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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO

BRUNO FERREIRA SEABRA

POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

BELÉM
2022
BRUNO FERREIRA SEABRA

POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Trabalho avaliativo, apresentado como


requisito parcial para aprovação no módu-
lo de Política de Desenvolvimento Regio-
nal, do curso noturno de Administração,
da Universidade Federal do Pará.

Prof. Dr. Giancarlo Livman Frabetti

BELÉM
2022
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ATIVIDADE II

1. Compare a concepção clássica de regionalização como resultado da relação


homem/meio segundo Vidal de la Blache com a concepção de regionalização
proposta por Milton Santos, para quem os arranjos regionais são atualmente
atravessados pelas determinações do sistema capitalista cada vez mais
internacionalizado.

As definições de região e regionalização sofreram diversas evoluções durante


a história. Muitos estudiosos abordaram o tema e desenvolveram conceitos, pela
necessidade de haver formas de classificar áreas no espaço terrestre, para a
realização de ações estratégicas. Tanto o nascimento da concepção clássica de
Vidal de La Blache, quanto a concepção de regionalização de Milton Santos
nasceram nesse processo de evolução. No presento trabalho, não só explicaremos
as características das duas visões, mas também iremos compara-las, em busca de
compreender suas diferenças e assim podermos ter uma visão plural sobre o
conceito de região.

No início do século XX, houveram os primeiros desenvolvimentos dos


conceitos de região. Em 1905, Herbertson, criou os primeiros critérios de delimitação
desses espaços. Para ele, as áreas podiam ser classificadas utilizando quatro
classes de fenômenos: a configuração do solo, o clima, a vegetação e a densidade
populacional. Uma visão classificatória voltada prioritariamente para as
características ambientais do local. Em 1908, compartilhando dessa visão
ambientalista, Lucien Gallois, deu um nome as e áreas criadas a partir de critérios
naturais, chamando-as de “regiões naturais”. Esse foi o contexto classificatório no
início do desenvolvimento do assunto.

Por que é importante citar os desenvolvimentos iniciais sobre o tema? Porque


a concepção de La blache evolui baseada na reflexão sobre essa visão
ambientalista do conceito de região. Para ele, apenas as características naturais de
um local não são suficientes para determinar uma região, essa formação vem da
disponibilidade dos recursos naturais somada as modificações feitas pela sociedade
para utilização desses recursos. Em resumo, para o francês, uma região é um local
que possui recursos naturais e que o homem adaptou pra utiliza-los.
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Após entendermos a concepção de La Blache, percorremos 50 por cento da


jornada. Agora observaremos a concepção de Milton Santos para podermos
compara-las. Direcionada pelo sistema capitalista do mundo, a visão de Santos
acredita que a formação de uma região não é definida pelos recursos naturais e pela
promoção de ações para sua utilização. Para ele, existem fatores materiais e
imateriais associados ao mundo capitalista que se sintetizam e assim essas áreas.

Os fatores materiais correspondem as características postas em ênfase no


mundo globalizado e internas ao próprio local: a infraestrutura de transporte, de
comunicações, de tecnologia, de educação, entre outras. Os fatores imateriais
correspondem aos objetivos e desejos das organizações, públicas ou privadas, pois
essas inserem o capital que direciona o funcionamento econômico desses locais.

Portanto, para Santos uma região é formada não só por essa estrutura
material que ele chamou técnico-científica-informacional, mas também pelos desejos
de agentes externos, as organizações, que ditam qual tipo de região aquela será,
baseando-se nos seus interesses. Olhando para essa visão podemos dizer que o
Brasil é um bom exemplo a ser citado. Temos um país, de maneira geral, deficiente
de infraestrutura e tecnologia, que se volta prioritariamente para atividades primário-
exportadoras. Tais atividades são determinadas, tanto por essas condições internas
deficientes, que impedem produções mais complexas, quanto pelos desejos de
organizações públicas (governos) e privadas (empresas) estrangeiras, que precisam
de alimentos e matérias-primas para produzir seus itens.

Sendo assim, observando as duas visões, podemos chegar a conclusões


claras. Na visão de La Blach, uma região é definida pelas suas condições naturais e
para as ações do homem para explora-las. Já na visão de Santos esses aspectos
naturais não tem peso significativo nessa formação. Para ele os aspectos materiais
(estruturais) do local, somados aos interesses capitalistas de organizações, é que
definem as regiões no mundo atual. Algo que podemos realmente constatar, olhando
para a realidade de nosso próprio país, o que torna a visão de santos, muito mais
adequada para o contexto do mundo atual.

2. Tendo como base as ideias apresentadas por Celso Furtado no livro


Formação Econômica do Brasil, reflita sobre o papel da atividade primário-
exportadora e do mercado interno na história econômica do Brasil, tendo em
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vista a condição do país enquanto economia periférica subdesenvolvida.

No texto que trata sobre o trabalho de Celso Furtado conseguimos voltar em


um passado já um pouco longínquo de nosso país. Lá observamos explicações e
fatores que explicam porque o Brasil se tornou uma economia subdesenvolvida.
Abordaremos aqui qual o papel de dois deles: A atividade primário-exportadora
exercida pelo país como principal atividade econômica durante séculos e a estrutura
do mercado interno.

Uma atividade primário-exportadora nada mais é do que uma atividade


voltada para a produção de produtos primários que serão enviados ao exterior.
Produtos primários são aqueles que são tirados diretamente da natureza e vendidos
sem sofrer modificações. Logo, de grosso modo, um país primário-exportador pode
ser descrito como um exportador de matérias-primas. Este foi o contexto econômico
do Brasil por mais de 400 anos.

Um contexto com existência de grandes propriedades de terra, controladas


por uma pequena quantidade de pessoas, que geravam uma concentração absurda
de riqueza (visto que a mão-de-obra também era escrava) para uma parcela ínfima
da população, um mercado interno praticamente inexistente, já que apenas poucas
pessoas tinham renda para consumir e onde os grupos sociais dominantes se
preocupavam em atender apenas os interesses da metrópole.

Entendendo esse panorama geral é fácil chegar a uma conclusão. Tanto a


atividade primário-exportadora, quanto o mercado interno serviram como grilhões
que mantiveram o Brasil no atraso. A primeira gerava atraso pois enquanto o mundo
via os avanços da industrialização e a produção em massa de produtos de maior
valor agregado, o Brasil permanecia nas mesmas práticas ultrapassadas. As ações
da classe social dominante, que eram voltadas ao atendimento dos desejos da coroa
e não para os desejos da colônia, mantinham a condição econômica do país
inalterada, ou seja, a atividade primário-exportadora reinava. Sem haver buscas por
atividades mais interessantes para o local, o país parava no tempo, enquanto o
mundo marchava para o progresso.

O segundo gerava atraso pela sua própria deficiência. Enquanto o mundo


distribuía melhor sua renda, no Brasil havia a concentração da riqueza nas mãos de
poucos. Isso impedia o surgimento de uma rede de consumo local, pois não havia
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poder aquisitivo na mão da população. Sem poder aquisitivo não havia necessidade
de se produzir itens internamente. Sem a necessidade de se produzir itens não
havia porque se industrializar, visto que um dos fatores que desencadeia a
industrialização é o consumo interno. Logo, a deficiência do mercado interno
prejudicou a industrialização do país, gerando assim subdesenvolvimento.

Em resumo, podemos dizer que as atividades primário-exportadoras geraram


subdesenvolvimento pelo seu objetivo de existência, que se resumia a atender os
interesses da metrópole, o que impedia a busca por atividades que oferecessem
maior retorno econômico para a colônia e consequentemente mais desenvolvimento.
Assim como podemos dizer que a ausência do mercado interno gerou
subdesenvolvimento, pois não havia níveis de consumo suficientes que
estimulassem uma possível industrialização, sendo esse o papel dos dois no
subdesenvolvimento do Brasil.

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