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AMAZÔNIA

TERRITÓRIO DE POVOS
E CULTURAS VÁRIAS
RIQUEZAS, TRABALHO, ESPOLIAÇÃO E LUTA
MAIO - 2023

MAIO 2023

Centro Cultural Sapucaia


Em memória de Eunice e Milton Peloso
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APRESENTAÇÃO

O Centro Cultural Sapucaia tem o prazer de apresentar esta cartilha


para facilitar as reflexões e os debates sobre a importância da
Amazônia. Ela é dirigida às professoras, professores e estudantes das
escolas públicas, parceiras do Centro Cultural Sapucaia, em
Santarém. Destina-se também esta cartilha, aos adolescentes, jovens
e lideranças das organizações não governamentais do Estado do Pará.
Esclarecemos de antemão que a cartilha não se propõe a alcançar a
magnitude de um trabalho acadêmico. É uma cartilha simples, com
o objetivo apenas de sensibilizar os leitores e leitoras sobre a
importância da temática amazônica, questão que se encontra na
atualidade, em absoluto destaque em todo o nosso planeta.
É nosso desejo estabelecer um diálogo de amazônidas para
amazônidas. Na condição de entusiastas e gestores de um Centro
Cultural que nasceu e se estabelece no interior da Amazônia, nos
parece ser nosso dever dialogar com outros amazônidas, buscando
entender a região e construir caminhos para a construção de uma
Amazônia próspera, solidária e sustentável.
Que sirva também esta nossa iniciativa para dialogar com todas as
lideranças populares do nosso grande Brasil. Afinal, ao mesmo tempo
que a Amazônia é patrimônio dos amazônidas, é também um
patrimônio brasileiro e até da própria humanidade.
Boa Leitura. Boas Reflexões e Debates!

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A GRANDIOSIDADE DA REGIÃO AMAZÔNICA
O território Amazônico abrange uma área de aproximadamente 6,9 milhões
de km². Estende-se por 10 países da América Latina, sendo: Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Em nosso país, o território amazônico corresponde aproximadamente a 49%
do território brasileiro. A chamada “Amazônia Legal”, abrange 4,196 milhões
de km², estendendo-se pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,
Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins.
LIÇÃO 01: A importância do diálogo e do estudo sobre a Amazônia
Esforçar-se para compreender a Amazônia
é procurar compreender a nossa própria
terra, o território onde nascemos e
vivemos. É buscar compreender o mínimo
sobre a formação do nosso povo, sobre
nossas riquezas, nossas dificuldades e
nossas lutas. É um dever de quem se sente
filho deste território.
Também é importante estudar a Amazônia, pelo papel crucial que ela tem no
equilíbrio climático da Terra e, portanto, na manutenção do bem-estar da
própria humanidade. A floresta amazônica, como parte deste imenso
território, é considerada o "pulmão do mundo" porque produz,
aproximadamente, 20% do oxigênio do planeta, além de absorver uma
grande quantidade de carbono da atmosfera.
Ao estudarmos a Amazônia, vamos construindo em nós mesmos um
sentimento de que a Amazônia é nossa casa. E nesse sentido, nos
empenharmos em um processo de elaboração de propostas que vislumbrem
e impulsionem o ideal de uma Amazônia próspera, solidária e sustentável.

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A COMPLEXIDADE DO TERRITÓRIO AMAZÔNICO
Não é simples compreender nossa região. Existem centenas de estudos que
procuram explicar a Amazônia. Alguns desses estudos dedicam-se a
compreender a região como um BIOMA*, outros, como uma região
fornecedora de grandes volumes de recursos naturais, outros ainda, vêem a
região como o “pulmão do mundo”, com um alto índice de responsabilidade
pelo equilíbrio do clima no planeta terra.
(*) BIOMA: grande área geográfica que abriga comunidades biológicas distintas e adaptadas a condições
ambientais específicas, como clima, solo, relevo e recursos hídricos.

LIÇÃO 02: A Amazônia é a morada dos Povos Amazônidas

É verdade que a Amazônia forma um BIOMA específico, possui grandes


volumes de recursos naturais e também exerce um importante papel no
equilíbrio do clima do planeta terra. Porém, essas “explicações”, de fora para
dentro da região, carecem de uma afirmação óbvia: a Amazônia possui uma
imensa população humana que aqui reside, trabalha e sonha!
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a população da região amazônica em 2021 no Brasil, era de
aproximadamente 20,5 milhões pessoas. A população indígena foi
estimada em cerca de 305 mil pessoas, a população negra em 5,3
milhões, brancos em 4,1 milhões e mestiços 10,7 milhões de pessoas.

INDÍGENAS RIBEIRINHOS QUILOMBOLAS AGRICULTORES ASSALARIADOS

A população da Amazônia em 2021 era de 20,5 milhões de pessoas

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RIQUEZA E POBREZA NA AMAZÔNIA
A Amazônia é um lugar fascinante. Pensemos na sua imensa extensão
territorial, seu paisagismo florestal de rios matas e animais variados, sua
biodiversidade, suas riquezas minerais, suas rodovias e caminhos diversos,
seus povos originários e tradicionais, seus assalariados em geral, suas
grandes e pequenas cidades compostas por gente negra, branca e mestiça,
sua história e suas culturas. Parece existir aqui, tudo o que é necessário para
se construir uma vida saudável, tranquila e sustentável.
LIÇÃO 03: Nem tudo são flores na Amazônia

MASSACRE DOS POVOS INDÍGENAS MORADIA EM BAIRROS PERIFÉRICOS

LIXÕES A CÉU ABERTO NAS CIDADES AUSÊNCIA DE SANEAMENTO BÁSICO

ASSASSINATOS PELA POSSE DA TERRA FOME EM BAIRROS E COMUNIDADES

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Estatísticas que ilustram a situação de pobreza na Amazônia
Segundo o IBGE, em 2019, a região Norte do Brasil, que inclui a Amazônia, tinha a
maior proporção de pessoas em situação de pobreza do país, com 20,3% da
população vivendo com até R$ 436 por mês;
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada indicam que a população em
situação de extrema pobreza na Amazônia, era de 5,5 milhões de pessoas em 2019.
Também, segundo o Ipea, a taxa de analfabetismo na região Norte do Brasil era de
8,6% em 2019, a segunda maior do país.;
A região Norte apresenta uma das maiores taxas de mortalidade infantil do país,
segundo o IBGE. Em 2019, a taxa na região era de 14,9 óbitos por mil nascidos vivos,
enquanto a média nacional era de 11,9.

LIÇÃO 04: Pobreza de uns e Riqueza de outros


Nossa história é a história de um povo semi escravizado, desde os tempos em
que por aqui chegaram os invasores europeus. Desde esses acontecimentos,
a Amazônia é vista a partir de um olhar de cobiça, que parte daqueles que
estão sempre explorando nossas riquezas naturais, por meio da implantação
de um modelo de desenvolvimento que se mostra excludente e predatório.

EXPORTAÇÃO DE MINÉRIOS EXPORTAÇÃO DE MADEIRA

EXPORTAÇÃO DE PESCADO EXPORTAÇÃO DE ENERGIA

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Vejamos alguns dados das Exportações recentes na região
Exportação de Ferro: As exportações de ferro do complexo de Carajás, no Estado do
Pará, totalizaram cerca de US $ 161 bilhões nos últimos 10 anos (de 2012 a 2021).
Exportação de Madeira: as exportações brasileiras de madeira serrada, madeira em
bruto e painéis de madeira em 2020 totalizaram cerca de US$ 1,6 bilhão, dos quais
uma parte significativa saiu da Amazônia.
Exportação de Grãos: as exportações brasileiras de soja e milho totalizaram cerca de
US$ 33,5 bilhões e US$ 7,6 bilhões, respectivamente. Boa parte desses recursos são
provenientes da produção de grãos na região amazônica.
Exportação de Energia: a produção de energia hidrelétrica no Brasil em 2020 foi de
aproximadamente 401 TWh (terawatt-hora). As hidrelétricas da região amazônica
contribuíram com cerca de 10% Desse total.
Exportação de Ouro: as exportações brasileiras de ouro em 2021 totalizaram cerca
de US$ 5,6 bilhões. Não há dados precisos sobre o volume de exportação de ouro
especificamente da Amazônia, no entanto, é sabido que a região é uma importante
produtora de ouro no país.
Exportação de Alumina: as exportações de alumina pelo Estado do Pará totalizaram
cerca de US $ 1,1 bilhão em 2020. É importante destacar que a alumina está
diretamente ligada à extração de bauxita, que é abundante na região e é um dos
principais produtos de exportação do Estado.

PARA O SISTEMA CAPITALISTA NACIONAL


E INTERNACIONAL, A MAZÔNIA SEMPRE
FOI APENAS FONTE PARA O
FORNECIMENTO DE RECURSOS NATURAIS
QUE SERVEM PARA ENRIQUECER AINDA
MAIS, AS EMPRESAS DAS NAÇÕES JÁ
DESENVOLVIDAS

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LIÇÃO 05: Sobre as Mudanças Climáticas no Mundo

Na atualidade, discute-se
em todo o mundo, a
problemática do efeito
estufa na atmosfera da terra,
que vem causando graves
mudanças no clima de
nosso planeta

A meta de redução de emissões de gás carbono em 30% até 2030 em todo o


mundo, é uma medida crucial para combater as mudanças climáticas. Isso
significa que países e empresas de todo o planeta devem trabalhar para
reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e adotar práticas sustentáveis
que ajudem a proteger toda a humanidade.
É certo que participemos do esforço global, de enfrentamento dos problemas
que afetam o clima do planeta. Mas, o modelo de relacionamento do mundo
com a nossa região, precisa ser reorientada.

A forma como se processa a extração da


De que nos serve a madeira, dos minerais, dos produtos da
grandiosidade das floresta, dos rios na região, não têm
contribuído para impulsionar um processo
riquezas que temos,
de desenvolvimento local que signifique
se elas não são vida digna e de qualidade para o povo
revertidas para a amazônida.
prosperidade dos Não basta apenas que os métodos atuais de
vinte milhões de exploração dos recursos naturais passem a
brasileiros e ser executados de forma ecologicamente
aceitáveis. É preciso que os resultados
brasileiras que
econômicos dessas atividades, sejam
habitam a região? aplicados na região, de forma a gerar renda
e riqueza para todo o povo.

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A LUTA POPULAR PODE MUDAR A SITUAÇÃO

A Amazônia é do mundo e é do Brasil. Mas antes, a Amazônia precisa ser dos


povos amazônidas. Nós que aqui nascemos e vivemos, precisamos repudiar
o olhar de cobiça daqueles que tratam a Amazônia como uma espécie de
armazém-almoxarifado, de onde se pode retirar tudo que interessa, sem
contribuir com o desenvolvimento local da região. As formas de demonstrar
esse repúdio, nossos antepassados nos mostraram quando organizaram
memoráveis movimentos de resistência contra a exploração da região.
LIÇÃO 06: Histórias de Resistência

Uma das primeiras revoltas indígenas


registradas no Brasil, ocorreu em 1500,
quando os tupinambás se revoltaram
contra a invasão portuguesa. Na
região amazônica, a luta indígena de
resistência não foi diferente

A Cabanagem (1835-1840) - ocorrida na região


do Grão-Pará, foi uma das maiores revoltas
populares do Brasil. Os cabanos lutaram contra
a elite local e o governo central. Chegaram a
assumir o poder da Província por algum tempo.

A Guerrilha do Araguaia
e a Luta dos Seringueiros
do Acre, ocorridas nas
últimas décadas do século
XX em nossa região,
são marcos de destaque na
luta em defesa da Amazônia
e do Brasil atual

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Na década de 80, na área rural do Pará, a
palavra de ordem era expulsar o pelego* dos
sindicatos. Em Santarém, liderados por
Geraldo Pastana, Avelino Ganzer, Ranulfo
Peloso e dezenas de outras lideranças, o
STTR* do município foi retomado para o
controle dos trabalhadores. Em seguida,
expandiram o movimento de oposição
SEDE ATUAL DO STTR DE SANTARÉM
sindical para a região do Baixo Amazonas,
tornando-se na época, umas das referências
do sindicalismo rural em todo o Estado.
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Em 12 de fevereiro de 2005, a missionária


católica, Irmã Dorothy, foi assassinada a tiros
a mando de fazendeiros que se opunham à
sua atuação em defesa da floresta. Irmã
Dorothy tornou-se símbolo da luta pela CORTEJO FÚNEBRE DA IRMÃ DOROTY
preservação da Amazônia e de seus povos.
*Pelego- Dirigente Sindical que dirigia o sindicato sob as ordens dos patrões e da ditadura milita, em prejuízo aos interesses dos trabalhadores.

*STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras rurais.

LIÇÃO 07: A continuidade das lutas na Amazônia exige novas reflexões


Mesmo nos identificando inicialmente como membros de grupos variados e específicos,
tais como povos originários, negros quilombolas, ribeirinhos, pequenos garimpeiros,
agricultores familiares, agricultores assalariados, trabalhadores das cidades... ou de
outra forma como grupos de mulheres, homens, negros, brancos, mestiços, heteros e
população LGBTQI+... ou ainda como paraenses, maranhenses, amapaenses,
amazonenses, acreanos, rondonienses, roraimenses e partes dos mato-grossenses e
tocantinenses... Precisamos assumir e difundir o sentimento de que somos, todos e
todas, filhos e filhas da Amazônia!
Somos filhos e filhas da Amazônia e já não aceitamos ser colonizados por qualquer
que seja a nação estrangeira ou outras formas modernas de colonização;
Somos filhos e filhas da Amazônia e questionamos os modelos excludentes e
predatórios que exercem cobiças diante das nossas riquezas e belezas naturais;
Somos filhos e filhas da Amazônia e temos consciência do papel das nossas
florestas e rios no equilíbrio do clima na terra, assim como temos consciência do
papel que têm os nossos recursos naturais, como base para um processo de
desenvolvimento local/regional, que garanta vida digna para os nossos povos.
Somos filhos e filhas da Amazônia e recebemos com alegria a ideia de realizar em
nossa região a Cop30, que está sendo planejada para ocorrer em 2025. Que seja
um momento fecundo de discussões democráticas, apresente proposições
sustentáveis e includentes de todos os povos em desenvolvimento.

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Como filhos e filhas da Amazônia, precisamos discutir e definir o nosso próprio
projeto de desenvolvimento. Que o processo seja amplo e democrático e que suas
proposições partam das centenas de experiências espalhadas pela região,
articulando os pensamentos com as demais regiões brasileiras, rumo a uma
Amazônia e um Brasil próspero, solidário e sustentável.

Seguem vídeos que podem ser acessados


para melhor compreensão dos assuntos discutidos
SOBRE OS POVOS DA AMAZÔNIA

11
SOBRE AGRICULTURA NA AMAZÔNIA

SOBRE A INDÚSTRIA NA AMAZÔNIA

SOBRE O COMÉRCIO NA AMAZÔNIA

12
SOBRE AS LUTAS DE RESISTÊNCIA

SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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FAÇA SEUS COMENTÁRIOS

Responsabilidade Editorial
CENTRO CULTURAL SAPUCAIA
Elaboração: PEDRO PELOSO
Produção realizada a partir de Textos e Vídeos extraídos da Internet

FIM

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