. Juntas, elas são
responsáveis por pelo menos 60% de todo o financiamento da produção de
soja no País. Só a Bunge financia o equivalente a quase US$ 1 bilhão em
insumos agrícolas para fazendeiros brasileiros em 2004. Em vez de oferecer
empréstimos, eles fornecem sementes, fertilizantes em troca da colheita de
soja, dando às companhias controle indireto sobre grandes áreas de terra.
Além disso, ao construir infraestrutura para armazenamento e transporte
no coração da floresta, estas empresas empurram, intencionalmente, a
fronteira da soja ainda mais para o interior da Amazônia.

A Rodovia da Soja: Estrada para lugar nenhum

O desenvolvimento de infraestrutura – principalmente estradas – através


de terras públicas sem proteção oficial é um convite ao desmatamento para
grileiros e fazendeiros. Oitenta e cinco por cento de todo o desmatamento
ocorre nos 50 quilômetros de cada lado das rodovias.
O impacto pode ser visto ao longo da BR-163, a rodovia que liga a
capital do Mato Grosso, Cuiabá, à Santarém, no Pará. Nos últimos anos, a
produção de soja ao longo da parte pavimentada da BR-163 saltou de 2,4 mil
hectares em 2002 para mais de 44 mil hectares em 2005 – um crescimento de
quase 20 vezes em três anos. Os grandes desmatamentos terminam junto com
o asfaltamento da estrada, ao sul da divisa com o estado do Pará. Tanto a
Cargill quanto a Bunge têm comprado soja de fazendas localizadas na área de
influência da BR-163. Pior: Cargill, ADM e Bunge são parceiras no
financiamento do projeto de US$ 175 milhões para pavimentar o restante da
estrada, acelerando o acesso ao novo porto graneleiro construído ilegalmente
pela Cargill em Santarém.
Uma segunda rodovia da soja, construída ilegalmente, se estende por
120 quilômetros, saindo da cidade de Feliz Natal, no Mato Grosso, até terminar
de forma abrupta na fronteira oeste do Parque Indígena do Xingu. Tanto a
Cargill quanto a Bunge construíram silos com capacidade para armazenar 60
toneladas de grãos nesta “estrada para lugar nenhum”. Além disso, oferecem
crédito e mercado garantido para qualquer fazenda já desmatada na
região.Nos dois últimos anos, mais de 40 mil hectares de soja foram
produzidos perto desta estrada e o Greenpeace descobriu outros 99,2 mil
hectares para venda na internet. Documentos mostram que tanto a Cargill
quanto a Bunge estão comprando soja destas novas áreas.
Análise das imagens de satélite mostram que os impactos da rodovia da
soja devem se estender por mais de 1 milhão de hectares de florestas da
região. Este número contabiliza apenas os impactos diretos do desmatamento.
Os impactos indiretos produzidos por grandes quantidades de produtos
químicos e pelo crescimento populacional devem ser ainda maiores.

Infraestrutura da Soja: Se você construir, eles virão

Além de financiar novas estradas e fazendas na Amazônia, o


agronegócio americano está construindo a infraestrutura industrial necessária
para sustentar a produção de soja em grande escala na Amazônia. Juntas,
ADM, Bunge e Cargill construíram 23 silos, infraestrutura para armazenamento,
portos e terminais, sendo responsáveis por quase 2/3 de todas as obras deste
tipo na região.
Das três, a Cargill é a que mais incentiva a destruição da Amazônia.
Além de 13 silos espalhados no bioma Amazônia, a empresa construiu
ilegalmente um enorme porto graneleiro às margens do rio Tapajós, em
Santarém, no Pará. A Cargill estima que entre 2-3 milhões de toneladas de soja
por ano sejam transportadas para o porto de Santarém depois que a BR-163
for pavimentada – um volume de exportações que exige grande crescimento no
cultivo de soja e, consequentemente, no desmatamento desta região.
Ávida por abrir a rota norte para as exportações de soja, a Cargill
construiu o terminal graneleiro de US$ 20 milhões ignorando os protestos das
comunidades locais, sem realizar os Estudos de Impacto Ambiental (EIA)
previstos pela Constituição Brasileira e tendo de enfrentar uma batalha judicial
iniciada pelo Ministério Público Federal em Santarém contra a construção do
porto. Em novembro de 2003, uma decisão da Justiça condenou a Cargill,
mesmo com as instalações do porto já em operação. No mês seguinte, os
procuradores públicos iniciaram nova batalha judicial pedindo a demolição do
porto e a suspensão imediata das atividades da Cargill em Santarém até que a
decisao final fosse tomada. Em maio de 2004, o juíz federal de Santarém
ordenou que a Cargill realizasse o estudo de impacto ambiental, mas a
empresa se recusou a fazê-lo. Finalmente, em fevereiro de 2006, o TRF1
condenou a Cargill a cumprir a legislação brasileira, realizando os estudos de
impacto ambiental não apenas para a área do porto, mas para toda a região
oeste do Pará. O termnal, no entanto, continua operando.
Grilagem de Terras e Trabalho Escravo

A ânsia de encontrar novas terras para a produção de soja estimulou


enormemente a grilagem de terras, e milhões de hectares de terras já foram
transferidos para grandes fazendeiros através de documentos falsos e,
geralmente, com o uso da força. As principais vítimas desta ocupação ilegal de
terras públicas têm sido as populações indígenas e pequenos posseiros, que
dependem da floresta para sua sobrevivência. Por exemplo, a Fazenda
Membeca, em Brasnorte, no Mato Grosso, tem promovido o desmatamento
ilegal de mais de 8 mil hectares de florestas dentro da Terra Indígena Manoki
desde 2003 e continua a desmatar novas áreas para expandir sua plantação de
soja. Tanto a Cargill quanto a Bunge instalaram silos em Brasnorte e têm
comprado soja da Fazenda Membeca. O porto da Cargill em Santarém exporta
soja desta área.
Os estados amazônicos que se encontram na vanguarda da expansão
da soja também lideram as tristes estatísticas brasileiras de trabalho escravo
registrado em fazendas, campos e em áreas de florestas. Estimativas oficiais
do número de escravos no Brasil variam entre 8 mil e mais de 25 mil, sendo
que a maioria deles são encontrados no Mato Grosso e no Pará. Enganados
pelapromessa de bom pagamento e trabalho honesto, moradores pobres de
áreas rurais e da periferiadas cidades são seduzidos e levados para áreas
remotas e aprisionados em uma rede de dívidas e trabalho em condições
degradantes, longe dos olhos ou da proteção das autoridades brasileiras.
Embora o Brasil tenha encorajado grandes empresas a apoiar seus
esforços contra o trabalho escravo através da assinatural do Pacto Nacional
para a Erradicação do Trabalho Escravo, nem ADM, nem Bunge e nem a
Cargill aderiram à campanha. Na Fazenda Roncador, uma área de 149 mil
hectares em Querência, no Mato Grosso, onde mais do que o dobro do limite
legal da área de floresta foi desmatado, agentes do governo libertaram 215
trabalhadores escravos entre 1998 e 2004. Trabalhando 16 horas por dia, sete
dias por semana, os trabalhadores eram forçados a viver em barracões
cobertos por plásticos sem cama ou banheiro. Água para beber, cozinhar ou
tomar banho era retirada do bebedouro usado pelo gado e armazenado em
barris que haviam sido usados para guardar óleo diesel ou lubrificantes.
Incapazes de deixarem a propriedade e forçados a comprar comida da venda
da fazenda a preços exorbitantes, os trabalhadores – endividados – eram
escravizados até que o governo aparecesse. Mesmo que os proprietários da
fazenda estejam sendo processados, a Fazenda Roncador continua plantando
soja para o mercado. Tanto a Cargill quanto a Bunge instalaram operações em
Querência e a Bunge registrou exportações da região em 2005.
A Cargill comprou soja da Fazenda Vó Gercy em Mato Grosso na época
em que a fazenda foi vistoriada pelos agentes do Grupo Móvel contra trabalho
escravo, em junho de 2002. Mesmo depois que os agentes encontraram
escravos desmatando a área para a plantação de soja, a Cargill continuou
negociando com a Vó Gercy até, pelo menos, nove meses depois da inspeção.
A Bunge comprou soja da Fazenda Tupy Barão em fevereiro de 2003 –
16 meses depois que agentes do governo libertaram 69 trabalhadores
mantidos na fazenda contra a sua vontade. A fazenda Tupy Barão continua na
lista negra do governo de fazendas que usaram trabalho escravo e outras
práticas ilegais de trabalho. Tanto a Cargill quanto a ADM também compraram
soja da Fazenda Vale do Rio Verde, em Mato Grosso, onde os agentes
federais encontraram 263 trabalhadores escravos em junho de 2005.
O papel das maiores companhias norte-americanas no desmatamento
na Amazônia, expulsão de comunidades locais e trabalho escravo, é ilustrada
na tabela abaixo. De acordo com a tabela, Cargill, ADM e Bunge não são
apenas as vilãs da indústria da soja brasileira, mas as maiores e as piores,
sendo que a Cargill é a campeã em ambos os aspectos.

Lucrando além das Fronteiras: Impactos nos fazendeiros americanos

O papel da Cargill neste empreendimento vergonhoso é particularmente


irônico, dado ao fato que a soja brasileira compete diretamente com os
fazendeiros americanos sobre os quais a Cargill, uma das maiores empresas
privadas dos Estados Unidos, construiu seu império e fortuna. Durante
décadas, o mercado global da soja foi abastecido principalmente pelos Estados
Unidos. No início dos anos 80, os EUA eram responsáveis por mais de 90%
das exportações de soja no mundo todo. No final da década, no entanto, o
domínio americano no mercado de soja começou a cair, ao mesmo tempo em
que os esforços da Cargill e outras empresas para o desenvolvimento da soja
na América Latina começou a dar frutos. Em 2003, a fatia de mercado dos
Estados Unidos havia caído para apenas 40% e a soma das exportações de
soja em grão pelo Brasil e Argentina ultrapassou as exportações americanas
pela primeira vez. Enquanto os Estados Unidos continuaram a ser o maior
exportador em 2004, atingindo 36,3 milhões de toneladas de soja em grão e
farelo de soja, sua liderança sobre o Brasil, segundo maior exportador com
35,1 milhões de toneladas, havia caído para apenas 1 milhão de toneladas
métricas e estima-se que esta diferença desapareça completamente nos
próximos quatro anos.
Com o crescimento significativo na produção de soja na América Latina,
aumentou também a pressão sobre os fazendeiros americanos, levando muitos
produtores brasileiros a abandonar a soja por outros cultivos mais
lucrativos1.Ironicamente, muitos fazendeiros estão agora sendo recrutados no
sul do País para plantar soja na Amazônia, sob a proteção e termos da Cargill.

Conclusões e Demandas
A expansão dramática da soja representa a mais séria das muitas
ameaças ao futuro da Amazônia. O boom da soja está devastando não apenas
a floresta, mas populações indígenas e comunidades tradicionais, forçados a
deixarem suas terras para dar lugar a grandes campos de soja, e a população
pobre, levada para áreas remotas da Amazônia para trabalhar como escravos
em áreas de desmatamento ilegal, e moradores da área rural, cujas terras e
água são poluídas pelo uso intensivo de agrotóxicos nas monoculturas de soja.
A soja na Amazônia não é produzida de forma responsável e grande parte é
ilegal, beneficiando apenas aquelas empresas que controlam o comércio – o
comércio triangular para o século 21.
O Mercado precisa mudar:

 As empresas envolvidas no comércio de alimentos e ração aniaml


devem garantir que não estão usando soja da Amazônia, e
devem desenvolver urgentemente políticas de compra que
garantam que a origem legal, ambientalmente responsável
e socialmente justa. Isso inclui o estabelecimento de sistemas de
rastreamento para verificar a origem dos ingredientes dos
produtos, as condições em que foram produzidos e o impacto de
sua produção.
 Grandes traders, incluindo a Cargill, ADM e Bunge, devem parar
de comprar soja produzida no bioma Amazônia.
 As três multinacionais devem assinar o Pacto Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo e se comprometer com uma
cadeia de custodia da soja que garanta sua origem legal
(produzida em fazendas com títulos legais de terra, sem
desmatamento ilegal e sem o uso de trabalho escravo).
 A Cargill deve fechar o porto graneleiro construído ilegalmente em
Santarém.

AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Qual a diferença entre conservação e preservação?

Conservação é a administração de recursos naturais para fornecer o benefício


máximo de um recurso sem a degradação do mesmo. A preservação
estabelece práticas que asseguram a proteção integral dos recursos naturais.

O que significa Unidade de Conservação?

Áreas delimitadas do território nacional que contém recursos naturais de


importância ecológica ou ambiental e, por isso, são especialmente protegidas
por lei. A partir de então, são observadas suas características naturais e
estabelecidos os principais objetivos de conservação e o grau de restrição à
intervenção humana. Além das terras indígenas,
atualmente, o Brasil possui várias categorias de unidade de conservação,
definidas pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação.

O que é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável?

Trata-se da nova designação para as Unidades de Conservação de Uso


Direto, onde a exploração e o aproveitamento econômico direto ou a
exploração dos recursos naturais são permitidos, de uma forma planejada ou
regulamentada. As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) são
consideradas unidades de conservação de uso sustentável.

O que é Reserva Florestal?


Áreas de grande extensão territorial, não habitadas, de difícil acesso e ainda
em estado natural.

O que é Reserva Extrativista?


Área criada pelo Poder Público em espaços territoriais de interesse ecológico e
social, onde ocorre o extrativismo.

O que são as Flonas (FLORESTAS NACIONAIS)?

Fonte: Ibama

A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies


predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
método para exploração sustentável de florestas nativas.

A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas


particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo
com o que dispõe a lei. Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de
populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em
conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da
unidade.
A visitação e a pesquisa são permitidas. A pesquisa, inclusive, é
incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela
administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e
àquelas previstas em regulamento.

Toda essa versatilidade, torna complexo o estabelecimento do processo


de gestão da Floresta Nacional, pois demanda o aprimoramento dos
mecanismos de acesso aos recursos naturais renováveis, exigindo, inclusive, a
criação de incentivos duradouros aos diversos atores envolvidos, uma vez que
as atividades ali desenvolvidas são cíclicas e de longo prazo.

O que é zoneamento econômico ecológico?

É a definição de setores ou zonas em uma região objetivando identificar as


características sócio-econômica e ambiental das mesmas e através de normas
específicas, gerenciar os meios e as condições para que a utilização
econômica dessas áreas possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.

Nota: os conceitos sobre conservação, preservação, unidades de conservação, flonas e zoneamento foram
adaptados de artigos veiculados pelo Ibama.

Capitulo VIII

Amazônia: Uma região de fronteira – A Organização dos espaços rural e


urbano

 A fronteira amazônica
→Fronteira ≠ limite
Fronteira: zona de contato entre espaço distintos, do ponto de vista sócio-
econômico, ambiental e cultural.
Limite: é demarcação jurídica-política de distinção de territórios.

Na Amazônia, a fronteira assume características específicas, quais


sejam:
 →É a parcela do espaço não plenamente estruturado, ou seja, pouco
dotado de infra-estrutura, pequena diversidade de atividades
econômicas e relativa ausência das ações do Estado e das Instituições.
 →”Área de povoamento e ocupação recentes ainda não consolidados.” –
Quando a região ainda era considerada uma fronteira vazia (décadas de
50 a 70).

Os diversos significados de fronteira na Amazônia:


a) Já nasce heterogênea – constituída por várias frentes de atividades,
povoamento e a produção modestas.
B) Já nasce urbana e tem ritmo intenso de urbanização – a urbanização foi
uma estratégia do Estado para garantir a mobilidade do trabalho e atrair
empreendimentos. Surgem cidades que crescem rapidamente.
C) O governo federal tem papel fundamental no planejamento do volume de
investimentos de infra-estrutura.
D) O Estado implanta políticas públicas de caráter privado.

Amazônica: Fronteira Agropecuário/Industrial


• Anos de 1970 e 1980.
• Projetos agrominerais e agropecuários como característica econômica
marcante.
• Mudança da base material-geográfica na região.
• Grandes impactos sócio-ambientais
• Desestruturação da economia local.
• Impactos de ordem demográfica – sociedade de migrantes.

Amazônica: Fronteira Tecno-Ecológico


• Anos de 1990 e atualidade.
• Atividades ligadas ao desenvolvimento sustentável.
• Presença de redes internacionais ligadas à biotecnologia.
• Atuação destacada dos centros de pesquisa (INPA, MPEG, UFPA,etc) e
das ONGS.
• Novo ritmo de vida para as comunidades tradicionais da região.
• Surgimento da RDS – Reservas de Desenvolvimento sustentável.
• Discussão sobre a questão das patentes.

Organização do espaço rural e urbano da Amazônia

→A política de integração da região ao Centro-Sul não levou em consideração


a estrutura agrária pré-existente e contribuiu para a chegada de conflitos
fundiários envolvendo diversos personagens.
Os principais personagens dos conflitos fundiários na Amazônia:
 Posseiros, colonos, indígenas, grileiros, gatos, latifundiários, peões,
empresários, castanheiros, seringueiros e pistoleiros.
Razões que explicam a presença de alguns dos personagens dos
conflitos:
• Tensões sociais em outras regiões, sobretudo no Nordeste.
• Descoberta de jazidas minerais no subsolo amazônico, o que contribuiu
para a prática da grilagem.
• Necessidade de expandir a produção agrícola para atender ao mercado
interno – Centro-Sul.
• Necessidade do governo brasileiro garantir a soberania nacional, por
intermédio da ocupação da região.

O Que é Reforma Agrária


• Corresponde a uma série de medidas cujo objetivo é a introdução de
transformações na estrutura fundiária de um país ou região.Visam
promover melhor distribuição de terras mediante modificações no regime
de posse e uso a fim de atender aos princípios da justiça social e da
produtividade.
A importância da Reforma Agrária
→ Diminuição dos conflitos fundiários.
→Retenção do êxodo rural.
→Aumento da produção de alimentos.
→Amenização dos problemas sociais urbanos (favelização, desemprego,
subemprego, etc.).
→Combate efetivo à fome.

O crescimento urbano na região

Aspectos importantes

* As diversas políticas públicas(criação da Zona Franca, colonização do


INCRA, POLAMAZÔNIA, dentre outros) repercutiram no surgimento e/ou
crescimento de cidades na Amazônia.
* O ritmo de crescimento das cidades é mais intenso na Amazônia
Oriental, que sofreu influência da abertura da Belém-Brasília e da instalação do
PGC.

Característica da dinâmica das cidades

* Inchaço populacional nas capitais dos Estados.


* Fortalecimento de centros urbanos regionais.
* Surgimento e o crescimento de cidades em função dos projetos de
colonização.
* Implantação de núcleos urbanos para atender as empresas e seus
respectivos projetos.
* Retração de cidades tradicionais.

Metropolização na Amazônia

• Duas cidades se diferenciam no contexto amazônico por concentrarem


muitos equipamentos urbanos e boa parte da população da região.
• Pelas funções que exercem na atual divisão territorial do trabalho no
âmbito regional, tais cidades desempenham o papel de metrópoles
regionais.

Belém

a) Metrópole da Amazônia Oriental


b) Polariza a porção leste da região.
c) Foi importante entreposto comercial no período da borracha – final do
séc. XIX
d) Cresceu influenciada pela instalação de grandes projetos e da malha
rodoviária – a partir do período pós-1950.
e) Segunda mais populosa cidade da região.
f) Faz parte de uma região metropolitana juntamente com os municípios de
Ananindeua, Benevides, Marituba, Santa Izabel, Castanhal e Barcarena.
g) Economia relacionada, sobretudo, às atividades terciárias.
h) Sede de importantes instituições federais que atuam na Amazônia
Legal – SUDAM (atual ADA), BASA, DNPM, etc.

MANAUS

a) Metrópole emergente da Amazônia Ocidental


b) Polariza a porção oeste.
c) Crescimento associado às políticas da SUFRAMA, principalmente a
criação da Zona Franca.
d) Concentra metade da população do Amazonas.
e) Cidade mais populosa de toda a Amazônia.
f) Economia muito associada ao importante pólo industrial e turístico da
região.
g) Ainda não formou uma conurbação com cidades do seu entorno.

Capitulo IX

OS MAIS RECENTES PROJETOS MINERAIS IMPLANTADOS OU EM VIAS


DE IMPLANTAÇÃO NA AMAZÔNIA

O PROJETO JURUTI

Fonte: Governo do Estado do Pará

Com previsão para 2008, se nenhum problema judicial provocar sua


interrupção ou seu atraso será instalada a primeira refinaria de bauxita da
região oeste do Pará. Ela será implantada no município de Juruti pela Alcoa do
Brasil, sob a administração da Omnia minérios, que vai investir US$ 590
milhões na indústria. A fabricação de alumina faz parte do projeto Juruti,
definido pela empresa como estratégico para que ela se mantenha na posição
de maior produtora mundial de alumina.
Atualmente, o projeto encontra-se em implantação, que começou em
2000. As instalações do projeto estão montadas nas margens do Lago Grande
de Juruti e está previstos investimentos de US$ 900 milhões no Projeto Juruti,
sendo US$ 590 milhões na fábrica de alumina e o restante na exploração da
bauxita. As pesquisas já constataram que as jazidas de Juruti, que se
estendem para o município de Santarém, apresentam potencial de produção
em torno de 6 milhões de toneladas de bauxita/ano. O prazo previsto para
exploração é de aproximadamente 100 anos.
Inicialmente a produção de bauxita do Projeto Juruti será destinada à
refinaria do Consórcio Alumínio do Maranhão – Alumar - em São Luís (MA).
Uma das complicações para viabilizar todo o processo de exploração e
beneficiamento da bauxita em Juruti é a falta de energia elétrica capaz de
assegurar o funcionamento da fábrica de alumínio. O ideal seria o
funcionamento da usina Belo Monte, próximo a Altamira, de onde a Alcoa
receberia energia elétrica para a sua indústria de alumínio. A segunda opção
seria o recebimento de energia da hidrelétrica de Tucuruí. Tudo isso passa pelo
projeto de transposição sub-aquática do rio Amazonas, através de um linhão de
energia elétrica, projeto a ser desenvolvido pela Eletronorte, em parceria com a
Rede Celpa. O consumo previsto para a fábrica de alumínio é de 600 MW/h,
pois a transformação da alumina em alumínio utiliza o processo da eletrólise,
considerado de alto consumo. Quarenta por cento de alumínio é considerado
energia sólida.

Crítica: O Pará não é um almoxarifado de matéria-prima, sugerindo que as


empresas mineradoras façam à verticalização do minério no próprio local da
extração, gerando emprego e renda para a população paraense, além de não
promover a degradação ambiental através de estudos adequados sobre a
sociedade e o meio ambiente locais.

NOVOS PROJETOS NO PARÁ

PROJETOS SOSSEGO, 118, VERMELHO E ONÇA PUMA

Um município que nasceu há apenas 13 anos - desmembrado de


Parauapebas -, a partir de um assentamento agrícola, é hoje um dos campeões
em evolução do PIB (Produto Interno Bruto) entre os municípios brasileiros.
Com cerca de 24 mil habitantes, a pequena Canaã dos Carajás, no sudeste do
Pará, ultrapassou 2.033 municípios em apenas dois anos, como mostra o
estudo sobre a evolução do PIB dos municípios, divulgado na quarta-feira (19)
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Secretaria de
Planejamento, Orçamento e Finanças do Pará (Sepof). Canaã saiu da 2.457ª
posição em 2004 para a 424ª em 2005, como já divulgou este site. E a
explicação para isso está no investimento feito no município pela Vale, que
desde julho de 2004 opera ali seu primeiro empreendimento de produção de
cobre, na mina do Sossego, e investe na implantação de outros dois de cobre e
um de níquel.

Os números mostram isso. Em 2002, o PIB de Canaã era de R$ 43


milhões, numa economia baseada principalmente na pecuária e na agricultura,
em razão de sua origem no assentamento de famílias de agricultores. No ano
seguinte, o PIB municipal já experimentava uma expressiva evolução, para R$
103 milhões, em razão do investimento que a Vale vinha fazendo na
implantação do Sossego. Mas foi a partir de 2004, com o início da atividade
da mina de cobre, que o PIB de Canaã disparou, pulando para R$ 463 milhões
naquele ano e para R$ 628 milhões em 2005. Foi o maior crescimento entre os
143 municípios paraenses (35% entre 2004 e 2005, período em que Canaã
passou do 12º para o 10º lugar). Entre esses dois anos o PIB paraense evoluiu
10,08% e o de Belém, apenas 8,54%.

Significativa também foi a influência da Vale no aumento do PIB per


capita de Canaã. Em 2002, estava em apenas R$ 3.621, passando para R$
8.302 em 2003, para R$ 35.593 em 2004 e para R$ 46.854 em 2005, ano em
que passou a ocupar o primeiro lugar entre os municípios paraenses. Belém
ocupa apenas o 13º lugar neste ranking, com um PIB per capita de somente R$
8.022.

Em Canaã dos Carajás, onde estão as bases de pelo menos quatro


empreendimentos minerais da Vale (Sossego, Usina Hidro-Metalúrgica e o 118,
na área do cobre, e o níquel do Vermelho), a antiga Companhia Vale do Rio
Doce optou por mudar o perfil de implantação da infra-estrutura de apoio,
abandonando a idéia de uma vila isolada, como na Serra dos Carajás, no
vizinho município de Parauapebas. Em Canaã, os empregados da Vale estão
integrados à comunidade local na sede do município.

Desde o início da implantação da Mina do Sossego, a empresa tem


efetuado pesado investimento no município de Canaã dos Carajás, superior a
R$ 161 milhões, sendo R$ 97 milhões na construção da estrada que liga o
município de Canaã a Parauapebas e mais de R$ 64 milhões nas áreas de
infra-estrutura, educação, cultura, saúde, desenvolvimento econômico,
segurança e construção de equipamentos institucionais privados.

O município criou um Plano Diretor Participativo, conduzido pela


Prefeitura e pela Câmara Municipal, com o apoio da Vale. A preocupação da
comunidade é reduzir os impactos negativos provocados pelo grande número
de pessoas que chegam ali diariamente, atraídas pela possibilidade de
emprego.

Esse fluxo deverá aumentar nos próximos anos, assim como também
crescerá ainda mais o PIB do município. É que em 2008 entrará em operação a
Usina Hidro-Metalúrgica (UHC), ao lado do Sossego, para testar em escala
industrial a tecnologia para o processamento de minérios de cobre mais
complexos e que possibilita a produção direta de catodos de cobre. O sucesso
na operação da UHC implicará na utilização dessa tecnologia para o
desenvolvimento do Salobo II, com a verticalização da produção de cobre.

O Cobre do 118 ainda aguarda a licença de instalação do Ibama. O


empreendimento está a 6,5 quilômetros da mina do Sossego e tem
vida útil prevista de 11 anos. Ali a Vale investirá US$ 231 milhões para uma
produção média estimada em 36 mil toneladas por ano de catodos de cobre. A
previsão anterior era de que o Projeto Cobre 118 ficasse pronto para operação
no final do segundo semestre de 2008. Mas ainda está na dependência da
licença de instalação para definição de nova data.

O Vermelho será o segundo empreendimento da Vale no Pará na área


do níquel (o primeiro é o Onça Puma, que entra em operação em 2008 em
Ourilândia do Norte). Possui capacidade nominal de produção estimada de 46
mil toneladas anuais de níquel metálico e 2.800 de cobalto. O custo do
investimento é de US$ 1,908 bilhão, estando orçados dispêndios de US$ 91
milhões para 2008. O projeto tem conclusão prevista para o primeiro trimestre
de 2012.

Capítulo X
O PROCESSO DE FRAGMENTAÇÃO DO TERRITÓRIO AMAZÔNICO
A Formação de novos Estados e Territórios Federais
Qual desses é o Pará do seu coração?

Fonte: Jornal O Liberal


É preciso pensar pequeno para achar que o Pará vai ficar maior depois
que ele for reduzido.
Fonte: Universidade Estadual de Campinas

É antiga a idéia de parte da elite política e empresarial da região, de


promover a fragmentação de alguns Estados da Amazônia.
Hoje, se todos os processos fossem concretizados teríamos a criação de
novos Territórios Federais e/ou Estados na Amazônia. No Estado do
Amazonas esses novos territórios e/ou Estados seriam o Solimões, o Alto Rio
Negro, o Uirapuru, o Madeira e o Juruá, a maioria localizada na fronteira com
os países vizinhos. Isso nos leva a relacionar a criação dos novos territórios
com a questão da soberania do território amazônico, ou seja, uma ação
governamental para diluir a idéia de grandes potências mundiais de que a
Amazônia é uma área que deve ser internacionalizada.
Em relação ao Estado do Mato Grosso, temos a possibilidade da
fragmentação para a criação do Estado do Araguaia e cuja capital seria a
cidade de Sinop.
No caso do Estado do Pará, existe a possibilidade de fragmentação para
a criação dos Estados do Tapajós (capital Santarém), do Estado do Carajás
(capital Marabá) e até uma nova idéia que prevê a criação do Estado Xingu,
além da criação do Território Federal do Marajó.
Considerando a possível fragmentação do Estado do Pará, podemos,
nesse momento, identificar alguns argumentos da elite política local e
empresarial, favorável e contrária a esse processo.

ALGUNS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS

 Estados com grande extensão territorial como o Pará apresentariam


dificuldades em seu processo administrativo.

Podemos fazer uma crítica ao argumento,  Em Estados


de pois, no Brasil, temos Estados de grande grande
extensão bem administrados pelo menos a nível extensão, as
econômico e outros de reduzida extensão que áreas que
apresentam carências em seu processo estão
administrativo. Então, podemos concluir que não localizadas
é a extensão de território o principal fator distantes do
responsável pelo desenvolvimento de um centro político
e econômico do
Estado (no caso Belém, no Pará) sofrem uma carência de ações do Estado na
implantação de obras de infra-estrutura que possam garantir um maior
desenvolvimento econômico e social da área.
No caso do Pará, podemos argumentar que o
questionamento citado acima pode ser válido para
o Oeste Paraense, onde poderá surgir o Estado do
Tapajós. Porém quando analisamos a parte
Sudeste e Sul do Estado na qual pode surgir o
Estado do Carajás, podemos observar que essa
área já apresenta certa infra-estrutura como, por
exemplo, a hidrelétrica de Tucuruí, a estrada de
ferro carajás e os melhores trechos de rodovias
como: a Transamazônica e a PA-150.
ALGUNS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
 A fragmentação do Estado provocaria uma quebra da identidade cultural
do mesmo.
Podemos fazer uma crítica a esse argumento. Pois se considerarmos o
processo de ocupação da Amazônia, iremos perceber que em decorrência de
ações do Estado em épocas passadas já ocorreu um grande fluxo de
imigrantes em direção ao Estado do Pará como, por exemplo, no período da
borracha (1870-1912) e durante o Programa de Integração Nacional (PIN).
Esses migrantes trouxeram consigo seus costumes e sua história, contribuindo,
ainda mais, para a quebra de nossa identidade cultural.
 A fragmentação do território para o surgimento de novos Estados
provocaria um aumento do número de Unidades da Federação, por
conseguinte uma diminuição das verbas que a União repassa a cada um dos
Estados. Portanto, segundo os governadores atuais, a diminuição das verbas
traria uma dificuldade para o processo de desenvolvimento administrativo dos
Estados.
Podemos argumentar que a sociedade brasileira não tem garantias de
que a totalidade das verbas que a união repassa os Estados seja utilizada na
íntegra no processo de desenvolvimento dos mesmos.
 A criação de novos Estados provocaria elevados custos para os cofres
da União, pois a mesma é a responsável pela montagem inicial da infra-
estrutura administrativa dos novos Estados (sede do governo, tribunais,
secretarias, escolas, hospitais, etc.). Dessa forma, os governadores atuais
alegam que esse dinheiro que seria gasto pela União para a criação de novos
Estados poderia ser repassado aos governos atuais para que os mesmos
fossem mais bem administrados.
Na verdade, podemos concluir que o processo de fragmentação
territorial visa a tender interesses particulares de determinadas elites locais.

AS MESSORREGIÕES DO PARÁ

O Estado do Pará está dividido em 143 municípios (ver quadro abaixo)


distribuídos em seis mesorregiões e vinte e duas microrregiões homogêneas.
Esta divisão foi definida segundo critérios do IBGE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística.
A formação das mesorregiões leva em conta principalmente as
semelhanças econômicas, sociais e políticas, enquanto que as microrregiões
consideram a estrutura produtiva de cada comunidade econômica.

Mesorregiões
(População, Área e Densidade Demográfica)
Fonte: Governo do Pará

POPULAÇÃO ÁREA DENSIDADE


LEGENDA MESORREGIÃO (Habitantes) (Km2) DEMOGRÁFICA
(2001) (Hab/ Km2)
Baixo
598.194 341.968,4 1,75
Amazonas
Marajó 371.115 104.606,9 3,55
Metropolitana
2.070.095 6.906,3 299,74
de Belém
Nordeste
1.415.319 83.553,8 16,94
Paraense
Sudeste
1.210.077 298.558,1 4,05
Paraense
Sudoeste
459.070 417.589,4 1,10
Paraense
TOTAL 6.123.870 1.253.183,0 4,89

Capítulo XI

Noticias de jornais e revistas


Neste capítulo mostraremos algumas reportagens veiculadas nos principais
veículos de comunicação de massa do país e sobre as quais faremos algumas
indagações e críticas.

Texto 01
BR-163 é palco das maiores modificações
provocadas pelo homem na Amazônia
http://www.greenpeace.org.br/tour2005_br163/tour.php

O asfaltamento total da rodovia BR-163 é uma das obras prioritárias do


governo Lula. Com 1.764 quilômetros de extensão, dos quais cerca de 900
quilômetros não pavimentados, a rodovia liga Cuiabá, capital do Mato Grosso,
à cidade portuária de Santarém, no Pará (1). Segundo o “Plano BR-163
Sustentável”, lançado pelo governo este ano, a área de influência da rodovia é
de 1,2 milhão de quilômetros quadrados (14,4% do território brasileiro e 20%
da Amazônia Brasileira). Nessa área estão localizados 71 municípios cuja
economia se baseia em atividades do setor primário – agricultura, pecuária e
extrativismo, principalmente de madeira.
Inaugurada em 1973, a estrada atravessa a Amazônia brasileira de norte
a sul numa região com grande potencial econômico e enorme diversidade
biológica e social. Grandes áreas de floresta primária, terras indígenas e
unidades de conservação se localizam nos dois lados da estrada,
principalmente no oeste do Estado do Pará – exatamente o trecho ainda não
pavimentado. Em 2002, a parte asfaltada da estrada no Mato Grosso tinha
perdido 57% da cobertura florestal na faixa de 50 km de cada lado da estrada.
No trecho paraense, não asfaltado, o desmatamento não passava de 9%.
A riqueza da biodiversidade na região decorre da coexistência de
diferentes biomas – florestas densas, florestas abertas, cerrados (savanas) e
imensas áreas de transição entre floresta tropical e savanas. Três grandes
bacias hidrográficas (Rios Teles Pires-Tapajós, Rio Xingu e Rio Amazonas)
drenam a região. Os recursos naturais, abundantes na área de influência da
BR-163, são de fundamental importância para a manutenção do modo de vida
de populações tradicionais, urbanas, agricultores familiares e mais de 28 povos
indígenas em três Estados brasileiros: Pará, Mato Grosso e Amazonas.
A área de influência da BR-163 é, hoje, palco das maiores modificações
da paisagem provocadas pelo homem na Amazônia. Um forte processo de
fragmentação de biomas está em curso na região, concentrando altas taxas de
desmatamento. No noroeste do Estado do Mato Grosso está localizado um dos
pólos agropecuários em expansão mais produtivos do País – principalmente
para a produção de soja, gado e madeira.
A BR-163 foi originalmente concebida como parte do programa da
ditadura militar para integrar a Amazônia ao território brasileiro, no final dos
anos 60 e início dos 70. A estrada tinha como objetivo promover a expansão da
agropecuária no Mato Grosso e ocupar o “grande vazio demográfico” entre os
rios Xingu e Tapajós, no Pará. O governo destinou, na época, lotes de terras
para assentamento de colonos e pequenos produtores vindos de outras regiões
do Brasil, além de oferecer incentivos – inclusive financeiros – para estimular a
ocupação humana na região. Um dos objetivos oficiais era o aproveitamento
dos grandes depósitos minerais, principalmente o ouro, abundantes na região.

Com o corte nos subsídios na década de 80 e a não-pavimentação do


trecho paraense da estrada, muitas famílias abandonaram a área. Aqueles que
permaneceram, depois de enfrentar grandes dificuldades, passaram a se
beneficiar da falta de governança na região para definir seus próprios territórios
num típico clima de faroeste. Nos anos 90, a manutenção periódica da BR-163
foi praticamente paralisada, levando à degradação da rodovia. Durante a época
de chuvas na região (dezembro-junho), a estrada torna-se praticamente
intransitável.

O PROJETO “BR-163 SUSTENTÁVEL”

Em 2004, o governo brasileiro criou um grupo inter-ministerial com o ambicioso


objetivo de apresentar uma proposta para a pavimentação da BR-163 com o
“mínimo impacto possível”. O plano, batizado de “BR-163 Sustentável”, foi
lançado em março de 2005, e teve a participação de várias ONGs e
movimentos sociais. A idéia dos participantes do plano é propor medidas
estruturantes e medidas de caráter emergencial que impeçam que a
pavimentação da Cuiabá-Santarém repita os trágicos exemplos de desastre
ambiental e social resultantes de outras estradas asfaltadas na Amazônia,
como a Belém-Brasília, a PA-150 e a BR-364 (ligando Porto Velho ao sudeste
do País). Entre essas medidas, estão a criação de áreas protegidas, o aumento
da fiscalização, o ordenamento territorial (inclusive regularização fundiária) e o
incentivo a atividades não predatórias.
Mas a principal justificativa para o projeto de pavimentação da BR-163 é
criar um corredor de exportação através do rio Amazonas para escoar a soja e
outros produtos ligados à expansão da fronteira agropecuária, como madeira,
arroz e gado. Com investimentos de quase R$ 1 bilhão, a pavimentação da
estrada também deve beneficiar a Zona Franca de Manaus, ao reduzir os
custos com transporte dos equipamentos eletroeletrônicos produzidos na
região para o sul e sudeste do Brasil.
Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o projeto representa
parte significativa dos esforços governamentais para a Amazônia, já que a área
de influência da obra é justamente uma das macrorregiões para planejamento
do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (PAS) negociado entre
o governo Lula e os governos estaduais da região. Em recente reunião em
Santarém (2), a ministra reconheceu que a mera expectativa de asfaltamento
da estrada já transforma a região, trazendo impactos ambientais e
deslocamento de populações. "É crucial para o governo que a BR-163 não
repita o custo dramático de outras estradas. Para isso, precisaremos do apoio
de todos”, disse ela.
O governo federal acredita que o “Plano BR-163 Sustentável” pode ser um
marco histórico de um novo modelo que alie desenvolvimento econômico à
justiça social e proteção ambiental. Mas isso só será possível se a presença do
poder público for permanente e eficaz, se a iniciativa privada e as populações
da região “adotarem” o projeto, se as medidas anunciadas forem realmente
implementadas e se as transgressões ao plano – sejam elas econômicas,
sociais ou ambientais – sejam punidas pela Justiça. Tais condições não
parecem estar em vigor no Brasil de hoje. Asfaltar a estrada sem que essas
condições tenham sido encaminhadas representa dar um cheque em branco
cujo resgate custará caro ao meio ambiente e às próximas gerações.
A falta de ordenamento fundiário atual e a ausência de governo
beneficiam a ação sistemática de grileiros na região. O simples anúncio pelo
governo federal de sua intenção de pavimentar a BR-163 atraiu milhares de
pessoas de outras regiões do País, com grandes impactos ambientais, sociais
e econômicos para a região. Desmatamento ilegal, conversão de áreas de
floresta em pastos ou plantações de soja, queimadas, grilagem de terras e
exploração ilegal de madeira são cada vez mais freqüentes na área de
influência da BR-163. Reagindo a esse movimento, o governo Lula anunciou no
início de 2005 uma grande “área de interdição” no trecho paraense da BR-163,
proibindo provisoriamente o desmatamento em uma área de 8 milhões de
hectares, bem como criou novas áreas protegidas na Terra do Meio (dentro da
área de influência da BR-163, no Pará) a longo tempo reivindicadas pelo
Greenpeace e outras ONGs. Em paralelo, lançou em 2004 um – também
ambicioso - plano de combate ao desmatamento.
As medidas, porém, não foram suficientes para conter o ataque à floresta.
Enquanto os diversos planos eram costurados em Brasília, foram desmatados
26.130 km 2 de floresta amazônica no período agosto de 2003- agosto de 2004
(3). Na área de interdição ao desmatamento, 84.225 ha de florestas vieram
abaixo. E até mesmo nas “áreas protegidas” o processo perverso de destruição
continua: em fins de julho de 2005, por exemplo, uma operação do Ibama
flagrou 9 mil hectares de florestas derrubadas e sendo queimadas na Terra do
Meio, com o corte estimado de 2 milhões de árvores.
Os setores produtivos na área de influência da BR-163 argumentam que
as péssimas condições da rodovia prejudicam tanto o setor do agronegócio
quanto a população local. Mas os impactos socioambientais em uma área de
mais de 1 milhão de quilômetros quadrados tendem a se agravar com o
asfaltamento da estrada, com uma ocupação cada vez maior e mais
desordenada, aumento da grilagem de terras e concentração fundiária,
desmatamento ilegal e exploração predatória dos recursos naturais.
O Greenpeace acredita que, antes do asfalto, precisa chegar o governo. O
Estado brasileiro deve se fazer presente de forma permanente na Amazônia,
através do fortalecimento das instituições como Ibama, Incra e Polícia Federal;
da criação e implementação efetiva das áreas protegidas; e da adoção de
medidas estruturantes, tais como o apoio à produção familiar e o estímulo a
atividades florestais realmente sustentáveis que resultem em um modelo de
desenvolvimento que combine proteção ambiental e justiça social para os
milhões de brasileiros que vivem na Amazônia.

NOTAS:

(1) Atualmente, estão pavimentados: o trecho mato-grossense entre Cuiabá e


Guarantã do Norte (714 km) e, no Pará, o trecho entre Trairão e a confluência
com a Transamazônica (70 km) e parte do trecho entre Santarém e Rurópolis
(98 Km).

(2) Reunião da Comissão de Coordenação Conjunta do Programa Piloto para a


Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), Santarém, agosto de 2005.

(3) Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (Inpe), 2005.

Texto

O asfaltamento na BR 163, rodovia Cuiabá-Santarém:


muitos personagens e a mesma história
Cuiabá (MT), março de 2.004 - “No sul nós tínhamos 16 hectares. Aqui eram 100
hectares para cada família. Era uma coisa extraordinária. Meu pai veio conhecer a
região e depois de três dias que ele voltou, a família toda embarcou rumo ao Pará.
Foram seis dias de viagem em cima de um caminhãozinho. Chegamos em 23 de
setembro de 1973. Carregávamos todas nossas coisas e também a esperança de
uma vida melhor”.

Essa era a expectativa de Altair Pedro Martini, 40 anos, quando chegou aos 12 anos
de idade em Rurópolis, cidade paraense localizada no entroncamento da BR 163
com a rodovia Transamazônica, vindo da cidade de Iraí, no Rio Grande do Sul.
Altair não fazia idéia das dificuldades que enfrentaria nos anos seguintes.

A abertura da BR 163, a rodovia Cuiabá-Santarém, ou Santarém-Cuiabá como


preferem os paraenses, no ano de 1973, representou uma oportunidade de
integração nacional e expansão das atividades econômicas para uma região até
então praticamente desabitada. Vivíamos no auge do governo militar e de seu
milagre econômico. O governo de Emílio Garrastazu Médici implementava uma
política de integração nacional, ampliando as fronteiras econômicas rumo à
Amazônia.

No rastro da abertura de rodovias como a BR 163 e a Transamazônica, instalaram-


se frentes de colonização e de ocupação econômica que promoveram migrações
desordenadas, desflorestamento e exploração predatória de recursos naturais.

O impacto da abertura da rodovia para os índios Paraná, por exemplo, é muito


emblemático. Eles foram atraídos no início da construção da Cuiabá-Santarém e
foram quase extintos, vitimados por gripes e diarréias. Muitos foram pedir esmolas
na beira da rodovia. Em 1973, sua população era de 400 pessoas, e dois anos
depois ficaram reduzidos a apenas 70.

Milhares de brasileiros atenderam ao chamado “patriótico” da ditadura militar e


foram para a região estimulados por incentivos governamentais, que além da terra
ainda asseguravam apoio financeiro. A grande maioria partiu em busca de um
sonho e hoje, três décadas depois, ainda luta para continuar acreditando que esse
sonho pode virar realidade.

A piauiense Maria de Lurdes Santos Brito, a Nonata, de 45 anos, que chegou em


1976 e fixou-se em Rurópolis, cidade localizada no entroncamento da
Transamazônica com a BR 163, relata sua experiência: “O incentivo que o governo
dava era o salário para o colono no primeiro ano e uma casa de madeira na beira da
estrada. A gente ouvia essas notícias, elas corriam pelo Brasil. Quando chegamos
aqui não encontramos essa realidade. Viemos em busca de um sonho e
encontramos uma ilusão”.

Para Altair, a atual situação dos colonos é crítica: “Nós estamos muito
desamparados. Praticamente fomos jogados aqui. Não temos assistência técnica,
financiamentos, incentivos. Não temos como escoar a produção. Eu cansei de ver
gente carregando produção nas costas. Crianças e mulheres, cada um carregando o
que agüenta. E isso só para garantir a compra dos produtos básicos para a
sobrevivência”

Entre os muitos personagens dessa saga amazônica está o paulista José Landi, 45
anos. Antes de chegar na BR 163 em 1980, sua família já havia migrado em busca
de terras para o estado do Paraná e depois para Laranjal, no Paraguai. “Nosso
objetivo era a busca de terras para plantar. Naquela época, as terras aqui eram
baratas, o pouco que tínhamos no sul era suficiente para comprar um bom pedaço
de terra em Rurópolis. Nós sofremos muito no início e continuamos a sofrer hoje.
Mas nunca pensamos em voltar. Para o sul não tem como voltar”.

Landi relembra das dificuldades de adaptação ao clima e à vegetação amazônica,


Não tínhamos nenhuma noção do que era a Amazônia. A Amazônia é uma região
diferente, uma outra realidade. Até a floresta tem que ser tratada de outro jeito. Eu
quando cheguei aqui pensava que era tudo mato, tudo igual. Hoje vejo e entendo
que as coisas são diferentes”.

Sem investimentos e políticas de incentivo à agricultura familiar, os órfãos do


milagre econômico aguardam apreensivos a chegada do asfalto na BR 163 e na
Transamazônica. Asfalto esse que pode representar a redenção ou a definitiva
“perdição” para os pequenos agricultores que vivem ao longo dessas rodovias.

A perspectiva do asfaltamento da rodovia, mobiliza diversos segmentos da


sociedade; grandes produtores rurais, organizações não governamentais,
agricultores familiares, populações indígenas, prefeituras locais e governos
estaduais e federal entre outros. A pavimentação dessa estrada, é reconhecida por
todos como uma demanda necessária. A população que vive às suas margens e em
seu entorno depende da estrada para o escoamento de sua produção, para o acesso
à saúde, educação e cidadania. No entanto, os métodos convencionais utilizados
em grandes empreendimentos de infra-estrutura envolvem preocupações
elementares quanto às suas conseqüências sociais, ambientais e econômicas.

O padre Arno Miguel Longo, que atua junto a trabalhadores rurais da região,
acredita que o asfaltamento em si não resolve os problemas das populações locais
se não vier acompanhado de outros investimentos, “Por um lado, o asfaltamento
tira os moradores do isolamento, já que as condições de acesso são muito difíceis.
Por outro lado, ele representa um perigo grande em relação à intensificação da
exploração dos recursos naturais. É preciso ir além do asfalto. Os colonos não estão
mais na beira da estrada, estão até 50 km para dentro da mata. Se não tiver
eletrificação rural, abertura de vicinais, toda uma infra-estrutura para atender
essas pessoas, o asfalto vai ser apenas um corredor de acesso. Não vai adiantar. Se
não houver um complemento que atinja a base, não adianta não”.

Grande parte dessas conseqüências já está em pleno curso, com a intensificação da


grilagem de grandes áreas de terras públicas, da violência e da conversão
acelerada de florestas e cerrados em monocultivos que empobrecem as
oportunidades econômicas da região.

Padre Arno ressalta ainda que o preço das terras já subiu com a perspectiva do
asfaltamento, “Já está grande a movimentação de grandes produtores, sobretudo
de grãos, que vem comprando as terras dos colonos. Aqui é uma das últimas
fronteiras agrícolas no mundo e na esteira desse progresso, muitos pequenos
também são atraídos para cá. Só que não encontram um lugar no campo e acabam
causando inchaço nas vilas e cidades”.

A substituição das pequenas propriedades familiares pela agricultura de larga


escala também preocupa Nonata, “Foram muitas lutas pela melhoria da nossa vida
por aqui e agora existe o risco das pessoas que mais enfrentaram estas
dificuldades perderem suas terras para os grandes produtores. A pressão é
grande”.
texto 2

NA AUSÊNCIA DO ESTADO, ONGS SE MULTIPLICAM


Meio ambiente

Estimativa diz que mais de 150 delas florescem na região oeste do Pará

Santarém

Alailson Muniz

Agência Amazônia

A ausência do Estado em comunidades isoladas dentro da floresta


amazônica tem aumentado cada vez mais a presença e a influência de
organizações não-governamentais (ONGs) na região oeste do Estado. Em
Santarém, por exemplo, não existem números oficiais, mas estima-se que mais
de 150 ONGs atuem na cidade. O principal alvo tem sido as comunidades
ribeirinhas e indígenas. Nos últimos tempos, a presença dessas entidades tem
gerado conflitos ideológicos com o poder econômico local.
Para o padre ambientalista Edilberto Sena, o maior fator de influência
desse crescimento tem sido o isolamento da região e o idealismo de defender a
floresta amazônica. Sena, que já recebeu em 2005 da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) o prêmio 'José Carlos Castro de Direitos Humanos', o mesmo
dado à irmã Dorothy Stang, dois meses antes dela ser assassinada, e o prêmio
Mahatma Gandhi, na Índia, em reconhecimento ao trabalho da Frente em
Defesa da Amzônia (FDA) contra a devastação da floresta amazônica pela
soja, pode ser considerado um especialista em ONGs. Ele já trabalhou e
ajudou a fundar dezenas e é conhecido internacionalmente por seu trabalho
junto a defesa do meio ambiente e ao combate a cultura de soja na região do
oeste do Estado.
Edilberto Sena gosta de frisar que há uma distinção entre as
modalidades de ONGs. Para ele, existem as entidades nativas e as
estrangeiras. 'As nativas são sinais positivos de uma inquietação e de um
idealismo especialmente dos jovens da região que se preocupam
especialmente com a questão ambiental. Ela presta um serviço em vários
setores da vida. Mas existem ONGs que têm motivação de emprego. Elas
trabalham a busca incessante de recursos e tem muita gente que financia,
principalmente aqui na Amazônia', explica Edilberto.
Para Edilberto, essas entidades estão se proliferando graças a ausência
do estado. 'Se o Incra, a Sectam, o Ibama, o Iterpa, o Isam, a Sagri, por
exemplo, funcionassem elas talvez nem existissem', argumenta.
As ONGs e os financiamentos internacionais também estão bastante
presentes na região do oeste paraense. A mais conhecida por seus embates
com o agronegócio, principalmente contra a multinacional Cargill, que se
instalou em Santarém, é o Greenpeace. Mas o especialista em ONGs pensa
diferente. Ele argumenta que o Greenpeace é um movimento internacional. 'Eu
tenho um relacionamento de parceria com eles, são comprometidos com a
defesa da Amazônia e batem com os nossos ideais. E eles não estão somente
aqui na Amazônia. Estão no Japão, na Oceania, no Alasca, na África. Isso faz
deles um movimento ambientalista e não uma ONG', afirma o religioso.
Quanto ao outro lado da moeda, Sena não foge ao debate e explica que
existem as 'ONGs picaretas', interessadas em obter vantagem econômica sob
determinada causa. 'Elas fazem a biopirataria por exemplo', exemplifica
Edilberto, acrescentando que não se pode generalizar uma discriminação
contra as ONGs. 'Por esse motivo criamos um movimento popular chamado
Frente em Defesa da Amazônia (FDA). Nós decidimos que não vamos ser uma
ONG. Nós preferimos nos identificar como amazônidas e não como
ambientalistas'. O padre acha que a elite econômica ataca as ONGs em defesa
de interesses pessoais e não defendendo a região. 'Alguns políticos também.
Porque são as ONGs que promovem a conscientização política da população.
Eles se incomodam porque sobrevivem da compra de votos. Quem é que
reage contra as ONGs? São pessoas, entidades, empresas que têm interesse
econômico na região', diz Sena.

Fonte: O Liberal – Edição: ano LXI n° 31.799

texto 3

MST VIRA VILÃO DO DESMATAMENTO

São Paulo

Agência Estado

Em suas campanhas contras as grandes empresas do setor do


agronegócio, o Movimento dos Sem-Terra (MST) alega que elas têm como
característica principal a falta de responsabilidade com o meio ambiente. Em
oposição, os assentamentos da reforma agrária seriam ecologicamente
responsáveis. Não é isso, porém, o que indica um estudo que deve ser
apresentado hoje em Foz do Iguaçu, durante o 5.º Congresso Brasileiro de
Unidades de Conservação.
De acordo com seu autor, o ecologista Flávio Olmos, a história dos
assentamentos tem sido marcada por impactos ambientais que incluem
incêndios, exploração ilegal de madeira e plantas e caça ilegal. 'De maneira
geral, a taxa de desmatamento nos assentamentos da Amazônia tem sido
quatro vezes superior à média da região', diz ele. Mas não é só na Amazônia.
'Os assentamentos têm tido um papel muito importante como agentes de
destruição ambiental em outros lugares', prossegue Olmos.
O que mais chama a atenção do estudioso, porém, é o ataque às áreas
de preservação. 'Propriedades consideradas ‘improdutivas’, segundo o
conceito legal, não são os únicos alvos de invasões por sem-terra. Áreas que
deveriam ser conservadas, como reservas legais, são um alvo freqüente', diz.
Entre os casos de ataques a reservas listados pelo autor, chama a
atenção o ocorrido na área de floresta nativa da antiga Fazenda Araupel, no
sudoeste do Paraná. Com 33.254 hectares, constituía um dos maiores
remanescentes de floresta com araucária existentes no País.
Isso mudaria, porém, com a chegada dos militantes do MST. Entre 1996
e 2002, segundo Olmos, eles dizimaram 10 mil hectares da floresta e deixaram
o restante gravemente degradado pela exploração de madeira e incêndios: 'Foi
o maior desmatamento identificado pela Ong SOS Mata Atlântica em seus 18
anos de história.'
O ecologista se detém na análise de três casos exemplares em que o
encontro dos sem-terra com reservas legais resultou em danos ambientais. O
primeiro deles é o da área de proteção ambiental de Guaraqueçaba, no litoral
do Paraná, considerada 'um dos mais importantes mosaicos de áreas
protegidas do domínio da Mata Atlântica'.

SIMBOLISMO

Desde 2003, um grupo de sem-terra acampa dentro da reserva, apesar


dos protestos de ambientalistas, preocupados com a destruição da mata. A
própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já se manifestou, declarando
que a área não é apropriada para assentamento - por questões ambientais e
porque o solo não é adequado.
Os sem-terra acusam os ambientalistas de estar a serviço da biopirataria
estrangeira; e asseguram que pretendem instalar áreas de cultivo com
abordagem agroecológica. A insistência num projeto desse tipo, segundo,
Olmos, tem objetivo político: 'Conseguir que um assentamento seja implantado
no interior da APA teria um grande valor simbólico para o MST, por abrir um
precedente.'

Fonte: O Liberal – Edição: ano LXI n° 31.799

texto 4

DESENVOLVIMENTO É DESAFIO NA AMAZÔNIA


Preservação - Conferência discute como conciliar objetivos de governos,
empresas e comunidades.

ESPERANÇA BESSA
Enviada especial a São Paulo

Falar de desenvolvimento sustentável na Amazônia não é nada simples,


principalmente quando se imagina que a chegada de novos grandes projetos
para a região, como a exploração de bauxita em Juruti, e as obras de infra-
estrutura previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do
governo federal, poderão trazer mais degradação para a região. Combinar o
que espera governo, o que pretende a iniciativa privada e o que sonha a
população, em especial os povos tradicionais da área, como índios, é uma
equação bastante complicada e difícil de ser colocada em prática, diante da
falta de diálogo entre esses atores e com a avidez de alguns setores em busca
do tal 'desenvolvimento' para a região.
Para discutir isso, a Conferência Internacional Empresas e
Responsabilidade Social, promovida pelo Instituto Ethos em São Paulo,
dedicou uma mesa-redonda sobre o tema relacionado aos compromissos das
empresas com o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O assunto é difícil
de digerir, se for levado em consideração que a região representa 59% do
território brasileiro, abriga um terço das espécies da fauna e da flora mundiais,
um quinto das águas superficiais do planeta, 23 milhões de habitantes, 7% da
população brasileira que representa apenas 8% do Produto Interno Bruto (PIB)
do País.
'Somos uma região em desenvolvimento, com graves problemas de
pobreza e desigualdade, o que nos coloca em um patamar igual ou inferior ao
Nordeste', detalha Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon), mediador do debate que reuniu João Paulo
Capobianco, ministro interino do Meio Ambiente; Franklin Feder, presidente da
Alcoa América Latina; Adriana Ramos, coordenadora para Amazônia do
Instituto Socioambiental (ISA), e André Baniwa, vice-presidente da Federação
das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

REALIDADES

À platéia - formada por inúmeros representantes de organizações não-


governamentais (ONGs) e empresas ligadas ao terceiro setor, na maioria
sediadas no Sul e Sudeste do Brasil -, Adalberto contextualizou do que se trata
a Amazônia hoje, dividida em cerrado, com campos naturais que não são
florestas; áreas desmatadas, principalmente em uma faixa que passa pelo
Maranhão, sul do Pará, Mato Grosso e Acre; a Amazônia do boom, como ele
gosta de chamar a área que reúne a exploração madeireira e de grilagem, foco
de violência rural; e a Amazônia idílica, pouco desmatada, com muitas áreas
protegidas no Amazonas, parte do Pará e manchas isoladas em outros
Estados. Por incrível que pareça, o PIB (Produto Interno Bruto) da área
florestal, de R$ 4,1 mil por ano, é quase o mesma da área desmatada, que
chega a R$ 4,2 mil por ano.
'Isso demonstra que a floresta em pé rende o mesmo que a área
desmatada que, o que é pior, entra em um colapso econômico, porque sem a
floresta o que geralmente fica é uma pecuária de baixa produtividade e
atividades predatórias', analisa Adalberto. Para Adriana Ramos, essa
matemática já é conhecida pelas 357 comunidades quilombolas e mais
seringueiros, quebradeiras de coco, pescadores, ribeirinhos e outras
populações tradicionais 'que se apropriam de forma diferente dos produtos
naturais, e que precisam disso para sobreviver'. Daí o conflito.
'O desmatamento não trouxe desenvolvimento, e o conflito é ainda maior
quando vemos o processo de ocupação vindo do leste e do Sul do País rumo
ao Oeste e Norte. Na Amazônia, 70% dessas ondas de migração se formam
principalmente nas áreas de pavimentação de grandes rodovias ou de grandes
projetos de energia e matéria-prima', diz a pesquisadora, temendo que as
obras previstas no PAC piorem este quadro. 'São novas estradas e obras de
infra-estrutura que podem reproduzir o processo de desmatamento. Esse é o
dilema: compatibilizar a perspectiva de desenvolvimento sustentável e o que o
Brasil quer para o seu desenvolvimento'.
Para Adriana, é preciso reconhecer os serviços ambientais prestados
nas áreas protegidas pelas comunidades locais, superando a lógica de
fornecedores de mão-de-obra barata, além da necessidade de se fazer um
planejamento adequado e entender as peculiaridades dos direitos coletivos e
privados. 'É preciso fazer escolhas legítimas, não apenas legais. Precisamos
decidir o que estamos interessados em abrir mão na Amazônia para o
desenvolvimento e ouvir as comunidades locais para que se sintam parte. Se
fizer licenciamento ambiental de energia e madeira, tem que deixar claro quem
ganha e quem perder com o acordo'.
Fonte: O Liberal – Edição: ano LXI n° 31.799
Texto 5
Produção ilegal de carvão vegetal gera desmatamento e escravidão na
Amazônia

Pesquisa mostra que aumento da produção de carvão vegetal para


siderúrgicas favorece exploração ilegal de madeira e trabalho escravo no Pará
e Maranhão. Quase 60% do carvão da região é produzido ilegalmente

Por Beatriz Camargo

Utilizado para fabricar ferro-gusa, matéria-prima do aço, o carvão vegetal


produzido na Amazônia Oriental brasileira é, em sua maioria, ilegal. De acordo
com estudos realizados pelo historiador Maurílio de Abreu Monteiro, professor
do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará
(UFPA), o desmatamento não-autorizado fornece 57,5% da madeira que
alimenta os fornos das carvoarias.

Monteiro pesquisa a produção carvoeira desde o final da década de 80,


quando as primeiras indústrias se instalaram nessa região sob a influência do
projeto Grande Carajás. Ele afirma que o aumento da demanda pelo ferro-gusa
e a competição entre os fornecedores de carvão favorecem a exploração do
trabalho escravo nas carvoarias.

Segundo o professor da UFPA, a produção de 3,5 milhões de toneladas


de carvão vegetal, consumida pelo setor siderúrgico brasileiro, requer um
volume de 22,2 milhões de metros cúbicos (m³) em toras de madeira. Esse
valor é muito superior ao volume autorizado (9,4 milhões de m³) pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para
a extração no Maranhão e Pará. Esses estados são produtores de carvão
contam com usinas siderúrgicas abastecidas com o minério de ferro da Serra
dos Carajás. Ou seja, os mais de 12 milhões restantes são fruto da exploração
ilegal.

Em entrevista à Repórter Brasil, Maurílio Monteiro fala da relação entre


o crescimento da produção de carvão para alimentar as siderúrgicas, a
exploração predatória dos recursos naturais e o aumento das tensões no
campo. O estudo é parte do trabalho do grupo de pesquisa sobre mineração e
desenvolvimento sustentável, financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Repórter Brasil - Como foi feito o cálculo de que a maior parte da madeira
utilizada na produção de carvão vegetal é ilegal?
Maurílio Monteiro - As próprias empresas, ao declararem a origem de sua
matéria-prima, não souberam demonstrar de onde vêm 5,4 milhões de metros
cúbicos do seu carvão, na auto-declaração de 2003. Em 2004, o volume
aumentou para 12,7 milhões de metros cúbicos de carvão ilegal.

RB - Há uma estimativa do número de carvoarias da região?


É muito difícil saber quantas são porque a quase totalidade delas é clandestina.
As siderúrgicas dizem que tem um volume "x" de área replantada, mas não dão
as coordenadas dessas áreas, que poderiam ser facilmente identificadas por
satélite. Fiz uma estimativa do número de trabalhadores, em função do volume
de carvão produzido e cheguei a 12 mil pessoas que estão envolvidas com
essa atividade na Amazônia Oriental.

RB - Quais são os problemas causados pela produção de carvão na


Amazônia Oriental?
Além da pressão exercida sobre a mata primária, a produção de carvão
contribui para reforçar a lógica produtiva ligada à exploração predatória e
pouco qualificada dos recursos naturais. Por exemplo, se você tira uma
madeira para fazer perfume, é uma utilização qualificada. Mas para fazer
carvão é pouco qualificada. Além disso, as carvoarias ampliam as tensões no
campo e os conflitos fundiários porque reforçam as disputas por áreas para
produzir carvão. No começo, as siderúrgicas compravam grandes pedaços de
terras, onde em tese deveriam fazer o manejo florestal. Mas elas tercerizavam
para que outros fizessem esse "manejo" e produzissem o carvão. E não havia
manejo, era feito o ‘corte seco' [derrubada da mata nativa]. No lugar em que
todas compravam terra, aumentava a tensão porque a titulação de propriedade
é precária na região.

A alta competitividade do setor também intensifica os esquemas de submissão


da força de trabalho à baixa remuneração, com condições de trabalho
insalubres e trabalho escravo, degradante, infantil... O setor também traz o
caos a diversos espaços urbanos porque muitas áreas de carvoejamento ficam
perto de cidades e soltam fumaça e fuligem no ar. Em Marabá, houve uma luta
para tirar as carvoarias do município.

RB - Por que as siderúrgicas estão estimulando a plantação de eucalipto


em pequenas propriedades? Por que a própria siderúrgica não produz
matéria-prima para o carvão?
São as siderúrgicas da região que estão tentando, agora, que pequenos
produtores plantem eucaliptos em monocultura. Elas têm incentivado essa
política de reflorestamento, mas não dão nenhuma garantia de compra da
matéria-prima. Acredito que isso é um péssimo negócio para o pequeno
produtor. Primeiro porque não é aconselhável a ter uma monocultura [para a
agricultura camponesa] e, sem garantia de preço ou compra, não vai conseguir
competir com o carvão que vem da extração ilegal da madeira. Quer dizer, as
siderúrgicas não fazem reflorestamento, mas querem que os outros façam...

Isso é mais uma estratégia de externalizar os seus custos. Elas compram o


carvão de quem vender mais barato e assim não tem riscos e não se
compromete com exploração da mão-de-obra, com desmatamento ilegal. As
siderúrgicas não assumem essa responsabilidade, vão sempre empurrando
com os TACs [Termos de Ajustamento de Conduta]. Essas dinâmicas
viabilizam a produção barata do carvão vegetal que, em última instância,
representam uma brutal transferência para a sociedade de custos que são
privados.

RB - Se todas as siderúrgicas plantassem eucalipto, isso poderia ser uma


solução para o desmatamento ilegal?
Não, porque esse mercado é muito volátil. O preço do gusa é regulado pelo
preço da sucata nos EUA. A oscilação é grande e desaconselha-se o
investimento a longo prazo, como é o caso da silvicultura. O melhor é mudar a
base energética, substituindo o carvão vegetal por gás natural. A tecnologia já
é usada, é mais eficiente e mais barata. Ou melhor, o carvão hoje é mais
barato porque existe transferência dos recursos, mas se fosse feito como
deveria ser, com silvicultura e tudo regulamentado, os gastos com gás natural
seriam menores. Se hoje o carvão é mais barato para as siderúrgicas, para a
sociedade fica mais caro porque está destruindo parcelas da floresta. Essa
opção não tem contribuído para desenvolver de forma economicamente
sustentável a região. Os empresários deveriam tomar essa atitude e discutir
alternativas para as fontes de energia.

RB - Com a produção de carvão totalmente regularizada, a região


continuaria competitiva?
Se as siderúrgicas perdessem a capacidade de externalizar seus custos,
perderiam competitividade. Hoje, só são competitivas no mercado internacional
porque compram carvão vegetal de quem usa trabalho penoso, escravo ou
infantil, não cumprem a legislação trabalhista e desmatam ilegalmente.

RB - A criação do Instituto Carvão Cidadão ajuda a modificar essa


realidade?
É um avanço, pois mais olhos se voltam para a questão. Porém, não resolve
pois toda a cadeia tem que ficar sob responsabilidade da siderúrgica: desde a
biomassa vegetal, lá no início, até o final do processo, que é o ferro-gusa. Se
não houver uma barreira à terceirização, sempre vai haver uma maneira de
externalizar os custos. Cooperativa de carvoeiros, por exemplo, é mais um
exemplo de ações para burlar o pagamento de impostos.

RB - Quais são as possíveis saídas para essa situação?


As siderúrgicas têm que se modernizar. Mudar a rota tecnológica, mudando
para outra fonte de energia. Usar silvicultura é um avanço porque deixa de
utilizar a mata primária, mas ela é custosa.

RB - A fiscalização realizada hoje ainda é insuficiente?


Historicamente, o poder público se mostrou incapaz de fiscalizar a ponto de
impedir o uso de madeira oriunda de extração ilegal. Em Minas Gerais, que tem
mais de 60 anos de produção de ferro-gusa, com uma sociedade civil mais
organizada, não se conseguiu promover a legalização da atividade. O carvão
sempre foi associado a procedimentos ilícitos. Nessa região, temos uma
sociedade civil menos organizada e com menos capacidade de fiscalizar, então
acho muito difícil que a fiscalização possa resolver a situação. Aliás, muitas
siderúrgicas de Minas vieram para cá.

RB - O que motivou o deslocamento da produção do ferro-gusa para a


Amazônia Oriental?
Esse deslocamento começou no final da década de 80, como parte do extinto
projeto Grande Carajás. Antes, a produção se concentrava exclusivamente no
Sudeste do Brasil. Um dos elementos do projeto foi incentivar a construção de
guseiras e todas estão à margem da estrada de ferro Carajás [que liga o
interior do Pará ao porto de São Luís, no Maranhão]. O fácil acesso à biomassa
vegetal [madeira] barata e abundante, além do acesso ao minério de ferro de
alta qualidade, também influenciaram. Inicialmente, houve incentivos fiscais
para as empresas se mudarem e hoje existe o FNO [Fundo Constitucional de
Financiamento do Norte], que dá financiamento público. Elas se aproveitam da
logística oriunda do projeto Grande Carajás e a produção fica mais barata do
que no Sudeste. Hoje, 80% do ferro-gusa da região é exportado para o EUA.
Para se ter uma idéia, em 2005, foram 3.098 mil toneladas e a projeção para
2006 é de que serão exportadas 3.540 mil.

Você também pode gostar